terça-feira, 3 de agosto de 2021

Um paralelo de vidas, para concluir que Jair é criminoso, seguido por seres limitados, de inclinações mais perversas

Todo ano produz safras boas e ruins.

Sem aprofundar muito no mérito, o ano de meu nascimento é justamente aquele em que veio ao mundo o presidente do Brasil.

Além da coincidência de termos nascido no mesmo ano, nada mais de comum nos vincula: ele fez carreira militar. Apesar da insistência de meu pai em que fizéssemos o Colégio Militar, pela “qualidade de ensino e, principalmente por ser gratuito”, meu avô materno, que era quem bancava nossos gastos, optou por nos colocar nos melhores colégios de Belo Horizonte, então particulares, embora o Colégio Estadual Central, público, fosse de mesma qualidade.

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Para os mais novos, vale a explicação: muitos se dirigiam à escola militar pelo mesmo motivo que, nos anos iniciais do século XX, várias famílias optavam por matricular seus filhos em seminários: a gratuidade.

Apenas que no caso dos seminários, destacavam-se mais a qualidade e o rigor do estudo (com latim, filosofia, francês, etc.), razão porquê várias famílias, mesmo abastadas, enviavam seus filhos homens para tal formação.

Exemplo, notável, disso foi o famoso Colégio do Caraça, berço de futuros presidentes da República, políticos respeitados, cientistas de renome.

O Brasil seria um país coalhado de padres, se todos os alunos que formados no Caraça atendessem ao requisito para ali adentrarem:  vocação religiosa.

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Concluído o atual ensino médio no Colégio Santo Antônio, fui parar na Universidade Pública, e embora reconheça que havia menos méritos que obrigação de passar no vestibular, a contribuição que a formação em instituição pública me proporcionou sempre deve ser ressaltada.

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Já o presidente, optou em prosseguir na Academia Militar, onde havia a possibilidade de se destacar tanto pelo esforço,  inteligência e brilho, quanto pela disposição física. O presidente mesmo saiu com formação em Educação Física. O dito Cavalão, pelo vigor.

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De minha formação superior, em Administração, para o mestrado com bolsa e apoio financeiro do governo, até cursar os créditos de doutorado na Universidade de Campinas, sempre fui um defensor intransigível da formação pública, gratuita, igualitária, sem distinções de classe, gênero, cor, etc.

Como forma de agradecer, e por alguma vocação, segui a carreira fundamental e nobre, de servidor público. Paralelamente, buscava transmitir, para outros, os conhecimentos que o ensino público e a vida, me permitiram acumular.

Confesso que o mais importante que tentei transmitir foi a capacidade de duvidar, a curiosidade, a capacidade de ir atrás e buscar conhecer, para formar meu próprio pensamento. Sempre de forma crítica.

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Já o outro, Jair, virou tenente e, dado seu temperamento falastrão, inconsequente, de quem acredita que não é necessário qualquer elemento de razão para sustentar seus pontos de vista, optou pelo grito, pela fala que à semelhança de uma metralhadora fosse capaz de ser agressiva, grosseira, intimidatória, capaz de destilar ódio, semear discórdia e divisões.

Dada sua limitação mental, adotou como argumento principal o medo, a ameaça, a bravata, às vezes, jocosa.

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Nessa linha, virou terrorista.

Um tipo de terrorista que não justifica, moralmente, seu comportamento pela luta em defesa de ideiais dignos, como a defesa da democracia, da igualdade de direitos, do respeito às diferenças, da tolerância, das opiniões contrárias.

Seu terrorismo sempre foi fundado no proveito próprio, sem medir as consequências de seus atos: fossem a morte de colegas, de civis inocentes.

Tal comportamento o levou a ser convidado a se retirar do Exército, ganhando ainda uma promoção e uma aura de pretensa liderança entre os colegas. O que vai alicerçar sua carreira política.

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Medíocre, sustentou-se por mais de 28 anos na carreira política, sempre com a suposta autoridade de capitão militar. Conhecedor apenas do argumento da força, da ameaça, sempre tentou se impor brandindo ameaças, fosse a outros colegas, fosse aos funcionários lotados em seu gabinete, o que lhe valeu a entrada, em tese, para o mundo do crime.

