terça-feira, 29 de março de 2016

Uma homenagem. E de volta às voltas da situação do país

Acredito que, em parte, somos todos a resultante das influências que recebemos daqueles com quem tivemos a oportunidade de conviver, ao longo do tempo.
Dessa forma, independente do tempo do convívio, cada pessoa nos deixa marcas e experiências que iremos incorporar e que irão, ao final, compor a realidade múltipla e complexa em que nos transformamos.
Algumas pessoas, no entanto, marcam mais que outras, seja pelas suas características distintivas, seja pela forma de contato mais intensa, seja pelo tempo de convívio mais extenso.
Minha tia, Maria Nircy foi um desses casos, e não estaria nem exagerando, nem deixando de dar a devida importância a várias outras pessoas, em dizer que ela foi uma das pessoas cuja influência em minha formação, explicam muito do que sou.
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Desde pequeno, sua presença foi significativa, em especial acompanhando e dando as primeiras orientações em relação aos deveres de casa, permitindo e liberando minha mãe para que pudesse retomar e se dedicar aos estudos que lhe permitissem qualificar-se melhor para galgar melhores posições no mercado de trabalho.
Foi dela o incentivo para que eu procurasse sempre acreditar em minhas possibilidades, sem deixar de respeitar minhas limitações, como no dia em que o Para Casa pedia para que eu desenhasse nossa escola.
Sentindo-me incapaz de fazer qualquer desenho que pudesse dar uma pálida ideia da construção, e pronto a desistir, lembro-me de que ela me tomou pela mão e me levou até a frente da porta da escola. Ali, sentados no meio fio, incentivou-me a fazer os traços de um desenho que, se não fosse capaz de representar o prédio, não deixava de ser o MEU desenho, de como eu via a MINHA escola.
Uma escola especial, exclusiva.
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Foi ela também quem me ensinou a beleza das palavras, a sua sonoridade, seu ritmo, sua capacidade de transmitir sensações e emoções incentivando-me a dar asas à imaginação, e tornar-me mais que interessado em textos em prosas e em versos, alguém capaz de arriscar alguns poemas furtivos.
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Devo muito a ela, e saber que ela faz parte daquilo que sou conforta-me e me faz ter consciência de que ela não passou apenas para o outro lado do caminho, como disse Santo Agostinho, no último dia 20, um Domingo de Ramos.
Afinal, parte dela ficou aqui comigo, conosco. Embora ela fará muita falta, como fazem todos aqueles capazes de construírem e lutarem por um mundo melhor.
Que tia Maria Nircy, muito adequadamente formada em Relações Públicas, descanse em Paz.
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A situação do País

Confesso que alimento um grande temor pela possibilidade, cada vez mais concreta, de que a Câmara consiga obter o número de votos necessários para que seja instaurado o processo de impeachment de Dilma Roussef, talvez a presidente mais incompetente que o país jamais teve.
E olhe que já tivemos um governante como Sarney, em cujo governo o Brasil alcançou níveis recordes de inflação, chegando ao cúmulo de uma inflação de mais de 80% ao mês.
Sarney, cujo ministro da Fazenda por completa e absoluta incapacidade, em uma ocasião que o país demandava soluções urgentes, optou por adotar uma política que foi por ele caracterizada como de feijão com arroz.
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Tivemos depois Collor, e seu único tiro para liquidar a inflação, que redundou no maior engodo que o país experimentou, caracterizado pelo confisco, por corrupção desenfreada, por atos de pura inconsequência como os que caracterizaram sua reforma administrativa.
Reforma atabalhoada, que resultou na colocação em situação de disponibilidade de milhares de funcionários públicos, afastando-os do serviço público.
Todos, mais tarde, reconduzidos aos órgãos de onde sua condição legal não permitia que tivessem sido afastados. Com os pagamentos de atrasados e outros gastos adicionais.
Tentando reduzir a folha de salários e os gastos públicos, Collor protagonizou, entre outras, medidas de liquidação de órgãos como a Capes, o que deixou milhares de bolsistas, no país e no exterior, sem recursos para sua sobrevivência.
Mas, o que notabilizou mais o presidente Collor e seu governo foi a instauração da República da Casa da Dinda e a corrupção que tomou conta dos negócios públicos, redundando em sua renúncia, para fugir da decretação de seu impeachment.
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Depois veio Itamar, e um ano de planos econômicos destinados a procurar controlar a inflação, com trocas de ministros da área econômica e de presidentes do Banco Central, até que, por falta de alternativas o presidente resolveu embarcar e apoiar o Plano Real que, finalmente, conseguiu êxito no combate à inflação.
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Dos governos que lhe seguiram, com FHC e Lula, apesar de críticas localizadas que poderiam ser feitas, os resultados positivos são apontados, de forma generalizada, como superiores aos resultados negativos.
Mas, Dilma é um caso ímpar.
Tendo começado em seu primeiro mandato com grande apoio popular, aos poucos veio dilapidando o acervo de popularidade que seu antecessor lhe legou e que ela soube cultivar nos primeiros dois anos.
Daí para a frente, sua personalidade começou a se impor e sua presença cada vez mais forte começou a trazer desgastes em várias das frentes de atuação.
Indispôs-se com a classe política, com o empresariado, tanto o grande quanto o setor de pequenos e médios empresários. Indispôs-se com seus próprios colaboradores, não sendo raras as notícias a respeito de atritos com seu próprio criador, o ex-presidente Lula.
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O resultado de sua gestão foi, do ponto de vista econômico, um controle mais frouxo da inflação, embora sempre mantida nos limites do intervalo do sistema de metas, mais flexível, mas não abandonado. Além disso, protagonizou um período de queda das taxas de crescimento do PIB, o que foi usado como argumento para a adoção de políticas de incentivos e subsídios que não apenas não contribuíram para a recuperação intentada, como ajudaram a agravar a situação das contas do governo.
Com isso chegamos às eleições de 2014 em que, surpreendentemente, por suas falhas, o governo Dilma conseguiu a façanha de deixar que a oposição chegasse a ameaçar seriamente o projeto de 20 anos de poder do PT.
Especialmente no segundo turno, a oposição chegou muito próxima de obter a vitória, mais por deméritos do oponente, que por seus méritos, se existentes.
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Vitoriosa, Dilma voltou a patrocinar um show de equívocos, como o de convidar e trazer para seu ministério Joaquim Levy, justamente o figurino que ela combatia no indicado como ministro da Fazenda de Aécio. Com o agravante de não ter a experiência de Armínio Fraga, nem os apoios.
Posteriormente, Dilma conseguiu nomear um dos ministérios mais fracos de nossa história, com nomes completamente inexpressivos, muito aquém dos nomes necessários para tranquilizar e dar algum tipo de direcionamento à sociedade brasileira. Com raras exceções, Patrus Ananias, entre elas, a fragilidade dos ministros era tão patente, que mereceu críticas aqui mesmo em nossos pitacos.
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Nesse meio tempo, a oposição, não tendo conseguido ser vitoriosa nas  urnas, começou a tramar a tomada do poder no tapetão, ou seja, por meios criticáveis como a tentativa de impeachment, ou as infindáveis denúncias apresentadas junto ao Tribunal Superior Eleitoral.
Pior ainda, a oposição começou a boicotar toda e qualquer medida que o governo enviava ao Congresso, para tentar por ordem às contas públicas. Medidas que, mesmo sujeitas a críticas dos movimentos sociais e economistas não conservadores, não puderam nem mesmo ser postas em prática.
Ao contrário, a oposição parecia querer ver o circo pegar fogo, aprovando medidas que antes condenavam.
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Nesse interim, ao invés de tentar o diálogo e o convencimento, ou mesmo a negociação comum e tão criticada com deputados, o que Dilma fez foi se indispor com Eduardo Cunha, eleito presidente da Câmara, e criar arestas para todos os lados.
Sem habilidade e capacidade de negociação e mesmo interlocução no Congresso, Dilma foi cada vez mais se alienando, o que explica a debandada do PMDB, maior partido de apoio a seu governo. Isso, sem contar que o próprio PT já a havia abandonado, por força de não concordar com as medidas econômicas propostas à discussão.
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Mas, agora que o impeachment parece cada vez mais próximo, é inegável que é necessário assinalar que, embora previsto na Constituição, o impeachment não deixa de ser, SIM, um golpe, já que motivado por razões que, no texto legal, não dão origem à medida de tamanha extremidade.
Então, se estar previsto na Constituição o torna um instituto legítimo, o desrespeito à suas condições faz dele um golpe.
E Dilma está sendo vítima de um golpe. No fundo, por ser arrogante, autoritária, e incompetente como gestora. Mas, só isso.
Motivos não suficientes para sua deposição.
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De mais a mais, o que virá do golpe?
Afinal, quem quer derrubar Dilma deverá adotar, até por tudo que vem argumentando, um rigoroso ajuste fiscal. Que exigirá, ou corte de despesas, na carne e de forma profunda, incluindo aí cortes nos gastos sociais, ou elevação dos impostos que até aqui vem sendo tão criticados.
Ou seja, ou a oposição golpista, se vitoriosa, trará o povão para a rua, cortando programas assistencialistas, ou deverá elevar a carga de impostos que tanto condena nas propostas de Dilma.
O que irá rachar o bloco de quem acha que chegar ao poder é motivo suficiente para justificar qualquer comportamento.
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Isso significa que estamos próximos de atravessar tempos de mais agitação e crise. Quiçá violência.
Razão para que eu continue achando que melhor continuarmos com Dilma. Mesmo que voltando à fase já conhecida de viver tão somente o arroz com feijão.

