quarta-feira, 26 de abril de 2017

Reforma trabalhista e o que a teoria econômica diz sobre poder de negociação entre patrões e empregados

Em minha opinião, quando se fala em negociação entre duas ou mais partes, é comum que se estabeleça o pressuposto de que ambos os lados ou partes da contenda tenham, minimamente,  algum tipo de força ou poder que possa exercer em relação ao lado contrário.
Não fosse assim, não seria necessária a negociação, nem deveríamos nos referir à decisão definida como sendo fruto de um acordo que encaro sempre como uma solução de compromisso, também referida como um consenso. Ou seja, uma decisão em que todas as partes resolvem ceder ou admitem perder algo, para obter alguma vantagem. 
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Dentro dessa visão é que, quando se trata de questões vinculadas, por exemplo, à negociação salarial, é comum que os teóricos e analistas que tratam do tema reconheçam que, embora existam diferenças institucionais e sócio-culturais entre os distintos países, ainda assim, é possível estabelecer-se algumas formas mais gerais de tipo de negociações, e até mesmos alguns elementos ou forças que permitam se tentar formular algo como uma teoria geral da determinação dos salários. 
Olivier Blanchard, o celebrado economista, autor de vários e importantes manuais de Macroeconomia, por exemplo, cita a existência de um tipo de determinação de salários que se dá pela negociação coletiva entre empregadores e empregados, que pode se dar entre um sindicato ou um grupo de sindicatos, e uma empresa ou grupo de empresas. E um outro tipo de negociação, individual. 
Reconhece ainda um terceiro mecanismo de determinação de salários, que ele chama de pegar ou largar, que ocorre em situações em que não há qualquer possibilidade de negociação entre o patrão e seu empregado. 
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Nesse caso, o patrão fixa o salário e ou o trabalhador aceita o valor e passa a trabalhar, ou não será empregado. 
Classifico, acho que sem qualquer dúvida ou crítica de qualquer pessoa, como também o faz Blanchard, que tal situação não pode ser classificada como um exemplo de negociação. 
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Nos outros dois casos, de negociação, coletiva ou individual, alguns fatores ajudam a definir o tamanho do poder de negociação de que é dotada cada parte da discussão. 
Em primeiro lugar, em geral, cita-se a qualificação que se exige do trabalhador para o exercício de suas tarefas, sua especialização, o domínio do conhecimento de como a tarefa deve ser feita e das condições em que ela é realizada no interior da empresa. 
Nesse caso, também influencia a questão externa à empresa, do ambiente do mercado de trabalho, já que como se supõe, um período de crise econõmica e índices de desemprego elevados, faz com que a substituição desse trabalhador mais experiente, no qual a empresa já pode ter, inclusive investido recursos em treinamentos e qualificação, possa ser realizada de maneira mais fácil.
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Dessa forma, a ninguém escapa o fato de que o poder de negociação não é necessariamente o mesmo, podendo flutuar de acordo com a a fase do ciclo que a conjuntura econômica esteja atravessando. 
Por exemplo, em momentos de auge cíclico, país em crescimento e alto nível de emprego, o poder de negociação do trabalhador se eleva. 
Mas, um fato é constante: sempre, em maior ou menor intensidade, as partes envolvidas detêm algum poder de negociação. E conseguem arrancar, ora menos, ora mais vantagens do acordo de compromisso firmado. 
Salvo a questão do empregado cuja natureza do trabalho não lhe exigindo nada, pode ser tratado como os milhares de trabalhadores atendentes em cadeias de fast-food, como o McDonald's, exemplo citado por Blanchard, ou como os balconistas de lanchonetes dos centros das cidades grandes de nosso país, para ficar apenas em alguns exemplos. 
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Entretanto, ao apresentar em seu livro de Macroeconomia as consequências da determinação dos salários e dos preços, e encaminhar sua apresentação para o modelo conhecido como a síntese neoclássica, o modelo de Oferta Agregada - Demanda Agregada e a apresentação do que ele chama de nível de equilíbrio da renda ou produto de equilíbrio, alguns elementos que vão sendo introduzidos, acabam atraindo nossa atenção e nos impedindo de perceber como, na verdade, a negociação salarial é pouco ou quase nada uma situação em que as partes ostentam poder de negociação aproximadas. 
Sempre o poder de negociação praticamente se concentra todo na mão do empresário que, é bom lembrarmos, por ser dono de propriedades, sejam os bens de produção ou capital físico, seja a terra, psde, se assim o desejar, aproveitar ele mesmo para trabalhar e produzir em suas posses, já que como homem, também ele tem a capacidade de trabalhar. 
Logo, não depende de ninguém para obter sua sobrevivência. 
Por outro lado, o trabalhador, aquele que é completamente desprovido de qualquer outra propriedade exceto sua capacidade de trabalhar, não pode produzir, nem sobreviver, porque não  há como plantar alimentos, ou produzir roupas e outros bens que lhe asseguram a vida, sem terras para plantar ou máquinas. ***
Ou seja, o trabalhador até para trabalhar e produzir seu sustento depende da aprovação, de um ato de vontade, ou piedade, do dono das propriedades. Que se utiliza de tal poder para negociar tal cessão de propriedades de forma sempre a se beneficiar mais e até explorar o despossuído. 
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Mas, voltemos à questão da fixação de salários por meio de uma negociação que, para Blanchard e a corrente de pensamento a que ele se filia, se dá entre trabalhadores que visam a obtenção de um salário real, ou seja, a negociação se dá com o trabalhador objetivando obter bens em quantidade para garantir sua vida, e não uma soma monetária qualquer. Essa soma ele obterá pela simples multiplicação dos produtos que lhe importam de fato, por seus preços no mercado. 
Ou em economês, o que importa ao trabalhador não é o salário em grana que recebe, mas o poder de compra dessa grana, aquilo que, concretamente pode ser fruto da transformação dessa grana em bens. 
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Assim, pode-se dizer que as quantidades de bens, que são o que importa aos trabalhadores, podem ser calculadas, pela divisão do salário em moeda pelos preços dos bens da cesta básica de consumo do trabalhador. 
No entanto, como são fixados tais preços? Pela teoria,  esses dependem sempre de uma decisão inquestionável e discricionária do empresário, que é quem conhece seus custos de produção, os quais soma para acrescentar ao valor assim obtido, uma margem de lucros que ele determina e que objetiva conquistar.
Percebe-se assim que se fosse verdade que os trabalhadores quando negociam salários pensam apenas naquilo em que podem transformá-los, eles estariam abrindo mão de seu poder para os empresários, já que nada impediria aos patrões, depois de acertado um valor de pagamento em moeda, de eleverem seus preços.
Por essa razão, Keynes nunca admitiu que fossem os salários, sob a forma de bens, que os trabalhadores negociassem, como era proposto pela escola clássica. Justamente por não terem como controlar o que aconteceria com os preços. 
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Mas voltemos ao tema da negociação de salários e da determinação de salários e preços, que conduzem ao conceito de taxa natural de desmprego, uma taxa que deveria existir de desemprego para assegurar que a economia não entraria em crise, alcançando seu equilíbrio. 
Nesse ponto, é preciso reconhecer um avanço da ideia exposta em relação à ficção da escola clássica, que não admitia, por suas hipóteses, que houvesse qualquer desemprego involuntário. Ou só estariam desempregados aqueles que, por qualquer motivo, não quisessem mesmo trabalhar. 
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Dito isso, Blanchard avança para a apresentação do modelo já citado de Oferta Agregada/Demanda Agregada, que não exporei para não cansar ao amigo que me lê, mas que permite ao economista extrair duas conclusões que valem a pena mencionar. 
