quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Quem é o maricas? na lógica defeituosa, tortuosa e delirante do senhor da Morte

 Todos conhecem a fábula do sapo e o escorpião, o que torna desnecessário repeti-la aqui. Razão por quê, nos limitamos apenas a recordar de seu final e da reflexão a que ela nos conduz, que destaca a natureza do escorpião, ainda que encoberto pelas águas. 

A busca pela fábula, no Google, nos remete a um sem número de links, que abordam desde o fato de o escorpião amarelo fazer parte do fluxo da cadeia alimentar do sapo-cururu, o que transforma o sapo em predador do aracnídeo, até outros endereços de cunho mais literário, que procuram identificar o caráter educativo da narrativa ou mais filosófico, destinados a interpretar a moral ali contida.

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Mas deixemos de lado o mundo dos animais, para tratar do assunto que é nosso tema no dia de hoje, embora o uso da  narrativa possa não se aplicar de forma plena ao nosso conteúdo. Isso porque pelo que pude recordar, as fábulas são pequenas histórias onde os personagens são animais, que mimetizam comportamentos humanos. 

E o personagem de nosso pitaco cada vez mais distancia-se da imagem de animal, ao menos do tipo racional. 

Trata-se, por óbvio, de Jair Messias, que dispensa apresentação ou justificativa.

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A razão de iniciar o pitaco com a referência à fábula, é destacar a natureza, o caráter do candidato a genocida que ocupa o Planalto. 

Um homem que desde sempre traz o signo da morte, de quem parece emissário. 

Não fora assim, não teria, desde quando ainda pertencia à Corporação que o formou, proposto e planejado ataques às edificações militares, aos quarteis que congregavam seus companheiros de farda, transformados em alvos para a instalação de artefatos explosivos, em manobra destinada a reforçar reivindicações por aumento de soldos. Ou prestar-se à chantagem ao Alto Comando do Exército.

Por sorte daquela Arma, o Cavalão (aqui o apelido, não o personagem de mais uma fábula!) acabou sendo levado a julgamento, tendo sido objeto de processo que culminou com sua "expulsão", ou a saída negociada do "pede para sair..... 02".

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Livrou-se a tropa de um demente, de um marginal, cuja exclusão, se poderia ser considerada uma vitória, representava uma autêntica calamidade jogada sobre a sociedade civil.

Para nossa intenção, basta destacar o resultado fúnebre que tal ação poderia acarretar, se levada a cabo. 

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Convidado a abandonar as fileiras da Corporação, Bolsonaro tomou o rumo da política, candidatando-se e sendo eleito para uma cadeira na Câmara dos Deputados, onde se manteve desapercebido por mais de 25 anos, escondido nos corredores e nas galerias sombrias do submundo e dos esgotos da Câmara.

Nesse tempo, aproveitava-se dos inúmeras oportunidades que os recursos públicos, travestidos de verbas de gabinete, permitiam auferir. Vantagens advindas da falta de controle efetivo e emprego de manobras, como indicação de funcionários fantasmas ou "rachadinhas".

Mas, não era só. Dando vazão a sua natureza, sugeria que a ditadura militar deveria ter mandado fuzilar - e não apenas torturar - uns 30 mil adversários políticos, inclusive o presidente FHC. 

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A morte estaria presente depois, em seus discursos, em sua campanha à presidência de uma República, tão vilipendiada, que capaz de dar espaço a que um representante de sua negação, pudesse concorrer e se tornar vitorioso. 

Foi em campanha que ameaçou fuzilar a "petralhada", além de banir os "marginais vermelhos", em suposta faxina que ganhou eco junto a parcela da população, cada vez tornada mais rancorosa, por ter sido sempre alijada das conquistas econômicas e sociais da nação. 

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Não bastava a tortura que elogiava abertamente e a que prestava reverência. A tortura desnudava apenas o sádico no exercício do poder. 

Sadismo que se expressa a cada vez que se propõe a submeter à fritura, por qualquer motivo que seja, mesmo o mais mesquinho ou fútil, aos seus auxiliares, seus ministros. 

Isso para não mencionar os militares que atraiu para sua campanha e depois para seu governo, sujeitos a humilhações e ataques constantes, alguns de forma subterrânea. 