Em minha visão, a extorsão de funcionários não configura ato ilíciito por si só, em especial em se tratando de pessoas de caráter tão rasteiro e tão aproveitadores, quanto o responsável pela extorsão, já que funcionários fantasmas.

Mas a usurpação de verba pública, seu desvio de finalidade, já que voltada a financiar aplicação diversa daquela originalmente de destino, configura, em tese, crime comum. A ser comunicado ao Parquet.

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Seguindo o paralelo, depois de mais de 45 anos de aulas, virei aposentado.

Ele, com mais êxito, virou presidente de uma república de bananas. Não da fruta, mas de seres que revelam e desnudam o pior que têm dentro de si: o caráter autoritário, o ar de dono das verdades e do direito de definir como todos devem viver, se comportar, andar, falar, agir, amar...

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Jair não engana ninguém. Nunca enganou. É apenas um nazi-fascista, reconhecido. Autodeclarado. Que defende a tortura. A morte, seja a de seus adversários, seja a de milhares de inocentes, talvez mais de 560 mil, apenas para sustentar suas opiniões e desejos mais inconfessáveis.

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Jair não é um genocida apenas, embora se classifique assim, pelo que promove em relação aos negros, jovens favelados. Ou o que finge que não vê, mas incentiva, em relaçãó aos índios.

Mas mata grupos de etnias e, abstratamente, mata valores mais elevados, como a cultura, o ambiente. O meio artístico é também uma vítima de sua vocação para a morte.

Jair reveste-se, tão somente das vestes de um assassino, bastando examinar o nome que se dá a quem é responsável por mais de 500 mil mortes. Por ação ou inação,  pouco importa.

Mas se há dúvida em relação ao ato ou à omissão, há certamente algum interesse escuso, de vantagens monetárias pessoais por trás. Vide as vacinas e as negociações, dos rolos do Barros.

Tudo sob as bençãos de Amiltons, Malafaias e Macedos.

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Pior.

Jair, que nunca foi democrata visa o golpe. Mesmo que seguido de luta fratricida, cruenta, pelas ruas.

Para isso, não se incomoda de apostar mais uma vez na divisão, jogando brasileiros manipulados, embora alguns bem intencionados contra outros, que não aceitam os grilhões do autoritarismo, mesmo que fardado.

Aos brasileiros democratas, autênticos heróis das lutas da construção de nossa sociedade e de nossas raízes, Jair antepõe falácias, mentiras, “fakenews”.

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Por isso a cobrança das urnas com voto impresso, ditas invioláveis e auditáveis.

Nunca foi por rigor na apuração. Nunca foi para o aperfeiçoamento do processo de sufrágio basilar da democracia participativa.

Nunca foi por denúncias de manipulação. Nunca foi para que as milícias, as quais incorpora, possam ter elementos de pressão e comprovação do comportamento de povos a que submetem sua vontade e sua lei, na ausência da lei maior, do Estado.

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Tampouco a explicação tenha a ver com a ameaça – mais uma – de não haver eleições no próximo ano. Embora tal versão pode vir a se encaixar, antes, em seus planos.

A questão é depois. Depois da realização da eleição e de sua derrota, cada vez mais o único resultado possível.

O que Jair quer é o povo nas ruas, reclamando de sua derrota. E reagindo com violência, com ataques, com lutas. Com agressões.

Não todo o povo. Basta-lhe apenas a parcela minoritária, mas barulhenta, radical, de ultradireitistas. De cada vez mais recém-descobertos nazifascistas. Desses que vestem camiseta da seleção brasileira de futebol e ganham as ruas, para mostrar o nível que a mediocridade, o ridículo e a falta de ridículo (que alimenta a ‘vergonha alheia’), a podridão revelada por uma vida vivida pelo avesso, podem gerar.

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Infelizmente, o criminoso Jair não está sozinho.

Faz-se acompanhar de seus milhares de seguidores, crentes, fiéis. Gente que constitui tanta aberração como o seu mito.

Nazistas de inspiração. Seres abjetos alimentados por intenções assassinas.