quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Resultados da economia, mesmo com a grande imprensa forçando a barra, não permitem tratar de amenidades. Pior: nem o Galo nos dá um alento

Minha intenção era dar sequência às amenidades iniciadas ao final da postagem ontem, com a indicação do local para eventos no Bairro de Santa Efigênia, o Kombinati. Que  nunca é demais frisar, trata-se de um lugar dos mais agradáveis, entre outros motivos, por estar localizado em uma típica vila urbana, entre árvores frutíferas e casas muito simpáticas. Além de contar com uma excelente pizza e um serviço de atendimento muito simpático.
Mas, já de manhã cedo, ao ouvir o comentário sobre economia da jornalista Miriam Leitão, no Bom Dia Brasil, e a fanfarronice, mais uma vez, de que a economia do país está finalmente recuperando-se, percebi que minha postagem teria, necessariamente, que frustar o clima ameno.
Mas, para não permitir que se caracterize uma antipatia com a rede mais poderosa da televisão brasileira, é necessário declarar que a campanha destinada a vender uma imagem positiva da economia nacional não é apenas da Globo.
Também o Jornal da Band, no horário noturno tem apresentado declarações de empresários satisfeitos com a recuperação que já começa a se apresentar no horizonte.
Vá lá que, como é característico de todas as crises, alguns setores estejam conseguindo resultados melhores que a média da economia, a maior parte deles, provavelmente ligadas ao mercado externo que, por força da desvalorização de nossa moeda, ensaiou mesmo uma recuperação desde o ano passado.
Mas, dar a entender que, em função de resultados positivos para algumas empresas e alguns setores o nível de emprego formal está começando a reagir é no mínimo a manifestação de que, tirado do poder o grande inimigo, o PT, e a presidenta Dilma, não há mais qualquer obstáculo para que o país volte a surfar nas águas do crescimento.
Ledo engano.
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A esse respeito, inclusive, é bom lembrar que matérias que repercutem o relatório de inflação divulgado pelo Banco Central, em que fica muito claro que, face ao comportamento dos preços dos alimentos, que começam a dar sinais de terem deixado de subir, e face ao ajuste fiscal cujo projeto encontra-se em discussão no Congresso, a taxa de juros básiica da economia poderá voltar a declinar.
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De curiosidade apenas, fico me perguntando como a imprensa e os mercados iriam reagir se estivéssemos ainda na gestão de Dilma e de Tombini, no Banco Central.
O que é uma bobagem, admito. O que a midia e analistas de mercado fariam era sair criticando a queda das taxas, sob o argumento de que o autoritarismo e intervencionismo de Dilma e não as condições econômicas do país estariam subjacentes à redução de juros.
O que fariam e todos sabem seria sair criticando a falta de autonomia do BC, um comportamento completamente esquizofrênico, porque as manchetes dos jornais de hoje, e dos principais portais da internet informam-nos que a inflação chamada do aluguel, calculada pela FGV subiu para 10,66% em 12 meses, o que, exigiria a manutenção de juros elevados, conforme o regime de metas cuja adoção utiliza praticamente como único instrumento de ação, as taxas de juros.
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Confesso que não concordo com a visão conservadora, para quem os juros são a principal arma para combater a inflação, em especial quando a demanda do país já está suficientemente reduzida.
Mas, a cartilha conservadora diz que são os juros que devem ser utilizados.
Também devo admitir que sempre mencionei nesse blog, que parte da inflação tinha a ver com a questão climática que o país estava experimentando, o que levou a frustração de safras e aumento de preços de alimentos, que pesam significativamente no bolso das famílias.
E, como devemos reconhecer, as condições climáticas, hidrológicas, etc, sobre as quais o governo não tem qualquer atuação, parecem ter tido alguma melhora. O que tem derrubado sim, os preços dos alimentos.
Mas, isso pouco significa, inclusive em termos de expectativas de médio prazo, uma vez que, pelo que temos vivido e sentido, o calor e a baixa umidade estão vindo aí, com grande ímpeto.
Ou seja, podemos voltar a experimentar crises de abastecimento de água, e com ela, frustração de produção de alimentos, já nos meses do início de 2017.
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Mas, nada disso importa, para a imprensa que quer, à força, criar o ambiente positivo capaz de estimular os empresários e levá-los criar uma expectativa que os induza a decidir colocar em marcha os projetos de investimento até aqui, engavetados.
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E nessa campanha de forçar a barra, os golpistas da imprensa e dos mercados vão passando por cima dos resultados reais obtidos pelo governo usurpador, de salvação.
Resultados que só têm trazido notícias que mostram um ambiente ainda de crise e desemprego.
Assim, os sites anunciam que o desemprego formal continua em queda, que houve corte de mais de 220 mil cortes de vagas, além de outras 260 mil que, desalentadas, deixaram o mercado.
Contrariamente às reportagens da Band, o que tem acontecido é o aumento da informalidade, já que as pessoas precisam sobreviver e, nessa hora, optam por aceitar qualquer tipo de ocupação, de renda ou salário, e de condições, o que significa abrir mão de direitos.
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Ainda agora, sai o resultado, a que já nos referíamos ontem, de queda de 10% da arrecadação, no pior agosto em 7 anos.
E, para mostrar a quantas andam as propostas de ajuste fiscal e de mudanças estruturais da economia, adotadas pelo governo usurpador, o site UOL revela que temer, o ilegítimo, já pensa em não dar sequência à proposta de alteração da legislação trabalhista. Dadas as dificuldades de negociação junto ao Congresso e à desaprovação da sociedade.
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Aliás o que temer sabe fazer é cortar qualquer tipo de repasse a blogs pró-PT, o que apenas confirma seu caráter, mesquinho, anti-democrático e vingativo. Típico das figuras das sombras...
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E agora, o Galo

Bem outro assunto que eu gostaria de tratar era o do jogo do Galo, ontem, que eu considerava ser uma amenidade ao menos até o gol de Lucas Pratto, no jogo de ontem.
Mas, de ameno o jogo não teve nada. Fora o gol, só mais uma jogada que o Urso escorou de peito para o chute de, se não me engando, Júnior Urso, para fora.
E foi só.
Com Clayton correndo muito mas sem inspiração, Cazares sem inspiração, Robinho idem e com o agravante de não querer ou conseguir jogar com Pratto, o que se viu foi o Juventude partir para cima do Galo. E, justiça seja feita, só não conseguiu a vitória que fez por merecer, por força da ajuda do travessão, de Victor, e de o Juventude não ter tido mais coragem de partir para cima de forma mais agressiva.
Em minha opinião, principalmente o segundo tempo, e não apenas a partir do momento da expulsão de Carlos Cezar, foi de um time sem inspiração, sem comando, sem estrutura de jogo, em uma palavra, um sofrimento para a já acostumada a sofrer massa atleticana.
O que foi reconhecido pelo locutor, e comentaristas da Fox.
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Continuo reputando a passividade do time, as infindáveis troca de passes laterais, para não falar de Rafael Carioca e de Fábio Santos, recuando bolas da intermediária adversária para Victor, mas continuo atribuindo a Marcelo de Oliveira a incapacidade, à beira do campo, de exigir outra postura de seus atletas.
Ou seja, também o Galo não dá espaço a um assunto mais ameno, típico da primavera que está dando seus primeiros sinais.
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Apenas devo admitir que, de todos os times, que saíram em vantagem, ao menos o Galo tem um ponto a seu favor. Se perder de 1 a zero, em Caxias no jogo de volta, vai para penaltes. Já o Corínthians, Santos, Grêmio, caso percam de um a zero, estarão fora por culpa do gol que levaram jogando em casa.
Mas, comemorar essa vantagem é muito pouco, em minha opinião.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O país da realidade paralela, onde o Carandiru sequer existiu. E duas referências amenas para um encontro de amigos.