sexta-feira, 18 de março de 2016

A cordialidade do povo brasileiro e a violência de nossas elites: reflexo do autoritarismo e forma de reforço da exclusão

Entre outras tantas ficções que a propaganda cria e difunde a respeito das características do povo brasileiro, uma das mais propaladas e menos verdadeiras em minha opinião. é aquela que procura cultivar a cordialidade típica do povo brasileiro.
Creio eu que a criação de tal imagem, à qual poderíamos nos referir em sentido amplo como virtual, serve a propósito muito específico, destinado especificamente a domesticar o povão de nosso país. Em outra palavras, o cultivo da imagem do brasileiro pachorrento, bonachão, alegre, descompromissado e, como Irene de Manuel Bandeira, sempre de bom humor, visa passar às classes menos privilegiadas a noção de que qualquer comportamento agressivo, irritadiço, até de cobrança ou manifestação mais exaltada, mesmo que em defesa de seus direitos não fere apenas o padrão típico de "nossa nacionalidade". Vai mais além.
Serve para classificar a pessoa cujo comportamento representa um ponto fora da curva como apartada do meio social em que vive, alienada dos padrões de educação e cultura que são o fundamento do (bom) convívio social.
Em suma: serve como forma de exclusão de todo aquele cujo comportamento se torna mais agitado, mais violento.
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Já se sentindo marginalizado sob todos os ângulos e dimensões da vida social, seja pela condição precária de renda e sobrevivência;  seja pela condição precária de educação e qualificação para o trabalho e, como consequência, pela própria condição precarizada que percebe a respeito de sua ocupação e da atividade que exerce como ofício; seja pela condição precária de moradia, de segurança, de acesso à cultura e aos bens culturais, o povo brasileiro, em sua imensa maioria deseja tudo, menos adotar formas de comportamento que possam ampliar o fosso que sente entre ele e os outros, representados pelos setores mais ricos e educados de nossa sociedade.
Assim, para não correr a pecha de ser considerado como não capacitado a fazer parte da turma de cidadãos do bem, é provável, muito possível mesmo que parte da população a que se convencionou chamar de Zé Povinho opte por adotar uma postura mais dentro dos padrões da conformidade.
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Não sou psicólogo, nem meu conhecimento do comportamento de massas autoriza qualquer pitaco em relação a esse tema. Mas, em toda minha ignorância, o que consigo perceber é que a ideia de brasileiro bonzinho é um importante instrumento de domesticação e disciplinamento da nossa população menos favorecida.
Hipótese que sustento e que, para mim, revela-se nos fatos mais corriqueiros de nosso cotidiano.
Senão vejamos: em qualquer situação pública, se alguém bem nascido, da elite financeira, social ou cultural reivindica seus direitos, pretensos ou não, de forma mais enfática, ou até se tal pessoa chega a adotar um comportamento mais próximo às raias de fato, o comentário que se ouve é sempre o de que fulano ou fulana se estressou. Ou que rodou a baiana. Ou que deu um chilique, desnecessário talvez. Até excessivo. Mas sempre passível de ser compreendido, pela criação de alguma empatia, e até relevado. Ou até perdoado.
Entretanto, se a reação mais exaltada é de um trabalhador, do tipo que tem que acordar as 4 horas da manhã, pegar 2 conduções para atravessar a cidade para chegar ao trabalho e outro tanto para voltar para casa, e que tem a possibilidade de curtir oito horas de prazer carregando pedra ou saco de cimento, amaçando barro, batendo laje, tudo isso sob sol a pino, divertindo-se em sua jornada de trabalho depois de ter negado o vale necessário para comprar o remédio para seu filho adoentado, o comentário é sempre de que nosso exemplo cometeu uma baixaria, ou se mais enfático, até um ato de vandalismo.
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E nossa história é pródiga em exemplos que demonstram que a violência é atributo muito mais vinculado a nossas classes dominantes, as tais elites.
A esse respeito, vide o exemplo, ou nos lembremos dos tratamentos dispensados pelos senhores de engenhos, ou os grandes fazendeiros, a seus trabalhadores. A violência de tal magnitude que permitia não enxergar o trabalhador como um ser humano, tratando-o como animal ou pior até, como escravos. Que em geral eram brindados com a possibilidade de se recostarem no tronco. Ou no pelourinho.
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Mas, as selvagerias não se praticavam apenas contra os trabalhadores escravos. Também eram praticadas contra os agregados, parceiros, meeiros, até mesmo com trabalhadores de níveis mais elevados na escala de funções, como capatazes, jagunços, ambulantes, caixeiros viajantes, etc.
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Isso para não mencionar a violência dentro da própria casa grande, contra as mulheres, principalmente.
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Ora, nossa história está cheia de exemplos e citações da violência protagonizada por patrões contra empregados que ousaram reclamar de qualquer coisa, seja pagamento de salários, seja condições de trabalho.
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Ou seja: a parcela que constitui a elite do nosso povo é de formação e de matriz violenta até a medula, não combinando a realidade que herdamos e que fomos incapazes de combater com a imagem que a publicidade ajudou a erigir.
Comprova tal situação as anedotas de nosso impagável José Simão da Folha, e suas famosas tiradas sobre a cordialidade do brasileiro.
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Apresentada minha tese sobre a violência atávica do nosso povo, posso agora voltar-me para o tema desse pitaco: o temor de que a violência, especialmente nessa sexta feira, dia de manifestação dos simpatizantes do governo Dilma, venha a se fazer presente nas ruas da cidade.
Porque ao contrário de domingo último, dia 13 desse março, em que as pessoas que se reuniram nas praças, ruas e avenidas das principais cidades do país, contrárias ao governo eleito democraticamente, não foram incomodadas pelos que têm opinião antagônica, temo que a manifestação em defesa do governo não irá terminar bem.
Se domingo as manifestações ocorreram em clima saudável de harmonia, quase festivo, como bem fizeram questão de assinalar todos os órgãos de imprensa, elogiando o caráter pacífico e ordeiro do movimento, isso foi resultado do comportamento adotado por todos aqueles favoráveis à manutenção da ordem constituída, que atendendo aos conselhos e solicitações das autoridades responsáveis pela segurança pública, não se atreveram a dar as caras nas manifestações dos grupos adversários.
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Mas, de lá para cá, os fatos mudaram, como o ilustra as aglomerações em frente ao Palácio dos Despachos em Brasília, em que os manifestantes contrários ao governo tentaram forçar a entrada no prédio, invadindo os espelhos d'água que o circundam. Comportamento que redundou em ação repressora da polícia, em defesa do bem público e algumas prisões.
Em São Paulo, as notícias revelam de agressões a um adolescente, apenas por ter tido a "audácia" de dizer aos que o cercaram, que não concordava com a manifestação. Mais uma vez, houve a necessidade de intervenção da polícia, contra a cordialidade dos simpatizantes da derrubada da presidente eleita democraticamente.
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Ações de aglomeração de populares em frente à sede de prédios residenciais ou não,  ligados de qualquer forma ao governo, seus integrantes ou partidários, conclamadas por representantes das elites, sempre do contra, com o intuito de achacar, atemorizar, ameaçar, constranger os governistas, têm sido constantemente relatados.
Pior: relatados por uma imprensa que, de inclinação golpista, nada ou muito pouco apresenta de crítica a tal postura, autoritária, antidemocrática por excelência.
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Ações de violência praticadas pelos participantes dos protestos, que se agigantam. Evoluem em um crescendo, sem peias, sem travas. A ponto de ontem terem, na Paulista, partido para hostilizações e tentativas de agressão ao próprio secretário de Segurança Pública de São Paulo.
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E tudo porque?
Porque esses manifestantes autoritários e pouco afeitos à democracia, reproduzem apenas os velhos padrões de comportamento. E, do alto da arrogância que os caracteriza, mercê da visão de que foram, são e serão sempre os donos do mundo e dos desígnios de nosso país, invadiram a avenida Paulista, ocupando-a e não a liberando para que os grupos pró-governo possam fazer, de forma ordeira, pacífica e cívica, sua manifestação democrática.
O pensamento que os move é o de "nós podemos nos manifestar. Eles, nós não permitiremos".
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Nada anormal. Nada demais.
Exceto pelo fato de que, caso se confirme meu temor, irão para as ruas para realizarem provocações que, dependendo do tipo e alcance irão desencadear reações de mesmo grau de violência.
O que será prato cheio para que a imprensa golpista e sem responsabilidade tenha matéria suficiente para reforçar o caráter "não democrático, violento" e completamente criticável, dos menos favorecidos.
Críticas que apenas retroalimentaram a ideia de exclusão desses menos bem comportados, ou menos educados.

