quinta-feira, 26 de abril de 2018

Greve da rede particular de ensino; e poucos comentários sobre as reações de nossa sociedade ao combate à corrupção

Período movimentado esse iniciado desde nossa última postagem. E, não me refiro às questões políticas e jurídicas ou às de cunho econômico que vimos vivenciando embora, é claro, todas elas atraem e atraíram a atenção de todos nós.
Afinal, na última semana o Supremo Tribunal, por decisão do Plenário, aceitou a denúncia, e transformou o senador mineiroca aecim, em réu.
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Muitas comemorações posteriores nas redes sociais e muitas mensagens destinadas a tentar comprovar o comportamento imparcial da justiça de nosso país, a verdade é que a situação do senador é bastante distinta da vivida pelo ex-presidente Lula e/ou por lideranças do PT, para ficar apenas nas punições já decididas, com maior apelo popular.
Afinal, não devemos nunca nos esquecer que grande parte das manifestações populares que levaram milhões de cidadãos vestindo o uniforme verde-amarelo da incorruptível CBF para as ruas, praças, e avenidas de nosso país, no afã de combater a corrupção tinha como alvo principal o PT, os petralhas e seus maiores nomes.
Inclusive os nomes de um ex-presidente e uma presidenta, vítima de um golpe.
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A propósito do golpe, faço um breve parênteses, para tratar de parte de artigo de autoria de Otávio Frias, no caderno Ilustríssima, da Folha de São Paulo do último domingo, dia 22 de abril. Coincidentemente, data em que se comemorava a chegada ao Brasil do navegador português Pedro Álvares Cabral, e que inaugurava o primeiro pedido de favorecimento a um parente, que teve Pero Vaz de Caminha como protagonista em sua famosa carta a El Rei.
Bem, isso é história e essa história é de conhecimento amplo, geral e irrestrito, a ponto do nosso filósofo José Simão afirmar, com muita propriedade ter sido Pero Vaz, o fundador do MDB em nosso país.
Deixa prá lá.
A questão é que, pelo que entendi do artigo de Frias, um presidente, no caso, uma presidenta que não tinha o apoio de 1/3 ao menos da Câmara, não poderia mesmo desejar comandando os destinos da nação. Afinal, como lembra o articulista, diretor do grupo Folha, Dilma teve todo o direito amplo de defesa que o processo de impeachment, nossa Constituição, a Lei do Impeachment e o Direito assegura.
É verdade. Como é verdade também que a lei do impeachment, datada da época da deposição de Getúlio, tinha como principal característica ser uma medida de caráter político.
Daí, a conclusão de Frias, de que Dilma devia mesmo deixar o cargo que ocupava, pela vontade expressa de 54 milhões de cidadãos, por não ter conseguido cooptar, ou comprar para não sermos cínicos, o apoio de 300 e tantos deputados (ou picaretas, nas palavras de Lula).
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Interessante, o artigo admite que Dilma não fez nada diferente de seus antecessores, em termos das tecnicalidades chamadas de pedaladas fiscais, apenas repetindo os procedimentos amplamente adotados no país. Mais interessante ainda, alega que, no entanto, e dessa feita, o problema é que ela levou as pedaladas a níveis insuportavelmente elevados.
Ou seja, não foi golpe. Não foi alteração de regras em meio ao jogo. Não houve uma manifesta mudança de regras de julgamento, em função de estar em andamento um golpe.
Golpe foi, não o procedimento do governo, mas seu montante.
Não foi golpe. Por que, sendo um julgamento político, quem não compra 2/3 dos deputados da Câmara não merece mesmo estar no cargo.
Não foi golpe. Seguindo a tradição do local onde o processo de impeachment surgiu, Roma, um processo desse é julgado no Senado. E lá, depois de amplo direito de defesa, Dilma foi condenada.
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Nenhuma linha a respeito da ação engendrada pelo mau caráter, senador derrotado nas eleições, aecim. Que do alto de sua mágoa e vaidade ferida, afirmou em alto e bom som, para todos ouvirem, já que da tribuna do Senado, que a oposição não deixaria Dilma governar.
Logo ele, o playboy cujos comportamentos são agora, considerados suspeitos.
Ao proceder da forma como prometera, aecim e seus cúmplices no mau caratismo, não deixaram que medida nenhuma visando colocar a economia do país nos trilhos pudesse ser adotada.
Cá entre nós: não me convenci até hoje que as medidas ortodoxas de Joaquim Levy, no estelionato eleitoral que Dilma acabou protagonizando, em pleno desespero, pudessem tirar o país da recessão pela qual passamos.
Mas...
A verdade é que passamos por 2 anos de queda do PIB, fortalecendo a ideia curiosa, estapafúrdia até, mas sem qualquer consistência política apresentada por Frias: a de que todo governante que enfrentou dois anos de recessão consecutivos, não conseguiram se manter no poder.
Em seu exemplo, primeiro com 82-83 e a queda de João Figueiredo, como se o regime militar não estivesse já podre e caindo de vazio desde antes. Como se a ideia era continuar com a mesma prática, de eleições indiretas com candidatos indicados pelo Poder militar. Como se não houvesse surgido, felizmente, na oportunidade, e aí devemos ainda agradecer a seu comportamento da maior cara de pau, um Maluf, para vencer a convenção partidária e se tornar o candidato oficial do partido do governo, o PSD.
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Frias não faz referência aos anos de crise de 64-66, talvez por que sempre foi vendida pelos militares no poder, a falácia de que a sucessão Castelo Branco (falecido) - Costa e Silva, se deu na mais completa normalidade, como algo linear.
Vá lá.
Mas Frias citou 90-91 e Collor, e depois os anos de Dilma. E a queda de Dilma.
Criando uma tese nova, assim como David Nasser criou um dia a tese de que todo governo cujo presidente testemunhasse a vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo, seria um governo de grande popularidade...
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Falei demais do artigo curioso e suas teses mais ainda... Só não consegui entender porque temer, o usurpador, não enfrenta o mesmo processo político de impedimento, já que não tem apoio, talvez nem dentro de casa. Embora, sob as barbas do senhor Frias, compre desavergonhadamente os votos necessários para evitar aquilo que Dilma não achava que deveria intervir.
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Mas minhas observações são apenas para falar de que a população, insuflada por aecim e outros como ele, hoje sob suspeita, foi para as ruas e comemorou a queda do PT e todos os petralhas ladrões e corruptos. Como se só o PT fosse assim.
Depois de descobrirem que os fatos não eram bem assim, comemoram agora a transformação de aecim em réu. Apenas isso. E agora, como alegou o senador, porque ACEITOU, ingenuamente, um empréstimo de um empresário.
Impressionante. Em seu choro, desconexo, como sua figura patética, o senador mineiroca já mudou o discurso. Não foi mais ele que pediu o empréstimo. Em dinheiro vivo e entregue a um portador que pode ser morto se resolver delatar. O QUE???
Agora foi o empresário que quis emprestar o dinheiro a aecim. Talvez por estar desejando criar um banco e estar testando sua capacidade de realizar empréstimos.
A aecim, ao presidente do impoluto PP ou Progressitas, Ciro, etc.
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Mas aecim não foi preso. Talvez nem nunca o seja. Apenas virou réu, em processo cujas investigações poderão se arrastar, quem sabe por mais uns 2, 3 anos. Para depois, em tribunais de primeira instância, levar alguns 4 anos para se movimentar. Tempo a que deverá ser acrescido outros 10 anos de recursos a instâncias superiores.
Nesse meio tempo, apenas Lula foi preso. Para acalmar a sanha de vingança dos cidadãos contrários à corrupção e que alegam não ter bandidos favoritos.
É verdade. Favoritos deles são as vítimas da seletividade da justiça.
Afinal, Lula teve a prisão decretada, antes ainda de seus recursos todos serem julgados no TRF-4. Já Eduardo Azeredo... bem, com placar que o condenou em segunda instância, pela segunda vez, por 3 votos a 2, é até imprudente solicitar sua prisão. Mais ainda porque ele tem a oportunidade de recorrer...
E os verde-amarelos da seleção brasileira, comemoraram a "prisão" - PRISÃO??? - do pai do mensalão.
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Mas o agito da semana tem sido não a questão política nem a econômica.
É verdade que a arrecadação federal subiu, em março, o que não se via desde 2015, alcançando coisa próxima de 106 bilhões. Como é verdade que o resultado externo foi positivo mas o das contas públicas continua sendo ruim.
E que ruim está sendo a perspectiva de cumprimento da regra de ouro pelo governo. Se não em 2018, seguramente para o quadro que será deixado de herança para 2019.
Também é verdade que o dólar está agitado se valorizando.
E que muitos alegam que, embora positivo para o setor exportador, a contribuição disso para a economia é prejudicial, já que encarece o processo de importação de máquinas e equipamentos que representa o investimento (qual???) que nosso país está atravessando.
Isso sem contar os impactos na inflação, no ânimo e na expectativa dos agentes econômicos.
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O problema que mais atraiu minha atenção é a proposta de acordo sugerido pelo Sindicato que representa os estabelecimentos privados de ensino em Belo Horizonte, e Minas, que só faltou introduzir o direito de os patrões voltarem a utilizar o pelourinho e o chicote para obter a colaboração, sempre valorizada dos professores.
A proposta, vergonhosa, é um lixo. Para inflação de mais de 2,4% do ano passado e matrículas e mensalidades corrigidas em 9 a 12%, propõem 1% aos dignos e valorosos colaboradores.
Fim das bolsas de estudo a filhos e dependentes de professores, uma conquista de mais de 50 anos. Fim dos intervalos entre duas aulas, o recreio. Fim do recesso de julho. Férias apenas no período de 26 de dezembro a 24 de janeiro. Fim do adicional por tempo de serviço. Alteração dos alunos em sala, de um número já elevado de 60 para 80. E para culminar com a transformação de aulas em palestras, alteração prejudicial do pagamento do extra-classe, o pagamento ao professor para que ele fique em casa, trabalhando, corrigindo provas e trabalhos, orientando alunos, planejando provas e aulas.
Tudo isso para melhorar a qualidade da educação, bandeira de tantos donos de escolas, em seus discursos mais pomposos.
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Com tanta perda, perdi muito de meu tempo, me dedicando a ações preparando-me para enfrentar a greve que nós professores das escolas privadas, iniciamos a partir de 25 de abril, ontem.
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Como disse um aluno, não podíamos tomar outra decisão. Afinal, depende de nós, transmitirmos a todos eles, um mínimo de conhecimento e aprendizado de cidadania e luta em prol da manutenção e respeito a direitos e conquistas tão duramente obtidas.
É isso.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Paul Singer, a morte leva um intelectual e uma grande dama: dona Ivone Lara; o julgamento de aecim e a pesquisa Datafolha que confirma que o brasileiro não quer justiça, mas vingança