Uma situação que já havia sido antecipada pela literatura de ficção científica, e mostrada nas telas do cinema parece ser, cada vez mais, a que melhor caracteriza a realidade que estamos vivendo no Brasil dos dias atuais: uma realidade paralela ou alternativa.
Da literatura, o exemplo que imediatamente me ocorre é 1984, o brilhante livro sobre totalitarismo escrito pelo gênio de George Orwell em 1948, com destaque para a apresentação da ideia de novilíngua, renomeando as ideias, as coisas, as instituições, de modo a manipular o mundo e a realidade ao infinito.
A respeito, lembro-me da impressão que me causou a descrição de como o passado era apagado pela burocracia do Estado autoritário ou alterada, para transformar, em todos os documentos e registros existentes, por exemplo, o inimigo de ontem, em aliado desde sempre, apenas por ter sido assinado um armistício entre os dois países.
Em outros casos, as memórias eram apagadas e davam origem à reconstrução de um novo passado, para sustentar uma nova ideia ou explicação para o presente.
Situação que, não por acaso, foi muito utilizada na União Soviética para cancelar a importância de certas figuras de políticos que caíram em desgraça, razão suficiente para que tivessem seus retratos, discursos e qualquer menção apagada dos textos impressos e arquivados.
Apenas para mostrar mais uma vez a capacidade de a vida imitar a arte.
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Ou o livro de Orwell, muito menos que antecipar uma realidade, apenas descrevia, com pintadas de exagero, a realidade que já vinha se divisando.
No cinema, a ideia de que a mudança do passado teria força bastante para alterar o presente foi magistralmente apresentada, em minha opinião, na saga De Volta para o Futuro, tanto no filme original quanto nas suas sequências.
Realidade pararela, virtual, foi também objeto de dois outros filmes como Os Doze Macacos e Matrix, para citar apenas uns poucos.
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Mas, vivendo situação semelhante no Brasil, que espantosamente mudou tanto, em minha percepção, sem que eu me desse conta do que vinha acontecendo, de repente somos informados de que NÃO HOUVE O MASSACRE DO CARANDIRU.
Não morreram, entrincheirados nas celas do presídio, vergonhoso e conflagrado, 111detentos, a maioria deles com tiros na cabeça e pelas costas, em uma situação que a perícia anotou cinco tiros por corpo.
Corpos depois enfileirados e nus, como sacos de cimento dispostos displicentemente, no chão de concreto.
Segundo o desembargador Ivan Sartori, que afirmou não se importar com a opinião pública, porque "Eu sou o juiz", como se fosse o próprio Deus, não houve massacre, não houve crime, se bobear não houve invasão do presídio por uma tropa de choque armada até os dentes, para conter uma rebelião de homens presos, todos desarmados.
Aqui vale um registro, estavam completamente desarmados, por óbvio, ou com armas brancas, fabricadas dentro das próprias celas, de forma precária, o que é bem representado pela imagem que marcou o mundo e mostrou a barbárie nossa: estavam NUS.
Pela autoridade que se julga o próprio Deus, o que houve foi apenas legítima defesa!!!
Mas, passados já 24 anos, agora no dia 2 de outubro, e com o Carandiru nem mesmo existindo, como forma de apagar a mancha da selvageria, talvez, quando do próximo julgamento dos policiais acusados, possamos ser informados que, sendo impossível cancelar a realidade da morte dos prisioneiros, o que houve foi um suicídio coletivo. Um ato extremo de imolação de pessoas que não se contentavam mais em ser tratados como animais, por uma sociedade que queria apenas que eles expiassem suas culpas e, assim fazendo, pudessem se reintegrar no convívio social...
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Ótimo. Não houve massacre. Purgamos assim nossas culpas. Os militares todos foram heróis. Nem mesmo a possibilidade de medo, covardia e histeria que poderia servir de atenuante para seu comportamento não precisa mais ser invocada.
Os brilhantes e valorosos homens de farda da PM paulistana, não são covardes e nem se acovardam ou se intimidam. Apenas como qualquer outro homem valoroso, não aceita desaforo e não se deixa agredir, sem deixar que se manifeste aquilo que todos nós homens, como animais que somos, carregamos conosco: o instinto de conservação ou preservação.
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Mas não tendo havido o massacre no longínquo 1992, é possível que também não tenha havido corrupção, propinas, compra de votos de deputados e mensalões, mesmo que sob outro título, em 1997/1998.
Não havia esquema de propina na Petrobras na gestão de FHC, como não houve a confissão do episódio de compra de voto por 200 mil reais, do deputado acreano Ronivon.
Como não houve a privataria, embora o ministro flagrado compondo os grupos a disputarem a concorrência dos leilões das teles tenha sido gravado e, até demitido por culpa desse fato.
Mas, não houve crise cambial em 1999, nem apagão em 2001,  que já apagou-se de nossa memória. Não houve um completo descalabro da inflação em 2002, nem a necessidade, no período de 1999 a 2002, de o governo brasileiro ter ido se prostrar de joelhos à frente do poderoso FMI, para negociar dois pacotes milionários de apoio financeiro.
Barusco, o gerente da Petrobras, não deu o depoimento em que, em delação premiada já publicada, menciona que desde antes de 1997, já havia o esquema de pixulecos como frutos dos contratos assinados pela maior empresa brasileira.
Como não aconteceram os escândalos do Metrô de São Paulo, reconhecidos pelas próprias empresas fraudadoras, agora perdoadas, embora talvez com uma leve advertência, por terem mentido quando confessaram os mal feitos.
Nem Furnas e suas propinas, ou a construção da Cidade Administrativa Tancredo Neves, em Minas, foram citadas como espaços privilegiados de corrupção.
Aliás, continuando na mesma lógica, nem Aécio foi citado em qualquer delação. Não poderia por não existir. Ao menos como político de expressão política, a verdade é que não existe mesmo.
