terça-feira, 11 de setembro de 2018

Atentados e seus efeitos: quem se beneficia? O incêndio no Museu. A culpa sempre fácil do PSOL. E Temer e a PF

Começou complicado o mês de setembro. Mês das flores. Mês de início da primavera, considerada a estação mais bonita do ano.
Mas, analisando mais atentamente os fatos, podemos perceber que o mês tem servido apenas como o momento de desabrochar, além das flores, uma série de outras sementes, plantadas em meses anteriores.
Nessa situação, encontra-se, por exemplo, a hospitalização de minha mãe, em decorrência do agravamento de problemas de saúde que ela já vinha apresentando desde o mês de agosto.
Felizmente já se recuperando e apresentando um quadro bem melhor, a internação serviu para me obrigar a um distanciamento desses pitacos, além de provocar uma série de situações de atropelo, que todos que já passaram por situação semelhante conhecem bem.
Como disse acima, felizmente minha mãe recupera-se bem, com a ajuda da equipe médica e de auxiliares do Biocor.
***
Importante ressaltar que a internação não está sendo bancada por recursos públicos, mas de plano de saúde privado, da Unimed.
Diferente do deputado capitão que, segundo a imprensa, pode ser salvo graças à tempestividade e qualidade do serviço da Santa Casa de Juiz de Fora, em atendimento prestado às expensas do SUS.
Justo o serviço público de saúde, tão criticado pelo ex-militar.
***
Mas, comecei esses pitacos lembrando que, como mês da floração, setembro com sua beleza e vitalidade na verdade é a consequência de sementes que foram cultivadas em outros meses, anteriores.
Como não poderia deixar de ser, incluem-se, nesse comentário, alguns dos fatos que tiveram lugar nesses primeiros dias do mês e que têm ocupado as manchetes dos principais órgãos de comunicação.
Entre eles, o caso do ex-militar, vítima de um ataque à faca, quando fazia sua campanha à presidência da República, em Juiz de Fora.
***
Para abordar esse assunto, talvez o mais dramático dos eventos deste setembro, inicio lembrando de que, em minha juventude, uma das atividades que me proporcionava maior prazer era a leitura.
Nesse sentido, era ávido por leitura, e lia todo livro que me caía às mãos.
Em meio à variedade de livros, uns, em especial, me traziam muito prazer: os livros de Agatha Christie, a rainha dos livros de místério policial e seu famoso detetive belga, Hercule Poirrot.
***
Pois é dos romances de investigação policial, mais especificamente, da lógica de comportamento do detetive Poirot e sua busca por explicações racionais para identificar os criminosos, que me valho nessa hora.
Lembro-me de que Poirot sempre iniciava suas investigações partindo de duas premissas: a primeira, de que deve-se sempre procurar identificar quem se beneficia do crime; a segunda, de examinar atentamente a vida da vítima, já que muitas vezes, no passado, encontram-se as razões do evento.
***
No caso específico do candidato pelo PSL, por menos tempo que eu tivesse para me dedicar a examinar uma e outra dessas premissas, pareceu, a mim, que o maior beneficiado do ataque a faca na pacata Juiz de Fora, foi o próprio candidato.
Primeiro por ter conseguido sobreviver, e encontrar-se em franca recuperação, diria até uma recuperação prá lá de espantosa, para quem teve os ferimentos internos que ele sofreu.
Afinal, pelo que foi noticiado - e pode ser apenas mais uma nota 'fake' - ele teve um corte no intestino grosso, responsável por um vazamento de material capaz de criar uma infeção de alta periculosidade a sua saúde.
Mas, o mais importante não é a possibilidade de, tornando-se vítima, passar a conquistar uma simpatia junto a parcela do eleitorado indeciso, que sempre se deixa levar por episódios emotivos e não racionais em sua decisão.
Em minha opinião, o mais importante foi o tempo de exposição que passou a obter na mídia, em muito superior aos míseros 8 segundos de que dispunha, na campanha gratuita.
***
Vários meios de comunicação já apontaram essa consequência, do aumento do tempo dedicado ao candidato, e a preocupação, justamente com esse tempo, por parte de seus concorrentes.
O fato é que, no momento em que outros partidos, com mais tempo, insistiam em mostrar imagens do deputado militar ofendendo mulheres, jornalistas e destilando outros preconceitos, ele não ganha um tempo desmedido. E dá-lhe fotos, e mensagens dirigida aos seus familiares, amigos, eleitores, em verdadeira campanha televisiva sem que possa ser acusado de estar descumprindo a legislação.