O primeiro contato que tive com a matéria de Economia, como matéria básica da Administraçãode Empresas que eu cursava na Federal de Minas,  foi com o livro utilizado por mil de cada mil escolas em minha época, de autoria de Paul Samuelson, Introdução à Análise Econômica.
Confesso que achei interessante do conteúdo e que, alguns detalhes chamaram-me a atenção desde a primeira leitura.
Assim foi, por exemplo, com o conceito de sofisma da composição, que indica que o que pode ser considerado como verdadeiro ao nível individual, não é necessáriamente verdadeiro, quando aplicado ao conjunto da sociedade. Sofisma ilustrado pela ideia do indivíduo que poupa visando formar um pé de meia para o futuro. E que, por poupar (e aplicar corretamente sua poupança!) consegue melhorar sua situação econômica. Mas ideia que, uma vez adotada por toda a sociedade, poderia reduzir tanto o consumo que acabaria implicando em fechamento de fábricas, eliminação de empregos, formando uma espiral recessiva capaz de trazer pobreza generalizada.
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Outro conceito que chamou logo minha atenção foi o de como somos otimistas, confiantes, ao dormirmos à noite, com a certeza de que, no dia seguinte, encontraremos no mercado a gama de diferenciados bens de que necessitávamos. Por que, em uma sistema econômico em que os produtores visavam lucro e agiam individualmente e independentemente uns dos outros, nada não impediria que todos produzissem de forma excessiva apenas um mesmo bem, o mais lucrativo. Deixando de produzir o resto dos bens necessários à sobrevivência da população.
Anos mais tarde, aprendi que tal possibilidade consistia no conceito de anarquia da produção, que funda o sistema de mercado.
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De Samuelson, levo ainda outros conceitos como o de funcionamento do sistema de mercado, com suas curvas de procura e oferta, que em conjunto determinariam o preço de equilíbrio de um produto no mercado. E uma parábola interessante, em defesa do livre mercado, a respeito dos reinos de Zig e Zog.
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Claro, conceitos de contabilidade nacional, os agregados macroeconômicos, balanço de pagamentos, foram todos conceitos com que tive o contato inicial nos dois volumes que consistiam a publicação da Editora Agir.
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Mas, devo admitir que o livro que mudou todo meu futuro, e me fez cada vez mais me afastar do curso de Administração, em direção ao curso de Economia foi o livro de outro Paul, o austríaco e socialista Paul Singer, e seu Curso de Introdução à Economia Política, na matéria de mesmo nome, dada pelo grande mestre e amigo,  Waldemar Sevilha.
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Foi ali naquelas páginas que pela primeira vez passei a me questionar da utilidade dos bens, como base para o seu valor ou preço. Afinal, qual a lógica tinha em um mesmo vestido ter um valor enquanto estivesse na moda e deixar seu vapor evaporar-se, apenas por ter mudado a estação?
E o que dizer daqueles tipos de atividades tão geradoras de prazer, como o simples ato de tomar um banho, e que não tinham qualquer valor econômico? Ou de atividades que, por serem negociadas no mercado, como uma refeição no self-service, recebiam um preço, ao passo que, a mesma refeição, com qualidade muito maior, feita em nossa casa por nossa mãe, era considerada sem qualquer valor???
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É certo que havia muitas críticas ao livro, à forma de apresentação de alguns dos conceitos, mas em suas várias unidades, denominadas aulas, foi que pude ser apresentado a algo que passou a ser algo que pode servir como minha característica pessoal ao longo da carreira como professor: sempre há uma outra abordagem. Sempre há um outro olhar, fundado em outro interesse.
E aí a riqueza da Economia. E tal olhar,  que pode ser tão parcial, é o que dá à Ciência Econômica, e às ciências sociais,  seu atributo de cientificidade, como já nos fora ensinado por Chico de Oliveira.
Afinal, somos sim, parte, agentes, juízes e objetivos, como seres humanos da sociedade e da explicação de seu funcionamento.
E não podemos esquecer que, em toda a sociedade, apesar da existência de uma mesma e única verdade absoluta, há várias verdades e ângulos de análise, decorrentes de nossa posição e nossos interesses.
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Poucos anos depois tive o prazer de assistir a algumas aulas do professor Paul Singer, que agora percebo terem sido em número insuficiente para aproveitar melhor os ensinamentos de quem foi um dos economistas que mais trataram da questão da pobreza e das diferenças sociais, e das ações para que tais problemas pudessem ser mitigados: a questão da Economia Solidária.
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Chega agora a informação de sua morte. E essa pequena homenagem serve apenas para deixar marcado que perde a Economia, perde o país, perdemos todos nós um grande homem, economista e intelectual.
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E perdemos também a Dama do Samba, dona Ivone Lara. A quem devemos também prestar nossas justas homenagens.
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Mas os pitacos hoje também abordam duas questões outras, mais prosaicas. Mais mundanas.
A primeira, a respeito da possibilidade de o Supremo Tribunal, em sessão de sua primeira turma, decidir tornar réu o empoeirado senador por Minas Gerais, o cariomineiro ou mineiroca aecim.
Que se defendeu ontem, em artigo publicado na Folha de São Paulo, reconhecendo ter sido muito inocente ao pedir R$ 2 milhões de empréstimo a um dos maiores empresários - envolvido com muitas irregularidades e suspeitas de corrupção e beneficiamentos irregulares - do país, o senhor Joesley Batista.
Alega em sua defesa o mineiroca, que não havia ali, nada irregular ou ligado à corrupção, ou cobrança de favores, uma vez que o político era de oposição ao governo que poderia conceder favores ao empresário.
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Ok. O argumento é correto. Não fosse a obrigação de reconhecer a possibilidade de que em escalões intermediários, junto a outros partidos e seus integrantes, junto a outros ocupantes de cargos indicados por partidos que compunham a base e que, na maioria das vezes lotearam o governo e se encastelaram em feudos em suas respectivas áreas de atuação, o senador pudesse sim, ter agido para beneficiar Joesley.
Aliás, é sempre bom lembrar que, independente da grande quantidade de pó apreendido no avião de empresas ligadas a seu filho, o senador zezé perrela, antes de alcançar o Senado e ali servir de escudeiro de aecim, foi empresário com atuação destacada nas Minas Gerais, no ramo de frigoríficos. Por acaso, o mesmo ramo da JBS e sua Friboi.
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Mas, ingênuo ou não, o mineiroca não consegue explicar porque foi gravado falando que a grana combinada teria que ser entregue a quem de confiança, um parente seu. Um primo que poderia ser morto caso ameaçasse tornar-se delator.
Ora, quem disse isso não foi Joesley. Não fui eu, nem ninguém exceto aecim.
E isso, tal como a quantidade de dinheiro cuja entrega foi toda documentada através de filmagens, e depois apreendida em malas encontradas com seu primo Fred, justamente em valores compatíveis com parcelas do "empréstimo" negociado, com Joesley, o senador não consegue explicar.
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Não vou perguntar porque aecim não procurou um banco, para negociar, como a maioria das pessoas o crédito necessário. Afinal, vários de nós, muitas vezes, optamos por tomar empréstimos com nossos amigos, parentes, sem a burocracia de realizar uma operação, e sem as taxas, todas elevadas cobradas pela rede bancária.
Não há nenhum mal em se tentar evitar uma exposição que poderia decorrer de um vazamento de informações, ou uma atitude indiscreta de algum funcionário de banco, e que poderia trazer algum tipo de constrangimento a aecim.
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Mas, desde que a tecnologia do sistema de pagamentos no nosso país evoluiu ao ponto que chegamos hoje, o curioso é a entrega do dinheiro não ter se dado sob a forma de uma TED, a transferência eletrônica disponível, muito mais segura e transparente.
Vê-se então que o senador preferiu por fazer a operação, por si só suspeita, de forma ainda mais suspeita. Como qualquer bandidinho ligado ao tráfico, nas favelas ou comunidades do Rio.
A mim, aecim dá pena. Nada esclarece e nem dá nenhum sinal de convencimento.
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Mas, e quanto à composição da 1a turma, responsável pela decisão de torná-lo ou não réu?
Uma rápida pesquisa no site do STF, mostra que tem como presidente o mesmo ministro Marco Aurélio que já manifestou em oportunidade anterior, que o acusado era pessoa de enorme folha de, bons, serviços prestados ao longo de sua carreira política, inclusive como governador de Minas. (Apenas não se entende porque tanto elogio, não consegue tornar aecim o mais votado em sua terra!).
Além de Marco Aurélio, faz parte da Junta a ministra Rosa Weber, a insegura, que não é, como circula nas redes sociais, parente da mulher de aecim. A confusão se dá pelo mesmo sobrenome que ambas ostentam, mas Rosa Weber é nesse caso, desimpedida para votar.
A turma é composta ainda pelo ministro Luiz Fux, Alexandre de Moraes, esse muito mais suspeito de ter relações íntimas de amizade com o acusado do que sua colega Rosa Weber, a julgar pelo conjunto de fotos de eventos em que além de amabilidades trocava confidências, talvez com o senador mineiroca, e o ministro Barroso.
Pena que, se viu a corridinha com a mala de 500 mil, no centro de São Paulo, o ministro não pode ter visto corridinha semelhante de aecim.
Afinal, o dinheiro apreendido havia sido entregue dentro ou encoberto por um utilitário, se não me falha a memória. Fred, o primo que poderia ser morto caso delatasse, não precisou de se preocupar com segurança, nem com o horário de um vôo.
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Mas, como de cabeça de juiz e urnas, além da inesquecível bunda de nenê, pode-se esperar surpresas, resta esperar a decisão à tarde.
Antecipadamente, alerto que, provavelmente não irá se ouvir o rojão de foguetes, porque não se comemora, ou não deveria se comemorar prisões, especialmente quando elas atingem a quem o povo escolheu como seu representante. No mínimo, por vergonha de escolhas tão mal feitas.
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A segunda questão trata da utilidade de pesquisa feita pelo DataFolha e, mais que seu resultado ou seu significado, a finalidade a que ela se presta.
Senão vejamos: em uma sociedade em que todos são cordatos e gostam de parecer solidários, mas que atacam obras de arte, que atacam pessoas que são de outras religiões, que fazem bullying, etc. qual o interesse em mostrar que a grande maioria da população, cerca de 82% são favoráveis à prisão em segunda instância?
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Esqueceram-se os leitores, os pesquisadores e os planejadores da pesquisa que a grande maioria do povo mostra-se favorável a que se proceda à castração - se lhe for preguntado, daqueles que cometem estupros.
Não é essa população, composta de ignorantes, como amplamente reconhecido nas falas que cobram maior educação para o povo, a mesma que, tendo a oportunidade, espanca, chuta, dá tapas, cospe e xinga, algum meliante que acabou sendo apanhado na rua pelos transeuntes?
Será que ninguém ainda teve a oportunidade de assistir aos ataques covardes e agressivos, cometidos por gente comum, bom ou boa vizinha, gente pacata, tranquila, sempre disposta a receber uma visita ou até um desconhecido com um sorriso, uma gentileza, talvez até um copo dágua?
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Não foram essas pessoas de boa índole, que em certo caso, agrediram até a morte uma mulher, acusada injustamente ou pior, confundida com outra, no litoral do Guarujá?
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A quem a Folha está prestando algum benefício, a que interesse está servindo, ao perguntar para uma população que deseja vingança e não JUSTIÇA, o que pensa do respeito e do cumprimento à lei maior do país, a Constituição, que assegura a presunção de inocência até o último instante?
O povo brasileiro, maltratado, agredido pelas tropas policiais que deviam lhe dar segurança e proteção, feito prisioneiro muitas vezes por sua cor, sua idade, sua aparência, sua condição social, talvez tenha razão em querer dispensar o tratamento que lhe é comum, aos demais acusados e pegos em malfeitos.
Mas o povo é sempre bom lembrar deseja VINGANÇA. NÃO JUSTIÇA.
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E o que faz um povo mais forte, mais livre, mais justo, mais solidário, mais digno de respeito e mais respeitoso, é simplesmente cumprir as normas e fazer valer as normas legais.
Não obter a justiça com as próprias mãos. Mas cobrar e fazer valer, nas instâncias responsáveis, o tratamento digno e igualitário a todos cidadãos.
É isso.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Me gosta que eu engano: a propósito de Marielle e do velho truque de achar alguém ja morto para ser o responsável