A primeira que diz que, caso algum fator como o aumento do seguro desemprego (que quando se eleva provoca aumento do poder de negociação do trabalhador e, em consequência eleva o salário real) viesse a ter lugar, isso levaria a aumento do salário para qualquer que fosse a taxa de desemprego. Mas, a economia iria se mover na direção de um aumento da elevação da taxa de desemprego necessário para seu equilíbrio, ou de sua taxa natural de desemprego, já que: "uma taxa de desemprego maior é necessária para trazer o salário real DE VOLTA PARA O QUE AS EMPRESAS ESTEJAM DISPOSTAS A PAGAR".
E prossegue para concluir: é esse movimento que levou alguns economistas a chamarem o desemprego de mecanismo de disciplina. 
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Apenas para reforçar, como a empresa é quem decide se vai ou não demitir o trabalhador, verifica-se que, por esse raciocínio, não há qualquer situação em que o trabalhador possa minimamente ter algum poder de barganha, nesse caso. 
Aqui, ele se submete ao poder da empresa, tanto quanto se fosse um funcionário do McDonald's.
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Por outro lado, prossegue nosso autor, caso as empresas deliberem aumentar suas margens de lucro, um "nível de desemprego maior É NECESSÁRIO para FAZER OS FUNCIONÁRIOS ACEITAREM ESSE SALÁRIO REAL (que um aumento de preços representaria), MENOR, levando a um aumento da taxa natural de desemprego 
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Mais uma vez, aqui, mesmo quando as empresas é que estão desejando obter ganhos maiores, para poder conseguir tal objetivo, sem reações dos empregados, elas provocam demissões e o desemprego se eleva. 
Em outras palavras, em teoria, se os trabalhadores querem obter maiores ganhos, eles perdem, por serem demitidos para não reclamarem de seus salários. 
Se é a empresa, ela demite, para que os trabalhadores não sejam um obstáculo à realização de suas vontades. 
E depois vêm dizer que há negociação e que há acordos no mercado. Onde, por hipótese, ambos os lados, patrões e empregados estão barganhando preços. 
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Bem, todo esse pitaco, para lamentar que ainda tem gente que defende a reforma trabalhista, como se ela fosse algo que pudesse ajudar a reforçar a posição de negociação do trabalhador. 
Que os empresários comemorem esse resultado, vá lá. 
Mas que quem não é empresário acredite que o acordado pode ser melhor sobre o que a legislação prevê, que é apresentado como a principal conquista da reforma que o Congresso está votando, é coisa que não dá para entender. 
Ou que exige que alguém possa dissertar a respeito, para mostrar o erro que tal falácia apresenta. 
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Com leis o trabalhador já é explorado, como o demonstram as milhares de ações trabalhistas nos tribunais do país, sem elas então.... 
Só nos resta ver a desgraça que esse ser assemelhado ao demo, que ocupa o Planalto por força de um golpe e de seu mau caratismo poderá provocar... 
É isso.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Esse é um país que vai pra frente. Só que não. Aí vem o atraso das perseguições da Lava Jato, das reformas, da moral e da ética

Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, inclusive uma sequência de feriados, que permitem algum tempo de lazer, de descanso e de pausa para reflexão. Ou reflexões.
Nesse meio tempo, o papel patético de Dallagnol e mais alguns colegas, voltando a ocupar as redes sociais em uma tentativa quase constrangedora, para que a população pressione seus representantes e eles possam se livrar das consequências da aprovação de uma lei capaz de punir o abuso de autoridade.
Logo eles, e especialmente esse fanático religioso, que protagonizou um dos espetáculos mais estapafúrdios de 2016, e com a maior pompa e circunstância, flashes e mídia, muita mídia, como a apresentação de power point.
Uma fajuta apresentação para, sem qualquer convicção, mas cheio de indícios, ter apenas a oportunidade de colocar Lula como o mentor, e principal cabeça pensante da rede criminosa que se formou no país há pelo menos 30 anos, como nos informou Emílio Odebrecht.
E, para não deixar o esforço feito pelo procuradorzinho para aparecer, assegurar a Dallagnol os míseros minutinhos de fama que ele tanto desejou.
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Em minha opinião, a farsa burlesca, se não conseguiu atingir a Lula, não porque o ex-presidente não tivesse coisas para serem investigadas, mas pela fragilidade de tudo que foi levantado e exposto, principalmente a qualidade de gosto duvidoso do material do powerpoint, conseguiu tornar o nome do procurador um nome candidatável para as eleições de 2018. Pela Rede de sua irmã de fé, Marina Silva, e talvez para um cargo majoritário.
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E, novamente é o procuradorzinho candidato a candidato que surge nas redes sociais para bradar que querem acabar com a Lava Jato, embora o que a lei corretamente prevê é tão somente fechar a porta para que pessoas como o reclamante possam usar de suas atribuições e de seu cargo, para agirem sem qualquer pudor ou respeito a tudo que jurou defender.
Interessante que se lembre: o caso do triplex, examinado em outra frente, pela procuradoria do Estado de São Paulo, chegou à conclusão de que o apartamento não é de Lula.
O que resultou em arquivamento do processo.
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Mas Dallagnol não se faz de rogado. Ou se faz de desentendido. É incapaz de reconhecer que falhou e apresentar, como uma pessoa que tivesse hombridade faria, um pedido de desculpas.
Se não quisesse chegar a tal extremo, ao menos poderia ou deveria tratar de investigar mais a fundo os tais indícios, buscando sair do mundinho cada vez mais armado e fantasioso das delações, e ir em busca de provas. Coisa que ele e seus colegas de Curitiba parecem não saber ou não querer fazer.
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Enquanto isso, o país assiste, sem qualquer reação a outros tipos de situações vexatórias, como a que nos foi brindada por Léo Pinheiro, agora com toda condição de fechar um acordo benéfico de delação premiada, CONTRA LULA.
Porque o que temos visto, mas a imprensa se nega a reconhecer, exceto poucas vozes destoantes, é que a República de Curitiba só aceita fechar esse tipo de acordo, que premia aqueles a quem deveria punir pesadamente, para quem se prestar a falar de Lula, mesmo se for para inventar histórias da carochinha, sem qualquer comprovação real, embora admita-se que verossímeis.
No caso, é bom que se recorde que Janot paralisou as negociações de acordo de Léo Pinheiro anteriormente, porque houve vazamento de parte do que ele se propõs a delatar, inclusive envolvendo o nome de um ministro do Supremo, Dias Toffoli.
Agindo com uma celeridade que não demonstrou em todos os outros milhares de casos de delação em que só apareciam nomes de proa do PT, o partido Geni da política nacional, Janot interrompeu as tratativas com o dono da OAS e seus advogados, mas não procurou apurar a responsabilidade do vazamento. Melhor os vazamentos no plural, já que esses continuaram acontecendo.
Apenas é importante a constatação de que até então, na delação que prometia fazer, não havia saído o nome de Lula, o que deixava a Procuradoria revoltada e frustrada.
De lá para cá, Léo Pinheiro que não é bobo, aprendeu. E se o negócio para alcançar sua liberdade é falar mal de Lula, então que seja dada carne às aves de rapina.
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E, embora até o Globo ao que parece foi obrigado a reconhecer, temos de admitir que é muito pouco alegar que Lula pediu para destruir provas. E o nosso meliante de gravata as destruiu, cometendo mais um outro seríssimo crime? E ao menos teve a preocupação de gravar a conversa com seu amigo e ex-presidente, ou Lula revistou-o, antes de solicitar coisa de tal gravidade?
E quem mais participou da tal conversa se houve alguém? Ou o que vale afirmar que Lula foi visitar um apartamento em um prédio em que sua esposa reconhecidamente havia comprado uma cota, antes da cooperativa que iria ser responsável pela construção quebrar?
