quinta-feira, 27 de junho de 2019

Desatinos a conta gotas

A conta gotas.
Dessa forma, tem funcionado o governo Bolsonaro e sua fantástica fábrica de geração de factóides.
Á la Jânio Quadros, que em meio a uma crise econômica sem precedentes em nosso país (considerada por vários economistas de renome, como a primeira grande crise de caráter industrial do país), e um conjunto de medidas na área das relações exteriores que conseguiram desagradar a toda a sua base de apoio, encontrava tempo para se dedicar às questões que, em sua visão, reclamavam a adoção de medidas de urgência urgentíssima.
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Foi assim que em seu curto período de "reinado" além de condecorar com a mais alta comenda do país a ninguém menos que o líder guerrilheiro "Che" Guevara, de reatar relações com países do chamado mundo comunista ou cortina de ferro, de adotar uma reforma cambial que promoveu uma desvalorização de nossa moeda que redundou na realimentação da inflação, o presidente da vassoura encontrou tempo para tratar de questões como a proibição do uso de biquini, ou do lança-perfume nos bailes carnavalescos. Ou ainda a criminalização da briga de galos...
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Sem entrar no mérito específico de cada uma das medidas citadas - afinal, a decisão de proibir e criminalizar a briga de galos seria considerada hoje como de grande relevância-, as preocupações de Jânio naquela oportunidade não têm como não nos vir à memória, para servir como base para comparação com Bolsonaro, o Messias.
Até mesmo em relação aos famosos bilhetinhos, que ficaram como marca da gestão Jânio, utilizados para a manifestação de suas preocupações, ordens e recomendações.
Bilhetinhos, hoje, substituídos pelo twitter e outras redes sociais.
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Na onda de desatinos que vimos acompanhando, e na falta de qualquer qualificação e de proposta séria para o exercício do cargo que parte da população lhe conferiu, o Messias deixa toda a gestão da crise econômica séria em que o país está mergulhado (a mais lenta recuperação de uma crise econômica de toda nossa história) para seu posto Ipiranga, Paulo Guedes.
O que não o impede de, talvez por desconhecimento, acabar interferindo em decisões econômicas como a da fixação de preços de combustíveis, ou outras que, não sendo diretamente relacionadas à política econômica, acabam tendo relações íntimas com aquela área sensível. Como, por exemplo, o projeto de lei que cuida da forma de governança das agências reguladoras.
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E, para não deixar dúvidas no ar, quando no parágrafo anterior, levantei a hipótese de desconhecimento do presidente, não estava me referindo apenas a questões econômicas em si. Mas desconhecimento em relação ao próprio perfil do ministro que ele escolheu para comandar a Economia do Brasil e seu caráter liberal até a medula.
Caráter que pode sempre ser um ponto gerador de conflitos e discórdias com o comportamento autoritário e desatinado do Messias.
Que pode ser cristão e até messiânico, mas não é onisciente. Nem Deus.
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Dentre os desatinos, a própria escolha dos nomes de integrantes de seu ministério, anunciado como a equipe do governo empenhada em combater a corrupção e o crime organizado no país.
Claro, sem contar o Queiroz e suas relações perigosas com Flávio Bolsonaro, ou com a milícia no Rio de Janeiro. Ou ainda sem fazer menção aos amigos dos filhos e até do próprio Messias, todos devidamente condecorados em reconhecimento por relevantes serviços prestados. A grande maioria dos quais devidamente presos, por envolvimento com o crime organizado.
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Mas, para não ficar apenas no núcleo familiar, é importante que a lista - extensa -, seja lembrada.
Afinal, o raivoso e dedicado general Augusto Heleno, aquele dos socos na mesa e das acusações a Lula e até da hipótese de retorno da prisão perpétua, foi homem de confiança, na Confederação Brasileira de Volei, de Nuzman, hoje reconhecido corrupto, embora fazendo companhia ao Queiroz, ou seja, bem distante das grades.
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Do general histérico, nem devemos nos referir ao Haiti, e sua passagem por lá, voltada para a promoção da  "limpeza"  daquele país.
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De Moro, não é preciso dizer mais muita coisa. Suas ações o definem. Sua falta de compromisso para cumprir as leis, mostram a ausência de qualquer traço de caráter, mesmo que sob a justificativa, não aceitável em qualquer circunstância, de fazer justiça.