Um mês já passado do bárbaro crime de execução da vereadora Marielle e de seu motorista Anderson, crime que teve repercussão internacional e que chocou a todos, continua o mistério sobre as causas da morte, os mandantes, os executores.
Sob investigações sigilosas da Polícia carioca, tão sigilosas que nem parece estarem sendo realizadas, as trágicas mortes vão perdendo seu impacto, se esmaecendo, diluindo sua dramaticidade, misturadas em meio a toda uma série de outros crimes, outros atos de barbárie e selvageria, que envolvem desde crimes passionais, a crimes de trânsito, ou guerra de facções, ou ainda ações militares e paramilitares, destinadas a promover uma "limpeza geral".
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E o pior, é que a ninguém espanta tamanha morosidade das investigações, tamanha pouca importância dada a um assunto que, por suas consequências, pelo que traz de insinuações e dúvidas, pela carga de crime político que carrega, deveria ser a prioridade máxima tanto das tropas da polícia, quanto das tropas da Força Nacional, e do Exército. 
Deveria, se o Brasil não fosse o país da desfaçatez, em que nem mesmo uma condenação da mídia e da opinião pública internacional, são capazes de mudar o rumo de eventos da espécie. 
Afinal, com outros problemas domésticos pipocando em seus próprios países, com problemas internacionais de maior grau de tensão, seja a guerra comercial entre Estados Unidos e China, seja a guerra fria dos tuítes do Fantástico Dr. Trump Strangelove, ou seu avanço agora, sob as "armas químicas" dessa vez da Síria, bastaria às forças de segurança e investigação do Rio, dar tempo ao tempo. 
E aproveitar-se das velhas máximas, de que o tempo apaga todas as dores, cura todas as feridas, remete ao esquecimento as questões capazes de infligir maior sofrimento. 
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E, no entanto, Marielle vive. Como vive o motorista Anderson. Como vivem os pedreiros Amarildos e tantos outros, como uma mensagem. Como uma imagem. Como uma vítima, ou mártir de uma democracia nunca completada ou realizada integralmente. 
Uma democracia meia sola, onde encontra-se de tudo, embora falte apenas um detalhe: o povo. 
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Não nos choca portanto, que as investigações nada tragam de respostas às perguntas geradas pelo crime. Na verdade, porque as perguntas já nasceram com as respostas postas, às claras. 
E, embora não se saiba muito bem, o nome do autor dos disparos, o nome do mandante, sua patente, seu cargo ou posição, até os muros e o asfalto as ruas onde os disparos foram desferidos sabem os interesses que estavam por detrás da execução. 
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Tanto que agora, completado um mês, no último 14 de abril, a apesar de todas as manifestações públicas, todos os encontros, eventos em que Marielle e sua bandeira de luta foram desfraldados, da cobrança que, justiça seja feita, a grande imprensa imprimiu ao caso, embora cada vez menos retumbante, a Polícia vem a público dizer que fez avanços importantes. 
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É que levaram um mês, para perceberem que as cápsulas e cartuchos deflagrados e que ficaram espalhadas expostos no local da execução permitiram a identificação de digitais. 
E, que ninguém acredite que se trata de uma situação de tragicomédia, ou um stand-up de mau gosto: adivinhem se as digitais não parecem ser as de um ex-membro das tropas de segurança, falecido em tiroteio recente, nas brigas de gangues???
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E a alguém, em sã consciência, passaria algo diferente pela cabeça? 
Como diria Maxwell Smart, o famoso e inesquecível Agente 86: estamos diante do velho truque de descobrir e culpar a alguém que já não pode se defender, uma vez que já está também morto. Nem se defender, nem apontar outros comparsas, nem ser julgado e punido. 
O velho truque de aproveitar a morte de algum ou alguns integrantes das chamadas forças de segurança, para transformá-los em bodes expiatórios. 
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E poder dar uma satisfação a uma sociedade que cada vez mais é tratada de forma infantilóide. 
Pior: que se comporta de forma equivocada e imbecilizada, permitindo que comportamentos desse tipo não sejam apenas adotados, mas ainda alimentem discursos de que apenas alguém com coragem, alguém sem papas na língua, quem sabe até alguém capaz de não seguir a hipocrisia do politicamente correto, alguém que conhece de perto a violência, e que veio do meio militar seja o perfil adequado para governar o país. 
Sai, zica!!!
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Vira vira do Vasco 

Lembro-me quando era mais novo, e cantava nos salões de carnaval dos clubes, que se a canoa não furar... Lembrei-me da ameaça do remador de chegar lá, mais ainda se, para ironia da sorte, o remador em destaque não se chamasse Vasco da Gama. 
Lembro-me também de um tio-avô, apaixonado pelo Galo, que sempre me ensinou que a melhor defesa é o ataque. 
Claro, não que o time iria deixar desguarnecida sua defesa, e o goleiro e os zagueiros, fossem se juntar aos laterais, atuando lá no semicírculo da área adversária. 
A frase dizia respeito à estratégia. A uma filosofia de jogo. 
Quer ganhar? Arruma  a defesa, deixa sua defesa bem postada. Coloca jogadores na frente da zaga, capazes de darem a ela a cobertura necessária. 
Mas joga para vencer. Não joga para ficar enrolando o tempo, fazendo o tempo passar, satisfeito com qualquer resultado, pífio que seja. 
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Ainda na semana passada, em distintas ocasiões, tivemos a oportunidade de verificar que a máxima de jogar com o regulamento; jogar para não levar gols; jogar se defendendo; jogar para passar o tempo levou vários grandes a sofrerem derrotas, até então, consideradas improváveis. 
Foi assim com o Barcelona, contra a Roma, quanto o time catalão abdicou de jogar com vontade, com gana. E ficou apenas cercando a bola no meio campo, mesmo depois de, ou talvez até por causa disso, de ver a Roma abrir o placar no início do jogo.
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Lá pelas tantas, ainda com jogo pela frente, lembro-me do time do Barça, para quem eu estava torcendo, me levar a torcer para que perdesse a partida, por total apatia. 
Cada bola nos pés de jogadores do time de Messi passava de pé em pé, em trocas irritantes de passes, até que, lá pelas tantas, o pobre locutor tinha de repetir a frase de que começa tudo de novo, lá atrás, com o goleiro.
Time que quer jogar e vencer não joga para trás. Não recua, abrindo espaços para que o adversário suba todo e, e na base da pressão e do sufoco, possa fazer o resultado que lhe interessa. 
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Em menor escala foi também isso que se viu com o time do Real Madri, depois ao enfrentar a Juve, e quase não se classificar, não fosse o juiz achar um pênalte mais que maroto, inexistente. 
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De novo, por mais maroto que fosse, o Vasco teve ontem, com a valiosíssima contribuição do juiz, também um pênalte mais que duvidoso. Que me arrisco a dizer, não teria apitado, em São Januário, contra o time da casa. Independente de quem fosse o adversário. 
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Mas, a culpa pela derrota no Rio, na estreia do Campeonato Brasileiro, não pode ser atribuída ao juiz. Dizer que ele falhou e que teve parcela de culpa não pode ter o efeito de nos cegar, e perceber que o time, depois do primeiro tempo, voltou para não jogar bola. Não atacar. Não vencer. Apenas ficar deixando o tempo correr. Aproveitando do fato de que além do gol muito bonito, mas meio espírita de Otero, o time chegou com facilidade para marcar, ao menos umas outras duas vezes. 
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Chegou, mas não marcou. Teve com o jogo em suas mãos e não soube aproveitar. 
E, para cumprir a profecia sempre verdadeira, quem não faz....
Na crença ou esperança de que o Vasco se atemorizasse com possíveis contra-ataques, o time do Atlético começou a trocar passes laterais enervantes, e a atrasar bola para o goleiro sair dando chutões. 
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Por tal comportamento, de quem não quer ganhar, levou o empate. E depois a virada, para coroar o castigo. 
E nem pode ser alegado que o time estava cansado, sem condições para correr como o Vasco no final do jogo. Porque se fosse cansaço, Larghi deveria ter já trocado algum jogador desde logo, quando percebeu o Vasco nos prensando. O que já começou a acontecer no início do segundo tempo e não quando o técnico do Galo resolveu mexer. 
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Começamos mal. Ou nem tanto. Estávamos jogando na casa do adversário e, afinal, quem sabe não tenhamos aprendido a lição. 