***
Importante lembrar que, nos debates, nos seus oito segundos, em notícias do dia a dia da campanha, que foca todos os candidatos, o deputado que lidera as pesquisas de intenção de voto, onde Lula não é incluído, sempre foi muito infeliz, em minha opinião, em sua postura e falas.
Afinal, declarar sua intenção de ensinar o manejo de armas de fogo às crianças, posar com crianças fazendo o gestual de porte de armas, ou mesmo insistir em liberação do porte de armas, são coisas que podem agradar aos seus seguidores extremados e mais aguerridos, mas alcança apenas os já iniciados.
Não creio que tenham o poder de fazer qualquer pessoa de comportamento mais tranquilo e juízo menos preconceituoso, adotar o candidato como sua opção de voto.
***
Ah! dirão, o candidato militar é mais preparado, por sua formação militar! É novo! Fala o que o povo quer ouvir, desfazendo de toda a política e politicagem tradicional, tudo isso é um amontoado de bobagens sem tamanho.
Ditas por quem insiste em querer esconder o sol com peneiras rasgadas. Afinal o novo já é político antigo, sendo já por cinco vezes deputado federal por seu estado. Em todo esse período, não apresentou mais que dois projetos além de uma série de discursos em que agredia mulheres, destilava ódio e preconceitos, elogiava atos de tortura, pregava o pior dos mundos em termos de respeito aos direitos humanos (sim, mesmo que de criminosos) e pior, aproveitava-se das legais, mas imorais ou ilegítimas benesses do poder.
Quanto a seu preparo, mostra apenas que no Exército brasileiro, além da competência e inteligência e descortínio, e conhecimento, também se valoriza o tempo de casa, e ainda os atributos físicos, para a promoção. Ou seja, atletas podem se destacar, por sua condição de maior preparo físico.
***
Mas, importa destacar que esse deputado não era tão bem visto, nem mesmo pelas Forças Armadas, ao menos por parte menos radical das Forças, sendo por muito pouco expulso da Arma, do que se salvou por argumentos até hoje questionáveis (negou o laudo de uma perícia que indicava ser sua a letra de um pretenso plano de ataque destinado a forçar novo fechamento do regime).
***
Curioso que os parágrafos anteriores parecem que já estou tratando do segundo ponto de que partia Poirot: a vida pregressa da vítima.
Bem, nesse aspecto, não tenho muito que afirmar mais do que já é de conhecimento público. Os ataques aos adversários, o discurso eivado de mentiras contra opositores, até mesmo as declarações contra a vida, por mais que brincadeiras idiotas!, de seus oponentes.
Ilustrado por frases ditas contra Maria do Rosário, ou quando do ataque ao ônibus da caravana de Lula, ou ainda quando da referência ao que deveria ser feito com a petralhada...
***
Diz a natureza e o conhecimento popular que quem planta, colhe. Se plantou trigo, não vai colher maçãs.
E se plantou ódio, desperta um sentimento que não pode ser considerado desligado de qualquer outra motivação.
***
Mas o caso ainda tem algumas curiosidades, dentre as quais destaco, apenas a título de desabafo: o agressor ter feito curso de tiro, mas usou apenas uma faca, no ataque. Se desejava e ouvia vozes de Deus mandando atacar o candidato, não seria mais lógico que sob essa inspiração doentia, se munisse de instrumento mais potente?
O fato de não ter renda, mas ter quatro advogados, além de ter condições de viajar para Curitiba, para ter curso de arma de fogo, de hospedar-se em pensão, onde guardava um computador, etc.
Quem banca tudo isso, ou bancou?
***
Dito tudo isso, de minhas estranhezas, o que mais me surpreende, contudo é o hospital e sua equipe médica, tão elogiada e diga-se de passagem, com justiça, ter falhado tanto no controle de uma possível infecção hospitalar. Afinal, já no momento seguinte à cirurgia de urgência a que se submeteu, não apenas o candidato já estava bem e em franca recuperação, mas recebeu a visita do senador Magno Malta, gravou um vídeo (mostrando que a anestesia não fez efeito mais prolongado no paciente!), e ainda pode receber, sem qualquer cuidado maior a visita de vários de seus familiares.
***
Por muito menos, várias vezes tive de me sujeitar a horários rígidos para entrar em visita, em número limitado, em CTIs, onde parentes, amigos e familiares mais íntimos estavam internados.
Mas, com o candidato, tudo é possível. Afinal, ele é da categoria especial de políticos. Um deputado federal...
***