Bom lembrar: no início do governo, questionado sobre a acusação feita a Onix, o ministro da Casa Civil, do crime de Caixa 2, o nosso super-herói no combate ao crime da corrupção argumentou que o colega já havia reconhecido o erro e pedido desculpas.
O mesmo ex-juiz de figura ridícula que nada fez em relação seja ao Queiroz, seja às investigações que nunca chegam aos verdadeiros mandantes do assassinato de Marielle, seja às acusações ao seu outro colega, agora do Turismo.
Isso para não falar das mensagens e juras de amor e fidelidade, trocadas com Dallagnol...
Ou ainda dos aviões da FAB, e suas carreiras internacionais...
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Vê-se, pois que o paralelismo do Messias com Jânio não pode abranger a questão da honestidade de propósitos daquele que usava a vassoura para promover uma limpeza e o combate à corrupção, contra esse que usa das armas, ou arminhas, para o mesmo trabalho de limpeza. O que, sabemos, se aplica apenas aos inimigos, vermelhos, comunistas, e é apenas figura de linguagem, ou tropos, em relação aos amigos e familiares.
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Mas, não contente com a questão de como trata a corrupção, o Messias se preocupa em não se tornar rainha da Inglaterra, não acatando o funcionamento das regras do jogo democrático, onde o Congresso tem peso, junto ao Judiciário.
Afinal, o que significa, senão uma tentativa de ir para o confronto, as manifestações de desprezo por votações e decisões das casas Legislativas, senão o intuito de criar condições para que a já conflagrada sociedade brasileira se arraste para uma luta fratricida.
Por que é disso que se trata quando o Congresso decide que a demarcação de terras indígenas deve permanecer na estrutura da Justiça, e ele insiste em passar a atribuição para a pasta da Agricultura, em desprezo pela decisão emanada do outro poder.
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O mesmo se dá no tocante à liberação de porte, e até posse de armas. Derrotado em seus decretos originais, dentro da conformidade do regime legal em vigor no país, ele retoma, na Câmara, a ideia que o move - de que segurança não é atribuição do Estado, mas do indivíduo- e reedita com modificações superficiais, em três decretos, o que já foi decidido no Senado.
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Como disse Airton Soares, em seus comentários no Jornal da Cultura, ou o presidente usa mesmo de má- fé, ou é o mais mal assessorado presidente da história recente, especialmente nas relações com o Congresso.
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E, em meio a esse torvelinho de disputas e queda de braço, de frituras de auxiliares sem qualquer pudor, de desrespeito, prepotência, grosseria e deselegância, o presidente ainda quer, segundo suas palavras, mostrar que a Alemanha e outras nações mais avançadas é que têm que aprender com nosso país, e seguir nossos exemplos, em questões de meio ambiente, etc.
Em sua afirmação, agora e daqui para a frente, o governante do país não irá mais ter sua atenção chamada e ser repreendido por líderes de nações europeias, que não têm condições morais para adoção de tais comportamentos.
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Bolsonaro, com tal discurso, apenas se aproxima cada vez mais da solidão de Trump. E relega o país à situação de exemplo do que há de mais atrasado, ridículo e autoritário em todo o mundo.
O que só faz com que o país perca posições no cenário internacional e deixe de ser convidado para participar dos encontros em que têm acento aqueles que sabem se fazer respeitar.
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Deixando essa situação de lado, temos a sucessão de preocupações que assolam a nosso presidente em suas redes sociais, desde o "golden shower" carnavalesco, até a higiene com o pênis, ou ainda a preocupação com a indicação de um evangélico para a Corte Suprema de um estado laico, como também a preocupação com a tomada de três pinos, ou agora mais recente, o apoio à construção do autódromo do Rio de Janeiro, e a certeza manifesta de que fórmula 1, doravante, passará a se realizar naquele estado.
Como se o Rio já não tivesse problema de sobra para ir arranjar mais esse, de construção de outro espaço inútil.
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E a lista ainda pode se agravar, com a consideração da exclusão de ilicitude penal por ele tanto desejada , em relação às ações, atitudes e comportamento das forças de segurança.
O que transformará qualquer soldado de esquina, desses que podem também ser usados para fechar o Supremo, em um verdadeiro 007, com licença para matar.
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Semelhanças com Jânio, claro que existem. Como diferenças, porque Jânio era um homem ao menos esclarecido, e se se envolvia com coisas de menor importância, não tinha essa formação e essa visão de que o que não agrada, ao invés de respeito, deve passar por processo de desmoralização, até que seja extirpado finalmente do cenário.
