terça-feira, 30 de novembro de 2010

A respeito da amizade

SORRISO AMIGO

Um sorriso
que estremece
uma palavra
tranqüiliza
uma paz
que não se esquece...
No frio
o calor que aquece
e fundo desce
para quem tiver que ouvir
para quem for refletir
na palavra amiga,
na palavra que esclarece
palavra que o amigo
dá na hora do perigo
E junto com ela uma paz
felicidade e um riso
que estremece
um sorriso...

A propósito da descoberta de novos trabalhos de Picasso

PICASSO

Tudo passou  por ele
ele passou por tudo
Na figura lógica
da realidade escura
na face humana
da filosofia pura
no riso pequeno
no choro alegre
na guerra, na fome,
na vida sem nexo,
no lar e no sexo.
Ele passou por tudo
e passou prá tudo
deixando vazio
seu lugar no mundo
O choro agora é triste
a realidade cada vez mais dura
morto o maior nome da pintura
Morto é Picasso!

Como identificar?

Tomado o complexo do Alemão no Rio, a pergunta que não quer calar é relativa à pequena quantidade de prisões e detenções feitas pelo conjunto das forças policiais.
Agora, a imprensa especula que a presença do pessoal do Exército deverá durar pelo menos até a instalação de uma UPP, unidade policial pacificadora, enquanto o governador Sérgio Cabral fala em um prazo de até 7 meses.
Nesse meio tempo, as forças policiais continuam dando buscas, vistoriando casas, procurando por traficantes ou marginais que poderiam estar escondidos, ou disfarçados de pessoas comuns, da comunidade.
Nas ruas, os programas televisivos, Domingo Espetacular com Paulo Henrique Amorim, e o Fantástico, entrevistavam, desde domingo pessoas comuns, habitantes do conglomerado, desejando saber desde sua reação, até o sentimento de terem recuperado o espaço público, para sua utilização.
***
Bem, o que percebi foi que a maioria das pessoas entrevistadas não arriscava muito mais que, agora as coisas devem melhorar. Assim, respostas meio vagas, dando a entender que, passado o assalto das tropas oficiais ao morro, e o tiroteio que se seguiu, as coisas devem ficar mais pacatas. Mais calmas. Nunca completamente tranquilas, nem ao gosto da população.
Porquê essa resposta evasiva?
Em minha opinião, o problema maior é que os jornalistas e repórteres faziam as perguntas mas, como não passa despercebido ao telespectador, o próprio entrevistado ou entrevistada pode ser alguém envolvido com o tráfico.
Não estou dizendo que as pessoas entrevistadas são ou eram marginais, mas ficou no ar, em minha opinião, uma certa impressão de medo... as pessoas evitando falar muito, para não serem cobradas depois ou mesmo a título de protegerem algum parente ligado ao crime organizado.
Afinal, adianta fazer uma operação de varredura, inclusive solicitando a colaboração das pessoas do Alemão por meio da apresentação de denúncias anônimas, exceto para capturar algum dos chefes do tráfico?
Então as denúncias surtiriam efeito para prender meia dúzia ou uma dúzia de criminosos, já procurados, conhecidos pela polícia, alguns até com passagem pelas prisões.
Esses, escondidos, poderiam ser descobertos e presos.
Mas, retirados de circulação, o que ficaria em seu lugar? Ou quem?
Porque é utópico achar que o tráfico vai parar ou sofrer alguma interrupção mais séria. Como é ilusório acreditar que aqueles que são viciados ou consumidores das drogas irão parar de consumi-la e de comprá-la.
Sendo o Rio uma cidade de grande porte, uma megalópole, como qualquer outra cidade de porte semelhante, as drogas vão continuar circulando, se é que foram interrompidas mesmo no momento em que o morro era invadido.
Se ilusório achar que o mercado de droga clandestino foi desmantelado, o que pode-se esperar é que ele se recolha um pouco.
Se presos os cabeças do tráfico nos dias de hoje, o que pode ser esperado é que dentro de pouco, outros venham para ocupar seu lugar. Claro que não de forma ostensiva, não querendo impor sua lei, não querendo se sobrepor ao Estado, às forças públicas ou dominar o espaço público.
***
E se nosso raciocínio é correto, mesmo lamentando essa possibilidade, quem irá ocupar os lugares dos chefes do comércio senão as trutas pequenas de hoje, já parcialmente treinados e inseridos nos negócios do tráfico?
Há que se recordar que foram anos de domínio, de imposição da vontade dos senhores do tráfico, da ação de criminosos como os padrinhos e protetores das comunidades. Só lembrando: para manter a polícia afastada do morro, muitas vezes, até em briga familiar os criminosos tiveram de se intrometer. Pequenos roubos, assaltos, uma série de atividades era controlada e impedida pelos chefes do tráfico.
E a esses chefes, a comunidade tinha de prestar obediência e agradecer a proteção e tranquilidade.
E, durante muito tempo, sem educação, sem escolas, sem atividades capazes de ensinar uma atividade profissional geradora de renda, ou sem atividades esportivas e lúdicas, o que restou aos meninos e meninas da comunidade, salvo serem recrutados pelo crime?
Exatamente os meninos e meninas que aprenderam a conviver com o poder, mesmo que da barbárie e das armas; aprenderam a aproveitar das benesses de uma vida de conforto material proporcionado pelo fruto das atividades ilícitas; aprenderam a conviver com tudo que há de bom e de melhor, e que para eles era apenas um sonho distante.
Pois bem. Esses são os meninos e meninas desconhecidos da polícia, que nunca ouviu falar de sua existência, ou melhor, sabe da existência, mas não do rosto que eles têm.
Então, são esses meninos que são parentes, filhos, sobrinhos, netos, dos entrevistados pelas emissoras de tv.
São esses que agora ficarão protegidos pelo anonimato e que, por serem desconhecidos, escaparão ilesos e poderão se reagrupar e retornar no futuro.
E esses irão, talvez de forma mais discreta retomarem a atividade que lhes assegura e à sua família o que a sociedade de maneira geral lhes nega. Não necessariamente por um problema de apartheid social, mas por força mesmo do sistema em que vivemos, que se assemelha a um funil, onde poucos são os que conseguem chegar até o outro lado da abertura.
Bem, esses a polícia e o Estado terão como identificar ou tirar da vida do crime, em que eles já se iniciaram?
Por achar que não, fico preocupado. Mas, não vejo ninguém discutindo até aqui o que fazer e como para dar a essas crianças(?) educação, instrução, treino profissional e depois uma ocupação e salário dignos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fogo da noite