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Na realidade dupla, alternativa, paralela, houve foi o crime do PT, o único que não pagou e por isso, merece ser caçado à exaustão para que sejam purgadas as culpas de um país abençoado por Deus, e bonito por natureza, mas como diz a anedota, com um povinho.
Outro equívoco: nosso povo é honrado, valoroso, trabalhador, e honesto antes de mais nada, e acima de todas as coisas. Claro, como qualquer outro povo, às vezes, embolsa o troco por esquecimento, ou aproveita-se de pequenos descumprimentos da lei, mas... são tão poucos casos.... e apenas por distração. Nada mal intencionado.
Povo educado, que agride a um político e sua família em um restaurante do bairro do Rio de Janeiro frequentado apenas pela mais alta classe de cidadãos, todos endinheirados e educados.
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Por causa dessa realidade virtual, temer foi eleito, com mais de 60 votos, mas carregando na alma e nas bagagens, o voto que usurpou de mais de 54,5 milhões de pessoas.
E em razão de seu governo extremamente proativo, eficiente, dinâmico e pouco avesso a corrupção e corruptos e controvérsias, e bate-bocas e de declarações destinadas tão somente a irem morrer na lata de lixo da história, a crise econõmica do país já está se despedindo do horizonte.
O Banco Central e o seu corpo de diretores, com assento no COPOM, que mais que anunciou, pressionou em suas atas, pela necessidade de ajuste fiscal, sem o que não seria possível reduzir a taxa de juros, já mostrou que seu intento foi alcançado.
As previsões de mercado, dos analistas, de comentaristas da imprensa e de economistas, sempre sem qualquer outra intenção senão dar a correta e abalizada opinião, nos jornais da noite, para orientar e explicar a realidade econômica para o cidadão comum, o homem do povo, já anunciam e comemoram a queda de 0,5% prevista para os juros em nosso país.
O que dá início, sem qualquer dúvida, à etapa de retomada do crescimento econômico em nosso país.
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Sinal de que o ajuste já começou a apresentar os primeiros resultados favoráveis. A PEC da restrição de gastos públicos por um período de 20 anos, absurda não pelo conteúdo apenas, ou caráter, mas até por faltar maior discussão quanto a seus detalhes e forma de operacionalização, e pela não discussão de suas verdadeiras necessidades ou  motivações já está praticamente resolvida. A reforma da Previdência já foi toda desenhada, obrigando o brasileiro que inicia sua jornada de trabalho aos 15 anos, e tem estimativa de vida de algo em torno de 72 anos, a ter de trabalhar no mínimo 50 anos, para poder aposentar com o valor integral sobre o qual contribuiu.
E até os professores, essa categoria que se aproveita de  privilégios exagerados e absurdos, como circulou ontem nas redes e na internet, conforme a opinião do ministro da Educação, e sua assessoria em que se inclui, seguramente, o nosso intelectual de proa, Alexandre Frota, já terão sido objeto de proposta de cortes e fim de benefícios inexplicáveis.
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Infelizmente, apenas os dados, esses números frios e sempre monstruosos, atrapalham a descrição de nossa realidade idílica, da recuperação da estabilidade, da retomada do crescimento econômico, da melhoria das nossas condições de vida.
Impertinentes como sabem ser, e desagradáveis a maior parte das ocasiões, os dados mostram que não houve reação da arrecadação em agosto. Ao contrário, a queda continuou em ritmo forte, fazendo com que o resultado fiscal em agosto apresentasse pelo quarto mês consecutivo, valor negativo.
Pela informação do Valor Econômico, o déficit do governo central, que considera os resultados apenas do Governo Central ou Tesouro, do Banco Central e da Previdência, é estimado em R$ 18,2 bilhões em agosto, desnecessário dizer que muito pior que o resultado obtido em agosto de 2015, quando atingiu 5,1 bilhões.
OK! Esses números não passam de estimativas. mas o déficit previsto pelos entendidos de mercado para suas contas reais, difere do que apresentam como realidade rósea ao povo: o déficit seguirá crescente, prevêem os entendidos.
Quanto ao comportamento da arrecadação desse país que começa a crescer nas reportagens dos jornais televisivos que invadem nossas salas às noites, a expectativa é de decepção, caracterizada por forte redução.
Mas nada disso importa e, convenhamos, na hora do lanche ou do jantar, com a família reunida à mesa, é mesmo positivo que se apresente à população uma realidade mais confortável, mais aconchegante, para não atrapalhar sua noite de sono tranquilo e restaurador.
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Vivemos um mundo em que nada aconteceu, nem poderia ter mesmo havido qualquer reação, mas isso pouco importa. A verdade a gente cria como deseja. Os dados a gente manipula como é de nosso interesse.
O presente a gente muda, como tentou demonstrar nosso desperdiçado ministro da justiça, o hilário Bruce Willis caboclo, ao tentar desdizer o que afirmou em Ribeirão Preto, jactando-se de conhecer informações de que não poderia tomar conhecimento...
Pena, para nosso frustrado ator, que havia gravações feitas. Mas que sempre poderão ser apagadas, em uso do mesmo recurso da obra orwelliana.
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Por isso, também as pesquisas de opinião indicam que o povo brasileiro acredita que a mulher vítima de estupro é, na verdade, a algoz, levando o homem, constrangido, embora apenas levemente, a saciar sua vontade em ser atacada, usada como objeto, desrespeitada em sua vontade.
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Esse é o país que temos. E qualquer tentativa de mudá-lo vai esbarrar nos interesses poderosos dos setores mais conservadores, dos que se aproveitam do status quo, dos que se locupletam com as mazelas de nosso povo, dos que temem a mudança.
Exceto se for para dar espaço para que as múmias, como temer, possa ocupar o lugar. Representando a mudança para permitir que tudo permaneça como sempre foi.
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Amenidades

