quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Lei Orçamentária, aumentos do Supremo por sua eficiência, e entrevistas/debates ou show de pancadaria no Globo

Está terminando o mês de agosto e, este ano, a chegada do dia 31 marca dois eventos de maior importância: um, do calendário tradicional, anual, de relevância ímpar. Outro, poderíamos dizer mais ocasional, decorrente do calendário eleitoral.
***
O primeiro dos dois episódios, que considero mais importante, a data final para a remessa pelo Executivo do projeto de Lei Orçamentária Anual ou LOA para o Congresso. 
Como consta do site do Senado, onde se encontram várias informações importantes sobre a institucionalidade do processo de elaboração do Orçamento em nosso país, a LOA é o documento que corresponde ao orçamento anual que estima a receita e fixa a despesa do exercício financeiro, ou   "
aponta como o governo vai arrecadar e gastar os recursos públicos." 
Além do orçamento fiscal, propriamente dito, e atendendo ao capítulo da Constituição que trata do tema, o documento contém ainda o orçamento da seguridade social (que elenca as despesas com Previdência e ações de assistência social como o bolsa família, entre outras) e o orçamento de investimento das estatais. 
***
Recebido no Legislativo, o projeto deve ser analisado e discutido, sendo obrigatoriamente votado e aprovado, para ser devolvido à sanção presidencial até o encerramento da sessão legislativa. Caso não seja aprovado e sancionado no prazo, o governo passa a enfrentar forte restrição de gastos a cada mês do ano subsequente, uma restrição ainda maior que aquela já imposta pela Lei do Teto dos Gastos.
***
Para esse ano, embora em sentido contrário a recomendações da equipe da Fazenda, o governo decidiu enviar ao Congresso um documento que prevê a manutenção da última parcela negociada - e transformada em lei - ainda no início do segundo mandato de Dilma, de correção dos salários do funcionalismo público. Ao mesmo tempo, e sem forças ou interesse para criar atritos com o poder Judiciário, o governo Temer também incluiu a concessão do aumento que os  ministros do STF se concederam, de pouco mais que 16%.
***
Em relação ao aumento autoconcedido pelos impolutos ministros, vale sempre lembrar que o novo valor proposto de remuneração - que é bom lembrar, é apenas parte (e talvez a menor) da remuneração bruta a que fazem jus por serviços de mais alta urgência e relevância que prestam à sociedade brasileira, a tempo e a hora - serve como o teto para a remuneração de toda a categoria do funcionalismo público, disparando uma série de aumentos em cadeia ou permitindo que tais aumentos passem a ser objeto de demandas de várias categorias, inclusive nos estados já falidos de nosso país. 
***
Entretanto, é sempre bom lembrar, há fortes motivos para o governo golpista e ilegítimo de Temer não querer se indispor com seres tão excelsos: afinal, a ninguém escapa o fato de que há tantos indícios e suspeitas de atos cometidos por Temer, capazes de configurarem crimes, que não há nada melhor que ficar de bem com toda a categoria que poderá, amanhã, decidir seu destino. 
Também não é demais trazer à tona as suspeitas de que o golpe perpetrado contra Dilma, que resultou em seu impeachment contou com a complacência dos senhores ministros, face à sua teimosa recusa de conceder aumento tão desproporcional aos percentuais que ela se dispunha a conceder ao funcionalismo como um todo. 
Isso, mesmo sabendo que os ministros ganham tão pouco e precisam tanto de ter seus esforços hercúleos reconhecidos. 
Em português claro: para muitos, parte do golpe contra Dilma, tem relação com a sua recusa em aprovar o aumento agora constante da LOA.
***
Mas, até por dever de consciência, é sempre interessante destacar que no processo institucional de elaboração orçamentária, o primeiro ano de mandato do eleito em outubro já está definido pelo governante que sai.
E que, embora o eleito possa vir a ter algum tempo para negociar algumas alterações no projeto da LOA, antes de sua aprovação, é reduzido o prazo para que o eleito seja diplomado e que possa ter contatos com os membros do legislativo de forma a poder sugerir mudanças de maior importância. 
Pior ainda, em minha opinião: o eleito irá ter de manter contatos com vários deputados em final de mandato, alguns dos quais não reeleitos para a próxima legislatura e, portanto, sem qualquer maior compromisso com o país. 
***
O segundo evento de interesse nesse final de mês trata do início da campanha eleitoral gratuita, nos meios de comunicação, evento que mesmo apenas se iniciando no último dia do mês, vem mostrar que agosto é mesmo, como muitos suspeitam, um mês aziago na política brasileira. 
Não é demais recordar a data de 22, que marcou a passagem do acidente que vitimou o presidente Juscelino, em 1976; ou a data de 24, do suicídio do presidente Getúlio Vargas; ou ainda a data de 25, dia do soldado e da renúncia do presidente Jânio Quadros. 
Agora temos também a data de 31, com o horário eleitoral dominado pelo mais insosso candidato a presidente, o tucano Alckmin. O que representará um verdadeiro horário de horrores ou tédio nos lares brasileiros, dominados pela onipresença da televisão aberta.
***
Fora desses dois eventos e seus impactos, tanto em termos de gastos quanto da situação que deixa de herança para o presidente eleito em outubro, sobra muito pouco para abordar nesses pitacos.
Porque, convenhamos, em semana dominada pela rede Globo e suas entrevistas/debates com os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, quando tais pesquisas excluem o candidato que lidera a disputa com larga margem de frente, há muito pouco espaço para qualquer comentário minimamente sério. 
***
Mas vamos tentar fazer algum comentário crítico. Começando por afirmar que o formato do programa, como tem sido destacado por vários analistas, perde-se na indefinição entre ser uma entrevista, onde o candidato terá oportunidade de expor sua plataforma de atuação, os problemas e soluções mais importantes de sua agenda, ou ser um debate. 
Debate que, para dar à rede de maior e mais maléfica influência ou mais manipuladora da opinião pública brasileira (em minha opinião) uma certa imagem de imparcial, acaba fazendo com que os seus editores-repórteres, sejam mais que incisivos, arrogantes em sua postura questionadora. 
***
De tal postura, profundamente criticada no programa com Ciro, mais amena no programa seguinte com o deputado militar, e bem mais comportada e até inofensiva com o tucano picolé de chuchu, o que pode resultar é apenas uma troca de farpas e de afirmações ou exposição de argumentos que transformam o que seria um programa democrático de discussão de ideias e propostas, em um autêntico Fla x Flu. 
Um jogo de futebol que faz o telespectador deixar sua racionalidade de lado para se tornar um apaixonado torcedor, no mínimo, para torcer para o lado mais fraco. 
O que faz com que cada telespectador comece a valorizar o fato de que tal candidato engoliu os repórteres, os deixou sem ação, ou o contrário, os repórteres popularmente "meteram o ferro no entrevistado". 
***
A situação chega a tal ponto, que no dia de Ciro, a que fui forçado a assistir, por influência de meus familiares, os repórteres falaram quase tanto quanto aquele que, em tese, devia ser o principal personagem da noite. 
Ciro teve praticamente o mesmo tempo para expor suas falas, já que não pode expor ideias. 
Não que não as tivesse, as ideias, mas até porque grande parte do tempo o que os jornalistas desejavam era vender a ideia de que Ciro está mais alinhado a Lula, o bicho papão de toda a Globo. 
A situação chegou a tal ponto que, depois de apresentar uma defesa do governo Lula, a que serviu como ministro,  reconhecendo-lhe os méritos que a Globo e seus funcionários insistem em negar, Ciro precisou dizer que não estava podendo falar de suas propostas. 
***
No jogo de quem coloca mais o adversário em situação desconfortável, e para mostrar que não é o destemperado que todos sabem que consegue chegar a ser em alguns momentos, Ciro procurou ser mais elegante, perdendo oportunidades ótimas de retrucar e até levar seus entrevistadores a nocaute. 
***
Essa situação não se repetiu com o soldadinho da ditadura, que pela falta de qualquer ideia ou conteúdo, partiu direto para ataques capazes de deixarem seus entrevistadores no papel de não terem resposta ou partirem para discussão de questões pessoais. 
***
E o soldadinho conseguiu tirar do sério a editora repórter Renata, ao abordar a questão da diferença de salários entre ela e seu colega de bancada do Jornal Nacional. Renata, se conseguiu fazer uma defesa de sua postura e condição de mulher, não conseguiu convencer a ninguém de que não trabalha em empresa que faz distinção na remuneração de gênero. 
***
Interessante que, mesmo sendo atacados pela cria da ditadura, que se referiu a sua situação de PJ's, os repórteres não se defenderam e nem mesmo se aproveitaram dessas questões para aprofundar as ideias do candidato a respeito de, por exemplo, a terceirização, como tema da Reforma trabalhista que tentaram levar o candidato a se pronunciar. 
***
Da entrevista do ex-militar, ficamos sabendo é que ele está vendendo um apartamento de 70 metros em Brasília, e de que ele tem "culhão" para enfrentar e fazer calar os repórteres da Globo, por ter informações quanto ao comportamento deles e saber usá-las no momento oportuno. 
De resto, ficamos sabendo que a Globo foi uma empresa cujo dono nada tinha de democrático, apoiando tanto quanto o cria da ditadura, o golpe de 64; que o pretende a ditador, já deu alertas, junto com seu companheiro de chapa, de seus planos; de que para ele, democracia não exige participação do povo, apenas de meia dúzia de homens iluminados, não necessariamente pelo conhecimento e sabedoria, mas pelo uso da farda; e que os funcionários da Globo são todos funcionários públicos, já que é do governo e dos gastos de publicidade que a rede extrai sua principal renda: a que serve para pagar os seus funcionários. 
***
Quanto à entrevista de Alckmin, sua principal característica foi o tédio, foi o fato de dar sono. A ponto de o ex-governador não ter sido tão atrapalhado pelos entrevistadores, talvez eles mesmos já sonolentos e sem muita reação. 
O que permitiu que até as críticas e agressões principais ao candidato não fossem a ele, mas a Aécio e Azeredo, que nem no programa estavam para se defenderem. 
Sinal de despreparo, ou desespero, ou de que, para não serem derrotados no jogo de quem agride mais, repetindo o feito do dia do cria da ditadura, eles partiram para o ataque, custasse o que custasse. 
***
Mas os ataques que poderiam ser mais úteis, relativos ao fato de que o candidato tucano é o principal  representante do desgoverno Temer e de suas propostas completamente contrárias aos desejos da população e dos eleitores do país - o que pode ser visto nitidamente com os índices de reprovação ao governo moribundo, isso não foi abordado. 
***
Talvez por ser também o elenco de propostas com que a Globo concorda e que quer fazer prevalecer. 
***
Em síntese: pobre e inútil o conjunto de entrevistas até aqui.
Como geralmente o que vem da Globo, destinado aos milhões de Homer Simpsons do país....