                                   Quero me arrasar
                                   e me acabar
                                   como se fosse a última noite
                                   o último gole
                                   ou desejo
                                   E te alcançar voando nos céus
                                   como se fosse o último vôo
                                   e deixar meu rastro
                                   como o do último homem
                                   ou a última estrela cadente
                                   rasgando o infinito
                                   te buscando noite.
                                   Quero ter você como se fosse
                                   o último instante
                                   Deixar-me rodar cercado de fogo
                                   o último desta noite sem fim.

Referência a D. Beja

                                   São duzentos e cinqüenta
                                   contos de réis
                                   são duzentos, tantos toques
                                   dos coronéis
                                   e são tantas noites longas
                                   plenas de  amor
                                   para esconder a minha mágoa
                                   a minha dor
                                   E são tantas horas mortas
                                   a enganar
                                   amando como se máquina
                                   de faturar
                                   conquistando o prestígio
                                   e o poder
                                   que escapam nos gemidos
                                   deste regaço
                                   nos segredos que se desvendam
                                   em meio a abraços
                                   E são tantos os segredos
                                   e traição
                                   que se escondem em meu leito
                                   até que, então
                                   venha à tona explodindo
                                   meu coração.

Senhor da razão, nem sempre o tempo torna as pessoas mais razoáveis

Preferi falar apenas de futebol na primeira postagem de hoje.
Para não ter de falar do artigo publicado pelo ex-presidente do Banco Central, aquele que se deliciava em ser considerado o "enfant gâté" da equipe econômica de implantação do Plano Real, Gustavo Franco, na Folha.
Aquele que capaz de raciocinar com dólares como se fossem bananas e, talvez por esse motivo mesmo, foi o mentor do estelionato eleitoral que permitiu a reeleição de FHC: o populismo cambial.
Da leitura do texto, apenas constata-se que existem pessoas que, nem mesmo a passagem do tempo, nem o fato de tornarem-se mais velhas, ensina qualquer coisa. Ou por incapacidade ou por arrogância.
No caso do Dr. Franco, a explicação pode ter a ver com uma certa dificuldade em separar fantasia de realidade.
Afinal, atribuir ao PSDB a autoria do Plano Real, cuja implantação se deu no governo Itamar Franco e que serviu de base que Fernando Henrique pudesse se eleger é no mínimo, ignorar o passado, ou achar que a memória da população é ainda mais curta que o que de fato se demonstra.
Bem, se FHC foi eleito na esteira do Real, é bom lembrar que foi Ricúpero, primeiro e Ciro Gomes, no segundo momento, o ministro responsável pela abertura indiscriminada do país às importações, talvez a principal âncora do Plano de estabilização.
Ah! nenhum dos dois era do PSDB, muito ao contrário. Já a política de abertura às importações, para o bem ou para o mal foi decorrência do governo Collor.
Então, se o PT agora ganhou com a política do PSDB, foi também pegando carona em políticas de outros que o PSDB chegou ao poder. E pior: foi com o populismo cambial do Dr. Gustavo que pode assegurar - via compra de votos, inclusive- tanto a aprovação da emenda da reeleição, quanto o segundo mandato.
Populismo cambial que redundou na crise que quebrou o país em janeiro de 1999.
Ou o Dr. Franco não se lembra desse episódio? Gerado por ele e por sua política corporativista??? De rigor e austeridade???
Franco chega a mencionar que foram eles, do PSDB, que criaram a idéia da responsabilidade fiscal - aquela imposta goela abaixo pelo FMI.
Curiosamente, depois de afirmar nos parágrafos iniciais que o PT se apropriou da fórmula daboa política econômica introduzida por seu partido, e que só obteve êxito por adotar essa política, reclama de que o seu partido tenha se afastado da "nossa criação bem sucedida".
E acusa a esses candidatos, mas mais a Serra, de resmungar sobre "juros altos, desindustrialização e "populismo cambial".
Ora, Serra criticava ao Governo Lula, já que ignorou ao governo de seu partido, como o acusa o autor do texto.
Se esse governo fazia apenas repetir a política do PSDB, como também encontra-se no texto, então forçoso é reconhecer que o populismo cambial deriva do PSDB. E, assim, ou a política cambial não era tão boa, ou o Dr. Franco aproveita-se da Folha para rebater as críticas à política por ele formulada e implantada, feita por seus próprios correligionários.
***
Ah! o problema é que quem conhece o comportamento do Dr. Franco, não deveria perder tempo nem lendo seus artigos, nem o comentando.
Afinal, o domingo foi de sol, calor, e muito futebol, à tarde. Assuntos muito mais sérios que o que possa vir de nosso Peter Pan tupiniquim.