quinta-feira, 17 de março de 2016

A vitória do Galo e os grampos de Lula

Em minha cabeça, estava tudo programado, mesmo antes da realização do jogo, para que os pitacos de hoje tratassem do Galo e do jogo contra o Colo-Colo na Libertadores.
Fosse vencedor ou não o Atlético, eu iria começar, mais uma vez, mostrando minha desconfiança, para não dizer insatisfação com Aguirre e cada vez mais com sua equipe de auxiliares.
Começaria dizendo que, em minha opinião, se o técnico escala mal, é pior ainda nas substituições que promove ao longo da partida.
Também iria dizer que continuo vendo falhas no meio campo, que deixa muitas vezes a defesa exposta, mesmo tendo um tanque trombador ou batedor lá atrás - Donizete, cujo futebol não gosto; ou ainda que a defesa continua muito vulnerável, sendo envolvida com certa facilidade quando joga contra adversários mais leves, ligeiros e que entram trocando passes com rapidez.
Talvez a idade, ou o tamanho dos zagueiros, que lhes impede de ter uma maior mobilidade fossem a explicação para o fato de, em toda a partida, o goleiro do Atlético, antes Victor, agora Giovanni, se transformarem em destaques.
Ontem, por exemplo, e mais uma vez, não sem razão, Giovanni foi escolhido o melhor jogador em campo, com defesas dificílimas, dignas de São Victor, além da ajuda da sorte, em muitas ocasiões em que os atacantes do time chileno atiraram a bola na lua...
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Iria aproveitar e dizer que tenho visto o time do Atlético acovardado às vezes, jogando feio, para trás e que, juntando-me a toda a crônica e torcida, o time está completamente sem condições físicas, o que é bastante estranho, já que com um dos melhores preparadores físicos do país na comissão técnica, não se entende porque Carlinhos Neves está tão mal escalado...
Diria ainda mais que um técnico que escala Patric como um de seus principais jogadores, senão o principal deles, por sua versatilidade, deveria merecer toda a nossa desconfiança, etc.
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Pois bem, o time ontem foi o oposto de tudo que eu vi (ou não vi) nos jogos contra o América em que não mereceu os resultados obtidos. Ou mesmo contra o Colo-Colo no Chile em que jogou acuado, fechado, preferindo jogar não para ganhar, mas para não perder.
Patric, com seu voluntarismo que nunca neguei existir tornou-se peça chave, marcando um gol, embora perdendo incontáveis oportunidades, mas criando jogadas de alto nível técnico, inclusive uma em que depois de um drible sensacional em Villar, colocou Pratto na cara do gol. E o argentino furou a bola, bisonhamente...
O time jogou bem, envolveu o adversário, embora mais uma vez, no início do tempo complementar parece ter optado pelo futebol covarde, levando uma pressão perigosa do time chileno que só não marcou e colocou fogo no jogo por sorte nossa e por Giovanni em noite de inspiração e santidade.
Mais uma vez o que todos comentaram foi a queda do preparo do time, que parecia lento, pesadão, sem pernas.
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Mas ganhamos e encaminhamos praticamente a classificação para a fase de mata-mata.
Embora continue com desconfianças em relação a Aguirre.
A questão ou a verdade é que o elenco dessa feita (Patric e Donizete fora) é muito qualificado.
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Fogo Político