Por que é justo que se pergunte, em entrando a empresa OAS no negócio, e a primeira dama desejando vender sua cota ou desistir da compra, que diretor não iria convidar o presidente a ir com sua esposa ao empreendimento, para demovê-lo do negócio. Inclusive propondo-lhe um upgrade, um apartamento triplex.
E prometendo reformá-lo ao gosto da família do presidente?
Há algum motivo especial que impedisse qualquer pessoa nessa situação de ir visitar o apartamento em obras várias vezes, apenas para avaliar se era aquele mesmo o imóvel que lhe  interessava adquirir?
E não foi levantado, ou ao menos noticiado pela imprensa que Lula tinha em conta corrrente, recursos para adquirir a unidade?
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Mas não é apenas isso. O outro membro importante da República de Curitiba, o juiz de primeira instância Moro, que em termos de comportamento ético e moral, parece não ter instância nenhuma capaz de classificá-lo - e que é outro com medo da aprovação da lei contra abuso de autoridade, sabe-se porque motivos - mais uma vez autoritariamente e passando por cima da lei resolveu aceitar a indicação do número exagerado de testemunhas de Lula, no caso ainda do triplex. Mas, determinou que Lula estivesse presente em todas as oitivas. Todas os 87 depoimentos.
O que é um escárnio. Mais um do juiz que cada vez mais se acha responsável por comandar o próprio Juízo Final.
Logo quem é casado com uma senhora que não se vê constrangida de ir às redes sociais falar mal de Lula e de qualquer petista que possa ter ligações com o ex-presidente.
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Ora, não é preciso de ser petista para chegar à conclusão de que, independente de Lula ter cometido vários atos condenáveis, o que surgiu até aqui, em relação ao político é tão frágil, que acaba não o destruindo. O que acaba dando lugar a outra frase popular conhecida, que diz que o risco é de que o que não mata possa vir a fortalecer o político.
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Em meio a tudo isso, temer tem provas apresentadas contra sua pessoa por delatores da Odebrecht, com relação à participação e negociação de valores elevados de propina. Eduardo Cunha emite claros sinais de que o golpista estava por trás do desenrolar do golpe institucional que o colocou em lugar que não deveria ocupar nunca. E revela que o usurpador esteve sim em reuniões em que grana vultosa estava sendo negociada em apoio à campanha do partido e, quem sabe, até do golpe.
Golpe, aliás, que o próprio temer reconheceu ter havido, em entrevista à Band.
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Mas, de nada vale ter domínio dessa informação já que, para nossa elite empresarial, econômica, etc. por pior que sejam os eventuais crimes cometidos pelo golpista, enquanto ele cumprir a agenda que foi determinada a ele, de ruptura de todas conquistas sociais, a expropriação de todos os direitos conquistados pela classe menos favorecida, às favas os escrúpulos, como diria um ex-ministro militar do governo de Costa e Silva, por ocasião da assinatura do AI-5.
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Em um país de republiqueta de bananas, de uma elite que não vê problema algum em roubar e patrocinar patifarias, desde que o roubo e seu fruto fiquem circunscritos a uma casta de empresários e gente de altas camadas sociais, não é de esperar outra coisa, lembrando a anedota que se refere às maravilhas com que Deus parece ter protegido o país, seu predileto: "mas o povinho, ó.....!"
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O que se alastra e encontra eco, em todas as outras atividades do país. Inclusive no futebol, como as cenas mostradas pelas tevês na última semana confirmam.
A começar pela do técnico do Internacional, e o papelão que ele se dignou a prestar. Se dignou é uma expresão errada para tratar de alguém que já mostrou que não tem dignidade alguma.
Mas, o técnico Zago, aprontou um dos maiores papelões de todos os tempos, simulando, do lado de fora do campo, ter sido acertado por um tapa de jogador do time adversário. O que levou pelo menos alguns segundos para o técnico perceber, e se por a rolar no gramado.
E não foi único. Lances entre jogadores simulando agressões existiram aos montes, mostrando como o exemplo (de cima) acaba sim, tendo efeito didático de longo alcance.
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Tudo muito risível, e que passaria despercebido, caso não tivéssemos hoje, por exemplo, em nosso Congresso a votação da Reforma das leis trabalhistas, em votação por um sem número de denunciados nas delações da Lava Jato.
Gente que deveria ser afastada até que as investigações a respeito dos fatos denunciados pudessem apurar quanto a sua veracidade ou não, já que políticos com mandatos, acusados de roubarem ou desviarem dinheiro público.
Justamente quem mostrou estar contra o povo a quem agora buscam agredir com a retirada de direitos e conquistas, colocando o Brasil, definitivamente, de volta para o seu passado escuro e tenebroso.
E lembrar da musiquinha que dizia que esse é um país que vai pra frente.
Só que não.
Exceto se alguém, à la Benjamim Button, inverteu o rumo e o movimento do tempo.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Páscoa e a transformação em meio à bandalheira. E a presença de temer para aprovar projetos de interesses minoritários indica que nada deverá se transformar

Inexorável, o calendário trouxe a data de celebração da Páscoa, dedicada às comemorações da passagem do povo escolhido por Deus, o  povo judeu (ou hebreu) para a liberdade, depois de anos de escravidão no Egito. 
Na mesma data, a Igreja Católica comemora a passagem do Deus feito homem para sua dimensão divina, com a vitória da Vida sobre a morte, representada pela Ressurreição do Cristo.
Mas nem todo esse simbolismo foi capaz de nos libertar, nos feriados da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, do noticiário até nauseabundo relativo às gravações da Odebrecht. 
E, talvez até pela ausência de outras notícias, também em recesso, os programas jornalísticos aproveitaram para abusar de nossa paciência, repetindo à exaustão os depoimentos dos 77 delatores da maior empreiteira nacional. 
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E foi tal o bombardeio de gravações a que fomos submetidos, que não há como questionar se não tenha sido proposital a invasão dos noticiários por tantos episódios de puro escárnio, deboche, ironias e comentários dos delatores, reconhecidamente criminosos, de modo a induzir no público uma reação justamente oposta àquela em tese desejada. Ou seja, levar a maioria da opinião pública a uma sensação de inutilidade, e a adoção de uma postura de absoluto escapismo, de completa descrença em que algo possa ser feito para alterar o mar de lama que cerca toda a relação entre interesses privados e públicos em nosso país. 
Curiosamente, o oposto da festa de Páscoa, que traz a marca da Fé, em que, ao final, a vitória irá superar a morte e o pecado dos homens. 
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Porque a sensação que a apresentação das delações gravadas nos traz é a de nojo, asco. A sensação que nos resta é a de que somos todos um bando de trouxas, fáceis de serem ludibriados e passivos. Razão dos risos e ironias dos delatores, que mostram menos de como era fácil explorar nossa boa fé e ingenuidade, e muito mais de como sabem que sairão dessa situação completamente impunes, logo ali a diante, tão logo dobrem a esquina. 
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Verdade que eu já tinha ouvido comentários de que, para alguns dos políticos envolvidos nas maracutaias, era interessante que as delações tivessem seu sigilo quebrado e pudessem ser todas divulgadas, até para tirar o peso de alguns vazamentos dos delitos dos ombros de alguns poucos. 
Cientes que mais de 200 pessoas, principalmente políticos estavam envolvidos, o melhor é que os nomes todos viessem a público, permitindo que o impacto da enorme lista viesse a público para diluir seu conteúdo arrasador. 
Afinal, como insistem várias das pessoas de expressão no nosso cenário econômico-político-social, entre tantos, seria muito difícil separar o joio do trigo, o caixa 2 sem maiores consequências, mesmo que crime, daquele mero fruto de propina, relativizando os crimes até o ponto de criar uma salada completa a ponto de não distinguir mais o que deveria ser punido, ou ter punições mais pesadas. 