Para iniciar a semana

É pena! de um lado, os cruzeirenses reclamando que o Palmeiras entregou o jogo para o Fluminense enquanto o Vasco entregava o jogo para o Corínthians.
Pena porque hoje não houve ninguém reclamando de um penalty cometido contra o Flamengo e que o juiz não deu por medo do choro.
Menos mal que o juiz não tenha dado e o Flamengo tenha perdido.
Mas, infelizmente, os resultados de Atlético Goianiense e Vitória impediram que o urubu carioca pudesse despencar, enterrando de vez a arrogância daquele marqueteiro que ainda crê ser técnico de futebol.
Quanto ao jogo do Fluminense, dá para entender a lamúria dos cruzeirenses. É que eles estavam vendo o jogo do time deles e não viram a transmissão da Bandeirantes, do passeio de bola que o Palmeiras levou.
Especialmente no primeiro tempo, quando o Fluminense podia ter aplicado uma goleada histórica no time de Felipão.
Não fosse São Deola, não fosse a sorte, a trave e até o pé do Fred, completamente descalibrado, o Palmeiras teria saído de campo amargando uma derrota dessas de envergonhar qualquer time de jogadores profissionais.
A questão é que, em relação ao time do Palmeiras a superioridade e qualidade dos jogadores do Fluzão é indiscutível. Menos pelo plantel do Flu que, embora tenha jogadores de encher os olhos, do meio para a frente - com Fred, Conca, Washington, Deco, Tartá - e tenha uma defesa que é das mais vazadas, se não a menos do campeonato, que pela completa desarticulação do Palmeiras.
E nem é necessário relembrar e alegar que os jogadores do Palmeiras estão com salários atrasados, ou os casos como o de Lincoln, que vieram a público, por não receber a parcela de luvas combinada.
O grau de desorganização do Palmeiras torna-se mais revelador, quando se recorda ter sido o time paulista um dos que mais gastaram, senão o que mais gastou em contratações para o Brasileirão.
Inclusive gastando o que não devia ou não tinha, para trazer o craque..... Felipão!!!
Ora, Felipão não conseguiu armar o time, como o ano passado tampouco teve êxito Muricy.
O que o Palmeiras conseguiu foi montar um time que levou um sufoco do time misto do Atlético, na SulAmericana. Não fosse a opção do campeão mineiro por concentrar toda sua atenção na luta para sair do rebaixamento, ambos os jogos contra o Palmeiras teriam outra sorte.
Então, basta olhar que o Palmeiras ganhou por um lance de sorte do Goiás na primeira partida da SulAmericana. E perdeu depois, bisonhamente em seu território, para ver que o Palmeiras não chega, com a estrutura que tem hoje, aos pés do time de Muricy.
Este, para mim, que continua sendo o grande técnico da atualidade do futebol brasileiro.
***
Então, respeito os amigos e colegas cruzeirenses, e até entendo suas insatisfações. Mas, talvez fosse hora, já que ainda há chances, de parar de reclamar e chorar da postura de um time que, pior de tudo, ainda vai enfrentá-los na última rodada.
Afinal, como foi reconhecido por um colega, o jogo da vida que foi perdido foi outro, há duas semanas, pouco mais. E em um dia em que não houve, choro nem vela.
***
Embora não tenha muita simpatia pelo Fluminense, há que reconhecer que foi o melhor time do campeonato, ilustrado pelo número de rodadas que liderou o campeonato; pela campanha e números, como defesa vazada e artilharia. E, terminar o campeonato com esse campeão é, em minha opinão, muito mais justo que terminar com o Corínthians ou o Cruzeiro.
Além de tudo, o Fluminense foi o time que teve, sempre na minha visão, o melhor jogador do Campeonato: Conca.
E, de longe, o melhor técnico, mantido em toda a competição.
***
Quanto ao Galo, ontem na décima terceira posição. Afinal, 13 é Galo.
Fez o suficiente para vencer o Goiás em jogo morno e sem inspiração. Livrou da asa negra trazida por Luxaeburro. E, agora tem técnico: DORIVAL JÚNIOR.
A quem rendo minhas homenagens. Não por jogar. Mas por respeitar quem joga e, agindo assim, conseguir extrair deles o melhor que cada um tinha condições de dar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A próxima reunião do COPOM

O Conselho de Política Monetária - COPOM, que se reúne agora no início do mês de dezembro vai adotar que tipo de comportamento, em relação à taxa de juros?
São tantos os comentários que vêm do mercado, relativos à expectativa de recrudescimento da inflação em 2011, que chego a me perguntar se não se pode começar a esperar uma elevação da SELIC, já a partir de dezembro.
E como previsão é mesmo um chute, eu arriscaria a dizer que, mesmo não concordando com esse tipo de política, o Copom deverá elevar a taxa de juros básica da economia em 0,5%.
Os motivos?
Primeiro para conter as expectativas frente à inflação, que deverão ganhar reforço tendo em vista os gastos de final de ano.
Outro motivo é dar uma folga à nova diretoria do BC e à nova equipe econômica e novo governo. Afinal, depois de se comprometer em reduzir as taxas de juros, durante o período eleitoral, não seria uma atitude muito interessante que o governo Dilma se instalasse tendo que adotar a medida que ela condenou.
Poderia ser alegado que, ao contrário, a adoção de uma política monetária restritiva poderia servir, de vez, para tranquilizar os mercados. Neste caso, a elevação da taxa de juros, mesmo que onerosa, seria tomada como um aceno do novo governo quanto à sua seriedade na manutenção da estabilidade econômica.
É um argumento.
Mas a tomada de medidas impopulares e merecedoras de críticas de setores econômicos não vinculados às finanças, já nessa altura, seria vista pelos agentes econômicos da mesma forma, já que ninguém em sã consciência acreditaria que, qualquer medida tomada nesse apagar das luzes do governo Lula, não tivesse já sido precedida por uma consulta à Dilma.
Por fim, a elevação de juros iria na mesma direção de outras medidas que já começaram a ser adotadas e/ou anunciadas, como a de corte dos gastos públicos em até 20 bilhões; fixação de salário mínimo no patamar de R$ 540,00; e, mais recentemente, uma tentativa de tornar mais difícil o endividamento das pessoas físicas, pela redução do prazo de financiamento no cartão de crédito.
Afinal, a obrigatoriedade de amortizar um mínimo de 15% do valor da fatura, no primeiro momento, e 20% no final do ano, sinaliza claramente a preocupação do governo em conter a expansão do crédito e da demanda de consumo a ele associada.
Quanto à preocupação com o endividamento das famílias, a explicação pode ser tanto vinculada à tentativa de reduzir a demanda agregada, não colocando mais combustível na fogueira dos preços, como atrelada à preocupação com uma possível elevação dos níveis de inadimplência, o que poderia trazer problemas de liquidez para o setor financeiro, na esteira de uma bolha de ativos.
Isso, justo em um momento em que a liquidez internacional começa a dar sinais de estar novamente entrando em colapso, com os recentes episódios da Irlanda, Portugal, e outras economias européias.

