terça-feira, 31 de março de 2015

50 anos de Banco Central, ainda a capitulação de Dilma e a PEC da redução da idade penal

Filho dileto da ditadura militar, o Banco Central, criado em um dia 30 de março, completou 50 anos de idade no dia de ontem. Festividades internas, acanhadas como convém à Autoridade Monetária e à situação econômica que o país atravessa marcaram a data, cuja programação trazia como principais eventos uma palestra do Ministro presidente Alexandre Tombini, seguida de homenagens a servidores da Casa e o lançamento de um selo comemorativo pelos Correios.
Nesses 50 anos de vida, é inegável a importância e o papel desempenhado pelo Banco Central desde seus primórdios, tanto no combate à inflação, quanto na gestão da dívida externa, ou até mesmo na gestão do orçamento monetário, então a peça mais importante e efetiva de ação das políticas econômicas adotadas no país.
Se já era reconhecido seu bom desempenho como agente de fiscalização do sistema financeiro, o que lhe valeu, inclusive a transferência para sua responsabilidade da gestão do sistema de consórcios, no início da década de 90, foi a partir de 1994, com a implantação do Plano Real que teve reconhecido o êxito de seu trabalho por toda a sociedade.
De lá para cá, a responsabilidade de assegurar a estabilidade e solvabilidade do Sistema Financeiro, que levaram, entre outras ações, à adoção do PROER, Programa de Estímulo à Reestruturação e Fortalecimento do Sistema Financeiro; do PROES, de ajuste dos bancos estaduais, de que resultou a privatização de vários desses estabelecimentos; a criação do Sistema de Pagamentos Brasileiros, o Sistema de Metas de Inflação.
Inegável destacar a resposta dada pelo sistema financeiro do país à crise financeira iniciada nos mercados especulativos da 'subprime' dos Estados Unidos a partir de 2007, por força de seu maior rigor regulatório, até aquela oportunidade criticado como um exagero intervencionista.
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Se muito tem a festejar, é importante destacar que durante todo esse tempo, o Banco exerceu suas atribuições sem atender ao requisito considerado minimamente imprescindível à sua ação, a saber a condição de independência ou de autonomia legal, sempre reclamada pelos setores mais conservadores. Condições, que apenas institucionalizariam a criação de um novo poder, que por suas atribuições técnicas e específicas, não se submeteria ao crivo da sociedade, além de estar   muito mais próximo e sujeito a toda sorte de pressão dos setores a que deveria fiscalizar.
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É certo também que, se muito deve ao seu corpo técnico,  de sempre reconhecida e declarada competência,algumas importantes demandas de seus especialistas precisam ser tratadas com mais interesse e respeito. Entre elas, o acerto que se arrasta há mais de 20 anos do pagamento de atrasados relativos ao aumento de ao pagamento de 28,86% concedido pelo Presidente Itamar aos militares em 1993, posteriormente estendido a todo o funcionalismo civil.
Outra reivindicação, seguramente mais importante do ponto de vista institucional, o reconhecimento da atividade especial desempenhada pelos quadros de técnicos do Banco, por meio da exigência de transformação do cargo para o nível superior.
Por fim, o reconhecimento pelas instâncias competentes do governo de que, da mesma forma que a Polícia Federal e a Receita Federal, órgãos que exercem o monopólio da segurança armada ou da arrecadação, o Banco Central caracteriza-se pelo monopólio da emissão, senão do mais, de um dos mais importantes símbolos de nossa sociedade, o dinheiro.
Situação que não permite tratamento diferenciado do Banco por parte de alguns setores do próprio governo, que dispensam ao Banco status inferior àquele dos órgãos citados.
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Capitulação de Dilma

Mais uma vez, mostrando que Fernando Henrique Cardoso está atento à política nacional, Dilma dá sinais de estar refém de seu ministro da Fazenda, ou mais precisamente, dos interesses que seu ministro representa.
Não por acaso,  a demonstração inequívoca da capitulação da ex-gerente que dava murros à mesa, se deu, desta feita, em resposta à  palestra pronunciada pelo Ministro aqui no Brasil para seus ex-colegas. A destacar, que a palestra foi pronunciada no idioma pátrio, o INGLÊS e que a turma que participou do encontro à portas fechadas era formada pelos CHICAGO BOYS, de que o ministro é eminente figura.
O que apenas deixa claro quais são de fato os interesses que o Ministro está preocupado em agradar, ou não desagradar, já que pelo que foi noticiado, não se nota essa preocupação em relação à chefe.
Sinal apenas de que, mais uma vez, FHC está certo, quando diz que Joaquim Levy não tem qualquer habilidade política. Ou como reconhece Josias de Souza, em seu blog no dia de ontem, ao contrário, o ministro tem um senso de oportunidade que merece elogios. Sempre pronto a colocar Dilma no canto da parede, prensada, de forma a passar à opinião pública a imagem do que de fato ela é: um fantasma. Um escombro de mandatário.
Alguém que, humildemente, vem a público dizer que deve até agradecer ao seu subordinado, por atribuir a ela, uma genuína boa vontade.
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Agindo como age Joaquim Levy parece estar dando munição a tantos quantos derrotados nas urnas partiram desesperadamente atrás da realização de um terceiro turno.
E o faz mostrando com clareza que, basta que a política que privilegia os interesses do grande capital financeiro internacional seja aquela adotada, que o nome da pessoa que ocupa o posto de maior visibilidade do governo perde completamente sua importância, passando a ser apenas isso: um cargo visível. De brilho efêmero, por que oco.
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E agora mais essa notícia da negociação do ministro no Senado, no dia de ontem, procurando obter o compromisso do adiamento da aprovação da lei que determina o prazo de 30 dias para que a lei que regulamenta a mudança dos índices de correção das dívidas de estados e municípios possa entrar em vigor.
Pelo que foi noticiado, o ministro obtém o adiamento para o ano que vem, 2016, da entrada em vigor da lei. E, se compromete a pagar, na oportunidade os prejuízos que Estados e municípios tiverem com o atraso da medida.
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E a mídia tratou tal negociação como um grande feito do ministro.
Para espanto meu, nada a respeito de contabilidade criativa, ou coisa do gênero, como represamento de despesa, etc.
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Bom, mas é que se trata de nossa mídia. Talvez, melhor dito: our mass midia.
Tudo dominado!!!
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E vem aí a PEC que altera a maioridade penal

Que não há cláusula pétrea que deva ser eternizada, isso não há como questionar. A sociedade muda. O mundo e os costumes mudam.
Mas, reduzir a maioridade penal, baseado no fato de que mais de 90% da sociedade deseja o fim da impunidade é, no mínimo, risível.
Como se os menores, de preferência pretos, pobres, adolescentes, moradores nos bairros de periferia não fossem já punidos com o que têm de mais importante, a própria vida. Como se os tribunais de exceção não funcionassem a todo vapor, embora punindo APENAS essa parte da população.
Como se a sociedade brasileira, inculta e bela, não fosse completamente manipulada quando o tema é o combate à violência urbana.
Como se a verdadeira violência, a mais grave, a geradora dos maiores prejuízos, fosse a cometida por menores, de morros, e não as dos empreiteiros, engravatados, em conluio com políticos, funcionários públicos de alto escalão e nenhum escrúpulo.
Entendo a necessidade de se discutir uma mudança na legislação, para que possamos apenar aqueles que sabem os atos que cometeram e tinham condições de avaliarem as consequências desses atos.
Entendo a reação de todos os familiares de vítimas da banalização da vida a que estamos submetidos. Entendo que a redução da maioridade penal pode sim, apor obstáculos à utilização de menores por bandos de criminosos que deles se utilizam exatamente para fugir aos rigores da lei.
Ou não.
Porque não consigo perceber a razão que impedirá que, amanhã, as gangues não estejam usando meninos de 14 anos ou menos. E não entendo onde essa escalada de redução da idade penal, que agora se inicia, vai terminar. Daqui a pouco, será necessária a redução para os 14, os 12, quem sabe os 10 ou 8 anos, idades que postagens nas redes sociais mostram que os meninos nos morros, já circulam armados até os dentes.
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Interessante que o tema, controvertido, claro, seja tratado com tanta ligeireza. E até alguma brandura. Afinal, o que um pivete de 15 anos não sabe, e que aos 16 já estará dominando?
Porque a preferência por mostrar a ação do Estado, tão ausente na criação do problema, justo na hora da  punição?
Porque impor a presença do Estado, a um grupo da população que sempre foi abandonada por ele, justo no momento em que o Estado age de forma repressora e violenta?
São muitas perguntas sem respostas.
E, repito, soluções que, no exame de cada caso específico, tratam com tanta condescendência o menor infrator quanto a legislação atual, que se pretende tornar mais severa.
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A aprovação da PEC me leva a crer ao menos em uma coisa, se não acredito na capacidade de reduzir a criminalidade ou violência: que vamos assistir aos justiceiros e milicianos fazendo vítimas cada vez mais jovens. Porque desce a idade penal, reduz a autorização para justiçar meninos com menos idade.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Entrevista de FHC levanta a dúvida: Dilma refém de quem mesmo, cara pálida?

