sexta-feira, 30 de março de 2018

Tem que manter isso aí, viu? enquanto isso, o cerco se fecha em torno de temer

Começa a se fechar o cerco em torno de temer, em razão de suas ligações perigosas com empresas do Porto de Santos.
Dessa feita,  atendendo a pedido da Procuradoria Geral e à ordem emitida pelo Ministro Relator do processo relacionado ao favorecimento de empresas do setor portuário, Luís Roberto Barroso, a PF prendeu dois dos mais íntimos amigos do usurpador temer.
Um deles, que ocupou embora por mínimo tempo a função de assessor especial do presidente, Yunes, e outro, o coronel Lima, considerado o principal homem de confiança de temer quando se trata de questões relativas a seus negócios privados.
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A maior pressão sobre o ocupante do Planalto, resultado da maior proximidade das investigações e das prisões da pessoa do usurpador, pode dar origem a nova denúncia contra sua pessoa, justamente em um momento em que a base de governo dá mostras de estar trincada, com vários dos partidos que a compunham já terem decidido por trilharem caminhos próprios, já tendo em vista a proximidade das eleições.
Além do esfacelamento da base, há que se lembrar também que, em razão do momento, ficaria ainda mais difícil e muito mais gravoso, muito mais caro para o país uma nova rodada de negociações de verbas e favores destinados a comprarem a não aprovação, pela casa legislativa, da inclusão do nome do presidente no rol de investigados.
O que é bom lembrar: aprovada e iniciada a investigação o presidente deveria ser afastado do cargo, que deveria ser ocupado pelo presidente da Câmara, já em plena campanha às eleições presidenciais, ou pelo presidente do Senado.
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A questão mais preocupante, do ponto de vista do ocupante ilegítimo do Planalto e sua turma de amigos, não é a possibilidade de que a Câmara tenha tempo de examinar a questão e aprovar ou mais uma vez recusar a possibilidade de início das investigações.
Também para os que gostariam e torcem para assistirem o afastamento de temer, não há motivos para grandes comemorações.
Isso porque uma breve análise do calendário desse início de mês de abril em diante,  sinaliza que dificilmente haverá  tempo hábil para a aceitação da denúncia.
Senão vejamos: mesmo com as prisões já efetuadas nesses últimos dias, e a análise de documentos que venham a ser apreendidos, deverá levar algum tempo para a Procuradoria Geral analisar e decidir pedir o início da investigação de temer.
Mais alguns dias deverão ser consumidos para análises por parte do Ministro Barroso e sua decisão, e alguns outros dias para que sua decisão seja oficiada e recebida pela Câmara.
Dentro daquela casa, também deverá levar algum tempo em análises de Comissões e outros tratamentos que tal medida exige.
Chegamos ao mês de maio e várias manobras podem fazer que as decisões se arrastem até o mês de junho, quando o país para a assistir a Copa do Mundo, inclusive os deputados, alguns deles, divididos entre os jogos e as festas de São João.
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A duração da Copa até julho mostra que um possível retorno do Congresso aconteceria no período de recesso tradicional. Daí em diante, assistiríamos a mais um recesso, dessa vez branco, justificado pelas campanhas eleitorais já em pleno andamento.
A conclusão a que se chega é, pois, de que não deverá haver tempo para a análise e aprovação ou negação de potencial pedido de autorização para investigação do presidente.
Mas, então, qual é o motivo para preocupações nas hostes do usurpador, e qual o motivo de comemoração de seus oponentes, se existir algum?
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A questão é que tudo que descrevemos como eventos possíveis tem lugar no instante em que temer já não ensaia mais, apenas. Mas já dá passos concretos em direção à assumir sua candidatura ao Planalto, levando consigo 6% de intenção de votos, mais alguns percentuais que suas atitudes em relação à questão da militarização do problema da segurança pública no Rio permitirão que ele faça migrar de Bolsonaro para sua chapa, além de dois outros apoios cada vez mais prováveis.
O primeiro do capital financeiro e dos empresários, até de alguns ligados aos meios rurais que, por mais atrasados do país, flertam abertamente com Bolsonaro.
O grande empresariado, já atendido em algumas de suas demandas principais, como a da flexibilização da legislação trabalhista, promovida pela reforma recentemente aprovada. Outra demanda satisfeita é aquela que resultou de sua cobrança por uma redução do tamanho do Estado, por meio da aprovação da lei de fixação do teto de gastos.
Nesse sentido, há que se destacar que tal redução equivale à desmobilização da máquina pública, não apenas daquela parte da máquina que concorre em mercados de interesse de atuação dos setores privados, mas especialmente do esfacelamento dos setores de fiscalização.
Os setores vinculados aos interesses do grande capital já perceberam em temer um mero e subserviente político, inebriado pelos holofotes que tais medidas  podem lhe assegurar, em razão de sua indescritível vaidade.
Ao adotar medidas que atendam aos interesses do grande capital em escala internacional, e do capital nacional a ele associado, como os leilões de áreas de exploração de campos de petróleo (acontecido no dia de ontem, 29 de março), ou da privatização da Eletrobrás e outras, juntam-se os empresários da indústria, do agronegócio e também aqueles que dominam os meios de comunicação para jogar luzes sobre o usurpador.
Do ponto de vista de temer, atingido o objetivo primeiro de ser o centro da ribalta, pouco importa se os principais prejudicados sejam os interesses da nação brasileira.
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O segundo grupo de apoiadores que deverá ficar cada vez mais manifesto é o dos militares, que poderão, para amenizar o fiasco de sua intervenção sem qualquer plano ou estratégia no Rio, exigir que temer os compense, entregando-lhes o poder real sobre os destinos de nosso país. Nesse caso, para não trazer à memória a lembrança de sua última tentativa de governar o país, o que poderia trazer reações até violentas, eles manteriam a figura de temer, como fantoche, à frente do governo.
Como já mostrou que o seu caráter é do tamanho inverso de seu ego, não há como duvidar que temer aceitaria tal arranjo.
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Dada a cada vez mais curiosa disseminação de candidaturas distintas, todas representando um mesmo perfil do eleitorado, cada vez mais desconfio que tal proliferação de concorrentes ao Planalto, segue uma estratégia, que é a de levar ao segundo turno um candidato que atingisse algo entre os 15 a 20%  de votos.
Se essa hipótese for minimamente verdadeira, correríamos o risco de ver temer no segundo turno, contra um Bolsonaro da vida, supondo que Lula não conquistasse o direito de se candidatar.
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Nesse sentido, por mais apoio que temer conseguisse conquistar, explícitos ou não, um pedido de abertura de autorização de investigação poderia representar sempre a figura da espada pendente sobre sua cabeça.
Afinal, a mesma lógica que pode fazer arrastar a análise do pedido em plenário, pode também dar ao pedido uma velocidade e aceleração inéditas.
O que permite, cada vez mais, dar novas interpretações à frase de temer, por não mexer muito em nada que é o comportamento padrão no país.
Ou seja, faz cada vez mais sentido a frase que irá passar para a história:
TEM QUE MANTER ISSO AÍ, VIU?
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Notícias Econômicas

Ia fazer apenas breves comentários sobre a política, para dar tempo de comentar, mesmo que brevemente a medida do Conselho Monetário Nacional, implementada pelo Banco Central, de redução de 40 para 25% do total compulsório de recolhimento de depósitos à vista, para os cofres da Autoridade Monetária.
Medida que altera o valor do multiplicador monetário, e permite aos bancos expandir a oferta de crédito, em linha com a política de redução de juros em andamento e sem perder de vista que temos eleições nesse final de ano.
Comento mais da medida no início do próximo mês de abril, quando voltarmos do feriado da Páscoa.
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No mais, uma Feliz Páscoa para os leitores desse blog. Felicidades.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Que tiro foi esse? Uma análise em busca de seu significado