Tempos de infância

PASSADO versus  ...

                                   Risos, ri, ri,
                                   risos em canção
                                   em notas desafinadas
                                   desa- desaparecendo
                                  A alegria atordoante
                                 de um jogo infantil.
Risos, ri, ri
e, no entanto,
levantam-se de nuvens
claras impressões
volta um tempo
volta um jogo (amarelinha?)
de uma manhã azul
Um pegador ... PUDE!
e nem pude recordar
olhando o futuro incerto
Cuidado! O jogo da bola
(com a  meia nova do pai)
cuidado no amanhã
ou chutará uma granada
que explodirá em pedaços mil
de panfletos exigindo paz.

Lugarejo

O frio...
vento cortante
a vida quieta
o silêncio fundo
tudo calmo
O frio esconde
atrás de si
a alegria, o trabalho
o descanso
de um dia alegre de sol
Nas ruas calmas
do lugarejo
ninguém...
Nos bares espalhados
conversando estão amigos
ou bebendo, ou jogando...
Num bar o barulho da tacada
e nas ruas um silêncio profundo
só silêncio.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Das pedras e árvores no caminho

                                   ÁRVORE


                                   Havia uma árvore
                                   no meio da rua
                                   Havia um canteiro
                                   no meio da rua
                                   e o carro chegou
                                   matando a árvore
                                   reclamando do canteiro.
                                   Havia uma buzina
                                    tocando insistente
                                   Havia um carro
                                   batido na árvore
                                   e o canteiro foi retirado
                                   a rua perdeu sua sombra
                                   a árvore, morreu de velha
                                   o povo sofreu de remorso
                                   mas o carro fez sua festa.
                                   Havia uma árvore
                                   no meio da rua
                                   hoje há só um carro
                                   parado na rua ... nua.

Poluição no ar

                                                                                    CIGARRO


Fumaça
poluição desbragada
num peito em dor
Doença penetrando
nicotina agindo,
todos clamando...
Um cheiro mórbido
de um fumo ralo
narinas à dentro
em um trago mágico...

O esporte e o inesperado

Minha terra tem Palmeiras, mas quem canta é o time caipira de Goiás. Caipira, não. Sertanejo.
Afinal, quem vai a São Paulo, entra no palco e não se importa com a hostilidade da platéia e dá seu show, não pode ser um caipira qualquer. Ou tem de ser um caipira dos mais autênticos.
Daquele que sabe que nada que o homem pode falar modifica a natureza... das coisas.
Por isso o Goiás foi lá ao Pacaembu e venceu, eliminando o Palmeiras.
Porque jogou bola.
Não ficou no discurso que já assegurava o time paulista na final do torneio sul-americano.
***
Que curioso e interessante foi ter a oportunidade de ver e ouvir Luciano do Valle preocupado em analisar as chances do Palmeiras contra a LDU ou o Independiente.
Que divertido foi recordar das entrevistas de Felipão, antes do jogo, mostrando que não estava nem aí para a partida de domingo. Afinal, favas contadas o jogo contra o Goiás, ainda assim, Scolari estava arrogantemente mais preocupado em dar férias -caso houvesse a impensável derrota palmeirense, a seus jogadores, para que eles pudessem voltar mais cedo e começarem a se preparar, logo ao início do ano, para a importantíssima competição do campeonato..... paulista.
E como é interessante ver a imprensa mudar de opinião, sem qualquer critério, sem qualquer pudor, para lembrar ao final da partida que o copeiro, o grande técnico das copas, o grande vencedor, o estrategista Felipão não vence nada desde 2002.
***
Cômico, se não fosse trágico, ter que tratar com alguma seriedade comentaristas do nível de um Neto ou Edmundo. Como torcedores, até que merecem respeito.
Embora hilários, não há como negar.

