quarta-feira, 20 de abril de 2022

Um país que deve se preocupar em ter menos golpes excludentes e mais projetos de inclusão econômica e social

 A pergunta que lhe faço, leitor deste pitaco, é retórica.

Você que sempre alimentou suspeitas a respeito das intenções golpistas que motivam ações e discursos do miliciano que chefia o Executivo nacional, experimenta que tipo de sensação ao ouvir sua repetitiva e cansativa ladainha questionando a transparência das urnas eleitorais?

Ao ouvir o responsável pelo caos institucional instalado e que se alastra pelas entranhas do Estado brasileiro se referir à possibilidade de manipulação dos resultados eleitorais, que impressão te deixa este discurso?

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E o que passa por sua cabeça quando você se lembra de que em viagem aos Estados Unidos, esse militar expulso do Exército por atos comparados ao terrorismo afirmou que venceu as eleições de 2018 ainda no primeiro turno e que tinha provas disso.

E depois, quando insistindo nessa fantasia fruto de seus delírios, voltou a insistir na tese, embora nunca tenha trazido as provas que afirma possuir ao conhecimento público?

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A este questionamento talvez devesse acrescentar outro, relativo ao comportamento de apoio explícito ao candidato derrotado nas eleições americanas, seu amigo de comportamento autoritário e fascista, Trump.

Não devemos nos esquecer que o chefe da familícia instalada no poder não apenas apoiou as denúncias de fraude que culminaram na derrota de Trump, como recusou-se a cumprimentar o presidente eleito Joe Biden durante 38 longos dias.

Veladamente, o desequilibrado não só apoiou a tentativa de invasão do Capitólio e a tentativa desesperada do fascista derrotado de promover um golpe contra a democracia americana, como justificou tal ato.

Pior: mencionou abertamente a possibilidade de tais atos se repetirem em nosso país.

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Creio que não precisamos nos estender mais, para ilustrar a ideia de que a possibilidade de golpe por parte de um miliciano derrotado é mais que um mero e infundado temor.

A possibilidade é concreta, tanto quanto sua tentativa no último 7 de setembro, só não efetivada por força da reação de parcela importante da sociedade civil, do funcionamento dos pesos e contrapesos instituídos para dar equilíbrio e até harmonia ao funcionamento dos três poderes que conformam o Estado de Direito.

Aliás, por reação da sociedade, majoritariamente contrária ao seu desgoverno, uma vez que, é sempre bom lembrar,  sua eleição se deu com apenas 39,8% de apoio dos eleitores.

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Trocando em miúdos, não apenas o ex-tenente terrorista e deputado medíocre não tinha ou nunca teve o apoio que acredita ter da sociedade.

No fundo, se conta com o apoio das forças armadas, conquistado em troca de ragalias, cargos no governo que lhes dobram o rendimento mensal, picanhas, latas de leite condensado, próteses penianas, além de milhares de viagra superfaturados para que a tropa possa se lambuzar bastante, faltavam-lhe equipamentos e armas.

Curiosamente, o defensor das armas não se preocupou em equipar suas forças. E desfilou queimando óleo e expelindo cortinas de fumaça e fuligem por Brasília.

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Mas, se quem tem um mínimo de discernimento é contrário a qualquer tentativa de golpe e mais ainda, de retorno dos militares ao centro do palco da política, quando nada para não alimentar novas formas de tortura de cidadãos sob sua proteção e guarda, o que dizer do comportamento de Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul.

Afinal, tal qual o candidato a quem apoiou e votou em 2018, Leite participou de uma eleição, realizada em convenção partidária, visando a escolha do candidado de seu partido à presidência.

Derrotado, demonstrou que seu apoio ao candidato misógino e contra minorias, em especial a mulheres, negros e indígenas, não foi em vão: não acata o resultado em favor de Dória.

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Não que o direitista e elitista Dória apresente qualquer vantagem, exceto máquina mais azeitada, do estado mais poderoso da federação.

Mas, foi a ele que os peessedebistas, cada vez mais distantes do partido liderado por Mário Covas, escolheram.

