quinta-feira, 22 de julho de 2021

Combustível adulterado, Guedes perde poder na reforma que joga Bolsonaro nos braços do PP, o partido mais investigado na Lava-Jato

 Finalmente, e de forma definitiva, cai a máscara do político antissistema e anticorrupção, escancarando de vez a face medonha do falso paladino da moralidade.

Como já ocorrera há 30 anos atrás com Collor, o pretenso caçador de marajás, Bolsonaro retorna aos braços do Centrão, local que serve de reservatório ao esgoto não tratado, que sempre lhe serviu de esconderijo e em que ele sempre chafurdou.

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Apenas assinala-se que tal movimento, impossível de passar despercebido, não deverá provocar reação alguma dos bolsotários - os seguidores fiéis do mito, que tratarão de justificá-lo seja por sua negação (como o fez o general Augusto Heleno, para quem o Centrão não existe mais!); seja pela necessidade de governabilidade de um mandato tão vilipendiado pela mídia, pela intelectualidade, etc.

Claro: ‘Neste caso, a disposição de combater a corrupção irá ser redobrada, ampliando a fiscalização e controle do presidente sobre as práticas políticas’ (como ele fez com Ricardo Salles, com Marcelo Álvaro Antônio ou com Pazuello e a aquisição de vacinas).

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Em medida desesperada para evitar a abertura de um processo de “impeachment”, Bolsonaro promete (mais) uma minirreforma ministerial, que desloca o general pingue-pongue Luiz Eduardo Ramos da Casa Civil para a Secretaria do Governo.

Bem, há pessoas que nasceram mesmo para serem tratadas como ioiôs e divertirem aos seus proprietários.

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Para a Casa Civil, a promessa de indicação do senador Ciro Nogueira, presidente do PP – o partido mais investigado pela Operação Lava Jato – aquela do combate ‘fake’ à corrupção e do ‘lawfare’ (da caçada ao troféu Lula).

Ciro, membro da CPI da Covid - onde defende o (des)governo, o terraplanismo e o kit Covid -, se notabilizou por ser autor da descrição mais perfeita de Bolsonaro, em 2017, quando o classificou como fascista.

Se confirmado ministro, mais uma vez confirma a sabedoria popular quando afirma que: “um gambá cheira o outro”.

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Na dança das cadeiras, dizem que Ônyx pode ser deslocado para um futuro ministério do Trabalho, espaço político menor no então superministério da Economia e, por isso mesmo, já de algum tempo para cá,  destinado a pessoas minúsculas, seja no caráter, seja na formação.

Nesse aspecto, é meu dever ressaltar o gigante que é o deputdado Ônyx, em relação ao servilismo e ao comportamento bajulador.

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Por fim, a reforma serve para constatar, atingir e desmembrar a super pasta da Economia, entregue ao dito Posto Ipiranga, Paulo Guedes, o combustível mais adulterado ou ‘batizado’ do país.

E é a Guedes que eu gostaria de dedicar mais atenção nesse pitaco.

A Guedes, o economista liberal da Escola de Chicago, que leu Keynes ao menos três vezes no original, e que tem em sua ficha corrida uma passagem (modesta!) como assessor do governo do ditador sanguinário e corrupto do Chile, Pinochet.

Daquele período, apenas destacar que a Reforma da Previdência de perfil liberalóide feita em nosso vizinho, naquela oportunidade, e que servia de inspiração do sinistro para nosso país, foi um retumbante fracasso, criando hordas de idosos miseráveis, a circularem pelas cidades do Chile.

Situação de tanta dramaticidade que obrigou à recriação da Previdência pública por Bachelet, no retorno do Chile à democracia.

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E se não consigo tratar de Paulo Guedes como tendo um currículo, muito se deve ao fato de ele ser ou ter sido investigado, antes de chegar ao ministério, em processos fraudulentos relativos a prejuízos proporcionados a Fundos de pensão que ele, como homem do mercado financeiro, geria.