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Por mais lamentável que isso seja.
O que me leva a concluir o texto com uma incerteza em relação ao título do pitaco. Seria tudo isso um desatino, ou parte de uma estratégia maquiavélica, de diversionismo visando a implantação de um projeto de sociedade, em minha opinião, completamente distópico?

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Protagonismo de Guedes mostra lacunas em seu caráter, ao menos de solidariedade. E os vazamentos de Moro... que podem, e os que não podem

Uma semana repleta de leituras, diferentes interpretações  e novidades. Assim pode ser caracterizada a semana compreendida pelos dias 10 e 14 de junho.
No intervalo, entre os desmentidos, as mentiras, e o jogo de dissimulação provocado pelas reações do ex-juiz e seu bando de amigos da Procuradoria, também conhecida pela alcunha de República de Curitiba, a paralisação do dia 14.
Longe, muito longe de poder ser caracterizada como uma greve geral. E ao mesmo tempo, com uma participação popular que poderia ser classificada como impressionante, pela capacidade de aglutinar milhares de pessoas que ocuparam a Av. Paulista, em São Paulo, e vários quarteirões da Afonso Pena,  na capital mineira.
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Verdade que o principal motivo da manifestação, a Reforma da Previdência trata de uma questão que afeta a um público maior que aquele presente nas ruas. Mas, também é verdade que a maior parte dos debates, das notícias, dos anúncios, dos comentários sobre a Previdência, sua crise no Brasil, e a necessidade de promoção de alterações, além das propostas apresentadas não foram nunca adequadamente tratadas e debatidas.
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Que o regime de Previdência tem atravessado um período de crise em todo o mundo, especialmente maior longevidade que aqueles que são seus beneficiários têm  ostentado, não se discute.
Afinal e felizmente, uma das consequências consideradas mais benéficas do progresso de nossas sociedades, tem sido o avanço da medicina e de sua capacidade em assegurar maior tempo de vida, com maior qualidade para todos nós.
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Vivendo mais tempo, e aposentando depois de respeitados tempos obrigatórios de contribuição, independente da idade da pessoa ao se aposentar, verifica-se que, mesmo naqueles países em que existe a definição de uma idade mínima (o que não é o caso do Regime Geral de Previdência no Brasil), a Previdência de tempos em tempos enfrenta um problema sério: a expectativa de vida elevada e a atualização dos valores a serem pagos em todo esse período de vida como aposentado, indica uma fragilidade bastante consistente, comparada ao montante do fundo capitalizado (individualmente ou coletivamente) para financiar essa despesa.
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Foi assim no Japão, por exemplo, quando o governo resolveu elevar as idades mínimas limites para a aposentadoria, bem como as contribuições a serem pagas pela população. Como foi assim em outros países da Europa.
Em comum, sempre tais alterações ou reformas, acarretam manifestações, nem sempre disciplinadas, dos atingidos pelas mudanças.
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Então, as manifestações aqui realizadas são típicas do jogo democrático, juntando especialmente aqueles que se consideram os mais atingidos, tanto em seus direitos futuros, quanto em sua expectativa de direitos.
E, se aqui no Brasil as manifestações não são maiores, embora sejam importantes até como instrumentos de pressão sobre os políticos que deverão dar seus votos a favor das reformas, em parte isso é reflexo da nossa mídia, dos órgãos de comunicação que permitem que inverdades ou meias-verdades sejam disseminadas, contribuindo para a desinformação da maioria da população.
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Infelizmente, a ação das empresas da mídia tem a ver com seus interesses particulares, muito mais que com a obrigatoriedade de, detentoras de concessões públicas cedidas pelo governo, ajudar na divulgação da realidade da situação previdenciária no país.
Então além de não informar, a imprensa desinforma. Quando muitas vezes, sem qualquer análise crítica, procura atender ao interesse do governo e do governante de plantão, confundindo atender ao interesse público, do povo, com o interesse de quem está no poder.
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Ok, Devo admitir que estar no poder é sinal de que tem respaldo público, mas não necessariamente da maioria da população do país.
Afinal, aqui no Brasil, nas últimas eleições, o desencanto com a política em si mesma e seu exercício, levou ao poder um candidato derrotado pelo número de eleitores que, desencantados, optaram por anular seu voto, votar em ninguém, sem contar o fato de que ainda havia mais de 40 milhões de eleitores que se manifestaram pelo candidato da oposição.
Ou seja: Bolsonaro ganhou o governo, mas não é o porta-voz de anseios de toda a população. Longe disso.