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Sem aceitar o resultado, Leite tenta golpe semelhante e vergonhoso. Influenciado pelo canto da sereia de outro golpista convicto, o derrotado e cada vez mais disposto a comprovar sua falta de caráter, aécio neves, em minúsculo para que a fonte do texto não supere sua insignificância.

Responsável por reviravoltas várias que seu avô Tancredo deve estar experimentando no túmulo, esse netinho mimado e oportunista já deu provas suficientes de sua depravação.

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Sem perder muito tempo com quem não vale a pena, basta lembrar do comportamento de aécio, derrotado por Dilma em 2014, quando já comemorava sua pretensa eleição.

Não satisfeito nem quando a recontagem de votos que requisitou ao TSE confirmou a lisura do pleito e o resultado negativo, agiu seguindo os passos do principal adversário do partido de que seu avô era uma das lideranças, Lacerda.

Assim, desde logo se prontificou a não deixar que a candidata eleita pudesse governar, ameaçando de fazer sangrar o novo governo por meio de expedientes capazes de obstruir os trabalhos legislativos.

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Pois bem, é essa triste e trágica figura, digna de memes dos pevertidos que inundam as redes sociais que tenta convencer Leite a não respeitar a opção da maioria de seu partido.

Insisto. Todos concordamos que Dória não vale um voto. Mas, não é essa a opinião de seus correligionários.

E, sem ver diferença entre o que Leite está procurando fazer sob inspiração do golpista aécio, e o comportamento do autoritário, golpista e miliciano dirigente do gabinete do ódio e do governo das fake news, não resta muita opção à sociedade brasileira.

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A solução é apoiar o retorno de quem já teve a oportunidade de ocupar o mesmo cargo de chefe do Executivo e o fez com um mínimo de decoro e respeito às instituições.

Mesmo que por respeito às instituições se entenda o significado e conteúdo do que se convencionou chamar de governo de coalizaçao, a saber: o governo onde os projetos de interesse do país e de sua população, aqueles voltados ao desenvolvimento econômico e social dependam de negociatas e compra de apoio junto aos deputados e demais representantes legislativos.

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Para não deixar dúvidas: para conseguir a aprovação de temas caros e necessários, estruturantes da sociedade brasileira, há que se usar do ardil da instalação da mesa de negociação com os representantes do povo.

Embora temos de convir que não há a necessidade de se chegar a tal nível de corrupção e compra do apoio de parlamentares quanto aquele alcançado pelo atual governo: este mesmo eleito para acabar com a corrupão e instaurar a moralidade.

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Claro, aquele era apenas discurso para enganar eleitores, o que se confirma pelo vulto de recursos hoje à disposição da Câmara dos Deputados e seu orçamento secreto, paralelo, de 17 bilhões.

Isso para não esquecer que o atual governo não apenas elevou em muito os valores da corrupção: ele cuidou de ampliar as categorias de beneficiários, que agora atingem pastores de fé cada vez mais devedora, ou duvidosa; militares de todas as patentes e necessidades de benefício e gozo; fascistas de toda espécie, em especial, os capacitados em promover fake news e desconstrução de páginas e sites, ou a construção de deturpações, sob patrocínio daqueles que são responsáveis por zelar pelo respeito ao Estado de Direito e suas instituições.

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Pode-se  sempre alegar que falta a Lula e aos partidos de oposição a apresentação de projetos e programas destinados a incluírem o povo na agenda sistêmica, de governo e no orçamento do país.

Propostas para valer, em prol da melhoria das condições de vida da população brasileira e em benefício de milhões de miseráveis, objetivo que que se justifica por qualquer ótica de análise, mas que não acarretem em benefícios ainda maiores para os mais ricos.

Benefícios que possam incluir também aos cidadãos da classe média, excluídos dos ganhos dos governos petistas do início do século, ou tratados como os primos pobres do projeto de desenvolvimento que só um governo popular tem condições de negociar e implantar.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Reflexões de uma Quinta Feira da Paixão, em um país de fantasias autoritárias

Nunca escondi meu temor de que o miliciano que habita o Palácio da Alvorada esteja se preparando para mais uma investida contra a cada vez mais frágil democracia em nosso país.