Mas, nesse meio tempo, mais uma vez o Brasil pegava fogo, com a questão política levando para as ruas, novamente, parte da elite branca, rica, de classe média ou classe média alta, maior nível sócio-cultural e inconformada hoje e sempre com a derrota nas urnas.
Apenas aqui em Belo Horizonte, não vi a aglomeração que a Globo e outras que tais mostraram em seus telejornais, porque tendo que passar em minha volta para casa depois das aulas pela Praça da Liberdade, não vi reunião de um número expressivo de pessoas.
Isso não significa que não teve manifestação e nem que não tenha visto grupos, alguns cantando palavras de ordem, dirigindo-se para a Praça.
Mas, o que vi foi mais uma carreta, com buzinas tocando e bandeiras do Brasil sendo brandidas das janelas dos carros - muito poucos carros de tipo popular.
E tudo isso porque?
Pela nomeação de Lula. Pela divulgada tentativa da presidenta de obstaculizar a investigação do ex-presidente. Mas pior, pela decadência total, completa,  pela inexistência de qualquer rasto, se ainda era possível encontrar algum, de justiça e imparcialidade em nosso país.
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A começar pelo fato, desconsiderado pelos que protestam contra Dilma de que embora possam pedir, a renúncia é um ato unilateral, de vontade própria. O que significa que ninguém em sã consciência tem o direito de pedir a quem quer que seja, que renuncie.
Isso não quer dizer que não possa ter a opinião e até que, em sendo possível, venha a aconselhar a quem quer que seja, que renuncie a qualquer coisa, quando tudo em volta está parecendo ruim.
E isso, como todo conselho, se ele for solicitado.
Fora isso, o que vale é a pressão. Se você não renunciar, vamos botar fogo no país. Ou agir para tirá-la.
Mas, ficar rouco pedindo essa atitude é só isso mesmo: ficar rouco.
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Seguindo pela vergonhosa atitude de Gilmar Mendes o juiz que, a cada oportunidade despe-se da toga para mostrar o uniforme tucano que ostenta por baixo da veste talar.
Conforme visto ontem, o ministro não se contém e, numa curiosa interferência de um Poder no comportamento de outro, utiliza do momento de seu voto para criticar a escolha de ministros pela presidenta.
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E olha que, do pouco que entendo, a escolha de ministros é prerrogativa exclusiva do ocupante do cargo da Presidência.
E, não sejamos hipócritas: qual político que escolhido hoje para o Ministério não ocuparia o cargo sob a pecha da suspeição?
Que político não poderia ser alcançado pela acusação seletiva e mal intencionada que as ações da Lava Jato não conseguem mais esconder?
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Mas, se é inútil a crítica à escolha de qualquer ministro, entende-se a reação de toda uma população que, sendo manipulada em seus bons sentimentos e juízos, reage enfurecida às nomeações.
Mesmo que, insisto, não tenha parado para raciocinar, no calor dos eventos, nem para perceber que vivemos em um país que pretende ser democrático. E que, como disse bem José Eduardo Cardozo, não existe democracia para mim se não existir democracia para outros, ainda que adversários.
Ora, o Estado de Direito, pelo que penso, não pode querer funcionar atropelando as leis, a ordem constituída, principalmente quando tal comportamento tem origem em atitudes de um magistrado.
Embora nesse momento de passionalismo isso seja pouco considerado, a verdade é que os fins não justificam os meios.
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A esse respeito, já havia comentado que dentro em pouco, iríamos ver provas plantadas serem invocadas para condenarem pessoas tão somente porque toda a população, induzida por interesses escusos, acreditava que elas deviam ser condenadas.
Condenação que não precisava de ter provas sólidas, consistentes, para aplacar a sanha de tantos inimigos.
A respeito especificamente de Lula, de quem não gosto particularmente, a ponto de não ter votado nele, exceto no segundo turno contra Collor, apenas gostaria de lembrar uma frase que não sei onde vi, mas que faz todo o sentido e merecia reflexão: a grandeza de uma pessoa mede-se pela grandeza e estatura de seus inimigos.

Reconheçamos que Lula criou como inimigos os maiores empresários, as mais importantes forças econômicas, políticos como Fernando Henrique Cardoso, para quem analfabeto não poderia ter ocupado o Planalto, Aécio,  e tantos outros golpistas.
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O que houve ontem, especialmente as atitudes de Sérgio Moro, vazando conversas sigilosas que ele como juiz deveria zelar para manter longe da midia, mostra que não apenas o juiz parece aproximar-se de um comportamento messiânico, mas golpista, parcial.
Seu comportamento e sua reação beiram mais a do menino birrento, que viu a oportunidade de surpreender os pais com alguma atitude considerada elogiosa, jogada por terra.
Agindo assim, Moro cada vez mais aproxima-se de assumir uma face autoritária, com o risco de confundir-se com esse papel. Mais próximo ao perfil de quem, à maneira de um Hitler, julga ter o direito de fazer a justiça com as próprias mãos.
Em minha opinião, ignorar esse comportamento, parece que guiado pelo desespero, não é digno da democracia nem da carreira do próprio juiz.
E, por isso, Moro deveria ser objeto de representação junto ao Conselho Nacional de Justiça, dando oportunidade a ele de poder refletir e retomar a conduta que parece ter sido sua característica.
Grampear e divulgar telefonema de autoridade maior é tão criminoso, do ponto de vista da manutenção do Estado de Direito, quanto a corrupção que ele corretamente tem tentado combater.
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Aliado ao destempero e falta de limite de Moro, ainda vem a imprensa, cuja raiz golpista pode ser encontrada desde outros tempos, tão longínquos quanto 1964. Estadão, Folha, Globo, tv Globo, etc., têm já de longa data tradição em golpes autoritários.
Daí manchetes como a da Folha de hoje: Presidente atuou para evitar a prisão de Lula...
Ora, sejamos honestos, que prisão que ela está evitando, se não houve qualquer determinação no sentido de que Lula fosse preso? Se sua prisão não foi decretada?
Manda o bom vernáculo, que mesmo que a intenção por trás da nomeação e das conversas e atitudes gravadas de forma ilegal tivessem um fundo de verdade, a manchete fosse algo como: Gravações permitem supor esquema para evitar potencial risco de prisão de Lula.
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Uma coisa é falar, antecipando um fato, indicando suas intenções, ou o que se julga serem elas.
Outra coisa é já dar o veredito, como a Folha vergonhosamente fez.
E como a Folha, outros órgãos que, infelizmente, entram em nossa casa e tentam entrar em nossos corações e mentes, tão somente para fazer o que em português mais claro poderia ser chamado matéria fecal.
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Apenas um alerta: as atitudes do juiz e o comportamento da midia está criando uma situação no país que, por mais que se torça para sua frustração, caminha de forma célere para um confronto civil, de proporções inéditas.
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E vamos deixar claro: lugar de quem cometeu qualquer crime é sim, na cadeia. Mas como resultado de julgamento de processos que não poderiam ter qualquer tipo de mácula, para que a Justiça, a Democracia, o povo em geral fossem os vencedores finais e beneficiários da vigência de um Estado de Direito. Sem adjetivos. Só Direito.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Plantão: Lula ministro; mas antes as trapalhadas de Mercadante, que não são de agora

Não dá para acreditar nem um pouco nos indícios, suspeitas e acusações que a revista Veja tem publicado já há muitos anos, ela que já vem, há muito tempo desconstruindo a imagem que conseguiu criar de revista séria, investigativa, e comprometida com a democracia, nos tempos da ditadura militar.
Especialmente não dá para fazer qualquer referência à revista, principalmente nesses últimos tempos em que ela passou a encarnar a figura de principal canal de manifestação de uma parcela da população brasileira, que se caracteriza pela adoção de posições direita, além de elitistas e golpistas.
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Vejam bem: não estou afirmando que os grupos de direita podem ser confundidos com as elites, nem o caso contrário de as elites serem todas de direita.
Estou sim, manifestando minha opinião a respeito do posicionamento ideológico e dos interesses confessados e inconfessáveis que, sob minha ótica, a revista hoje defende.
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Feita a observação, necessária, também necessário é dizer que não há nada demais em grupos e órgãos de direita terem e fazerem uso de veículos de comunicação em defesa de sua ideologia. Isso faz parte da democracia, por princípio: a livre manifestação e a liberdade de imprensa.
Mas, convenhamos que não dá para tolerar é que esse posicionamento, nítido, seja disfarçado ou blindado por um discurso de imparcialidade vazio e tolo. Além de inútil.
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Mas, cito a revista nesse momento, porque foi em seu poder que caíram gravações feitas por Expedito Veloso, diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil,  acusando o então ministro de Ciência e Tecnologia do primeiro mandato de Dilma, o senhor Aloízio Mercadante, de eia Mais:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,relembre-o-escandalo-dos-aloprados,737712ser o mandante de uma operação que Lula definiu como obra de aloprados. (Conforme citado em coluna de Jair Stangler, do Estadão, em 28 de junho de 2011, site consultado hoje, às 11:40 horas).