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Mas, os interesses das empresas da imprensa ainda se unem aos interesses de outros grupos de capitais associados, como os bancos que as financiam e que, nesse momento de crise econômica e e crise das empresas da mídia, exigem divulgação parcial, apenas daquilo que favorece aos seus lucros.
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É isso que explica o porque da discussão da reforma ser tudo, menos democrática. E os comentários e análises terem de tudo, menos o chamado contraditório. Com opiniões contrárias sendo escamoteadas, ridicularizadas, ou apenas relegadas ao esquecimento.
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Mas, dito isso e perdido algum tempo com essas divagações, a semana foi também de leitura do Relatório da Reforma da Previdência, feita pelo relator, deputado Samuel Moreira e, posteriormente das interpretações daquele texto.
E nessa hora, em que há que se reconhecer que o projeto de Reforma encaminhado ao Congresso pelo governo foi aperfeiçoado em vários de seus aspectos, não pode passar despercebido o papel e os chiliques do ministro tigrão da Economia, o irado e raivoso e irônico Paulo Guedes, que em suas horas de lazer e folga, junto aos banqueiros seus colegas e amigos, deve se contentar em ser apenas um tchutchuca.
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Participando ativamente da grande usina de crises em que o governo se transformou, como bem disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o ministro da Economia resolveu assumir o protagonismo de vez, nas hostes ou para agradá-las bolsonarianas.
Assim, veio a público criticar o relatório que se curvou à pressão dos funcionários públicos, principalmente aqueles do Congresso,e retirou 30 bilhões de economias da sua proposta original, por ter flexibilizado as regras de transição para o novo regime.
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Em boa hora, mais uma vez Maia defendeu seus pares, alegando que a proposta do relator era muito mais rigorosa que aquela que o próprio Guedes enviou ao Congresso, para cuidar das regras de transição dos militares.
O que serve para mostrar, de contrapeso, como Guedes consegue ser sabujo. E bajular aos seus patrões.
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Aliás, outro não é o motivo de seu histrionismo, ao alegar que a reforma, se feita conforme o Relatório, irá destruir a Previdência.
E aqui o problema não é nem o BPC, que felizmente não será alterado, como queria o tigrão para os idosos pobres, nem a aposentadoria do trabalhador rural.
Na verdade, a questão central é o Regime de Capitalização, derrotado e excluído do relatório. Como tem sido derrotado e eliminado dos países que adotaram esse regime - em total de 30, em todo o mundo, e já arrependidos em número de 18.
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Mas se a ideia é ruim, porque a insistência de Guedes em sua aprovação e implementação?
Por que os fundos que a previdência e/ou uma poupança individual para a aposentadoria poderiam criar, e que seriam geridas pelos grandes bancos, alcança a casa dos trilhões de reais.
Dinheiro demais, a custo muito reduzido, se algum, para ficar à disposição de bancos financiarem grandes interesses de agentes financeiros em suas operações especulativas nas bolsas, ou de megacorporações.
É essa fábula que Guedes, o tchutchuca do sistema financeiro se comprometeu a entregar aos seus colegas, e agora "patrões",  e que ele não poderá honrar.
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Logo ele, oriundo do sistema financeiro, ex-diretor de banco, ex-gestor de Fundos com operações suspeitas de vários milhões de reais em negociações, conforme a CVM, ávido para entregar os fundos da previdência para a gestão de seus camaradas....
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Por isso sua reação inusitada, seu esperneio...
E a tentativa de jogar para a claque de Bolsonaro, para ver se a pressão das redes sociais desse bando de idólatras consegue demover os deputados de suas convicções (se alguma...) fazendo retornar, em plenário essa semente do mal.
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Para isso, Guedes não hesita em queimar antigos amigos, desfazer-se de amizades. Jogá-las aos leões.
Por isso, esse capacho que ocupa o ministério da Economia, não se sentiu nem um pouco ofendido por ter visto Bolsonaro entrar em sua área, para sugerir que a Petrobras não aumentasse o preço de combustíveis; nem para proibir que propagandas fossem feitas pelo Banco do Brasil, de novo sem conhecimento de Guedes.
Agora, a conversa direta com um subordinado seu, sem seu conhecimento.
Afinal, foi o próprio Bolsonaro que afirmou que falou ao Levy que ou tirava o diretor indicado, ou na segunda feira, os dois estariam na rua.