No fim, um acordão poderia ser costurado livrando a cara de todos, talvez contra a promessa de não voltarem a se comportar mal. 
E, nas próximas eleições, estaríamos novamente decidindo entre o bom ladrão e aquele ladrão que não se arrependeu. 
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E que tudo caminha para tal cenário não é difícil de prever. 
Primeiro porque temer, o usurpador, agora réu confesso da participação em duas reuniões de seu partido com gestores da maior empreiteira do país, em que se sacramentavam acordos de amizade e cooperação duradoura, não é molestado e não pode, a julgar pela legislação ser sequer investigado por atos ilícitos ocorridos antes de se sentar, ilegitimamente, na cadeira presidencial. 
Claro, há sempre a defesa do usurpador afirmando que em nenhuma das vezes, fosse no Jaburu, fosse em seu escritório em São Paulo, tivesse o conteúdo da reunião tratado de recursos financeiros. 
Deixando de lado o fato por si só já passível de punição, em minha escassa opinião, de se estar misturando interesses públicos e privados (afinal o Jaburu é um palácio oficial, e o vice presidente por mais que fosse figura decorativa, não deveria ficar em convescotes com representantes de nossa elite empresarial), os próprios delatores afirmaram inúmeras vezes que os valores foram acertados antes, no caso de São Paulo, ou depois, no Jaburu.
O que torna a presença  do sósia de Drácula nas reuniões uma espécie de aval, senão do compromisso de que toda a alta camarilha estava autorizada a tratar dos temas de interesse comum, que eram de conhecimento de seu líder maior, o presidente da agremiação a que pertenciam. 
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Logo, não há como a imprensa permanecer tratando temer como se ele estivesse ao largo dos delitos, da corrupção, da distribuição de propinas ou caixa 2. 
Não dá para entender que a Band, por exemplo, se vanglorie de apresentar uma entrevista exclusiva com o golpista temer, como se ele estivesse fora de todo o lamaçal ou como se, independente disso, tivesse que ter as portas abertas para vir tentar convencer a população de que nada deve lhe acontecer, pelo menos não enquanto ele não aprovar o pacote de medidas de interesse do empresariado nacional. 
Porque em minha opinião, é no mínimo curioso que todos respeitem ainda a figura menor desse usurpador, e lhe dêem espaço, porque ele é o condutor das reformas de mercado, tão ansiadas e desejadas pelos mercados e seus arautos.
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Curioso que ninguém destaque, no caso das tais reformas, que de um lado está temer, um político citado várias vezes no escândalo das propinas do momento, e do outro, dando-lhe suporte, estão empresários de vários setores, principalmente do setor financeiro, de saúde, da educação, etc. que estão cobrando do golpista que use todo seu poder para aprovar as reformas. 
E tudo isso, em um Congresso cheio de políticos delatados, sem que em nenhum momento se fale ou se levante ao menos a indagação de se tais empresários interessados já não teriam também eles, comprado os votos necessários à aprovação das matérias que lhes interessam. 
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Em outras palavras: para a grande midia, ao que parece, mesmo em meio a todo esse escândalo de corrupção para aprovação de medidas de interesse dos empresários, acontecido no passado, outras medidas, muito mais duras, muito mais penalizadoras do grosso da população estarão sendo discutidas e aprovadas, sem que nenhuma propina esteja sendo paga às escondidas. 
Já que é impossível não fazer a ilação, e a imprensa não o faz, volto à tecla inicial: o bombardeio das fitas gravadas da delação parece ter muito mais o interesse de jogar tudo e todo mundo em uma mesma vala. Igualando depois a todos, poderá ser feito um pacto capaz de anistiar a todos os envolvidos e assegurar, daí em diante, a governabilidade e um país de práticas mais limpas, mais honestas. 
Dirigido pelos mesmos acusados e dublês de bandidos que agora estão nos noticiários. 
E enquanto isso, o país terá alterado sua legislação, acabando ou limitando seus direitos sociais e os direitos dos trabalhadores e dos mais desvalidos. 
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Por isso, a apresentação das gravações à exaustão. Para que todo o povo fique entediado, a ponto de adotarem a postura do comodismo e da inércia, de quem sabe que nada irá mudar, passado esse furacão provocado pela Lava Jato. 
Ou porque como diz a nossa ministra Eliana Calmon, a operação não chegará ao Judiciário, poder suficientemente cheio de sujeiras para ser alvo das investigações. Ou porque um acordão deverá ser feito, livrando a todos os principais líderes de nosso país, de qualquer punição mais pesada. 
Ou ainda porque nossa política continuará dando oportunidades de que novos agentes possam surgir, talvez até com mais sofisticação, para continuar a adotar as práticas de sempre da corrupção e da desonestidade e dos interesses escusos. 

terça-feira, 11 de abril de 2017

Caixa 2 e a lembrança de Crime e Castigo

Em minha última postagem fiz uma analogia entre a situação das balas perdidas que se encontraram no corpo de Maria Eduarda, no Rio, com o livro Encontro Marcado de Fernando Sabino.
Hoje, a analogia é com outro personagem famoso, de uma das mais importantes obras literárias, agora em plano mundial.
Refiro-me a Raskólnikov, o personagem central de Crime e Castigo, a monumental obra (em minha opinião), de Dostoiévski.
A razão é mais ou menos evidente, e tem a ver com a situação surreal que só mesmo nosso país é capaz de gerar, em relação ao crime tipificado na legislação eleitoral, mas não apenas, conhecido como Caixa 2.
Em breve consulta ao Google, verifica-se que não resta dúvida de que Caixa 2 seja crime, por tratar-se de uma espécie de delito de falsidade ideológica. No Código Eleitoral, está previsto no artigo 350, tendo inclusive a previsão de pena de 5 anos de prisão.
Não por outro motivo, justifuca-se a ênfase dada pela presidente do STF, ministra Cármem Lúcia, ao classificar o Caixa 2 como crime deplorável. Dela é a declaração a seguir, que transcrevo:
" É muito grave afirmar da tribuna do STF que "caixa 2" é crime e pretender que tudo isso fique impune."
Não bastasse isso, o crime está previsto na legislação relativa aos crimes contra a ordem financeira, a Lei do Colarinho Branco, além de ser também crime tributário.
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Reconhecer que o ato seja caracterizado como crime, entretanto, não impede de se reconhecer, como o faz o professor Luiz Flávio Gomes, que o problema mais grave da prática do "caixa 2" é que "frauda a legislação assim como o processo eleitoral, porque desiguala os concorrentes."
Assim, em sua opinião, mais que abuso do poder econômico, a "compra" do mandato parlamentar que essa prática propicia vicia a própria democracia, permitindo ainda que se forme dentro do Congresso as famosas bancadas da Bala, da Bola e outras que não cuidam de interesses gerais mas apenas daqueles relacionados aos financiadores de suas campanhas.
E o professor vai mais longe, ao afirmar que não é que não haja legislação que já preveja o Caixa 2 como crime. Ela existe, como já mencionado.
O que não existe é aplicação devida da lei.
Mais uma vez, e para reforçar aquilo que a grande maioria das pessoas gosta muito de afirmar, sem se dar conta da grande tolice que estão dizendo, a questão é a da impunidade em nosso país.
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Já tive a oportunidade, anteriormente, de tratar dessa questão da impunidade, deixando muito claro que esse mal, impossível de ser negado, existe em nosso país, principalmente quando os envolvidos em atos delituosos são pessoas de classes sociais mais privilegiadas.