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Cassação de Maluf: o que os militares que o criaram não fizeram; as comuns fugas aos debates; Lula vítima; os políticos novos do Novo

A decisão unânime tomada ontem pela Mesa Diretora da Câmara, de cassar o mandato do deputado federal Paulo Maluf é,  no mínimo, curiosa.
Não pelo fato de Maluf, aos 86 anos de idade, estar cumprindo prisão domiciliar, condição que o obrigou a se licenciar de seu mandato. Nem por estar em final de mandato. Menos ainda por terem sido dadas a ele, todas as condições e prazos para que adotasse uma saída, digamos, honrosa, renunciando.
Em minha avaliação, tampouco o que deve ser destacado ou discutido na medida, é o papel do Supremo Tribunal Federal, que exigiu a cassação, ou o fato de pela primeira vez, a Câmara não ter levado à decisão para votação em plenário.
***
Claro, todas essas circunstâncias podem dar origem a discussões, algumas relativas à autonomia, ou independência entre os 3 Poderes, base do Estado Democrático de Direito, características cada vez menos respeitadas e mais fragilizadas em nosso país, a cada novo fato político que surge.
***
Afinal, já a algum tempo, e muitos analistas e juristas de renome têm reconhecido tal situação, o Supremo, ou melhor, o Judiciário como um todo, arrebata as prerrogativas dos outros Poderes, em especial, do Legislativo, cumprindo o papel de criar leis, a partir de uma interpretação cada vez mais ampla do que está escrito.
***
Na ânsia ou desejo de criar uma nação mais justa, com menos privilégios, mais igualdade de direitos, menos impunidade, o Judiciário brasileiro, encabeçado pelo STF, arvora-se no direito de ferir a própria Constituição do qual esse colegiado deveria ser o guardião supremo.
Outras instâncias e membros desse poder, menores em todo o sentido do termo, inclusive do ponto de vista da moral e da ética, se arvoram em controladores absolutos da vida social, a ponto de adotarem comportamentos de acordo e em função de um pretenso risco potencial, existente apenas em sua visão estreita e equivocadas e suas afinidades políticas prá lá de questionáveis.
***
Mas, no caso de Maluf, o que mais chama minha atenção e merece meu destaque é o fato de a decisão de cassação ter sido tomada em regime dito de liberdades democráticas, muito ao contrário das cassações havidas nos períodos de autoritarismo da ditadura militar.
Período de obscurantismo, prepotência e desmandos, em que o país esteve sob o jugo de homens sem qualquer outra qualificação senão a de seus uniformes e suas patentes.
Regimes a que Maluf serviu e pelos quais foi patrocnado.
***
Ou seja, e vou colocar em letras maiúsculas, como um grito mesmo, para chamar a atenção para todos os poucos leitores que tiverem acesso a esse pitaco:
MALUF É FRUTO, É CRIA DO REGIME MILITAR A QUE MUITOS ILUDIDOS OU MAL INFORMADOS ATRIBUEM, HOJE, A FAMA DE HONESTOS, INCORRUPTÍVEIS E PROMOTORES DA ORDEM E DO PROGRESSO.

Só mesmo o fato de ser um regime de exceção, de censura à imprensa, de torturas e punições nos porões dos quarteis, permitem que a verdade daqueles tempos possa ser esquecida, ou deixada de lado.
***
A ditadura militar, a inspiração dos militares, fruto de autênticas lavagens cerebrais sofridas por seus integrantes na Escola Superior de Guerra, e os militares que evocam aquele período e suas práticas, com saudosismo, são justamente da mesma espécie de homens e de comportamentos daqueles que criaram, protegeram e nunca questionaram as ações de Maluf, desde sua escolha como Prefeito postiço da cidade de São Paulo, até mesmo depois, quando rumores e suspeitas de mal uso de recursos públicos lhe eram lançadas.
***
Nesse sentido, não é demais lembrar que esse deputado capitão, candidato a presidente, mesmo tendo contra si uma série de acusações, inclusive de ser estar sob investigação em ações penais , sobre as quais o Supremo deverá se pronunciar, foi um dos militares, faz apologia e a defesa dos militares que acobertaram e não puniram Maluf, quando ele ainda despontava na política.
Então, esses militares, que tanto o capitão reformado elogia, são os verdadeiros patrocinadores e co-responsáveis dos males e ações condenáveis de Paulo Maluf.
***
Apenas para mostrar aos que não a experimentaram e não conheceram, nem se importaram em estudar, ler e conhecer, que regimes militares são tão corruptos quanto podem ser os regimes civis, já que ambos, exercidos por seres humanos.
***
Se algo os difere é o fato de que os regimes militares, têm a seu favor, exclusivamente, o poder de impor medo, pelo uso autorizado de estarem armados.
***

E quem não tem o que falar, se esconde...

E por tratar no deputado capitão, que tanta questão faz de elogiar os responsáveis pela tortura e assassinatos nos porões da ditadura, praticados no país, não é de se estranhar que os portais de notícias anunciem, no dia de hoje, sua disposição de não participar mais de qualquer debate.
Tomando todo o cuidado, já que essa é uma decisão que, mesmo que definida pelo candidato, pode ser revertida a qualquer momento, o que daria a sua divulgação a classificação de "fake news",  vou abordar o anúncio por outro ângulo.
***
Afinal, já vimos, há muito tempo e em várias eleições, a estratégia de candidatos bem postados nas pesquisas eleitorais decidirem não comparecer a debates, de forma a manter a ignorância que sabem que são portadores, escondida dos eleitores.
Deste ponto de vista, o deputado do nanico PSL não é nada diferente, nem estaria fazendo nada que outros políticos, mais experientes e tão pouco aptos a exercerem o cargo a que almejam, já fizeram.
***
No caso de nosso militar, cujas únicas propostas são as de armar a população, para aumentar o clima de insegurança nas ruas, nas cidades de nosso país; acatar e, quem sabe, até colaborar com a adoção de comportamentos destinados a cortarem direitos dos trabalhadores que queiram ter emprego, em  uma chantagem explícita; ou ainda admitir que há argumentos favoráveis a que a mulher, pela possibilidade de se tornar mãe, receber menos que os homens em cargos e atividades de igual nível de responsabilidade, não é de se admirar que não queira participar de novos debates.
***
É que seu arsenal de propostas já se esgotou e ele já disse tudo que tinha a declarar em debates anteriores.
Pelo menos no debate da Bandeirantes, a que assisti, já que ao debate da Rede Tv, não tive a oportunidade de acompanhar.
Mas, tratando do debate da Band, além das propostas acima, pelo menos duas delas, tratadas de forma clara, o que mais o candidato apresentou foi sua compaixão por Wal, sua caseira que ganhava mil e poucos reais, embora seu salário de assessora fantasma da Câmara dos Deputados não devesse ser tão limitado.
O que, ainda assim levou a alguns espectadores do debate a julgarem que o capitão se saiu muito bem, calando a boca do candidato Boulos.
***
Bem, cada um assiste e interpreta o que assistiu com os olhos que deseja ver. Alguns, sem óculos, míopes que são, outros com as lentes sujas e embaçadas.
Mas a verdade é que, para reforçar as ideias desses que acham que a questão de Wal era pouco importante, o próprio deputado candidato se viu na obrigação de dispensar sua empregada.
Talvez para não ter de enfrentar, nesses tempos de Câmara às moscas, a possibilidade de pedido de um exame da correção da contratação da assessora, e de sua correta remuneração...
***
Menos mal que a caseira possa sobreviver da venda de açaí.
***
E apenas a título de informação: o que fez Boulos se calar foi a agressão que sofreu do capitão valentão, de chefiar invasões de imóveis, o que os portais de notícias informam que será motivo para o candidato do PSOL, entrar em juízo contra o capitão.
Que se mostrou tão valente na oportunidade, mas que não foi capaz de suportar e até reclamou de seu questionamento por.... Marina...
***


E mais a imprensa faz campanha e bate, mais cresce o fermento..