Ou seja: meu pitaco hoje longe está de tratar de uma revista que, reputo, não é referência para ser utilizada.
O tema hoje é o aloprado Aloízio Mercadante.
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Só para lembrar rapidamente do caso, contrariando a vários dirigentes petistas, Aloízio obteve a indicação de seu nome para concorrer ao governo paulista no pleito de 2006.
Pelo PSDB, o futuro governador de São Paulo, Serra, cujo nome foi citado em acusações que se provaram falsas posteriormente, relacionado a Máfia dos Sanguessugas, quando ministro da Saúde.
A operação de aloprados consistia na compra de dossiê incriminando Serra, professor da Unicamp assim como Mercadante.
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Pego em flagrante, o assessor de comunicação da campanha de Mercadante foi sumariamente destituído da posição que ocupava, é necessário dizer, a bem da verdade.
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De lá para cá, cada vez mais fui formando a convicção de que Mercadante, transformado depois em homem forte do governo Dilma não era o político que muitos acreditavam ser.
Digo isso sem qualquer fato ou ato, ou comprovação de qualquer malfeito da parte dele. Apenas por uma questão de intuição...
Mas o fato é que sempre o achei autoritário, arrogante e trapalhão.
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Anos depois do caso dos aloprados, Mercadante ocupou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, dando demonstrações de tudo que eu já imaginava dele.
Originário do Congresso, onde foi deputado e senador, era interessante ver como mantinha uma relação completamente antagônica às casas cujo funcionamento e ocupantes devia conhecer bem melhor.
Muito das derrotas de Dilma foram decorrência de suas análises equivocadas, de suas trapalhadas, inclusive na forma em que se portou na eleição de Cunha para presidente da Câmara.
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Não sou eu. Foi Lula quem, conforme citação da imprensa, chegou a pedir à Dilma a cabeça de seu ministro, dada a quantidade de pedras que o chefe da Casa Civil ia empilhando no caminho, ao invés de ir limpando o trajeto.
Embora não seja muito informado de questões intestinas ao PT, parece que Aloízio travava uma guerra interna para poder se cacifar para concorrer à candidatura à Presidência de República em 2018, disputando a indicação de seu partido contra o cacique-mor, Lula.
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Agora nova operação de Mercadante ganha as manchetes de jornais, mercê da delação e denúncia e apresentação de gravações de ligações telefônicas que o ministro teria dado a assessor do delator Delcídio do Amaral.
E, curiosamente, se Delcídio hoje faz uso do instituto da delação premiada é porque foi pego, por conta de gravações, cometendo o delito de tentar obstruir a justiça, além das bravatas de ser capaz de interferir em decisões do Supremo, como quem tem ministros a seu dispor, sabe-se lá por que razão.
Justo o mesmo que Aloízio repete nesse instante, em operação que Lula já havia chamado de coisa de imbecil, de idiota.
***
Assim, não me causa estranheza que o atual ministro da Educação de Dilma repita a mesma trapalhada imbecil ou idiota, protagonizando o triste espetáculo de repetir o que levou Delcídio ao xadrez.
Mas, como já intuía, vindo de Aloízio nada a estranhar.
E, confesso que não creio que Dilma soubesse mesmo de mais essa trapalhada de Mercadante.
Porque admitir que a presidenta soubesse é sinal de que os ares de Brasília, ou pior ainda, o ar que se respira nos palácios oficiais  fazem mal a qualquer pessoa, mesmo que medianamente inteligente, retirando delas qualquer capacidade de raciocínio.

Lula ministro

Enquanto redigia o pitaco acima, me ligam avisando e perguntando minha opinião quanto à nomeação de Lula para ministro da Casa Civil, lugar especialmente adequado a seu perfil.
Como diz Zé Simão, principalmente se se puder dizer que a Casa Civil é de Dilma, ou seja, da amiga.
***
Não acho que Lula esteja sendo indicado para ser blindado. Isso seria aceitar que o Supremo, instância a quem incumbiria julgá-lo agora, pelo foro privilegiado que adquire, e onde tem assento um Gilmar Mendes, inimigo ferrenho do PT, partidário do PSDB que é, é conivente e incapaz de agir.
O que é negado pelo comportamento que o Supremo vem adotando, em questões em que atendeu ao clamor da população, como a da interpretação da Constituição contrário ao que está ali explicitado, de que pode ser preso todo aquele que for condenado em segunda instância.
***
Se Lula não escapa ao julgamento, ainda mais sob escrutínio da população, aceitar ser ministro pode afetar sua desejada candidatura em 2018, condenando-o definitivamente a sair pelas portas do fundo da história.
Mas, é importante dizer que Lula é hoje, sim, o único homem com a habilidade necessária para tentar aglutinar os partidos da base aliada, principalmente o PMDB, conseguindo impedir que o impeachment golpista possa avançar.
Nunca é demais lembrar que Lula sabe, pela posição que ocupou que o que une os políticos e congressistas nesse momento é a lama e sujeira em que todos estão envolvidos.
Sem alarde, só Lula poderá chegar a, com a sutileza necessária chantagear a todos com quem conversar.
De mais a mais, sempre poderá, como última cartada, alegar que aqueles que não votarem a favor de Dilma poderão ser alvo de uma delação premiada que ele terá chance de negociar, caso seja, também ele, preso.
Afinal, é disso que alegam que ele está tentando escapar: da prisão.
E como outros, porque não dar tratos à imaginação e pensar que, ao menos como ameaça, ele pode mencionar o desejo de reduzir sua pena, pelo uso da delação premiada.
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Triste Brasil esse nosso!

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terça-feira, 15 de março de 2016

A que interesses serve o verde e amarelo das camisas dos protestos? e o Discurso de Paraninfo do Curso de Ciências Econômicas

Mantendo a tradição, e mais uma vez como forma de agradecimento pela homenagem a mim prestada pelos formandos de dezembro de 2015 do Curso de Ciências Econômicas da UNA, escolhendo-me como Paraninfo da turma, publico a seguir o discurso proferido na última sexta feira, 11 de março, no Chevrolet Hall.
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Fujo assim, mesmo que de forma breve, do assunto dominante em todas as conversas e mesmo em sala de aula - as manifestações do último domingo e suas possíveis consequências, na expectativa de que a poeira levantada pelas milhões de pessoas nas ruas, praças e avenidas possa começar a se assentar, permitindo que, mesmo de  forma algo enuviada, possamos começar a divisar os resultados do evento cívico.
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Por agora, apenas gostaria de tecer um comentário, a partir de chamada do portal UOL no dia de ontem, em que o criador da camisa amarela da seleção desaprovava sua utilização pelos manifestantes, sob a justificativa de ela representar a antítese da principal cobrança do movimento, pelo fim da corrupção.
Tristemente, a camisa da seleção é hoje o símbolo talvez da fonte de maior corrupção no país e no mundo: o esporte, especificamente o futebol e a CBF e suas congêneres.
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Mas, lembro-me que há 23/24 anos atrás, quando Collor clamou a todos que o apoiavam que fossem para as ruas, no dia da comemoração da Independência do Brasil, vestindo as cores da bandeira do país em defesa de seu governo, em protesto, a população vestiu-se toda de preto, em sinal de luto.
Como sabemos, as manifestações se agigantaram e Collor sofreu o impeachment sob acusações de atos de corrupção.
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Parece-me, embora não tenha certeza, que hoje todos que vão de amarelo às manifestações são, em grande parte aqueles que naquela oportunidade não foram às ruas de vestes pretas, o que gera em mim uma dúvida: tirando os mais novos, os adolescentes, onde estavam e que cores vestiam naquele momento, todos os atuais manifestantes de meia idade?
Será que também vestiam o verde e amarelo?
Será que não estavam, lá como agora, do lado que deseja autoritariamente e de forma elitista se assenhorear do país e de suas cores?
Indago curioso, apenas por perceber no governo Collor e seus minguados apoios na ocasião, o mesmo cunho conservador que hoje alimenta a parte dos incontáveis grupos e interesses que, de forma oportunista, também vão às ruas se manifestar, de carona em um movimento que tem se mostrado capaz de aglutinar tendências as mais amplas e até contraditórias.
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Mas, vamos ao discurso,  não sem antes fazer a necessária referência ao caderno Ilustríssima, página 3, da Folha de São Paulo de domingo, 6 de março de 2016, onde tive a oportunidade de ler a excelente e rica entrevista com o professor Ordine.