Não existe, e ninguém em sã consciência há de negar, impunidade para os pobres, pretos, favelados ou moradores de comunidade, em geral jovens, sem perspectiva e sem futuro, ausência de punição. A esses, falta-lhes é o cometimento de crime. A esses, falta um crime.
Mas, para aquela categoria ou classe de pessoas com mais influência, ou mais destaque social, ou econômico, inegavelmente, a punição não é a norma.
Vide, para citar apenas um caso, a questão do mensalão mineriro de Eduardo Azeredo, que não cumpre pena alguma, ou a questão do aeroporto nas terras de propriedade da família de aecim, que também não teve qualquer punição, ou a questão do avião de propriedade dos Perrela, amigos do senador mineiro, em que até mesmo a investigação pode ser questionada.
A esses, junta-se até mesmo crimes contra a vida, como a do ex-jornalista e diretor do Estadão, apenas um, entre muitos outros.
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Mas, voltando ao nosso tema inicial, do Caxia 2, é importante que assinalemos que, com a opinião exposta do professor advogado Luiz Flávio Gomes, também concorda o juiz Moro, que em evento na Universidade de Harvard, no dia 8 passado, considerou o Caixa 2 de campanha uma "trapaça, um atentado à democracia.
E não ficou nessa opinião. Foi mais longe, para afirmar que, em sua opinião, é pior que a corrupção em proveito próprio.  e completou afirmando que "causa espécie quando alguns sugerem fazer uma distinção entre a corrupção para fins de enriquecimento ilícito e  a corrupção para fins de financiamento ilícito de campanha eleitoral."
Concluiu, no entanto, afirmando que em sua opinião, a corrupção para o financiamento de campanha é a pior das duas justificativas.
E concluiu afirmando que, a propina recebida e depositada em conta da Suíça, é crime, mas de importância menor, já que não estará fazendo mal a mais ninguém, naquele momento.
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Imediatamente as redes sociais começaram a ser infestadas de comentários criticando a opinião do juiz, em parte pelo comportamento que esse magistrado vem adotando, em franca contradição com aquele que se espera de um juiz, mais reservado e mais contido.
Claro, a ninguém escapa o comportamento do juiz de Curitiba, agindo de forma autoritária, como um justiceiro, arrogante, prepotente, usando de artifícios condenáveis como abuso de autoridade, em minha opinião, mesmo que para alcançar fins com que todos comungamos.
As fotos das redes sociais do juiz com vários nomes de políticos delatados na operação que ele tem a seu encargo, em eventos sociais, de congraçamento, ou palestras, e sua postura sempre muito voltada para os holofotes, e para conseguir, custe o que custar, espaço na midia, dizem por si mesmas.
Além disso, demonstra uma certa desfaçatez, ao afirmar que pode conviver socialmente com quem quer que seja, especialmente se, como parece ter admitido, parte das pessoas com quem convive serem detentoras de foro privilegiado, o que significa que não irão serão julgados por sua pessoa.
Porque a máxima de que "diga-me com quem andas e te direi que és" está sempre presente na cabeça das pessoas de bem. E normalmente aquele que convive e se relaciona bem com bandidos da pior espécie, por mais que todo mundo, até o bandido tenha seu lado bom, positivo, humano, só consegue ter um bom convívio se fechar os olhos para aquelas atitudes que são socialmente condenáveis.
Em um juiz e para um juiz, tal atitude é condenável sem discussões, já que ainda usando o dito popular, à mulher de César não basta ser honesta. Tem que parecer...
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Mas dizia que as declarações de Moro logo foram destacadas, sem que se assinalasse que também para ele, o Caixa 2 é crime. E que deve ser punido, como tal. Apenas que ele emitiu uma opinião de que, em sua visão, há alguns crimes mais prejudiciais que outros. E, para o juiz, o recurso ilícito que alimenta o enriquecimento pessoal é menos prejudicial que o que alimenta a compra de mandatos e votos.
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Pois bem, o problema é que o comportamento do juiz de Curitiba, além de toda a crítica já feita a sua pessoa, nos parágrafos acima, é curioso, no sentido de que todo o afã que ele demonstra em punir (até perseguir, alguém diria) Lula, Dona Marisa, os petistas, e os empresários seus amigos, ele não demonstra em relação à esposa de Eduardo Cunha, que continua livre, leve e solta, para citar apenas um caso de tratamento desigual no rigor.
O tratamento que ele dispensou a Fernando Hentique, em depoimento como testemunha de defesa de Lula, é completamente diferente daquele autoritário, arbitrário, desrespeitoso que confere a Lula e a seus advogados, por exemplo. Comportamento que em certas audiências chega às raias da exasperação, fruto do fracasso e, quem sabe, de uma certa incapacidade de lidar com esse fracasso. Fenômeno que afeta aos deuses, ou a quem se considera situado nesse patamar.
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Mas, a declaração de Moro cai muito mal, especialmente quando nao colocada na íntegra (que de certa forma deveria servir para relativizá-la), dado que há um movimento curioso em nossa sociedade na direção de, mais uma vez, botar panos quentes nos mal feitos, sugerindo que há dois tipos de caixa 2, o do bem e o do mal.
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Lidera tal movimento o ex-presidente FHC, para espanto de tantos quanto ainda acreditam que o príncipe seja realmente uma pessoa justa e honesta, além daquele ser que ocupa posição, não por acaso por indicação do próprio FHC, na Corte Suprema do país. E que, não apenas pela capa, mas pelo que é, pelo que fala e por tudo que representa tem, insistentemente, procurado provar ser o corvo mor do Supremo.
Em outras circunstâncias, momentos e até países, gilmar seria considerado a encarnação do mal, a asa negra da magistratura.
Pois é, principalmente gilmar que tem feito uma verdadeira ginástica para separar o caixa dois do bem, do caixa dois do mal, quem sabe, por interesses inconfessáveis, impublicáveis e até pessoais.
Mas, deixemos isso prá lá.
gilmar é considerado no próprio Supremo um "outsider", alguém inadequado, ao que parece por comentários que são feitos na midia. No mínimo, um estranho no ninho.
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Daí a razão de eu me lembrar do russo Raskólnikov, e das memoráveis páginas em que ele está planejando seu crime, já que a eliminação de uma pessoa velha, sovina, ruim, despida de todo e qualquer predicado mais benevolente, com caráter criticável, com o de sua inquilina seria uma grande atitude de saneamento. Seria equivalente a matar uma pulga. Um ser vivo que inspira apenas repulsa e sem qualquer pessoa para defendê-la.
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Claro há um crime na horizonte. Vai ser cometido um crime. Mas, socialmente capaz de acarretar tantos benefícios que perderia sua carga delituosa. O que poderia servir para dispensar a tal atitude uma espécie de perdão, ou punição branda.
Bem diferente da máxima do "dura lex, sed lex", pouco respeitada nos dias de hoje até por magistrados e políticos de expressão, ao que parece.
E aqui uma questão talvez menor, mas importante: ao juiz não cabe emitir esse tipo de opinião, dos crimes que podem ou não, serem punidos. Dos que são mais ou menos prejudiciais. Desde que sejam crimes, todos são iguais na forma de serem tratados. E para outras considerações, a própria lei já traz as atenuantes e/ou os agravantes, não sendo adequado que o juiz traga elementos novos de entendimento ao arrepio da lei e segundo suas convicções de momento.
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Não há caixa dois do bem. Há apenas um crime de caixa dois.
O dinheiro depositado em dado momento na Suíça, pode amanhã favorecer um novo mandato, ou nova eleição, contribuindo da mesma forma que o outro, para o atentado à democracia.