Depois de tanto tratar das realidades fantasiosas e aprazíveis que marcam nosso país, cada vez mais e, especialmente no governo usurpador de temer, devemos dar uma oportunidade para a manifestação de momentos mais amenos.
Exemplos de tais amenidades, são as referências e recomendações de locais para a realização de programas que nos permitem esquecer as agruras do dia a dia, abrindo espaço para uma diversão mais sadia, rodeada por aqueles que frequentam nosso círculo de amizades.
Momentos de lazer necessários e obrigatórios. Em ambientes descontraídos, agradáveis, bucólicos até. E muito, mas muito bem servidos.
Refiro-me em especial, a uma descoberta feita recentemente, de um espaço adequado para um happy hour, um fim de tarde, ou um evento como uma reunião de aniversário ou encontro de amigos de turma de escola. Falo do Kombinati, o espaço da pizza truck.
O endereço é Rua dos Otoni, 156, o fone é o 31-87710020. Creio que deve ter um 9 na frente.
O simpático Fred Brant e sua esposa Patrícia são os proprietários do local, que está instalado em uma vila, daquelas antigas, em que, a partir de um portão de entrada para a rua, como se fosse uma garagem, a gente atinge uma espécie de largo, em que se encontram a entrada de três simpáticas casas.
O terreno, além de garagem, é cercado de árvores de frutas, como jabuticaba, pitanga, amora, sob a qual ficam instaladas as mesas.
Ao canto, uma kombi antiga, transformada em food truck serve pizzas de vários sabores, com massa super fina e de extremo sabor.
Fizemos lá a comemoração do aniversário de minhas filhas. Um show de lugar e atendimento. Vale a pena!
A Kombinati também sai às ruas, com uma segunda Kombi, pronta a servir as saborosas pizzas.
Sem esquecer, o Tiago e a sua esposa Paloma, que auxiliam no atendimento, contatos podem ser feitos pelo site: kombinati.com.br. Ou pelo email: kombinatifoodtruck@gmail.com.
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Outra recomendação é a de Fernando Monteiro, cantor e músico de MPB, de excelente qualidade e capaz de fazer a música servir para embalar as conversas, sem ficar disputando o espaço da boa prosa. Independente disso, a qualidade e a sonoridade permite que todos os ouvintes saibam e possam em alguns momentos cantarolar alguma canção.
Fernando também tem um site: www.fernandomonteiro.com.br e seu contato pode ser feito pelo 31-988068290 ou pelo email: contato@fernandomonteiro.com.br.
Também vale muito a pena.
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E ajuda a gente a encarar nossa realidade de forma mais tranquila.