Nomes da Equipe do governo Dilma e expectativas geradas

Sacramentada a indicação de Alexandre Tombini para a presidência do Banco Central, conforme prevista foi também assegurada a manutenção da autonomia operacional da Autoridade Monetária.
Isso significa que, definida pela sociedade via sua representação no Congresso, a meta de inflação a ser perseguida, automaticamente fica o Banco Central autorizado a agir, utilizando os instrumentos a seu alcance, para assegurar o cumprimento da meta.
***
Dessa forma, mesmo subordinado aos interesses maiores da sociedade, como deve ser o status de qualquer instituição pública, o Banco não será tolhido em seus movimentos visando alcançar a meta de inflação.
Pena é que, diferente de outras instituições com funções semelhantes, como é o caso do FED americano, o Banco Central do Brasil não tem metas também para obtenção de uma taxa de emprego ou para um ritmo de desenvolvimento econômico.
Também deveria ser objeto de discussão a possibilidade de se fazer política cambial subordinada a alguma meta, que permitisse ao Banco agir para evitar seja nossa desnacionalização, seja a desindustrialização de nossa economia.
E/ou ainda discutir-se a possibilidade de se estabelecer uma meta para a manutenção de reservas, vez que alegar-se que nesse caso, o maior nível é o melhor só seria verdadeiro se não implicasse em custo fiscal muito elevado, dado o nível de taxa de juros aqui praticado, vis a vis ao praticado no exterior.
***
De Mantega, o discurso esperado: contenção fiscal. Arrocho de gastos públicos e de salários do funcionalismo. Mínimo fixado no patamar menor, de R$ 540,00, para não ampliar o rombo da Previdência e não pressionar os cofres de Prefeituras e Estados; ações no sentido de não permitir a concessão dos aumentos pretendidos para o corpo funcional do Judiciário e do Legislativo, e em discussão no Congresso; além da promessa/ameaça de não elevação dos salários do funcionalismo público em geral.
Medidas que agradam ao mercado e a analistas mais conservadores que vendem a tese da necessidade de contenção dos gastos públicos e da obtenção de um superávit fiscal de mais de 3%, para que as taxas de juros possam começar a cair para níveis considerados mais civilizados.
Na verdade, a contenção dos gastos públicos pode ser vista por outros ângulos: o primeiro pela menor participação do Estado e sua menor intervenção no domínio econômico, o que significa maior liberdade e maior espaço de ação para o capital privado.
O segundo ângulo, o da opção pela manutenção do gasto de pagamento de juros, para uma minoria rica e privilegiada, em detrimento da realização de gastos para a maioria da população.
Só espera-se que, de acordo com a promessa da nova ministra do Planejamento, tais cortes possam ser efetivados com a consecução, concomitante, da outra meta por ela anunciada: a de maior controle da qualidade do gasto público.
Essa meta, é bom dizer, sempre frequentou a agenda de governo, e nunca foi preocupação real dos governos. Ao contrário, o que houve, e agrada demais aos mercados, é a pura e simples contenção de gastos pelo desmanche da máquina pública e, principalmente, de seus órgãos responsáveis pela regulação e fiscalização do setor privado.
***
Mas, é sabido e não é novidade: o mal deve ser feito logo ao início, e todo de uma vez. O bem aos poucos. De preferência adaptado a um cronograma que permita, ao longo do mandato, ir fortalecendo a imagem e a popularidade do governante.
Então, não há novidades também por esse lado.
***
Satisfeitos os mercados? Creio desnecessário afirmar que sim. Afinal, emplacaram todas as teses que defendiam.
E, embora sabendo que o presidente do Banco Central é funcionário de carreira da Casa, os mercados estão cientes de que sua escolha, com o aval do presidente  Meirelles, que se retira, significa que a Autoridade Monetária, como todo e qualquer órgão integrante do Estado capitalista, servirá de representação dos interesses de classe a que deveria estar controlando.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

De guerras à violência gratuita e suas punições

Da possibilidade de guerra quente entre as Coréias, para a verdadeira guerra civil que acontece em pleno Rio de Janeiro.
O que querem os marginais dos morros cariocas?
Já se falou que não os arrastões não visam assaltar as vítimas, embora sejam levados celulares, dinheiro e jóias, quando não o próprio automóvel.
Mas, se bandidos promovem esse tipo de ações, sem interesse na pilhagem, o que podem estar querendo? Dar uma demonstração de força? Manter uma cidade inteira refém do medo?
Especula-se que a idéia seria vingar a ocupação dos morros pelas UPP, unidades pacificadoras.
Nesse caso seria uma reação à perda do poder que obtiveram ao longo do tempo, aproveitando-se da ausência do Estado.
E, se essa hipótese for correta, então o que estamos assistindo é, claramente, uma disputa por controle de territórios e regiões, e pela definição ou manutenção do poder e domínio. Tipicamente um quadro de guerra de conquista.
Acrescente a essa situação o ataque premeditado a guarnições policiais, a postos e cabines de policiamento e a viaturas. E, lembremos que, identificado um soldado, mesmo à paisana, ele é sumariamente assassinado.
Como se estivéssemos vivendo um período dominado por tribunais de execução.
***
Curioso é que não se pode alegar, dessa vez, que os ataques e a queima de veículos sejam manifestações de conflitos derivados de injustiças sociais, ou de qualquer espécie de conflito que tenha como origem a luta de classes.
Porque os bandidos estão tratando de forma semelhante tanto os carros mais novos e de modelos mais luxuosos e mais caros, quanto os mais antigos, de modelos já fora de linha e ultrapassados. Isso além da queima de veículos dirigidos ao transporte coletivo, como os ônibus, que atendem prioritariamente ao pessoal de mais baixo nível de renda. Como se os criminosos quisessem castigar os cidadãos pobres por seu apoio ao Estado e sua política de segurança.
Que parece tratar-se de uma guerra civil, parece. O que não impede de as ações terem como seu objetivo principal o desejo de desviar a atenção das autoridades e da população em relação aos verdadeiros interesses do crime organizado.
***
Em boa hora a justiça mandou recolher os marginais autores dos ataques homofóbicos da Av. Paulista. De certa forma, a decisão nos deixa, a todos, satisfeitos. Tanto pela idéia de que começa a ser feita justiça, quanto pela sensação de que a intolerância e a arrogância não ficarão impunes.
Como não ficará impune o médico geneticista, condenado a 278 anos de prisão, embora podendo recorrer em liberdade.
Menos mal: há no ar, uma certa sensação, positiva, de que não há ninguém superior às leis e ao direito.
O que me leva a me perguntar, no caso dos agressores da Paulista, se estaremos preparados para tratá-los  como pessoas merecedoras de passarem por processos destinados a recuperá-los e reintegrá-los à sociedade, no futuro, ou se apenas estamos satisfeitos por estarmos saciando nosso desejo de vingança. Em suma, se estamos preparados para puni-los e educá-los ou se estamos apenas dando vazão a um tipo de comportamento (despertado pela atitude deles próprios) que não fica muito a dever ao que eles adotaram.
***
Quanto ao médico, que a possibilidade de escapar da cadeia só se materialize no caso de substituição da pena pela adoção de Medida de Segurança que considere toda a periculosidade por ele demonstrada.