São as pesquisas eleitorais, mesmo que anunciadas por manchetes que, a todo custo querem tampar o sol com peneira.
Pior, peneira esgarçada, rasgada.
Porque a manchete do Estadão, para divulgar que os líderes da corrida incluem o capitão, seguido de Marina e Ciro é, no mínimo, o pior tipo de jornalismo que se pode praticar.
Muito pior que os pasquins, do jornalismo marrom de antigamente.
O Estadão, que apoiou o golpe militar de 64, mas não embarcou na ditadura, o que lhe valeu censura, renega seu passado, correndo o risco de jogar na lata de lixo parte de sua história digna.
Uma pena.
***
Enquanto isso, não apenas Lula sobe nas pesquisas, talvez, por força desse sentimento de que tudo e todos estão contra ele. O que o vitimiza. O transforma em mártir. E impede de que ele possa ser questionado, em sua trajetória, seus erros e acertos, em relação ao período em que esteve no poder ou indicou alguém para representá-lo.
Lula, como todo governante, tem vários pontos de fragilidade. Talvez menos que os seus sucessores, mas ao invés de se tornar alvo de críticas sérias, preferem, em erro de estratégia de marketing de seus opositores, colocá-lo como alguém que foi punido por se posicionar a favor de interesses dos menos privilegiados (e até aqui, há muito o que se questionar, mesmo admitindo que suas políticas tiraram 46 milhões de brasileiros da miséria absoluta! Mas os banqueiros nunca antes na história desse país, ganharam tanto...)
***
Lula sobe como foguete, os mercados se agitam, os especuladores aproveitam para ganhar milhões, o capital estrangeiro, vide Coca-Cola, aproveita para fazer ameças e obter benefícios fiscais; o dólar explode, a ONU é desrepeitada, e Fernando Haddad, mostra até aqui apenas que é um ilustre desconhecido, mesmo que se saiba ou imagine que se Lula indicá-lo, e na hora que o fizer, ele dispara...
***


Entrevistas com Amoedo e Zema

Boas as entrevistas dos empresários candidatos pelo partido Novo.
Que diga-se de passagem, nada trazem em suas declarações e acusações de novidade. Afinal, há quanto tempo já assistimos a empresários justificarem com seu sucesso, sua trajetória vitoriosa, sua capacidade gestora, e críticas à eficiência ou à capacidade de planejamento, decisão, implementação e controle, dos políticos tradicionais, seu interesse em entrar para a política?
***
São todos muito bem intencionados. Claro. Como aqui em Minas, também o eram e foram, Walfrido Mares Guia, diretor do empreendimento educacional Pitágoras, de muito sucesso. Ou Cláudio Mourão, vindo da iniciativa privada, e que chegou afirmando que o funcionalismo público era o câncer da administração pública mineira. 
Ou ainda o empresário de sucesso das linhas de ônibus, Clésio Andrade. Ou do antigo dono da Batik, Márcio Lacerda.
Isso para não falar, em nível nacional, de Paulo Maluf, da família proprietária da Eucatex. Ou de Guilherme Afif Domingos e seu juntos chegaremos lá.
Ou de Dória e sua cômica e veloz passagem pela Prefeitura de São Paulo.
***
E o que esses empresários têm em comum?
Além do fato de estarem ou condenados ou na cadeia. Ou com o passado sujo por acusações algumas das quais que, por sua sorte, prescreveram?
***
O problema do discurso de Amoedo e Zema, cujo passado não permite que sejam comparados aos demais citados, é que ele é correto, mas não leva em conta muito das questões, legais e necessárias, para proteção das riquezas de toda a população, com que vão se defrontar, caso tenham êxito.
Nesse aspecto, mostram serem muito novos, ao acreditarem que, como em suas empresas, podem decidir e implantar suas decisões, de forma imediata, sem quaisquer postergações, ou entraves, de qualquer ordem.
***
A administração pública, para o bem ou para o mal, é diferente. Tem outra lógica de atuação, e outros trâmites.
Capaz de frustrar aos bem intencionados, e levá-los a total desânimo ou inércia.
***
Pensando bem, não é o passado de ambos, sem quaisquer arranhões - que deve nos preocupar. Mas, seu futuro...


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

As reações provocadas por Lula, e seu registro no TSE. E um desafio: o que é esquerda ou direita. E porque os que se denominam de direita, tão liberais em termos econômicos, são tão conservadores em termos de comportamentos sociais

Como diriam os romanos, "alea jacta est", que em minhas perambulações pelo Google, pude aprender que significa, literalmente, que os dados estão lançados e que normalmente é empregado no sentido de a sorte está lançada.
***
Refiro-me, como não poderia deixar de ser, ao registro das candidaturas nos tribunais eleitorais, cujo prazo encerrou-se no dia 15, na última quarta, especialmente ao registro da chapa do PT à presidência da República junto ao Tribunal Superior Eleitoral,  que traz como cabeça de chapa o presidente, agora preso, Lula. 
Registro feito nos derradeiros instantes do prazo, mas que despertaram, imediatamente, as reações e pedidos de impugnação por parte de dois deputados, e também da chefe da Procuradoria Geral da República, a Sra. Raquel Dodge. 
O que demonstra, de um lado, o zelo daquela funcionária pública a favor do correto funcionamento de nossas instituições. Por outro, não há como negar a possibilidade, um expressivo temor de que Lula possa estar presente nas urnas e, principalmente, nessa situação se transforme no candidato mais votado no dia 7 de outubro. 
***
Pelo que se noticia, o pedido da Procuradora está sob a análise do ministro Luiz Barroso, atual vice-presidente do TSE e ministro do STF que votou a favor da prisão em segunda instância - motivo da alegada inelegibilidade de Lula, e por um rigor maior contra toda e qualquer prática que possa vir a favorecer uns poucos, em desfavor da maioria da população brasileira, pondo em risco o funcionamento de nosso regime democrático.
***
Não vou entrar no mérito da atuação, seja de Barroso, seja de Dodge, ou de todos que estão lutando para impedir que Lula possa ser candidato, situação que julgam ferir normas jurídicas. 
E sem a preocupação em defender Lula, apenas destaco aqui, algumas dúvidas que não posso impedir de me assaltarem.
A primeira, em relação ao triplex, pivô da condenação de Lula, inclusive em segunda instância, pelo TRF-4. 
E não se trata de meu total e completo assombro com a velocidade que o caso mereceu, entre a denúncia, o julgamento pelo juiz de Curitiba - aquele que se julga a reencarnação de Deus na terra,  a quem nada detém em sua missão, mesmo que, para cumprir sua tarefa, sacrifique suas férias, desrespeite e esteja ao lado de gravações autorizadas e feitas sem que tivesse competência para dar tais autorizações, muito menos para divulgá-las, dado seu teor estritamente alheio ao assunto de que tratava. 
***
Nesse sentido, o juiz de Curitiba, por mais bem intencionado que possa ser, ou que os incautos considerem, fere a lei que deveria zelar e cumprir a todo momento, desde que isso possa redundar em benefícios à sua causa. 
Repetindo a mesma regra de que os "fins justificam os meios".
Mas deixemos o esse personagem de lado para tratarmos de minha dúvida. Se o apartamento fosse mesmo do ex-presidente, porque aparece em várias ocasiões, como estando no nome da empresa construtora, a OAS, tendo sido, inclusive, dado em garantia de empréstimos bancários da construtora?
Porque eu admito que quando se deseja esconder um imóvel, qualquer pessoa mal intencionada possa registrar o bem em nome de laranjas. Mas, uma empresa como laranja? Seria Lula tão magistralmente esperto, ou velhaco, para poder inovar e, ao invés de colocar o imóvel no nome de algum parente distante ou amigo, deixar no nome de quem estava vendendo o imóvel?
***
Fosse eu quem tivesse adotado tal comportamento e o divulgasse, todos que tomassem ciência do fato iriam me nomear como mentiroso. Eu passaria por alguém que muito quis o imóvel, a ponto de passar a fantasiar a sua aquisição.
***
Aliás, outra não é a situação no caso, por exemplo, do sítio de Atibaia, em que, ao contrário do triplex, toda a imprensa anuncia que os reais proprietários, ou seja, aqueles no nome de quem o registro foi feito, são meros laranjas. 
Vamos aceitar a tese. Veja bem: são pessoas físicas. Nenhuma delas desejando vender o sítio, ao que consta. 
***
Também o Leo Pinheiro da OAS, denunciar que o imóvel era propina, depois de passar algum tempo, preso, como se a delação fosse um salvo-conduto para tornar mais suave sua pena. 
Não conheço o senhor Leo mas é bom lembrarmos sempre que há uma série de crimes que podem ser praticados por qualquer diretor de empresa, especialmente de sonegação, contra a Receita, de fraude à concorrências, de formação de cartéis. 
Ou seja, lembrando que Al Capone foi condenado por uma sonegação de impostos, porque não imaginar que outros crimes poderiam estar sendo transformados no pesadelo de cadeia do construtor, levando-o a aceitar, para diminuir seu castigo, a declarar o que lhe fosse solicitado por juízes, procuradores, e até policiais federais inescrupulosos?
***
E foi o triplex que levou à prisão de Lula em razão de sua condenação em segunda instância. 
Mas, se é verdade o que a coluna Radar da revista Veja traz, de que Gebran admitiu que, ao menos em uma ocasião, agiu ao arrepio da lei, em prejuízo do interesse de Lula, para evitar o mal maior, o que impede de se questionar se foi apenas em uma ocasião que o tribunal mais célere, eficiente e produtivo do país não agiu da mesma forma?
***
Mas aceitemos a condenação em segundo grau, o que tornaria qualquer candidato inelegível, pela lei da Ficha Limpa. Aceitemos que o processo é todo ele cercado da maior lisura e que minhas dúvidas são tolices e facilmente desmontadas. 
Então porque adotar uma decisão de prender e manter na prisão, até de forma completamente estranha, sem dar ao prisioneiro - neste caso, o direito de se manifestar como bem entender, desde que sua manifestação não seja para divulgar, fazer apologia, etc. de qualquer crime - um indivíduo que não teve esgotados toda sua chance de defesa?
***
Afinal, mesmo que não aceitem isso, na busca de promover a justiça custe o que custar, a nossa lei maior diz claramente que ninguém é culpado até o trânsito em julgado. E, embora leigo nas questões jurídicas, não me consta que a segunda instância elimina a possibilidade de recursos e já define o fim da causa. 
***
Tudo bem, como disse antes são dúvidas minhas. Provavelmente descabidas. 
Mas que volta e meia retornam, isso não se discute. 
O que me faz recordar de uma entrevista que assisti e já comentei nesses pitacos, dada na Globo News, por Thom Hartmann, autor do livro "The Crash of 2016". No programa o entrevistador lhe pergunta sobre como ele via a situação brasileira já que o Brasil saiu-se muito bem da crise financeira de 2007/2008.
Sua resposta foi que via o país com preocupação, já que ao fazer políticas distributivas, de renda, como as implementadas por Lula - e que Meirelles deseja assumir a paternidade agora -, ele temia que as elites pudessem se voltar contra Lula. Na ocasião deu exemplos com a reação dos mais ricos americanos quando da implementação de políticas mais populares nos Estados Unidos. 
***
Naquele momento, percebi, mesmo não concordando que Lula estava fazendo uma distribuição de renda que tira do capital para dar benefícios ao trabalho, que o petista estava cutucando onças com vara muito curta. 
O resultado surge agora. 
***