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Funcionários públicos concursados propõem fim das desonerações fiscais. Ao lado das homenagens que merecem, seria esse um caso do analfabetismo que Lula mencionou?

Finalmente, depois de várias cobranças feitas por economistas não vinculados aos mercados financeiros ou ao setor empresarial, a Folha noticia hoje, em manchete de capa, que técnicos do fisco, que já questionavam de longa data os programas de benefícios tributários e incentivos fiscais concedidos aos empresários, sob o título de desonerações, deverão, finalmente, ser cancelados uns, reformulados outros.
A matéria da Folha cita a existência de 300 incentivos em vigor, e a partir de uma análise rigorosa de sua efetividade, poderão render, a partir de 2017, uma economia de perto de R$ 15 bilhões.
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Dada a informação, alguns detalhes merecem ser aprofundados e outros destacados na matéria do jornal.
A primeira, a de que desde o início de seu período de usurpação do poder, temer nem sua equipe instalada no Ministério da Fazenda haviam feito qualquer sinalização em relação a esse tipo de medida.
O ministro Meirelles já havia mencionado a necessidade de contenção de gastos do governo, propondo e apresentando inclusive, ao Congresso, o pacote de ajuste fiscal que congela os gastos reais do governo por um período de até vinte anos. Já havia sido apresentada a proposta orçamentária que elevava de 96 para 170 bilhões a previsão de déficit primário, o que é no mínimo curioso para um governo que desejava cortar gastos sem critérios discutidos com a sociedade, que é a quem eles são direcionados.
A necessária reforma da Previdência foi tratada desde o primeiro momento do governo, como uma das mais necessárias medidas a serem adotadas na direção do ajuste fiscal de médio prazo e sua manutenção.
Outros ministros, como o da Saúde, chegou mesmo a tratar da questão de o governo reduzir os gastos com o SUS, por sua ineficiência, o que remeteria a população aos braços dos planos de saúde, aqueles que financiaram a campanha e a eleição do ministro.
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Mas, para não ser injusto com os novos ocupantes do poder, é necessário citar duas questões importantes. Perceberam-se as autoridades, que o país deveria crescer, sem o que não cresceriam a produção e a renda, o que traria o impacto que todos vêm observando na queda da arrecadação tributária, com evidente responsabilidade na explicação do déficit. Afinal, as receitas despencam enquanto as despesas são rígidas.
Constataram então que para crescer, seria necessário não elevar tributos, de qualquer espécie, até para que não tivesse, a classe produtora, de pagar o pato.
Desnecessário lembrar que o usurpador temer, honrou o seu compromisso com a poderosa Fiesp e não levou avante qualquer possibilidade, até sugerida de aumento de impostos, deixando que o pato fosse pago, pelas propostas sugeridas apenas pela sociedade.
Outra medida necessária para a retomada do otimismo e a retomada das decisões de investimento, indispensáveis para o país voltar a crescer, era a redução da taxa básica de juros. Mas, embora debilitada e depauperada por todas as medidas adotadas para reduzir a demanda agregada e promover a queda dos preços, uma série de circunstâncias, algumas sem controle, como a  influência dos fatores climáticos na produção de alimentos, acabou não surtindo os efeitos desejados na queda da inflação.
Mais uma vez, aqui, apenas afetou o nível de atividade e de emprego, conduzindo o país para uma taxa impressionante de desemprego, cuja tendência é a de se tornar maior que os 12 milhões hoje reconhecidos.
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Assim, embora toda a torcida, a midia, os mercados ainda não conseguiram influenciar na decisão dos que têm hoje, assento no COPOM, o que resulta na manutenção da taxa Selic em 14,25%, o que é muito elevada para estimular o empresariado a investir.
Aqui, vale uma observação: toda a pressão, de temer, de seus ministros, de toda a imprensa e dos mercados, não têm conseguido demover a Autoridade Monetária de manter a taxa. E, quando ela cair, ao menos o 0,5% que todos estão esperando para a próxima reunião do COPOM, e cobrando, todos irão sair anunciando e repercutindo o fato de que o país agora já com sua situação econômica mais ajustada, já pode se permitir reduzir a taxa básica de juros.
Ao contrário da época de Dilma e Tombini no Banco Central, ninguém  irá dizer que o presidente do Banco se curvou à determinação do chefe do Executivo. No caso, até talvez, reconhecendo que o chefe do executivo não tem autoridade nem moral ou legitimidade para impor coisa alguma. Mas isso é apenas uma suspeita minha.
O certo é que, com o novo governo e sob as ordens do mercado e interesse dos poderosos que sao quem de fato dirige os desígnios do país, todos aplaudiram a autonomia do BC, e irão comemorar o início da retomada.
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Enquanto isso não acontece, nada como atacar em outra frente, para saciar a sede de resultados para os poderosos que bancaram a virada da ordem instituída, democraticamente, como se sabe.
E, para satisfazê-los, nada como acenar com a possibilidade de elevação de seus lucros, quem sabe, aumentando o poder e a taxa de exploração do trabalhador, através da elaboração de uma reforma trabalhista, que flexibilize as normas, e permita acordos entre, de um lado, os leões, e de outro, os pequenos filhotes de cruz credo, que é o que irá virar o operário sem consciência de classe, em qualquer negociação individual que ele participar.
Nesse meio tempo, a imprensa destaca a necessária reforma, inclusive, das leis que tratam da organização sindical, colocando como um dos absurdos maiores que deverão ser modificados, a cobrança do Imposto Sindical.
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Aqui, um parêntesis: nada a favor desse imposto que não tem outra finalidade, desde sua origem, que a de permitir que se formem castas de líderes sindicalistas, sustentados por esse tipo de recurso extraído do trabalhador, muitas vezes para esses líderes nada entregarem em troca aos seus verdadeiros donos. E olhe, que o imposto absurdo, apenas formou ao longo da história a figura do pelego e a prática do peleguismo.
Pior, com o imposto sendo pago por todos, associados ou filiados aos Sindicatos ou não.
Um absurdo!
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Mas, uma coisa é admitir a necessidade de esse imposto ser discutido. Outra é o timing, a oportunidade de se colocar isso na midia, nesse momento.
Porque o motivo é apenas um: enfraquecer ainda mais os sindicatos - aqueles que iriam representar os trabalhadores em negociações coletivas. A onda de revoltal ao verem que o dinheiro do imposto que pagam nada os beneficia, iria levar a uma onda de desfiliação grande, nesse momento em que o povo está já suficientemente insatisfeito com tudo que andamos vendo acontecer no horizonte político de nosso país.
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Nem vou falar da proposta de reforma da Previdência, até aqui destinada a criar um ambiente de tal incerteza, medo e insegurança, que levaria as pessoas a optarem por correr para os planos de previdência privada, objetivo último de tanto escarcéu que vem sendo criado, de maneira imparcial, muitas vezes. Sem informações e estudos mais abalizados sobre a necessária análise das contas da Previdência.
Essa corrida aos planos complementares seria a forma de pagamento que temer deve ao outro grupo de seus apoiadores no golpe.
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Só que, enquanto isso não passa, até por conta das eleições e dos temores que medidas impopulares causam nessa ocasião, estaremos condenados a ver o início da entrega do país para os capitais estrangeiros associados aos interesses do capital maior nacional.
E não apenas sob a forma de facilitação das condições de novas concessões e privatizações, sempre em benefício do capital e não de seus usuários, a população brasileira. mas sob a venda e entrega já iniciada da exploração de gasodutos da Petrobras, anunciada na última sexta feira, pela bagatela de 5,2 bilhões de dólares.
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Até agora, embora reclamada por economistas que se situam no campo mais crítico, as medidas de desoneração, necessárias, não tinham sido sequer consideradas. E desse ponto de vista é muito bom saber que os técnicos da Receita já avaliam essa hipótese.
Vão rever a desoneração sobre a folha de pagamentos, a Lei de Informática, descontos de IPI para fabricantes de eletrodomésticos, bebidas, motos, bicicletas, eletroeletrônicos, etc.
Embora, tudo ainda esteja na casa das intenções, já que um interlocutor de temer já disse que "rever desoneração representa aumento de tributo para as empresas beneficiadas..." (citação da Folha).
Claro que o referido interlocutor, afirma que a discussão deve ser feita e alguns programas, revistos.
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De tudo, mais importante e o que eu queria destacar é que, a ideia e a discussão nasceu e vai se desenvolvendo dentro da Receita por seus técnicos, ou seja, pelos seus quadros de servidores do ESTADO. Todos funcionários públicos CONCURSADOS.
Aqueles mesmos a que Lula tenha se referido. Gente de maior gabarito e qualidade. Gente que pensa no que é certo e errado para o país e também para sua população. Gente que não vê apenas com a lente dos puxa-sacos subalternos aos interesses dos mais poderosos. Nem que adota uma posição de paternalismo sem fundamento qualquer, no sentido de ajudar aos mais fracos e oprimidos.
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Mas, técnicos bem formados nas áreas em que dominam e atuam no serviço público, cumprindo a contento suas tarefas.
Mas, ANALFABETOS POLÍTICOS, como os taxou Lula, por acreditarem que a elevação dos recursos estimada em 15 bilhões irá passar ou ser aceita, mesmo já com opiniões no horizonte de que o fim das desonerações representa aumento da carga de tributos. Ou seja o pato que os empresários não queriam de forma alguma pagar.
Será que esses funcionários que merecem toda nossa homenagem acreditam mesmo que temer irá aprovar ou dar curso às propostas que eles lhe apresentarem, nessa direção????
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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Lula: as falas e as mancadas de nossos políticos e porque não me serviu a carapuça. Pior para os funcionários é o projeto contra a corrupçao. E ninguém reage...

