terça-feira, 26 de maio de 2020

Espionagem de filhos e armas na mão de bolsotários: a possibilidade de crimes de quem se acha patrão de deus

Da parte do vídeo da reunião ministerial que veio a público, poucos são os pitacos que posso destacar, já passado tanto tempo... (apenas 4 dias!!!) de sua divulgação. 
Inclusive o primeiro destes destaques, um comentário do presidente que me causou profunda consternação, indignação mesmo, foi objeto de brilhante crítica por parte do Dr. Arnaldo Lichtenstein, no Jornal da Cultura, ontem à noite.
Trata-se do trecho em que o presidente, a respeito de alegada falta de informação questiona: "... quem é que nunca ficou atrás do... da...da.... da porta ouvindo o que seu filho ou sua filha tá... tá comentando. Tem que ver pra depois que e... depois que ela engravida, não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era".
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Respeito opiniões divergentes em relação à minha, mas confesso que fiquei surpreso com o silêncio a respeito de tal passagem da aula de histeria e baixaria que o vídeo nos proporcionou. 
Admito até que, tendo em vista os interesses mais prementes ligados à reunião como a comprovação cabal da tentativa de interferência nos trabalhos e investigações da Polícia Federal, a ameaça ao então ministro da Justiça (o injusto, fora da lei e condescendente e covarde) Moro, as questões muito mais sérias e que é outro assunto que o pitaco irá tratar, tal frase poderia ficar encoberta, ou esquecida. 
Daí minha alegria de ver o diretor de Clínicas do Hospital das Clínicas de São Paulo, o dr. Lichtenstein, trazer o tema à luz.
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É que eu, como o médico, sou pai. No meu caso, de três adultos, as caçulas com mais de 30 anos. (pouco mais. Talvez .... nem tudo isso!!rsrsrs).
E, mesmo tendo que admitir várias dificuldades de estabelecer uma comunicação com meus filhos, que seja produtiva e saudável como a que minha mulher consegue manter, uma conversa que não termine em divergência aberta e críticas, além de alguns poucas falas em tom mais elevado, a verdade é que nunca, em toda a minha vida, fiquei atrás de porta para ouvir o que não tive coragem de questionar, caso julgasse necessário, "na lata".
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Nunca fiquei atrás da porta, nem procurando espionar o celular, nem tentando bisbilhotar anotações, escritos, nada de meu filho, ou de minhas filhas. Nem de minha esposa. Nem de quem quer que seja, amigo ou até inimigo meu. 
A questão fundamental sempre foi: o que ganho com isso? 
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Por isso é que fiquei chocado com a frase e o problema que o Dr. Arnaldo tão bem explorou, depois de confessar ter filhos com a idade de 20 anos, que são "gente de bem".
Mesma opinião que tenho a respeito de meus filhos: pessoas com quem vale a pena conviver e ter contatos, conversas, troca de experiências e aprendizados. 
A questão é que o doutor e eu aqui em casa, ao que parece, somos do diálogo. Diálogo franco. Conversa olho no olho. Com cobranças, mas sem condenações. Com preocupação estampada, mas sem o desejo de guiar a vida de adultos, cuja forma de enxergar a vida e se comportar é aquela que nós mesmos cultivamos e fizemos questão de ensinar. 
Se ensinamos errado e/ou não tivemos competência, mesmo que não queiramos admitir a hipótese, é outra questão. A essa, o círculo de relações e amizades, a rede de contatos dos filhos é que seriam mais aptos a opinar. 
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Nesse momento até abro um espaço para tratar de uma letra de música que tem, desde aquela sexta feira, vindo com frequência à minha mente. Música de Erasmo Carlos que diz: "Ei, mãe. Não sou mais menino. Não é justo que você queira parir meu destino... você já fez a sua parte, me pondo no mundo..."
Interpreto esse ato de por no mundo como mais amplo que apenas parir. Trata-se de educar para o mundo. 
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Mas, voltando à fala, o que viraram os filhos numerais ou numerados do Messias? Esses que ele vivia - talvez ainda o faça - espionando atrás da porta? Investigando, coletando informações?
Exemplares de comportamento ético e civilizado? Gente que qualquer um de nós sentiríamos prazer de trocar algumas ideias, algumas horas de prosa? Alguém que poderíamos contar causos, e trocar piadas, minimamente dignas de serem chamadas de engraçadas? Pessoas com quem poderíamos nos abrir em alguma bebedeira de fim de noite, num bar?
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Os filhos do presidente, são o oposto disso. Com eles, não teria qualquer interesse sequer de cruzar na rua. Afinal, há certos vírus que se transmitem pelo ar. E são contagiosos, como os que fazem mal, tornam o ambiente putrefato. E contra os quais não há vacina. 
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O Dr. Lichtenstein, mencionou algo que me escapou: é a menina a que ficou grávida, com uma crítica subliminar a um comportamento sexual. Não foi o rapaz que engravidou a namorada. 
Comportamento típico de alguém mais que machista, misógino. Indigno de estar onde está e de nos representar. 
Ao menos a nós brasileiros de bem. Que não nos tornamos bolsotários, esses seres idiotas, e pouco qualificados, até por ausência de alguma formação moral mais atenta e mais eficiente, capaz de despertar valores e não temores, e conquistar a educação e o conhecimento e preparo para a vida, sem ameaças, espionagens e punições. 
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De carona na observação do ex-capitão, fico me perguntando: o que Bolsonaro faria se descobrisse a filha grávida? Qual seu comportamento frente à desonra que inevitavelmente sentiria, dada sua formação obtusa, canhestra e sua visão de mundo tão limitada?
Entre o aborto, a surra no namorado da filha, ou até algo pior, ele adotaria que comportamento? Ou ambos? Obrigaria a realização de um casamento em tudo digno de dar errado, no futuro?
Ou todas as alternativas acima?
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Deixemos conjecturas para lá. O momento é grave para que fiquemos criando enredos fantasiosos, de horror. 
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Uma segunda questão que me causou imediatamente aversão e preocupação tem sido já suficientemente explorado na mídia: trata-se da questão de se armar a população para que possa reagir a ... qualquer prefeitozinho ou governador que determina o fim autoritário de seus direitos, especialmente o direito de ir e vir. 
Medidas autoritárias, que incluem até mesmo a condução com algemas de pessoas distintas, como poderia ser o caso de alguma filha nossa. 
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De novo, sou obrigado a dizer que filha minha não estaria na praia, se recusando a cumprir a ordem policial de voltar para casa, por conta própria. 