Prezados formandos

Não é curiosa a capacidade de o silêncio causar incômodo? Sua grandiloquência  pronta a explodir ocupando o espaço, o ambiente, a qualquer hora? Rompendo nossa tranquilidade e alimentando o medo do desconhecido?
Essa aversão ao silêncio, no entanto, é muito recente. Típica de uma sociedade cada vez mais moderna, influenciada pela presença da tecnologização, da conexão da internet, dos tablets e smartphones. Uma sociedade que privilegia a velocidade em lugar da reflexão e da  lentidão. Dominada pelo utilitarismo, pela busca da satisfação e prazer  cada vez mais imediatos, passíveis de serem transformados e de terem  sua importância e significado mensurados cada vez mais em valores monetários. Mais dinheiros.
Dinheiros e valores que nos fazem abrir mão de nossa essência, para sermos apenas e cada vez mais valores.  A sermos o que somos capazes de valer: nosso preço.
Invertendo a estrutura dos discursos que suas homenagens me levam a proferir, inicio parabenizando pais, irmãos, avós, tios, primos, amigos, maridos, mulheres, amantes, filhos de cada um de vocês formandos, de onde retiraram  a força para prosseguir sua jornada até esse momento de comemoração. A eles vocês devem, e têm a convicção disso, muito da vitória conquistada, pelo apoio e palavras de conforto. E até pela oposição e  cobranças que criaram aos seus anseios, ocasionalmente e que  os ajudaram a formar a consciência de seus desejos e os obrigaram a aprender a superar toda sorte de obstáculos. A todos, parabéns.
Com relação a vocês, nenhuma homenagem seria mais adequada que a canção do Queen, We are the Champions. You are the Champions. Vocês são os campeões. Ou à la Jornada das Estrelas, vocês têm a Força. E a fé. E os louros da vitória suada que conquistaram.
Pode ser que não tenham ideia da importância de terem chegado até aqui. Pois saibam que vocês correspondem, cada vez mais a uma minoria.  Estudos repercutidos pela imprensa com ênfase nos últimos dias, indicam que mais alunos abandonam seus cursos de graduação que o número de alunos que se formam.
O número de universitários que abandonam seus cursos tem superado o total que conclui a graduação, fenômeno que já ocorreu em 2013 e prosseguiu em 2014: para 1 milhão de formandos, 1,2 milhão desistiram. E os números só tendem a aumentar.  Como não poderia deixar de ser, 86% dos desistentes estão em cursos do setor privado.
Especialistas consultados atribuem as causas dessa situação à crise econômica, claro; à formação deficiente ou precária na educação básica, e até a má qualidade dos cursos oferecidos.
Atribuo ainda à outra causa tal cenário: à transformação cada vez maior do ensino e do saber em mercadoria. Da imposição da lógica do utilitarismo ao processo de conhecimento que mencionei há pouco.
Muitos estudantes querem aprender, e velozmente, para poderem se engajar no mercado de trabalho e passarem a transformar o que sabem e até o que são em dinheiro.
Por isso Nuccio Ordine, professor, literato, intelectual nos fala que essa postura nega a essência do conhecimento que, ao contrário, não é feito para estimular o utilitarismo, mas resistir a ele.
Em suas palavras: “ com dinheiro podemos comprar tudo. ... compram-se parlamentares, juízes, sucesso na televisão. ... não se pode comprar com dinheiro é o saber, porque demanda um esforço que ninguém pode fazer em nosso lugar.  O conhecimento é ... o esforço que fazemos para aprender”.
Wittgenstein, filósofo alemão dizia que não tinha orgulho do que aprendeu, mas do esforço que fez para aprender.  É conhecida a máxima de que o importante não é o lugar a que chegamos, mas a caminhada.
Indo na contra mão do querer aprender velozmente para aplicar mais velozmente ainda, para ganhar mais e mais, perde-se de vista que o conhecimento é a antítese do comércio. Nesse, para ter algo, um produto, temos que perder outra coisa: o dinheiro, por exemplo. No ensino, o fato de eu ensinar não me faz perder o conteúdo que eu detinha. E desnecessário dizer o quanto aprendemos com vocês, a cada instante, de todo tipo de assunto.
Ordine cita uma anedota de Bernard Shaw: dois alunos saem de casa para ir à escola, um levando uma banana e outro com uma maçã. No recreio trocam os produtos e os comem. Voltam para casa de mãos vazias. Satisfeitos, saciados mas de mãos vazias.
Com o saber não: cada um chega com uma ideia, um ponto de vista. Expõem sua ideia, trocam ideias e cada um volta para casa com duas ideias. Uma a mais que a que já possuíam.
Além disso, o saber não tem preço. Não se pode comprar o saber, como não se vende nas farmácias ou botecos princípios, ética, moral, honestidade, o que explica parcialmente o que temos vivido no nosso país.
Perguntado, Sócrates dizia que não se adquire saber. Não se transmite saber do mais cheio para o mais vazio, pela aproximação de dois seres.  “Sobretudo é preciso fazer esforço, reservar um tempo, refletir, se fechar num quarto e ler na solidão e no silêncio..”
Não é demais enfatizar: na solidão e no silêncio. “Sobretudo é preciso respeitar a regra da lentidão e não a da rapidez.”
Isso em uma sociedade que cada vez mais cobra a rapidez e que a cada instante nosso celular emite sons, os zapzaps nos distraem, o barulho que não rivaliza em eloquência com o silêncio é a marca.
O que faz com que as escolas hoje queriam ensinar pela superficialidade dos games, e aparatos tecnológicos, sem demandar esforço. O que não satisfaz aos alunos que preferem jogar e ir se divertir em casa.
Ainda nos alerta o professor: não é pela aparência e de forma superficial que aprendo e me torno sábio ou culto. Posso ter um diploma universitário mas não é ele que assegura que domino o conhecimento. O que me faz sábio é o espírito que me impulsionou na jornada. E para não cansá-los, vamos terminando dizendo  com o professor que um estudo que às vezes parece inútil e sem valor pode sim, não servir para a nota da faculdade. Não servir para nada, por que feito com esse objetivo de nota, de diploma, não opera nenhuma revolução em nosso interior.
Mas, se leio um texto clássico com vontade de conhecer, com alegria de ler, posso mudar minha forma de encarar o mundo e chegar até a compreender o mundo que vivo. E essa leitura me permitirá ser melhor. E sendo melhor poderei  até ganhar como consequência uma nota boa, um diploma, até um emprego.
Talvez tenhamos nos esquecido disso, inclusive as escolas que se pretendem modernas. Porque as escolas modernas não são as que têm laboratórios de computadores apenas, mas as que têm bons professores. Aquele tipo de gente maluca que ensina com paixão, que tem humildade para preparar suas aulas a cada dia, que entra na classe disposto a trocar ideias e aprender tanto quanto transmite o que sabe.
E por isso vocês chegaram aqui, hoje e a Una talvez seja uma exceção. E confesso que me sinto orgulhoso de fazer parte de um corpo de colegas que têm paixão pelo que fazem. E que vêem a mesma paixão nos olhos de vocês. A cada dia de aula, mesmo que esses olhos estejam muitas vezes difíceis de serem mantidos abertos, pelo cansaço.
You are the campions. E por vocês eu também passo a me considerar um campeão.
Obrigado.  