Já passada uma semana da apresentação feita por Lula, procurando rebater as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal de Curitiba,  com o messiânico procurador Dallagnol e seu ridículo power-point à frente, é possível agora realizar uma análise mais calma e imparcial da fala do ex-presidente.
É disso que passo a tratar agora, nesse pitaco.
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Para começar, devo dizer que durante toda minha vida profissional, tive a oportunidade de fazer e ser aprovado em diversos concursos públicos, valendo recordar - e citar - o Vestibular, quando fui aprovado para o curso de Adminitração de Empresas da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, no início da década de 1970. De lá para cá, fui aprovado também no concurso de Agente Fiscal de Tributos Estaduais, da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, em 1985; no concurso de Professor Assistente do Departamento de Economia da FACE-UFMG, no mesmo ano de 85; e, posteriormente, para o cargo de Analista (denominação dada hoje) do Banco Central, em meados de 1990.
Apresento a lista, para deixar claro que sempre fui funcionário público, de carreira, concursado, daqueles que estudaram e se formaram e fizeram um concurso público, conforme a menção feita por Lula em seu desabafo, algo destemperado e influenciado por violenta emoção.
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Mas, confesso que, como funcionário público de carreira, e apesar de ter a opinião de que Lula, como várias pessoas em várias outras ocasiões da vida cotidiana, tenha cometido o mal maior da generalização, não me senti agredido ou ofendido. 
Melhor seria dizer que a carapuça não me serviu. E, embora entenda o zelo que muitos colegas barnabés como eu, tenham por nossos cargos e funções, o que os levou a reagir, acho que a reação foi muito mais motivada por questões ideológicas que por um sentimento verdadeiro de ofensa.
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Para começo de conversa, acho eu, e comigo grande parte de analistas que andei lendo, que Lula não estava se referindo a toda a categoria dos funcionalismo, mas apenas aos procuradores, responsáveis pelo show pirotécnico de acusações baseadas não em provas, mas em meros e muitas vezes frágeis indícios e convicções.
Confesso que não li a denúncia e suas mais de uma centena de páginas com o rol dos alegados indícios. E não o li por ter tomado conhecimento de que grande parte dos fatos que a compunham terem sido resultado de delações premiadas. Delações cuja  veracidade é, para dizer o mínimo, muito questionável, dadas as circunstâncias em que elas se dão ou às informações que vazam e chegam até nós pela mídia.
Para citar um exemplo: que eu me lembre, desde o primeiro instante, e desde a primeira delação premiada negociada e aprovada pelo Judiciário, acompanhamos, surpresos, vazamentos dos conteúdos o que é completamente inusitado, já que pelo que somos informados, todos os depoimentos acontecem sob sigilo, para não acarretar a perda dos benefícios negociados.
Mas, quando foi a vez de Léo Pinheiro, presidente da OAS, e os diretores da empresa fazerem seus acordos, antecipando o que tinham para revelar, o Procurador Geral, Janot suspendeu a delação e as negociações em curso, justamente por ter havido vazamento para a imprensa.
Ou, pelo menos, a irritação despertada pelo fato de parte das revelações virem ao conhecimento público foi a justificativa para que o depoimento fosse desconsiderado. 
Claro, como presidente de uma das principais empresas de engenharia envolvidas nos escândalos da Lava Jato, Léo Pinheiro tinha muito mais a informar que apenas suas relações, ainda que espúrias, com Lula. 
Tal qual a Odebrecht, é forçoso reconhecer que muito mais gente, muito maior quantidade de políticos e partidos foram citados na delação, o que poderia aliviar o espírito de demonização do PT, necessário naquele instante, em que o impeachment ainda estava sem decisão.
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Pior é que não se tratava de vazamentos envolvendo apenas políticos, mas outras altas autoridades, algumas vinculadas ao próprio sistema judiciário do país, mesmo que é preciso, a bem da verdade, dizer que, mais uma vez, as acusações denunciadas em manchetes pelo lixo que é a veja, não mereceriam qualquer consideraçao. Apenas teriam que dar margem a investigações mais aprofundadas, tarefa a que o MPF de Curitiba parece não ser muito afeito.
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Ainda para mostrar como temos que tratar com cautela as tais denúncias delatadas, não foram poucas as vezes que vi manifestações, pela midia, de que apenas interessam aos procuradores da Lava Jato os elos com Lula e o PT. Qualquer revelação que diga respeito a outros partidos ou a outros políticos, ensejam imediata mudança de rumo das perguntas e inquirições feitas pelo pessoal concursado do MPF.
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Não desejando me alongar ainda mais, foi o deputado Edson Moreira, delegado mineiro e deputado pelo PR que, da tribuna da Câmara, no dia da sessão de cassação de eduardo cunha, mencionou que a prova testemunhal é considerada, no Direito, a prostituta das provas. O que mostra que pagando bem... 
Com todo o respeito que me merecem as profissionais da mais antiga ocupação do mundo.
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Mas vamos às declarações de Lula, no dia posterior ao da apresentação em rede nacional, ao vivo e a cores, do amontoado de pretensas convicções dos procuradores, em outro show, agora protagonizado por Lula.
Sim, porque não há como não admitir, apesar do tratamento completamente desigual dado pela imprensa, principalmente a televisiva, ao evento, que também Lula não perdeu a oportunidade de protagonizar um show. 
E se as redes de televisão foram unânimes em destacar as pesadas acusações gratuitas disparadas por Dallagnol contra Lula, reconheçamos que foram unâmimes também, em deixar muito patente que a tal entrevista coletiva que Lula anunciara para se defender foi apenas um discurso emocional, que não apresentou qualquer argumento válido em sua defesa, e que, uma vez findo, não deu espaço para qualquer pergunta feita pelos jornalistas presentes.
Assim, como se vê, a nossa imprensa continua como sempre, dando apenas um lado da realidade, distorcendo como deseja e para seu proveito a sua principal missão: informar.
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E o que Lula disse foi que, às vezes, parece que o governo passa, os representantes eleitos pelo povo passam, como se fossem uma locomotiva e seus vagões, em desabalada carreira, enquanto o grupo de funcionários públicos, comparados à estação de trem estão sempre lá, presentes, constantes, parados e, impessoais, já que a impessoalidade é princípio fundamental do exercício da atividade pública.
Lula não disse nada de mais. Apenas reconheceu que os funcionários públicos, concursados que são, não são funcionários de qualquer governo, mas do Estado.
Aliás, há várias carreiras que são consideradas típicas de Estado, justamente para deixar claro que sua função e competências não podem se deixar nortear senão pelo bem público, essa quimera. Pelo interesse público. 
No serviço público, não se encontram trabalhadores dedicados a fazerem proselitismo político, nem é cabível a ideia de que algum partido poderia, enquanto passa pela estação do governo, aparelhar a máquina pública. Simplesmente porque em regimes democráticos, mesmo os de coalizão, e desde que o PMDB não exista para se perpetuar nas tetas do poder,  há a alternância de poder. Alternância que, às vezes não se dá a cada quatro ou oito anos, mas que não pode ser desconsiderada.
Aliás, só lembrando, foi o Sérgio Motta, ex-ministro das Comunicações de FHC quem primeiro falou em ficar vinte anos no poder.
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Desta forma, se os funcionários não devem favores a qualquer partido ou político, ao menos aqueles que são de carreira e não os ocupantes de cargos em comissão, por definição temporários, não há porque acreidtar que possa mesmo haver aparelhamento, senão temporário. 
Ora, amparados pelas leis que lhe asseguram estabilidade, os funcionários podem até mesmo se rebelar e descumprir ordens e decisões adotadas e que firam os preceitos do comportamento ético e legal.
Logo, aqui uma primeira observação: quem mais ofende o corpo de funcionários é Lula, que admite que os funcionários são autônomos e têm a consciência da perpeituidade de sua função ou aqueles que sempre alegam, como os órgãos de imprensa e até certos partidos e políticos, que os funcionários agem em defesa de seus interesses pessoais e não os do público?
Claro está que, seres sociais que são, os funcionários têm suas preferências políticas, como têm as religiosas, esportivas, sexuais, etc. Isso é da vida.
Mas é forçoso reconhecer que ao trabalharem e decidirem em equipe, muitas vezes seria no mínimo estranho que alguma decisão fosse tomada com a plena aquiescência de todos da equipe. E que as decisões eivadas de traços pessoais não fossem denunciadas.
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Lula falou disso, em minha opinião quando afirmou que: 
O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e tá com um emprego garantido para o resto da vida",