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Fosse do conhecimento de Guedes o desejo manifesto pelo presidente, o mínimo que esse ex-banqueiro deveria fazer era dizer ao seu patrão que ele resolveria o problema internamente.
Até com a saída, mais honrosa, de Levy.
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Mas na verdade, o que esse ministrinho sem qualquer pejo (para ficar mais claro, sem qualquer vergonha ou pudor) está fazendo é calar-se para dar a entender que está preocupado com a pauta de seu chefe. Nem que para isso, tenha que demitir Levy, por esse ter seguido a legislação financeira e bancária, que impede que certas cláusulas contratuais tenham seu conteúdo aberto a conhecimento público.
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Nem Levy é bobo em incorrer em crime para agradar à miopia persecutória de Bolsonaro, nem o próprio Guedes desconhece que, a abertura desejada por seu capitão pateta dos financiamentos feitos pelo Banco, pode acabar criando instabilidade e medo em eventuais empresas/empresários internacionais, com intenção de investir no país.
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Mas vale passar a imagem de que ficou ao lado do presidente, seja porque o seu subordinado não abriu a "caixa-preta" do Banco, seja por que não repassou mais dinheiro do Banco ao Tesouro - quem sabe até porque tal medida poderia ser considerada, depois uma espécie de "pedalada".
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Se Guedes ficou chateado com Levy pela sua dificuldade em repassar os empréstimos ao Banco feitos pelo Tesouro, é mais compreensível.
Afinal, é na mão desse ministrinho liberal que pela primeira vez a Regra de Ouro teve de ser alterada para conseguir cobrir o rombo que ele, do alto de sua competência não conseguiu fazer.
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Por isso, acena com a crítica à Reforma da Previdência, para agradar aos seus aliados no mercado financeiro. E para conseguir o apoio das classes empresariais produtoras, já que a capitalização desenhada contém também a destruição da segurança ao trabalho, que a legislação trabalhista tentou, mas não conseguir atingir.
Ou apenas para mostrar - além de sua falta de caráter, e solidariedade, que joga o que seu mestre mandar. E deixa sua defesa ser feita por adoradores de mitos em redes sociais.
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De Moro, dizer o que? Depois que o pacote de medidas contra a corrupção e a criminalidade que ele apoiou e encampou propunha que qualquer prova poderia ser usada no combate ao crime, independente da forma que fosse obtida, só restaria mesmo clamar agora, pelo crime do vazamento de suas conversas e conchavos.
Afinal, Moro é apenas um ministro de desculpas, escusas e descuidos. E vazamentos são algo típico de sua praia, desde que ocupava a cadeira de juiz.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Tudo ao mesmo tempo, agora: Bolsonaro, Neymar e MC Reaça

Impossível, nos episódios que assistimos e nos tempos que o país atravessa, não nos deixarmos ser influenciados por alguns acontecimentos tornados públicos, alguns de natureza francamente particular, todos igualmente trágicos.
Como não estamos alienados do mundo à nossa volta, tal situação permite que dramas particulares ganhem uma dimensão gigantesca, como que inflados justamente para ocupar o vazio de notícias relevantes ou fatos realmente importantes ou até mesmo da apresentação de debates saudáveis, sobre a nossa sociedade, nosso ambiente político, nossa economia.
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Antecipo que não quero que nossa imprensa, a mídia se preocupe a ficar apenas repercutindo atos e fatos considerados de caráter nobre, ou de espírito elevado.
Acho que uma imprensa assim, rósea ou candidamente influenciada pelo espírito de Pollyana seria muito chata.
E a verdade é que a imprensa pode até noticiar ou destacar, mas não é ela que cria os fatos. Os problemas. As tragédias.
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E, torpedeado por tais fatos, que de forma alguma nos dizem respeito e sobre os quais deveríamos nos abster de emitir juízos de qualquer espécie, acabamos sendo levados a participar, a emitir opiniões, apoiar ou torcer, manifestar-nos.
Ou ainda, no meu caso, a procurar refletir não apenas sobre os eventos e seus desdobramentos, mas sobre outras questões que os cercam, como a coincidência temporal dos acontecimentos.
E, ao dar margem para que o pensamento se transforme em passageiro dessa viagem que é o livre pensar, acabo estabelecendo algumas conexões, ligando alguns fatos que, sem qualquer vinculação causal entre si, dão margem a que cheguemos à conclusão de que, no universo, tudo conspira para que sua ocorrência se dê AQUI e AGORA.