Esquerda e Direita

Mudando de assunto, mas ainda tendo a política como pano de fundo,  fui desafiado por um amigo e leitor assíduo desses pitacos, o Fernando Moreira, professor da Una, a abordar essa questão: o que é ou constitui esquerda ou direita?
***
Como não sou cientista político, devo reconhecer que posso apenas dar alguns palpites, muitos sem maior consistência. 
Mas, na ocasião em que o desafio me foi feito, outra colega, Mônica, abordou tema correlato, muito curioso e interessante: a contradição em que se envolvem os conservadores, de perfil classificado como de direita, e que se apresentam como liberais em relação à forma como encaram os costumes sociais.
***
Em outras palavras, como aqueles que se apresentam como de direita adotam, a um só tempo, posições liberais na economia, e completamente conservadores em questões sociais.
O exemplo maior é o da discussão que tem ganhado espaço, da descriminalização do aborto feito até a 12a segunda semana de gestação. 
***
Veja bem: não é uma lei para adotar o aborto, nem para legalizar o aborto, ou torná-lo obrigatório. É tão somente, uma decisão que permite que mulheres não sejam consideradas criminosas, caso viessem a cometer esse ato, por várias razões, condenável. 
***
Mas dizer que o aborto é condenável por várias razões, não significa que não seja um direito da mulher que é, em última análise, e ao contrário do que pensam os liberais de direita, a única proprietária de seu próprio corpo. 
***
A questão do aborto é, antes de mais nada, de política de saúde pública, por permitir que os hospitais possam fazer o aborto desde que tomada a decisão por quem de direito: a grávida. Porque nem as outras mulheres têm direito de tratar de uma questão que é tão íntima e individual. 
Não é apenas o homem que não devia ter que se envolver na questão, já que o corpo é da mulher. Mas todas as demais, de igual modo e por tal justificativa. 
***
O que se pretende não é obrigar a todo o hospital a praticar o aborto em toda grávida que entrar em suas dependências. Mas em dar oportunidade a que todas as mulheres tenham direitos iguais, no caso, de realizarem abortos em condições que não coloquem em risco sua própria sobrevivência.
Uma vez que todas as mulheres ricas, de classe média e alta, têm condições - e fazem- abortos sem qualquer punição ou risco nas várias e conhecidas clínicas de produção de anjos...
***
Então o que se deseja é permitir às pobres, negras, faveladas, muitas das quais não têm nem teriam qualquer condição de ter um filho, de poderem chegarem a essa conclusão, de que não podem ou desejam o filho, e decidirem interromper a gravidez, sem risco para sua vida. 
Porque no caso dessas mulheres, o aborto sempre se dá em ambientes os mais infectados, com instrumentos idem e condições higiênicas e métodos os mais deploráveis. 
***
Engano achar que o aborto traria maior libertinagem, como alegam alguns. E que a moral social seria reduzida a pó. 
Engano achar que a decisão de abortar seja uma decisão simples, ou que não deixe marcas profundas, no corpo, no organismo, na mente, até na alma. 
O que já seria castigo suficiente para punir as mulheres que o adotassem.
***
Mas absurdo maior é que por eu achar que aborto seja um ato reprovável, eu passe a acreditar que minha opinião é que deve valer, e daí, proibir a que outros ajam ou mesmo pensem diferente de mim. 
O que me faz criar leis - olha aí a intervenção do Estado gigantesco e regulador - para obrigar minha vontade a prevalecer.
Impedindo que  a vontade de cada indivíduo - aquela mesma que sustenta a ideia e moral individualista e liberal - possam vigorar. 
***
E, desnecessário dizer que isso não se aplica apenas à questão do aborto. Mas também ao tratamento da questão de gênero, como se porque alguém nasceu com um gênero e uma formação, não possa, biologicamente e até psicologicamente, se sentir como outra pessoa.
Evitar a discussão de gênero, ou o reconhecimento e tratamento da questão, e até as medidas necessárias para se manter um mínimo de respeito em relação à situação, é admitir que homem é homem e mulher é mulher, apenas porque alguém em algum momento definiu assim.
***
Como a grande maioria de nós temos consciência, em parte tal verdade está presente nas Escrituras, que define desde o início que Deus criou o homem, para só depois criar a mulher, de uma costela do macho.
Sendo assim, não há como misturar tais criações, divinas.
O que faz com que também se critique a questão da educação evolucionista em oposição à criacionista.
Afina, se está nas páginas sagradas, veio de Deus e a ninguém é dado questionar.
Mesmo que os Evangelhos tragam situações, especialmente o Novo, em que a dúvida é mais que tolerada, como no caso de Tomé e as chagas de Cristo.
Mesmo que os que crêem mesmo sem ver, sejam considerados mais felizes...
***
Ora admitir a existência da fé, não significa negar que a fé remove montanhas, o que significa que a própria fé gera a mudança. E que, sendo assim, não há espaço para nada ser, sempre, apenas por que está escrito, imutável.
***
A crítica à direita e seu conservadorismo e desejo de impor suas ideias a todo o resto da sociedade, também vale para o que os se apresentando como de direita, mas acredito que nesse caso só os mais ignorantes, acham que deve ser tolerado ou liberado em termos de arte.
O que os leva a querer determinar o que pode e o que não pode ser exposto, ou presenciado, nem por quem...
***
Ou seja: ou os que esses que se classificam como de direita e que se acham liberais não sabem do fundamento do que batem no peito para bradar. Ou então são apenas mal intencionados mesmo. 
Autoritários e dignos de piedade, ou desprezo mesmo. 
***
Mas não gostaria de deixar de fazer menção ao excelente texto de Marcelo Coelho, em sua coluna na Folha de quarta feira, dia 15, ao tratar da direita no Brasil e de dois de seus representantes mais visíveis, nesse período eleitoral: o capitão deputado que se lançou candidato, e que mostra toda a face pobre da direita, e sua caricatura, o mais direitista ainda, cabo Daciolo. 
A ponto de para Marcelo Coelho, o espelho ter dito ao capitão que há sim, gente ainda mais de direita que ele. 
Por mais ridículo que possa ser. 
E não é nem a Wal, nem vende açaí na praia. 


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Palavras e imagens: cuidados para não voltarmos à escuridão das cavernas.


Vivemos um período de injustificadas urgências, que nos obriga a restringir questões relevantes, discursos, conteúdos.
Por isso e para poupar tempo, inicio cumprimentando os pais, companheiros, familiares e amigos dos formandos, que merecem o reconhecimento por tudo que viveram e se sacrificaram, para dar alento e suporte aos formandos, ajudando-os a concretizar o sonho de estarem aqui, hoje. Parabéns.
A razão de eu estar sendo homenageado essa noite, honra que muito me orgulha, não é só por alguma qualquer qualidade que possam ter descoberto em mim ou em minhas aulas.
Porque junto do convite veio uma intimação para que eu fizesse um discurso. Elaborasse uma mensagem contendo palavras com algum significado.
Lembrei-me de Ziraldo, o autor de histórias em quadrinhos, e de uma entrevista em que o cartunista de Caratinga, afirmava que, já mais velho, percebeu a importância da palavra. Talvez mais importante que o traço, a imagem pronta, definida.
Referindo-se a um diálogo com Carlos Drumond de Andrade, Ziraldo atribuía ao poeta a lembrança de que palavra é a soma de lavra - o veio, a mina, o ouro- e pá, o instrumento para alcançar a riqueza, o conteúdo. Ou seja, a forma e o meio para obter a riqueza maior: o conhecimento.
Trilham o bom caminho os que clamam, no deserto de ideias, por palavras, significados e mensagens com conteúdos.
Razão para relembrar a célebre alegoria da caverna de Platão e suas imagens, virtuais ou imaginárias, carregadas de conteúdos ideológicos em contraposição ao  mundo real.
Em resumo: o relato do grupo de homens em uma caverna,  acorrentados de forma a que não pudessem se locomover, mudar de posição ou sequer virar a cabeça. Condenados a encararem um paredão. Na caverna, além deles, uma fogueira ardente e a presença de seus vigias.
Ao grupo era permitido ver apenas os reflexos, as imagens dos movimentos dos guardas, ou de objetos, pessoas e animais no exterior da gruta.
Sem noção do que viam e sem compreenderem aquelas imagens, os presos desenvolveram não só uma visão mas toda uma explicação do mundo, uma teoria de sua história e até regras  de comportamento.
Até que um deles escapou das correntes e da caverna e, adaptando sua vista ao exterior, não pode evitar o choque causado pela consciência da diferença entre o ambiente fora da caverna e tudo que sempre concebera. Surpreso, decidiu voltar para contar aos amigos sua descoberta, da diferença entre o real e o imaginário.
Na ânsia de transmitir sua estranheza, sua experiência que negava as verdades estabelecidas, as crenças do grupo, não surpreende que o final da alegoria seja a descrição da reação de ira crescente dos outros presos, primeiro como negação, depois pela identificação  do outro como louco, culminando com sua morte.
O que revela como a imagem pode ser enganosa, como  a palavra pode sevir para manipular a realidade, e me leva a refletir acerca desse desejo de condenarmos à morte ou indiferença o que nos é desconhecido. Estranho. Diferente.
Reflexão que me faz recordar uma entrevista de Amir Klink, o navegador solitário dos mares do mundo, e sua referência a uma frase do general grego Ptolomeu. Frase que depois teve a interpretação de seu significado ampliada, e que foi celebrizada por Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
Porque se navegar exige o domínio de conhecimentos técnicos definidos, precisos, seguros, que não dêem margem a erros e enganos, viver é, em contrapartida, justamente o contrário. Viver é se emocionar,  tomar decisões, se decepcionar. Viver é sonhar... Dado que vivemos do presente para o futuro, que nada mais é que o próximo presente e o outro, o outro mais, e que desconhecemos o futuro, como dizia o economista Keynes, vivemos e tomamos decisões sob incerteza. O que nos remete, como o veleiro de Klink, a todo um mundo maravilhoso e dramático de experiências novas, novas imagens e nova concepão do que é a realidade.
Viver é dar asas à imaginação. Criar mundos. Ou se dispor a cavalgar,  como um barco frágil, o dorso das ondas.
Também de Klink é a lição de que não devemos procurar saídas para fugir de problemas. Os problemas devemos encará-los e abraçá-los. Fazer deles nossos aliados.
Não adotar o comportamento de  Neymar e seu cai-cai, destinado a chamar a atenção para suas dificuldades, rolando e se contorcendo no papel de vítima, postura que é a um só tempo derrotada e derrotista frente às quedas e pancadas.
Como já previsto na música, a solução está em cair, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Quem sabe, comemorando um gol e a vitória.
No Brasil, país pleno de injustiças e privilégios, diferenças e desrespeito; de imagens manipuladas, desligadas do real, como cumprir o dever primordial do cientista social: de buscar resolver nossos graves problemas, pela transformação de nossa sociedade?
Em meio a crises, em que problemas individuais e financeiros se acumulam a problemas sociais, qual o comportamento adotar? Individualista como Neymar ou do tipo coletivo, do time entrosado em busca de um objetivo comum?
Para vocês formandos, apenas uma advertência, quem sabe recomendação: evitem adotar o comportamento dos prisioneiros da caverna. Lembrem-se que a realidade, mesmo que dura e trágica, é sempre muito melhor que a criação de fantasias, que a veneração de mitos, fardados ou não; cultos e letrados ou não. E que o interesse comum é sempre potencialmente mais rico que a defesa de interesses corporativos.
À moda de Darcy Ribeiro, lembrem-se que há apenas dois lados em disputa: o lado dos indignos e dos indignados.
Lembrem-se que a construção de um país não passa pela liberação do porte de armas, pelo autoritarismo, por desrespeito e perseguição  ao diferente, mas pela participação, em igualdade de condições, de todos nós.
Que tudo o que queremos está sempre do outro lado do medo. E que a construção de um país melhor para todos nós depende, sobretudo de nós mesmos. E de nossos esforços.
Que vocês possam ser os construtores desse mundo novo.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Debate da Bandeirantes e algumas das razões de sua ineficácia. Como permitir um debate verdadeiro?