O que é verdade, sem contestação.E Lula prosseguiu em sua fala afirmando, especificamente em relação ao pessoal de Curitiba que foi quem estava falando no dia anterior, no show que proporcionaram:  
“Ontem eu vi eles falarem dos partidos políticos, dos governos de coalisão, vocês sabem que muita gente que tem diploma universitário, que fez concurso, é analfabeto político”, declarou. “O cara não entende do mundo da política. Não tem noção do que é um governo de coalizão. Leia mais sobre esse assunto 

O que também não há como negar ser verdadeiro. Até porque, especialmente para agirem com isenção e impessoalidade e imparcialidade como se exige das ações dos funcionários públicos, em especial dos que atuam na área da Justiça, como os procuradores, mesmo que tenham convicções políticas, não podem se deixar guiar por tais ideias.
Nesse caso, de estarem atuando em uma investigação, devem sim agir como analfabetos políticos, ou seja, que apenas verificam e fazem valer o império do Direito e da Lei, independente de ser o partido A ou B, o político C ou D. 
Para ter condições de exercerem seu papel, o cara não pode mesmo entender do mundo da política e de seus conchavos. Tem que se pautar pela ignorância em termos de tais acordos, muitos dos quais criminosos. 
E, ainda bem, eu concluo, que os funcionários públicos não se deixam ou não deveriam se deixar levar por entendimentos do mundo da política, essa feita com p minúsculo.
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Mas, façamos uma concessão ao discurso de Lula, ele falou corretamente da situação que, muitas vezes é a que ocorre, de projetos e ideias e propostas e ações que são decididas em instâncias superiores, e que não são implementadas, dormindo nas gavetas de burocratas nas repartições, apenas por ferirem interesses de toda ordem, de tais servidores. 
Lula não mentiu quando tratou dessa questão. A própria Ciência Política é pródiga em estudar e há uma infinidade de trabalhos destinados a analisarem e até mostrarem como lidar com o problema que é chamado de fase de implementação das políticas públicas. 
Esse é um problema que atinge todo o mundo, todos os países, todos os regimes, não sendo privilégio do Brasil.
E ele existe e, muitas vezes, é o responsável por ideias positivas e propostas de ação muito boas se tornarem completamente fracassadas na prática. E muitas vezes é mesmo o concursado de segundo ou terceiro escalão que é o causador de tamanho estrago.
E Lula também está certo, ao afirmar que, muitas vezes os ocupantes de cargos de menor prestígio, acabam tendo mais poder que os ocupantes de cargos superiores.
Isso não é mistério para ninguém e lembra a anedota contada para falar mal do funcionalismo público - não inventada por Lula, diga-se de passagem - que o leão solto na repartição não teve sua presença percebida, até que um dia se alimentou não dos funcionários comuns, mas da moça do cafezinho.
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Honestamente, quem conta e divulga esse tipo de anedota está valorizando o funcionário público mais ou menos que Lula?
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Mas se a fala de Lula não agradou aos funcionários, o que pode ser compreensível, não dá para entender o porque toda a imprensa saiu comentando e repercutindo tal fala, exceto para criar um ambiente desfavorável ao político petista. 
O que é desnecessário. 
Porque enquanto estive na ativa do serviço público, o que pude ver e sentir e ouvir foi colegas comentando que Lula não gostava de funcionários públicos. 
A ponto de ter cogitado de enviar um plano para o Congresso, que manteria congelados os salários dos funcionários, em bases reais, por mais de uma década. 
Lula nunca gostou ou manifestou apreço pela autonomia e independência dos funcionários, assim como vários funcionários mais graduados que se aproveitam dessa regalia, mas querem impor aos seus coordenados sua vontade própria, sua visão particular. Sem discussão. 
E quantos de nós, no Serviço Público não trabalhamos já com tais chefes????
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A fala de Lula dá margem também para tocarmos na questão da meritocracia. Afinal, nada mais meritório que passar no funil do concurso público, 1 em 30 mil, para mostrar a competência pessoal e o nível elevado de qualificação.
Ou não?
Quantos passaram em concursos, por genialidade, e se tornaram péssimos funcionários por apresentarem um nível de capacidade muito superior àquela demandada para o exercício das funções. E quantos nessa situação não acabam se frustrando, com todos os problemas daí decorrentes, para a própria pessoa, para o ambiente, para os colegas, etc.
Quantos não passaram por algum rasgo de sorte e não de competência, embora cada vez mais essa situação tenda a não ocorrer?
E que méritos há em um bacharel que se forma, e se candidata em um concurso para o qual é muito bem aprovado e, acomoda-se ao longo de 30 e tantos anos  de exercício de uma mesma atividade rotineira?
Será que o mérito se mantém mesmo que embotado e não aprimorado?
Será que o mérito é definitivo ou é circunstancial? Temporário? Passageiro?
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Em minha opinião, o que Lula fez de pior foi o elogio, da forma que o fez, da classe política, 
"Eu de vez em quando falo que as pessoas achincalham muito a política, mas a profissão mais honesta é a do político, sabe por quê? Por que todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto."

Antes uma observação, dadas falhas de sua dicção, alguns jornais, o Globo, por exemplo, trouxeram posição no texto acima, onde Lula falou em profissão. Pouca diferença faz. 
O que o presidente queria dizer talvez fosse que o político, por maiores que sejam as acusações contra ele, e mais constantes, deve sempre dar satisfações à sociedade e a seus eleitores, sob o risco de não obter sua reeleição. 
Certo. Isso é correto. E se ele se apresenta à luz do dia, em público para pedir votos, sendo passível de ser cobrado ou acusado, deve ser dado a esse político o benefício da dúvida. A presunção de inocência. De forma que sua imagem e carreira não possam ser  corroídas por maledicências. Boatos. Imputações por convicções e não comprovadas. 
Tudo isso é muito bonito, não fosse Lula ter se emocionado e ter se entusiasmado. Até soltar uma bobagem ao estilo de Ademar de Barros. 
Tipo rouba mas faz
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Não sei se foi isso mesmo que Lula quis dizer, mas foi o que está dito. E não há defesa para tal bobagem. Note bem, em defesa dos políticos, porque não vi, honestamente, qualquer ataque ou ofensa ao funcionário público que, com orgulho,sempre fui.
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Mas como nossas visões estão cada vez mais turbadas pela nossa ideologia e nesse momento, pegarem uma frase, mesmo que infeliz e completamente indefensável, vale para que todo o tipo de ódio seja destilado, vale apenas lembrar que Lula não foi o primeiro, nem será o último presidente  ou político a falar mais que o devido. 
Para mostrar isso, e enfim, comentar a necessidade de todos dosarmos também nossas criticas e reações a discursos inflamados, posto abaixo a frase que, dita por Fernando Henrique não causou, na mídia tanta repercussão.
O ex-presidente tucano referia-se à necessidade de reforma da Previdência, tal como hoje, necessitando que fosse fixado um limite mínimo de idade. Mas ele soltou em discurso contra aqueles que cumpriam seu tempo de contribuição e se aposentavam com pouca idade que: 

Não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos num país de pobres e de miseráveis 


Vagabundos, por estarem em pleno gozo do seu direito reconhecido de ter um ócio, depois de tanta contribuição dada ao país e à sua construção!!!
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Agora. vamos ser justos e coerentes. 
Porque tanta reação de funcionários em relação a Lula e ao que ele disse a respeito do concursado?
E quem sabe aqueles que estão mais raivosos e reajam com mais indignação não sejam os que tenham apoiado a proposta do MPF de medidas para combater a corrupção, já sob análise do Congresso.
Porque, em minha opinião, o tal projeto é mais agressivo a todos os funcionários indistintamente, cometendo o mesmo erro de generalização que imputei a Lula, no início dessa postagem. 
Senão vejamos, o texto abaixo, transcrito da proposta conforme apresentada no site do MPF:

Outra proposta é a previsão da possibilidade da realização de testes de integridade, isto é, a “simulação de situações, sem o conhecimento do agente público ou empregado, com o objetivo de testar sua conduta moral e predisposição para cometer crimes contra a Administração Pública”. A realização de tais testes pode ser feita por órgãos correicionais e cercada de cautelas, incluindo a criação de uma tentação comedida ao servidor, a gravação audiovisual do teste e a comunicação prévia de sua realização ao Ministério Público, o qual pode recomendar providências. O pressuposto desses testes não é a desconfiança em relação aos agentes públicos, mas sim a percepção de que todo agente público tem o dever de transparência e accountability, sendo natural o exame de sua atividade. A realização desses testes é incentivada pela Transparência Internacional e pela ONU.

O texto por sua clareza dispensa maiores análises.  E o que ele faz é considerar, embora negue, que não se trata de desconfiança. Apenas simular situações para verificar e testar a conduta moral do agente público...
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Bem, se isso não é desconfiança, então mais uma vez as convicções de Dallagnol e seus colegas vão na direção oposta a de minhas convicções. 
Mas, admira-me que esse texto não tenha merecido, ao chamar todos os funcionários públicos de ladrões em potencial, não tenha merecido a divulgação, a repercussão, a reação, ou o repúdio de tantos que agora se voltam contra Lula. 
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Para mim esse texto me ofende muito mais que as bobagens ditas por um Lula destemperado e entusiasmado.
É isso. 

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Deixo para tratar depois a classificação do Galo na Copa do Brasil, por um lance de oportunidade, contra um adversário que foi melhor todo o tempo e que foi desclassificado por um capricho do futebol. Uma injustiça.
E mais uma vez uma partida de péssimo futebol a ser creditada na conta de Marcelo Oliveira, o técnico que, junto a Tite é uma das maiores frustrações minhas.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Espetáculos de Curitiba na procuradoria. Lula e suas moradias sempre dos amigos. E o Galo vendo a oportunidade passar...