Até agora foram dois os cadáveres. O primeiro, capaz de provocar comoção até em escala internacional, de Marielle Franco,  vereadora carioca e ativista social, defensora dos direitos humanos, que vinha fazendo denúncias e críticas à atuação da Polícia Militar, dos grupos de milicianos que atuam sob suas vistas, e à intervenção das forças militares no Rio de Janeiro, decretada por temer, como panaceia para os graves problemas de segurança naquela cidade.
O segundo, o de seu motorista, Anderson, morto ao que parece, por estar trabalhando e prestando serviços para  Marielle Franco.
Apesar de discursos indignados, atos de protestos e revolta, busca e divulgação de imagens gravadas por câmeras de segurança, e até um certo destaque dado às mortes por órgãos da imprensa, como a rede Globo, o fato é que até agora, as investigações não conseguiram avançar no sentido de desvendar sejam os motivos da bárbara execução, muito menos os seus autores, o que dirá de seus mandantes.
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Como se não bastassem esses dois corpos, que ficarão insepultos na memória da população até que a Polícia ou as forças de segurança consigam dar uma satisfação à sociedade, parece que o país vive a necessidade de surgimento de mais cadáveres.
Quem sabe, até de um cadáver mais importante, como o de um ex-presidente da República?
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Como as páginas da história de nosso país bonachão e de população ordeira e tolerante não nos deixam esquecer, não foram raras as vezes que a produção de cadáveres foi a forma encontrada para se tentar superar os momentos de crise política e social.
Ao longo do tempo, os registros têm anotado, para ficar nos mais recentes, o cadáver do Major Rubens Vaz, assassinado no célebre atentado da Rua Toneleiros, que alguns acreditam ter tido como alvo o político Carlos Lacerda, e que deflagrou a crise que culminou no suicídio de Getúlio Vargas.
O próprio cadáver de Vargas deve entrar nessa conta, como forma de solucionar a crise, já que como disse o presidente em sua famosa carta testamento, ele optava por deixar a vida para entrar na história.
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A propósito do atentado, apenas uma observação em relação ao alvo de toda a operação: Lacerda não apenas não entregou a arma que portava para ser periciada, como também apareceu engessado, alegando ter sido ferido por um tiro no pé, sendo que nenhuma chapa de raio X, nem qualquer hospital tivesse feito o registro de seu pretenso atendimento.
Mas isso é história e outros conhecem tão bem, ou até melhor que eu desse assunto.
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Embora não computados de forma escancarada, o cadáver de Castelo Branco, cujo jato foi abalroado por um avião de pequeno porte quando sobrevoava o Ceará, talvez também faça parte dessa relação, quando nada pelo inesperado de o piloto, sentado no mesmo lado do ditador militar ter saído incólume do acidente.
Na época, e até depois, dizia-se que Castelo, arrependido, tinha planos para entregar de volta o poder aos civis.
Certo, no entanto, é que sua morte abriu espaço para o recrudescimento da ditadura militar nos idos já longínquos de 1967.
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E também não se computa, mas quem sabe poderia ser incluído no rol de cadáveres famosos, e úteis, os casos quando nada curiosos da morte de Juscelino Kubistscheck, em acidente de carro até hoje questionado; no mesmo período em que João Goulart morria de ataque cardíaco no Uruguai (até hoje há quem afirme que o ex-presidente foi envenenado) e a morte de Carlos Lacerda.
No mesmo período curto de tempo, sobreveio a morte dos três principais líderes civis de nosso país: dois ex-presidentes. A observar: dessa vez Lacerda nada pode ocultar da mídia.
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Não bastasse pois, tantos cadáveres em nossa história, ainda teria que surgir mais um: o de Lula?
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Ainda ontem, comentava que estivéssemos nos Estados Unidos, país que é o sonho de consumo em termos de exemplo de uma grande democracia liberal para a grande maioria dos cidadãos brasileiros, ai daquele que tentasse se aproximar ou pensar em agredir a um ex-presidente da República.
Lá, como se sabe, a Presidência da República é tratada como uma instituição, tratamento que se estende aos seus ocupantes, inclusive aos ex-presidentes.
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Aqui, lembro-me de que o tratamento que nossa falta de educação e de civilidade permitem dispensar é o da agressão, do palavrão, do ataque, da grosseria, do achincalhe, até mesmo nos órgãos da imprensa, que são concessões do Poder público.
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Face à falta de educação notória, e ao espírito amigável do povo brasileiro, essa grande quimera, ou invenção do marketing tupiniquim, de qualidade rasa, lembro-me de já ter tratado aqui, nesse blog, em situações anteriores, de como a seleta plateia de gente de bem e de bom nível cultural e social recebeu e saudou ao cidadão no momento ocupando a cadeira de presidente do país.
Refiro-me ao caso de Dilma nas partidas da seleção brasileira pela Copa das Confederações a que ela tinha a obrigação protocolar de estar presente.
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Sinal de nossa educação cívica e urbanidade foi ouvir as milhares de vozes dos privilegiados que puderam pagar o valor elevadíssimo do ingresso para aqueles jogos; daqueles que tanto se orgulharam de cantar, a uma só voz, e à capela o hino nacional, gritando os palavrões de que conseguiam se lembrar para receber a presidenta.
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Até mesmo eu, ao redigir esse blog, cometo e já cometi outras vezes, a atitude que estou criticando, referindo-me ao usurpador ocupante do Planalto, por temer. Em minúsculas, como foi a forma baixa e traiçoeira que ele usou para tirar a presidenta eleita e permitir que lhe caísse no colo, a presidência. Que ele ocupa ilegitimamente, em minha opinião, razão porque lhe dispenso esse tratamento.
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Mas, já houve outras épocas, mesmo que não tendo admiração expressa pela figura e por seu comportamento político, em que estando em palestra com o presidente Jânio Quadros, não apenas eu, mas toda a turma ouvintes manteve o tratamento de presidente àquele que tinha sido eleito para o cargo, mesmo não tendo respeitado a opinião da ampla maioria do eleitorado e descumprido o mandato recebido.
Isso foi na FGV, São Paulo, no prédio da Av. Nove de Julho, no ano de 1977 ou 78. Tempos em que um mínimo de educação ainda podia ser identificado.
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Pois bem: posso não ter admiração por Fernando Henrique Cardoso, mas merece ser tratado com respeito por todos nós, brasileiros. Mesmo que não necessite disso, já que seu ego é suficiente para dar a ele, toda a atenção e deferência de que é digno.
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Ainda ontem, nesse blog eu comentava das agressões absurdas cometidas contra Lula e sua caravana, pelo sul do país. Uma falta total de respeito, de dignidade, de caráter democrático. Atitude de fascistinhas, aos quais nem se deveria rotular, dado o nível tão torpe e baixo com que tais pessoas se apresentam e se comportam.
Mas, enquanto há vaias, tudo é aceitável. A situação agrava-se quando há barreiras visando impedir o direito que essa turma de vândalos de boutique diz defender: o direito de ir e vir. O direito de manifestar-se livremente.
Coisa que eles só admitem, quando é o direito deles.
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Agrava-se muito a situação, entretanto, quando essa turba de insanos resolve partir para a agressão. Seja atirando objetos, seja atirando ovos.
E antes que me esqueça, para mim valem igualmente, e têm o mesmo desprezo e nojo de minha parte, os que jogam e comemoram ou os idiotas que repercutem as imagens de agressões flagrantes.
Levando em conta essas considerações, tenho de elogiar de público o comportamento de um ex-colega de Banco Central, o Tarcísio, com quem, nas palavras dele, não concordamos em nada, exceto talvez um bom gosto musical.
Tarcísio ontem deixou bastante clara sua opinião de que agressões, seja a Lula ou a qualquer outra pessoa, como as ovações, pedradas, barreiras nas estradas são a mais inequívoca demonstração de nosso baixíssimo nível de civilidade. E merece ser repelido por qualquer um de nós, que mantemos ainda um mínimo de urbanismo, respeito e espírito democrático.
Parabéns, Tarcísio.
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Mas agora a barbárie parece ter tomado conta. E nem foi uma questão de música, mesmo que de qualidade discutível, de Jojo Todynho: Que tiro foi esse?
Foram dois tiros, se não outros mais que não atingiram a lataria dos ônibus.
Tiros disparados pela ignorância e selvageria das pessoas, se é que pode-se chamar de ser humano alguém que se dispõe a cometer tal desatino.
Porque, parece-me, que o quociente de inteligência, o QI, é abaixo do de uma ameba.
Ou alguém em sã consciência acredita mesmo que Lula estaria no interior dos ônibus, e não como até a idade dele indicaria, em algum carro de luxo, mais confortável?
Os tiros nos ônibus não alcançariam o ex-presidente, mas pessoas a ele ligadas, convidados, quem sabe jornalistas, talvez até algum convidado estrangeiro.
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Será que é isso que pretendem os responsáveis pela tentativa de intimidação? Os covardes que se escondem e se protegem pela distância e pela posse das armas? Esses ignorantes que demonstram a todo tempo que não têm argumentos e não sabem, nem podem debater ideias?
Será que se procura é um novo Rubens Vaz?
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Pior: dão munição a Lula para que ele possa desempenhar um dos papeis que todos devemos reconhecer, o ex-presidente sabe exercer como poucos. Dão a Lula a condição de posar de vítima. Que afinal de contas é o que os tiros acabam provocando.
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E só para recordar: um cadáver, qualquer que seja nessa hora, ligado à caravana de Lula trás, além da possibilidade que muitos desejam, de um assanhamento dos militares, também a eleição assegurada de qualquer nome que o PT vier a lançar.
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Enquanto isso...