segunda-feira, 14 de março de 2016

O retorno dos pitacos depois de problemas relativos à saúde e a economia e a política em nosso país

Aos amigos que insistem em seguir acompanhando meus pitacos, começo pedindo desculpas pela ausência em todo esse período, desde fevereiro último, na véspera da primeira apresentação no Rio, da turnê Olé, dos Rolling Stones.
Show que tive a oportunidade e o prazer de assistir, acompanhado de minha família, e que considero um dos melhores, senão o melhor de todos os shows que vi na vida.
Muito em função da presença em palco de um Mick Jagger que impressiona pelo carisma, pela ainda não afetada capacidade vocal, pela performance no palco, digna de qualquer menino iniciante, pela disposição e capacidade física, ele que conta já com seus 72 anos.
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Mas seria injustiça falar apenas de Jagger, deixando de lado Richards, outro monstro da guitarra, com idade semelhante à de Jagger, e com o mesmo carisma, embora não a mesma disposição física.
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Do show monumental, apenas trazer deixar registrados alguns comentários, já bastante repetidos.
Primeiro, o conteúdo.
Não tendo qualquer lançamento de disco novo e músicas desconhecidas do público que lotou o Maracanã, a banda pode desfilar mais de duas horas dos sucessos que embalaram e marcaram toda sua extensa e aplaudida carreira. Músicas que já nos acordes iniciais dos arranjos, arrancavam recordações e memórias dos presentes, levando ao delírio e provocando arrepios em muitos.
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Importante destacar: a qualidade das músicas que nós, que crescemos nas décadas de 60, 70, 80 e até nos anos 90 pudemos ouvir, embora para nossos pais, aquelas músicas que se confundiam com gritos e barulheira não tivessem qualquer qualidade.
Mas tinham. E provam isso com o melhor dos argumentos: a permanência no tempo.
Muito diferente das músicas que a geração de hoje anda curtindo, em especial, aqui no Brasil, com Safadões, caipiras e beijinhos nos ombros de todas as Popozudas que pululam por aí.
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A organização do show, muito diferente do que costuma acontecer em outros espetáculos, já vistos aqui em Belo Horizonte.
Talvez pelo fato de o Rio ser servido por um metrô, com uma estação praticamente dentro do local do show. Depois talvez pela experiência maior do público ali presente, em comparecer a tais eventos.
Embora eu tivesse ficado com a impressão de que a maior parte das pessoas presentes fossem aqui de Belo Horizonte, o certo é que todos transmitiam a impressão de que sabiam que não adiantava empurrar, tentar forçar a passagem para entrar na estação do metrô ou nos vagões. A impressão é que o costume com eventos dessa magnitude ensinou-lhes que se houver tranquilidade e calma, e respeito ao ritmo das filas, elas não serão capazes de causar atrasos ou embaraços.
E isso, mesmo com a chuva que caiu pouco antes da entrada em palco da banda inglesa.
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Insisto nessa ideia: a vinda de shows maiores a BH teria, não apenas a vantagem de não obrigar ao deslocamento de nós mineiros, mas ainda teria a capacidade de aumentar o traquejo de nosso público já que a experiência e a prática ensinam e educam, sim.
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Terceira observação, que valeu críticas de todos os repórteres especializados internacionais que cobrem a turnê, e até do próprio Jagger, posteriormente, como nós brasileiros somos narcísicos. Como grande parte das pessoas, em lugar de se divertir e curtir a música, dançar, cantar, pular, namorar, deixava o show de lado, mais preocupado em tirar selfies.
Admito que tirar uma selfie para postar que esteve presente ao show é normal. Mas, tirar selfies de milhares de formas distintas, muitas delas, sem qualquer referência ao que acontecia no palco e mesmo no show, acho que é simplesmente absurdo.
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Da ida ao Rio, restou como saldo um problema em meu celular, sem o qual estou até hoje.
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A vez do notebook

Mas a chegada à BH, sem o contato com o mundo pelo smartphone, fez-se acompanhar por um problema em meu notebook, já bastante antigo, e que, mais por cansaço talvez, começou a dar tela azul.
E na hora de tentar religar a máquina, normalmente ouviam-se 5 apitos, findos os quais a máquina desligava automaticamente. Por vontade própria.
Para voltar a fazê-la pegar, não adiantava a figura do fusca: descer e balançar e depois tentar de novo.
A maior parte das vezes a solução era desligar e esperar. E, depois de horas que podiam fazer virar o dia, tudo voltava ao normal.
E o notebook funcionava até que nova trepidação da placa, sei lá, fazia surgir uma tela preta, e o contato com o mundo virtual desaparecia.

E as doenças

Em meio a esses problemas, fomos surpreendidos por um mal estar de minha mãe que a obrigou a passar mais de uma semana no leito de um CTI.
O problema maior, seus praticamente 82 anos de idade, e a necessidade de se fazer cateterismo e duas angioplastias com a colocação de 2 stents, de início. Uma semana depois, a decisão de se fazer nova angioplastia foi necessária, com a colocação de outro stent,
Felizmente hoje ela já encontra-se de alta em casa, recuperando-se bem.
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Mas, como algumas situações desse tipo não costumam vir sozinhas, nesse período de internação de minha mãe, também minha mulher, Vanessa e minha tia tiveram que passar por cuidados de saúde, felizmente todos com final feliz.
E não era dengue, ou zica ou qualquer outra manifestação do mosquito Aedes.
Embora a frequência forçada a hospitais me deixou impressionado com a quantidade de pessoas, esperando, às vezes até 4 horas para terem atendimento, todas com dores, febres, etc.
Sinal não diria do descaso, mas do desaparelhamento da saúde em nosso país.
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Economia