Ainda de volta ao debate da Bandeirantes, não há como negar a importância que assume um primeiro evento do tipo.
Mesmo que em um programa que não conseguiu, minimamente, atingir o objetivo principal: colocar os candidatos para discutirem ou debaterem suas propostas de governo, ou seja, permitir  a cada candidato um espaço para poder apresentar o que ele e seu partido enxergam como problemas principais do país; o que identifica como causas de tal problema e, em função disso, o tipo de soluções que pretende implementar, caso eleito.
A partir daí, pressupõe-se, para que haja um debate, que fosse dada, a outros candidatos, a oportunidade de: mostrar o grau de importância atribuída, por ele, ao problema considerado prioritário para seu adversário. Classificar o grau de importância que ele atribui ao problema, caso tenha outras prioridades. A partir daí, e tendo em vista o problema, analisar as causas apontadas pelo concorrente, indicando se concorda com elas, e até apontando outras. Para finalmente, tecer comentários sobre as soluções propostas por seu antagonista e, se for o caso, apontar as suas propostas específicas.
***
Claro que sei que um programa como o aqui sugerido acabaria se arrastando por um tempo demasiado longo - um pecado na grade de programação de qualquer meio de comunicação - em razão do número de participantes muito elevado.
Debater com 8 candidatos, dando-lhes o espaço aqui pretendido, iria fazer com que um número muito limitado de questões fosse abordada.
***
A favor de minha proposta, digo apenas que, por menor que fosse o número de temas tratados, eles seriam tratados com menos afoiteza e ligeireza que o que vimos na Band.
Primeiro porque evitaríamos que os candidatos pudessem, como é no formato atual, tratar os problemas nacionais - e a importância que atribuem a eles, em termos de hierarquia -, da forma tão geral e evasiva que lhes é peculiar.
Afinal, o candidato dizer que tem preocupação com Educação ou com Segurança ou Saúde é algo tão genérico, que seria curioso e estranho se algum candidato em seus parcos instantes de participação dissesse que discorda de que tais problemas sejam importantes.
Mas, em 2 minutos, apenas se permite que o candidato fale de forma geral, na questão guarda-chuva, e possa ganhar tempo, adotando o mesmo tipo de comportamento que, no futebol, convencionou-se denominar de cera. Ou seja, enchendo linguiça, para não ter que aprofundar a questão.
***
Resultado: ficamos sabendo que, até o cabo Daciolo, também reputa que nossa educação é deficiente. E ponto, sob a glória do Senhor.
Nada contra a fé do candidato, ao contrário. Mas, depois de tanto trazer o discurso religioso para o lugar de destaque em sua participação, não seria justo que pudéssemos estabelecer como hipótese, apenas para ilustrar, que o cabo acredita que a questão central na Educação, principalmente na educação de base, é não se privilegiar o ensino criacionista?
***
Vimos que Bolsonaro é a favor de uma Escola sem Partido. O que ele entende, exatamente, quanto a isso? Ninguém pergunta. Mas será que tal escola excluiria o ensino de fatos que, por enaltecerem ideias distintas das suas, não poderia ser tratado?
Em outras palavras, sem partido, de tal forma que não se permita a existência de uma, qualquer que seja, doutrinação, seria tratar das questões de conhecimento apenas pelo ângulo da sua (dele) visão?
***
Com o debate no formato que está, tomamos conhecimento que Ciro irá tirar o nome de 63 milhões de brasileiros do SPC.
Como?
Ele irá mandar apagar arquivos? Irá mandar os bancos renegociarem dívidas em qualquer condição? Irá pagar para todos os devedores que se cadastrarem?
Ou irá tentar uma política econômica que assegure a recuperação do nível de demanda agregada, elevação do emprego e renda e, dai, permitir que cada um pague suas dívidas?
Nessa política de recuperação da demanda agregada, qual a importância, em meio à crise fiscal que se tanto se destaca, dos gastos públicos? E que tipo de gastos seriam privilegiados? Com que recursos?
***
Pior: pudemos ver um candidato, escandalosamente, assumir a responsabilidade pela adoção de uma política como se fosse ele o seu principal mentor ou artífice, quando seu papel era limitado a um aspecto, importante, mas menos amplo, da mesma política.
É conveniente lembrar que Meirelles não foi o primeiro nome sondado para presidir o Banco Central. Até por ser deputado recém-eleito pelo PSDB de Goiás.
Ora, se acabou se tornando o indicado para presidir a Autoridade Monetária, é porque outros economistas convidados, declinaram do convite. Assim, de acordo com os nomes da lista de economistas que eram vistos com agrado pelo mercado, chegou-se a Meirelles.
E, por mais que Lula e o PT estivessem capturados pelo mercado, principalmente os financeiros internacionais - vide a Carta aos Brasileiros, da qual Meirelles não participou em nada-, a verdade é que é pouco provável que Lula, esperto como é, deixasse a formulação de área tão sensível, para dizer o mínimo, nas mãos de quem era do partido de oposição a seu governo.
***
Mas ainda mais ridículo que querer posar de pai da política lulista - tão criticada por toda a oposição, para quem Lula só teve êxito por culpa das condições imensamente favoráveis gestadas no mercado internacional - foi Meirelles querer atribuir-se o papel de criador de 10 milhões de emprego.
Ou ainda criticar o PSDB, aproveitando-se para deixar Alckmin em  "saia curta", mesmo tendo demonstrado tanta afinidade com o partido tucano.
***
E poucos se lembram, mas os juros eram extremamente elevados no período Meirelles, mesmo tendo sofrido sim, uma redução em sua gestão à frente do Banco Central.
Mas poucos se lembrarão que, mesmo os índices de inflação insistindo em ficar abaixo do centro da meta, ele não seguiu a política tão reclamada pelo setor produtivo empresarial, a de reduzir ainda mais a taxa próxima a 18, ou 20%.
***
Naquela época, com sua insistência, muitos criticaram a manutenção elevada da taxa de juros, acusada de ser a razão de todo o influxo de capital externo em nosso país.
De quebra, também a razão de nosso câmbio valorizado, o que encarecia nossas exportações, estimulada as importações e, por fim, ajuda a entender o processo de desindustrialização de nosso país.
***
Mas se manteve os juros elevados, sob críticas naquele período de Lula, como ministro da Fazenda, depois, adotou o mesmo comportamento, com a mesma lentidão para dar início ao processo, mais tarde iniciado de redução dos juros.
Ou podemos inferir que a redução de juros não é resultado de decisões de Meirelles, mas apenas decisão do presidente Ilan, do Banco?
***
Da vaidade e oportunismo de Meirelles, é desnecessário tratar.
Mas para obter cargo e projeção, e poder, ele renunciou ao mandato conquistado, abandonou o partido com que se identificava e foi servir ao seu adversário.
Mais tarde, estava sempre disposto a assumir o papel de ministro do governo Dilma, até mesmo por recomendação de ... Lula.
E, não tendo obtido êxito nessa empreitada, aceitou, sem qualquer pudor, ser o ministro do golpista Temer.
E afundou a economia,  talvez por não perceber a necessidade de reduzir os juros antes, cegado por alguma incapacidade de enxergar o que não lhe interessa, como o demonstra o fato de não ter, em qualquer momento, percebido, como presidente do Conselho de Administração (cargo figurativo, eu sei) do grupo JBS, as mutretas de que o grupo se valia para crescer.
Ou então, mais uma vez, ele apenas optou por adotar comportamento mais interesseiro,  pendendo de vez para os interesses dos mercados e não dos trabalhadores desempregados do país, em oposição à postura adotada por ele no governo Lula.
***
Ciro mostrou bom humor. Mostrou que não é da URSAL, ridicularizando ao cabo pastor, mas mostrou também estar mais preocupado em fazer demagogia de discursos de promessas vãs, o que se ilustra pela insistência em tratar de inadimplência de parte da população brasileira.
Foi simpático a tal ponto, e comedido em seu comportamento, que deixou Bolsonaro falar o que bem quis, sem criticá-lo.
***
Marina foi a mesma de sempre. Verde... Ainda à espera de uma ocasião para mostrar mais maturidade, quem sabe, se conseguir escapar da Rede, em que se acha enredada.
***
Boulos mostrou que é articulado, mas que não é elegante, em debates do tipo, não deixar os adversários ficarem fazendo elucubrações e devaneios.
***
O que é permitido pelo formato do debate.
Onde situações como a que ilustro a seguir, confirmam que antes de mais nada, o programa é apenas uma oportunidade para que os candidatos possam aparecer, tentar agradar, mostrar sua cortesia, seu bom humor, etc.
Senão vejamos: o jornalista pergunta, o candidato responde à questão. Outro candidato é selecionado pelo jornalista para criticar a resposta ou pensamento do candidato questionado. E o que esse "comentarista" faz?
Desvia do que foi falado pelo oponente, para falar do que lhe interessa, às vezes sem qualquer ligação, inclusive, com a questão e sua resposta.
Na réplica, o mesmo comportamento - fugindo da questão e indo para outros assuntos, é adotado pelo candidato questionado.
Nesse meio tempo, o jornalista nada fala, não cobra, não mostra que o candidato está tergiversando, fugindo do assunto. Ou seja, não confronta a nenhum dos candidatos e suas respostas.
***
Daí minha opinião: o programa foi muito fraco. Difícil de manter nosso interesse, em suas 3 longas horas de apresentação.
O que nos mostra que o debate e seu formato tem de ser repensado.
Se for mesmo para contribuir com o aperfeiçoamento de nossa democracia.
***


