terça-feira, 15 de novembro de 2022

Chiliques dos mercados e de seus porta-vozes e as razões de tais manifestações. Equívocos da midia na análise de nomes da transição

 


Posso estar enganado, isso acontece com alguma frequência.

Mas em minha opinião, os tais mercados, eufemismo para designar os mercados financeiros rentistas, especulativos e seus interesses, apoiou ou não se opôs ferrenhamente à eleição de Lula em razão de sua promessa de manutenção e fortalecimento da democracia.

Foi DEMOCRACIA que Lula ofereceu aos mercados. E se ele entregar democracia ao longo de seu mandato, já terá cumprido sua promessa a esse segmento.

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Acredito que o mercado já precificou o fato de Lula ter, no decorrer de sua campanha, prometido ampliar o valor do Bolsa Família em definitivo, para o valor de 600 reais.

Ter se comprometido em criar o adicional de 150 reais por crianças, além de adotar política de elevação real do valor do salário mínimo e correção da tabela do Imposto de Renda, há tanto defasada.

Tudo isso, sem abandonar a recomposição de gastos sociais, que incluem farmácia popular, infraestrutura educacional, e tantas outras mazelas fruto da desconstrução posta em marcha por seu antecessor.

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O significado dessa plataforma traduz-se em que Lula prometeu valores políticos para os mercados e econômicos para os menos privilegiados, com os benefícios consequentes para todo empresário do setor produtivo.

Para os mercados: democracia. Para os segmentos menos favorecidos da população, Economia e medidas destinadas à redução de desigualdades social, de acesso a bens sociais, de renda e de oportunidades.

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Antes que os críticos me acusem de ingenuidade, alegando que aos mercados pouco importa se a forma de governo adotada assume caráter democrático ou autoritário, contraponho as premissas que alicerçam meu raciocínio.

E parto do reconhecimento de que dominados por modelos de inspiração tristemente neoliberal, os interesses dos mercados privilegiam o individualismo, a busca de obtenção de lucros a qualquer custo, que se aliam ao ideal farsesco de meritocracia em prejuízo de interesses mais coletivos, mais sociais.

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No entanto, apoiar a ameaça do governo que se despede seria uma aposta de risco, em razão da inconstância do trágico titular do cargo e sua reconhecida formação intervencionista, autoritária, populista.

Reeleito, mais fortalecida a hipótese de um autogolpe, o país poderia se encaminhar em direção a um governo autocrático, onde a promessa de manutenção de um liberal reconhecido como  ministro da Economia, estaria constantemente posta em dúvida.

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Nesse sentido, aliado aos interesses de sua familícia, não seria prudente nem mesmo acreditar que restariam alguns nacos de ganhos para os agentes com menos vínculos com a ‘família real’.

Isto posto, qual a razão do chilique dos mercados em reação ao discurso em que Lula apenas ratificou sua não conformidade com as travas ao exercício do poder, como a Lei do Teto de Gastos?

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Para mim, apenas o anúncio e a difusão pela mídia de um movimento baixista nas bolsas, levou incontinenti a que parte dos detentores de títulos corressem para se livrar dos títulos micados.

Desnecessário lembrar que tal comportamento, que redundou em perda de 150 bilhões de valores na Bolsa, não representam perda, a rigor, salvo para os pequenos e menos qualificados investidores, portadores de menos recursos.

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Não duvido que enquanto esses investidores amedrontados corriam para realizar seus capitais, a preços declinantes, na ponta oposta os grandes investidores, institucionais ou não, adquiriam papeis na baixa, ponde em prática a lei primeira do jogo bursátil: comprar na baixa e vender na alta.

Além do comportamento especulativo peculiar, tal movimento serviu como um alerta ao presidente eleito, para que cumpra o prometido, mas não vá com muita sede ao pote.

Alerta com cara de chantagem, reforçado pelas análises encomendadas e pouco sérias dos famosos ‘jornalistas financeiros’ encastelados na mídia, que se atreveram até a exigir a indicação, por Lula, de seu homem forte da Economia.

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Da lei de teto e suas travas à inclusão do povo no Orçamento, trataremos em outro pitaco, quando abordaremos a relação de tal lei à criação de espaços de ampliação da circulação privada de mercadorias, aptas a permitirem o surgimento potencial de grandes oportunidades lucrativas.

Neste pitaco, a título de conclusão, trato da ignorância da mídia e seus analistas econômicos, até mesmo para analisar os nomes dos integrantes da equipe de transição.

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É fato reconhecido que André Lara Resende é formado e se doutorou em escolas econômicas de tradição ortodoxa, liberal.

Também é sabida seu passado de banqueiro e toda sua contribuição gigantesca para a elaboração de planos, desde o heterodoxo e  fracassado plano Cruzado até o exitoso Plano Real, de forte inspiração liberal, embora não tão ortodoxo em sua gênese: A moeda indexada, uma proposta para combater a inflação inercial.

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Pois bem, Lara Resende vem, há algum tempo, realizando uma autocrítica e uma crítica aguda aos modelos monetários adotadas pela ortodoxia da Escola Neoclássica e suas variantes mais modernas e mais sofisticadas, criticando os pressupostos e as recomendações de políticas, principalmente a forma de tratamento da noção de austeridade fiscal.

Em seu último livro, provavelmente jamais lido pelos entendidos jornalistas econômicos, “Camisa de Força Ideológica – A crise da Macroeconomia” ele mostra claramente a inflexão que sofreu em seu pensamento.

Mas também essa sua mudança e suas novas visões e propostas eu deixo para um próximo pitaco.