Justificada minha dificuldade de manter os pitacos por todo esse tempo, e no sufoco até mesmo para poder ler e me informar a respeito dos acontecimentos que o país atravessava, apenas ouvi a notícia de que o PIB caiu 3,8% , o pior resultado depois de mais de 20 anos.
Recessões semelhantes, lembro-me apenas das ocorridas em 1983, e depois, com o confisco de Collor, em 1990.
Agora a incompetência do governo Dilma, completamente à deriva, brinda-nos com esses números desastrosos e que, além de tudo, podem se agravar, dadas as perspectivas de nova queda, em valores semelhantes do PIB para esse ano.
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Disse acima que o governo Dilma, à deriva e sem bússola é incompetente. Mas, faço questão de destacar que, ao longo de todo ano passado já vinha dando pitacos de que a culpa de Dilma foi ter deixado se encantar pelos encantos das sereias, sempre sinais de mau presságio.
No caso concreto, ao render-se aos mercados, tentando ficar de bem com a elite econômica, Dilma primeiro traiu seus eleitores, configurando um inquestionável estelionato eleitoral: ao agir, o fez negando todas as promessas de campanha.
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Atendendo às cobranças dos analistas econômicos mais conservadores e do pessoal incrustado na mídia, que costuma servir de papagaio às ideias dos mercados financeiros e do poder econômico, Dilma trouxe para o ministério Joaquim Levy, responsável pela adoção de todas as medidas que o mercado desejava e exigia.
Se não fez mais, a culpa, inegavelmente foi do nosso Congresso, especialmente daqueles que, sem saber perder, deram uma de Fluminense, tentando embolar o jogo no tapetão.
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Mas inegavelmente que Levy fez tudo que era cobrado pelo mercado, especialmente no que se refere à tentativa de promover o ajuste fiscal que todo o pensamento conservador exigia.
Ora, que as medidas poucas e incompletas; parciais por falta de apoio político criariam o pior dos mundos, com queda da demanda agregada, queda da produção e renda e aumento do desemprego, várias vezes foi falado aqui mesmo nesses pitacos.
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Estando incompleto, o mal foi feito, mas nenhum benefício pode ser observado. A inflação não foi contida, muito ao contrário. E os juros da política monetária que visava contê-la, elevados a níveis estratosféricos, elevaram os gastos públicos, elevando o déficit que se tentava combater e levando à deterioração de nosso indicador de dívida/PIB.
Que se agravou ainda mais com a redução do PIB.
Levy, então, nos brindou com o pior dos mundos. Mas insisto que a culpa não é apenas dele. Ou principalmente dele, já que ele somente representava os interesses dos agentes de mercado e seus meninos de recados.
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Recessão, desemprego, queda de renda do trabalhador, mais inflação, inflação corretiva de preços e tarifas, queda de arrecadação, ampliação de déficits, não admira que as empresas de classificação de risco tirassem a avaliação positiva do Brasil - que diga-se de passagem, apenas foi concedida no Governo Lula, do PT.
Importante a observação, porque é esse partido que é acusado de, agora, ter perdido o grau de investimento. Sem considerar, por justiça,  que o partido, por pior que seja, foi o único que conquistou esse status para a nossa economia.
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Aqui outra observação: a midia agora cobra e critica as medidas de Dilma, como causadoras de todo o estrago, incapaz de se penitenciar em algum momento e admitir que as medidas adotadas eram as que ela cobrava e depois elogiava, pelo menos em termos da sinalização.
A percepção desse papel da midia lembra-me 1984, de Orwell, e a adoção de um comportamento destinado a fabricar, pela alteração de arquivos, história e discursos, uma realidade que desejada, se mostrava em algum momento do tempo, já necessitada de reparos.
***
Pelo que ouvi, sem maiores detalhes pelos motivos expostos, a indústria foi o setor mais penalizado, mais uma vez, o que representa que regredimos celeremente à condição de país pré-industrializado, quando todo o mundo avança para a sociedade pós-industrial.
***
Parece que salvou-se apenas e tão somente o setor agrário, ou a grande agricultura, de caráter exportador, geradora cada vez mais de menor quantidade de empregos no campo.
Sinal de que o capital mais conservador dentre todos eles, e que no Brasil sempre foi um dos principais responsáveis por nosso atraso secular, é o setor mais preparado, mais equipado e mais tecnologicamente avançado, e que carrega nas costas nossa economia nos dias atuais.
Triste retrato do país, que era até há pouco uma das principais nações industrializadas do mundo e uma das 7  maiores economias do mundo.
***

A agitação da Política

Dizer que fora a confirmação, pela mensuração, da crise que já sabíamos consistir o ambiente em que o país estava mergulhado a economia pouco evoluiu, é dizer uma obviedade.
Mas, do ponto de vista político houve muita alteração e a velocidade dos acontecimentos, frutos da operação Lava Jato, ganhou uma aceleração vertiginosa.
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De minha parte, apenas a ratificação de minha crença de que, há que se investigar e que passar a limpo toda a nossa vida republicana nos últimos 20 anos.
E punir a todos que fizeram interesses privados prevalecerem sobre os interesses maiores do povo brasileiro.
Mas, isso não impede de declarar que a transformação do juiz Moro em herói, em baluarte de nossa causa em prol da melhoria das condições políticas de nosso país é um erro.
Primeiro por não achar que país nenhum, sério, precisa ficar cultivando heróis e salvadores da pátria.
Segundo por não admitir entrar na onda de que os fins justificam os meios e que para obter as acusações que possibilitem as condenações e purgações que a sociedade exige expiar, a justiça possa ser injusta ela mesma.
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Abusos vários têm sido cometidos por Sérgio Moro, pelo grupo de procuradores da Lava Jato e pelos policiais da Federal, desde as prisões preventivas para coagir os suspeitos e obrigá-los a negociar as tais delações premiadas, até mandatos de intimação para a tomada de depoimentos, como o que vitimou Lula, levado à PF sob condução coercitiva.
Lula e mais outros 117 depoentes, pelo que se informa.
Nada a favor de Lula, mas menos ainda a favor do abuso da autoridade que apenas reflete a falta de autoridade real.
***
Bem, saindo da esfera policial, mas bastante influenciada por ela, no Congresso, a oposição que iria adotar um comportamento favorável ao país, para não contribuir com o agravamento da crise, resolveu fazer pirraça. Ou birra. Ou greve.
Por mais que o direito de a oposição fazer obstrução seja reconhecido, é necessário lembrar que a oposição paralisou o Legislativo, está impedindo seu funcionamento. De quebra, comporta-se assim, em razão de desejar obter resultados ou benefícios de sua ação. No caso, o impeachment.
Pois bem, nada disso é muito diferente do direito de greve dos trabalhadores.
***
Diferente, como não poderia deixar de ser é que se a greve, assegurada aos trabalhadores por lei, atrapalha a outras categorias ou pessoas na sociedade, os jornais lembram-se logo de que até o direito de greve deve ter limites.
Boris Casoy, por exemplo, é mestre em dizer que atrapalhar a vida de outros que  ficam prejudicados pelo movimento paredista de algum grupo de pessoas, é "uma vergonha".
Exceto se o movimento visa agravar o quadro agônico que o governo apresenta, porque daí, o jornalista nada fala, nada critica. Talvez por achar que políticos e sua greve não atrapalham a outras pessoas. Só a toda uma nação e sua população.
***
O que me leva a não me admirar que o movimento de protesto da população nas ruas, realizado ontem, tenha arrastado a numerosa quantidade de pessoas bem intencionadas que a ele acorreram.
A maioria delas, provavelmente, influenciadas por essa midia que torna-se um dos principais agentes políticos do processo em curso, quando o deseja. Mas que corre para emitir notinhas hipócritas a respeito de não serem nada mais que informantes sem qualquer papel ativo no desencadear dos fatos.
***
Bem, a alegria cívica de todos os órgãos da grande imprensa, cobrindo a manifestação pacífica contra o governo não deixa de ser tocante. Digna de quem apenas deseja informar e nada mais.
Informar de como um povo, ou rebanho reage, cordato, ordeiro, disciplinado, e alegre, dir-se-ia, quase em comemoração carnavalizada.
***
Tudo bem. Volto a partir de hoje, queira Deus que sem interrupções.
Paro por aqui, para não ficar muito extenso (mais...) ou cansativo.
E para isso, termino apenas com uma observação:
Dizem que ninguém quer ver o circo pegar fogo, o que é uma balela. Afinal basta observar que desde a semana passada com os atos de excesso de autoritarismo que vitimaram quadros do PT, e o governo, a bolsa subiu e o dólar caiu.
O capital financeiro ganhou muito e comemora mais ainda. Ganhos do agravamento da crise que ninguém desejava ou torcia para acontecer...