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Pitacos diversos: aumenta a pobreza extrema; comportamento do STF, e a estratégia de Mano Menezes

A recuperação da economia tão festejada por temer e pelos políticos que lhe dão apoio (sabe-se lá a que custo!) e também pelos analistas do mercado de sempre, não conseguem esconder o fato de que agravou-se a pobreza no país, conforme estudo da LCA Consultores, com base na análise da PNAD Contínua do IBGE, apresentado ontem.
A pobreza extrema aumentou, e a causa identificada foi a redução da renda, em razão de perda de postos formais de trabalho, provavelmente em razão da reforma trabalhista desse governo ilegítimo, e aumento da formalidade.
Esse aumento do nível de ocupação que os arautos da recuperação insistem em divulgar.
Mesmo nas condições precárias em que se dão.
O que apenas confirma o que vários analistas têm dito: o país e a economia que melhora não é o país que inclui o povo brasileiro, pobre, desesperançado e sem voz. Mas o país dos mercados e dos interesses financeiros, do grande capital, e dos analistas de mercado, bajuladores desses interesses poderosos.
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Lula preso mostra o acerto de sua previsão. Aliás, nenhuma novidade, tendo em vista a inteligência e senso de oportunismo que ele sempre demonstrou possuir, em níveis muito superiores à média.
Virou ideia, e símbolo. Assim como o Muro de Meca.
O que ajuda a explicar e entender a peregrinação que já começa a ocorrer em direção a Curitiba.
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É no mínimo indigno que uma pessoa, quem quer que seja, abra mão da defesa de seus valores, princípios e ideias, e aceite se curvar a uma ideia com a qual não concorda, sob a justificativa de que a opinião da maioria deve ser respeitada. E que tal opinião deve se consolidar.
Pior ainda, é se tal comportamento típico de avestruz, não fosse capaz de ir contra direitos de qualquer cidadão, com repercussão muito mais ampla que a que poderia parecer ter no momento.
Que pena que quem tenha sido indicado, sabatinado e votado para zelar pelo cumprimento do pleno direito, até por seu notório saber e por ter uma vida classificada como de conduta ilibada, parece não conseguir valorizar aquelas qualidades que foram vistas nela, por outros.
Porque sua auto-imagem parece ter sido guardada na lata do lixo de suas entranhas.
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É verdade, como disse a Procuradora Geral da República em discurso, que a justiça que tarda é falha.
E o que dizer da justiça que é seletiva?
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Sui generis, a explicação do Partido Ecológico Nacional, de pedir e depois retirar, sob uma desculpa fajuta, uma liminar para exame da prisão a partir ou não da segunda instância.
Talvez o PEN, que não convence a ninguém de que não sabia que o advogado que o representava estava agindo à sua revelia, apenas esteja expressando e revelando toda a pressão, de todo tipo, a que está submetido. Pressão exercida por forças ocultas e muito poderosas.
No entanto, em se tratando de um partido que se denomina Ecológico, talvez esteja só valorizando sua denominação: preservando todos as cobras e serpentes. Todos os mais peçonhentos males que a que o país se acha exposto.
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Outra questão que não consigo entender: desde quando Ciro Gomes, cujo perfil em minha avaliação é de centro, passou a ser considerado como "de esquerda"?
É bom lembrar que o paulista Ciro, ex-governador do Ceará onde, ao que me consta fez um governo considerado superior à média, iniciou-se na política cearense, vindo do interior de São Paulo, pelas mãos de Tasso Jereissati, também ex-governador, e um dos mais destacados membros do PSDB.
Mais tarde, ao final do ano de 1994, Ciro fazia parte, como ministro da Fazenda em substituição a Rubens Ricúpero, do governo Itamar, responsável pela implantação do Plano Real e da eleição de Fernando Henrique Cardoso.
É bom lembrar que Ciro foi o ministro que, conforme ele mesmo fez questão de lembrar em campanha a presidência anterior, promoveu a maior abertura comercial do país, tendo rebaixado as tarifas sobre importações, de forma a ampliar a concorrência (e competitividade dos produtos brasileiros). Tal política visava quebrar, ainda, o poder de formação de preços de mercado dos empresários de uma economia reconhecida como das mais fechadas do mundo.
OK. A medida pode ter sido positiva, mas era, sem dúvida, em sentido liberalizante. O que o próprio Ciro admitiu antes.
O fato de ter promovido a abertura, deve ser analisado como tendo tido importante contribuição para  promover o sucateamento da indústria instalada em nosso país, como consequência do Plano Real e das políticas (principalmente monetárias) adotadas pelos governos posteriores.
Agora, em campanha, Ciro tem posturas que apenas revelam o quanto, em busca de seu projeto pessoal, ele pode ser oportunista, passando-se por representante da esquerda ou até como alguém confiável ao "establishment".
Uma foto de participação sua em evento com outros candidatos, nem um pouco ligados à esquerda (muito pelo contrário!), mostra bem como ele tenta atingir um espectro de eleitores muito mais amplo...
A postura dele, seja em relação ao PT, a Fernando Haddad, ou ao próprio Lula, também deixam bastante frágil a sua classificação como  o nome mais forte da esquerda.
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Aliás, Ciro é candidato a presidente, pelo PDT. O mesmo partido presidido por Carlos Lupi, que foi a justificativa utilizada por Cristóvam Buarque para deixar a sigla. Bem o ex-governador de Brasília talvez tivesse deixado a sigla apenas por ter negada sua pretensão de conquistar a indicação à presidenciável da sigla.
O certo é que Cristóvam, em quem votei em 2006 e me arrependo, está cada vez mais distante da esquerda. A ponto de ter se transferido pelo PPS, de Roberto Freire. Essa geleia que não se sabe mais qual sua posição.
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Se me refiro a Cristóvam e ao PPS, em um pitaco relativo ao Ciro, é tão somente porque Ciro, em 2002, foi candidato justamente pelo PPS.
Em minha opinião, a questão não é a postura ou o campo de ideias que o candidato visa representar, mas a mais pragmática:  tem sigla disponível, vamos nessa!
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Deixando de lado um pouco as questões mais sisudas, devo fazer um comentário, em relação ao técnico do Cruzeiro, Mano Menezes.
Por que o fato de eu não nutrir simpatia por ele, não pode servir para não reconhecer o quão estrategista ele consegue ser. E foi, no último domingo.
Afinal, já no início do jogo, seu time estava desenhado para morder todo o tempo, e mais ainda, atacar em massa pelo lado esquerdo do seu ataque.
Privilegiando uma estratégia cuja finalidade era aproveitar-se da fragilidade, não ignorada, do lateral Patric do Galo.
Durante o jogo mesmo, um comentarista observou tal comportamento agressivo do time de azul, pelo lado de Patric.
Fato que não deve ter passado despercebido a todos que estavam acompanhando a partida, no campo, ou pela televisão.
Ao agir dessa forma, o Cruzeiro obrigou o Galo a se preocupar e focar o lado fragilizado, deixando espaços pelo lado esquerdo da defesa atleticana, onde se encontrava o já veterano jogador Fábio Santos.
Confesso que não sei, nem entendo, os elogios a um jogador sem capacidade de recuperação, sem velocidade, como Fábio Santos.
Que acabou ficando sem salvaguardas. E exposto, acabou sendo o caminho por onde saíram os dois gols do Cruzeiro.
Bem não era apenas ele, mas ele foi o último homem a dar combate a De Arrascaeta, no jogo do Independência, quando o Cruzeiro fez o gol que o recolocou na disputa do título.
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E ao rever lances do jogo ontem contra o San Lozenzo, na Argentina, é curioso, para não ficar insistindo na mesma tecla, verificar que dos lances principais e mais perigosos, selecionados para apresentação na TV, a grande maioria eram bolas vindas do lado esquerdo da defesa do Galo.
Só para constar...
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Pelos comentários de ontem, na imprensa, alguns tipos de manifestação são mais bem aceitos que outros.
Nada estranho. Alguns são de gente de bem.
Que não deseja interferir ou prejudicar a vida de ninguém.
No que estamos prontos para, quem sabe, inventar a manifestação de protesto, destinada a não atrair a atenção. Quem sabe até não protestar. Que seria o ideal, quem sabe?
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quarta-feira, 11 de abril de 2018