Além disso, ambos dão crimes igualmente medonhos, da pior espécie, seja por obtenção de financiamentos de empresas que ganharam concorrências fraudadas, seja por recursos obtidos como recompensa por favores prestados pelo servidor responsável pelo interesse do público, e que traiu tal compromisso.
Crime é crime.
E para mostrar a gravidade do crime sob suas duas facetas, basta lembrar que esse recurso desviado, não registrado e contabilizado, que pode ter sido utilizado para bancar os pagamentos dos marqueteiros das campanhas milionárias de venda de imagens e ilusões, podem ter deixado de se destinarem a hospitais, condenando milhares de pacientes à morte, ou deixado de irem para as ações de saneamento básico, condenando à zica, à microcefalia, à falta de estudos, à morte em vida de milhares, até milhões de brasileiros.
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Para Raskólnikov, por mais que o crime pudesse ser justificável, restou ainda a punição de sua própria consciência. Afinal, tratava-se de um livro, um romance.
Para os criminosos de PT , PSDB, PMDB e tantos outros Ps que infestam nossa política e seus podres poderes, a dúvida é se há algum tipo de consciência a se manifestar.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Encontro Marcado: o livro de Sabino e as 4 balas perdidas no mesmo corpo de Maria Eduarda. E a luta contra o abuso sexual

Encontro Marcado, de Fernando Sabino, foi um livro que li ainda no tempo de ginásio, o nome antigo dado às últimas séries do ensino fundamental de hoje. 
Do livro, várias passagens me marcaram, ficando gravadas para sempre em minha memória,algumas das quais por se referirem ou descreverem lugares da cidade em que nasci, vivia, alguns deles que eram velhos conhecidos meus.
Caso, por exemplo, do Viaduto Santa Tereza e de seus arcos, que eram usados pelos jovens amigos do protagonista do livro para testarem sua coragem quando embriagados nos finais das noites, então modorrentas de Belo Horizonte. No livro autobiográfico, o autor conta que sua turma de amigos desafiavam-se, mutuamente, para ver aquele ou aqueles que teriam coragem para subir pelos arcos e atravessá-los, lá em cima, correndo.
Morador do centro da cidade e algumas vezes tendo ido ao serviço de meu avô, no antigo edificio Sulacap, encravado em lote em que o Viaduto tem início (ou fim), era como se eu mesmo estivesse sido transportado para as noites descritas no livro.
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Tinha também referências ao Minas Tênis Clube, clube a que eu era associado e que frenquentava constantemente, tentando participar das inúmeras equipes de natação, esporte ao qual eu tinha dificuldades para me adaptar; vôlei ou basquete. 
Pela história narrada no livro, Fernando foi nadador vitorioso e competiu pelo clube conquistando várias medalhas. 
Consta até um trecho em que, sei lá por que tipo de decepção, já mais velho, como querendo recuperar alguma autoestima ele voltou a treinar com afinco, obtendo novamente êxito nas piscinas.
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Também me lembro da história de sua iniciação sexual com a personagem Mariazinha, cujo nome eu guardo, embore não me recorde do fato descrito.
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Ao fim, o personagem muda-se para o Rio, onde mantém amizade com outros escritores mineiros lá radicados, até que um dia, encontram-se ele e mais dois de seus amigos de juventude, no evento que dá nome ao livro e que corresponde, sem qualquer intencionalidade, ao resgateode um compromisso firmado pelo trio, muitos anos antes, de um dia virem a se encontrar. 
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Faço aqui referência ao livro, não apenas em homenagem a seu autor, e aos amigos de mais idade que têm a paciência de acompanharem esses pitacos e que também leram o romance, mas por que uma situação recente ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, de certa forma remexeu com minhas recordações.
Trata-se do caso da morte da jovem Maria Eduarda, de 13 anos, no pátio interior da escola em que estudava, em momento que estava participando de atividades de educação física. 
Menina que, de acordo com os primeiros informes, foi vítima de bala perdida.
QUATRO balas perdidas, que curiosamente parece terem marcado um encontro no corpo da menina. 
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Não estou fazendo piada. Seria de muito mau gosto proceder dessa forma, desrespeitando a dor de uma família simples, que perdeu uma filha jovem, cheia de sonhos e ideiais.
O que estou pretendendo é destacar um ponto importante na história: as notícias diziam de uma bala perdida, o que por pior que seja, é fato que vem se tornando corriqueiro no Rio.
Mas, vá lá: por mais trágico que seja, é aceitável uma versão que justifica uma morte por bala perdida. 
No entanto, QUATRO balas perdidas é demais. 
E, ao meu ver, é indício de que a história está muito mal contada. 
Especialmente quando da história, e dando tiros a esmo (?) participavam dois policiais militares, fardados e com fuzis, que alegam estarem em meio a um fogo cruzado, ou uma troca de tiros com traficantes da região próxima à escola. 
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O que os policiais, cujas fichas levantadas e noticiadas pelos jornais indicam participação em 37 outros casos, pelo menos, de vítimas fatais em decorrência de resistência à prisão, não sabiam é que estavam sendo filmados e gravados. 
E as gravações mostram que os dois envolvidos em outras situações que apenas são um eufemismo para disfarçar execuções sumárias de bandidos, disparam seus tiros de fuzis em dois suspeitos ou criminosos até, ambos já feridos e caídos ao chão.
Um deles até se mexendo, como quem tivesse suplicando pela sua vida. O que não lhe valeu de nada, já que o policial disparou a queima roupa, de forma inapelável contra si. 
Para não ficar para trás, o parceiro do primeiro mau policial, para não ficar para trás, aproveitou e disparou também contra o segundo criminoso caído. 
Duas execuções bárbaras, de ditos policiais que não deveriam estar vestindo a farda que trajavam.
Dois assassinos, com direito para matar. 
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E aí é que  a história me intriga e daí o fato de eu estar tratando dela nesse pitaco: quem sabe, a história da morte da menina não tenha também ela sido forjada. Quem sabe a ordem dos acontecimentos não  tenha sido distinta daquela que parece ter sido a ordem natural dos eventos.
As notícias dizem que os policiais perseguiam e trocaram tiros com traficantes e que, nisso uma bala atingiu a menina, que estava em local na linha da troca de tiros. 
Mas, porque não a história seja outra. Os policiais trocam tiros com os suspeitos, acertam os dois, que caem e aproveitam para fuzilar a ambos. 
Depois de feita a "limpeza" vêm que foram observados por Maria Eduarda, e eliminam a testemunha. Com 4 balaços, nem um pouco perdidos.
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Afinal, eles não sabiam que tinha alguém filmando. Espero apenas que a morte da menina seja apurada corretamente e que os bandidos da polícia punidos exemplarmente. 
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A propósito, os portais de notícia informam que pesquisa realizada no Rio indica que 37% dos consultados são a favor da tese de que bandido bom é o bandido morto. 
Felizmente 60% parecem ser contrários, o que indica que a humanidade ainda tem alguma possibilidade de evoluir e criar uma sociedade mais justa.
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Mudando de assunto, o jornal Valor Econômico traz uma nota sobre o processo de elaboração do orçamento para 2018, destacando que a LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias cujo prazo para envio de seu projeto ao Congresso vence em 8 dias pode ter alteração na previsão de seu resultado. 
Originalmente previsto em 79 bilhões, o déficit primário para o próximo ano pode ser majorado, para valor ainda não definido pela equipe, tendo em vista o fato de as previsões feitas até aqui estarem se comprovando muito otimistas.
Para um desgoverno (ilegítimo, golpista e usurpador) que inicou prometendo realismo nas contas públicas, visando angariar confiança dos mercados, a notícia é no mínimo curiosa.
Tão curiosa ou estranha quanto o motivo: a percepção da equipe, apenas agora, da necessidade de se contingenciar, ainda nesse ano de 2017, a bagatela de 42 bilhões de reais. 