Diz Marco Antônio Villa que Guedes é o Pacheco, personagem de Eça de Queiroz. (Não li e vou fazer isso ainda nessa oportunidade). Diz também que sempre foi apenas gestor do mercado financeiro. Se teve lucros, ganhos, benefícios e até algum valor, isso se deve à atividade especulativa, que praticava.

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Mas, com a  reforma Guedes perde poder – mas não perde nem a vergonha, nem o brio, nem a cara de pau, preferindo permanecer preso ao governo mais que a fruta agarrada ao pé da jabuticaba.

Razões para tanto não faltam ao fundador do Ibmec, membro do Conselho de grupos empresariais com atuação em várias áreas, inclusive de instituições ligadas à ‘educação’ como o grupo HSM, o grupo Ânima, e outros próximos da influência e interesses de sua irmã Elizabeth Guedes, vice-presidente da Associação Nacional de Universidades Privadas – ANUP.

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Só para refrescar a memória, Guedes é o crítico ferrenho não só da participação marcante do Estado no âmbito econômico, como também do ensino público; dos mecanismos de financiamento de ensino superior, como o Fies; da previdência pública e solidária; dos direitos trabalhistas, entre outras atrocidades, reveladoras de sua verdadeira ojeriza por todos os cidadãos mais fragilizados de nossa sociedade.

Dele, infelizmente, são notórias frases e comentários que mostram o valor que atribui às empregadas domésticas, em sua função essencial para a saudável gestão de grande parte dos lares brasileiros; sua ideia de precarizar os direitos do trabalhador, no afã de reduzir custos trabalhistas e ‘expandir’ empregos.

Como se fosse possível a expansão de empregos em economias onde cada vez mais as máquinas substituem os trabalhadores; nossos trabalhadores não têm acesso à educação de qualidade, cada vez mais necessária em sociedades sofisticadas, onde os processos de produção se especializam na tecnologia do conhecimento.

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Mais recente agora, afetando seu inimigo de sempre, o trabalhador comum, o cidadão comum, pretende eliminar subsídios concedidos às empresas que atingem a eliminação do vale-refeição, entre mais outros direitos.

Em relação à reforma tributária, já manifestou não ver qualquer problema em aumentar a taxação de livros (hoje, isentos).

Também é dele a pérola de que apenas pela existência do FIES, que ele considera uma aberração, é que o filho do porteiro que zerou a prova do ENEM consegue frequentar uma universidade. Um absurdo, para quem com sua visão de classe é defensor de unhas e dentes da meritocracia.

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Mostrando toda sua sordidez e seu caráter excludente, de classe, também é dele a ideia de se eliminar o SUS, substituído por vouchers que permitam à população “excluída”, poderem optar por irem se tratar em hospitais como o Albert Einstein.

Falar de Guedes provoca engulhos. Pior é ver suas projeções que deixariam corado o Dr. Pangloss e até mesmo Cândido ou Pollyana.

Por tais projeções, a economia brasileira está crescendo desde 2019 a taxas de PIB chinês; a economia saiu da Covid como em curva de V, provavelmente já alcançando patamares superiores ao de antes da pandemia.  O desemprego caiu, e cai 1 milhão de pessoas a cada quadrimestre. O déficit fiscal foi zerado em 2019, primeiro ano de sua desastrada e inoperante gestão.

O problema maior da economia e da sociedade brasileira é o grande número de idosos e aposentados que, sem qualquer espírito de cooperação pública e solidariedade social, insistem em viver cada vez mais, quem sabe até os 120 anos.

E, por fim,  e para mim a última desfaçatez desse pulha, uma população que só sabe reclamar e reivindicar, sem qualquer motivo. Afinal, segundo consta, é dele o tuíte com a frase: “Por que reclamam do preço do gás se não têm dinheiro para comprar comida?”

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Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, o COMBUSTÍVEL ADULTERADO, ex-homem forte do desgoverno, merece ao menos uma referência positiva por um acerto: é dele a afirmação de que “se fizer muita besteira, o dólar pode ir a R$ 5”.

Autocrítico: o dólar chegou lá e de lá dificilmente irá cair.