Interessante, para dizer o mínimo, a situação a que chegou o governo Dilma. Ou melhor seria o desgoverno.
Mais interessante ainda, a imagem que a presidenta passa, à medida que seu governo parece definhar. Antes mesmo de ter iniciado. Se antes era a gerentona do Lula, e no início de seu primeiro mandato, como lembrou o ex-presidente FHC em entrevista à Folha (p. A8 do caderno principal de hoje), chegou a passar a imagem de faxineira, Dilma é hoje apenas uma sombra do que foi.
Recuperando parte da entrevista de FHC, e também nossa lembrança, logo que assumiu, Dilma não teve qualquer pudor em assumir a imagem de faxineira, com a qual, surpreendentemente, chegou a agradar a toda a classe média de poder aquisitivo mais elevado.
Naquela oportunidade, Dilma promoveu além da dispensa de ministros, uma verdadeira dança das cadeiras que alcançou inclusive a Petrobrás, chegando a ser apontada como a guardiã da moralidade, a responsável pela luta anti-corrupção. Que, segundo FHC, ela herdou.
De lá para cá, a recusa de se pronunciar quando da condenação decidida pelo STF dos mensaleiros, a denúncia de uma certa conivência com as manobras recomendadas pelo jogo de cintura de seu secretário do Tesouro, Arno Augustin,  que mais que criativas mostraram-se excessivamente flexíveis, quase no limite da irresponsabilidade, a vinda a público de uma nunca bem explicada compra de uma refinaria feita pela Petrobrás, tudo foi fazendo Dilma ir se transformando no negativo da imagem que cultivara.
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Mas, se Dilma hoje é encarada como condescendente com a corrupção, já que aos olhos da população, mesmo que sob a proteção dos óculos da mídia conservadora, ela tinha conhecimento do que se passava em nossa principal empresa e preferiu não agir, seu governo vai se esfarelando, em parte por culpa da própria presidenta.
Por força de não ter  dado nunca sinais de estar disposta a negociar com o  Congresso, que agora, na mão da situação mais oposicionista de toda a história política nacional, aproveita-se com raro oportunismo para colocá-la sempre contra as cordas.
Como lembra Vinícius Torres Freire, colunista da Folha (caderno B - p. B, também de hoje), as lideranças do Legislativo, com raro senso de oportunismo, passaram a cobrar da presidenta, na área econômica, ações que mais que um plano de ajuste fiscal, apresentem alternativas capazes de alavancarem um processo de desenvolvimento, tornando-se em um autêntico plano de recuperação do desenvolvimento. Veja bem: não apenas um plano de crescimento, mas de desenvolvimento.
Adicionalmente o presidente do Senado, cujo filho tornou-se governador de Alagoas, ameaça obrigar o governo a regular a lei, criada e aprovada pelo mesmo Executivo, mas não regulamentada, que altera os índices de correção das dívidas de estados e municípios. Alagoas, óbvio, sendo um dos estados mais beneficiados, embora não o único ou o mais privilegiado.
Tal mudança implicará em mais um rombo, de 3 bilhões de reais ao ano, nas combalidas contas públicas.
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Mas não para aí o avanço do Legislativo tentando prensar Dilma no canto do ringue, de forma a reduzir seu raio de ação a um mínimo.
Embora todos sejam sempre muito favoráveis à discussão de uma cada vez mais necessária Reforma Tributária, em que uma das principais modificações tem, necessariamente passar por mudanças profundas no ICMS, Vinícius Freire nos informa que Calheiros ameaça também com a proposta de legalização de incentivos que os Estados concederam aos empresários no que se denominou "guerra fiscal". Guerra para tornar locais antes inviáveis, atraentes para a instalação de grandes empresas.
Ou seja, fingindo preocupação com os eleitores de classes de renda mais reduzida, que acreditaram nas promessas de Dilma, votaram nela e  se sentem ludibriados agora, Renan Calheiros, que nunca se mostrou muita preocupação com eles, vem em sua defesa, exigindo um plano que imponha menos sacrifícios. Isso, à frente das câmaras de tv. Nos bastidores, trama com empresários e governos estaduais e municipais, a permanência de interesses, esses sim, contrários ao povo.
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Em relação a tudo isso, o que Dilma pode fazer? Sem base. Sem apoio. Dependente de seus algozes quererem manter funcionando o tubo de oxigênio que ajuda a presidenta a ganhar fôlego.
No âmbito econômico, por outro lado, Dilma está também refém de Levy, seu ministro da Fazenda, conforme constatação de FHC na já mencionada entrevista.
Curiosa essa observação de que Levy é quem governa, embora sendo apenas um tecnocrata, cujas soluções por mais racionais que possam ser, denotam a falta de jogo de cintura político.
Para FHC, a racionalidade econômica pura (se é que existe isso!) esmaga tudo. E se o "problema é econômico, a solução é política".
Isso, em ambiente em que falta coalizão e até mesmo vontade à dita base política de apoio à presidenta.
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Mas, mais interessante na entrevista do ex-presidente, é que em trecho anterior da conversa, ele observa que "Ela não tem o que fazer. O que tinha, já fez: nomeou o Levy. E isso só aumentou a armadilha, porque agora ela não pode demitir. É refém dele."
Ora, ou é Levy quem mantém Dilma refém, ou os interesses que levaram Dilma a fazer o que ela tinha que fazer: nomear Levy, como ministro.
Então Dilma é refém, na verdade, dos interesses que Levy representa. Interesses que sabemos bem quais são e a quem estão ligados.
Interesses que estão mais vinculados aos credores da dívida pública federal, cujo valor já apresentou crescimento, ou seja, piora, degradação nesses primeiros meses de Levy.
Resultado que a ninguém deve enganar. Se ruim para o governo e seu ajuste, é muito benéfico para os credores, especialmente, em função das elevadas taxas de sua remuneração, e da preocupação de assegurar que eles receberão os pagamentos de juros prometidos. Para isso, o superávit primário, tão desejado.
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Também não devemos deixar que nossa visão seja turvada pelo fato de que a dívida mobiliária é decorrente de comportamento, digamos irresponsável, adotado pelo governo. Porque grande parte dos recursos que a financiam, são fruto da conversão de capitais externos em nossa moeda. Ou seja, são capitais externos, a quem estamos inapelavelmente submetidos.
Desde o plano real e sua implantação, aproveitando e criando espaço para valorização dessa massa de recursos que inundavam os mercados internacionais com uma liquidez extremamente elevada.
Daí que a midia toda comemorou, junto com o governo, os mercados, o sistema financeiro e o próprio Levy, o fato de termos mantido nossa avaliação, conforme rating da Standard & Poors.
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Ou seja, não é Levy, mas o mercado globalizado, ou financeirizado em escala global, que mantém Dilma refém.
E que manteria também qualquer que fosse o político que tomasse seu lugar. Caso o povo assim o quisesse.
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O que vale uma última observação quanto à sagacidade de FHC, que deixa claro que não vê condições, por ora, de um pedido de impeachment de Dilma. Mas, que arrisca-se a comentar, em outra resposta, que hoje, e entre parêntesis, se Dilma cai e fazem novas eleições...
Ora, o ex-presidente sabe que se Dilma cai por impedimento, não teremos novas eleições.
Mas ao fazer a insinuação, está dando força a todos aqueles que, desconhecendo as leis que regem o processo de impeachment, acreditam que NESSE CASO,  e só dessa forma, conseguiriam eleger Aécio.
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Faz-me rir. Se não for preocupante o ar golpista da afirmação.

quarta-feira, 25 de março de 2015

107 anos dessa paixão chamada Atlético

De 1908 a 2015 são 107 anos de lutas, conquistas, emoções, campanhas memoráveis e outras, como é óbvio, de péssimas recordações.
Tudo isso é GALO! Esse time que é mais que uma camisa listrada pendurada em noite de ventania.
Que é mais que uma paixão tresloucada, sempre renovada ao primeiro esgar de um sorriso ou de um piscar de olhos.
Que é a razão de o futebol parecer sempre ser algo sobrenatural, e que faz, como outros esportes, que o sonho possa florescer mesmo quando tudo apontava para o desastre.
O Galo é mais, muito mais que apenas um time de futebol, uma religião, a demonstração de fé no homem e em sua capacidade de luta.
Ser atleticano é mais que ser torcedor de futebol, fanático ou mais comportado. Otimista ou pessimista.
Ser atleticano é simplesmente ter certeza de que Deus existe e é brasileiro. E que o ser humano é e traz em si, uma centelha divina. E que essa centelha assume muitas vezes a forma de um time de futebol, de uma camisa listrada, de um escudo. De uma energia que nos faz saber que o nosso time é imortal e é o orgulho do esporte mundial.
Vencer. Vencer. Vencer, diz o hino inspirado.
Vem ser também atleticano para saber o que é o amor ilimitado e a força criativa e construtiva de lutar por um ideal. Da força de viver a vida.
E como diz a letra do Cidade Negra; pra quem tem fé, a vida nunca tem fim.

Parabéns Galão da Massa. Parabéns Clube Atlético Mineiro. Uma vez até morrer.

Quem precisa de oposição quando um partido anão (em dignidade) é que é maioria no Congresso?