Pelo menos eu acredito nisso. 
Porque minhas filhas foram educadas e aprenderam que o nosso direito e nossa liberdade, por mais sagrados que sejam, vão até onde começa o direito e a liberdade de outros. 
Ou seja: meus filhos, mesmo que pudessem ser classificados com egoístas, egocêntricos, voltados apenas para seus próprios umbigos, onde o mundo ocuparia lugar de pouco destaque, não seriam capazes de colocarem a vida dos outros em risco. Apenas para poderem curtir o sol, o vento, a areia, ou mostrar um corpo que nem tão merecedor de atenção poderia ser. 
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O que queria a mulher que se recusou a sair da praia, o que gerou a sua condução sob algemas, para a delegacia?
Ah! não há dúvida que as algemas foram algo talvez precipitado ou até agressivo. 
Especialmente para ser utilizada em jovem mulher branca, frequentando praia famosa, ou da moda, no Rio.
Afinal, fosse algum pretinho, pobre, de comunidade carioca ou de qualquer outro morro das periferias das cidades brasileiras, nem teria havido algema. Nem teria virado notícia da ação desumana e desnecessária dos agentes da lei e da ordem. 
Se o(s) pretinho(s) estivesse então, jogando games no interior de casa de sua família, talvez a indignação apenas surgisse por conta do gasto de tanta munição: granadas e mais de 70 tiros. 
Gasto de munição inútil, desnecessário, já que apenas um "teco", resolvia a questão. 
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Desculpem a ironia, sem qualquer graça. É que não me conformo com o Estado, e seus agentes oficiais, promovendo uma "limpeza étnica", como o fuzilamento de um músico pelas avenidas do Rio, ou o garoto João Pedro. 
Todos que se somam à morte de Marielle, encomendada por poderosos junto ao aparato auxiliar das forças de segurança, as milícias armadas, tão ao gosto do genocida que o presidente do Brasil parece incorporar. 
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Mas, armar a população não traz apenas a possibilidade de o povo estar apto a ir às ruas, em atendimento a qualquer eventual convocação por quem não passa de um liberticida da pior espécie. 
Se ao mesmo tempo, decretos de armas e munições se tornarem cada vez mais ampliados em seu alcance e filhinhos do papai, ficarem divulgando filmagens de grupos de desajustados dando tiros ao léu, apenas pelo prazer de fazerem barulho ou mostrarem a virilidade que seu próprio corpo parece não possuir, então o que teremos é um exército de milicianos na rua. 
Sob os olhares de aprovação dos generais que se destacaram mais pelas atrocidades e crimes cometidos nas missões que lhes foram incumbidas. Missões de paz, que os militares transformaram em ações de selvageria e mortandade, a ponto de, para vergonha de nosso país, tais militares serem objeto de solicitação de sua retirada do comando da tropa de PAZ!!!
Caso do general Augusto Heleno, defendido por seus companheiros, todos coronéis de pijama, da  reserva, que não temem em falar abertamente da possibilidade de uma guerra civil 
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Bolsonaro falou em armar o povo para que reagissem a uma proposta autoritária. Em sua mente deturpada, essa proposta autoritária seria, por óbvio, da esquerda, dos comunistas, seja lá o que isso signifique. Ou pior, com o significado que Bolsonaro lhe dá: qualquer coisa que contrarie sua vontade. 
Pois bem: armar o povo para ir às ruas, defender o fim da esquerda autoritária, com a instalação da autoridade liberticida, selvagem, da lei do mais forte, no caso, o ocupante do poder nos dias de hoje. 
O que os bolsotários não percebem. Lutam em prol da defesa da liberdade, fazendo questão de defenderem o seu oposto: a implantação de uma ditadura mais feroz, militar. 
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Em seu discurso, o sociopata, além de xingar como poucos, também falou de que todo o governo que desarmou o povo - aqui no Brasil, movimentos nesse sentido do desarmamento se dão desde FHC, ou Lula - foi para preparar a instalação de um governo autoritário. Afinal, o povo sem armas não reagiria. 
Talvez por isso, Bolsonaro odeia história, educação, cultura: não se sabe de qualquer movimento de que foi favorável ao desarmamento aqui em nosso país, nas últimas décadas, destinadas a implantar nada mais que a sociedade livre, democrática, soberana. 
Salvo se para o atual chefe do Executivo, sociedade democrática seja a sociedade comunista, por representar a chegada do povo ao poder. 
Da maioria do povo. 
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Minhas preocupações incluem outras questões: quem irá ter recursos para comprar armas e munições? Todos os cidadãos, mesmo os que não têm recursos sequer para terem uma alimentação digna?
Os cidadãos que o ministro cada vez mais decadente da Economia, deseja remunerar - sem direitos outros - com 200 reais?
Os jovens que o mesmo fascista que cada vez vai ficando mais nítido, o tal do Guedes, deseja levar para fazer treinamento ou estágios, pelos mesmos 200 reais, no Exército, apenas para se tornarem objetos de manipulação e lavagem cerebral? Para depois saírem às ruas em defesa de que ideais de liberdade?
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Aquela defendida por esse mesmo sinistro, para quem a classe média, o cidadão que ganhou anteontem uma graninha tem o direito de ir se "foder" perdendo tudo em cassinos, de livre funcionamento?
Ou isso é uma estratégia de tornar a classe média cada vez mais empobrecida ou é mera empulhação sob a desculpa de trazer investimentos, recursos,  talvez empregos e renda, livrando os barões do dinheiro do mercado financeiro livres de serem tributados, já que tais empreendimentos, ou resorts, trarão muito imposto. Além de muitos suicídios e crimes?
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Mas essa excrecência que é nosso sinistro da Economia, parece não dar levar em consideração que os ricos já viajam e vão jogar, quando o desejam em cassinos em todo o mundo. Comportamento que, mais limitado, também alcança a classe média mais abastada. 
A abertura de cassinos no Brasil apenas seria o atendimento a uma demanda de quem não pode se deslocar para jogar fora do país, com mais frequência: nossa classe média, que logo iria ficar mais pobre. 
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E olhe que sou favorável à aprovação da volta dos cassinos, sob condições que não foram objeto de qualquer consideração pelo ministro, exceto e insisto, mais uma vez, para deixar cada um se "foder" como bem o desejar....
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Voltando à questão das armas e do armamento da população, se os pobres não teriam condições de ter acesso a armas e munições, e os ricos todos tivessem armados até os dentes, não custa perguntar: como os pobres teriam acesso às armas? Estaríamos, mesmo que involuntariamente, incentivando ondas de assaltos, violências, furtos e roubos, em busca da defesa de pessoas desses segmentos?