Ausências no Debate

Morno como foi, o debate ainda mostra uma falha, em minha opinião insanável: a ausência do candidato do PT, Lula. Que poderia participar,  via internet, direto da prisão em Curitiba.
Isso, uma vez que sua candidatura ainda não foi impugnada. E por ser, até aqui o líder das pesquisas.
***
Muitos dirão que Lula não tem o direito, por estar preso, condenado. Outros dirão que ele é inelegível e ponto.
Aliás, embora todos se silenciem, até mesmos os juízes que irão, imparcialmente, emitir seus julgamentos e manifestar-se a respeito no devido processo legal, já afirmam, abertamente, que Lula é inelegível.
Antecipam decisão que ainda não foi tomada.
***
Por tanta curiosidade que insiste em acontecer no processo em que Lula está envolvido- com juízes reconhecendo que deixaram de respeitar a letra fria da lei (vide a coluna Radar da revista Veja, com referência a Gebran) - resta-nos a todos os brasileiros mais cientes de compete a nós exigir e manter o respeito primordial às leis, nos filiar à corrente dos que acham que debate sem Lula é golpe.
***

Mas mais curioso que a ausência de Lula, é o manifesto que roda pelas redes sociais, pressionando para que Amoedo, do Novo, possa passar a participar dos debates agendados.
Isso, vindo de várias pessoas que não aceitam a participação de Lula, por ser contrária ao ordenamento vigente, na estreita e já antecipada decisão de inelegibilidade. Mas que no caso de Amoedo, não se constrangem em desejar que a lei não tenha eficácia.
Apenas por que o discurso do empresário é um discurso que soa como música aos seus ouvidos, e seja mais, muito mais fácil de deglutir que os destemperos de Bolsonaro ou Daciolo.
***
Pergunte a quem pede que a lei, que pode ser falha ou não, mas existe, e diz que partidos Novos, sem um número mínimo de deputados não devem ser necessariamente convidados para participar desse tipo de programa.
O interessante seria poder perguntar a eles, se no caso de Lula, em que ainda não houve qualquer decisão pela impugnação ou não, se a lei não deveria ser cumprida?
Bobagem tratar de especular qual a resposta.
Porque para alguns, o ditado romano vale sempre: Dura lex, sed lex.
Mas apenas para alguns: de preferência, os adversários.
***
E essa é a democracia que julgam estar construindo. (E devo dizer que acho que todos os candidatos deveriam ter o mesmo espaço para apresentação de suas ideias. Inclusive o Amoedo).

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Semana agitada na política: a falta de Estado na violência TAMBÉM contra a mulher. O cenário político em Minas e Bolsonaro, a principal atração da semana

E, de repente, a semana passada que havia se iniciado com a mesma letargia que dominava o ambiente desde ao menos o mês de julho, das férias, da frustração da Copa do Mundo, da persistência demonstrada por nossa economia em andar de lado, acabou me desmentindo, ganhando ares de novidade, de maior dinamismo.
Dinamismo que não se deveu a qualquer nova estatística divulgada pelos órgãos de pesquisa, capaz de mostrar, enfim, um ponto de inflexão. 
Poderia ser dito que, até pelo contrário, as estatísticas divulgadas apenas serviram para indicar a sequência, em escala algo maior, do grau de deterioração de nossa sociedade: aumentou de forma preocupante e assustadora o número de mortes violentas, por homicídios, feminicídios, mortes praticadas por policiais e, como não poderia deixar de ser, morte de policiais.
***
Como a morte da soldado Juliane, tão reprovável quanto a morte de outros policiais e capaz de gerar, ou melhor, fato que deveria gerar tanta comoção e sentimento de indignidade quanto a morte de qualquer outra pessoa. No caso de Juliane, qualquer outra mulher. De qualquer outro policial. 
***
Mas, se a estatística mostra o avanço das mortes violentas, é importante observar que isso é, em minha opinião, fruto de uma sociedade que já há algum tempo tem aprendido a conviver com a violência em sua prática. Em seu dia a dia. O que acarreta tão somente uma constante deterioração - previsível, do ambiente em que vivemos. 
***
Parece que nos acostumamos e que a violência cotidiana começa a fazer parte e até ser aceita de nossa rotina. 
O que nos proporciona a oportunidade de assistir a mortes de, em apenas uma semana, ao menos 3 ou 4 mulheres, cujo único crime foi o de manifestarem seu desejo de deixar de ser uma propriedade, um objeto de humilhação de seus companheiros, na qualidade de "seus proprietários". 
Pior: várias delas, assassinadas quando estavam sob medidas protetivas ou sob a guarda e proteção do Estado. Do Estado não!
De todos nós!
De todos nós que muitas vezes já ouvimos, achando graça, que a mulher levou uns tapas para aprender a ficar calada. Ou que já fomos capazes de fingir ignorar e que até "entendemos" os corretivos aplicados à mulher que queria se divertir, ou que ousou usar roupas que ferem o direito de exclusividade de seus donos.
***
A culpa do feminicídio é nossa, da sociedade como um todo. Por aceitarmos que em briga de marido e mulher, ninguém deve meter a colher. Frase que já gerou até uma observação bem humorada, mas ainda assim, que merece ser olhada de um novo ângulo, gracejo atribuído a Tancredo Neves, para quem, em briga de marido e mulher, se o marido for esperto, nem ele mete a colher...
A culpa do feminicídio é nossa, de cada um de nós, que se cala quando vê imagens de homens presos por agressão a sua companheira, chegando sorridentes à delegacia, como se tivessem praticado um ato de heroismo. De resgate da masculinidade e vingança.
Policiais, delegados, outros conduzidos, outros indiciados, nós mesmos, tratamos com desdém as queixas e abusos sofridos pelas mulheres. 
Posição que acaba se transformando na aprovação tácita da brutalidade contra a mulher.
***
Mas, se havia medidas protetivas para as mulheres, porque elas não funcionam?
Pelo mesmo motivo de o número de mortes violentas ser, embora recriminável, algo previsível: a ausência do Estado. 
Não o seu contrário, como várias pessoas, muito bem intencionadas e preocupadas em resolver os problemas de nossa sociedade bradam: o excesso de Estado, de burocracia, de impostos, etc. etc.
***
A morte de militares, é fruto da ausência do Estado e do poder cada vez maior que esse vácuo, propiciou aos marginais, às facções de bandidos, aos milicianos, até a gente de bem, ou que se acha acima de qualquer censura, por estarem apenas fazendo justiça com as próprias mãos. 
A morte de marginais, em acerto de contas, e brigas por espaços de atuação, é também fruto da ausência de um Estado capaz de punir, com rigor, mas sobretudo com respeito, aos que merecem penas duras, mas castigos justos. 
Antes de mais nada, para destacar bem a diferença entre nós, a maioria da sociedade, e eles. 
Entre nós que respeitamos direitos humanos dos que não respeitam humanos direitos. 
A menos que não queiramos, por princípio, sermos direitos. Já que, continua sendo válida sempre a frase de que se matarmos todos os homens maus, não sobraremos os bons. 
Ficaremos apenas os assassinos. 
***
Que a falta do Estado é a maior causa do aumento da violência, fica claro na morte dos Amarildos, de Marielle Franco, e tantos outros, vítimas de crimes sem apuração.
***