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Vale esclarecer que não sinto qualquer comoção maior em relação às agressões aos militares, em especial, o tratamento de subalternidade que lhes é dedicado por Bolsonaro. 

Ao contrário, acho que o tratamento - que não atinge a toda a tropa, dirige-se e alcança apenas aqueles saudosos da ditadura, adeptos e defensores da tortura, os autoritários que não se acostumaram às perdas de cargos e poder e prestígio e que correram a prestar apoio aos delírios do embaixador da morte. 

Esses, por mais augustos ou mourões firmes que sejam, colhem apenas o que plantaram e fizeram por merecer. 

Diferente, esses, de um Pazuello, sabujo autorreconhecido. Ou de um Ramos, que seus colegas de ministério já adjetivaram de forma suficiente. 

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Empossado, Bolsonaro não apenas se prontificou a decretar e trabalhar pela morte e destruição de qualquer resquício de instituições democráticas, quanto pela destruição do comportamento ético, moral.

Razão porquê seus vizinhos de condomínio foram acusados do assassinato de Marielle e Anderson, seu motorista; embora a vereadora opositora incomodasse mais os negócios de seus parceiros, milicianos. 

E sua cruzada para a implantação da liberdade para matar, seja facilitando o acesso, sem qualquer controle, a armas e munições, seja a partir da instauração da liberdade para a realização de tribunais sumários, sob o título de excludente de ilicitude para policiais (em qualquer situação).

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Não à toa, os números do mapa da violência contra pobres, pretos, jovens, populações de comunidades das periferias; a mortalidade por tiroteios e balas perdidas, especialmente de crianças (sempre pobres, sempre pretas!); as estatísticas de mortes causadas por policiais - verdadeiras chacinas - não cessam de se elevar, dando margem ao temor de estar em curso uma política de genocídio. 

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As arminhas com as mãos ou no "coldre" de seus filhos, mesmo em visitas e fotos no Palácio, mostram que o presidente é uma personagem retirado do velho oeste americano, onde proliferavam os justiceiros, os bandidos transformados em xerifes pelo uso das armas, os matadores de toda espécie.

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Nesse desgoverno sob o emblema da morte caveirosa, nada poderia calhar mais que uma pandemia, como a que devasta o mundo e aqui no Brasil chegou a ser considerada mera gripezinha. 

Afinal, a morte nos alcançou de chofre, e o presidente, responsável por agir como líder, coordenando os esforços de combate à crise sanitária e seus efeitos, preferiu se omitir. 

E daí, se ele não é coveiro? E daí, se um dia todos nós iremos morrer mesmo? E daí se ele, por ter histórico de atleta, não seria afetado salvo por sintomas de um resfriadozinho? E daí se ele não é maricas e não vai se submeter ao tratamento de aplicação de ozônio retal? 

E daí se ele comemora a interrupção de testes com uma vacina que pode salvar vida de milhares de brasileiros, depois de já quase 185 mil outros mortos, de distintas idades e situações e condições?

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Bolsonaro torce e deseja a morte, dos outros, daqueles que, em tese, constituiriam seu povo. 

Por isso, o ministério da Saúde com o ministro general fantoche não tratou da encomenda e de fechamento de compras com os laboratórios desenvolvedores de vacinas, de qualquer tipo, de qualquer nacionalidade. 

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O que interessou a Bolsonaro foi a propaganda da cloroquina, porque quem é seguidor do mito, toma cloroquina. Aos perdedores, a tubaína. 

Ao menos Machado e seu Quincas Borba foram mais originais: aos vencedores as batatas!

Pelo menos assim deve ter pensado a ema do Palácio, com mais juízo que o idiota que insistia em lhe oferecer embalagens de cloroquina. 

Afinal, a ema, como todo animal, tem um instinto de preservação agudo. E preferiu retaliar a agressão, revidando a mão que apedreja, incapaz de afagos. 

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Daí o algoz da nação mantém sob sua responsabilidade um gestor em logística. Tão eficiente e eficaz que não conhecia o que é o SUS, acredita que o Nordeste segue a mesma lógica climática que os países do hemisfério Norte, e é incapaz de manter um controle de estoque, com controle de prazo de validade de testes perecíveis. 