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Quem sabe aí, não justificaria a ação da polícia, matando bandidos que cometeram crimes até bárbaros, para tentarem se armar e se sentirem incluídos na sociedade. Afinal, se todos têm armas, porque alguns não podem ter? Só para serem tratados com cidadãos de segunda categoria, excluídos do bangue-bangue?
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Por outro lado, se cidadãos de bem, nobre estirpe (seja lá o que isso possa significar) se encontram, andam armados, têm munição, qualquer ato que pudesse  atemorizá-los, que eles pudessem se sentir vítimas potenciais de alguma agressão ou ataque não permitiria a eles, cidadãos acima de qualquer suspeita, de atirarem e matarem quem apenas não tinha a cor de pele que eles considerassem mais correta? Ou vestimentas de grife mais badaladas? Ou condições de comportamento, fala, visão de mundo mais adequados?
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Estaríamos praticando além do armamento da população, a liberação da prática do genocídio da pior espécie, a eugenia. 
Sob as bençãos do presidente que nem precisaria de sujar as suas mãos. 
Bastaria ter milícias e incentivá-las, ter polícias e cobrar delas o respeito obtuso à hierarquia, ou o povo de maior poder aquisitivo, liberado para por para fora, como catarse, sua mentalidade doentia e egoística, de que o mundo é uma criação de Deus para atender à vontade deles. 
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O que seria engraçado, já que subverteria a própria noção de um deus, agora, submetido aos desejos e caprichos de quem acha que tem todos os direitos e que de fato é quem manda. 


quinta-feira, 21 de maio de 2020

O Brasil de mortes e as várias faces da morte no brasil


Até a noite de ontem, 20 de maio, as estatísticas registravam um total de aproximadamente 19 mil mortes em razão da Covid-19. Hoje cedo, os números dessa “gripezinha” já devem ter atingido a casa das duas mil dezenas.
Entre as vítimas, crianças, mulheres, homens, médicos e profissionais da saúde, incluindo aí o pessoal de apoio técnico e administrativo de hospitais e casas de saúde, além de idosas e idosos.
Dentre o grupo, pessoas que...  fazer o que, já iam morrer mesmo, dada a inevitabilidade da morte. Ou, como bem alertou o presidente, “alguns vão morrer, lamento, é a vida”.
Muitas vítimas, independente da idade, com alguma comorbidade. Mas não só.
E entre elas, até professores apoiadores do presidente sociopata, que se aventuraram a sair às ruas e avenidas, em manifestação de apoio ao Mito genocida. E que tiveram a infelicidade de se infectarem e virem a se transformar em mais uma vítima.
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Lamento tanto a perda da vida de quem, movido pela fé mais obtusa, caso do professor, foi vitimado, quanto a dos que foram atropelados e levados de roldão pelo inimigo invisível.
Lamento a perda de vidas, todas, de seres humanos, grupo a que pertenço e que, simplesmente por esse motivo, merecem que eu chore por eles, como a porção de terra às margens do rio chora, quando um torrão qualquer é arrastado pelas águas tormentosas do rio. (Em homenagem a John Donne, Hemingway e a Por quem os Sinos Dobram).
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Nesse sentido, sou solidário às famílias que perderam seus entes queridos, grande parte das quais compostas daqueles “comunistas”, cuja posição política apenas aflorou quando se deixaram invadir pelo medo pânico de sucumbirem ao vírus, o que as levou a, como “animais domesticados”, obedecerem as recomendações de isolamento social e quarentena.
Devo essa lição ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que considero tão troglodita quanto Bolsonaro, apenas que bem assessorado e com a preocupação de lutar para salvar vidas, nesse momento. Afinal é  de Kalil a constatação de que “parece que quem não quer morrer é comunista”.
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Além de minha solidariedade às famílias, é importante manifestar que difiro profundamente da ex-secretária da Cultura, Regininha, a lépida.
Que em meio à pandemia reclamou do ambiente de morbidez, pesado, de mortes que vinham dominando o ambiente e a incomodavam em instante em que se declarava livre, leve e solta....
Livre de qualquer compromisso com a realidade. A ponto de a mesma morte que agora deixa a lépida e ingênua ex-namoradinha do Brasil de baixo astral ter sido relativizada, enterrada pela passagem do tempo, quando patrocinada pela ditadura e militares que agora infestam o governo.
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Referi-me à ex-secretária, por ver em sua figura infantilóide, outra vítima da morte. A morte da dignidade. Do amor próprio. Do auto-respeito.
Apenas que, desta feita, morte auto-infligida, já que foi ela mesma quem optou por jogar no lixo sua história, sua trajetória, a imagem falsa que ela veio construindo ao longo de sua carreira.
A questão que me ocorre é se ela era apenas a máscara, a personagem, a atriz sem personalidade própria e qualquer conteúdo naquela época, ou se agora.
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Afinal, que triste papel ela teve que assumir ontem, no vídeo em que aparece ao lado de seu ídolo e deus, como a amazona da triste figura. Põe triste nisso! Trágica figura. De deixar D. Quixote penalizado.
Senão, como entender, a expressão de menina levadinha... ao perguntar timidamente, quase com dedinho na boca: “ tá me fritando, presidente?”
Para ouvir a resposta óbvia: não Regininha. Eu não. Quem frita é a imprensa. Para desestabilizar o governo.
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Nem vou comentar sobre a mulher que construiu sua carreira graças aos meios de comunicação, em especial a Globo, e que na CNN deu a entender que a Globo não seria isenta, e agora, diz não acreditar na midia... Ela apenas aprontou mais uma: cuspiu no prato que comeu.
Mas, é bom lembrar que em um governo que cria crises a cada esquina e a cada instante, para tentar sobreviver e manter de prontidão seus apoiadores raivosos e descerebrados, quem alimenta a imprensa desestabilizadora são os próprios “técnicos experts” que infestam a máquina pública. Máquina que ocupam para desestruturá-la, a partir de dentro.
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O que me incomoda é que o constrangimento de Regina, a débil, não poderia ser maior. Ganhou de presente, e como prenda por bom comportamento, apenas o chapéu de burro!
Que saiu mostrando a todos os amigos, em razão do colorido ostensivo.
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Mudando o foco, mas mantendo o tema da morte, gostaria de dedicar uma palavra à morte dos milhares de CNPJs, das empresas que Guedes tanto prometeu ajudar.