Convenhamos que ter como aliado um partido como o PMDB é o mesmo que governar com a oposição.
Porque a sede de poder desse partido-busão é tão grande que se for necessário criar uma crise por dia, para não dar tranquilidade ao governo, ameaçando-o permanentemente com a ausência tão temida da governabilidade, ele o fará.
Que distância, quilométrica, para o partido que um dia foi o depositário de todas as esperanças das forças democráticas do país, ainda sem o P à frente da sigla. Quando, embora consentida, era um capaz de fazer uma oposição que podia se vergar,  mas não se quebrava.
Oposição que tinha a altivez como característica, o que valeu, por exemplo, a decisão de não autorizar a abertura de processo contra um de seus deputados, Márcio Moreira Alves, o que valeu a decretação do AI-5.
Oposição que, para ter condições de acesso à mídia e aproveitar a oportunidade de denunciar os abusos do poder autoritário e especialmente as agressões aos direitos humanos e as torturas que aconteciam nos porões da repressão, lançou candidatos à presidência, como o general Euler Bentes Monteiro, e até anti-candidatos, como Ulisses Guimarães, pessoas que colocaram a própria vida em risco.
Partido que tinha nomes da estatura de um Nélson Carneiro, Paulo Monteiro de Barros (o Arthur da Távola), Saturnino Barros, Franco Montoro, Mário Covas, Severo Gomes, Marcos Freire e o saudoso menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela, além de um Itamar Franco ou de um Tancredo Neves.
Partido que foi perdendo, aos poucos, todo e qualquer decoro, toda decência, atento à máxima de seu líder Robertão Cardoso Alves, quando da Constituinte de 88, apropriando-se da frase de São Francisco, de que é dando que se recebe.
Partido agora entregue às mãos de um Eduardo Cunha, de folha corrida da qual é melhor sair correndo para distante. De um Renan, mais uma dessas pragas políticas que devemos creditar ao período collorido do poder.
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Enfim, o que esperar de um partido que renega seu passado, suas páginas de luta e glória, para tornar-se meramente um bando de achacadores, 300 ou 400, em contagem imprecisa do ex-ministro Cid Gomes. Vários deles, remanescentes dos 300 picaretas de Lula. Exatamente esse Lula que prega hoje a maior aproximação do governo dos integrantes desse grupo de homens dispostos a adotarem as práticas mais espúrias, tão somente para criar o caos. E poderem, muitos cargos e ministérios e diretorias de estatais muito poderosas depois, garantir a votação capaz de assegurar a governabilidade.
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Que o PMDB tenha conduta de partido de oposição, nada a questionar. Desde que largue o osso.
Que queira assumir o poder, levando a presidenta Dilma ao isolamento completo, nada contra. Apenas a curiosidade de saber porque nunca decidiu concorrer como cabeça de chapa à eleição para o cargo mais importante do país, admitindo sempre ficar em segundo plano. Atrás do cenário, de onde tem condições mais favoráveis para observar todo o palco, a platéia e fazer o jogo que mais favorece ao interesse individual do projeto de poder de seus líderes.
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E é bom esclarecer que todo esse pitaco não tem a preocupação de criar condições de governabilidade para a presidenta Dilma, que já provou, em inúmeras ocasiões, que é completamente avessa a qualquer composição. Que não sabe fazer política, não sabe negociar. Razão por ter uma relação conturbada com o Congresso como um todo.
Na verdade, Dilma está colhendo o que plantou. Em todos os sentidos, a começar da mudança de discurso e da guinada radical que protagonizou logo que eleita.
Mudança que, como vários observaram na ocasião, mas já se esqueceram, foi tão abrupta e estranha que causou constrangimentos à própria Dilma. Que passou um bom período fugindo dos holofotes, em mais um de seus desacertos de marketing, ou de respeito ao seu eleitorado.
Então, se a minha preocupação não é em salvar a pele da presidenta, nem resgatá-la da sanha dos seus aliados, o que justifica esse pitaco?
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A resposta é simples. A aprovação da adoção de novo texto legal que altera os índices da correção das dívidas estaduais pode ser muito importante. Parece até que foi uma das mais importantes promessas que Eduardo Cunha fez aos governadores, quando viajou por todos os estados do país, procurando conquistar votos. E note bem: conversando não com os seus eleitores, seus colegas deputados. mas com governadores, prefeitos.
Todos que têm a caneta, em seus estados, para  premiar os deputados amigos, com nomeações de seus indicados e apadrinhados para cargos no governo.
Ora, não é de hoje que se sabe, até pela pressão maior que sofrem da sociedade, que prefeitos e governadores gastam mais. Que Estados e municípios estão mais propensos a não cumprirem as metas orçamentárias.
E justo nesse momento em que todo o governo federal se propõe a fazer um severo ajuste fiscal, aprovar-se a entrada em vigor de um redutor da dívida dos Estados, que vai provocar grande perda de transferência de recursos para a União, é no mínimo, emitir um sinal à sociedade e a todos aqueles analistas que acompanham nosso país e seu comportamento e evolução que o governo não deverá ter condições e força para cumprir o que se propôs.
Não terá condições de organizar suas contas. Não conseguirá dar aos credores externos, a tranquilidade e segurança que eles cobram para manter seus recursos aplicados em nosso país.
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Quem me lê sabe que não sou favorável ao ajuste fiscal no grau de severidade que está sendo proposto. Sabe que acho que entre o interesse da população brasileira, especialmente daquela parcela menos privilegiada, e os interesses dos credores internacionais, sou muito mais favorável à primeira opção.
Sabe que acho que a culpa de tudo isso é também e, talvez mais ainda, do PT, que aceitou negociar as dívidas e até transformar em lei os resultados da negociação com governadores, tudo para poder obter algum apoio eleitoreiro.
Mas, a verdade é que se a medida votada ontem, e o esforço concentrado para que seja aprovada nas duas casas legislativas uma PEC para obrigar o governo a aplicar o novo índice, fosse proposta e fosse fruto de ação da oposição, nada teria a abordar. Se fosse a oposição que estivesse por trás de mais essa derrota do governo, não haveria muito o que reclamar, já que faz parte do jogo.
Mas, sendo de partido aliado, da principal agremiação de apoio ao governo, ao menos o  maior partido da base de sustentação, só dá para entender como uma grande chantagem.
Para conseguir mais cargos, para conseguir mais benesses, para encurralar a presidenta e seus ministros, para mostrar que o governo está nas mãos do Congresso e do partidozinho que o comanda, com suas figuras de liderança anãs.
Ou para jogar mesmo o país no caos, forçando a saída de Dilma e sua substituição por um Temer ou pior, pelo presidente do Senado, caso também Temer venha a aparecer na linha de tiro.
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Pior é que, instalado o caos, nesse caso por culpa exclusiva da goela aberta por cargos, dos integrantes do PMDB, nem a oposição, e muito menos o PMDB conseguirão tirar o país da crise econômica.
A menos que a ação seja muito mais uma jogada especulativa, com a finalidade de causar alguma desconfiança nos agentes econômicos quanto à capacidade do governo de entregar o que prometeu. Sinal de que alguns poderiam correr para retirar desde já seus recursos, o que iria fazer nova onda de majoração do no dólar.
Claro que muita gente, que aposta no pior, melhor, já está comprado em dólar, para aproveitar dessa rebeldia do PMDB.
O que cria um clima sempre e permanentemente instável, mesmo que, conquistados seus objetivos, o PMDB e seus líderes voltem atrás e assegurem ao governo condições de cumprir as promessas refeitas. Até que surja a oportunidade para a fabricação de nova crise.

terça-feira, 24 de março de 2015

Economia brasileira recebe selo de qualidade que a mídia e a oposição canhestras insistem em negar

Ao contrário do que temiam as aves agourentas do mercado, a agência de avaliação de risco Standard & Poor's manteve a nota de grau de investimento do país, conforme comunicado emitido ontem, em razão da crença de que a presidenta Dilma e sua equipe conseguirão restaurar a credibilidade do governo.
Alegam também a confiança em que Dilma conseguirá levar avante o programa de ajuste fiscal pretendido, cujas medidas deverão ser aprovadas pelo Congresso.
Ou não.
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Ao voltar de suas férias, Jânio de Freitas, entre outras questões abordou exatamente essa questão, que é a mesma que já abordamos antes nesse espaço: a oposição, e nem é exatamente a oposição, que na campanha eleitoral tanto pregou a necessidade de uma guinada de direção da política econômica da presidenta, agora que teve suas recomendações atendidas, passa a criticar e ameaçar a aprovação do ajuste.
Pior. Nesse jogo de interesses vis e mesquinhos, em que os interesses do país estão no último lugar da fila, conta com o apoio dos partidos que compõem a base governista no Congresso, embora nessa último caso, menos pelo conteúdo do pacote, qualquer que seja, e mais pelo simples interesse em fazer chantagem.
E, a partir dos achaques, obter cargos e posições, ainda em maior quantidade no governo.
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E ainda há gente que critica Cid Gomes,o ex-ministro da Educação que, conforme Zé Simão da Folha mostra em sua coluna, com muita sagacidade, foi punido por ter falado a verdade.
Ou não.
Afinal, como mostra o impagável Zé Simão, ao declarar a existência na Câmara de uns 400 deputados achacadores, Cid Gomes mostrou como uma autoridade do governo pode cometer um erro crasso. Pelos cálculos, deve ter errado por uns 50 deputados, que seriam, no mínimo, 450.
Cid Gomes pode não ter tido qualquer educação, é verdade, indo destratar os deputados naquilo que eles consideram a casa deles.
Mas, que estava coberto de razão, isso ninguém pode negar.
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Mas, concordando ou não com a avaliação da agência S&P, e com a importância que é atribuída a tais agências, o certo é que a economia brasileira ganhou mais tempo para ajustar a situação interna, o que é positivo.
Particularmente, sou bastante cético a avaliações feitas por agências que mostraram, por ocasião da crise do 'subprime' nos Estados Unidos, não apenas que erraram feio, dando notas de rating elevadas para instituições que estavam já completamente falidas, como ainda que mostraram um lado mais perverso: a saber, que tinham interesses em jogo quando manipulavam informações e notas, visando obter ganhos escusos.
Desse jogo e desse comportamento completamente aético, não sobram nem agências, nem consultores financeiros, nem os analistas de mercado das grandes instituições cuja finalidade deveria ser, antes, estarem atentas à saúde, senão das instituições, ao menos de seus próprios clientes. O que não foi levado em consideração como o demonstra o documentário Trabalho Interno (Inside Job, na versão original).
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Também, como já tive a oportunidade de manifestar aqui nos pitacos, não vejo nas medidas do pacote fiscal a importância e a urgência que lhes tem sido atribuída.
É verdade que as finanças públicas ficaram abaladas, tendo em vista que as desonerações de impostos que o governo adotou para estimular a economia não surtiram efeitos: nem a economia cresceu, nem os setores empresariais se animaram a investir no aumento da produção, com o agravante de a receita do governo ter apresentado queda espetacular.
Queda que não foi provocada apenas por uma má gestão do governo, mas por uma expectativa, que por incerta, não se realizou. Na verdade, como grande parte das decisões econômicas,  uma aposta. Que deu errado.
Foi assim com a desoneração de impostos, medida que foi levada longe demais, atendendo à reivindicação dos setores, especialmente, privilegiados, como a indústria automobilística. Afinal, quantas vezes foi anunciado que as alíquotas voltariam a se elevar, para depois o anúncio ser desmentido e o governo, sob pressão, ser obrigado a manter a política.
Em minha opinião, uma política que, privilegiando bens de consumo de preços mais elevados, estavam chegando ao limite do que poderiam gerar de estímulo ao crescimento das compras. Isso, porque, ao comprar  um carro, o primeiro, devemos lembrar que as famílias se endividam. Mesmo que não se deem conta do fato, ampliam seus gastos, que passam a incluir combustível, manutenção, seguros, impostos, estacionamento, etc.
Ora, dificilmente depois de grande parte da população já ter comprado o seu primeiro carro, irá comprar o segundo, ou terá condições de realizar uma troca de carro, por outro mais novo, ou mais equipado.
O mesmo pode ser dito em relação a bens de linha marrom ou branca, que foram beneficiados pelo governo e que, a partir de certo instante, não trouxeram mais o mesmo resultado benéfico do início do programa.
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Mas, não foi apenas a desoneração que pesou, seja por meio da redução de alíquotas, seja por meio do adiamento do repasse de custos da energia mais cara para as contas de luz, seja por meio da contenção do preço dos combustíveis.
Provavelmente teve impacto também importante, para a adequação das receitas aos gastos visando o atendimento prioritário às demandas sociais, a ação do Congresso, retirando do governo a vultosa quantia representada pelos recursos provenientes da CPMF.
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Alguém poderia alegar que a CPMF caiu ainda no governo Lula, até por despeito ou ciúme dos deputados da oposição.
Ou caiu por ser não o imposto mais importante do ponto de vista da arrecadação, embora sempre importante sua contribuição, mas por ser o que identificava a todos. Aquele que alcançava a todo mundo, não deixando de lado nem o honesto, nem aqueles que usavam o sistema financeiro para lavar dinheiro sujo, da corrupção, do tráfico, ou de qualquer ilícito que fosse.
Pensando bem, até seria importante que se pesquisasse, junto ao juiz da LavaJato, ou à equipe competente da Polícia Federal, ou mesmo da Procuradoria, se a CPMF ajudou, em algum momento, no cruzamento das informações financeiras que vêm permitindo que a origem e o destino do dinheiro sejam perseguidos.
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Mas, a economia brasileira ganha uma trégua. À que se soma a importante decisão do FED, o Banco Central americano, de não alterar as taxas de juros de curto prazo nesse momento.
O que permite também que a prevista fuga de recursos de capital externo para a segurança representada pelos Estados Unidos, seja adiada. O que pode dar uma freada na valorização do dólar, tendo algum efeito positivo, óbvio, sobre o comportamento da inflação.
Quem sabe, ao ter algum impacto positivo sobre a inflação, ajudando as donas de casa a não ficarem tão alvoroçadas com os movimentos contra Dilma, cujo potencial instabilizador é muito grande.
Porque se os fundamentos da economia são apontados como na direção correta, não há como deixar de temer que uma crise institucional de maior profundidade não possa acabar levando a um rebaixamento da nota da nossa economia.
Como se sabe, para o bem ou para o mal, as regras do jogo internacional obrigam aos gestores dos fundos de pensões, dos credores institucionais (os que têm grandes carteiras de aplicações financeiras internacionais) a aplicarem recursos tão somente naquelas economias que têm grau de risco considerado baixo. Ou que ostentem como o Brasil, grau de investimento. Mesmo que ainda muito próximo de uma nota desabonadora.
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Uma instabilidade política mais ampla, ou mais profunda, pode representar não só a derrota do governo na Câmara, com o pacote de ajuste não sendo aprovado, como uma situação de instabilidade que pode ensejar, como toda crise o faz, uma corrida dos donos do dinheiro para a liquidez. Ou seja, uma saída de investimentos financeiros do nosso país, em carreira desabalada, o que levaria o dólar a preços que nada têm com os chamados fundamentos econômicos, mas apenas com o medo.
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Não nos esqueçamos também que, nesse exato momento, corre na Câmara, sob a presidência desse senhor cujo nome aparece nas listas de investigações da Lava Jato e cujas ações sempre foram muito pouco confiáveis, uma proposta de reforma política, que se deseja discutida e aprovada a toque de caixa.
Claro, com os interesses dos partidos e de seus caciques se sobrepondo aqueles interesses reais da população, como o demonstra a discussão quanto ao financiamento de campanha permanecer nos moldes atuais, ou se tornar totalmente público.
Isso, não bastasse a aprovação do Orçamento para 2015, finalmente concluída nesse mês de março, com um atraso de mais de seis meses, quase triplicar as verbas para o fundo partidário.
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Mas, essa reforma, que traz entre outros assuntos palpitantes, a manutenção do voto obrigatório ou sua substituição pelo voto opcional; a manutenção do instituto da reeleição; o fim do vergonhoso voto proporcional, com a eleição de pessoas de carona na votação de outros; a questão do financiamento, mãe de toda a corrupção que temos assistido no nosso país, essa reforma que por sua importância deveria ser discutida sob a forma de uma Constituinte exclusiva para o tema, vai ficar toda nas mãos dos que mais interesses têm em mudar tudo, apenas para que tudo continue como sempre esteve.
Enfim. esse é o nosso país.
E é essa a nossa realidade, que devemos tentar mudar, com todas as nossas forças.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Pitacos esportivos, para não perder a esportiva tratando de outros temas