Bolsonaro dispara no interior do país, mais ligado àquele tipo de capital mais representativo do atraso de nossas elites, o capital agrário.
Que é bom lembrar dos ensinamentos de Caio Prado: é muito eficiente e competitivo, e liberal, e moderno e inovador, nas relações que estabelece com o exterior, local para onde faz escoar sua produção.
Em relação a esses mercados, dá demonstrações inequívocas de estar completamente integrado e atualizado.
Mas, voltado para as relações interiores, aquelas com o meio ambiente, os trabalhadores, o Estado sob suas múltiplas formas, é a representação do atraso mais cabal. Do capital mais predador, e mais incapaz de admitir e reconhecer direitos.
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Pois bem: esse é o público que tem dado, no Centro-Oeste e no interior ou nos grotões das Minas Gerais, a preferência pela plataforma liberal, sofisticada, hodierna e globalizante e globalizadora de que Bolsonaro é um símbolo(?)
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É isso.

terça-feira, 27 de março de 2018

A candidatura de temer. Marielle, presente, ainda que no escuro. Roda viva com moro e agressões a Lula

Como já se podia antever, o golpista, ilegítimo e denunciado temer, anunciou na semana passada, em entrevista a uma revista semanal de circulação nacional sua intenção de se candidatar à reeleição, termo que exige, por si só, uma reflexão.
Afinal, ele não foi eleito para o cargo que ocupa, ao qual só chegou por razões que revelam a dimensão de seu caráter, se alguma.
Logo, estando no cargo por razões obscuras, não é correto dizer que irá tentar se reeleger. Lembre-se que como político em São Paulo, já era difícil para ele alcançar a votação necessária para se eleger para a Câmara de Deputados.
Enfim, como o Brasil anda estranho... Vá lá.
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Seu desejo de se candidatar já vinha se delineando há algum tempo, apesar das pesquisas indicando o nível ridículo - por tão reduzido - de aceitação de seu governo, ou das intenções de votos em seu favor, para ocupar o Planalto. Na casa de 6%, as intenções.
Mas, para quem já se mostrou um arrivista profissional, a tentativa de se lançar candidato não deve causar espanto de nenhuma espécie.
Além de que, é sabido que temer precisa de manter o foro privilegiado, que julgamento que está em curso no Supremo tende a reduzir bastante. O que no seu caso torna a tentativa de chegar ao Planalto uma obrigação.
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Ciente disso, e mesmo que tergiversasse sempre que indagado a cerca de seus planos, temer percebeu que face a sua rejeição, apenas junto a uma reduzida minoria de empresários, a quem cortejou e se curvou durante o tempo de seu mandato ilegítimo ele poderia ter algum apoio.
E, com o discurso de que suas reformas eram benéficas ao crescimento e à retomada econômica do país, talvez - ou justamente- por serem contrárias aos interesses do povo brasileiro, e ainda da necessidade de justificar e defender seu "legado", percebeu que só poderia ampliar seus índices de aceitação se avançasse em direção ao eleitorado de Bolsonaro. Que, com todo o respeito que me merecem seus admiradores, representa tão somente um avanço em direção ao atraso, ao retrocesso.
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Por ser originário da caserna, por fazer parte da considerada bancada da bala, por ter posições bem próximas ao que se poderia definir como autoritárias, misóginas, preconceituosas e desrespeitosas, em síntese, por representar o lado mais tenebroso e sombrio do conservadorismo, o ex-capitão e deputado federal tem grande aceitação entre os eleitores para quem a segurança pública, a ordem e o progresso devem ser a marca do novo governo. Custe o que custar. Ou como diria Collor, "duela a quien duela."
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Pois bem, embora o portador da bandeira da segurança pública, e até, em parte por causa disso, já que segurança exige Estado forte, em tese; mas também por suas origens, Bolsonaro não representa, entretanto, para os grandes donos do dinheiro e do capital, por mais ginástica e contorcionismo que faça em campanha, alguém de visão mais liberal.
O que amedronta os empresários que preferem um menino de recados, vaidoso, mas subserviente e servil, como temer e suas mãozinhas dançantes.
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Para não perder a oportunidade, e a respeito dessas pessoas atraídas pelas posições, discurso, imagem que Bolsonaro passa ou representa, é bom lembrar da frase de Castelo Branco, sempre relembrada por Elio Gaspari: “São as vivandeiras alvoroçadas que vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e causar extravagâncias ao poder militar”
Cito a frase, apenas para mostrar quão enganados podem estar pessoas com até algum grau de informação, quanto ao risco que é estar correndo aos acampamentos (bivaques) militares, para pedir ajuda ou proteção, o que indica quão frágil esses que adotam esse comportamento (as vivandeiras ou no caso os que clamam por segurança, ordem, progresso) indicam se sentirem.
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A frase de Castelo, o primeiro general ditador em 64, revela como as cobiças, nada santas dos militares, podem ser acordadas, quando o povo mostra que precisa de ser tutelado.
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Também é bom lembrar a mensagem de PROPAGANDA (desculpas pelo "grito") que tem circulado no canal Justiça (7 da Net, aqui em Belo Horizonte), sobre o Supremo Tribunal Militar, especialmente no trecho em que diz: o princípio da sociedade civil é a liberdade, enquanto as bases das ... (forças militares) é a disciplina e a hierarquia.
Para entendedor, meia palavra basta. Mas, é necessário ainda acrescentar que prefiro a liberdade, sempre, mesmo que desorganizada, e às vezes resultando em situações contrárias a minha vontade, que a obrigação de fazer parte a ordem unida. Autoritária, mesquinha e que não reconhece a capacidade das pessoas de se organizarem e resolverem suas pendências e problemas.
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Voltemos a temer, e ao bote que protagonizou em direção aos eleitores de Bolsonaro, ao decretar o arremedo de intervenção, já chamada de intervenção meia boca, no Rio de Janeiro.
Como se sabe, a intervenção uma vez decretada em algum estado da União, ou é total ou é uma farsa. Mas, apesar disso, temer conseguiu decretar , contando com o silêncio cúmplice de quem deve zelar pelo cumprimento da Constituição, uma intervenção parcial, apenas na Segurança Pública. Militarizando ainda mais uma questão, a da segurança no Rio, já suficientemente militarizada, sem qualquer sucesso, embora sem também qualquer e semelhante alarde.
Tal atitude revelava já, desde seu início e por sua forma, que temer apenas tentava avançar e abocanhar a parcela de 14% indicada nas pesquisas de intenções de votos em Bolsonaro, deixando o militar sem bandeira.
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Muitos interpretaram tal decisão do Planalto como um meio de paralisar - para não sofrer derrota acachapante - a tramitação da reforma da Previdência. Como foi suficientemente divulgado, a decretação de uma intervenção impede qualquer alteração da Constituição.
Para rebater esse argumento, lembre-se que o Angorá, ops moreira franco, o ministro que pôde - ao contrário de Lula - ser indicado para um cargo para obter foro privilegiado (pelas graças do STF em ambos os casos, da proibição de Gilmar Mendes à posse de Lula e, depois pela aceitação da corte da indicação e posse de moreira).
Disse moreira franco que a intervenção foi uma jogada de mestre, o que já deveria servir para indicar seu objetivo mais político eleitoreiro, que em qualquer outra acepção do termo político.
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E não deu outra, de lá para cá, temer vem cada vez mais reconhecendo que a defesa de toda a sua grande contribuição - que acho que é no sentido de derrubar qualquer interesse das camadas menos privilegiadas da população de ter vez, voto e voz, precisa de que ele seja o candidato.
O que é curioso: afinal, do mesmo lado e dividindo o espectro político se encontram, Rodrigo Maia, o próprio temer, Paulo Rabelo de Castro, o presidente e dono das lojas Riachuelo, Bolsonaro (exceto se vier a radicalizar ainda mais seu discurso) e agora, até Meirelles.
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Se nas hostes da esquerda, critica-se a divisão sempre presente, há algo curioso em quadro tão multifacetado do centro-direita.
A ver, se e quem dura e chega até lá, a corrida eleitoral.
Mas que o discurso é ruim, e pobre e reducionista, mostra a intervenção no Rio.
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Marielle - presente e sem notícias