Ora, o general fantoche, provavelmente deixa perder o prazo de validade de material sob sua guarda, apenas para contentar à sanha de morte de seu líder ou mito. 

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Dessa forma, não chega a ser nem um pouco surpreendente que em evento no CEAGESP, ontem, em São Paulo, o presidente delirante, prefira invocar a desratização do estado, em clara ameaça e referência a Dória (rato que foi seu aliado, em campanha). 

Dória não merece ser agredido em sua casa. Os ratos não merecem qualquer comparação com o governador. 

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Apenas que Bolsonaro foi além: não bastasse torcer para provar o infrutífero uso de máscaras, ou a afirmação feita em entrevista ao Datena, de que não vai tomar a vacina, ele se supera. 

Só assim, se entende a intimidação que deseja promover a todos os cidadãos que, lutando pela sua sobrevivência, se dispõem a enfrentar as filas que forem necessárias para se vacinarem. Se protegerem do vírus fatal. 

Em franca atitude de transferência de responsabilidade, feita por um irresponsável, prestes a cometer um ato passível de ser considerado crime de lesa humanidade, Bolsonaro negocia para incluir na Medida Provisória que trata da aquisição tardia de vacinas, um termo de compromisso, pelo qual que tomar a vacina se responsabiliza por seus efeitos. 

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Melhor seria se fosse ao contrário. Os bolsotários, como o ídolo, assinassem um termo de compromisso, propondo ressarcimento ao Tesouro de eventuais gastos que tivessem de incorrer, em tratamentos hospitalares, por contaminação da Covid. 

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Mas, esperar o que, de uma MP que listando os critérios de prioridade na vacinação, deixa de fora o grupo de presidiários. 

Querer o que de quem, em discurso se preocupa apenas em fazer propaganda da retomada da funesta ideia do excludente de ilicitude para os militares em ação (seja lá o que isso possa significar!!)

A quem é capaz de defender com a maior tranquilidade a ideia contida na máxima de que bandido bom é o bandido morto. A ponto de se referir de forma elogiosa à carnificina provocada pelas tropas policiais militares no Carandiru, em que 111 homens foram massacrados. 

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Nem se discute o fato de tais detentos estarem pagando seus crimes contra a sociedade e não terem podido terem uma segunda oportunidade. 

O crime aqui é mais sério: crime do Estado, com o monopólio da força e das armas, contra seres humanos a quem não foi dada qualquer chance de se defender. 

Crime do Estado contra aquele que estava sob sua guarda e proteção. 

Crime que apenas destaca que o senhor da Morte não passa de  um covarde, que se vangloria de um grupamento de homens fortemente armados terem sido necessários para controlar e combater um grupo de homens enjaulados sem armas de fogo ou munição. 

E, depois, quem é o maricas???




quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Uma reflexão - histórica - sobre a tão falada derrota da esquerda em 2020. E uma dúvida: como considerar derrotado quem não tem condições objetivas para entrar em campo?

 Interessante observar que a sociedade brasileira sempre se caracterizou por um traço bastante evidente: seu conservadorismo.

Fruto de nossa formação histórica, que excluía o cidadão comum das decisões políticas relativas a sua vida  (na época da República Velha), e da preocupação dos coronéis do interior em manter a população sem acesso à educação, tal perfil menos afeto à mudança não deveria ser causa de espanto.

Afinal, aquela era uma época em que imperava o raciocínio de que quanto mais ignorante o povo, mais fácil mantê-lo sob seu cabresto.

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Não à toa, em razão de nossas relações sociais, para dentro e para fora, Caio Prado Jr., em análise de rara felicidade, demonstrou que nossa sociedade era marcada por uma dualidade. Não aquela que opunha regiões avançadas e mais desenvolvidas, ligadas às atividades vinculadas à exportação, às regiões mais interiores e atrasadas, de produção de bens de sustento das necessidades do conjunto da população.

Sim. Antes de ser alvo de críticas, é meu dever esclarecer que a dualidade apontada por Caio Prado era datada. Tratava de outro momento histórico, o que não impede que eu a generalize, por analogia com a situação vivida no interior de nosso país, por ocasião da chamada República dos Coronéis.