Isso, repito, porque a equipe não iria trabalhar com estimativas fantasiosas. E porque acreditava que as receitas iriam crescer, já que a economia voltaria a ter o PIB em ritmo ascendente, o que iria impactar as receitas. 
Isso para um governo cujas medidas, ao menos algumas delas, apontam na direção de um aperto maior na queda da demanda agregada, o que tem impedido de se confiar em que a recessão esteja mesmo alcançando o fundo do poço.
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Mas, como de ilusão também se vive, deixa o ministro Meirelles continuar sua pregação de que, ao final do ano, o crescimento da produção de bens e serviços estará aumentando de 3%.
Como se sabe, final do ano é época que a agenda do ministro deve marcar algum encontro seu com Papai Noel!!!
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E, finalmente, as mulheres têm conseguido manifestar-se e têm obtido resultados na sua luta em prol de que seus direitos sejam respeitados. 
E aqueles estúpidos machistas de plantão que alegam que, desde pequenos, aprenderam que as mulheres deviam atender aos caprichos do homem (como a nota de José Mayer dá a entender) estão sendo devidamente punidos.
No caso da nota do famoso ator global, é de se destacar que, apesar de reconhecer seu erro, tal reconhecimento soa falso, a partir do momento que alega ter sido apenas uma brincadeira. O que soa ridículo, quando a brincadeira chega à situação de bolinar a figurinista que o acusou. 
Independente disso, e da punição bem-vinda, ainda há muita gente que adota uma posição bastante condescendente com o astro, embora recriminando seu comportamento. 
O que mostra o grau em que o machismo está impregnado na população brasileira (e não apenas nos homens).
Tomara que tal reação seja o início de uma conscientização que seja capaz de dar um fim ao feminicídio que envergonha ou deveria envergonhar a todos nós. 

terça-feira, 4 de abril de 2017

O julgamento do TSE; a acusação agora é ao senador mineiroca, e mais um vexame do Galo, que preocupa

Abril inicia-se e já nessa primeira terça feira, o TSE julga a chapa Dilma/temer, por abuso de poder econômico e utilização de recursos desviados da Petrobrás, as propinas, para financiamento da campanha.
Alguns pontos são bastante interessantes em toda a situação e merecem algum registro.
O primeiro o fato de que, conforme vazamento na imprensa, Marcelo Odebrecht confirmou a utilização de recursos vultosos, oriundos de caixa 2, no financiamento POR FORA, da chapa vitoriosa no pleito.
Mas não se fez de rogado. Afirmou que não fora apenas a chapa eleita a beneficiária de tais recursos. Foram todos os demais candidatos.
A ponto de declarar, se verdadeiro o vazamento, que não havia um candidato eleito que não tivesse recebido recursos ilícitos. E se alegasse não ter recebido diretamente, ainda assim teria recebido recursos escusos, se recebeu ajuda do partido.
Ou seja: não escapa ninguém, como lembrou o filho, apenas corroborando declarações vazadas pelo pai, Emílio Odebrecht, para quem no país os financiamentos de campanha sempre foram assim e continuam sendo.
Dando a entender que, no futuro, há poucas chances de que tal prática venha a ser alterada.
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Trato dessa denúncia dos Odebrecht, em primeiro lugar, para deixar claro que, se pelo caixa da empreiteira transitaram recursos da Petrobrás, obtidos de forma criminosa nas concorrências fraudadas de que a empresa participou, e dado o fato mais que notório de que dinheiro não tem carimbo de procedência, nem cheiro que identifique sua origem, chega a ser risível alegar que o partido A ou B, somente, tenham sido os beneficiários do dinheiro da estatal.
Todos os partidos se beneficiaram, alguns em menor parcela, outros afundando completamente o pé na lama.
Mas não escapou nenhum e, desse ponto de vista, alegar que um partido deveria ser punido por uso de tal recurso é querer ser mais realista que o rei.
Talvez, admitindo um argumento empregado de certa feita pelo político que mais levanta poeira quando o fato é ligado a recebimento de recursos ilícitos, o mineiroca aecim, devesse merecer punição maior, como agravante, o partido que, por estar no poder, era quem indicava, ou sancionava o nome indicado por quem de direito na prática do loteamento de cargos que é tradição em nossa política.
Nesse caso, ninguém seria inocente de achar que, apenas o PT deveria ser punido, mas além desse partido, no poder há 14 anos, deveria ser também punido o PMDB, que era o dono de parte do lote da petroleira, e indicava nomes para sua diretoria; partidos como o PP e outros, que indicavam tanto nomes quanto influenciavam a participação e vitória em concorrências, até internacionais.
Claro, o PSDB não poderia ficar de fora, independente de que, essa sigla prossegue iluminada, já que seus próceres, a cada instante, são acusados e têm nomes delatados, com valores elevados, alguns pagos até no exterior.
Ainda assim, nada lhes acontece, ao menos no mundo onde a justiça fica a cargo de um juiz menor, de estatura moral que, para dizer o mínimo, é completamente abaixo daquela que em outros tempos honrava nossa magistratura, e comportamento autoritário, messiânico, tanto quanto o de certos procuradores federais.
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Outra observação, é a respeito de um argumento que ganha cada vez mais adeptos, e cujo argumento é de uma desfaçatez digna de quem não tem nenhum princípio moral, embora fique posando de paradigma de comportamento.
Refiro-me a todos aqueles que alegam que, já que a situação política do país está mais calma, já que a economia começa a dar sinais de reação (embora fosse importante indicar concretamente que sinais são esses, que não consigo visualizar, exceto como "wishful thinking" (a famosa expressão que faz dos desejos e sonhos, a base real e concreta para a tomada de decisões), já que o usurpador está promovendo as reformas que o "país" necessita, o melhor é deixar temer fora da decisão do TSE.
Antes de prosseguir, um comentário: o que o golpista e traidor temer tem promovido são as reformas que interessam aos grandes donos verdadeiros do poder, os donos do grande capital, principalmente e cada vez mais, encastelados no mercado financeiro.
Só uma pessoa sem o domínio de suas faculdades, poderia achar que eliminar todos os direitos sociais e todas as ações voltadas para encaixar o país em outro patamar perante o mundo mais avançado seria benéfico para o povo, em sua grande maioria.
Aqui, lembro-me agora, e lamento mais uma tesourada desse governo usurpador, o fim do programa Ciências Sem Fronteiras, ou as restrições para reduzir o impacto da Olimpíada de Matemática, até que ela também venha a perecer por desidratação.
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Mas, voltando à questão, muitos aceitam o absurdo legal que a defesa desse assassino do futuro do país pretende, que é solicitar o tratamento da chapa de forma separada, o que vai contra toda a lógica e o direito,  até por existir farta documentação de que essa excrescência que ocupa o executivo de forma ilegítima,  foi beneficiado pelos recursos obtidos pela chapa de que ele era mera peça decorativa e anacrônica.
Ainda assim, muitos arautos da moral e da decência, alegam que por não ser o cabeça da parceria (o que é óbvio, já que de quem se trata, é possível acreditar que nunca serviria para cabeça de nada de maior importância para o povo), temer não deveria ser julgado e sim Dilma. E temer não deveria ser punido, por ter menor influência no direcionamento da chapa.
No fundo, uma série de sofismas para fazer valer a máxima do rouba mas faz, ao menos para os amigos, ou de quem faz conforme o interesse dos patrões.
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Nem a existência de documentos que mostram que, por integrar a chapa que o elegeu vice, ele se beneficiou integralmente de toda sua trajetória, faz os defensores da situação do "já que está ruim e tudo é farinha do mesmo pote", melhor manter esse que está aí, para dar maior tranquilidade institucional ao país.