Fazem parte dessa trama macabra tanto as  “90% de chances” de o general Braga Netto ser convidado para sair como vice em sua chapa; como os continuados ataques do miliciano à Justiça e aos ministros do STF; os discursos em defesa de foragidos investigados pela Justiça;  as reiteradas declarações, isentando-se e terceirizando a responsabilidade por atos suspeitos de serem contrários à legalidade, praticados em seu governo.

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Como parte desse enredo golpista, pode-se enumerar uma série de outros eventos, como o comportamento da AGU ao solicitar ao TSE o arquivamento de investigação do chefe do Executivo no caso do MEC; o comportamento contumaz de prevaricação do pgr – em minúsculas mesmo, para não dar destaque algum a quem, como augusto aras, optou por assumir a posição de capacho.

Integram o quadro a decisão por parte do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, de descumprimento da Lei da Transparência, em mais um caso de atentado à democracia e à liberdade de imprensa e à investigação policial, a partir da imposição de sigilo por cem anos, de reuniões havidas entre o criminoso que faz turismo no Palácio do Planalto e os pastores do MEC.

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Nunca é demais lembrar que Augusto Heleno é conhecido por comportamento de desrespeito a leis (e à vida), como é exemplo sua passagem no comando das tropas da ONU no Haiti.

Também não é demais lembrar que Milton Ribeiro, aquele pastor que, por ser ter sido reitor do Instituto Presbiteriano Mackenzie, foi colocado no Ministério da Educação e Cultura – MEC, para se transformar na viúva Porcina, para ser “ministro sem nunca ter sido”.

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Pois bem, foi essa figura decorativa de gosto kitsch o responsável por citar o nome do miliciano corrupto, talvez por não saber estar sendo gravado.

E é bom não esquecer o nome dos pastores que o ex-capitão amante de tortura apontou como seus intermediários: Arilton Moura e Gilmar Santos, principalmente este último.

Apenas por desencargo de consciência, convém lembrar da atuação de pastores também no caso das vacinas, como apontado pela CPI da Covid.

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Mas, dando andamento ao raciocínio do golpe e das medidas que visam cooptar o apoio de defensores para essa aventura, devem ser listados os vários e repetidos afagos do despresidente às forças de segurança, em especial aos policiais militares dos Estados.

Tais afagos estão por trás de pesquisas que indicam que os integrantes dessa categoria de servidores não demonstram, em sua maioria,  confiança na inviolabilidade das urnas digitais.

Mas, a busca do miliciano do Planalto, senão por apoio, ao menos pela manutenção de parte significativa da população em estado de letargia não se restringe aos ataques verbais e atos de campanha eleitoral antecipada.

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Fazem parte desse arsenal de entorpecimento da população carente a concessão de um valor do Auxílio Brasil mais elevado com duração apenas até o final deste ano eleitoral de 2022, a partir de quando o valor reduz-se drasticamente.  Também fazem parte as benesses de crédito consignado com base neste Auxílio, a liberação de parcela do FGTS, e outras medidas que têm a intenção de compra de votos ou apoio.

Na mesma linha, o aumento ridículo de 5% para os funcionários públicos, que não paga nem mesmo a metade da corrosão inflacionária que os atingiu apenas em 2021.

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Mas, faz parte do desenvolvimento do enredo, ainda, o Congresso como um todo.

Não o presidente da Câmara,  Lira, beneficiário direto ou indireto, da  venda do kit robótica para escolas sem água ou mesmo energia, em vários municípios, inclusive de Alagoas. Se não obteve ganhos diretos com a transação, Lira favoreceu a amigos e correligionários donos das empresas fornecedoras, a preços 420% mais elevados que os preços de mercado.

Com recursos do FNDE, o fundo rico vinculado ao MEC, essa aquisição apenas vem se somar à fantasiosa compra de notebooks e laptops, denunciadas e impedidas pela CGU e denunciadas por Elio Gaspari,  à razão de 355 equipamentos por aluno em escola de Minas Gerais.