Promessa de auxilio e financiamento para que pudessem superar o momento de crise que, por falta de capacidade, planejamento e principalmente vontade política, não consegue se sustentar e alcançar os beneficiários.
Fracasso que se manifesta em relação à própria concessão do benefício ou auxílio social – no valor exorbitante de 600 reais-, que mal e porcamente são suficientes para assegurar a feira. Isso, se tivesse sido projetado para atingir, no tempo certo, a ampla maioria da população de necessitados, os CPFs afetados pela pandemia.
Auxílio que o ministro propunha ser no valor muito mais significativo de 200 reais, mesmo montante que ele, do alto de sua benevolência, promete estender, por mais um ou dois meses, para os mesmos necessitados.
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O comportamento do ministro ilustra bem a razão de o isolamento social não poder ser respeitado, de as pessoas terem que sair às ruas, tentando ganhar sua sobrevivência.
Luta pela sobrevivência que é, de resto,  inútil, se e quando oferecerem seus serviços não encontrarem qualquer pessoa disposta a adquiri-los, do lado oposto.
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Ao lado da morte de milhares de pessoas, pode ser juntada a morte do bom senso. Ou, minimamente da boa piada, da anedota de bom gosto.
A julgar pelas piadinhas infames com que Bolsonaro nos brinda a cada dia, na sua luta de caráter médico em favor da adoção da cloroquina.
“Quem é de esquerda toma tubaína”, que não causa efeitos adversos à saúde. E risos na sala...Ra!Ra!Ra!
Quem é de direita, toma a medicação cujo protocolo o Ministério fardado da saúde (em minúsculo propositadamente) aprovou na data de ontem, sem qualquer assinatura de médico responsável.
Afinal, militares matam em sessões de tortura ou em ambiente de guerra. E não querem ser responsabilizados por mortes de apoiadores idiotizados do presidente demente, pelo vírus ou por efeitos colaterais nefastos.
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Para concluir: a expressão de minha mais profunda tristeza pela morte de JOÃO PEDRO no Rio. Em ação policial que culminou com mais de 70 tiros, um dos quais atravessou os sonhos de um menino. Por acaso, pobre, preto, jovem... mas com sonhos brilhantes, precocemente interrompidos.
Mais um crime, sob o manto do excludente de ilicitude???
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Versão fake, daí o corte das frases abaixo:

Complemento tardio, mas necessário: segundo a Revista Super Interessante, tubaína é o apelido de uma técnica de tortura de afogamento, que consiste em injetar água em grande volume, sem parar, por meio da introdução de um funil na garganta do indivíduo.
Essa é a verdadeira interpretação da piada do homem que se senta na cadeira de autoridade maior de nosso governo.

terça-feira, 19 de maio de 2020

500 dias de desgoverno, em meio a tantos atropelos, criam uma realidade líquida que prejudica a contemporaneidade de qualquer pitaco

Quando tive a ideia de lançar esse blog, lá se vão quase dez anos, confesso que não tive dificuldade para escolher um nome para as minhas publicações. Afinal, tendo como ponto de partida criar um espaço para poder emitir opiniões sobre questões e temas pelos quais tenho grande apreço, o nome Também quero dar pitaco pareceu-me muito apropriado.
Eu teria o espaço para manifestar minhas opiniões, mesmo que ninguém as pedisse, trataria de assuntos que gosto, alguns até que detenho algum conhecimento e, poderia não apenas ampliar o contato com amigos e leitores, como teria a oportunidade, sempre bem vinda, de aprender muito, pesquisar muito. Até para que meus pitacos não fossem um amontoado de opiniões incorretas e divulgação de falácias. 
Creio que, ao longo desse tempo, tenho procurado manter-me dentro dessa filosofia.
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Mas confesso que a chegada de Bolsonaro ao poder, e mais que isso, sua lógica de atuação no comando do Executivo, sempre desprovida de qualquer sensatez e racionalidade têm me deixado com a impressão e, por outro lado tornado, cada vez mais difícil refletir, entender, comentar e redigir esses pitacos. 
Razão porquê, às vezes, deixo passar um lapso maior de tempo entre uma postagem e outra. 
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O problema é que, na sua tarefa, essa facilmente identificável, de desconstrução, de destruição das instituições de nosso Estado e nossa sociedade,  a cada instante surgem tantos fatos inusitados, uns atropelando os outros que, muitas vezes que tenho vontade de me manifestar de alguma forma, imediatamente percebo que perdi a oportunidade, que a realidade já é outra, alterada, transfigurada, superada por outros fatos ainda mais absurdos e surreais patrocinados por esse des-governo.
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Justiça seja feita, em relação à desconstrução e destruição do Estado, já comentada aqui em pitacos mais antigos, Bolsonaro apenas dá seguimento ao cumprimento da promessa feita já em sua campanha, de que iria destruir o Estado aparelhado e entregue ao que identificava como uma camarilha comunista, de viés globalista, infiltrada e solidamente já estabelecida no governo, nas repartições, ministérios, agências, desde os governos comunistas do PSDB (risos, mas a classificação não é minha!!!) e do PT, sempre obedientes ao movimento globalista representado pelo Foro de São Paulo. 
Quanto a esse Foro, era a representação do mal, desde as ideias pró comunismo e expropriação da propriedade privada em todo mundo, até aquelas destinadas a alardear a fake news fundamental, que afirmava que a terra, pasmem!, seria redonda!!!
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Acontece que de acordo com essa mesma lenga-lenga, patrocinada pelo filósofo de araque, Olavo de Carvalho, elevado a guru máximo da "intelligentsia" bolsonarista, orbitam não apenas o ex-Capitão, que a rigor não consegue entender e estabelecer qualquer nível de interpretação mínima que seja sobre as ideias de seu guru, como também outros elementos ou comparsas por ele convidados para participarem desse que vai se tornando o pior governo de toda nossa história republicana. Ao que podemos acrescer os adjetivos de risível, ridículo, abjeto, vergonhoso, canhestro...
Pior ainda, governo a que cabe muito apropriadamente adjetivos mais sérios, como: irresponsável, nepotista, autoritário, miliciano, corrupto (em sentido lato), antidemocrático, fascista, GENOCIDA.
Cuja ação e ideário política se estabelece na  EUGENIA.
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Nesse torvelinho de fatos, ações, decisões, fakes do gabinete do ódio, fica difícil selecionar o tema objeto de qualquer pitaco. Que repito: estará sempre fadado a estar já ultrapassado por outra e mais nova ação maluca.
