quinta-feira, 14 de abril de 2022

Reflexões de uma Quinta Feira da Paixão, em um país de fantasias autoritárias

Nunca escondi meu temor de que o miliciano que habita o Palácio da Alvorada esteja se preparando para mais uma investida contra a cada vez mais frágil democracia em nosso país.

Fazem parte dessa trama macabra tanto as  “90% de chances” de o general Braga Netto ser convidado para sair como vice em sua chapa; como os continuados ataques do miliciano à Justiça e aos ministros do STF; os discursos em defesa de foragidos investigados pela Justiça;  as reiteradas declarações, isentando-se e terceirizando a responsabilidade por atos suspeitos de serem contrários à legalidade, praticados em seu governo.

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Como parte desse enredo golpista, pode-se enumerar uma série de outros eventos, como o comportamento da AGU ao solicitar ao TSE o arquivamento de investigação do chefe do Executivo no caso do MEC; o comportamento contumaz de prevaricação do pgr – em minúsculas mesmo, para não dar destaque algum a quem, como augusto aras, optou por assumir a posição de capacho.

Integram o quadro a decisão por parte do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, de descumprimento da Lei da Transparência, em mais um caso de atentado à democracia e à liberdade de imprensa e à investigação policial, a partir da imposição de sigilo por cem anos, de reuniões havidas entre o criminoso que faz turismo no Palácio do Planalto e os pastores do MEC.

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Nunca é demais lembrar que Augusto Heleno é conhecido por comportamento de desrespeito a leis (e à vida), como é exemplo sua passagem no comando das tropas da ONU no Haiti.

Também não é demais lembrar que Milton Ribeiro, aquele pastor que, por ser ter sido reitor do Instituto Presbiteriano Mackenzie, foi colocado no Ministério da Educação e Cultura – MEC, para se transformar na viúva Porcina, para ser “ministro sem nunca ter sido”.

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Pois bem, foi essa figura decorativa de gosto kitsch o responsável por citar o nome do miliciano corrupto, talvez por não saber estar sendo gravado.

E é bom não esquecer o nome dos pastores que o ex-capitão amante de tortura apontou como seus intermediários: Arilton Moura e Gilmar Santos, principalmente este último.

Apenas por desencargo de consciência, convém lembrar da atuação de pastores também no caso das vacinas, como apontado pela CPI da Covid.

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Mas, dando andamento ao raciocínio do golpe e das medidas que visam cooptar o apoio de defensores para essa aventura, devem ser listados os vários e repetidos afagos do despresidente às forças de segurança, em especial aos policiais militares dos Estados.

Tais afagos estão por trás de pesquisas que indicam que os integrantes dessa categoria de servidores não demonstram, em sua maioria,  confiança na inviolabilidade das urnas digitais.

Mas, a busca do miliciano do Planalto, senão por apoio, ao menos pela manutenção de parte significativa da população em estado de letargia não se restringe aos ataques verbais e atos de campanha eleitoral antecipada.

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Fazem parte desse arsenal de entorpecimento da população carente a concessão de um valor do Auxílio Brasil mais elevado com duração apenas até o final deste ano eleitoral de 2022, a partir de quando o valor reduz-se drasticamente.  Também fazem parte as benesses de crédito consignado com base neste Auxílio, a liberação de parcela do FGTS, e outras medidas que têm a intenção de compra de votos ou apoio.

Na mesma linha, o aumento ridículo de 5% para os funcionários públicos, que não paga nem mesmo a metade da corrosão inflacionária que os atingiu apenas em 2021.

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Mas, faz parte do desenvolvimento do enredo, ainda, o Congresso como um todo.

Não o presidente da Câmara,  Lira, beneficiário direto ou indireto, da  venda do kit robótica para escolas sem água ou mesmo energia, em vários municípios, inclusive de Alagoas. Se não obteve ganhos diretos com a transação, Lira favoreceu a amigos e correligionários donos das empresas fornecedoras, a preços 420% mais elevados que os preços de mercado.