Agitos Políticos em Minas

Mas o agito da semana veio da política, da realização das convenções partidárias, e dos arranjos de última hora, capazes de trazerem maior tempo de exposição nas mídias, maior tempo de propaganda, ao tempo em que já se caracterizam como os acertos de loteamento da máquina do governo e de sequência assegurada, sem ameaças quaisquer da continuidade de falcatruas de toda espécie.
***
Claro, de tais acertos não resultam apenas flores, e muito desgosto e frustração também acabam por surgir. 
Como no caso de Márcio Lacerda, o candidato ao governo de Minas, pelo PSB - Partido Socialista Brasileiro. 
Alijado do páreo, por manobra e acerto que o Diretório Nacional de seu partido fechou com o PT. 
E que apenas representa o mesmo comportamento, criticável e sem qualquer resquício ético, que o próprio Márcio adotou em 2016, em relação ao nome por ele indicado para concorrer, pelo partido, à Prefeitura de Belo Horizonte: Paulo Brant.
***
Apenas que, ao contrário do economista, do técnico, do empresário Paulo Brant, que se retirou frustrado, mas em silêncio, Márcio resolveu se insurgir, como menino birrento, contra a decisão que julgou prejudicá-lo.
***
A esse respeito, é interessante até notar que, a muitos passa despercebido, mas Márcio Lacerda ser filiado ao partido socialista, já é uma das excrecências de nosso sistema político-partidário. Logo ele, Márcio,  o empresário que conseguiu se despontar como dono de empresa considerada de área estratégica, na época da ditadura militar que tinham a incumbência de gerir e desenvolver a área de tecnologia e informática.
E veja bem: Márcio, cuja trajetória de vida em minha opinião pode indicar ser tudo, menos socialista, não é o responsável por essa extravagância. 
O PSB é muito mais responsável por tal situação. 
Razão porque quando Márcio se insurge contra o partido, ele não adota comportamento muito criticável. Porque típico de situação política em que pessoas se atribuem maior importância e valor que os próprios partidos. 
O que transforma os partidos em tipos de ônibus. Conduções ou veículos para permitir que as aspirações individuais possam ter espaço para se manifestar. 
***
Jogadas que se reproduzem com o candidato do DEM, em Minas, Rodrigo Pacheco. Com a diferença que o deputado federal mineiro pode ter negociado mais que apenas o abandono de sua candidatura, sem muito apelo popular e apoio político e partidário, ao governo mineiro nesse momento. 
Ele pode ter acertado, desde agora, o apoio dos políticos tucanos, para eventual candidatura futura.
***
E já que Minas é o nosso foco, vale lembrar que Fernando Pimentel, governador que tenta sua reeleição é justamente o mesmo político que, eleito, tratou o funcionalismo a pão e água. Em relação aos aposentados, não apenas propôs e parcelou o pagamento dos salários, como anda atrasando até mesmo o cronograma de pagamentos que insiste em divulgar. 
Apenas para trazer mais decepções, e para mostrar sua completa insensibilidade com a fatia da população menos apta para se defender e a seus interesses. 
***
Mas isso não admira a quem se lembra que Pimentel também foi protagonista de um verdadeiro golpe quando, como prefeito de Belo Horizonte, se aliou a ... Aécio Neves, então governador, para lançar Márcio Lacerda candidato. 
Situação que, mais uma vez com a empresa do agora revoltado Márcio, serviu para desmobilizar e fragilizar companheiros de seu partido, o PT, de maior prestígio e até envergadura moral que Pimentel.
***
Que a lembrança da tramoia de Pimentel, então com a promessa de se tornar o candidato de consenso de Aécio e do PT em Minas, e mais tarde ludibriado como qualquer criança inocente pelo esperto Aécio, que acabou indicando e fazendo Anastasia seu sucessor, possa servir para que Rodrigo Pacheco ponha suas barbas de molho. 
***


Política nacional

No cenário nacional, dominado pelo debate inaugural, promovido pela Bandeirantes, a agitação da semana foi praticamente toda decorrência da presença de Jair Bolsonaro no páreo. Pior: com condições de passar ao segundo turno. 
***
Bolsonaro já começou a semana, participando do programa Roda Viva, onde mostrou seu despreparo intelectual para poder pleitear o cargo. 
Despreparo que também era característica de Lula, e que não impediu o metalúrgico de se tornar presidente do país e, justiça seja feita, realizar um governo com mais méritos que desacertos em minha opinião. 
Falo aqui de governo de Lula, políticas e programas de governo colocados em marcha e não de questões e comportamentos pessoais. 
***
Mas ao participar do programa, mais uma vez pode expor suas ideias, capazes de preencherem bastante perfeitamente o figurino do homem que trata a mulher como ser inferior, tal qual descrevemos no início desse post. 
Machista, homofóbico, autoritário como convém a todo aquele que considera, como ele deixou claro no debate da Band, que educação tem que ser com disciplina e autoridade. Só faltou falar com hierarquia. 
Como no Exército. Aliás, base de sua proposta para o ensino médio: a criação de vários colégios militares. 
***
Nada contra colégios militares, de renomada tradição no ensino de qualidade reconhecida. O que valeu até movimentos, como o da sociedade mineira para evitar seu fechamento, e para dar suporte a sua continuidade, na década de 70, ou 80. 
***
Mas, o que valeu mais críticas a Bolsonaro, já denunciado por ofensas racistas dirigidas a quilombolas, foi uma frase sua, para justificar sua postura contrária ao sistema de cotas para negros. 
Parece que, em seu entendimento, as gerações atuais nada devem à raça negra, por não serem os escravizadores. Por não terem culpa e não viverem o passado condenável de exploração do trabalho escravo, especialmente do negro. 
Bolsonaro chegou ao cúmulo, para se justificar, de afirmar que Portugal não esteve na África, para aprisionar e escravizar os povos da região. 
***
Em se tratando dessa questão, Bolsonaro parece ter lido (se é que pratica essa modalidade violenta de comportamento!), ou ouvido o galo cantar, sem saber onde.
Mas, isso não significa que as críticas feitas a ele nas redes sociais, estivessem cobertas de razão. 
Pode-se até questionar a fonte, mas é verdade que negros africanos se não vieram navegando para nosso continente, para se entregarem à escravidão, também foram vítimas de guerras tribais, da situação de miséria extrema vivenciada no continente. 
Como falei antes, se aceitarmos a fonte, Geoffrey Blainey, em sua obra Uma Breve História do Mundo, publicação da Editora Fundamento, dedica um tópico à questão da escravidão.
Nesse tópico, recorda que: "A África, durante muito tempo, exportou uma mercadoria polêmica que tinha alta demanda em quase todos os lugares: os escravos.
Deve-se imediatamente ressaltar que a escravidão foi de extrema importância em vários outros países e tribos. A China antiga possuía milhões de escravos... Os indianos possuíam escravos antes e depois de Cristo. ...alguns estados da América, muito antes da chegada de Colombo...."
***
Em outro trecho, infoma que "Em muitas partes do mundo, era quase uma regra que, em conflitos, os prisioneiros fossem mortos ou escravizados."
Como as guerras eram frequentes....
Mas, em se tratando de escravidão moderna, a que fere nossa ideia de dignidade e que, de fato, considerava o negro, a mais lucrativa das mercadorias, Blainey, afirma, sem que isso sirva de justificativa para o crime menor de portugueses:
"Muito antes de os navios europeus começarem a levar escravos da África, os próprios africanos eram atarefados comerciantes de escravos.
Na África, muitas pessoas eram escravizadas pelos próprios parentes. Pais, às vezes, vendiam seus próprios filhos para a escravidão; irmãos vendiam irmãos. .... Os escravos eram geralmente devedores, criminosos, desajustados, rebeldes e, principalmente, prisioneiros de guerra.
No século 16, a maioria dos escravos exportados da parte ocidental da África era de mulheres, ... para terras islâmicas. Um século depois, a maioria era de homens, ... em navios de bandeira européia para as colônias cristãs na América. Os portugueses foram os pioneiros do comércio de escravos para a América – eles já os usavam em suas plantações de açúcar, nas Ilhas de Cabo Verde e da Madeira..."
***
É essa herança maldita da raça africana para aqui trazida, que merece, a meu juízo, que nós, nos dias de hoje, não esqueçamos que os negros não tiveram, não puderam ter a oportunidade que muitos de nós tivemos. E nem é uma questão social, na linha de "existem também brancos pobres, miseráveis".
Porque esse empobrecimento dos brancos é fruto do funcionamento desigual e injusto, em nosso país, mais que em qualquer outro lugar, do sistema capitalista de produção. Cheio de privilégios. 
Mas, a verdade é que os negros não chegaram nem a ter essa mesma oportunidade de se justificarem pelo funcionamento da máquina capitalista - da qual foram vítimas - mas a questão relativa a eles, antecede a implantação aqui, do capitalismo industrial, com suas feições de modernidade. 
***
Para mim, temos sim, uma dívida com os negros, para poder permitir-lhes, a todos, já que há sempre aqueles que conseguiram por esforço próprio se destacarem. Mas a todos, sem qualquer distinção, há a necessidade de trazê-los, se for o caso, para o mesmo patamar que lhes permtiria, como outras raças, ser objeto de exploração, expropriação e empobrecimento, do sistema que já conta com mais de noventa anos de sua implantação no nosso país. 
***
Por isso, aprovo e defendo o sistema de cotas, embora, sempre, como tudo na vida deveria ser, por um período que não poderia se expandir por várias e várias gerações.
Como é comum acontecer no Brasil, e que acaba, por não ter prazos delimitados de funcionamento, se transformando em privilégios ancestrais. 
***
Em outro dia, Bolsonaro foi entrevistado na Globo News, onde lembrou aos jornalistas que o criticavam por ser um saudosista da ditadura, que a própria rede em que eles tinham emprego e ganhavam seu sustento, também apoiou a ditadura. 
Por ter dito verdades, levou os jornalistas a se calarem, ou pior, a terem de cumprir o papel de empregados em defesa de sua empresa, com a Míriam Leitão assumindo o papel de reproduzir um texto editorial, rabiscado às pressas, por seus patrões.
Antes tivessem a hombridade e independência de admitem que sim, trabalham em empresa que foi favorável à implantação do regime autoritário e torturador no país.
O que não significa que não houve mudanças da filosofia da própria empresa (o que é bastante questionável!!!) e que por serem empregados, os profissionais de imprensa não tenham direito de ter opiniões contrárias e até críticas a tal postura ( igualmente tão questionável).
***
Do debate tedioso da Band, apenas assinalar que Bolsonaro se comportou de forma tranquila, e que não foi o que todos esperávamos. A ponto de ter se saído bem, nas avaliações feitas por várias análises. 
O que deixamos para comentar amanhã, o debate da Band, e que ainda assim vale o alerta: este Bolsonaro é o perigo, por seu comportamento camaleônico. 
***
A ver...