Já temos hoje duas semanas, da morte física, de encomenda de Marielle e de seu motorista, Anderson.
Hoje, dia 27, completam-se 13 dias de total falta de avanços nas investigações, o que não deveria causar surpresas a ninguém.
Sabemos todos que Marielle é daqueles tipos de crimes que, por terem forças poderosas por trás, devem cair no esquecimento.
Caso a pressão popular, até mundial, se torne muito grande, arruma-se um bode expiatório qualquer, dentre vários que estão aí, aos milhares, pelas páginas de nossa História do Brasil.
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Apesar do silêncio das autoridades, hoje e sempre, Marielle, seus ideais estarão presentes.
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Moro no Roda Viva

Lamentavelmente, em minha opinião, já pessoas que dão voz aos moros da vida.
Mas que é interessante ver um juiz menos qualificado querer ensinar como votar aos juízes do Supremo, não há dúvida que é. No mínimo engraçado.
Embora o juiz tenha, em seu discursinho cerca lourenço, feito menção que, a questão da prisão em segunda instância não é um problema relacionado à situação do ex-presidente Lula.
E tenha dito que seria uma pena, um retrocesso, que caia a decisão de prisão, porque beneficiaria a vários sentenciados que já estão cumprindo pena e sem as benesses da impunidade que sempre foi a tônica no nosso país.
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Nada a obstar quanto a isso, de que ele já sentenciou várias pessoas, embora não se tenha notícia de ninguém do PSDB ou da série de amigos com quem moro frequenta festas, eventos e homenagens, todos também réus ou indiciados, mas que, por azar talvez, não sejam vinculados a Lula e a partidos que compuseram o governo do petista.
Ok. Cada um julga como sua consciência determina.
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Mas, é verdade e acho estranha a posição do juiz, contrária o cumprimento da lei. Aliás, da lei maior, a Constituição, que determina a presunção de inocência. Ou seja, enquanto houver a possibilidade de recurso, não há trânsito em julgado, nem poderia haver prisão.
A questão central é que, tendo sido preso e depois reconhecida a inocência de quem quer que seja, o tempo perdido na prisão não é algo que possa ser recuperado. É perda que nada será capaz de sanar. Nem indenizações milionárias.
E isso vale para todos nós, cidadãos comuns do país. Não se trata, nem poderia ser, de uma questão de Lula.
O problema é muito mais amplo, e fulanizá-lo apenas o reduz, indevidamente.
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Mas, é forçoso reconhecer que se o juiz erra ao pregar, por interesses que lhe são caros, que a Constituição seja desrespeitada, em sua intenção, é verdade que quem quiser que a prisão passe a se dar em segunda instância deve fazer um movimento para que a Constituição seja emendada, ou seja, alterada nesse ponto específico.
Nisso moro está com a razão. Compete a cada um pressionar ao seu deputado ou representante, para que uma Emenda possa ser votada.
DEPOIS DA INTERVENÇÃO NO RIO, né, moro?
O que não atingiria nem a Lula, nem aos vários outros que sua sanha de punição tem alcançado.
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Shows espetaculares

Não poderia deixar de fazer referência a dois shows realizados aqui em BH, nesse final de semana.
O de Simone encontra (o sempre bom) Ivan Lins, com músicas sempre atuais, já que nosso país parece sempre estar andando em círculos.
Mas, merece meu destaque, o showzaço de Steve Hackett, ex Gênesis, mostrando porque a banda britânica foi e alcançou o sucesso que conquistou, e porque marcou tantas gerações.
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Pena que as gerações de hoje não tenham mais artistas capazes de fazerem rock da qualidade de Hackett que é o que se poderia chamar de som para ninguém por defeito.
Pena que o Palácio das Artes, embora muito bom, talvez tenha sido pequeno para o tamanho do som de Hackett.
No mais, elogiar também aos seus músicos, espetaculares. E ao Nad Sylvan, o sensacional cantor que tem acompanhado a banda de Hackett.
Imperdível. Para guardar para sempre na memória.
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E a reação à caravana de Lula no Sul


Fosse em outro país, como os Estados Unidos, a forma com que um ex-presidente foi tratado seria já considerada criminosa, independente de quaisquer outras considerações.
Aqui no Brasil, agressões a Lula e ao seu giro pelo país, têm recebido de todo o tipo de "democratas das SS" uma manifestação que faria corar de vergonha qualquer pessoa minimamente educada, politizada, e verdadeiramente democrática.
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Pior: quem tem manifestado apoio a atos de agressão, selvageria e barbárie, são políticos, senadores, deputados, e até professores, que só mostram que não é um verniz de cultura, formação até humanista, e etc. que irá transformar alguns tipos de animais em seres humanos.
Afinal, se se recicla lixo, é forçoso reconhecer que não se deve utilizar material reciclado para todo tipo de finalidade.
Ainda assim, infelizmente, não se recicla caráter, nem formação, nem seres humanos.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Queda da Selic, consequências possíveis para a economia e o Ultimate Fighting no STF

