Nunca escondi meu temor de que o miliciano que habita o Palácio da Alvorada esteja se preparando para mais uma investida contra a cada vez mais frágil democracia em nosso país.
Fazem
parte dessa trama macabra tanto as “90%
de chances” de o general Braga Netto ser convidado para sair como vice em sua
chapa; como os continuados ataques do miliciano à Justiça e aos ministros do
STF; os discursos em defesa de foragidos investigados pela Justiça; as reiteradas declarações, isentando-se e terceirizando
a responsabilidade por atos suspeitos de serem contrários à legalidade, praticados
em seu governo.
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Como
parte desse enredo golpista, pode-se enumerar uma série de outros eventos, como
o comportamento da AGU ao solicitar ao TSE o arquivamento de investigação do
chefe do Executivo no caso do MEC; o comportamento contumaz de prevaricação do
pgr – em minúsculas mesmo, para não dar destaque algum a quem, como augusto aras,
optou por assumir a posição de capacho.
Integram o quadro a decisão por parte do ministro
chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, de descumprimento
da Lei da Transparência, em mais um caso de atentado à democracia e à liberdade
de imprensa e à investigação policial, a partir da imposição de sigilo por cem
anos, de reuniões havidas entre o criminoso que faz turismo no Palácio do Planalto
e os pastores do MEC.
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Nunca
é demais lembrar que Augusto Heleno é conhecido por comportamento de
desrespeito a leis (e à vida), como é exemplo sua passagem no comando das
tropas da ONU no Haiti.
Também
não é demais lembrar que Milton Ribeiro, aquele pastor que, por ser ter sido
reitor do Instituto Presbiteriano Mackenzie, foi colocado no Ministério da Educação
e Cultura – MEC, para se transformar na viúva Porcina, para ser “ministro sem
nunca ter sido”.
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Pois
bem, foi essa figura decorativa de gosto kitsch o responsável por citar o nome
do miliciano corrupto, talvez por não saber estar sendo gravado.
E
é bom não esquecer o nome dos pastores que o ex-capitão amante de tortura apontou
como seus intermediários: Arilton Moura e Gilmar Santos, principalmente este último.
Apenas
por desencargo de consciência, convém lembrar da atuação de pastores também no
caso das vacinas, como apontado pela CPI da Covid.
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Mas,
dando andamento ao raciocínio do golpe e das medidas que visam cooptar o apoio de
defensores para essa aventura, devem ser listados os vários e repetidos afagos
do despresidente às forças de segurança, em especial aos policiais militares dos
Estados.
Tais
afagos estão por trás de pesquisas que indicam que os integrantes dessa categoria
de servidores não demonstram, em sua maioria, confiança na inviolabilidade das urnas
digitais.
Mas,
a busca do miliciano do Planalto, senão por apoio, ao menos pela manutenção de
parte significativa da população em estado de letargia não se restringe aos
ataques verbais e atos de campanha eleitoral antecipada.
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Fazem
parte desse arsenal de entorpecimento da população carente a concessão de um
valor do Auxílio Brasil mais elevado com duração apenas até o final deste ano eleitoral
de 2022, a partir de quando o valor reduz-se drasticamente. Também fazem parte as benesses de crédito consignado
com base neste Auxílio, a liberação de parcela do FGTS, e outras medidas que
têm a intenção de compra de votos ou apoio.
Na
mesma linha, o aumento ridículo de 5% para os funcionários públicos, que não
paga nem mesmo a metade da corrosão inflacionária que os atingiu apenas em
2021.
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Mas,
faz parte do desenvolvimento do enredo, ainda, o Congresso como um todo.
Não
o presidente da Câmara, Lira, beneficiário
direto ou indireto, da venda do kit
robótica para escolas sem água ou mesmo energia, em vários municípios,
inclusive de Alagoas. Se não obteve ganhos diretos com a transação, Lira favoreceu
a amigos e correligionários donos das empresas fornecedoras, a preços 420% mais
elevados que os preços de mercado.
Com
recursos do FNDE, o fundo rico vinculado ao MEC, essa aquisição apenas vem se
somar à fantasiosa compra de notebooks e laptops, denunciadas e impedidas pela
CGU e denunciadas por Elio Gaspari, à
razão de 355 equipamentos por aluno em escola de Minas Gerais.