Pitacos sobre manifestações e símbolos

Ao menos desde 2013, nossas ruas, avenidas e praças são invadidas por uma série de pessoas, todas no exercício saudável do direito de protestar, seja contra os 20 centavos do aumento da passagem dos ônibus urbanos, seja contra o padrão Fifa das obras faraônicas ligadas à realização da Copa ou das Olimpíadas, seja ainda contra o governo e, mais tarde, contra a corrupção.
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Antecipo que nunca consegui enxergar desde suas origens e talvez por cegueira ou miopia minha, um elemento aglutinador em tais movimentos populares, fator que me preocupava, já que movimentos de massa com objetivos dispersos são, com frequência, bastante sujeitos à influências e interesses de pessoas inescrupulosas, manipuladoras.
Ainda assim, se não consegui entender, tampouco consegui concordar com as manifestações, embora respeitando o direito de todos que ali estivessem de se expressar. Confesso que, ao ver movimentos como o MBL, o Vem pra Rua e outros de mesma feição, e seus líderes, não me arrependo de ter sempre ficado com os dois pés atrás, e não apenas um pé atrás.
Adotei o comportamento de total reserva e evitei até passar próximo dos tais eventos.
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Independente disso, acompanhei pela tevê, as imagens de milhares, talvez milhões de pessoas, a cada instante gritando um slogan diferente, até fixar-se, finalmente, no combate à corrupção.
Claro, naquele instante, a corrupção do governo petista. Ou para ser mais correto, do PT e seus petralhas.
E nesse momento, não vou entrar na discussão de se há ou não algum grupo com corrupto favorito. Volto a esse tema posteriormente.
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Mas as imagens que invadiam minha sala de tevê, mostravam um grande número de pessoas, todas com o fenótipo característico das pessoas "de bem". Raramente algum negro, ou pobre, ou favelado. A maior parte delas brancas, saudáveis, bem trajados, com um certo ar  e gestos de pessoas bem educadas, cultas. Talvez até, intelectuais.
O que a mídia não deixou de perceber e anotar: as manifestações, no geral, eram ordeiras, pacíficas, comportadas.
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E apesar de tudo isso, as pessoas em grande maioria portavam senão várias representações da bandeira nacional, tecidos de cores verde e amarela, quando não usavam, suprema ironia!, a mesma camisa da seleção brasileira.
A mesma camisa da CBF, do futebol da Copa da Fifa (e suas obras!) tão criticadas, do vergonhoso 7 a 1 - apenas para mostrar que nossa indigência é muito maior que apenas a manifestada no campo de jogo.
A camiseta da CBF, praticamente dona, com exclusividade da seleção que já representou, uma vez, a alma do povo brasileiro. Da ginga, da malícia e... da malandragem...
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Claro, não dá para esquecer que a seleção foi apropriada, assim como o futebol, também e principalmente pela Rede Globo que, ciente da qualidade de caráter dos dirigentes esportivos instalados nos gabinetes da entidade máxima do futebol, adquiriram desavergonhadamente, todos os direitos sobre qualquer assunto ou evento relacionado ao time canarinho.
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Em parte, eu credito à Globo parcela da responsabilidade pelo vexame dos 7 a 1. Em grande parte, não desejando se limitar apenas ao futebol, a Globo resolveu dominar toda a manifestação de insatisfação e canalizar tais movimentos, na defesa de seus interesses.
Definitivamente não dá para não citar a manipulação cada vez maior e mais presente dos movimentos e da luta contra o petismo, pela Globo.
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Mas o assunto era símbolo. E o símbolo, as cores da bandeira; a própria bandeira, símbolo augusto da paz; ou até as faixas informando que "nossa bandeira não é vermelha", indicando mais que uma luta ideológica, simbólica, servem para mostrar a existência de uma indigência mental trágica.
Porque ao que se saiba, a cor, por si só, tal qual os números, os acidentes geográficos, as letras e uma série de outros símbolos não são necessariamente ruins em seus significados.
Daí talvez, ser contra o vermelho na bandeira ou no coração (ou no sangue, até!) não represente nada tão ruim quanto aqueles que, vestidos de amarelo e verde, são tão podres em seus comportamentos quanto tudo aquilo que a maior parte das massas bem intencionadas desejam ficar livres.
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E convenhamos: para quem só via corrupção no vermelho ou no PT, ou ainda na esquerda, seria muito útil a camiseta imaculada da seleção brasileira.
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Mas, quanto dos que estavam ali, nas manifestações, vestindo as cores nacionais, não são os mesmos bem nascidos, integrantes da classe média ou das elites, responsáveis, há séculos pelo atraso de nosso país?
E quantos desses classe média, não correram para preparar a documentação necessária para solicitarem a dupla cidadania, já que a brasileira apenas lhes seria muito "humilde" (para não dizer rastaquera, ou na falta de termo equivalente).
Nossos manifestantes, os da bandeira e seus simbolismos, foram quem sabe os que, sentindo-se muito mais que meros cidadãos brasileiros, desejavam e até obtiveram a condição de cidadãos europeus, o que em sua visão distorcida e parcial, lhes asseguraria a condição de cidadãos do mundo.
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Pois bem, e o que dizer dos que, a título de procurarem sua proteção e a segurança própria ou de sua família, não procuraram sair do país, estabelecendo domicílio seja em Portugal, seja em Miami?
E quantos desses não enchem a boca para dizer que moram em lugares civilizados, mesmo com os Estados Unidos, a cada dia que passa, dando mais demonstrações de uma sociedade cujas relações mais se esgarçam, mais se deterioram.
Uma sociedade que vai se tornando putrefata, e cada vez mais desigual.
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E isso, apesar do povo americano, que como a grande maioria das pessoas, tem a vida de gado que já nos cantava Zé Ramalho. E não necessariamente concorda, ou em grande parte não concorda, com os rumos da situação de seu país.
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Mas, esses que fugiram das mazelas do nosso país, são os que não tiveram coragem para vir somar esforços em prol das mudanças capazes e necessárias para mudar o curso da história de nosso país. Preferiram fugir, quando o problema que agora lhes aflige, estava ainda em germe?
Silenciaram-se quando, por exemplo, Darcy Ribeiro falava no deserto em favor de se gastar mais em educação, para não precisar gastar com a construção de presídios no futuro.
Criticaram os CIEPs, taxados como forninhos para crianças.
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Esses mesmos que fugiram do país eram os que não se manifestaram na época em que as políticas não se preocupavam em melhorar as condições de vida para a grande maioria da população brasileira, nem em tirá-los do nível de miséria absoluta ou nem combater a fome do povo.
Muitos deles são os que preferiram o silêncio que os beneficiava quando a abertura indiscriminada da economia brasileira, a atração do capital externo, as privatizações mais escandalosas, a visão neoliberal de então, acabava por beneficia a uma minoria privilegiada, à qual muitos dos setores nacionais se associavam.
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São os que se comportaram, como lacaios, dos interesses econômicos mais fortes, mesmo que não verde e amarelos. Até pelo contrário, muitos deles, com faixas vermelhas...
E que, por isso mesmo, receberam como prêmio, a possibilidade de serem aceitos como um entre eles. Embora nunca em condições de igualdade. Mas sempre em condições de submissão e subalternidade.
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Esses são os que ou estavam, ou têm vínculos com os presentes nas manifestações verde-amarelas anti corrupção de nosso país.
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E em sua maioria são os mesmos que, sem qualquer escrúpulos, postam em redes sociais os convites para que os que se sentem órfãos e irados pela prisão de Lula, deixem a raiva diminuir sua intensidade para, só então, irem cuidar de outros corruptos. Que até lá estarão livres, leves, soltos.
E até em condições de disputarem eleições e até ganharem.
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Na verdade, comportam-se assim, por saberem que não há no meio ordinário dos corruptos dos partidos que defendem, ninguém com a mesma força política ou o carisma de Lula. O que demonstra o timing, a pressa, a necessidade de tirar o líder petista do páreo.
Pior: parecem não ter qualquer convicção de que a população brasileira, em sua maioria não pertencente aos quadros de que são partícipes, não seria capaz de derrotar Lula.
Apesar de tudo de que lhe acusaram.
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O que apenas alimenta a ideia de que o crime maior de Lula, quem sabe, não foi fazer um governo que parecia voltado a melhorar os interesses dos menos privilegiados de nossa sociedade.
Mesmo que também essa ideia de que o governo Lula só se preocupou com os pobres ou mais necessitados seja outra mentira.
Ou apenas mais um símbolo a ser difundido por aí.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Tinha que manter Galo! Que pena. E Lula preso.

Como aconteceu com grande parte dos trechos que o empresário Joesley Batista gravou de sua instrutiva conversa com o usurpador temer, a lição contida na frase "tem que manter isso aí, viu?" acabou caindo no esquecimento.
Na verdade, em meio à sequência de fatos que sucederam àquele encontro reservado, o foco desviou-se dos ensinamentos para a discussão da legalidade do uso da gravação como prova; a armação ou não de um flagrante com a participação de membro da Procuradoria Geral; a presença ou não de um procurador ou ex-procurador como orientador da ação; a auto-delação e a prisão dos irmãos empresários e a corridinha da mala de Loures ou a recusa da Câmara em autorizar a investigação de temer.
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Sem dúvida, do ponto de vista midiático, da ação, há que se admitir que a corridinha da mala, protagonizada pelo assessor especial de temer tem muito mais apelo que a palavra de uma gravação mal feita.
Tal qual o apelo maior dos filmes em relação às obras escritas que lhes deram origem...
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Pois o "tem que manter isso aí", utilizado nesse blog no início da semana passada, também foi atropelado pelo comportamento de vontade, de "sangue nos olhos" com que o time do Cruzeiro entrou no Mineirão na tarde de ontem.
Para definitivamente levar de roldão o conselho aqui dado ao Galo, atônito e sem forças para por a casa em ordem e tentar jogar de forma a impedir o melhor futebol do adversário se manifestar.
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Ok. Eu expulsaria não apenas Otero, mas também o lateral cuja entrada de sola justificaria a decisão do juiz.
Mas, ainda assim, o Atlético perderia mais que o adversário que já vencia por um a zero.
Enfim...
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Para aqueles que já tinham assistido, no sábado, à virada do United sobre o Manchester City, que vencia por 2 a zero no primeiro tempo, com três gols feitos na etapa final, a sempre ingrata lição de que o placar mais traiçoeiro é o de 2 a zero, já trazia um gosto amargo à boca.
E esse era o placar da vantagem do Galo...
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LULA