Reunido ontem, o COPOM decidiu promover mais uma redução da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.
A medida, que contraria as indicações do próprio colegiado no sentido de que teria chegado ao fim o período de reduções da taxa já era esperado pelo mercado, ou precificado pelo mercado, conforme o jargão dos profissionais da área.
Curioso é verificar que não apenas já esperavam, mas os analistas de mercado conseguiram até mesmo acertar o percentual da redução e, consequentemente, a nova taxa: de 6,5%. A menor taxa em toda a história do regime de metas do país.
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A primeira reflexão que faço é relativa ao comportamento da imprensa, da midia como um todo, em relação à decisão da Autoridade Monetária.
Isso porque, em 2011, quando Alexandre Tombini, então presidente do Banco Central, presidiu uma reunião responsável pela redução da Selic, pegando todo o mercado desprevenido e, provavelmente provocando perdas  às instituições financeiras que apostavam na direção contrária, a imprensa e as vozes do mercado imediatamente vieram a público criticar a medida.
Segundo eles, a redução havia sido uma ordem dada pelo Planalto ao BC, um sinal flagrante da ausência de autonomia do Banco e de seu presidente, que passou a ser apelidado de Pombini (de forma a ironizar sua passividade!).
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Agora, com o golpista temer no lugar de Dilma, e com um reconhecido homem do mercado no lugar de Tombini, ninguém se manifesta e todos elogiam a autonomia. Autonomia talvez em relação ao governo (desgoverno temer), mas não em relação aos mercados.
Na verdade, cada vez mais o Banco Central mostra ter sido capturado pelo mercado e seus interesses não necessariamente populares.
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No caso específico, da redução da Selic para 6,5%, é inegável que a população até se sente beneficiada.
Afinal, com a redução do custo do dinheiro, os bancos poderão promover redução nas taxas de crédito ao consumidor, em suas várias linhas de operação, como alguns grandes bancos já se comprometeram a fazer ou estão anunciando em propaganda.
Nitidamente, isso interessa à grande maioria das famílias, endividadas, que poderão renegociar dívidas barateando o custo de sua obrigação.
Outras, poderão voltar às compras, depois de 3 anos se privando de compras de bens de maior valor, como resultado da crise vivida pelo país.
Logo, a redução de juros sinaliza uma nova etapa de incentivo ao consumo, e também a alguma decisão de investimento, embora em menor escala.
Isso porque o investimento não depende, necessariamente apenas do custo do dinheiro a ser gasto, mas da rentabilidade esperada, do grau de confiança dos empresários no comportamento da economia e, nos tempos atuais, do ambiente político tendo em vista as eleições. Mantendo-nos no âmbito da economia apenas, há que se recordar como vários economistas têm assinalado que há um grau de ociosidade muito elevado na indústria, e que empresários racionais não farão inversões para ampliar o grau de capacidade sem utilização.
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Isso significa que o crescimento da economia, em bases sólidas, continuará reduzido. Significa que a retomada não será sustentada, ou algo para se apostar, no curto e médio prazo, e que o consumo será, mais uma vez o carro chefe da recuperação.
Ou seja: o que era o fator responsável pelo crescimento econômico tão criticado nos governos Lula e Dilma - o consumo, volta a ser o carro chefe de nossa reação. Só que agora, com aplausos e elogios.
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Nesse sentido, dá até para se questionar se o Copom não promoveu nova redução dos juros, e deu alento ao consumo, em acordo com as necessidades do ocupante ilegítimo do Planalto, que já reconheceu, nos últimos dias, sua provável candidatura à reeleição.
Apenas que, com o grau de aprovação de seu (des)governo no chão, só mesmo com os efeitos de piroctenia da intervenção parcial na segurança do Rio, e agora, algum estímulo ao consumo, temer pode acalentar tais sonhos.
O que nos leva a questionar se há tanta autonomia assim, do BC em relação não só aos mercados, mas também ao ocupante do Planalto. Nesse caso, um ocupante que nada mais é que menino de recado dos interesses empresariais junto à sociedade brasileira.
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A Selic caiu também por que o PIB de janeiro caiu, apresentando comportamento negativo, o que pode provocar uma grande frustração em relação às previsões da taxa de crescimento da economia para esse 2018.
Em janeiro, a variação foi de algo próximo de -0,5%, levando muita gente a duvidar de um crescimento de 3%.
Além disso, a inflação em fevereiro, a menor em muitos anos para o mês, indica que no acumulado do ano, ainda estamos abaixo do limite inferior da meta de inflação prometida.
Logo, há espaço para que a inflação possa subir alguns pontos, ainda mais sabendo-se que qualquer estímulo à elevação da demanda pode ser atendida apenas por recuperação do grau de utilização da capacidade instalada, o que não acarreta elevação de preços.
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Uma observação adicional é a de que a Selic cai no mesmo dia em que o FED anuncia uma elevação das taxas de juros básicas nos Estados Unidos, de 0,25%, com as taxas situando-se entre 1,5 e 1,75%.
Ora, se no passado essa elevação da taxa americana iria gerar uma correria para elevar nossa taxa de juros, hoje a situação é contrária.
E reduzir a Selic favorece a que alguns aplicadores prefiram tirar dinheiro de aplicações em nosso país, para aplicar nas taxas, agora mais rentáveis e sempre mais seguras, dos títulos americanos.
Como isso provoca uma desvalorização do real, tal medida ainda poderá, de quebra ajudar nosso setor exportador, que vem sendo o responsável pelo soluço do PIB, que alcançou 1% de crescimento no ano passado.
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Maiores exportações podem ser uma forma de dar alento à economia, ainda mais em momento em que as medidas protecionistas de Trump, em relação ao aço, em especial, poderiam trazer problemas, não na balança comercial, mas para a expectativa de crescimento e de emprego.
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É verdade que o FED apenas rosnou, ontem, decepcionando aqueles que esperavam uma política monetária mais agressiva. O que explica porque a cotação do dólar voltou a cair ontem, no Brasil e em todo mundo.
E serve também para justificar porque alguns analistas acreditam que o fluxo de recursos para o Brasil não deverá ser afetado, o que significa que se a Selic não caísse, a estabilidade do câmbio poderia dar lugar a uma valorização de nossa moeda, agravando mais ainda a situação de nossas exportações e nossa demanda agregada e nossa recuperação.
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Supremo bate boca e julga hoje o destino de Lula

Depois de mais uma de suas intervenções destemperadas, em que aproveitou para disparar sua metralhadora giratória, contra tudo e todos, inclusive seus colegas de Supremo, Gilmar Mendes, acabou tendo que se defrontar com a reação inesperada de Barroso.
Reação até tardia, tendo em vista outras agressões de que o ministro foi vítima, algumas pela imprensa, o que mostra como gilmar mendes consegue ser deselegante, além de todas as outras impressões que ele transmite  e que o leva a ser mal visto pela grande maioria da população que clama por seu impeachment.
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Mas, é bom lembrar que, por mais deselegante que possa ser e ter sido ontem, ao tecer críticas ao comportamento da presidente da Corte e sua forma de pautar os temas a irem ao plenário, ele acabou fortalecendo a tese da defesa de Lula.
Como ao criticar Fux, falou verdades a respeito do abuso que tem se transformado a questão dos penduricalhos dos magistrados e, pior, de todas as categorias que pegam carona nas benesses dos juízes.
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O que parece ser uma manobra para não parecer, como tradicionalmente o faz, que apenas julga de acordo com seus interesses pessoais e políticos, apenas salvando os amigos, sem qualquer preocupação em fazer justiça.
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Ocorre que, mesmo no Ultimate Fighting ridículo que o Supremo tem se tornado, é mais que compreensível a reação emocional de quem sempre tem sido vítima de agressões causadas por laivos de psicopatia de gilmar.
Nesse caso eu, como a grande maioria da população parece fazer, torcemos para Barroso.
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E hoje o STF tem a oportunidade de mostrar se é mesmo garantista, como diz Marco Aurélio Mello, e aplica a Constituição em sua integralidade, ou se ao contrário, é um colegiado que se deixa levar pela opinião pública sempre manipulada por grupos de interesses.
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É sempre bom lembrar que a Constituição parte da presunção da inocência, e que assegura que até o trânsito em julgado em última instância, não há como considerar o réu culpado, sob pena de a presunção de inocência ir para o ralo.
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Logo, ou a Globo faz o movimento todo que é capaz de fazer para influenciar e manipular e obter a satisfação de suas vontades, para alterar a Constituição, no que diz respeito a essa questão, o que nem sei se pode ser alterado, caso seja uma das cláusulas pétreas, ou não pode prosperar essa ideia aprovada em votação anterior do STF, pela votação apertada de 6 a 5.
É bom que se diga, nada, necessariamente a ver com Lula, embora ele possa ser um dos beneficiários da discussão e até revisão da decisão.
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E nem é só Lula. Há tantos outros, vários da Lava-Jato, que temos visto o absurdo criticado pelo ministro Mello, de procuradores e até um juiz de menor envergadura, como moro, vir a recomendar a manutenção da possibilidade de prisão em segunda instância.
No caso de moro, talvez apenas como caixa de ressonância dos anseios da rede Globo.
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É isso.