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Somam-se
ainda à compra superfaturada que o MEC via FNDE, procurou sem êxito realizar de
ônibus de transporte escolar.
Ou
à aquisição, por preços superiores ao de mercado, de próteses penianas, viagra
e outros apetrechos para manter nossos integrantes das Forças Armadas, digamos,
“Pau pra toda obra”.
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Mera
cortina de fumaça de fatos mais escabrosos, com a participação do J Messias do
Planalto e seu séquito de pastores, as aquisições das Forças Armadas, pelo inusitado
de seu conteúdo, servem para ilustar, junto aos blindados que desfilaram no 7
de setembro em mau estado de conservação, como nossas Forças Armadas estão
depauperadas. E precisando de um anabolizante.
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Mas,
também Rodrigo Pacheco e sua declaração de que o momento é muito grave para que
uma CPI seja instalada, ou comentários de âncoras como o do Jornal da Band, ontem,
servem para mostrar que parte grande do golpe em andamento se deve à inércia da
sociedade, de parte da mídia.
Ou
de quem “nas ruas”, poderia exigir que um processo de impeachment fosse iniciado,
ou que os seguidos ataques à toda a legislação que nos rege, levasse à condenação
desse responsável pelo estrupício que se abate sobre o país, de modo a impedir
que esse democraticida possa sequer concorrer.
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Ora,
não se trata de temer ou antecipar uma derrota eleitoral. Trata-se,
precisamente de evitar que em caso de a candidatura de oposição, qualquer que seja
ela, seja vencedora, esse fascista possa atentar contra a ordem estabelecida, à
la Trump.
Convocando
seus defensores extremistas e os militares cooptados pelos benefícios a
tentarem um golpe autoritário.
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De
mais a mais, pesquisas de opinião, algumas recentes divulgam a possibilidade de
um dos candidatos de oposição ao atual descalabro, talvez o único verdadeiramente
contrário ao estado atual de coisas em nosso país de injustiça, desigualdades,
abusos e prepotências, humilhações e desrespeito, discriminações e indiferença,
possa vencer ainda no primeiro turno.
Sem
surpresa para ninguém, Lula é tal candidato, ainda que acompanhado por um vice
que sempre representou os interesses das elites.
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Mas,
defendendo os privilegiados ou não, os incluídos e deixando de fora os
excluídos, de forma autoritária e com violência policial, seja em manifestação
de professores, seja de sem tetos ou moradores de rua, o certo é que Alckmin
não é um defensor de golpes, ditaduras ou torturadores, o que já é bastante positivo,
para dizer o mínimo.
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Quanto
a Lula, apenas registro que governou o país por 8 anos sem, de fato, colocar em
risco, sejam os privilégios dos mais favorecidos, seja a pauta de costumes defendida
por parte da sociedade.
O
que é uma pena, já que a descriminalização das drogas, por um lado, e do aborto,
por outro; a discussão do aborto, em especial, como direito da mulher e apenas
dela, e a questão da definição de uma política de saúde que permita à mulher
ter o devido e necessário atendimento e cuidados, inclusive amparo e assistência
psicológica, na rede pública de saúde, já passaram da hora de serem debatidos e
definidos a sério.
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A
questão aqui, e Lula está certíssimo, não é ser favorável ou não à realização
do aborto. É de respeitar a liberdade de decisão de cada mulher, e proporcionar
condições para que ela possa, ao tentar interromper sua gestação, não ponha fim
a sua própria vida.
Ou
seja: tentar evitar ao menos a interrupção da vida da mulher.
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Nessa
quinta feira da Paixão de Cristo, em um país tão hipócrita como o nosso, não
poderia deixar de encerrar com um comentário, a cerca da decisão do Conselho de
Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, por unanimidade, de cassação do
deputado Arthur do Val,
É
que o deputado reclama de vazamento de suas declarações. De fato, pior que tais
declarações ou vazamentos (a que ele deu origem, tentando se gabar de sua
performance) é seu comportamento, expressão do pior estágio a que um ser humano
pode chegar. Para mim, algo próximo a lixo.
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