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Assim, se em meu último pitaco, eu manifestava minha incompreensão em relação ao espaço dado pela imprensa a um general de reserva,  tal opinião significava que acreditava que tal general já não tinha mais nada a acrescentar à vida social, se é que em algum momento, fora da caserna, ele tivesse trazido alguma contribuição digna de reconhecimento. 
Em minha opinião, o espaço destinado à figura e atuação do general Eduardo Villas Bôas devia ser relegado ao esquecimento da história, bem longe de qualquer possível comentário seu, elogiando nas redes sociais ao comportamento histérico da secretária da Cultura, Regina Duarte.
E, já em seguida, sabe-se que Regina volta a ser alvo do "fogo amigo" da turma de terraplanistas a que ela resolveu se submeter. Dessa forma, algum eventual prestígio e força que ela pode ter angariado desde ataque apoplético na entrevista à CNN, já se dissolveu, com a exoneração de seu indicado para ocupar o cargo de segundo da Secretaria.
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Para ser justo, Regina merece toda a desfeita, já que, conforme meu avô sempre me alertava: "quem se curva demais acaba mostrando o rabo de fora". 
E a perda de alguém na Secretaria de Cultura, órgão relegado ao papel de "subnitrato do pó de b... do cocô do cavalo do bandido", é uma ausencia que vai preencher uma lacuna tremenda. 
Para a tragédia de nossa cultura. Vítima de tanta destruição quanto a nossa ciência. Quanto qualquer ato de avanço social e científico e tecnológico. 
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Enquanto a Cultura sofria nova tentativa de desmoralização, a Saúde sofria novo ataque frontal, de um governante que, no futuro, será representado, no mesmo molde de um Hitler, Mussolini e outros assassinos como Stálin, ou seja, no panteão dos representantes da Morte e do Mal. 
Certo está o diretor do Hospital das Clínicas, para quem a política de Bolsonaro é apenas a eugenia. 
Razão por que ele dá curso livre a um movimento de genocídio, de grupos etnicos, como quilombolas, indigenas, negros, pobres, moradores de comunidades carentes. 
Quem sabe, ao final e ao cabo, o governo de Bolsonaro, ao lado de Guedes, seu títere, não terão, finalmente, eliminado uma das maiores e mais escandalosas vergonhas do nosso país: o grande contingente de população vivendo abaixo do nível de miséria absoluta e até relativa?
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A propósito, há alguns anos atrás, conta a lenda que para acabar com a mendicância e marginalidade crescente, teria havido um plano de afogamento de mendigos transferidos para se instalarem de forma provisória no leito de um rio, inundado pelas águas da abertura de uma comporta.
Diz a lenda. A história mostra que as acusações não passavam, já na oportunidade, de "fake news", o que foi confirmado com a inocência reconhecida dos responsáveis. 
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Mas esses eram outros tempos. E hoje Bolsonaro age de forma a querer determinar protocolos de tratamento da pandemia, prescrevendo medicação, determinando medidas de comportamento social, tudo na contramão das recomendações de instituições médicas e grupos de profissionais da área. 
Bolsonaro comete, flagrantemente, crime de exercício ilegal da medicina. 
Ou, como é seu feitio, age de forma pior, por não ter capacidade de assumir qualquer ato, criminoso ou não. Ao contrário, pressiona, leva a tensão a grau máximo, age de forma a desautorizar a quem nomeou para, de forma séria e técnica, tratar de assuntos que ele não domina. 
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Que interesses tem ou pode ter o presidente, quando de forma apropriada a qualquer charlatanice, receita, prescreve, recomenda, indica e pressiona pelo uso de um medicamento que pode, sim, ser muito útil. Mas não é nenhuma panaceia. 
A cloroquina pode ser útil no tratamento do Covid-19, e servir simultaneamente, como a pena de morte por seus usuários, por complicações cardíacas. 
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Ao dizer que está preocupado com a economia, já que nada pode fazer em relação às mortes, mais que insensibilidade, mostra que não tem qualquer compromisso nem mesmo com a vida e sobrevivência de seus próprios eleitores. 
Ao unir-se aos coveiros, mesmo que deixando claro o distanciamento que o separa desses nobres e agora expostos trabalhadores, Bolsonaro enterra qualquer perspectiva de manifestação de sentimentos de empatia, solidariedade, simpatia, preocupação com a população brasileira de forma ampla e não apenas seus eleitores.
Dessa forma, Bolsonaro age como Bolsonaro, um psicopata. Um ser humano frio e calculista, incapaz de manifestar qualquer reação em favor de quem está morrendo com a sensação de estar se afogando, em pleno ambiente seco. 
Dizem, já que não sou médico e não posso afirmar, que a morte por falta de oxigenação adequada leva o pulmão a se encher de líquido, levando a um só tempo, à sensação de falta de ar e de afogamento. 
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E, cada vez mais, nem é só esse o mal acarretado pelo novo vírus, já que constataram a sua presença, tanto no cérebro, quanto nas fezes, depois de 20 dias do óbito de vítimas da infecção. 
Da mesma forma, não é nem mesmo uma doença que atinge apenas idosos e pessoas com outras comorbidades: cada vez mais a possibilidade de que também as crianças sejam infectadas e apresentem efeitos ainda não bem identificados são divulgadas. 
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Bolsonaro, preocupado em se blindar, em querer evitar de ser acusado do crime de genocídio, de ser acusado de crimes de responsabilidade, blinda-se por edição de Medidas Provisórias que são verdadeiras aberrações, ao tempo em que procura interferir na Polícia Federal, de forma a poder evitar que seus filhos tenham a lista de malfeitos descoberta, investigada e comprovada. 
De quebra, cerca-se cada vez mais de militares, escudando-se no fato de ter sido integrante do Exército há muito tempo atrás. 
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Ainda há pouco, nomeia mais nove militares para, atendendo ao princípio da autoridade, da ordem e da disciplina, e da hierarquia, poder fazer cumprir as suas determinações injustificadas na pasta da Saúde. 
Nomeia um general ministro, coloca outro militar como secretário, nomeia diretores de várias patentes, apenas para poder impor sua vontade. 
Seguindo essa linha hierárquica sem qualquer sentido, o general Eduardo Pazuello, não se constrange de participar de reunião internacional, em que mente, despudorada... mente, ao afirmar que Bolsonaro adota práticas políticas de consenso com outras autoridades subnacionais, como prefeitos e governadores. 
Pior é isso: o general se esconde sob a sua farda impecável, e esquece que sob a farda existe apenas um ser humano, não um militar. 