terça-feira, 20 de março de 2018

Uma reflexão entre o mal maior: as fakenews e postagens nas redes sociais, às claras, ou as insinuações com levantamento de suspeições de forma apenas velada

Ainda ontem criticava as mensagens postadas nas redes sociais, e seus autores, que de maneira torpe procuravam divulgar inverdades, com o objetivo de cometerem o segundo assassinato de uma mesma pessoa: a morte de sua lembrança, de sua reputação, de suas atitudes, de sua mensagem. Tudo buscando completar o assassinato covarde do ser humano, agora por meio da tentativa de assassinato do mito.
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Mas, mesmo não querendo admitir, e por mais que considere todos os autores dessas mensagens exemplos de meros desclassificados morais, que nem mereceriam a nossa atenção, a verdade é que há ainda um tipo pior de comportamento, que é o daqueles que, embora tentem, com o mesmo objetivo e interesses, macular a vida de pessoas como a vereadora Marielle, não têm sequer a coragem de manifestar suas vis opiniões, de forma aberta, transparente.
Nesse sentido, embora totalmente sujeitos à recriminação e sanções morais e sociais, acho menos condenáveis o deputado do DEM de Brasília, a desembargadora ou o delegado do Nordeste que tentaram jogar lama na vida e obra de Marielle, que pessoas cujo discurso é exatamente o mesmo, de teor idêntico, mas disfarçados sob o manto dos comentários positivos sobre a vítima, apenas que entremeados de senões, dúvidas, questões apresentadas como quem não quer nada.
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Tive ontem o dissabor de ouvir, em programa vespertino de rádio que não merece ser citado, um desses personagens que, à guisa de tratar "jornalisticamente" do caso do terrível assassinato, condenou a falta de segurança pública na cidade do Rio, para comentar, em seguida que a vereadora morta era uma representante política que defendia os direitos humanos.
Ato contínuo, comentou que, por ser uma moradora do complexo da Maré talvez detivesse algum tipo de informação ou soubesse de fatos que não costumam vir ao conhecimento da sociedade civil.
Fatos e situações que ela poderia ter testemunhado, transformando-se em uma ameaça ambulante aos interesses criminosos que os amparavam ou praticavam.
Tudo estaria bem, e de acordo com a principal linha de investigação da Polícia, de que Marielle fora executada por estar denunciando crimes e abusos cometidos seja por policiais, por milicianos, todos simples bandidos, não fosse o "repórter" lançar ao ar uma segunda linha de investigação da Polícia, no caso.
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Visando desinformar e distorcer mais que informar e dar a conhecer ao seu público a verdade, o tal repórter informou que a segunda linha de investigação seria a morte por execução, justificada pelo fato de a vereadora não ter honrado certos acordos com os bandidos da comunidade, por certo.
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Em minha opinião, a linha de investigação é a mesma: execução. A identificação da autoria, claramente dependente da motivação é que leva à possibilidade de uma ma alternativa. Os autores ou mandantes da chacina ou são policiais e milicianos, a quem a vereadora estaria denunciando e, cada vez mais identificando como beneficiários do regime de exceção que a intervenção na segurança pública instalou no Rio, ou seriam bandidos, com acordos - sabe-se lá quais?- não cumpridos pela vereadora.
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Verificado em suas linhas gerais, a ideia que passa tal comentário complementar, é a mesma de quem postou que a vítima tivera sido casada com um conhecido traficante. No fundo, a ideia é, mais uma vez, desconstruir a vítima, como se ela, por ser criminosa merecesse o castigo que lhe foi aplicado, a pena que lhe foi imputada.
Só que esse locutor/apresentador nem teve a coragem de manifestar às claras  seu pensamento doentio.
Mas não ficou apenas nesse comentário. O infeliz ainda prosseguiu nos comentários para afirmar que a vereadora se fazia passar por representante popular da comunidade, mas que o mapa de sua votação mostrava que ela tinha tido muito poucos votos na Rocinha ou na própria Maré. Votos que não superavam uma centena. Ao contrário de sua votação - até expressiva, no Leblon, em Copacabana e, principalmente na Tijuca, onde obteve quase 7 mil votos.
Ou seja, ela representava interesses vinculados à classe média, de maior poder aquisitivo da cidade do Rio, e até isso deveria ser questionado.
Afinal, segundo o infame, essa situação apresentada pelo mapa de votação na cidade, deveria levar ao questionamento do mandato popular de Marielle.
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Ou seja, como no início as críticas a Marielle foram dirigidas ao fato de ela ser pobre, mulher, negra, moradora de uma comunidade de  mesmas características que as suas, e aos poucos as mentiras que a ligavam com bandidos, foram caindo por terra, a mente poluída de certas pessoas passou a procurar manchar sua história e a de suas lutas, justamente pela postura contrária.
Agora, Marielle era uma mulher negra, pobre, mas representante de bairros ricos. Como ricos não se fazem representar por pessoas como Marielle, a lógica canhestra indica que Marielle deveria representar aquele lado trágico do morro, que se comunica e negocia e até trafica com as fraquezas das infelizes vítimas  bem nascidas do Rio.
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No seu afã de falar mal, escudado pela série de insinuações lançadas ao ar,  mais que pela exposição de seu pensamento real, o apresentador ao propor questionar o mandato popular de Marielle, nem percebeu que mandato popular significa conferido pelo povo, sem distinção de qualquer espécie. E não como talvez ele tenha imaginado em seu preconceito, que representasse representação de pobres. Esses bastante populares no nosso país.
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Em relação à política