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Senão vejamos: ocupa a presidência de nosso país, eleito democraticamente pela maioria dos eleitores que se dispuseram a ir às urnas, um político que sempre que se manifestou, o fez de forma a destacar sua visão machista, preconceituosa, homofóbica e autoritária.
Que em campanha o candidato tivesse explorado características auto-apregoadas de virilidade para se destacar e conquistar votos de uma parcela do eleitorado, pode ser compreensível, embora sujeito a críticas.
Mas, não devemos nos esquecer que esse candidato, já na oportunidade, sofria um processo movido pela deputada Maria do Rosário, sua colega de Câmara, por declarações com claro conteúdo de estímulo ao crime de estupro.
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Eleito presidente, esse candidato não perdeu a oportunidade, em várias ocasiões, de continuar manifestando sua intolerância, desde a escolha de ministros, como as Damares das cores de roupas, até a exibição em suas redes sociais de cenas do carnaval, com claro conteúdo erótico.  Mas não ficou preso na chuva ou chuveirada carnavalesca, passando a protagonizar piadas ridículas sobre o povo japonês, além de outras manifestações descabidas, como a da censura à peça publicitária do Banco do Brasil, ou a assinatura do decreto de armas, etc.
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E aqui devo dizer que, justiça seja feita, o presidente, apelidado de Cavalão quando ainda estava no Exército, nunca mostrou outra imagem ou apresentou uma imagem falsa de sua pessoa ou de sua índole. Se votaram nele, ainda assim, é algo que, mais tarde, afastado do calor dos acontecimentos, deverá ser objeto de pesquisas em psicologia social, de massas, para entender o que representava tal "mito", no imaginário de seus seguidores.
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A ascensão de Bolsonaro e o papel de destaque que passa a ocupar, cada vez mais, no entanto, gera um certo aval, uma sinalização positiva, um certo estímulo a que aqueles que têm mentalidade tristemente comparável à sua, se sintam à vontade para dar asas a sua imaginação.
O que pode ser, mesmo involuntariamente e sem que o presidente compactuasse ou aprovasse tais comportamentos, uma explicação para o aumento recente dos casos de feminicídio, ou de violências policiais, para citar apenas alguns.
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Pois é nesse mesmo momento que vem a público mais dois casos, com ingredientes que misturam alguns desses mesmos elementos, "incentivados" por Bolsonaro.
O caso triste e lúgubre de MC Reaça, cujo espírito em busca de paz o levou ao auto-extermínio, e o caso de Neymar Jr. essa figura cada vez mais perdida, e seu assessor principal, seu pai, cada vez mais patético.
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Esse pitaco hoje não é para julgar a ninguém, nem apoiar a qualquer das partes envolvidas, nem condenar a quem quer que seja.
Seu sentido é muito mais destacar que em ambos os casos, do MC e do jogador, havia a questão da figura do macho alfa envolvido, da mulher submetida e/ou vítima, de agressões que podem ter sido físicas e até morais, e de certos tipos de reações típicas da autoridade que perde o controle da situação, quando contrariado por quem devia prestar apenas e tão somente obediência.
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MC Reaça ao que parece, deixou-se dominar pelo pânico, pelo temor de ter cometido um ato bárbaro e de suas consequências. Do pavor de não ter como encarar sua esposa e as famílias envolvidas.
Dominado por violenta emoção, preferiu a busca da felicidade sob outras vestes.
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Quanto a Neymar, infelizmente parece ter mudado muito.
Lembro-me ainda de quando o elogiava por ter adotado um ato dificilmente visto entre os rapazes que começam a se destacar e ganhar dinheiro, de grande maturidade como o do reconhecimento de seu filho.
Lembro-me de como se portou em todas as ocasiões em que estava presente seu menino, todas sempre dignas de elogios.
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Até me vem à memória uma reportagem feita pela Folha, há muito tempo, em que seu pai dizia que, apesar de estar já milionário, Neymar ainda pedia dinheiro para comprar até um carro, por não estar sob seu controle a administração do que ele recebia. Tudo para mostrar como Neymar era humilde, simples e um bom menino.
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Pena que o gênio tenha se deixado alterar em tão pouco tempo, ou que a máscara que lhe queriam impingir não conseguisse se manter por muito tempo.
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É isso, que MC Reaça descanse em paz. E os demais atores de nosso pitaco tenham condições de analisar e, até rever  seus comportamentos.
Para o bem deles mesmos.
Para o bem do ambiente que estamos vivendo