Depois da partida inteligente feita contra o Santa Fé no meio da semana passada, em que venceu o bom time colombiano, o Galo voltou à disputa da Libertadores.
Com Marcos Rocha jogando muito, o que lhe valeu o prêmio de melhor jogador da partida, o Atlético mostrou que começa a se acertar, embora eu ainda continue achando que o cabeça de área de nosso time não pode ser Donizete.
E a explicação é simples. Ninguém nega que ele seja um leão em campo. Que entre em todas. Que para ele não tenha bola perdida, etc. etc.
Mas, além de cometer muitas faltas, e abusar da violência, às vezes, levando cartões amarelos em grande número, o problema é que ele não sabe sair jogando. Invariavelmente, quando está com a bola no pé e vai tentar um lançamento, erra o passe. E arma contra-ataques e jogadas ofensivas para o adversário que sempre pega nossa defesa desprevenida, desarmada.
E aí é um Deus nos acuda, com São Victor tendo de fazer verdadeiros "milagres".
Foi assim contra o time do Santa Fé, que só não conseguiu aproveitar-se das falhas do meio de área porque Jemerson jogou muito também.
Jogando sério, sem querer enfeitar, e atento aos lances, representou uma segurança na defesa.
Já Douglas Santos é que, desde seu retorno ao time, não vem apresentando o mesmo bom futebol das partidas do ano passado.
Parece que inseguro, com medo, como demonstrou na disputa de bola dentro da área com Leandro Damião, no jogo contra o Cruzeiro. O que permitiu que, mesmo cercado por Jemerson, o atacante conseguisse virar-se e chutar para decretar o empate no clássico.
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Em minha opinião, no lance do gol cruzeirense falharam tanto Jemerson, que apenas ficou cercando, por trás do corpo de Damião, a jogada e Douglas Santos, que até tentou disputar a bola, com algum receio.
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Mas, voltemos ao jogo de Santa Fé. Luan correu muito, Pratto mostrou o faro de matador, e Sherman Cárdenas está cada vez mais mostrando que a posição de meio é dele. Aliás, não entendo a insistência com Maicosuel. Nem entendo o que está acontecendo com o jovem Dodô, cujo futebol parece que desapareceu.
Carlos parece estar muito sacrificado pelo tipo de função que Levir tem exigido dele, voltando muito e jogando muito longe da área.
E Marcos Rocha tem mostrado o que, já há algum tempo, eu tenho dito, nesse espaço mesmo. É ele, atualmente, o cérebro do time. O homem da saída inteligente de bola, de visão de jogo. De seus pés tem nascido as jogadas de maior perigo, razão porque depois de sua volta, o Galo voltou a fazer gols, e em profusão.
Daí que mais que justificada sua escolha como melhor jogador da partida de quarta. E daí a falta que sentimos dele no jogo de ontem.
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Quanto ao jogo de ontem, o destaque foi Luan, não apenas pelos dois gols que marcou, mas por estar correndo em todos os lugares do campo e tornando o trabalho de marcação da defesa adversária muito difícil.
Mais uma vez, Pratto mostrou disposição e presença de área, além de faro de gol. Sherman Cárdenas mostrou que vai ganhando confiança e espaço no time. Carlos, mais uma vez, me pareceu meio perdido. Josué, a quem tanto elogiei no jogo contra a URT, não foi tão bem, em minha opinião.
E na defesa, além da segurança dos jogadores do meio, há que se falar do espírito de luta de Patric e de como Emerson Conceição não consegue, ou conseguiu acertar absolutamente nada.
Acho até que é covardia o que tem sido feito com ele. Mas, chegou a um ponto que não dá mais. Ele não mostra confiança alguma. A ponto de, com a bola dominada, na lateral, conseguir se perder e sair de campo, com bola e tudo.
Mas foi uma boa partida do Galo e a vitória nos dá tranquilidade de ficar entre os quatro classificados, que é o mais importante nesse momento.


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E em Indian Wells


Enquanto isso, no tênis, Djokovic deu um banho em Federer, conquistando pela quarta vez o título de Indian Wells.
E isso, com o sérvio cometendo ao menos quatro faltas duplas, no segundo set do jogo, o que é muito raro de acontecer.
Mas, jogou com vontade e disposição de campeão. E mostrando uma técnica que justifica o fato de ser hoje o número 1 do esporte.
Aliás, melhor ver o tênis, que ver o America jogar bem contra o Cruzeiro, como sempre, e vê-lo sair derrotado, mais uma vez, o que cria a possibilidade de ele ficar fora das semifinais.
O que seria uma pena.

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quarta-feira, 18 de março de 2015

Noite de decisão para o Galo, e a presença lúcida de Bernardo Kucinsky, no programa Espaço Público

Não poderia, como atleticano que sou, deixar de começar esse pitaco tratando da partida decisiva que o Galo tem pela frente essa noite, na Colômbia, contra o bom time do Independiente Santa Fé.
Líder do grupo, com campanha destacada, o Santa Fé, além de jogar em casa, com apoio de sua torcida, o que é sempre uma vantagem, conta com um ataque ágil, veloz, com destaque para Morelo, atacante que jogou muita bola na partida contra o Colo Colo.
Mas, além da fé e da tradição de virar resultados impossíveis de serem revertidos, o Galo entra em campo hoje com um time que, finalmente, começa a se acertar, com a volta de Marcos Rocha à lateral direita, o artilheiro Pratto comandando o ataque e,  se Deus iluminar Levir, Josué no lugar de Donizete e Cárdenas, no meio. Formação que jogou pela primeira vez domingo último contra o frágil time do URT, mas que já deu demonstrações de ter condições de proporcionar grandes alegrias à massa, a partir do momento que tiver mais mais jogos e um maior entrosamento.
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Além de ter de contar com uma ajuda extracampo, para que sua teimosia não o faça voltar com Donizete, Levir precisará também chamar a atenção, especialmente de Jemerson, para que não se descuide da marcação e faça uma marcação em cima, sem dar espaços ao ataque colombiano.
Afinal, se na partida de hoje a opção que resta ao Atlético é vencer ou vencer, é importante saber jogar com inteligência e alguma cautela para que o time colombiano não saia na frente no placar, situação que seria muito difícil encarar.
Isso porque, ao lado do abatimento natural que sair perdendo em um jogo com tamanha importância representa, não devemos deixar de considerar o ânimo que isso traria para o adversário, uma vez que uma vitória contra o time mineiro praticamente asseguraria a classificação do Santa Fé para a fase do mata-mata.
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Então, o que resta é, mais uma vez, encher-se de confiança e deixar sair o grito, mantra das campanhas vitoriosas dos últimos dois anos: Eu Acredito!
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Kucinsky no Espaço Público

Excelente, para dizer o mínimo, a participação do professor de jornalismo e ex-assessor de Lula, Bernardo Kucinsky no Espaço Público de ontem, sob o comando de Paulo Moreira Leite.
Entrevista repleta de observações que mostram a riqueza e a abrangência do pensamento do autor de uma série de relatórios, vários deles com críticas ao governo em geral e ao governo Lula, em particular, elaborados quando ocupava o cargo de assessor durante o primeiro mandato do ex- presidente.
Dentre as observações e as ideias expostas pelo professor, a constatação do surgimento de um quinto poder em nossa República, representada por uma juventude competente, inteligente e qualificada, formada por juízes, procuradores, policiais federais. Jovens que agem como se estivessem imbuídos de uma missão a que devem se submeter e cumprir, custe o que custar, como se os fins, por seu valor servissem para justificar os meios por eles empregados.
Em outra parte da entrevista, tratou da importância do quarto poder, a grande mídia, de origem conservadora e submissa ao poder das oligarquias que a controlam e cujos interesses representam. O que assegura à midia, ao lado de seu poder de penetração e visibilidade na sociedade, a capacidade de chamar a si, de açambarcar o comportamento dos membros do 5º  poder.
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Como não poderia deixar de ser, abordou a questão, cada vez mais relevante em nossa sociedade, da necessidade e oportunidade de se discutir e aprovar instrumentos regulamentares, capazes de restringirem a formação de grupos oligopólicos, que combinam e lideram, com exclusividade, todos os meios de fornecimento e acesso à comunicação pública.
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 Para aqueles que não tiveram a oportunidade de assisti-la na íntegra, a entrevista pode ser vista no site do programa, ou da TV Brasil.