Mudando de assunto, começam a surgir os lançamentos das primeiras pré-candidaturas dos pesos pesados que dominam nosso cenário político.
Em São Paulo, o PSDB lança, mesmo a contragosto do presidente nacional do partido e dos eleitores que o elegeram prefeito - para ficar até o final do mandato, o nome de Dória para candidato ao Bandeirantes.
Fato que não deveria surpreender a ninguém, já que o carreirista e oportunista que Dória sempre mostrou ser, não chegou a governar a cidade de São Paulo, servindo muito mais como seu antigo programa televisivo, para dar espaço para um marketing pessoal, de qualidade duvidosa.
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Tanto que, além de elevar a velocidade nas principais marginais de São Paulo, o que contribuiu com uma nova aceleração do número de acidentes, e de promover mudanças em manifestações culturais em São Paulo, alijando grande parte do povo do acesso a shows e programações, o que se tem de sua lembrança é sua apresentação teatral, como gari.
Aliás, papel bem adequado para uma pessoa que se mostrou um verdadeiro lixo, como prefeito.
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De Dória e de seu programa Show Business, a propósito, guardo apenas a lembrança de uma fala de Jorge Kajuru no programa em que foi entrevistado na ESPN, quando disse que o prefeito cobrava de seus convidados, pela participação como entrevistados.
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Em Minas, para concorrer com o dono da caneta ou o candidato do Partido do Palácio da Liberdade, o várias vezes acusado de corrupção, Pimentel, o PSDB lançou o não menos suspeito de obtenção de vantagens indevidas, Anastasia. No caso de Anastasia, as suspeições dizem respeito a terras pretensamente de sua propriedade, beneficiadas pela construção do monstrengo da Cidade Administrativa.
Recentemente, o senador, responsável pelo relatório que deu guarida à instalação do processo contra a  presidenta Dilma, que culminou com seu impeachment político, tem procurado evitar os holofotes, possivelmente com medo de que respingue nele, considerado tão honrado, alguma sujeira patrocinada pelo seu mentor político, o relegado ao ostracismo aecim.
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Rodrigo Pacheco pelo DEM, também com participação na farsa do impeachment de Dilma, e Márcio Lacerda, um ex-prefeito que ganhou muito dinheiro nos tempos da ditadura militar, em que tinha uma empresa na área de telecomunicações, são outros que ainda darão muito o que falar, o que promete esquentar o ambiente e nossos próximos meses.
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É isso.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Considerações sobre a morte e sobre a tentativa de matar os símbolos

A morte da vereadora Marielle, bárbara por si só, pelas circunstâncias e motivação, parece não ter sido o bastante.
Era preciso tentar matar o símbolo em que, mesmo involuntariamente, ela se transforma.
É preciso silenciar sua mensagem e seu exemplo.
Daí porque só o significado da morte - um aviso para todos os que quiserem manter acesa a chama da indignação e a luta contra a discriminação; contra a opressão e o desrespeito; a favor da manutenção dos direitos humanos, tão óbvios - não é suficiente.
Sabe-se, há muito tempo, o poder e o impacto que a criação de um cadáver produz do ponto de vista político.
Várias vezes, o tiro acaba saindo pela culatra e ao invés de alcançar sua finalidade original, as mortes por encomenda fortalecem seu contrário.
Só essa a explicação para a brutal campanha, sempre com o apoio das redes sociais e de seus muito pouco esclarecidos seguidores, visando a desmoralização de Marielle.
Só entendendo o medo provocado pelo surgimento de um fantasma que nem a morte mais pode calar, e a verdadeira face de nosso país, sempre apresentado como cordato e bonachão, mas sempre pronto a disseminar o ódio e a vingança, dá para entender a sordidez capaz de justificar as mensagens de ódio e tentativas de desconstrução da imagem da vereadora carioca.
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Pois agora, no UOL, vem a notícia, mais uma, que dá conta de que nada do que levantaram de falsidade, consegue se fixar na vereadora. Marielle não apenas não teve filha com a idade citada, como não foi casada com marginal, e se teve um tratamento decente com bandidos (também eles seres humanos dignos de tratamento justo), também o teve com outras vítimas da violência de que o Rio é apenas vitrine.
A notícia mais recente é a de que a maior parte da votação da "cria da Maré" veio das áreas mais nobres da cidade, o que desmonta mais uma das acusações torpes levantadas pelos mal intencionados de sempre.
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Ao ver o desenrolar de tal situação, e a sequência de atos abusivos a que ela vem dando margem, volta-me a dúvida, já manifesta nesse blog, das razões de nossa violência tão visceral, embora tão disfarçada.
Já tive a oportunidade de lembrar aqui que, desde a escravidão, nunca fomos o país de gente acolhedora, gentil e solidária que nos tentam impingir. Somos um país de gente solidária apenas quando se trata de problemas que envolvam pessoas que pertençam a uma mesma classe, a que julgamos fazer parte. Ou, especialmente, em relação àqueles que, por estarem em situação mais privilegiada podem fazer com que nossas ações positivas rendam dividendos de espécie variada.
Nesse sentido, envolvidos em um ambiente de miséria, pobreza e indigência mental, na maioria das vezes, ter um gesto de solidariedade, em relação a qualquer outro ser humano já é pretexto para acusações das mais vis.
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Já há muito tempo, por exemplo, a acusação de ser protetor de bandidos, ou passar a mão na cabeça de marginais, tem sido usada contra aqueles que dizem tão somente o óbvio: que se puna o criminoso, mas que se trate com respeito o ser humano ali existente.
O que me faz lembrar da frase que assisti em um documentário sobre o Dr. Sobral Pinto, onde ele afirmava ter adotado o lema do cristianismo: odiar o pecado e amar o pecador.
Para o Dr. Sobral, antes de mais nada, criminoso ou não, todo homem merecia ser tratado como ser humano e ter seus direitos de cidadão respeitados.
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Razão porque ele se prontificou a defender a um cidadão alemão, comunista, cujos pontos de vista eram antagônicos aos que ele acreditava, Harry Berger.
Preso pelas forças do Estado Novo de Getúlio, e torturado barbaramente, o Dr. Sobral Pinto redigiu uma petição ao juiz solicitando que fosse aplicada, em favor de seu cliente, o artigo 14 da lei de Proteção aos Animais, o que representaria um tratamento humanitário ao prisioneiro.
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Pois bem, embora não conhecesse a vereadora assassinada, a verdade é que custo a crer que o fato de uma mulher ter sido mãe solteira, fosse com que idade fosse; ou ainda ter utilizado drogas, em sua juventude; ou ainda ter crescido em um meio onde ser bandido é até sinal de prestígio e status, o que justifica o séquito de meninas correndo atrás de tais marginais; mas custo a crer que isso não seria mais que suficiente para, ao invés de depreciar, apenas mostrar como uma pessoa de boa índole, é capaz de virar o jogo e, mesmo com todas as circunstâncias contra seu crescimento pessoal, se tornar mais que uma cidadã de respeito, um símbolo, uma bandeira na luta por igualdade.
MARIELLE NÃO ERA NADA DISSO, QUE AS FAKENEWS DIVULGARAM.
Mas se tivesse sido, na sua juventude, ainda assim, não haveria motivo para que os mal intencionados de sempre corressem para reproduzir essas histórias, que apenas teriam realçado seu valor.
Afinal, como consta da Bíblia, atire a primeira pedra, quem nunca cometeu um pecado.
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Por falar nessa situação, a Folha ontem, domingo, deu destaque, a meu juízo merecido, a uma ex-viciada, que tendo conseguido abandonar o vício das drogas, presta hoje serviços de assistência e apoio, por conta própria, para outros seres que ainda não tiveram a força de superação que ela teve e que a transforma, também, em símbolo.
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sexta-feira, 16 de março de 2018

Um Brasil militarizado - Prenúncio ou Intuição?