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Quanto à Economia, Guedes, o fantoche, acena e faz espetáculos pirotécnicos, apenas para iludir o público, afirmando que a Economia já estava decolando (para baixo!) quando da chegada da pandemia. Mente, também. Desavergonhada... mente. Despudorada... mente. 
Ludibria. Promete aquilo que nunca poderá entregar, como já não conseguiu fazer nem mesmo a Reforma da Previdência, que deve ser creditada à conta de Rodrigo Maia, por mais que ele seja visto como alguém contrário ao governo Bolsonaro. 
Prometeu superávit zero. Não conseguiu cumprir. 
Suas reformas estruturais apenas seguem a direção já iniciada por Temer, de destruição dos direitos trabalhistas, de fragilização do mercado de trabalho, de preocupação em livrar os empresários de ônus e de redução dos custos vinculados à força de trabalho que empregam. E que vem a ser a verdadeira força capaz de promover o ato de transformar a natureza pródiga e seus recursos em bens e serviços para atender às necessidades do povo. 
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Guedes, esse fanfarrão promete recuperação da economia sob a forma de um V. A economia cai agora, com a pandemia, e por causa dela. Mas, dadas as reformas - jamais feitas e, algumas sequer propostas ou apresentadas à sociedade para discussão-, a economia já se recupera tão logo volte a reinar a normalidade. 
Guedes age como qualquer mau vendedor de sonhos e ilusões, com um estelionatário. Não vai entregar nada das reformas, como já não conseguiu emplacar seus planos de retorno da CPMF, -principal e quase que exclusiva medida de seu projeto de ampliação da arrecadação tributária. 
Como não conseguiu, felizmente, emplacar o regime de capitalização previdenciária. 
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A rigor, Guedes apenas conseguiu, nesses 500 dias de des-governo que comemorou semana passada, prever e confirmar que, se fosse feita muita besteira, o dólar, então em 4 reais e mais alguma fração, conseguiria atingir um pico de 5 reais. 
O dólar já se aproxima dos 6 reais, bancos estrangeiros já estimam que possa fechar perto de 7 no final do ano, enquanto o ministro mal intencionado afirma negando os números, que os investidores externos estão trazendo capitais, e que não está havendo fuga de capitais de nosso país. 
Bem: são apenas números. Pouco importantes para quem deve acreditar que a terra é plana. 
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Quanto ao auxílio emergencial para pessoas atingidas pelos efeitos da pandemia, ou mesmo o auxílio financeiro para compensação de perdas de arrecadação a estados e municípios, o que se vê é que a política acaba sendo aprovada.
Não a proposta do governo, sempre mesquinha, aquém do que era necessário para lidar com os problemas e agruras do presente. 
Felizmente, a preocupação apenas com os números das contas públicas que parece ser a ladainha única que o ministro entoa, em momento em que a sociedade está lutando pela saúde de toda a população, sempre é derrubada, alterada, transformada para melhor pelo Congresso. 
O que gera um outro problema como subproduto: a verba, os recursos, o dinheiro não aparece e o que é aprovado para salvar a situação e assegurar a sobrevivência de milhares de brasileiros em abril, ainda não foi pago em maio. 
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O professor Paulo Morceiro,  em momento feliz, expressou que essa demora pode ser proposital, para que o povo inflamado, impedido de trabalhar e faminto invada as ruas, provoque o caos social que permitiria a Bolsonaro, uma vez mais, procurar promover o que é sua obsessão: o golpe capaz de arruinar e extirpar a democracia de nosso país. 
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É isso. 

sábado, 9 de maio de 2020

Generais do Exército e generais das batalhas da vida: heróis a quem a imprensa não dá ouvidos, por estarem desarmados


Promovido aos postos de general de brigada em 2003 (primeiro ano do governo Lula), general de divisão em 2008, e General de Exército em 2011 (primeiro ano de governo da presidenta Dilma),  em 2015 o militar Eduardo Villas Bôas foi indicado para ocupar o cargo de Comandante do Exército brasileiro, também no governo Dilma.
Vale observar que dentre os critérios elencados pela Lei n° 5821/72 -  Lei de Promoções dos Oficiais da Ativa das Forças Armadas, para as vagas de oficiais generais o critério a ser adotado expressamente é o processo de escolha, conforme artigo 11, item c.
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Tido como forte líder no meio militar, por toda sua trajetória na Corporação, o general deve ser merecedor de muito respeito, consideração e prestígio, já que escolhido para ocupar cargos de oficial superior e, inclusive de comandante máximo da Força nos governos petistas.
Considerando-se sua aversão que demonstra àquele Partido, presumo que a conquista de posições por indicação por desafetos tenha como explicação única, o reconhecimento de sua competência e liderança.
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Também é digno de referência a sua altivez e força de vontade, além de férrea disciplina, manifestadas por ocasião da enfermidade que o acometeu, a ELA (esclerose lateral amiotrófica), quando no comando de 222 mil homens.
Sua fibra, porém, não o impediu de dar sequência a suas atividades como comandante da tropa.
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Hoje, o general ocupa a posição de conselheiro de Bolsonaro e, face a inúmeras controvérsias a que deu origem, pela manifestação de opiniões sempre em tons de ameaça velada ou não,  e pressão inclusive exercidas sobre outras instituições, como o Supremo, visando limitar a tomada de decisões fruto de seu livre  livre funcionamento,  de sua independência e autonomia, procurei conhecer melhor a sua história.
Desnecessário dizer, talvez, que tais manifestações sempre ocorreram, como em todos os contos de suspense e traição, na antevéspera de algum evento, ou julgamento em que o ex-presidente Lula era personagem central.
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Assim, minha curiosidade inicial já partia de minha ciência de que, depois de longo período, o  general abria o espaço e reintroduzia a discussão de questões políticas, sociais e até econômicas, nas fileiras do Exército, permitindo que opiniões de toda espécie, sobre o ambiente nacional, pudessem ter acolhida.
Na oportunidade, o general Augusto Heleno, logo quem?, chegou mesmo a afirmar que os militares podem opinar sobre a situação política do país, por não serem “ antas pacíficas, omissas e sem cérebro” (citação extraída de página sobre Eduardo Villas Bôas, no Wikipedia).
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Não tenho nada contra militares dando palpites em questões políticas, cidadãos que são. Apenas, constato apreensivo, tratarem-se de cidadãos de classe especial, já que armados e detentores do monopólio legal do uso da força.