No dia de hoje, depois de saber do resultado da última pesquisa DataFolha, após a tentativa de assassinato, passo a questionar se impressiona tanto assim, e se comove a parte da população o ocorrido.
Parece que sua rejeição se estabiliza em patamar elevado, mais de 43%. Parece que apenas ganhou dois pontos percentuais a mais de intenção de voto.
Mas até isso é em razão de sua ajuda: mesmo no hospital, as fotos o apresentam fazendo apologia às armas. Não as facas, armas brancas que o permitiram continuar vivo, mas às mais letais, as de fogo.
***


Outro crime, contra a memória nacional e nossa história

Setembro também fica marcado pelo incêndio que vitimou o Museu Nacional, suficientemente já tratado e magistralmente abordado por Wladimir Safatle, em sua coluna da Folha de sexta última, dia 7. Por acaso, dia da Independência do Brasil.
Nesse momento, gostaria apenas de comentar de que, em igualdade de condições precárias, encontram-se outros espaços públicos, como a Biblioteca Nacional, personagem do programa no Caminho do Bem, apresentado no canal Curta, aqui em Belo Horizonte.
Local de parte das gravações do programa de Sérgio Besserman, a imponente biblioteca impressiona. E saber-se da precariedade das condições de sua manutenção, como de outros prédios públicos ligados à cultura, às artes e a nossa história é um pesadelo constante.
***
Aqui eu gostaria de fazer uma mera observação: não foram muitos que acusaram a reitoria e os dirigentes da UFRJ, de descaso para com o Museu.
A maior parte ligando o reitor e parte de sua equipe, a uma improvável incompetência, causada por ser quadro do PSOL. Por ser indicação política. Por não dar ao museu a atenção que lhe era devida.
***
Como não precisamos do suicídio de outros reitores, é importante lembrar que, para chegar ao cargo de reitor, no mínimo, o indicado deve ser professor, com doutorado ou pós doutorado.
Não é uma indicação política e ponto.
Pode sim ser o representante de interesses políticos, mas dentre seus pares. Não é indicação de um detentor de mandato, às vezes, sem maiores qualificações.
***
De mais a mais, o orçamento da Universidade é parte integrante das verbas previstas no Orçamento da União. E, em país que abre tanto a mão de receitas para beneficiar empresários, é importante lembrar que é reduzido e escasso.
E há uma despesa que é inarredável, como se sabe: a de pagamento de pessoal, ativo e inativo, que consome parcela mais que expressiva do total da dotação.
***
Lembremos ainda, que diz a administração que a boa gestão deve se preocupar em gerir a escassez. Ora, para uma Instituição que é destinada à formação profissional, uma Escola, o que é mais fundamental, na falta de recursos, deixar os laboratórios da Engenharia, Física e Química desabando, e sofrendo a ação de bolor e mofo; deixar as salas de aula sem condições de funcionarem sem colocar em risco a saúde de seus alunos; cuidar de outros bens culturais, de grande importância e significado, como a manutenção de uma Orquestra (falo aqui, sem analisar profundamente se a UFRJ mantém uma!, falo em hipótese) e museus e centros culturais?
***
É uma  lástima, mas a situação apenas se agrava, sem recursos com a medida do teto de gastos e seu congelamento por período tão extenso quanto 20 anos.
Mas, se o "hard core" da instituição que já prestou tantos serviços a nosso país é a formação de nossos alunos, em nível superior, a essa finalidade, creio eu, deveria estar focada a maior parcela dos gastos.
Mesmo que o Museu represente, a longo prazo, nossa maior ferramenta de aprendizado.
***

E o absurdo de se acusar a partidos por atos dos quais eles não têm culpa

Falo aqui das acusações que uma parte de pessoas de pensamento extremado dirigem ao PSOL.
Não apenas ao fato do reitor da UFRJ ser dito partidário daquela sigla. Mas por que o agressor de Juiz de Fora ter sido filiado à sigla, até anos recentes.
Ora, Daciolo, o cabo candidato também foi filiado e inclusive eleito pelo partido, para o cargo de deputado federal.
E várias outras pessoas de boa índole, ou não, estão e foram filiadas ao PSOL, mas também ao PSDB, por exemplo.
Basta fazer consultas rápidas para ver que gente filiada aos tucanos, também patrocinaram roubos falcatruas, e até ameças de mandar matar, a parentes, caso se tornassem delatores.
***
Então o fato de ser filiado a um partido não diz nada a não ser que os partidos são abertos, democráticos, e por mais que façam algumas pesquisas sobre a vida pregressa de seus filiados, não podem ser culpados por manifestação de desordens mentais que seus filiados venham a apresentar, ou até que já fossem portadores, embora não manifestas.
É isso.

E para terminar

A Polícia Federal, no caso de Temer e de seu amigo o coronel Lima, têm agido para descobrir provas. E tem tido êxito, é forçoso reconhecer.
Cada vez mais se confirma e se comprova que Temer está até o pescoço no mar de lama da corrupção.
Mas, se a PF tem méritos, não dá para entender porque não encontraram provas cabais, gravações, ligações telefônicas, etc. capazes de provarem definitivamente a culpabilidade de Lula, ou de Alckmin, por exemplo.
No primeiro caso, os processos além de indícios são norteados por delações e depoimentos da mais prostituta de todas as provas.
É uma pena.
Sem maiores comprovações senão indícios, sempre deixará para a história a versão de mártir. De herói, ainda que imerecido.