Depois de sete anos ininterruptos de blog, e sem aviso prévio, resolvi fazer o que poderia ser chamado de período sabático, destinado ao descanso e à reflexão, tão necessária nesses tempos conturbados e polarizados por que passa o país e o mundo. Nesse tempo, achei por bem não fazer qualquer postagem, nem comentário sobre nenhum assunto, mesmo aqueles que pudessem ter alguma relevância, para desgosto e queixas de alguns poucos amigos. 
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Quis o destino que eu decidisse retomar as postagens com o discurso que proferi, como paraninfo, de mais uma turma que colava grau como bacharéis em Ciências Econômicas, pelo Centro Universitário Una, na noite de 14 de março, quarta feira última.
O tema do discurso, infelizmente, tratava da militarização a que estamos assistindo em nosso país, especialmente, a partir da intervenção parcial promovida pelo governo federal, apenas relativa às questões de segurança pública no Rio de Janeiro.
Desgraçadamente, enquanto eu discursava, era assassinada naquela cidade maravilhosa, de forma covarde e brutal, a vereadora Marielle Franco, a guerreira em prol das lutas e defesa dos direitos humanos. 
Premonição ou intuição?
Não sei. E gostaria de poder voltar atrás, se não para evitar a coincidência, ou a previsão sombria, para que a voz da mulher negra da Maré não fosse calada de forma tão vil.
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Publico abaixo o discurso como previsto inicialmente, e retomo o blog. Como forma de demonstrar que sua voz não foi silenciada em vão. 
Outras vozes surgirão e ecoarão o discurso sempre necessário de Marielle. 
Até que o país seja o que nós brasileiros sonhamos.
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Eis o texto:

O Brasil que eu quero é um país em que todos os jovens, mulheres, homens, tenham a liberdade de sonhar, a possibilidade de estudar e a felicidade de, um dia, participarem de uma festa de colação de grau, como a desta noite. Alguns de vocês,  provavelmente sendo os primeiros de suas famílias a avançarem nos estudos e a concluí-los.
O Brasil em que cada um, possa ter a força, o apoio moral ou financeiro, o estímulo, o exemplo que lhes foi transmitido por seus pais, avós, amigos, namoradas/namorados, mulheres e maridos, companheiros, que apenas ilustra, independente do grau formal de instrução de cada um deles, a sabedoria e o conhecimento que  a vida lhes permitiu acumular.
Um país que tenha maior respeito por todos os seus cidadãos: pretos, pobres, letrados ou analfabetos, ricos, brancos, mulheres, homens ou transexuais; católicos, crentes, evangélicos, judeus, kardecistas, umbandistas ou ateus; moradores em palácios e mansões, ou cidadãos sem teto.
Aliás, quero não! Exijo. Um Brasil em que todos possam se manifestar: ter voz e serem ouvidos. Em que a dignidade seja a condição primeira de tratamento dispensado a todos os nossos semelhantes. Onde a democracia seja plena e os direitos respeitados em sua integralidade.

Não quero um Brasil tutelado por ídolos, heróis, santos, pela mídia ou pelos donos do saber, fardados ou não.  Nem dominado pelos militares, e pela força das armas.
Vindo para essa solenidade, na condição de paraninfo, passou por minha cabeça a ideia de que essa homenagem que me fizeram meus afilhados, agora colegas, representa em parte um reconhecimento, em parte uma punição. Afinal, ser paraninfo é ter que preparar e lecionar uma última aula, quando todos estão festejando.
Sem ter a certeza de ser a pessoa mais indicada para ministrar aula de tamanha importância, começo alertando-os, à moda de Manoel de Barros, que
“Tenho o privilégio de não saber quase tudo.
 E isso explica...
o resto.”
Também pude observar, pesaroso, como nosso país foi ficando mais pobre com o passar do tempo, com a perda de pessoas que orgulhariam a qualquer um de nós, seus conterrâneos e que não têm nem mesmo sua memória e história cultuada. Afinal, se hoje fui eu o indicado como paraninfo, há aproximadamente 50 anos, nos dias da assinatura do famigerado AI-5, que liquidava com todos os direitos civis e as liberdades individuais no país, uma turma de bacharéis de Direito, em Goiânia, teria como paraninfo o professor, mineiro, Heráclito Fontoura.
Teria, se antes da solenidade, os militares não prendessem o sexagenário Dr. Justiça, Heráclito Fontoura Sobral Pinto.
Antes de prosseguir devo declarar que minhas posições e opiniões são, em grande maioria, contrárias à do Dr. Sobral, um homem conservador que apoiou discretamente o golpe militar. Diria até que se fosse hoje, já o teria bloqueado no facebook. Mesmo sabendo que reacionário ou conservador, o dr. Sobral defendeu, entre outros, Luis Carlos Prestes, na ditadura de Getúlio, além de vários presos políticos na ditadura de 64. Presos cujo crime foi ter opinião. Mesmo diferentes da opinião dele.
O Dr. Sobral apoiou o golpe na certeza de que os comunistas estavam dominando o governo”, apoio que não durou nem duas semanas. Manifestou-se contra o que acontecia, quando viu que os militares agiam para implantar uma ditadura no país.
Para ele “o maior desastre brasileiro era os militares terem proclamado a República, porque passaram a julga-se donos da República”. Dizia: “enquanto a presidência da República e os cargos eminentes do país continuarem nas mãos dos militares ... nós estaremos nessa situação terrível que nos encontramos: de falência e de corrupção.”
Vivemos no país um momento grave, em que parcela de nossa população pede intervenção militar, e parte dos cidadãos de maior grau de educação formal e mais ricos, declara voto em um militar para a presidência da República.
Um militar que, ao lançar sua candidatura, afirmou que “ não adianta mais tirar de quem tem para dar para quem não tem, porque daqui a pouco quem tem não tem mais e quem não tem não tem de quem receber”.
Isso em um país em que 1% dos mais ricos se apropriam de 23%  das rendas, com o 0,5% mais ricos absorvendo 8,5% da renda nacional. Um padrão de distribuição de renda e de riquezas apontado pela ONU como a principal causa de nosso atraso. Um atraso que um Relatório do Banco Mundial estima em 260 anos, para que nossos estudantes atinjam o nível de leitura de estudantes de países desenvolvidos
E o que justifica o desejo de intervenção militar, que já acontece disfarçadamente no Rio? Seria porque, como acreditam, os militares são os únicos preparados para dirigirem o país por serem patriotas,  e estarem dispostos a morrer pela Pátria? Será por que estudam os problemas brasileiros e conhecem as regiões do país, já que sempre estão sendo transferidos? Por serem realmente os cidadãos honestos, embora não seja a farda, mas a educação que vem do berço que torna um cidadão honesto?
Temo que a resposta é que os que clamam pelos militares, iludem-se. Deixam-se levar pela ideia de que os militares irão assegurar e manter o fosso da diferença entre eles, a elite, e o povo em geral. Nesse sentido, os militares são importantes, como nos têm mostrado as ações nas comunidades do Rio ou na vila Kennedy, onde todos são revistados, têm mochilas reviradas, são fotografados e identificados. Um sucesso.
Ações que estão longe de serem adotadas em Copacabana, Leblon, Ipanema, praias onde moram as pessoas mais privilegiadas do Brasil, em que a droga em latas vem a nado, pelo mar.
O que me remete à frase de  Michelle Alexander, professora de direito de Ohio, em referência à situação atual dos Estados Unidos: países que prendem pobres e negros são ‘falsas democracias’.
Democracia que era o sonho de luta do professor Sobral Pinto. Uma democracia sem adjetivos de qualquer espécie. Democracia apenas como um valor universal.
Caros formandos, é tempo de construirmos uma democracia que envolva o povo e sua sabedoria, ilustrada aqui por seus familiares.
Hora de construirmos um sociedade mais justa, mais fraterna e mais igualitária. Onde todos possam participar e serem considerados iguais.
Antes que o tempo sofra as transformações que já se prenunciam no horizonte, e a ciência dos homens consiga criar e reproduzir células em maior velocidade que as que nosso corpo é capaz de destruir a cada instante. Hora em que nossos cérebros serão tratados como chips e downloads de nuvens serão a forma de incorporar conhecimento. Instante em que teremos nos transformado em humanoides, avatares, transhumanos.
Quando não nos restará nem a morte como descanso. E que nossa desumanização nos trará a mesma sensação conhecida hoje pelos miseráveis de nossas cidades: a da invisibilidade de não cidadãos. Apenas trapos.
É tempo de fazermos algo por nossos semelhantes, sem nos perguntarmos o que nosso gesto trará de benefícios para cada um de nós, mas o que os benefícios poderão trazer para eles.
Boa sorte.
Obrigado.