Ainda na noite de sábado, o país teve a oportunidade de acompanhar a decisão de um ex-presidente, de se entregar à Polícia, para dar início aos procedimentos relativos ao cumprimento de uma pena de prisão.
Sob a comemoração de alguns brasileiros, provavelmente muitos deles, ex-eleitores do presidente decepcionados com o governo de Lula.
Digo isso, porque lembro-me de que, apesar de eleito por mais de 3 milhões e meio de votos, na mais expressiva votação até aquela data, depois de sua renúncia, era difícil se identificar algum eleitor que levou Jânio Quadros e sua vassoura, ao Planalto.
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Mais tarde, quando do impeachment de Collor, e os casos de sua Elba ou do empréstimo da IFE no Uruguai, também eram poucos os que admitiam terem sido convencidos pelo discurso do caçador dos marajás. Ao que parece, tal qual Jânio, ninguém votou em Collor.
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Da mesma forma, eleito como o representante do desejo de mudança, de atitudes e da forma de fazer política. E, principalmente, eleito para definir novos objetivos a serem perseguidos por uma nova maneira de fazer política, que privilegiasse a redução das desigualdades do país, Lula foi a esperança de milhares de cidadãos dos estamentos urbanos, de renda média, dos profissionais liberais e até dos funcionários públicos, integrantes da classe média.
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Interessante é perceber se, e porque, ou até o momento em que Lula começou a decepcionar seus eleitores, hoje em oposição renhida a sua pessoa.
Teria sido por ocasião do estelionato eleitoral imposto em seu governo, por intermédio da política econômica conservadora, apenas uma continuidade da política de FHC?
Ou foi depois, quando começou a chegar ao conhecimento público as denúncias do mensalão? Ou ainda, quando os bancos começaram a apresentar quebras sucessivas de recordes de lucros, enquanto os funcionários públicos tinham seus salários mantidos congelados, e a população mais necessitada via a campanha da fome vir a perder vigor? Ou teria sido mais tarde, quando os pobres, agora em razão de nova política salarial ou de programas de concessão de bolsa universalizados, começaram a invadir aeroportos e praias, com sua falta de educação, seu barulho, sua farofa???
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A opinião virou-se contra Lula, até o ponto de alguns dos ex-eleitores se esquecerem e pior, não se envergonharem de terem eleito um homem agora condenado e preso.
Ou não lembram que os crimes de Lula, se existentes, contaram com sua colaboração, agora esquecida.
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A prisão de um ex-presidente é uma lástima para o sistema político, republicano.
A prisão de um homem, se ele cometeu mesmo os crimes que lhe são imputados, é uma necessidade da manutenção de um sistema jurídico verdadeiro.
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O problema no caso, é o meu não convencimento de que todos os bens que lhe são imputados sejam mesmo seus. Em minha opinião, ter sido dito que os bens teriam o presidente como destinatário não prova que ele, de fato negociou, ou aceitou os bens.
Sei que a dificuldade de provar é grande, em casos semelhantes, onde laranjas sempre servem para esconder a verdade das propriedades.
Mas, então, sem que a propriedade tenha de fato sido registrada como sendo de uma pessoa, encontramo-nos, na situação de alguém que foi visto ameaçando em uma discussão, matar alguém que, horas depois apareceu morto em condições suspeitas.
Será que apenas a ameaça seria suficiente para condenar alguém?
E uma testemunha e sua delação, quando se sabe que, para o direito penal, a prova testemunhal é a mais prostituta das provas?
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Não estou aqui para fazer a defesa de Lula. Para isso, ele conta com advogados suficientes. E caros.
Mas, que é muito curioso, a qualquer observador isento, toda a construção do cenário criada para que sua condenação pudesse se transformar em uma cobrança da sociedade ou parte dela.
Ou esqueceram-se do ridículo "power point" dos procuradores de Curitiba, em que a falta de provas foi substituída por um conjunto denso de indícios?
Ou não se lembram da presteza com que os prazos foram todos respeitados, bem ao contrário do costumeiro ritmo de causas serem tratadas em instâncias, em especial, as mais graduadas?
Fux senta-se em cima de um processo, o de auxílio moradia para o judiciário, por 4 anos.
O caso de Lula, bem mais complexo, resolve-se em meses???
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Se essa pressa é o que todos esperamos de uma justiça que não se deseja falha, como bem lembrado pela procuradora geral, Dodge, é curioso que a morosidade seja combatida justo quando um julgamento político mais que outra coisa qualquer, está em curso.
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E nem vou, para justificar a questão do julgamento político, usar o argumento que é no mínimo curioso que Cármen Lúcia, a presidenta diminuta do STF, tenha dado precedência a um julgamento de um habeas corpus, de data posterior e com forte conteúdo subjetivo ao invés de colocar em pauta a questão de julgamento abstrato de ADC's.
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Se bem que essa questão da manutenção da decisão de prisão em segunda instância é bem provável de ser debatida, mais uma vez, e ser derrotada novamente a tese claramente expressa na Constituição.
Ou seja, a Constituição sendo violada por seus pretensos guardiões, pelos responsáveis de seu cumprimento.
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Isso porque é cada vez maior a possibilidade de termos um juiz, no STF, capaz de votar contra sua consciência, tão somente, porque deve-se respeitar uma jurisprudência formada, só porque a formação do juízo seja recente. Ou pior, mesmo que a tese seja tão pouco defensável que em todas as ocasiões em que foi debatida, sempre foi uma cabeça a que se balançou e alterou sua posição. De forma que sempre as votações terminaram em 6 a 5.
Ora. Manter-se, apenas para preservar uma decisão anterior, algo que suscita tanta dúvida é, no mínimo, em minha opinião, discutível. Mas quando se sabe que quem adota essa justificativa para seu voto, como a ministra Rosa Weber, já manifestou não estar intimamente convencida de que essa é a interpretação correta da Lei, então estamos no mundo das piores e mais escusas e esfarrapadas desculpas.
***
Quanto ao homem Lula, esse não me preocupa.
Primeiro por que já esteve preso antes. Em condições muito piores. Na época da ditadura militar, quando não havia ainda sido presidente do país, o que lhe dispensa tratamento diferenciado, tendo em vista a dignidade do cargo que ocupou.
Cargo que ocupou com dignidade? Porque se não foi ocupado com dignidade, Juiz moro, onde a dignidade do cargo dele? Capaz de justificar sala especial, na prisão e até a possibilidade de se apresentar por conta própria?
***
De mais a mais, prendeu-se um homem, um ex-torneiro mecânico, ex-lider sindical, e ex-presidente. Não se prendeu um homem abandonado.
Prendeu-se um homem com tantos amigos, que sua vida não é dele. Não lhe pertence. Tudo dele, pelo visto, pertence a seus amigos.
***
Mas, no fim, prendeu-se uma ideia. Ideia alimentada e que ganha força em razão da própria vitimização do ex-presidente, criada, permitida,  pela quantidade de aspectos curiosos já listados que cercam sua condenação e prisão.
Prendeu-se a ideia representada por Lula, de que a sociedade brasileira precisa de mais e maior quantidade de defensores dos interesses das camadas menos privilegiadas da população, sempre os mais aviltados e menos respeitados.
***
E fica no ar, gravada, a ideia do risco de todos aqueles que seguindo o que a figura de Lula (mal ou bem) passa a representar, deverão enfrentar:  o risco de, ao não se alinhar aos interesses mais conservadores dos grupos privilegiados da sociedade, acabar enfrentando acusações e prisão sempre discutíveis.
***
Que aqueles que desejam levar avante o legado que Lula passa a representar, tenham juízo para não deixar a sociedade brasileira ficar refém do atraso e da injustiça.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Pitacos relativos ao julgamento do Habeas Corpus de Lula