Claro que não individualmente, nem por vontade e interesse próprio. Mas, vai saber.... e sempre tem o excludente de ilicitude, por violenta emoção...
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Mas fui pesquisar e descobri que o general gaúcho, nascido em 1951, iniciou seus estudos militares na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em Campinas, no ano de 1967, quando estava com 16 anos.
Chamo a atenção para esse fato, apenas por ser da tradição dos militares, desde aqueles que protagonizaram o movimento dos 18 do Forte. Antes até....
Tradição que se mantinha, especialmente em famílias do Nordeste que, contando com um grande número de filhos e sem condições de assegurar a educação que uma família típica de classe média urbana devia propiciar aos seus filhos, decidia por matriculá-los nos colégios militares, então gratuitos.
Outras opções eram a de não completar os estudos, dar sequência à lida dos pais, ou então a frequência às escolas confessionais, os seminários... Também era da tradição, ao menos assim nos relata a biografia de Juarez Távora, que famílias com mulheres casadas com algum indivíduo bem sucedido em suas atividades profissionais na capital do país, o Rio, ajudassem na vinda dos jovens para completarem sua formação na capital, mais uma vez, em escolas militares.
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A pesquisa que fiz não mostra se foi a opção de Villas Bôas pela formação militar se deu por motivos econômicos ou por vocação, o que pouco interessa.
A mim, interessa observar que de Campinas para Agulhas Negras, e daí para os níveis de aperfeiçoamento, até o oficialato e a Escola de Comando e Estado Maior do Exército, onde tornou-se instrutor, a folha do General não tem qualquer senão.
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Mas, convenhamos que o general fez toda sua carreira em tempos de paz, em um país que nunca teve qualquer participação mais ativa em ações bélicas, e que nem mesmo, pela idade, o hoje general pode alegar ter sido um dos rapazes que lutaram a luta desigual contra jovens estudantes de classe média urbana, sem preparo militar de qualidade, que foram tachados de perigosos guerrilheiros...
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Eduardo Villas Bôas merece o respeito que granjeou por ter cumprido seu papel com dedicação. Ponto.
Daí a tornar-se referência para a sociedade, e para a grande imprensa e toda a mídia, que repercute todas as suas declarações, inclusive, com receio de comentar criticamente o descabimento, em regime democrático de Estado de Direito, o general ficar se pronunciando sobre tudo e sobre todos, como se senhor e dono da razão, vai uma grande distância.
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Vários civis, funcionários públicos se destacaram muito mais em seus cargos e funções públicas que o general, por mais respeito que sua folha de serviços imponha.
Eu mesmo conheci pessoas onde trabalhei, que forjaram planos de guerra contra a inflação e que, mesmo sujeitos a várias críticas de minha parte, venceram as batalhas que se propuseram lutar.
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No Banco Central, local em que tive a oportunidade de trabalhar, não foram poucos os “generais” que, contra tudo e contra todos, muitas vezes, conseguiram se sagrar vencedores de suas campanhas. O que faz o Banco Central ser reconhecido como a instituição que saneou o setor financeiro no Brasil; que saneou e deu respeitabilidade aos consórcios que, sob a adminitração de outros órgãos não eram devidamente tratados. Foi o Banco Central quem fez o setor de Cooperativas, poder demonstrar para a sociedade o nível de seriedade da maior parte de seus abnegados gestores.
Foi o Banco que, mesmo sob críticas pesadas, conseguiu manter o país vitorioso nas lutas de combate à inflação; de controle de riscos incorridos pelos intermediários do Sistema Financeiro, o que permitiu que essas instituições não fossem arrastadas à bancarrota pelo vendaval da crise financeira de 2008.
Ou até antes, e por coisas mais triviais, como quando armaram verdadeiras legiões de soldados para ficarem de vigília a fim de enfrentarem o temível inimigo do Bug do Milênio. Tão falso quanto as falas de Bolsonaro e suas brincadeiras de churrasqueiro. 
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São muitas as guerras e muitos os generais. Alguns já fora do campo da batalha, aposentados.
Não os vejo dando palpites a torto e a direito, mesmo que não tenham armas para lhes assegurarem serem ouvidos. Exceto as armas dos argumentos e da razão.
São mentes brilhantes. Vários em condições de contribuírem apontando alternativas de solução para problemas do país.
O mesmo vi na Receita Federal, outro órgão sem armas, exceto a lógica dos programas de coleta de dados e informações econômicas, contábeis e econômicas pessoais.
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Vários desses generais também têm posições políticas semelhantes às do general. Mas a imprensa não lhes procura, não os dá ouvidos e eles não ameaçam, como criança birrenta.
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Declarações do general, tanto quanto as do “sábio e autodidata filosófico” Olavo de Carvalho, cuja principal preocupação é escandalizar com palavrões a plateia que acredita que ele é mais que mero astrólogo, temerosos talvez de sua capacidade de previsão do futuro, a meu juízo, não deveriam merecer qualquer linha, qualquer divulgação.
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O que o general acha da entrevista de Regina Duarte, ou deixou de achar, pouco deveria importar. Afinal, cada um gosta de um tipo de artista. Uns gostam do que domina o palco. Outros dos que levam reflexão e consciência à plateia.
Alguns, ainda, gostam de quem rouba a cena, não por motivo nobre. Mas por serem canastrões que não se encaixam no cenário, ou por que são mesmo da espécie dos ladrões que são capazes de roubar atenção, papéis, sonhos, e até verdades e história.
Enfim, cada um tem uma estrela para admirar.
O general tem 4 e eu acho que a imprensa gasta papel de mais, quando há gente paisana, que tem mais, muito mais que toda uma via láctea. Têm o sossego de terem lutado o bom combate e vencido. Portanto, têm todo o mundo ao seu redor.
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É isso.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pitacos livres, leves e soltos. E os temores (de novo) de uma grave crise institucional


Falar o que? Que comentário posso fazer da entrevista que a secretaria da Cultura, Regina Duarte, concedeu à CNN Brasil?
Que a ex-atriz global me deu pena? Que mostrou o quão baixo uma pessoa pode chegar quando opta por abrir mão de sua dignidade, de seu caráter, de sua história, arrastando para o lixo toda sua trajetória de vida pessoal e profissional, pelo mero apego a um cargo, uma função, uma posição que julga elevada?
Quando adota uma postura de bajulação, de mero capacho, permitindo-se anular e transformar-se em um não-ser. Tudo na ânsia de se destacar perante um indivíduo elevado à condição de objeto supremo de sua veneração, seu culto. O que, de  resto, apenas a iguala a um sem número de vira-latas, que sem qualquer complexo, contentam-se em ficar abanando o rabo e babando no solado de seu amo.