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Para isso, importa reconhecer que as relações mantidas por nossos principais líderes econômicos e políticos do período, em suas relações com o exterior,  poderiam ser classificadas como de caráter liberal, avançado (para a época). Mas para tal filosofia e comportamento liberais poderem se sustentar, era necessário assumir um caráter totalmente autoritário e excludente, nas relações entre fazendeiros/patrões e seus trabalhadores/empregados.

Em síntese: a dualidade se refletia na simbiose entre um comportamento liberal para fora, e autoritário para o interior.

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Como nos informam os livros de história, os grandes fazendeiros acumulavam o poder econômico com o poder político, mantendo o povo na condição de massa de manobra, de sustentação às condições de manutenção de poder, de gado, para usar uma expressão resgatada nos tempos atuais.

Tal situação se revela pelo uso de expressões como a que menciona ‘currais eleitorais’, a que se somam o ‘voto de cabresto’, e práticas que ilustram um sistema eleitoral viciado, como a do voto de marmita; da doação do pé de botina antes e de seu complemento depois; a proibição de voto às mulheres e aos analfabetos.

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Não é estranho que para a manutenção do emprego  e até da sobrevivência, os trabalhadores das fazendas, adotassem comportamentos e até modos de enxergar o mundo, determinados ou apresentados sob a ótica das elites.

O  que os transformava em grupos de valores conservadores.

Em complemento, não nos esqueçamos do papel da Igreja, tão ou mais conservadora, não apenas em relação aos costumes, mas a todas as dimensões da vida, também ela interessada na manutenção de seu poder secular.

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Vamos dar um salto, passando por cima do processo de urbanização e da formação do setor terciário brasileiro, a partir dos anos 30, abordado por Chico de Oliveira em obra também clássica, chamando a atenção para o crescimento desse setor, por força do inchaço do setor público.

A verdade é que o processo de urbanização se acelera a partir do processo de industrialização, a partir do governo Vargas nos anos 40, intensificando-se no período do Plano de Metas de JK, dos 50 anos em 5.

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Mas, então, a atração de trabalhadores das zonas rurais para os centros urbanos e a legislação trabalhista com que Getúlio busca promover a cooptação das classes trabalhadoras para servirem de base de apoio e sustento ao seu projeto político-pessoal, vão provocar poucas alterações no modo de inserção dos menos privilegiados nas discussões políticas.

Ao impor a sindicalização dos trabalhadores por setores de atividades, e atrelar os sindicatos e a forma de financiamento de suas atividades ao Caixa da União, via Imposto Sindical, o ditador gaúcho conseguiu atrelar os interesses dos trabalhadores aos do governo e dos patrões com ele associados.

Daí a pouca combatividade apresentada pelos sindicatos e confederações representativas dos interesses dos menos privilegiados, e o surgimento do movimento denominado peleguismo.

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Em seus primeiros anos, a década de 60 vai encontrar um país completamente urbanizado e cindido por fortes sinais de insatisfação que têm origem nos trabalhadores do campo, não beneficiários do movimento de industrialização experimentado nos anos anteriores.

A tal movimento, de reivindicação de condições mais favoráveis de vida, a começar pela demanda de expansão do acesso à propriedade da terra, e de condições que permitissem o aumento da produção dos pequenos agricultores, vai se juntar uma crescente insatisfação dos trabalhadores urbanos, beneficiados apenas residualmente dos avanços econômicos do país.

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A resposta a tais movimentos é conhecida: a invasão do breu da noite e da escuridão provocada pelo golpe militar e a instauração de um período de ditadura, de 21 anos de duração.

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Do ponto de vista político, além do afastamento de inimigos reais e imaginários, por força de atos de exceção, cassações, prisões, torturas e até ‘desaparecimentos’, visando divulgar no cenário internacional,  uma falsa aparência de liberdade democrática no país, o governo resolveu adotar um sistema de bipartidarismo.

Assim, embora sem independência e autonomia, o Congresso funcionava contando com a maioria de representantes do partido oficial do Governo, a Arena, e um partido de oposição consentida, o MDB, o que lhe dá origem ao apelido de época de Ditadura Envergonhada ao período.