Não há ninguém que possa negar a validade, sempre acatada, da afirmação de Louis Brandeis, juiz da Suprema Corte Americana, para quem "a luz do sol é o melhor detergente", um sinal claro da importância que se atribui à transparência em todas as decisões e atos da vida, com especial destaque às questões que envolvam o interesse público. 
***
Por outro lado, é bastante generalizada em nossa sociedade a ideia de que tanto juízes quanto tribunais devem sempre procurar se pautar por um comportamento e uma postura capazes de privilegiar maior recato e discrição. 
E já antecipo que não vejo qualquer contradição entre a necessidade de transparência, da frase acima, com a necessidade de que os magistrados possam ter um momento de recolhimento e reflexão para a formulação de um juízo de consciência isento e imparcial. 
Adotando maior discrição, acredita-se que estarão menos expostos a algum tipo de interferência que possa vir a afetar e alterar seu senso de justiça e juízo de valores, evitando que possam estar expostos a algum tipo de constrangimento ou coação que venham que os interesses em disputa venham a submetê-los, em razão das pressões suscitadas pelas paixões das questões sobre as quais devem se manifestar. 
***
No entanto, não é esse tipo de comportamento, mais recatado, o que tem prevalecido seja em relação às questões levadas a debate e decisão no plenário do Supremo Tribunal Federal de nosso país, seja no tocante aos ministros que integram aquela Corte maior. 
E isso, longe de qualquer responsabilização da existência de um canal de televisão ou do fato de as sessões serem televisionadas e passíveis de serem acompanhadas por toda a nossa população.
Nesse sentido, a TV Justiça e o programa Direto do Plenário ao transmitirem as sessões do Colegiado prestam-se ao papel de conferir maior transparência às suas decisões, em minha opinião, em total conformidade com a frase do juiz Brandeis. 
***
Antes de prosseguir, é forçoso fazer aqui um parêntesis, para emitir minha opinião de que, sob os holofotes e as câmaras, tanto quanto os senhores deputados e senadores e quaisquer outros políticos, alguns juízes não conseguem evitar que suas vaidades possam se manifestar em toda sua inteireza.
***
Mas, o que temos assistido, e com colaboração plena de vários dos ministros, é a transformação das sessões do STF se transformarem em verdadeiros espetáculos, senão em um inquestionável show de horrores. 
O que apenas trás desprestígio à própria Corte. 
***
Desprestígio e exposição ao ridículo, capaz de permitir ao sempre agudo senso de ironia do brasileiro, concluir, como se verificou há duas semanas, que o Supremo teria decidido se devia decidir ou não sobre uma questão. E ao decidir que deveria decidir, decidiu, pelo adiantado da hora, não decidir nada...adiando a decisão. 
***
Ora, pior ainda que tal ironia, já que a passagem do tempo, nesse caso, tal como a passagem do sol, acabaria fazendo chegar o dia em que a decisão adiada deveria ser tomada, é o fato de que alguns juízes, ao contrário da recomendada transparência, acabam adotando comportamentos impossíveis de serem entendidos, explicados, justificados. 
Pior ainda quando tal comportamento vem daquele que exerce a função de presidente do órgão, responsável por definir a pauta das sessões da Corte. 
***
Por que não há como escapar a uma indagação, no caso de ontem, mais uma vez transformado em show de pirotecnia a ponto de se transformar em foco central da atenção de todo tipo de mídia, com direito a entradas de reportagens especiais, até mesmo na rede de programação das emissoras mais arredias a mudanças de sua grade de horários, para citar apenas um exemplo. 
Aliás, para citar outro, não foi apenas a televisão. Também a programação de rádio fez menção à discussão do Supremo em toda a programação da tarde, assim como já os jornais o tinham feito na parte da manhã e os sites e portais de notícias eletrônicas o fizeram durante todo o dia, para não citar as redes sociais. 
E a indagação é uma só e é feita com a resposta já bastante conhecida:  porque a sessão de ontem virou o centro das atenções, senão pelo fato de que julgava-se a possibilidade ou não de prisão de um condenado, por acaso ex-presidente do Brasil e maior figura política viva hoje, em nosso país. 
Para o bem ou para o mal.
***
Então todos os olhos dos cidadãos brasileiros, sejam os interesses que os moviam quais fossem, estavam direcionados ao que ocorria no Plenário do STF, colocando em marcha e funcionamento as paixões que o caso desperta. 
***
E, novamente uma pergunta de resposta já antecipada,  por que se votava ontem a possibilidade de concessão a Lula da Silva de um habeas corpus, senão em função de que como pano de fundo discutia-se o cumprimento ou não de preceito constitucional, segundo o qual não deverá haver prisão para ninguém ou qualquer resultado de sentença condenatória até trânsito em julgado?
***
Importa pois, saber que razões levaram a ministra Cármen Lúcia a não colocar em pauta a discussão de ações anteriores, de declaração de constitucionalidade, em abstrato, da possibilidade de prisão após a decisão condenatória adotada em segunda instância.
Quais as razões movem ou estavam movendo a presidente da Corte?
O desejo de transformar o Supremo em uma espécie de programação de televisão do tipo de um jogo final de Copa do Mundo?
Outros desejos não confessáveis, de atender e merecer melhor tratamento a lhe ser dispensado pela imprensa "golpista", rede Globo na vanguarda?
Apenas a vaidade de poder mostrar seu empoderamento, sua capacidade pessoal de fazer o que bem desejava, respeitando apenas e tão somente, seu próprio ego?
Algum motivo especial de ver, mesmo que por pouco tempo, um ex-presidente submetido ao rigor da cadeia, ou passando pela vicissitude de poder vir a ser preso?
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Ao não pautar a discussão mais ampla, abstrata, dita em tese, da adoção ou não pela Corte responsável pela defesa da Constituição, do cumprimento da Carta que cabe à Corte fazer cumprir, Cármen Lúcia apequenou o Supremo, tornando-o, de forma irresponsável até, ao meu juízo, inepto para o exercício do papel que dele se espera. 
***
Para mostrar claramente o circo de horrores e o tamanho minúsculo em que a presidenta da Corte transformou o que era para ser supremo, não foram alguns poucos os ministros que se viram forçados a declarar que a ordem da pauta não era a mais adequada ou a correta a ser adotada.
Praticamente a maioria se viu obrigada a mencionar que as ações anteriores, destinadas a julgarem a constitucionalidade da prisão depois da segunda instância deveriam ser objeto de julgamento e decisão .... ora, vejam só: anteriores ao caso em tela, de menos importância, já que subjetivo.
***
Não bastasse pois, o descalabro a  que o Supremo tem sido levado pelo comportamento dos seus ministros, seja em plenário, seja em público, tivemos ontem várias vezes de ver insinuações de que algo de podre havia no reino dos excelsos magistrados... diria até divinos...
***
E nem vou perder tempo aqui, enchendo o espaço, para tratar da sede de holofotes de alguns dos ministros, sempre prontos a se fazerem presentes em qualquer evento, solenidade, sempre prontos a se manifestarem tanto em entrevistas para a imprensa, quanto nos tais eventos de que tomam parte. 
Deixando o recato e comportamento que se diz mais adequado a um juiz, em segundo plano. 
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A tal ponto chegamos, de ministros falastrões, que era possível, com maior possibilidade de acerto que os jogos de palpites, saber como votaria cada um dos ministros. Ressalvada sempre um voto, de quem a imprensa afirmava sempre ser difícil prever o voto, por ser arredia à mídia, preferindo se manifestar apenas nos autos: a ministra Rosa Weber. 
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Feitas todas as considerações acima, algumas observações adicionais devem ser mencionadas: a principal delas, a postura e mudança de comportamento de Gilmar Mendes, a quem sempre que tive oportunidade, critiquei. 
Sua postura ontem surpreendeu-me. E não só por ter votado como acho que seria correto proferir o voto. Ou seja: não porque votou como eu gostaria ou estava torcendo. 
E para registro a quem interessar: não me surpreendeu o voto, contrário à minha torcida, do ministro Luis Barroso, já antecipado. Voto que levou algumas pessoas ao curioso comentário de que o ministro, mesmo indicado ao Supremo por governo petista, teria sido altivo a ponto de mudar seu pensamento e se descolar dos compromissos que poderiam justificar sua indicação para a Corte.
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De minha parte, por mais que Gilmar Mendes tenha dado o voto que acredito ser o mais correto, sou forçado a declarar que não tenho qualquer razão para acreditar que não votou como votou, por ter segundas ou terceiras intenções que lhe moviam. Intenções não reveladas e que, creio, deveriam ser objeto de preocupação.
Por outro lado, apesar de não concordar com Barroso, sigo respeitando o juiz e suas opiniões. 
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Para tratar do julgamento de Lula e do Habeas Corpus, ao final negado, devo dizer apenas que o placar de 6 votos a 5 mostra mais que a divisão da Corte. 
Mostra que a manobra da presidente funcionou. 
E que há grande chance de que a possibilidade de prisão do ex-presidente, agora manifesta, na verdade apenas vai ter o efeito de passar  para a sociedade um tipo de satisfação: olha, parece dizer a decisão, nós acatamos o que a sociedade desejava. Decidimos pela prisão de Lula. Acabamos com a impunidade. 
Mas, em outra oportunidade e outro momento, como guardiães da Constituição, decidimos que tal prisão era ilegal, o que nos forçou a votar por sua liberação.
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Não é outra a interpretação possível, de um julgamento em que o voto inicial do relator, Ministro Fachin, começou destacando que acreditava que o correto seria votar primeiro o caso em abstrato, as ADC's. 
Mas que, restringindo-se ao exame puramente técnico das condições de concessão ou não do HC, concluía que não havia justificativas para a sua concessão: ou seja, não havia abuso de autoridade, não havia razões defensáveis para afirmar que o direito do "paciente" poderia ser prejudicado. 
Fachin não votou a questão de fundo. Nem pela prisão de Lula. 
Preferiu, sabiamente, escapar pela tangente. 
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Mesmo comportamento da ministra Rosa, que deixou claro que sua opinião é contrária à prisão após a segunda instância. E foi mais além, já que não era essa a questão pautada, e em respeito à colegialidade da decisão anterior, à chamada jurisprudência da Corte, mesmo que equivocada, votaria contra o HC.
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Para mim, bem feitas as contas, o placar das ADC's e de eventual liberação de Lula, é de 7 a 4. 
O que me deixa satisfeito, não por ser Lula, mas como já postei anteriormente nesse blog, por ser o que a Constituição determina. 
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Fato que foi destacado pelo decano em seu longo voto: a culpa de tantos recursos, tanta demora em se fazer justiça, é da lei e de que é responsável por redigi-las, já que em existindo recursos, é lícito que qualquer cidadão possa deles lançar mão. 
E a defesa da Constituição não pode permitir que o Supremo ou qualquer outra instância, venha a tomar decisões que negam o direito que não é de Lula, mas de qualquer um de nós, cidadãos. 
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Concordo com o decano, de que o Estado de Direito se manifesta é quando a lei é respeitada, e não quando por qualquer razão - até plausível ou correta- as decisões sejam tomadas ao arrepio da Lei. 

terça-feira, 3 de abril de 2018

Tem que manter isso aí, Galo!!! Supremo e Carmen Lúcia, agora bombeira depois de riscar o fósforo. E Marielle e outras mortes de policiais, dignas de comoção

Domingo. Independência. Intervalo do jogo. Impossivel, para um atleticano como eu, não ficar repassando a frase de temer de que "tem que manter isso aí, viu?".
Infelizmente, embora o Galo tivesse criado outras chances no segundo tempo, nem ampliou a vantagem, nem manteve isso aí.
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Influenciado talvez pelo cansaço, talvez por uma displicência natural, acabou deixando que um único jogador do Cruzeiro, fosse quem, em meio a 6 adversários mostrasse disposição para disputar e ganhar a jogada que culminaria com o gol do time celeste.
Um gol que recoloca o Cruzeiro na disputa para a conquista do título do Mineiro, no próximo domingo, no Mineirão lotado apenas de torcedores adversários.
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Mas, essa postagem que abre o blog hoje não é a respeito do surpreendente jogo e da ainda mais surpreendente (até para nós atleticanos) atuação do Galo.
Meu foco aqui é a frase de temer que, como outra frase lançada ao vento pelo ex-governador de Minas, Francelino Pereira, em momento de total estupor, acabou se eternizando, inclusive como refrão de música de grande sucesso de Renato Russo e sua Legião Urbana: Que país é esse?
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Diz o ditado que a palavra lançada ao vento não tem retorno. E, é sempre preciso deixar registrado que a frase de Francelino já tratada nesse nosso espaço, foi dita em circunstâncias bastante diferentes da frase de temer.
No último e mais recente caso, a frase foi dita em condições escusas, bastante criticáveis, por uma autoridade ocupante de um cargo a que chegou pela traição. Um usurpador que recebia, fora da agenda e, pois, sem registro, um empresário acusado de uma série de práticas de desonestidade. Encontro para acertarem a continuidade de pagamentos indevidos por ilegais, os quais deveriam ser mantidos, para que atribulações no campo político pudessem alcançar e desnudar o caráter (se algum!!) do usurpador.
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Embora eu não seja filólogo, nem tenha qualquer cacoete para produzir colunas de análise do conteúdo de falas e frases como a de temer, já manifestei minha opinião, em momentos anteriores, de que o Tem que manter isso aí, viu? vai passar para o folclore nacional. Faltando apenas um novo e tão competente compositor, como Renato Russo, para gravar de vez essas palavras na galeria da vilania nacional.
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O pedido de serenidade feito pela responsável pelo pavio, o combustível e o fogo