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segunda-feira, 16 de março de 2015

Domingo de manifestações, jogão do Galo e Colunas e definições completamente distorcidas

Não há como começar nosso comentário sem tratar do movimento, popular e pacífico, que tomou conta das ruas e praças das principais cidades e capitais do país. No dia em que se comemorava os 30 anos de aniversário da volta da democracia, que havia sido aprisionada por 21 anos de governos militares, caracterizados pela violência, abusos, corrupção e autoritarismo, a população deu uma manifestação inegável de civismo. Coisa rara de se ver em nosso país.
Aqui em nossa BH, já desde cedo a rádio Itatiaia transmitia da Praça da Liberdade e suas proximidades, relatando a chegada de pessoas de todas as idades, de todos os lugares, famílias inteiras portando bandeiras e cartazes de 'Fora Dilma', 'Fora PT' e, mais importante, 'Abaixo a Corrupção'.
Pelo que falaram ao longo do dia, perto de 30 mil pessoas se deslocaram, em uma manhã que começou de céu aberto e foi tomando um aspecto nublado, sem conseguir tirar o ânimo e alegria de tantos quantos foram às ruas protestar.
Nas ruas e avenidas, carros portando bandeiras do Brasil e integrantes de camisas verde e amarelas passavam buzinando, vez por outra bradando contra o governo. 
Foi assim, especialmente na Avenida Senhora do Carmo, no cruzamento com avenida Uruguai, caminho que liga o Belvedere e parte do Santa Lúcia, São Bento, Sion, à praça, local da manifestação.
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Quanto àqueles que, por vários motivos não tinham interesse em participar ativamente da manifestação, assistiam de longe e em silêncio à passagem dos carros que tentavam puxar um buzinaço. Algumas vezes, apenas levantavam os dedos, em sinal de apoio, e seguiam seu trajeto e suas vidas. 
Fora dos caminhos que conduziam à Praça da Liberdade, eram raros, muito raros, os carros que passavam buzinando, em uma forma de apoio isolada.
Na Praça JK, no Sion, pessoas idosas faziam caminhadas, pais acompanhavam as crianças menores em brincadeiras de futebol, ou as ensinavam a dar as primeiras pedaladas nas bicicletas com rodinhas, ou a darem os primeiros passos, e levarem os primeiros tombos, dos patins.
Na área destinada ao encontro dominical de cães de todas as raças, os animais corriam soltos, sem coleiras, fazendo festa entre os donos.
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Enquanto isso, não sei o que se  passava na Praça, embora tenha ouvido dizer que foi uma manifestação ordeira.
Pelo que ouvi, pelos noticiários vespertinos, não houve os discursos inflamados de políticos, que sempre foram a marca das grandes manifestações e comícios a que estive presente. 
Também, não existem hoje oradores da capacidade de emocionarem e arrastarem multidões, como foram Brizola, Tancredo Neves, Ulisses, Pedro Simon, e tantos outros que puseram fogo no movimento em favor das Diretas Já, na Avenida Afonso Pena, próximo à Estação Rodoviária.
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Também pelo que noticia a Folha, o movimento impediu a realização de qualquer discurso de político, mais preocupado em apoderar-se e capitalizar em proveito próprio, das bandeiras dos protestos. Pelo que informa a Folha, foi assim com Paulinho da Força, em São Paulo e com Bolsonaro.
O que me leva a concluir pela completa falta de capacidade de ler e entender o que estava se passando: um grande protesto contra toda a política. Contra todos os políticos.
Nada contra a democracia. Muito pouco de apelo autoritário, de fechar Congresso e prender políticos. Menos ainda, já que uma minoria, querendo a volta dos militares. Talvez apenas para trocar os corruptos ou sua indumentária, substituindo o traje civil pelo de campanha.
Porque só quem não viveu, não quer ver, ou não quis se informar, ou não deseja saber das coisas, pode mesmo acreditar que não houve corrupção e corruptos no período trágico da ditadura militar.
Houve. E foi pior. E foi acompanhada pela censura.
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Enfim, foi um dia em que ficou clara para mim, a fadiga de material que acometeu toda a política. Todos os partidos, sem exceção. Todas as esferas de governo. E, principalmente o PT, em minha opinião, não por ser o pior ou único corruptível dos partidos existentes, mas apenas por ser o que responde pelo exercício do poder e por ser, quem vem respondendo por esse exercício nesses últimos 13 anos. 
O que convenhamos, é tempo suficiente para deixar qualquer pessoa ou agremiação completamente exposta.
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E o Galo começa a se ajustar

Mais tarde, no mesmo domingo, pudemos constatar como que uma ou duas peças são importantes para dar outra configuração a todo um conjunto. 
Falo da volta ao time do Galo do melhor lateral direito em atividade no país, Marcos Rocha, o que não deve ser surpresa alguma para quem já me ouviu fazer comentários do time do Atlético. Afinal, nunca escondi minha preferência por Marcos Rocha, a quem sempre fiz questão de defender. 
Mas, não foi apenas o lateral que retornou ontem, dando outro ritmo de jogo ao time. 
A volta de Lucas Pratto também deve ser festejada, principalmente por transmitir a certeza de que, agora, lá na frente, há um jogador que, mesmo não sendo um centro avante fixo, sabe atuar no meio da área, enfiado e incomodando a defesa adversária. Mais que isso, há um jogador que sabe voltar para receber a bola, e abrir o jogo, em função de sua visão do que está acontecendo em campo.
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A volta de Pratto na frente, e Marcos Rocha na lateral, conseguiram dar outra dinâmica ao time do Galo, razão que permitiu o crescimento do futebol de Luan, eleito pela imprensa esportiva o melhor em campo.
Mas, se não foi dado destaque a sua participação em campo, para mim, o jogador que fez realmente a diferença foi Josué. Infinitas vezes melhor que Donizete, embora cometendo tantas faltas quanto o considerado titular.
Apenas que ao contrário de Donizete ou Pierre, Josué comete faltas com uma carga muito menor de agressividade, o que permite evitar cartões e a preocupação de Levir,  com um cabeça de área sempre amarelado.
Quanto aos passes, e à saída de bola, a diferença entre ambos é tão gigantesca, que impossível fazer qualquer comparação.
Josué deu tranquilidade e fez o futebol da defesa ficar mais seguro. Sem errar passes à frente da área, deixou todos menos preocupados em ficar marcando o próprio companheiro. E permitiu ainda que Rafael Carioca pudesse jogar com liberdade.
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Mesmo sabendo que o time da URT é muito fraco, e mostrou um futebol de pouca qualidade técnica, Josué, na minha opinião, o melhor. Luan, Marcos Rocha e Pratto foram uma grata presença em campo. E uma esperança para o jogo dificílimo e decisivo, contra o Santa Fé, na próxima quarta.
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Estelionatos eleitorais e outros tipos de estelionatos

Foi Paul Davidson, famoso economista e professor americano, da corrente pós-keynesiana que disse certa vez que alguns economistas vencedores de premiações, como o Nobel de Economia, mereciam mais o prêmio de estelionato intelectual.
Lembro-me desse episódio, em razão do artigo de ontem, na sua coluna do caderno Mercado, da Folha, de Samuel Pessôa.
Pois, o professor do Insper resolveu abordar, na coluna de ontem, o estelionato intelectual de Dilma, começando por determinar que estelionato intelectual é uma definição que se aplica à questão das contas públicas e sua desordem. 
Logo, a presidenta mentiu ao dizer que as contas estavam todas em ordem e que a situação fiscal do governo era boa. Eleita, e em reconhecimento de que seu discurso visava apenas agradar a população e ganhar votos, adotou as medidas de arrocho necessárias para reduzir o rombo das contas orçamentárias.
Comparando esse comportamento, com o que foi adotado por Fernando Henrique, em meados de 98, deixa claro e até transcreveu trechos de discursos feitos por FHC, ainda em campanha, afirmando que teria que adotar medidas fiscais duras. 
Logo, FHC não cometeu qualquer estelionato. Apenas Dilma o fez. 
***
Timidamente e envergonhado, ao término de sua coluna, até reconhece que alguns falam de estelionato cambial, aplicado por FHC, procurando justificar o que o candidato à reeleição fez. 
Afinal, como diz o professor colunista, ninguém que atua com câmbio fixo, pode dar a entender que irá mexer no câmbio. Aqui ou lá fora. E dá a entender que isso é que dá sustentação ao câmbio fixo, de forma a evitar corridas contra a moeda. 
Logo, FHC não podia dar declarações contrárias às que emitiu, em 1998, antes da reeleição. E, por isso, embora alguns até achem que ele cometeu estelionato sim, Pessôa, o absolve.
***
Usando tais argumentos, ocorre-me apenas, a frase de Davidson. 
E pior, há certas pessoas que nem percebem que estão cada vez mais perto de, com argumentos desse tipo, completamente distorcidos e imparciais, se tornarem mais um dos vários espertalhões que infestam nossa sociedade, com risco de jogar fora sua própria carreira ou reputação. 