Quando terminam os sonhos

SONHOS


Sonhos em vão
ilusões despedaçadas
conseqüência trágica e cruel do fim
Despertar frente à realidade dos fatos
Acordar desesperado
entregue à própria sorte
sorte louca
de um momento trágico
Um coração latente
últimas esperanças de um amor
fracassado
Acabou-se a fantasia
É hora de por-se a pensar
agir e pensar
Agir, como? Faltam forças
energia gasta
no doce sonho
de uma ilusão passageira
de sonhos em vão...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

poema econômico

ECONÔMICA

Giro, correção
Dinheiro com ação
negócio seguro
prá quem é pão duro
Poupança, moeda
banco, capital
metal, vil metal
O câmbio, o dólar
o real valoriza
e dá-lhe importação
na contramão da história
do café, a tentação
o quente é a exportação
Mas cuidado com a inflação
do petróleo, combustível
a renda per capita
a luta da oferta
a procura do produto puro
E tudo isso é um grande nada
Prá quem é feliz no duro.

Visionários???

ELES

O mundo num sonho
a realidade na vida
de quem não liga
e se desliga
e convenha
que é melhor
viver feliz mas iludido
que viver triste deprimido
fingindo compreender
um mundo desconhecido
Na realidade de um sonho
No mundo que ele cria com a mente
fantasias  de amor e esperança
à procura de uma paz quase impossível
Loucos são mesmo eles?

Pressões de candidato e insegurança? ou Bandeira de luta?

Comentei ontem as dificuldades e  pressões que, mesmo não vindo a público, estão acontecendo nessa etapa de montagem de equipe de governo da presidenta Dilma. Por serem ações difíceis de serem identificadas, na maior parte das vezes, transmitem a impressão de um certo marasmo, como se o script traçado estivesse sendo seguido à risca entre conversas, sondagens e especulações. Mais essas que aquelas.
É esse cenário que transmite a idéia incorreta de calmaria.
Nos bastidores, sabe-se que o jogo político encontra-se em pleno andamento e que, sob as aparências, a disputa é encarniçada. Jogo pesado, com os vários setores e categorias sociais tentando fazer prevalecer seus pontos de vista e seus interesses.
***
De vez em quando, algumas investidas acabam sendo flagradas, sendo imediatamente exploradas pelos interesses antagônicos. Outras vezes, nem mesmo têm tempo para se materializar, embora passem a ser repercutidas na midia, como se fatos consumados.
Parece-me que é nesse caso que se enquadra a notícia da pressão que Henrique Meirelles, presidente do BC, teria feito ao abordar a necessidade de se assegurar a manutenção da autonomia do Banco Central especialmente em relação à política de fixação da taxa de juros básica da economia brasileira.
Aos fatos: em entrevista dada a importante jornal, Meirelles teria dito que poderia permanecer no cargo, caso convidado, apenas se assegurada a autonomia para fixação dos juros da economia brasileira.
Chamados a interpretarem a frase, os comentaristas políticos foram unânimes em afirmar que, aproveitando a ausência por motivo de viagem da presidenta eleita, Meirelles estaria se antecipando à possibilidade de não ser convidado a permanecer no cargo, arranjando aí uma desculpa.
Para alguns analistas, sua frase soou como uma pressão para se manter no cargo, uma vez que sua saída acabaria sinalizando aos mercados (financeiros) que a política econômica de estabilização não seria mais prioridade do novo governo, gerando instabilidade econômica em momento em que a economia internacional atravessa um período de recrudescimento de turbulências.
Para outros, responsável pela criação de um grande mal-estar junto à Dilma e à equipe de transição, a atitude foi considerada como uma precipitação de Meirelles, ao ver seu espaço no novo governo reduzido, em particular depois do vazamento da informação da manutenção de Mantega na Fazenda.
***
Entretanto, como Jânio de Freitas lembrou em sua coluna na Folha de domingo, para se analisar a situação, há que se considerar que, no início do ano, desejando se desincompatibilizar do cargo para concorrer às eleições, Meirelles foi convencido pelo presidente Lula a permanecer na presidência do BC até o último dia de seu mandato.
Concordando com o jornalista, não há como acreditar que, do acordo firmado e cumprido à risca até o presente, não constassem negociações de cargos em um futuro governo que, mesmo tendo nova constituição e comando, seria sempre um governo de sucessão.
De mais a mais, não há como imaginar que  depois de tantos anos à frente de um cargo como o que ocupou, Meirelles não tivesse aprendido a cultivar a arte da política, deixando-se derrotar por sua insegurança e ansiedade. Além disso, nem esse é seu feitio, de homem operador de mercado financeiro, nem a possibilidade de deixar o Banco Central, indicado para cargo de maior prestígio e responsabilidade de gerir maior orçamento, permitem prosperar tal entendimento.
***
Se houve a frase dita pelo presidente do BC, mesmo que às custas de um certo desgaste pessoal junto à presidenta, a pressão parece acertou em cheio o alvo.
Tendo seu nome excluído da relação de candidatos à direção do Banco e da própria equipe econômica em montagem, restaria à presidenta eleita pagar os compromissos de campanha indicando-o para outro cargo de Ministro ou até embaixador do país, nos Estados Unidos, em outro país, ou junto a algum organismo internacional de relevo.
Para sucedê-lo na presidência do BC, poderia emplacar o nome de seu companheiro de diretoria colegiada no Banco, o diretor de Normas, Alexandre Tombini, o que seria um sinal de sua força,  mesmo que indireto.
No caso de uma solução externa, a vitória também estaria assegurada: afinal, mais que os nomes, há que se registrar que sua banderia de luta estaria fortalecida e, de fato, saiu fortalecida de todo o episódio.
Em minha opinião, agora mais que nunca, a presidenta Dilma ficou refém do mercado financeiro, razão porque os nomes apontados pela imprensa são o do presidente da Febraban - Federação dos Bancos brasileiros, representante dos interesses do capital financeiro tupiniquim, e presidente do Santander, Fábio Barbosa, ou de Otávio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Ambos, homens oriundos do mercado, um representando adicionalmente um certo vínculo com o capital financeiro internacional. Para um momento de acirramento da crise financeira internacional!!!...
Mas, conquista maior é que, alguns sites já trazem hoje a informação de que, mesmo com a saída de Meirelles, a presidenta irá afirmar ao mercado, quando da indicação de seu sucessor, que irá assegurar a continuidade da política de autonomia do Banco.
Autonomia, no caso, um eufemismo para dizer que o Banco Central prosseguirá subordinando sua atuação aos interesses do setor de capital financeiro nacional, a saber, na prática de juros elevados e preocupação exclusiva com o cumprimento do programa de metas inflacionárias.
***
Enquanto isso, 38,8 bilhões de dólares é o déficit apresentado em conta de transações correntes até o último mês de outubro, 157% superior a igual período do ano passado. A saída de reservas na conta de gastos de viagem, em 10 meses, se equipara a todo o valor do ano passado. Os juros prosseguem em 10,75%, as taxas reais mais altas do mundo e a economia dá sinais de estagnação, com um crescimento de 0%, estimado pela Serasa, no terceiro trimestre em comparação com o trimestre anterior.
O setor industrial se vê ás voltas com ameaças de desindustrialização e a inflação não dá sinais de arrefecimento, justificada entre outros motivos, por problemas de abastecimento de alimentos causado por variações climáticas e elevação da demanda, tanto interna como externamente.
Enquanto isso os balancetes dos bancos mostram lucros exuberantes e o mercado presta justas homenagens a Henrique Meirelles.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Perguntas e dúvidas banais