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Somam-se ainda à compra superfaturada que o MEC via FNDE, procurou sem êxito realizar de ônibus de transporte escolar.

Ou à aquisição, por preços superiores ao de mercado, de próteses penianas, viagra e outros apetrechos para manter nossos integrantes das Forças Armadas, digamos, “Pau pra toda obra”.

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Mera cortina de fumaça de fatos mais escabrosos, com a participação do J Messias do Planalto e seu séquito de pastores, as aquisições das Forças Armadas, pelo inusitado de seu conteúdo, servem para ilustar, junto aos blindados que desfilaram no 7 de setembro em mau estado de conservação, como nossas Forças Armadas estão depauperadas. E precisando de um anabolizante.

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Mas, também Rodrigo Pacheco e sua declaração de que o momento é muito grave para que uma CPI seja instalada, ou comentários de âncoras como o do Jornal da Band, ontem, servem para mostrar que parte grande do golpe em andamento se deve à inércia da sociedade, de parte da mídia.

Ou de quem “nas ruas”, poderia exigir que um processo de impeachment fosse iniciado, ou que os seguidos ataques à toda a legislação que nos rege, levasse à condenação desse responsável pelo estrupício que se abate sobre o país, de modo a impedir que esse democraticida possa sequer concorrer.

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Ora, não se trata de temer ou antecipar uma derrota eleitoral. Trata-se, precisamente de evitar que em caso de a candidatura de oposição, qualquer que seja ela, seja vencedora, esse fascista possa atentar contra a ordem estabelecida, à la Trump.

Convocando seus defensores extremistas e os militares cooptados pelos benefícios a tentarem um golpe autoritário.

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De mais a mais, pesquisas de opinião, algumas recentes divulgam a possibilidade de um dos candidatos de oposição ao atual descalabro, talvez o único verdadeiramente contrário ao estado atual de coisas em nosso país de injustiça, desigualdades, abusos e prepotências, humilhações e desrespeito, discriminações e indiferença, possa vencer ainda no primeiro turno.

Sem surpresa para ninguém, Lula é tal candidato, ainda que acompanhado por um vice que sempre representou os interesses das elites.

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Mas, defendendo os privilegiados ou não, os incluídos e deixando de fora os excluídos, de forma autoritária e com violência policial, seja em manifestação de professores, seja de sem tetos ou moradores de rua, o certo é que Alckmin não é um defensor de golpes, ditaduras ou torturadores, o que já é bastante positivo, para dizer o mínimo.

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Quanto a Lula, apenas registro que governou o país por 8 anos sem, de fato, colocar em risco, sejam os privilégios dos mais favorecidos, seja a pauta de costumes defendida por parte da sociedade.

O que é uma pena, já que a descriminalização das drogas, por um lado, e do aborto, por outro; a discussão do aborto, em especial, como direito da mulher e apenas dela, e a questão da definição de uma política de saúde que permita à mulher ter o devido e necessário atendimento e cuidados, inclusive amparo e assistência psicológica, na rede pública de saúde, já passaram da hora de serem debatidos e definidos a sério.

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A questão aqui, e Lula está certíssimo, não é ser favorável ou não à realização do aborto. É de respeitar a liberdade de decisão de cada mulher, e proporcionar condições para que ela possa, ao tentar interromper sua gestação, não ponha fim a sua própria vida.

Ou seja: tentar evitar ao menos a interrupção da vida da mulher.

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Nessa quinta feira da Paixão de Cristo, em um país tão hipócrita como o nosso, não poderia deixar de encerrar com um comentário, a cerca da decisão do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, por unanimidade, de cassação do deputado Arthur do Val,

É que o deputado reclama de vazamento de suas declarações. De fato, pior que tais declarações ou vazamentos (a que ele deu origem, tentando se gabar de sua performance) é seu comportamento, expressão do pior estágio a que um ser humano pode  chegar. Para mim, algo próximo a lixo.