Assisti pela TV,  ao pronunciamento da ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, em seu período de maior desmoralização, ao menos aos olhos dos leigos, da população brasileira.
Com ar grave, mostrando nítida preocupação, real, a ministra procurou desarmar os espíritos daqueles que transformaram em autêntico Fla-Flu, a sessão em que o Supremo decidirá, na sessão de amanhã, sobre a concessão ou não de habeas corpus para o ex-presidente Lula.
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A situação é de fato bastante séria e a ministra vir a público afirmar que diferenças ideológicas não podem ser fonte de desordem social é, nesse momento e dessa forma, no mínimo curioso.
Especialmente porque os ânimos exaltados que poderiam ter sido fonte da preocupação da presidente da Corte têm reforço no próprio comportamento dos demais ministros da Casa, que a par de uma postura que não honra em absolutamente nada a Corte, mostra-se completamente inadequado e capaz de atiçar, mais que acalmar iras de torcidas exaltadas.
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Mas é preciso que se diga, antes de mais nada, que é extremamente curiosa a situação que o STF vive, capaz de chegar ao ponto de que uma decisão sua, possa despertar tanta comoção.
Afinal, como responsável pela manutenção e obediência estrita, além da interpretação dada à letra de nossa lei maior, é de se supor que o STF sempre tenha tomado decisões capazes de afetar a vida de grande parte dos brasileiros, que sequer têm conhecimento da existência daquela instância superior de julgamento.
Ou seja: a menos que o STF tenha sempre se dedicado a ninharias, o que não parece ser nem um pouco verdadeiro, o Supremo sempre se manifesta em questões em que está em jogo o interesse do povo brasileiro como um todo.
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E isso vale mesmo quando o Supremo, em outras eras e outros tempos, decide contra o que está expresso na Constituição seja para agradar militares que tomaram de assalto o poder, seja para sancionar o confisco de lunáticos desejosos de matar a inflação com um tiro.
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Ainda assim, mesmo sujeito a críticas, até nessas horas, o STF julgou e, embora com ampla repercussão, decidiu contrariamente ao povo e suas leis, mas não provocou tal divisão na sociedade.
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O que mudou agora?
Para responder a essa questão, em minha opinião, não adianta apenas argumentar com a cisão que cada vez mais se amplia em nossa sociedade, o que é por si só, grave e preocupante.
Talvez, em toda a história de nosso país, a população brasileira mostrou-se tão dividida, com interesses de classes sociais sendo tão antagônicos como agora.
Sinal de que, os vencedores eternos, de sempre, não estão mais se sentido capazes de manterem sua condição de vitoriosos. Sinal de que certos setores da sociedade brasileira resolveram, e aprenderam, com as derrotas que sempre lhes foram infligidas, a reagir. E não aceitam mais a ideia de não resistir. Porque aprenderam que os prêmios de consolação a que sempre aceitaram se submeter se tornaram sempre as ferramentas que apertam ainda mais os grilhões a que estão submetidos.
Dito de outra forma: o povo, o povão, a grande maioria de desassistidos e desrespeitados, aprendeu que sua voz será ouvida se mostrarem sua indignação. Não pelo com comportamento que só amplia a exploração.
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Mas, agora mudou o fato de que a presidente do Supremo, sabe-se lá por que motivação ou interesse, talvez até mesmo de cunho pessoal, para ganhar o foco das atenções, resolveu julgar uma questão que é abstrata, a partir de um caso concreto.
Ao invés de julgar a tese, contrária ao que está expresso em nossa Constituição, de prisão antes do esgotamento das decisões em todas as instâncias recursais, preferiu inverter a ordem natural do julgamento. Fulanizou, em má hora, a decisão sobre a prisão ou não em segunda instância.
Assim procedendo, acabou permitindo que o que poderia se tornar uma discussão centrada basicamente em questões jurídicas, de fato relativas ao Direito e sua hermenêutica e que escapam ao conhecimento da população, acabasse se transformando nesse jogo de paixões.
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Adianta alguma coisa, por exemplo, manifestar a opinião de que, em todos os países do mundo, ou na maioria deles, a prisão em segunda instância é tolerada? Será que esses países, sua cultura jurídica, sua cultura, suas leis, sua Constituição são a mesma que a de nosso Brasil?
Claro que não. Logo, citá-los como exemplo ajuda a iluminar e a interpretar nossa Carta Magna?
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Ajuda o fato de também eu, do ponto de vista pessoal, achar que todo o criminoso já poderia estar submetido a prisão caso condenado em segunda instância, uma vez que ninguém admite a impunidade que grassa em nosso país? Ajuda o fato de eu achar que, em respeito à Constituição e sua letra, para não ferirmos o princípio da inocência presumida em toda a situação, ou os tribunais teriam de tomar decisões de forma mais célere e não na morosidade que é sua marca?
Ajuda o fato de ainda, em último caso, há sempre espaço para se procurar alterar a Constituição, já tantas vezes alterada por meio de emendas, algumas completamente injustas?
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Nada disso ajuda, claro. Como não ajuda a ninguém acreditar que o político por não ter cometido crime violento não precisar de ser afastado do convívio social, antes de esgotados os recursos em todas as instâncias.
Em minha opinião, mais maléfico para a sociedade é o político, que em uma canetada ou em uma falcatrua de negociação de propina, retira do dinheiro da Saúde e Educação, por exemplo, e condena à morte física, na Saúde, ou à morte social, na Educação, milhares de pessoas que nem sequer conhecemos ou nos damos conta de sua situação.
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Acho que os crimes políticos deveriam ser tratados como crimes de mais elevado grau de periculosidade. Incluído aí, crimes de ex-presidentes ou ex-governadores, ou presidentes e governadores atuais.
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Mas, voltando ao nosso tema. Carmen Lúcia, agora no figurino de bombeira, foi que, por teimosia, e declarando que não aceitaria pressão de qualquer espécie, armou a fogueira, trouxe o combustível, e foi vista com a caixa de fósforo na mão.
O que ela desejava, realmente?
Ou alheia ao que acontece na sociedade à sua volta, ela não viu a divisão que ia se cavando, e que é capaz de cindir a própria classe de advogados e juristas?
Será que ela só percebeu agora, ao receber os manifestos de procuradores, juízes e advogados, de uma lado, exigindo a manutenção da decisão de prisão em segunda instância; e por outro lado o de defensores públicos, advogados e também juízes, tomando posição oposta, o clima em que sua atuação ajudou a criar no país?
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Triste Corte, essa nossa. Justo na hora em que, por ser dirigida por uma mulher, deveria mostrar a todos a serenidade e sabedoria de que a mulher é dotada. E que tanto tem contribuído para solucionar problemas graves de toda espécie. Em todo mundo.
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Marielle, presente

Mesmo que ausente nos avanços de notícias de êxito de investigações policiais. Ou até, como trouxe a Folha de São Paulo de ontem, com a denúncia de que testemunhas de acusação, foram tratadas com descaso e dispensadas pela Polícia que investiga a morte da vereadora e de seu motorista.
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Mas, o que eu gostaria de comentar brevemente aqui é de que todo ser humano que morre é parte de cada um de nós que se vai. Assim como toda terra chora quando um torrão seu é levado pela enxurrada e a força das águas do rio.
A frase, de John Dunne, é cada vez mais importante e verdadeira.
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Dito isso, quando alguém assaltado reage, comete uma imprudência criticada pela própria Polícia.
Quando alguém é visto portando uma arma, e recusa-se a entregá-la a um assaltante ou bandido, assume um risco que a ninguém é lícito desconhecer.
Quando nossa sociedade miserável é submetida a todo o tipo, cada dia, de vandalismo, agressões, assaltos, roubos, violência sexual ou agressões à mulher ou outros gêneros, a situação mais que preocupante merece repúdio enérgico de todos nós, e severa reação da Polícia Militar.
Sempre dentro do que prega o respeito à lei e à dignidade do ser humano. Mesmo criminoso.
Afinal, bárbaro e selvagem é ele, o bandido.
Nós não. Devemos zelar por nos manter como homens e mulheres de bem.
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Devemos querer justiça. Não vingança.
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Mas já tem se banalizado tanto a matança em crimes do dia a dia, que apenas a comoção apenas dá lugar, infelizmente, à estatística.
A respeito de estatísticas, inclusive, era importante que chamássemos a atenção para as de morte de policiais.
Porque há a morte daquele que estava no cumprimento de seu dever, e que é um herói e como tal deveria ser tratado. Mas há aquele que estava a paisana e que reagiu, ou não quis entregar a arma, ou como qualquer um de nós, foi morto por tentar fazer o que a cartilha da polícia não recomenda.
Morrer em uma praia, de férias, uma soldado e seu marido também da PM, é lastimável. Tanto quanto morrer um mendigo no ponto de ônibus, ou deitado sob a marquise de um prédio, por fogo ateado por inconsequentes.
Causa repulsa. Raiva. Reação desesperada de quem se percebe impotente.
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Mas, uma pessoa que morre assassinada por defender suas ideias, a maior parte das quais dizia respeito a outras pessoas e suas condições de vida, no mais das vezes, deploráveis, causa mais comoção, e não apenas no Rio ou no Brasil. Causa em todo o mundo a mesma reação que os heróis da Polícia deveriam merecer, se no exercício de seu estrito dever.
Afinal, como Marielle, também os guardas em trabalho, são defensores da sociedade, que sobrevive por suas ações e riscos.
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É isso.