                                   E se um dia eles viessem e
nos devolvessem as flores de nosso jardim
quem iria regar as plantas
colocar esterco
plantar jasmim?

E se um dia eles viessem
e nos devolvessem os peixinhos
quem iria comprar comida
lavar o aquário
ou contratar a empregada prá limpeza
se encarregando de pagar o seu salário?

E se um dia o condomínio
não se importasse com o cachorro
uivando e ganindo noite adentro
quem iria limpar a urina, o excremento
quem iria recusar a taxa extra?
negar na assembléia a aprovação do aumento?

E se um dia eles viessem
trazendo consigo o trinar de um canário
quem iria comprar o alpiste
lavar a gaiola
trocar a água ou lembrar-se do jiló?

ou se eles nos devolvessem a lua
resplandecente e radiosa dos poetas
frente a nosso mutismo secular
quem teria em casa um espaço livre
quem iria polir a superfície
quem se sacrificaria para que então,
nas noites de breu, frias da terra
jorrasse luz de sua inspiração?

Período de Gestação

Para a mulher-mãe, esse é um período de muita alegria, responsabilidade e, sobretudo, tranquilidade e paz.
O início, a alegria da notícia. Você está grávida!
Saber-se gerando outro ser. Saber que a vida toda que corre em seu corpo, é agora a vida, também de outra pessoa.
Um filho!
Como homem, sei que a alegria é grande e contagiante. Mas a gente só se sente pai a partir do momento em que nasce o filho.
A expectativa do filho, vê-lo mexer no ventre da mãe. Vê-lo tomar forma e acompanhar os exames no período pré-natal, e principalmente, acompanhar os exames de ultra-som, e ouvir o coração bater acelerado são experiências únicas. Mas não se comparam à que a mãe, e só ela, pode experimentar.
Depois da notícia da gravidez, vêm os três meses iniciais de adaptação do corpo. E de azia.
Do quarto mês em frente, vem o período do crescimento e da tranquilidade. Não que as mudanças do organismo, a influência dos hormônios não continuem presentes. Mas esse é, em geral o período de tranquilidade e paz. De desenvolvimento, formação e espera. Externamente, a hora do enxoval. E a hora dos sonhos e sobressaltos, com as primeiras contrações involuntárias, espasmos e chutes.
Do sétimo mês em diante, as dificuldades de locomoção, o cuidado com o sal na alimentação, de modo a evitar algum problema de inchaço e gordura excessiva. A dificuldade de  urinar, contraposta à sensação de estar sempre de bexiga cheia e a necessidade de estar constantemente urinando. Cada vez em menor quantidade. Enjôo? Dificuldade de se locomover e até de dormir? Desconforto? Calor? Dor nas costas? Pés inchados e a necessidade de não ficar muito tempo em pé.
Até a hora do parto e do nascimento.
***
Por não ser mulher, a descrição não é nem pode ser fiel. E, depois de as caçulas estarem se formando, nem a memória poderia ajudar muito mais.
Mas, embora sabendo estar cometendo erros e falhas de julgamento, minha intenção ao tentar uma homenagem às mães é apenas e tão somente, fazer uma analogia com a gestação do governo de nossa primeira mulher presidente do Brasil, a presidenta Dilma.
Analogia que serve para descrever a primeira fase, da notícia, da conquista da vitória eleitoral, da alegria e das comemorações.
Prossegue com os primeiros exames e tomada de consciência da mãe que, finalmente cai em si, e percebe a tremenda responsabilidade que carrega.
***
Estamos agora, no período mais incômodo da gestação: período de alguma azia e desconforto pela adaptação do organismo, que exige a mudança natural de fluidos e hormônios.
Período em que se dá o início do desenvolvimento de células, tecidos, órgãos. Tempo de certa atribulação que, no caso da política confunde-se com a etapa de montagem do governo.
Preparação do organismo, pressões por espaço, disputa por melhores condições e locais para se instalar. Tudo visando chamar mais a atenção e merecer maior visibilidade e condições de sobressair-se e crescer.
Os políticos e partidos, agindo tal qual as células e membros do corpo que se forma, imagino eu.
Em acirrada disputa, intestina, que não chega ao conhecimento exterior, embora pressionando a gestora de todo o processo.
Para nós, meros observadores, calmaria.
No fundo, haja pressão: favores a serem saldados e acordos de campanha a serem cumpridos. Composições de toda espécie e garantia de que a coordenação será assegurada, para o bom desenvolvimento do que está para nascer.
E aí, montada a equipe, vem a etapa de calmaria e espera. E, junto com ele, o fim de ano e as festas. E os votos e desejos de mudança e melhoria no ano novo.