quinta-feira, 12 de março de 2015

Reações e movimentos de uma sociedade fragmentada

A verdade é que não nutro qualquer simpatia pela presidenta Dilma.
Se votei nela no segundo turno da campanha eleitoral, é porque achava que era o mal menor. E quando me refiro a mal, em hipótese alguma estou fazendo menção à pessoa do candidato Aécio. Por quem também não tenho qualquer simpatia, embora pessoas de minha relação que o conhecem mais de perto, de Cláudio até, falam de seu carisma, de seu jeitão simples e de seu bom papo.
A questão é que não voto em pessoas, mas em ideias. E no que julgo serem as ideias mais adequadas para o país, em um dado momento.
***
Em relação ao momento eleitoral de 2014, achava então, e continuo com o mesmo pensamento, que Aécio representava a volta dos interesses do capital financeiro internacional e de seus associados nacionais ao centro do poder em nosso país. 
Não. Não sou ingênuo. A verdade é que esses interesses nunca deixaram de ser dominantes e seus atores os mais privilegiados beneficiários das políticas praticadas, mesmo nos tempos de Lula e também nos tempos de Dilma 1.
Não é à toa que enquanto o Bolsa Família representava um gasto de uma quantia que poderíamos chamar de razoável, a bolsa banqueiro, representada pelo pagamento de juros sobre a dívida pública, calculado com base em taxas de juros vergonhosas, representava um gasto várias vezes mais elevado.
Sim. A mídia poucas vezes deu destaque a esse ponto. Afinal, sócia dos interesses financeiros dominantes, também ela se beneficiou da situação. O que transformava o silêncio em melhor postura.
***
Mas na eleição de 2014 houve uma reviravolta. Os interesses hegemônicos estavam tão fortalecidos que se sentiram em condições de sair de seu lugar de observador privilegiado, situado atrás do cenário para vir ocupar o centro do palco, talvez em busca de aplausos a coroarem os ganhos exorbitantes. 
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Por várias vezes nesse blog comentei do desastre que eu imaginava que estaríamos preparando para nossa economia, caso os interesses do capital financeiro, internacional e especulativo, assumissem a condição de ator principal de nossa história.
Por esse motivo, em especial, fiquei contra a candidatura do PSDB.
Outros motivos haviam, claro. Menos importantes, mas também capazes de influenciarem minha opção de voto.
Entre tais motivos, a certeza de a candidatura Aécio trazer em seu entorno, um certo ranço de visão individualista, liberal, ao menos do ponto de vista da economia. Uma ideia de Estado mínimo, de sociedade baseada no cada um por si. Em minha opinião, uma visão de sociedade que nega o próprio fundamento de comunidade que é base para a vida social. 
Ao lado dessa visão econômica, muito difundida dentro de uma certa classe de pessoas em nossa sociedade, em geral situadas nos estratos mais elevados de renda, sempre achei que estava presente um certo conservadorismo de costumes. O que não é definitivamente contraditório, já que para as classes integrantes das elites, que se supõem suficientemente bem formadas, informadas, intelectualmente preparadas, etc. as regras da boa conduta e convívio são algo que já nascem com elas. Inerentes. Inatas.
Dessa forma, elas podem ser liberais tanto no campo econômico quanto do comportamento. Mas, devem exercer a eterna vigilância em relação ao comportamento, nem sempre adequado das classes que não tiveram a sorte de nascerem em berços esplêndidos.
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A esse propósito, relembro-me de Marx, no Manifesto, comentando a respeito das cobranças feitas ás classes trabalhadoras, de adoção de comportamentos mais afeitos à moral burguesa, em especial, os comportamentos de respeito às relações da fidelidade no casamento, etc. embora entre eles, tudo fosse permitido e liberado.
Logo, não há contradição aqui, como não havia quando o liberal comerciante de açúcar, que encantava os salões europeus com sua verve e filosofia, retornava a suas terras e seus canaviais, plantados e cuidados por braços escravos, como o descreveu tão bem Caio Prado.
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Pois bem, grande parte de pessoas dos extratos mais privilegiados da nossa população, embora não participando das benesses auferidas pelo grande capital, adotaram imediatamente a candidatura peessedebista, do chamado candidato playboy, com quem se identificavam nos modos, comportamentos, maneiras de ver o mundo. 
Dentre essas formas de ver o mundo, manifestavam, sempre que possível, sua insatisfação com o que o governo petista estava fazendo, reduzindo as diferenças entre eles, e os outros. Tornando cada vez mais difícil que eles pudessem ter e sustentar batalhões de empregados domésticos. Pior, ainda, dando asas a cobra, ao assegurar direitos e dar a eles a opção de não ter que se venderem a qualquer trocado. Afinal, agora havia a opção de uma renda que lhes permitia poder exigir um salário minimamente digno.
E, suprema arrogância, essa turma do andar de baixo começou a entulhar as ruas e estradas com seus carros populares de segunda mão, e encher os saguões dos aeroportos e até os iates de cruzeiros.
Tudo por conta de grana que o governo lhes assegurava, segundo seu pensamento, extraída de seus esforços.
***
Quantas vezes, nos ambientes por mim frequentados, não ouvi essa ladainha: tinha de fazer pela gente, que é quem se esforça e luta. E faz por esse pessoal que nada fez para merecer. Porque eu tive de me esforçar, correr atrás e não recebi nada de mão beijada?
Pois bem, essas pessoas que eram eleitoras do PSDB derrotado é que, dando uma demonstração cabal de que não sabem perder, e que não respeitam a democracia, é que se articulam e tentam de todas as formas criarem condições para  que um golpe possa ser desferido em nosso país. 
Essas pessoas é que, mesmo sem perceber, estão fomentando uma crise que pode descambar em mais um período de autoritarismo. Que como todo autoritarismo é sempre muito pior que a pior democracia. 
***
Mas, é direito deles irem às ruas, se manifestarem. Mostrarem sua indignação. 
Mesmo que, sem que tenham percebido, o governo contra o qual se levantam, é o que está adotando todo o comportamento que eles desejavam e pelo qual optaram, ao menos no campo econômico, 
Mas, esperar que percebam isso, é mesmo exigir demais. Acreditar que tenham a capacidade para ver que os interesses que continuam sendo atendidos nos dias de hoje, sob a batuta do ministro Levy, são aqueles mesmos que eles apoiavam em outubro, é não reconhecer a realidade. 
Achar, inclusive,  que eles tenham, ao lado de um nível melhor de vida e renda mais elevada, um padrão de educação que permita que suas manifestações sejam menos agressivas, menos grosseiras e com menos baixarias, é uma ilusão. 
O que nos força, mesmo a contragosto, começar a analisar a hipótese de que, por trás de toda essa movimentação existe apenas, e tão somente, a manifestação de um ódio de classe. Como todo ódio, sem qualquer fundamentação razoável.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Nova tabela de correção do IR mostra as vantagens das negociações e acordos

Conforme acordo estabelecido com o Congresso, o governo editou Medida Provisória com ajustes na tabela de Imposto de Renda escalonados.
Pela nova tabela, a partir do pagamento de salários de abril, os brasileiros que recebem até a quantia - já com deduções - de R$ 1 903,98 ficarão isentos, contra o valor de R$ 1 787,77 anterior, em reajuste de 6,5%.
Para aqueles que ganham acima de R$ 4 463,81 a correção será de apenas 4,5%, valor de reajuste que o governo desejava originariamente para toda a tabela, e que passa para R$ 4 664,68 a faixa de rendimento sujeito à taxação de 27,5%.
***
A correção por faixas, que segundo o ministro Levy representa uma perda de aproximadamente 6 bilhões de reais, embora seja mais uma derrota do governo no Congresso, permite uma outra conclusão: quando as medidas adotadas pelo governo perdem seu caráter autoritário inicial, e são objeto de discussão, é possível sempre chegar-se a um consenso.
Claro, ter de negociar depois de ter sofrido uma derrota inicial é sempre sinal de dificuldades do Executivo.
Mas, se não obteve o resultado desejado de início, está na hora do Executivo se dar conta de que, sendo um acordo uma solução de compromisso, há sempre ganhos possíveis de serem conquistados, compensando as perdas.
No presente caso, a correção embora não aquela desejada, significa que, para as declarações relativas ao ajuste fiscal do ano de 2014, e cuja data de apresentação ao Fisco é o último dia útil de abril, não haverá qualquer reajuste.
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De todo o episódio, entretanto, vale destacar a dificuldade sempre manifesta de nossa presidenta admitir abrir mão de suas convicções pessoais e de se mostrar disposta a negociar. Em suma: a incapacidade de nossa presidenta colocar em prática aquilo que é tido como a arte de fazer política. Para o bem ou para o mal, já que a experiência com nossos políticos tem nos mostrado que em nosso país, às vezes o que se denomina fazer política é apenas o reconhecimento da institucionalização da pouca vergonha de acertos e conchavos em que interesses pessoais se sobrepõem aos interesses da coisa pública.
Talvez até por isso, mais que a uma incapacidade inata, Dilma possa ter dificuldades para negociar. Ou asco, simplesmente. Mas, se fosse esse o caso, deveria ao menos denunciar à população os achaques a que estava sendo sujeita. Ou então admitir simplesmente que quem está no jogo, tem mais é que jogar.
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Não sei a razão, nem estou aqui fazendo esses comentários em defesa da presidenta. Talvez toda sua rigidez e falta de jogo de cintura que lhe traz problemas no relacionamento com os políticos, seja fruto de seu perfil apregoado de gerentona.
Perfil de quem não planeja, não dirige, apenas cumpre ordens. Executa tarefas.
Perfil que ela mesma está se incumbindo, inclusive, de mostrar ser equivocado. Afinal, cada vez mais, nem mesmo essa postura de sargento ela consegue transmitir para a nação.
Ou talvez passe, da pior forma possível, como no caso levantado ontem no programa Entre Aspas, apresentado no canal de televisão fechada Globonews por Mônica Waldvogel. Conforme um entrevistado, sem qualquer condição legal para sequer se propor o início de um processo de impeachment, o que tem levado a própria oposição - pelo menos a séria, a evitar o assunto, Dilma foi trazer o assunto para a agenda política.
Ou seja, quando o melhor é não render o tema, e não permitir que ele reacenda todas as disputas rancorosas que marcaram as últimas eleições, ela é a primeira a abordar a ideia da declaração de seu impedimento em público.
O que de certa forma sinaliza que está aberta a possibilidade de o tema passar a ser tratado sem maiores pudores ou restrições.
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Não é a toa que Dilma, nessas horas, precisa correr para se aconselhar com Lula. Esse sim, um mestre da prestidigitação.




segunda-feira, 9 de março de 2015

Um jogo morno no Mineirão

Jogo de poucas emoções no Mineirão, na tarde de ontem.
Completamente alterado, por força de inexplicáveis contusões em início de temporada, o Atlético jogou mais como time pequeno. Todo fechado lá atrás, esperando uma bola de oportunidade.
Como no primeiro tempo essa bola surgiu apenas em um lance de cobrança de escanteio, Jemerson subiu e testou firme, em cima do corpo do goleiro Fábio.
Como estava na posição que o goleiro deve estar, em jogadas semelhantes, Fábio pegou. Poderia dizer que de susto.
Na sequência do lance, de reflexo, abafou o chute do próprio Jemerson, no rebote.
No segundo tempo, com Dodô correndo mais, ao contrário da fase inicial, o Atlético criou mais lances na intermediária, nas jogadas de troca de passes entre Dodô e Carlos.
Isso não foi suficiente para o Galo passar a mandar no jogo, nem alterar o panorama da partida. Tanto que o gol que fez foi de jogada completamente atípica, de atrapalhada da defesa do Cruzeiro. E infelicidade total do goleiro deles, para nossa sorte.
Daí para a frente, o Cruzeiro que até então jogava de forma muito parecida com o Atlético, partiu para a frente, tentando uma reação.
Que veio com Leandro Damião, que já deveria ter sido expulso antes, seja pela falta feita a Edcarlos no início  ainda do jogo, que poderia caracterizar até uma agressão, com o braço e o cotovelo no rosto do zagueiro do Galo, seja depois, em jogada em que deixou a perna em disputa com Victor.
***
Vão dizer que foi um jogão. Eu não vi isso. Vi um jogo morno, sem vibração, sem intensidade. De pouquíssimos lances de gol e muita preocupação defensiva.
Times mais preocupados com a sequência da Libertadores, já que no Mineiro, ambos já estão assegurados nas finais, desde o seu início.