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Esse quadro político partidário, no entanto, não vai alterar a situação que perdurava até o momento, onde os principais partidos existentes, PSD ou UDN, eram típicos representantes dos interesses do capital e dos empresários ou fazendeiros, de cunho conservador e grande infiltração no interior do país.

Distinguia os dois partidos, a posição mais de centro do PSD, que funcionou muitas vezes como um apêndice ou aliado privilegiado de Getúlio, em contraposição a uma posição mais à direita da UDN, de vigorosa oposição a Getúlio.

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Além desses, havia o PTB, partido criado para servir de base de sustentação a Getúlio, ou partido governista.

Quando da instauração do golpe militar, os interesses dos afiliados do PTB foram, junto aos interesses dos trabalhadores rurais, os principais derrotados.

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Com a ditadura, e a formação de novos partidos, os militares viram que não conseguiriam acomodar os interesses conflitantes de seus apoiadores no interior, permitindo a formação de legendas dentro de cada  uma das agremiações. Temos assim, a formação esdrúxula de quadros de Arena 1, Arena 2, bem como de grupos do MDB.

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Ora, apenas a partir do ressurgimento político, a partir de meados dos anos 70, e da retomada dos movimentos dos trabalhadores a partir da greve geral de 78, de que Lula foi uma liderança, é que podemos falar de resgate da participação popular na política. Ao menos, de forma ostensiva.

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Isso mostra que, a rigor, apenas dos anos 80/90 para cá, podemos estabelecer alguma análise que faça sentido, sobre a influência de movimentos de contestação ou da esquerda no país.

Sempre destacando se tratar de uma esquerda cuja representatividade se dá tão somente nos núcleos urbanos mais industrializados e onde as organizações sindicais têm alguma importância.

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No interior, em geral, e apenas para manter a tradição, não havia diferença entre um político vitorioso da Arena 1, ou 2, ou do próprio MDB, cujas divergências eram justificadas por questões ou desavenças familiares ou pessoais. Quadro que se repete com a substituição da Arena pelo PDS, e que vai se prolongar depois da autorização para a formação de novos partidos.

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O roteiro de nossa vida política é suficientemente conhecido, para repeti-lo.

De Tancredo e Sarney, ainda em regime consentido;  a Collor, sustentado por um partido nanico, com discurso de conteúdo fortemente conservador e liberal; até a chegada do PSDB ao poder, cada vez mais com um discurso de cunho neoliberal, até o PT de Lula e a descoberta de mensalões e Lava (e Vaza ) Jato, condenando o PT definitivamente à execração pública, o que se assiste no país é apenas ao movimento pendular, entre os representantes do conservadorismo de um lado e os representantes de um discurso mais ao centro, nada revolucionário ou mesmo reformador.

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Pode-se arriscar a dizer que, momentos como aqueles que permitiram a ascensão de Lula, em 2002, revelam apenas a sinalização de um “desgaste de materiais”, mais típico de um alerta de que é necessário promover alguma mudança que permita ao povo algum momento de afrouxamento da pressão sobre ele exercida.

Em minha opinião, isso se dá porque, no fundo, a questão central que rege a vida da população como um todo, é ditada por um mesmo interesse, de nítida inspiração liberal: o poder do grande capital e do capital financeiro, em particular, independente de sua nacionalidade.

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Afinal, não nos esqueçamos que Lula assinou uma carta de compromisso ao povo brasileiro, e que os primeiros anos de seu primeiro mandato poderiam ser classificados, adequadamente, como de estelionato eleitoral.

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Assim, depois de tudo relatado nesse extenso texto, adotar o comportamento dos analistas da mídia, para tentar imputar uma avassaladora derrota às esquerdas nessas eleições municipais de 2020, realizadas sob a égide de uma severa pandemia, é desprezar, no mínimo, a história.

Porque a esquerda como tal, nunca foi vitoriosa em nosso país.

Ao contrário, sempre foi derrotada, pelo conservadorismo cultivado há anos junto à população.

Sua vitória, se alguma, é continuar sobrevivendo, mesmo sem condições objetivas mínimas para implantar para a população seu projeto de sociedade. 

Ou então comemorar que a extrema direita, radical foi, essa sim, completamente aniquilada nas urnas.