Rimas e métricas

                                                                       No verso solto
quadras alternadas
ritmo frenético
rima intercalada
a,b, a, b
Perdendo a métrica
perdida a inspiração
esquecendo a fórmula
da rima emparelhada:
a,a,b,b.
                                                           Tentando em um poema
                                                           reencontrar - o que?
                                                           talvez aulas do tema
                                                           quem sabe até você?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Das artes

PINTORESCO

Faço um traço
marco o compasso
mas não faço
nem um risco
e arrisco
só pensando
que pintando
iludido
estou num mundo
desconhecido.
Faço um traço
tento um risco
e nem rabisco
sei que faço
mas alegre
vou seguindo
vou pintando
colorindo.

A necessidade de se criar um espaço para o debate de idéias

Meu amigo, colega e mestre na arte da vida, o Torres (já mencionado em nota anterior) me envia uma série de anotações que andou fazendo, a respeito de alguns de algumas de minhas opiniões.
Remete-me também alguns temas que gostaria de discutir e que são sugestões interessantes.
Aos poucos, vou tratando de alguns dos temas.
O primeiro deles gurada relação com a nota em que comentei do estado deplorável de nossas estradas, em minha opinião principalmente devido ao modo de transporte de cargas equivocado que foi adotado em nosso país: o transporte rodoviário.
Mesmo concordando com minha abordagem, o Torres chama a atenção para o fato de que, criticar-se a utilização e privilégio dado a esse tipo de transporte, não pode servir para alimentar uma discussão distinta: a da, digamos, saga pela implantação da indústria automobilística no Brasil, ainda nos tempos do governo JK e do GEIA.
Em minha nota eu já tratara da questão, afirmando que uma economia de industrialização retardatária só poderia promover seu surto desenvolvimentista se adotasse o paradigma que determinava o novo padrão de acumulação dominante nas economias avançadas. E esse paradigma era centrado na energia do petróleo, na produção do aço, na indústria automobilística, entre outras características, o que impunha a necessidade de atrair a indústria de material de rodagem, como um todo, para se instalar em nosso país. Até para queimarmos etapas e recuperarmos o atraso de 50 anos em 5.
Quanto a isso, concordo que não havia alternativas a serem adotadas, como também não discordo do efeito multiplicador da renda e do emprego, que a indústria automobilística ERA capaz de gerar naquele período. ERA, em particular, com relação ao emprego.
***
Mais ainda, há que concordar que nossa malha ferroviária, a que fiz referência citando como o modo preferível a ser utilizado para o transporte pesado e de produtos de baixo valor específico, apresentava todos os problemas possíveis: era obsoleta, de bitolas inadequadas e ultrapassadas, e pior, várias vezes havia mudança de bitola, o que obrigava a interrupções de viagem e até na necessidade de promover o transbordo ou a baldeação de mercadorias e pessoas.
Além disso, o traçado era vinculado à atividade econômica que dominou o padrão de produção da economia brasileira até a virada do século XX, ou seja: o café.
E, para recolher as sacas de café das fazendas dos barões onde estavam armazenadas, de forma a alcançar os portos onde seriam embarcadas, a malha ferroviária não respeitava nenhuma racionalidade em seu traçado.
Ramais ferroviários, de construção comparativamente muito mais caro que as rodovias, e que por esse motivo sempre foram caracterizadas por terem traçado retilíneo nos principais países em que foram muito estendidas tornaram-se no Brasil, a via para o transporte mais flexível. Até por uma questão de disputa de poder e prestígio político, a linha que passava à frente do armazém de um barão, obrigatoriamente deveria passar também pela porta do local onde o café do barão vizinho se encontrava.
Assim, enquanto no resto do mundo as estradas de ferro eram as grandes linhas rígidas que cortavam o território, cabendo ao transporte rodoviário a responsabilidade de servir de alça de ligação, mais flexíveis, até por que baseadas nos auto-móveis, no Brasil, o processo se inverteu. E às rodovias coube o papel de fazer a ligação das grandes distâncias, assim como das pequenas alças.
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São fatos de nosso desenvolvimento histórico, que explicam em parte a péssima qualidade de conservação de nossas estradas e o nível de acidentes, cada vez mais alarmantes.
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Outro ponto que o Torres pede que se abra espaço para discutir é a necessidade de uma reforma política no Brasil.
Deixo para tratar de uma série de questões que ele sugere como tema para debate, e que aqui transcrevo, em outras oportunidades: "reforma política (idem)? Bicamerismo, parlamentarismo, presidencialismo, voto distrital singular ou misto, pluralidade de partidos?"
Apenas a título de provocação e tratando do bicameralismo: se o Senado é da República, enquanto a Câmara é Federal, creio que ao primeiro colégio caberia tratar dos interesses mais amplos da Nação e da Sociedade. À Câmara, caberia a defesa dos interesses de cada Estado da Federação.
O que isso significa? Em minha opinião, que ao Senador não cabe ficar preocupado em ser a voz desse ou daquele Estado, nem defender os interesses do Estado que o elegeu. Senão ele apenas estaria duplicando a atividade do Deputado eleito para essa finalidade. Desnecessariamente.
Para justificar a existência do Senado então, suas funções deveriam ser as de servir como instância responsável por pensar estrategicamente e pensar os grandes modelos e projetos de desenvolvimento para o país. Pensar a longo prazo, o todo. Sem se imiscuir nas disputas de interesses locais, cada vez mais visíveis, na medida em que se descesse do plano estratégico para os níveis de implantação, mais operacionais.
Fica a provocação.