Discurso de Dilma e panelaço: quando Dilma muda o passo, a oposição muda a música

Também eu ouvi, ontem, os gritos de "Fora, Dilma" e algumas buzinas e panelas sendo batidas nas janelas da vizinhança, enquanto a presidenta discursava em rede nacional.
E apesar de janelas de meu apartamento estarem abertas, o barulho não foi capaz de impedir-me de ouvir a fala da presidenta, e suas justificativas, toscas em minha opinião, para a guinada que resolveu dar, em seu segundo mandato.
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É verdade que a crise internacional prossegue, e está longe de terminar. A Grécia, em destaque, e outros países da Europa, são exemplos de que ainda convivemos e iremos conviver por mais algum período com as consequências da crise financeira iniciada em 2007/2008 nos Estados Unidos.
Também é verdade que até a China foi forçada a reduzir seu crescimento vertiginoso, embora as razões para tal decisão não sejam exatamente aquelas que explicam o baixo crescimento do Japão, que já atravessa uma crise de estagnação há bastante mais tempo, ou dos maiores países da Europa.
Inegável, ainda, que ao contrário de outras épocas, a economia brasileira não sofreu os impactos da crise financeira internacional com problemas de estrangulamento de divisas e crise cambial. 
E, por fim, a economia brasileira não elevou seu desemprego, não praticou as tradicionais políticas que, em primeiro lugar, atingiam os salários, que foram mantidos crescendo acima da inflação, e o governo adotou sim, postura correta de defesa da população, absorvendo os efeitos da crise e utilizando seu arsenal de políticas fiscais para impedir que a crise reduzisse a pó, os ganhos recém conquistados pelas camadas menos privilegiadas.
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Mas, aí é que, em minha opinião, reside o principal problema da nossa economia e de Dilma e seu (des)governo.
Se tais políticas eram as adequadas para o momento, o que mudou de lá para cá, já que a própria presidenta reconhece que as mudanças no cenário externo foram até para pior?
Alegar, como a presidenta o fez em seu discurso, que não haveria como prever que a crise duraria tanto é, no mínimo, reconhecer um alheamento da realidade e a falta de um planejamento e de uma visão estratégica que nos deixam chocados. 
Ou a presidenta e sua equipe não viam os índices de desemprego na Espanha, na Grécia, as várias manifestações na França; não acompanhou as notícias relativas ao baixo crescimento da economia alemã, a mais forte da zona do Euro; ou não viu o quanto a economia americana patinava, a ponto de as medidas de restrição monetária, prometidas a mais de um ano, ainda estarem aguardando melhor oportunidade para saírem da gaveta; para não falar da crise de nosso parceiro preferencial no Mercosul.
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Ora, todos viam e percebiam que a situação do país no front externo não recomendava qualquer expectativa favorável. Mais ainda quando, a meio do caminho da política traçada, houve uma primeira guinada, e os juros voltaram a subir em nosso país, atraindo capitais externos, mantendo nossa moeda sobrevalorizada e, mais uma vez, retirando a chance de qualquer recuperação de nossa indústria, tanto em relação aos mercados externos quanto internos.
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Então, se é verdade que a governo tentou proteger a população mais desfavorecida, as medidas que adotou foram além de apenas promoverem redução de graus de liberdade na gestão do orçamento. E embora tais medidas beneficiassem a grande maioria das famílias brasileiras, que se aproveitaram da redução de preços de energia para aumentar seu consumo de forma irracional; que se aproveitaram da redução do preço dos combustíveis; que se aproveitaram da redução de impostos para trocarem os veículos ou renovarem a frota de carros da família, o governo foi conquistando cada vez mais inimigos. 
Especialmente, junto a setores mais conservadores da nossa sociedade, ou famílias de classe de renda mais favorecidas, inconformados muitas vezes mais com o discurso de Dilma e seu PT, e com o atrevimento deles, de sempre privilegiarem as famílias de menor poder aquisitivo.
Porque afinal, se houve Bolsa Família, houve também o Ciência Sem Fronteiras, programa que financiou a ida para estudar em universidades estrangeiras de muitos filhos de famílias mais ricas. Se houve o programa Minha Casa, minha Vida, as condições de obtenção de financiamentos permitiram que o setor de construção pudesse experimentar um boom, em parte sustentado por empreendimentos cujos imóveis não valiam menos que o milhão de dólares.
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Viagens aéreas, férias no exterior, automóveis cada vez mais sofisticados, foram produtos que cada vez mais fizeram a festa de pessoas e famílias de todos os níveis de renda, sem deixar de fora, claro, os mais ricos.
O que se constata facilmente, bastando observar os gastos de viagens de turismo e o resultado de nossa balança de serviços, nessa rubrica.
Mas, aí estava parte do problema. A distribuição de renda, ainda mais quando feita de forma mais concentrada no tempo, levanta imediatamente uma série de restrições e críticas. E quem diz isso não sou apenas eu. A esse respeito, e comparando o nosso país com o que aconteceu nos anos 50 nos Estados Unidos, Tom Hartmann já havia descrito o quadro em que estávamos mergulhando.
É verdade que, nesse meio tempo, e por motivos às vezes alheios às políticas do governo, a inflação andou dando sinais de resistência à queda. Nada muito sério, já que ainda sob controle. Mas, isso foi a senha para que o mercado e seus analistas, e a mídia deflagrasse uma campanha de amplas dimensões contra o governo Dilma e seu ministro Mantega.
A ponto de as medidas destinadas a favorecer o empresariado não surtirem efeito, não os estimulando a saírem da inércia e a decidirem a realização de investimentos, sob a alegação de falta de confiança nos fundamentos da economia.
Sem investimentos, a economia parou de crescer, apresentando pibinhos de que a imprensa se valeu para por mais lenha na fogueira e ampliar a crítica ao partido no poder.
Processo que se desenvolveu de tal forma, que quase transforma nossa última disputa eleitoral em um sério confronto direita versus esquerda.
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Pois bem. Dilma ganhou, mas o PSDB e os setores mais conservadores, não conseguiram absorver o resultado das urnas, partindo para o golpismo.
E o panelaço de ontem tem, claro, filiação nessa fissura criada na sociedade brasileira desde sempre.
E curiosamente, para mostrar que a questão é muito mais política e ideológica que econômica, tudo acontece quando a presidenta dá uma guinada monumental na política, adotando as recomendações e medidas que a oposição considerava suas.
Ou seja: como Dilma roubou a bandeira da oposição, a oposição age tal qual o governo. Rouba as preocupações do partido do governo. E enquanto Dilma faz política de corte recessivo, a oposição discursa favorável a políticas voltadas para assegurar as conquistas sociais.
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Seria cômico, não fosse o Brasil o país da pantomima. Seria trágico. E pode ainda vir a ser.
Mas, não pelo caráter das medidas que Dilma adota, sob a tutela de Joaquim Levy e do mercado que o apadrinha. Essas medidas são as que a classe mais privilegiada sempre cobrou, talvez por ser a única beneficiária do resultado final das mesmas.
O governo vai acertar suas contas, e Dilma apenas admite, timidamente, que estava errada. O governo vai aumentar a extração de riqueza gerada pela sociedade, elevando a carga tributária para pagar seus credores ricos, e Dilma continua prometendo que a classe mais desfavorecida não terá perdas de conquistas. Dilma anuncia redução de gastos em áreas fundamentais, mas continua anunciando serviços públicos melhores, mais eficientes. 
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Se antes era acusada pela oposição de viver em um país ficcional, completamente róseo, agora sim, tinge suas fantasias de cores mais berrantes prometendo que o povão extrairá vantagens de sua guinada. 
O interessante é que, ao mudar toda a política, querendo ou não reconheceu que estava errada e que ajudou a construir uma situação considerada próxima ao caos. 
Que o povo mais necessitado de nosso país, que se beneficiou da primeira parte, possa vir a se beneficiar ainda mais dessa segunda, que é justo o contrário, é onde deve residir o milagre. 
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Mas, abraçada a seus novos amigos, Dilma vai descobrir, e o panelaço pode influir nisso, que esses não são amigos verdadeiros. São amigos de ocasião. Falsos. Tão falsos como as promessas feitas por ela no discurso de ontem.
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Uma última observação: embora não tenha sido objeto de qualquer comentário, a reação de parte das classes médias de maior poder aquisitivo, que se beneficiaram de medidas do primeiro mandato; tanto como a reação de camadas mais pobres, que não negando os benefícios, ainda são contra a permanência de Dilma, passa muito pela questão dos escândalos.
E talvez o panelação seja mais a manifestação de que a sociedade brasileira não aceita mais conviver com a corrupção, a roubalheira e os privilégios, entre os quais a impunidade, que sempre foram características de nossa classe política e dirigente.
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Desse ponto de vista, a reação de ontem, a princípio restrita a bairros de classe média alta, faz mais sentido ao menos. E pode e deve ganhar mais adeptos junto à sociedade. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Pitacos da questão externa: endividamento externo, balança comercial e a dúvida: quanto custará a rebelião de Renan

As informações dão conta de que a dívida externa do setor privado, ou seja, dívidas de empresas e bancos dobrou nos últimos cinco anos, alcançando o valor de US$ 208 bilhões.
Segundo notícia de capa da Folha em sua versão escrita no dia de ontem, esse é o maior valor desde 1989, quando o Banco Central começou o registro.
As causas do endividamento: o grau acentuado de liquidez no mercado internacional e a diferença significativa dos juros no exterior, em relação aos praticados aqui em nosso país. Nesse sentido, ganharam destaque as dívidas feitas pelas filiais de empresas brasileiras no exterior, para as suas matrizes.
Duas preocupações principais acompanham essa elevação do nível de endividamento: o alto volume de dívidas que vencem já nesse ano de 2015, no valor de 102,5 bilhões de dólares, quase metade do total da dívida. Em segundo lugar, a perspectiva de elevação dos juros nos Estados Unidos, que poderia provocar fuga de recursos dos países emergentes, entre os quais o Brasil, o que poderia levar a uma alta do valor da moeda americana.
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Embora o Banco Central do Brasil mostre certa tranquilidade com a situação,  já que seus levantamentos indicam que aproximadamente apenas 17% das empresas não contam com algum tipo de mecanismo de proteção ou 'hedge' no caso de uma desvalorização, enquanto outros 16% contam com um 'hedge' imperfeito, a situação preocupa, em especial, ao BIS - Banco de Compensações Internacionais.
A razão é que para o Banco dos Bancos Centrais, esse volume de dinheiro não parece ter sido direcionado para o setor produtivo, tendo características de 'hot money'. Sem subterfúgios, capital especulativo, da pior espécie, que entra em nosso país apenas com o intuito de sugar nossas riquezas (estimulado pelos juros estratosféricos aqui praticados).
Dinheiro que pode ser retirado do país a qualquer momento, já que essa liberalização dos fluxos de capital é uma das principais características desse movimento já em curso há mais de uma década, de globalização financeira.
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Agora o mais importante, em minha opinião, desse pitaco. Embora a memória da maioria das pessoas possa ser, e normalmente é considerada muito curta, já vivemos situação semelhante antes.
Na década de 70, o mesmo quadro já foi vivido, com a economia enfrentando uma crescente situação de endividamento do setor privado.
Na ocasião, a dívida do setor público tinha participação menos importante no total.
Mas, conforme o demonstra excelente estudo de Júlio Sérgio Gomes de Almeida, à época na Unicamp e hoje diretor do IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, a elevação do valor do dólar, trazendo a ameaça de uma quebradeira das empresas sobreendividadas, levou o governo da ocasião a promover um processo de estatização da dívida.
Ao final do processo, as empresas privadas estavam com suas contas em ordem, rodando certinhas e criticando o governo endividado e desorganizado.
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Essa estatização da dívida é uma das causas da crise da dívida que nosso país atravessou, durante toda a década perdida dos anos 80.