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Pitacos em situação de economia paralisada. Por que parece que o Galo não gosta de jogar para a frente. Outros pitacos e a promessa de maior assiduidade

Com a economia brasileira andando de lado, confesso ser invadido por um certo desânimo, toda vez que me bate a vontade de dar alguns pitacos. 
E, parte dessa minha reação explica-se pelo fato de ter o sentimento de que o tambemquerodarpitaco não é e nem pode ser uma obrigação. Mas algo que deve ser feito com prazer, dominado pela inspiração. 
Porque desde o primeiro momento, além de ter a certeza de que não queria -e não quis -  fazer um blog apenas para tratar de questões econômicas, uma outra convicção que trazia e trago comigo é a que não teria nenhum sentido, e estaria apenas abusando da paciência de meus amigos e poucos leitores, se me dispusesse a ficar realizando e postando análises do tipo de elevador. Análises que todos conhecem bem, preocupadas apenas em ficar informando que o PIB ou a receita ou qualquer outra estatística relevante, subiu x ou caiu y, de um mês para o outro. 
Para mim, essa informação estatística, cuja importância é inegável já nos é transmitida pelos órgãos de imprensa, razão até por que como todos nós temos conhecimento, para dar informações econômicas e comentá-las em nossos órgãos de comunicação mais tradicionais, basta que a pessoa que o faça seja jornalista. 
Não há necessidade alguma de ter qualquer conhecimento de economia, das teorias que a embasam, ou basta apenas ter um conhecimento de manual, sem qualquer aprofundamento: quase um senso comum.
***
Vide, a esse respeito, as notícias de discussões e desentendimentos entre o professor Samy Dana e alguns jornalistas da Rede Globo, quando da reunião para debater o formato de um novo programa de economia a ser apresentado na GloboNews. 
***
Mas, se para se realizar uma análise de evolução, os dados de elevador são importantes, penso que, especialmente em um blog, e nesse, em particular, mais importante é buscar as causas, tentar entender as condições que explicam os eventos e fenômenos, e procurar tentar apresentar os desdobramentos dos eventos, em suas várias (embora não as esgotando, claro!), alternativas.
E, infelizmente, com a economia paralisada, a minha preocupação é não ficar me repetindo, ou pior ainda, fazendo postagens do tipo: " como já estávamos prevendo"; como já tínhamos falado, etc.
***
Por que, sem entrar nessa linha de comentários, os que lêem esses pitacos sabem que desde o início do ano, quando as previsões de crescimento do PIB estava apontando para próximo de 3%, eu já postava que não via qualquer motivo para que a economia apresentasse crescimento tão robusto. Quem sabe, no máximo, algo como 1%, um pouco mais de 1%, não ultrapassando 1,5%. 
A razão para meu pessimismo, a proximidade de eleições, o ambiente de incerteza que iria tomar conta de empresários, por um lado. De outro, a trava que o resultado das contas públicas acaba impondo ao gasto do governo em investimentos. 
***
Ora, como já nos ensinava Keynes, não basta que os juros sejam baixos para que o cálculo econômico aponte a viabilidade do empreendimento e isso possa vir a estimular o investimento privado. E isso porque esse cálculo leva em consideração e é influenciado pela perspectiva de vendas, ou expectativa de obtenção de lucros por parte do empresário. E, em economia em que a renda está estagnada, e onde o emprego não reage, apenas a adoção de medidas tópicas, ou ad hoc, são capazes de permitir alguma reação, mesmo que mínima. 
***
Como já abordado aqui, em outras ocasiões, à economia não basta estar bem comportada, ela precisa de ter um constante estímulo, inclusive para poder gerar o ambiente econômico suficiente para levar o empresário a querer correr riscos, ou melhor, a não se deixar ficar imobilizado por qualquer incerteza futura. 
***
Assim, e independente da greve dos caminhoneiros, que ninguém desconhece que trouxe consequências danosas para a economia do país, mas que foi o que poderia ser tratado como o motivo equivalente à ponta do iceberg, a produção começou a mostrar sinais de um crescimento inferior aos 2%. A taxa de desemprego apenas sofreu redução minúscula, por obra e graça da expansão do número de empregados informais, em condições precárias de trabalho e renda. 
***
Os 13 milhões de brasileiros sem emprego, afinal, precisam sobreviver e estão dispostos a aceitar qualquer remuneração, fazer qualquer atividade, qualquer bico, para poder, ao menos por comida em casa. 
E, nesse momento, é inegável que grande ajuda adveio da reforma trabalhista, que apenas legalizou o abuso e a exploração do trabalho pelo empregador. Sob a justificativa do contrato particular firmado entre quem tem condições de sobrevivência e de espera, frente àquele que não tem como esperar, para poder continuar sobrevivendo. 
***
Mas, de tudo isso já tínhamos falado e vimos falando há muito tempo, e não quero ficar na situação de ficar repetindo: eu te disse, eu te disse...
Apenas devo salientar que, apesar de críticas sempre feitas pelos que acreditam que a economia pode ser tratada como um mecanismo matemático, funcionando à perfeição, quem sabe um "deus ex-machine", e que classificam a todos os que não têm a mesma opinião como sendo keynesianos de quermesse, a verdade é que os poucos resultados positivos obtidos por esse desgoverno Temer, é fruto de medidas tipicamente de estímulo da demanda. 
Se a economia cresceu algo em 2017,  o fez por obra e graça do consumo, alimentado pela liberação de cotas do FGTS, do PIS/PASEP, etc. e não de medidas ortodoxas de contenção de gastos, lembrando aqui, não apenas o efeito multiplicador perverso de corte de gastos públicos para a recuperação econômica, mas o fato de que medidas de corte de gastos devem ser tomadas quando o país está em crescimento, não em queda livre.
***

Outros temas

Se a economia está inerte, porque não falar de futebol, atleticano que sou, convicto e doente?
Porque estou chegando à conclusão de que nada entendo desse esporte.
O que explica porque há alguns anos, não consegui entender a profundidade da frase de Parreira, de que o gol era apenas um detalhe.
Ora, em um esporte cuja origem é a Inglaterra, e onde goal é nada mais nada menos que o vocábulo para objetivo, inverte-se completamente a lógica do futebol, e aí a genialidade de Parreira, colocar o objetivo como mero detalhe. 
***
Vá lá. Dizer que o gol pode sair por acaso, e em geral são os gols mais bonitos, e defender que haja toda uma série de táticas, jogadas ensaiadas, etc, que podem levar com mais frequência ao gol, é uma frase que não dá para criticar. 
Mas daí dizer que o gol é detalhe...
***
E porque estou tratando dessa situação? Porque toda a crítica e toda análise indicam, por exemplo, que o Atlético jogou mal na Bahia, e mereceu até perder - sendo uma conquista ter saído de Salvador com um empate, porque deu azar. Afinal, levou o gol de empate no último segundo do jogo. 
Mas, para mim, a história foi outra. 
O Atlético começou correndo e jogando em cima, deixando de respeitar os minutos iniciais de estudos do adversário. 
Dessa forma, com 4 minutos já tinha marcado um gol, em jogada que releva a qualidade e a inteligência de Chará, o colombiano. 
E daí para a frente o que o Atlético fez?
Quis jogar com a posse da bola, seja lá o que se entenda hoje por isso. 
E o que se viu?
Um repeteco: bola para o lateral, que volta para o volante, que atrasa para o zagueiro, que devolve para o lateral que passa para o meio... Em lugar de viradas de jogo, para pegar a defesa adversária desorganizada, a bola volta da direita para o meio, que rola mais atrás para o armador, que joga para o lateral esquerdo já mais avançado, que então lança o ponta esquerda, ou ala, depois de toda a defesa contrária perceber a manobra e se proteger ou reforçar a marcação. 
***
Pior é quando - e o Atlético irrita de tanto adotar esse comportamento - o jogador pela esquerda percebe que a defesa está já toda fechada, e rola para o armador, que joga para o meia na intermediária, que recua para o volante, daí para o lateral, e para a zaga. 
E tal suplício pode se tornar ainda pior, quando é recuada a bola, lá da intermediária para que Victor saia jogando com os pés. 
***
Alguém ainda quer que um time que gosta da bola como esse, mas que não gosta de partir para a definição, para o jogo, vença?
Só lembrando, contra o Paraná, o Galo finalizou pela primeira vez, aos 38 minutos do primeiro tempo, por sorte, no lance de gol de Leonardo Silva. Convenhamos que é muito pouco.
***
O que me intriga entretanto, é que o Galo pode e tem qualidade para partir para cima e tentar definir o jogo. Se contra o Bahia (e também contra o Paraná) de tanto ficar enrolando acabou tomando um sufoco, no caso do time baiano isso causou o gol de empate. Que era mais que justo para o time da casa. 
E o que aconteceu,  a partir de então?
Foi apenas então que o time voltou a correr, jogar para frente, com velocidade e, não custou muito, em 4 ou 5 ataques, voltou a marcar, em jogada de Ricardo Oliveira. 
Como a injustiça com o time da casa seria muito grande, no segundo final, a defesa deixou a bola pererecar sem que nenhum beque se aproximasse e o Bahia fez o gol do empate final. 
***
Ou seja: quando os jogadores desejam, partem para cima, jogam com garra e vontade, e definem. 
Na maior parte do tempo, parece que acham que é muito importante ficar fazendo troca de passes cujo objetivo final é tão somente, ficar trocando mais passes.
***


Neymar

Eu deveria falar da propaganda absurda e ridícula em que Neymar, pela fábula que ganhou da Gillete, veio se justificar pelo seu  comportamento inadequado na Copa. 
Tanto e tantos já falaram do menino mimado, e do produto, que já não dá espaço para a existência de um ser humano comum por trás (ou por dentro) do invólucro, que não vou falar mais nada. 
Apenas registrar. 


Crimes

E os crimes contra mulheres continuam acontecendo, em um país em que Marielle continua sem ter seu brutal assassinato solucionado. 


E ainda teria que comentar da discussão sobre a descriminalização do aborto e das audiências que estão se realizando no Supremo; ou da atitude contra Márcio Lacerda, semelhante àquela adotada contra Paulinho Brant, pelo mesmo Lacerda, mostrando que o feitiço vira sim, contra o feiticeiro. 
E ainda tem a discussão das chapas que estão se formando para as eleições. 
Mas isso fica para amanhã ou para outra postagem essa semana. 
O que assegura assunto para nosso retorno.