Com recursos do FNDE, o fundo rico vinculado ao MEC, essa aquisição apenas vem se somar à fantasiosa compra de notebooks e laptops, denunciadas e impedidas pela CGU e denunciadas por Elio Gaspari,  à razão de 355 equipamentos por aluno em escola de Minas Gerais.

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Somam-se ainda à compra superfaturada que o MEC via FNDE, procurou sem êxito realizar de ônibus de transporte escolar.

Ou à aquisição, por preços superiores ao de mercado, de próteses penianas, viagra e outros apetrechos para manter nossos integrantes das Forças Armadas, digamos, “Pau pra toda obra”.

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Mera cortina de fumaça de fatos mais escabrosos, com a participação do J Messias do Planalto e seu séquito de pastores, as aquisições das Forças Armadas, pelo inusitado de seu conteúdo, servem para ilustar, junto aos blindados que desfilaram no 7 de setembro em mau estado de conservação, como nossas Forças Armadas estão depauperadas. E precisando de um anabolizante.

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Mas, também Rodrigo Pacheco e sua declaração de que o momento é muito grave para que uma CPI seja instalada, ou comentários de âncoras como o do Jornal da Band, ontem, servem para mostrar que parte grande do golpe em andamento se deve à inércia da sociedade, de parte da mídia.

Ou de quem “nas ruas”, poderia exigir que um processo de impeachment fosse iniciado, ou que os seguidos ataques à toda a legislação que nos rege, levasse à condenação desse responsável pelo estrupício que se abate sobre o país, de modo a impedir que esse democraticida possa sequer concorrer.

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Ora, não se trata de temer ou antecipar uma derrota eleitoral. Trata-se, precisamente de evitar que em caso de a candidatura de oposição, qualquer que seja ela, seja vencedora, esse fascista possa atentar contra a ordem estabelecida, à la Trump.

Convocando seus defensores extremistas e os militares cooptados pelos benefícios a tentarem um golpe autoritário.

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De mais a mais, pesquisas de opinião, algumas recentes divulgam a possibilidade de um dos candidatos de oposição ao atual descalabro, talvez o único verdadeiramente contrário ao estado atual de coisas em nosso país de injustiça, desigualdades, abusos e prepotências, humilhações e desrespeito, discriminações e indiferença, possa vencer ainda no primeiro turno.

Sem surpresa para ninguém, Lula é tal candidato, ainda que acompanhado por um vice que sempre representou os interesses das elites.

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Mas, defendendo os privilegiados ou não, os incluídos e deixando de fora os excluídos, de forma autoritária e com violência policial, seja em manifestação de professores, seja de sem tetos ou moradores de rua, o certo é que Alckmin não é um defensor de golpes, ditaduras ou torturadores, o que já é bastante positivo, para dizer o mínimo.

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Quanto a Lula, apenas registro que governou o país por 8 anos sem, de fato, colocar em risco, sejam os privilégios dos mais favorecidos, seja a pauta de costumes defendida por parte da sociedade.

O que é uma pena, já que a descriminalização das drogas, por um lado, e do aborto, por outro; a discussão do aborto, em especial, como direito da mulher e apenas dela, e a questão da definição de uma política de saúde que permita à mulher ter o devido e necessário atendimento e cuidados, inclusive amparo e assistência psicológica, na rede pública de saúde, já passaram da hora de serem debatidos e definidos a sério.

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A questão aqui, e Lula está certíssimo, não é ser favorável ou não à realização do aborto. É de respeitar a liberdade de decisão de cada mulher, e proporcionar condições para que ela possa, ao tentar interromper sua gestação, não ponha fim a sua própria vida.

Ou seja: tentar evitar ao menos a interrupção da vida da mulher.

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Nessa quinta feira da Paixão de Cristo, em um país tão hipócrita como o nosso, não poderia deixar de encerrar com um comentário, a cerca da decisão do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, por unanimidade, de cassação do deputado Arthur do Val,

É que o deputado reclama de vazamento de suas declarações. De fato, pior que tais declarações ou vazamentos (a que ele deu origem, tentando se gabar de sua performance) é seu comportamento, expressão do pior estágio a que um ser humano pode  chegar. Para mim, algo próximo a lixo.

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