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Posso afirmar que não tenho nada contra essa opção.
Até porque acho que, democraticamente, cada um professa a fé, e adota a crença que lhe traz maior grau de satisfação íntima. A secretaria optou por adorar o Mito, a nova roupagem do velho Bezerro de Ouro. Esquecendo-se de que nem tudo que reluz é ouro.
E que bom: suas escolhas parecem estar lhe proporcionando a paz e o conforto internos. Razão que a permitiu manifestar em várias ocasiões como se encontra leve, livre, solta.
Afirmação tantas vezes reiterada, que capaz de despertar a ideia errônea de servir ao propósito de autoconvencimento, de quem busca ocultar seu real estado de espírito.
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Por isso, suas sempre agradáveis reuniões com o presidente, com quem tanto se diverte partilhando suas risadas. Ou seu encontro com o Sérgio Camargo, da Fundação Palmares, tão simpática que difícil até pensar em qualquer antagonismo.
E, no entanto, foi ela cuja voz, capturada em áudio chegou a admitir estar sendo dispensada. Como uma carta qualquer descartada do baralho. No lixo da mesa...
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Pois foi seu estado de saúde física e mental que me preocupam. Afinal, lembra-se bem de fatos do passado mais longínquo. Chegou a cantarolar uma musiquinha ufanista que embalava a seleção, o futebol, as massas e que, bradada em alto e bom som, ajudava a abafar os gritos lancinantes de pavor e dor, que escapavam das celas da ditadura, onde a tortura, o choque elétrico e o pau de arara eram a representação do pelourinho moderno.
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Mas essa página da história a secretaria prefere não ver remexida. Prefere deixar esquecida. Afinal, como ela admite sem negar, nessa fase  leve de sua existência que ela vem experimentando, ela não está disposta a ficar arrastando caixões.
E, como seu mestre já disse, morte sempre teve em todo lugar. Seja por tortura do Estado contra seus cidadãos, seja por uma pandemia.
Talvez até pela confusão que transforma a pandemia em uma gripezinha e essa gripezinha em apenas mais  uma forma de tortura contra o povo.
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Mas se recorda tão bem de fatos passados, confunde-se com o presente. Insiste em que uma gravação recente, que cita fatos recentes, é antiga. Acusação e cobrança requentadas.
E, leve e ligeira resolve apelar e encerrar a entrevista sentindo-se traída. Afinal, não foi aquilo que ela combinou. E as perguntas passaram a carregar um peso e uma crítica que ela mostrou não ter estrutura nem espírito democrático para rebater.
Uma pena.
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Ações de Bolsonaro e o constrangimento que ele procura provocar

Sair do Alvorada acompanhado de um grupo de empresários. Fazer a comitiva desfilar atravessando Praça dos Três Poderes em direção ao prédio sede do Supremo Tribunal Federal;  forçar a realização de uma reunião extra-agenda com o presidente daquela Corte, para reclamar das medidas de restrição e isolamento social que prefeitos e governadores têm imposto em suas jurisdições; filmar e transmitir a reunião para suas redes sociais é apenas mais uma bravata desse senhor dos pântanos que ocupa Brasília.
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E mais um passo nessa perigosa escalada autoritária e golpista que esse senhor amigo da morte, da tortura e das milícias, visa construir e manter em permanente estado de tensão.
Afinal, como alegam os empresários, a reunião agendada com o Executivo tinha outra pauta. E, acreditando que suas demandas por uma saída planejada da política de isolamento era o objeto a ser apresentado à apreciação do STF, os empresários sentiram-se como massa de manobra do presidente. Bucha de canhão, em uma luta cujo interesse do presidente era apenas pressionar e tolher a liberdade e autonomia do Judiciário.
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A ação de Bolsonaro, visando atirar os empresários contra os membros da mais alta Corte, acontece justamente quando ele é parte em vários procedimentos de investigação e várias ações, que vão desde a obrigatoriedade de apresentação de seus exames de teste para o coronavirus, até a apresentação de evidências que confirmem que não procurou interferir, indevidamente em órgãos de Estado.
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Por trás do ato midiático, sua não disfarçada intenção de jogar a parcela estupidificada e manipulada de seu eleitorado contra as instituições, contra o Estado de Direito. Afinal, não faz muito tempo que os fieis de sua seita estiveram manifestando-se a favor do fechamento do Supremo. Com sua autorização, conhecimento, presença, participação e apoio. Não diria sua organização para não roubar o espaço privilegiado que, nesse caso, deve ser concedido a seus filhos.
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Nunca é demais lembrar que novas manifestações já são agendadas pelas redes sociais. Com a participação de quem agride mulheres, enfermeiras, jornalistas, e até de grupos armados e que se dispõem a oferecer treinamento de táticas de guerra.
Sob o olhar complacente das Forças Armadas. Armadas e solidárias com esse tiranete que ocupa o Executivo.
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Aí é que mora o perigo.
Não apenas nas causas em que Bolsonaro é investigado. Mas na reação de seus mais subservientes generais, que podem se transformar no catalisador de uma crise institucional grave, senão no seu gatilho.
Intimados a depor, os ministros generais militares, analisam a possibilidade de não comparecerem.
Como a lei pode ser dura, mas é a lei e atinge a todos com o mesmo vigor (embora mais a uns que a todos os demais!), caso se configure a ameaça de não cumprimento da intimação judicial, a medida do ministro Celso de Melo, talvez precipitadamente já estipulou que se marque nova data para depoimentos, de acordo com os depoentes que, se continuarem com sua recusa, deverão ser levados sob condução coercitiva. Ou seja, sob vara.
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Como se sabe, é mais fácil um cabo e um soldado fecharem um Supremo que conduzirem militares que se acham os soberanos guardiães da Ordem, Segurança e da própria Vida em nosso triste e debilitado país.
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É nessa hora que decisões não cumpridas do STF, capazes de darem origem a um inegável crime de responsabilidade podem lançar às ruas milicianos armados, terroristas treinados e dispostos a tudo para preservarem o poder de seu mito, e militares agastados com o atrevimento resultante de não atenderem como qualquer cidadão de bem, civil ou não, à ordem da autoridade legal.
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Cada vez mais temo pela possibilidade de uma conflagração que irá fazer as covas preparadas para a Covid passarem a ser tomadas por corpos dos que tombaram em defesa dos ideais que fazem valer a pena que a vida seja vivida.
É isso.