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E continua o problema de nossa Balança Comercial

E mesmo com o dólar cada vez mais valorizado, o que em tese deveria melhorar o desempenho de nossas exportações, o resultado de fevereiro mostra, mais uma vez, o que vem sendo considerado um expressivo déficit, agora, de US$ 2,84 bilhões.
No bimestre, o déficit já acumula 6 bilhões.
Justifica esse resultado a queda de vendas tanto em quantidades físicas quanto em relação aos preços das commodities que o Brasil cada vez mais vem se especializando em exportar, em parte por caausa da desaceleração econômica de países como a China, tradicional grande importadora.
Do ponto de vista dos produtos manufaturados, a queda de veículos, em face da crise econômica de nosso grande cliente, a Argentina, também é destaque, atingindo 25%.
Dentre nossos parceiros comerciais, apenas os Estados Unidos apresentaram algum aumento nas compras, principalmente de aviões e café em grão.
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As notícias dão conta de que a greve dos caminhoneiros não afetou os embarques.
O problema é mesmo de desaceleração na economia mundial, e da perda de competitividade de nossa indústria, e também de mercados, por força de vários anos de política cambial prejudicial ao nosso comércio exterior. Política cambial que esteve aprisionada à política monetária, de juros excessivamente altos com a desculpa de manter a inflação sob controle, mas mais efetivamente, destinada a promover a atração de capitais externos para nosso país.


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Enquanto isso, em Brasília

Para aumentar a confusão e deixar o clima político mais tenso, o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, do PMDB, partido da base de apoio de Dilma, recusou-se a colocar em exame e devolveu a MP que mudava as alíquotas do regime de contribuição previdenciária sobre o faturamento bruto para o Planalto.
À primeira vista, o ato de insubordinação parece visar apenas o objetivo de Renan ampliar seu poder de negociação.
Afinal a alegação para a atitude de revolta foi de que uma Medida Provisória não se presta para esse tipo de finalidade. Imediatamente o Planalto reagiu, preparando e já enviando um projeto de lei ao Congresso, de mesmo teor.
O interessante a se assinalar é que a MP não foi recusada por seu conteúdo: a matéria não foi o principal motivo da reação do Congresso, o que assinala que não há uma discordância explícita em relação ao aumento da sanha arrecadadora do ministro Levy.
Sinal de que, como é comum, algumas negociações irão ocorrer por baixo dos panos e é provável que o Planalto acabe vendo o projeto aprovado.
A dúvida que fica é quanto isso irá custar, a mais para o país...

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terça-feira, 3 de março de 2015

O retorno dos pitacos que estão flutuando tanto quanto as bolsas

Mais uma vez, compromissos alheios a nossa vontade impediram-me de postar meus pitacos nesses últimos dias de muitas novidades.
A começar da sequência do pacotaço fiscal, com a mudança de critérios de contribuição previdenciária paga pelas empresas.
Embora travestida sob a forma de uma  opção, o que significa que não há uma imposição de retorno das empresas ao pagamento feito com base no cálculo de 20% sobre a folha de pagamentos, é importante assinalar, sempre, que o governo aumentou em mais de 120%, em média, as alíquotas para as empresas que desejarem permanecer contribuindo sobre o valor da receita bruta.
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Alegando que havia uma desoneração estimada em 25 bilhões de reais nesse ano de 2015, o governo resolveu retirar dos 56 setores a que foi dada a opção de pagar sobre o faturamento, o benefício que durante tanto tempo foi demanda do setor empresarial ao governo.
Especialmente os setores industriais mais intensivos em mão de obra, que sempre reclamaram do peso dos encargos sociais, dentre eles, especialmente, a contribuição ao INSS.
Como política destinada a manter o nível de emprego, e não de faturar, o governo adotou o novo mecanismo, para 6 setores.
Posteriormente, em 2014, o Congresso ampliou a possibilidade para 56 setores, aprovando uma lei que, por ser ano eleitoral, não mereceu veto do governo.
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Agora, está de volta a possibilidade de recolher a contribuição por um método ou outro, ou seja, sobre a folha de pagamento, pela alíquota de 20%, ou sobre o faturamento.
Tendo subido tanto a alíquota da opção de faturamento, a ninguém escapa que ao fazer o cálculo, o empresário descobrirá que a diferença entre os dois métodos deve ter caído para um mínimo.
Com isso, como disse o ministro em entrevista de péssimo tom, lembrando inclusive a entrevista da equipe econômica do confisco da poupança com a trupe de Collor, a Previdência volta a receber os valores a ela devidos.
Mas, devagar com o andor. Durante esse tempo de desoneração, a Previdência não deixou de arrecadar o devido. Apenas que o Tesouro Nacional é que complementava o valor não arrecadado. O que implica que, ou a medida era adotada, ou a Previdência passaria a contar com o rombo. O que é óbvio, deixa claro que o Tesouro não continuaria bancando. Dentro da sanha 'levítica', de obter um superávit primário para pagar os juros dos banqueiros.
Nada de novo no front, por esse ângulo, portanto.
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Outra medida que causou furor foi a autorização de novo aumento para as concessionárias de energia, algumas das quais poderão atingir percentual de reajuste de próximo de 50%.
Se precisasse de demonstração de que o governo está mais preocupado em poupar o Tesouro, essa medida era suficiente.
Mais uma vez, ao invés de repassar o custo para os consumidores de forma mais razoável, diluindo o valor no tempo para permitir percentuais menores de repasse,, o governo pratica um comportamento de choque, em minha opinião, desnecessário.
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Somados os efeitos da decisão de correção das tarifas de energia, cujos impactos sobre os custos industriais são evidentes, com aqueles da decisão que encarece o custo da mão de obra, justamente em momento em que o clima de pessimismo domina a economia, o que pode ser esperado é um aumento da taxa de desemprego. O que reforça a queda do nível de atividades, da redução da produção e das vendas, que trazem ainda a redução da própria receita tributária.
Isso significa que todo esforço do governo pode se transformar apenas em  um tiro no próprio pé. Em vão.
Razão porque achei muito boa a opinião de Vinícius Mota, secretário de redação da Folha, exposta ontem em sua coluna, mostrando que Joaquim Levy está indo com muita sede ao pote. Correndo o risco de provocar, por sua volúpia, a própria quebra do vasilhame.
Ao ler sua opinião, lembrei-me do time que vencendo partida fora de casa, pelo placar mínimo, parte com toda juventude e correria para a frente, para ampliar a vantagem. Quando o bom senso mostra que era hora de toda a correria ser substituída por algum jogador mais experiente, daqueles que colocasse a bola no chão, para rolar mansinha. Jogador que cadenciasse o esforço e, de quebra, pudesse enervar o time adversário, com catimba e malícia.
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Referência

Outra referência que acho importante fazer diz respeito à entrevista do Professor Bresser Pereira, na Folha de domingo, dia 1º de março. Na entrevista, o ex-ministro do governo FHC fala da necessidade de um pacto, a ser negociado, mais uma vez, na sociedade brasileira, para que o país possa decidir as medidas a serem adotadas para voltar a crescer.
Fala que o tal pacto, que com Lula teve uma última forma, foi destruído pelas classes mais favorecidas, especialmente revoltadas por estarem obrigadas a conviverem com um governo de esquerda, que governou para a esquerda.
Fala, ainda, da realidade que a última campanha eleitoral não consegue esconder, do ódio que os ricos passaram a nutrir pelo PT e por Dilma. Justo pela razão de o governo, pela primeira vez, não beneficiá-los.
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Conteúdo semelhante ao que o professor Tom Hartman já havia tratado em entrevista, já comentada aqui, para o Millenium do GloboNews.
Tema que, concorde-se ou não com toda a argumentação do professor Bresser, é de uma obviedade cada vez mais escancarada.


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Galo volta a vencer

Também o Galo voltou a vencer, embora contra o lanterna do Campeonato, o que acaba sendo uma conquista de menor vulto. Ainda mais depois de, durante todo o primeiro tempo do jogo, o Guarani ter dominado o jogo, embora tenha saído derrotado por gol de jogada parada, com Jemerson.
O problema é esse. Mais uma vez, a defesa tinha uma avenida pelo meio, que o Guarani aproveitou, embora sem pontaria.
A lateral direita era outra avenida, embora seja necessário reconhecer que Patric jogou bem, ao menos no apoio ao ataque.
A cabeça de área continuou não cobrindo o meio e protegendo os zagueiros, o que amplia o trabalho da defesa.
E achei Cárdenas mal posicionado. Fora de suas características.
Quanto ao segundo tempo, é verdadeiro que o Guarani cansou. Que Cesinha entrou muito bem no jogo, dando outro ritmo ao time do Galo, e que o time do Atlético voltou a apresentar lampejos do grande e vibrante time do final do ano passado.
Mas, muito pouco, ainda, para convencer ao seu torcedor que dá para vencer o bom time do Santa Fé, na Colômbia.
Quanto ao Cruzeiro, no próximo domingo, é um clássico. E, como sempre, pode dar qualquer coisa.
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Creio que agora voltamos aos pitacos com mais constância, passados os instantes de maior agitação, que não nos deixou tempo para poder apresentar nossa opinião.