Curioso é que, usando tal argumento, esses moralistas sem caráter chegam inclusive a argumentar com a ameaça de que, com a cassação da chapa inteira, e a necessidade de se eleger outro presidente de forma indireta, corre-se o risco de o eleito, pela falta de tempo, acabe impedindo a realização das eleições marcadas para o ano de 2018.
O que não causa susto nem asco a ninguém, primeiro por admitir isso, segundo pela chantagem explícita. Afinal, desde maio do ano passado, vivemos um regime de exceção, sob o disfarce de uma democracia verdadeira.
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Outra questão a ser levantada é a claque, a torcida que se armou, para que algum dos magistrados do Tribunal, venha a pedir vista do processo, o que poderia retardar qualquer julgamento, inclusive permitindo que temer tenha condições de indicar os seus julgadores, substituindo alguns menos confiáveis por outros que agirão a seu favor, como funcionou a indicação de alexandre de moraes para o stf, tudo em minúsculas em honra da dignidade dessa corte, a mais alta do país.
alexandre tem votado, sabe-se lá por que, sempre a favor do governo. Como em sua tese, que escreveu e esqueceu, já previa que aconteceria quando alguém do governo, ligado à figura que o indica, fosse parar na corte constitucional.
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Ora, se direito e justiça houvesse, todos os indicados deveriam declarar-se impedidos, por terem interesse, e até para evitarem a tentação de julgar com o coração, relevando a gratidão.
Daqui chegamos a outro absurdo, que vale a pena citar. A presença desse magistrado que tem adotado a postura mais próxima a de um rufião, que lamentavelmente, para as nossas instituições, preside o TSE e atende pelo nome de gilmar mendes.
Deste arremedo de juiz provedor da justiça, não há necessidade de falar muito, já que seus predicados já foram suficientemente expostos, todos sempre na mesma e lamentável linha, deplorando sua forma de atuação.
Apenas lembrar que posando de consultor de temer, assim reconhecido pela mídia, a quem nunca se deu o trabalho de desmentir ou divergir, esse juiz deveria se abster de sequer aparecer na sala de audiências, para não macular o processo em tela, devido a seus interesses escancarados em um resultado.
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Do julgamento da chapa, destinada a tornar-se o assunto do dia, ou o não assunto, passo para outro tema, a saber, a velha e surrada frase sempre citada e que apresenta o Brasil como o país da impunidade.
E insisto, impunidade para quem cara pálida?
Porque relatório ontem apresentado no Bom Dia, Brasil, da famigerada rede (do) Bobo, vários dos prisioneiros mantidos no presídio de Manaus, que no início do ano nos deram manifestações de selvageria explícita, ali se encontravam sem sequer acusação formal apresentada. Alguns, até já julgados e considerados inocentes, presos em condições subhumanas. Outros presos sem que a investigação caminhasse, constituindo assim um grupo de esquecidos, para os quais a punição chegou antes mesmo de qualquer cometimento de ilícito.
Claro, ali não tem santos. Mas um mínimo de decência no tratamento de questões como a da liberdade, acusação de cometimento de crime, presunção de inocência até prova em contrário e tantas outras ideias tão belas e tão vilipendiadas no país, deveriam ser questão de honra para uma sociedade que se deseja racional, humana, democrática.
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E, se ali, não  tem santos, é porque todos encontram-se no PSDB, esse partidozinho de quinta categoria, bastando para se chegar a tal conclusão, que se verifique que o preside, quem o integra e exerce liderança, quem são seus principais membros, e quais e quantas delações pesam contra eles.
E vir agora, aecim, esse político minúsculo, dizer que está sendo vítima de acusações levianas, inverídicas; e ver sua irmãzinha, coitadinha, transformada em operadora mor do esquema de corrupção que seu irmãozinho, pelas delações vazadas, sempre protagonizou é, para dizer um mínimo engraçado.
Porque quando Veja só atacava Dilma, que impôs a aecim um derrota que deixou o mineirinho infantil em desesperado desejo de vingança, ou quando a acusação era a Lula ou outro qualquer político do PT, a revista semanal, que não passa de publicação de imprensa marrom, em minha opinião, era a melhor e mais recomendada para leitura pelo ex-governador de Minas.
Agora, que ela vira sua metralhadora para ele, ele chora.
Mas não há problema, como outros membros de seu partido, ele também terá qualquer ilícito por ventura praticado, prescrito. Como está acontecendo com Eduardo Azeredo em seu mensalão mineiro. Isso porque Eduardo está já condenado em primeira instância.
***
Como os santos estão no PSDB, percebe-se que a frase referenciada acima, de que o país é o reino da impunidade, aplica-se perfeitamente se aplicada aos grandes ladrões, aqueles que têm condições de virarem barões, como lembrava a frase do tempo ainda do Império: quem rouba pouco, é ladrão; quem rouba muito, é barão.
Aí sim, nesse caso, a impunidade é regra e decepção. O que nos obriga a concordar com Zé Simão quando diz que esse é um país que não deu certo. E que o melhor e mais adequado seria devolvê-lo para os índios, se ainda houver algum que queira tanta podridão.
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Quanto ao futebol

Tão melhor jogou o Cruzeiro no jogo de sábado contra o Galo, que ninguém se incomodou em ficar lembrando que Hudson já merecia um cartão amarelo, logo nos primeiros instantes do jogo. Ou que Tiago Neves estava voltando de posição de impedimento no lance que culminou no gol de Arrascaeta.
E não dá para falar que tudo começou com o frangaço de Giovanni, antes do segundo minuto de jogo. Jogada que, aliás, mostra bem como o Atlético preocupa: começou com Marcos Rocha querendo inventar e fazer jogada de efeito e perdendo a bola (e eu sou fã incondicional do nosso lateral, que reputo ser o melhor em atividade no país). Depois a bola tocada nas costas de um Rafael Carioca que não marca ninguém, apesar de jogar para cumprir essa função.
A propósito, é duro ver um jogador com tanta fama, ir na bola e até virar de costas para o lance depois de a bola cruzar da esquerda para o centro da área.
Já aceitar que o nosso goleiro sempre presta homenagem aos filhos do Galo, sempre com frangos inesquecíveis é normal. O goleiro é fraco e não tem culpa de ser fraco. Culpa é de que o escala e deixa Uilson de fora.
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Também não dá para culpar Fred, pela expulsão infantil. Ele, esperto como é, preferiu sair a ficar em campo, vendo seu time ser engolido no meio pelo time adversário.
Porque o meio campo do Atlético não existiu. Cazares, sem qualquer participação mais vibrante, sem pique, embolando com Robinho, que não explicou o que estava fazendo em campo.
Mas, o pior é mesmo o meio campo, e a minha sugestão seria tentar uma experiência, tirando Rafael Carioca, que não marca ninguém e não consegue dar passes a não ser para a lateral do campo ou para trás, e deixá-lo no banco por algum bom tempo. Em seu lugar, que se teste mais uma vez Iago, ou Adílson, recém chegado.
***
Com um time sem inspiração, apenas transpiração desnecessária e confusa, sem objetividade, e sem qualquer coordenação, o Galo preocupa-me muito na competição que realmente conta: a Libertadores.
E temo que o time repita o que foi o ano passado com Aguirre, ou com Marcelo, um amontoado de bons jogadores, sem qualquer noção de conjunto, ou interesse muitas vezes, em participar efetivamente do jogo.
Difícil manter o bordão do Eu acredito, desse jeito.
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Louve-se apenas a disposição, já comentada, mas estabanada dos jogadores. O que mostra que falta muita coisa no aspecto técnico e tático.