Menos de um mês do golpe do impeachment, e apenas 8 dias da cassação de Cunha, e olhando "pelo retrovisor", parece que já se passou muito tempo desde que esses eventos, de suma importância para a história de nosso país.
Não sem motivo. É que, seguindo um cronograma que dificulta a compreensão e as motivações da sequência ou da ordem dos eventos, e de sua oportunidade, os procuradores de Curitiba e a mídia já fizeram na quarta feira mesma da semana passada, surgir outro tema para ocupar as manchetes sequiosas de novidades, dos jornais e telejornais.
A impressão que tal situação nos transmite é a de que tudo não passa de uma orquestração, para que o surgimento de um fato novo tivesse o poder de retirar da mídia, da atenção da opinião pública qualquer traço dos fatos anteriores, permitindo em alguns casos, que não se aprofundasse as discussões, causas, motivações e consequências, e em outros casos, não se aprofundasse as investigações, as sanções, deixando que, ao cair no esquecimento, a impunidade tivesse espaço, sorrateira, para se revelar.
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No presente caso, menos que a questão do não aprofundamento das ações de Cunha, e da cobrança e maior detalhamento das investigações, capazes de culminarem com uma condenção sua, mais célere, ou da discussão ainda do acordo que permitiu o fatiamento do impeachment de Dilma, e suas penalidades, creio que há duas questões que ajudam a entender o surgimento de um fato novo imediato. 
Trata-se de se tentar lançar mais fumaça no ambiente político, tentando desviar a atenção da opinião pública em relação ao golpe, ao seu principal beneficiário, o usurpador temer e seu governo de araque. Sem legitimidade, sem apoio, e capaz de adotar os mesmos comportamentos de sua antecessora, essa ao menos consagrada nas urnas.
Com tudo que aconteceu, o fragiliizado governo representante dos grandes interesses dos capitais nacionais associados aos internacionais, governo postiço e sem apoio, pode já apresentar aos brasileiros um pacote de concessões cuja preocupação principal é tão somente agradar e facilitar a vida para os grandes empresários, já que as novas regras mostram muito mais a preocupação em assegurar a taxa de remuneração desejada pelos interesses empresariais; em dar maior prazo para que as obras, por exemplo, de melhoria, conservação e manutenção ou até mesmo de reformulação de trajetos de estradas possam ser executadas; em permitir que as empresas que já estavam gerindo concessões anteriores, e ISSO É IMPORTANTE, não conseguiram cumprir com sua parte no acordo financeiro, tornando-se inadimplentes em relação aos pagamentos das parcelas das concessões possam voltar a se candidatar às novas oportunidades.
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De um ponto de vista, isso é muito bom e positivo: mostra o porque do governo Dilma ter sido acusado tantas vezes de ser intervencionista. 
E de fato era, se aceitarmos que impor aos interesses dos empresários a preocupação com a população brasileira, é uma afronta que um governo faz a quem o elegeu.
Ora, o que Dilma fez foi não permitir que a taxa de rentabilidade dos negócios fosse aquela desejada pelos donos do capital, caso para alcançar tal resultado, pedágios fossem cobrados de forma extorsiva, por exemplo.
E todos sabem, não há como negar, as privatizações de estradas feitas pelo governo dilmista tiveram a determinação de cobrança de pedágios muito mais reduzida que as relativas às privatizações, quem sabe privatarias tucanas.
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Bem, não vou aprofundar muito esse tema. Para tratar dele, apenas lembrar uma frase de Cunha, referindo-se ao fato de que o pacote de concessões do governo usurpador é comandado por Moreira Franco, aquele mesmo que nas palavras do deputado cassado, Fernando Henrique não confiava para que ficasse à frente de qualquer projeto semelhante, que envolvesse concorrências.
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Não sou eu, é Jânio de Freitas quem por várias vezes, com publicações cifradas em pequenos anúncios de grande circulação nacional, adiantava os resultados das concorrências, licitações etc. patrocinadas pelo governo Moreira Franco no Rio.
Situação a que Jânio fez menção há pouco tempo, em sua coluna, na Folha.
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Mas, com o espetaculoso show dos procuradores messiânicos de Curitiba, nada disso teve espaço para ser objeto de discussão e análise. 
Todo o espaço foi dedicado à apresentação de um grupo de procuradores que se descuraram de seu principal trabalho: constituir um processo e denunciar o responsável em juízo, a partir de provas e não de adjetivos, convicções e crenças.
E isso não significa que esteja aqui comprando a versão de que Dallagnol não tinha provas, apenas convicções. Mas, ele tinha indícios e não mostrou provas, exceto a de delações que também elas carecem de mais documentos que as corroborem.
De Dallagnol, reportagens recentes mostram seu lado mais que religioso, fanático, como membro de igrejas evangélicas que transformaram o ex-presidente Lula, em fonte de todo o mal que conspurca a política, e a vida comum de nosso país.
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Em outras ocasiões, até mesmo com provas documentais hábeis, coletadas em processos em que fui alocado para trabalhar em meu emprego, em várias ocasiões concluíamos nossa tarefa, encaminhando "notitia criminis" ao Parquet, que era quem deveria examinar se as provas constituíam mesmo material aceitável ou se dever-se-ia aprofundar as investigações. 
Mas, com os procuradores de Curitiba não. Eles não coletam, nem apresentam provas. Basta que utilizem suposições carregadas de adjetivos de alto poder de criar comoção. Basta que haja toda uma mídia desesperada em obter matéria, verídica ou não, para poder vender seus jornais ou os espaços de propaganda entre os programas noticiosos.
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E essa postura dos procuradores nem se explica pela proximidade das eleições municipais, agora na primeira semana de outubro. 
O espetáculo conta apenas com uma justificativa em minha avaliação. É criar todo um show para ganhar espaço na midia, para ocupar a atenção de tantos quantos acompanham o dia a dia da política no país. A finalidade é criar material para que os sites e redes sociais possam ter material com que entupir as caixas de mensagens de muitos e, com isso, conseguir criar um clima tal que impeça ao juiz Sérgio Moro, também ávido por luzes, câmeras e ação, de não acatar a denúncia mesmo inepta, e não arquivar o pedido por falta absoluta de provas.
Ou seja, a Sérgio Moro, o herói de ocasião do país, não restará outra opção salvo aceitar, mesmo contra suas convicções, as convicções de Dallagnol tornadas já verdades absolutas graças ao sopro divino que elas carregam.
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Quanto a Lula, a quem não tenho qualquer motivo ou procuração para defender, exceto uma consciência de que todos têm que ter seus direitos preservados, em uma sociedade democrática, apenas gostaria de lembrar que nosso ex-presidente sempre morou de favor, durante toda sua vida.
Foi assim com a casa em que morava quando de sua primeira candidatura, no longínquo ano de 1989, quando se descobriu que residia na casa emprestada por seu grande amigo, creio que empresário, Roberto Teixeira. É assim agora, quando mora em uma cobertura emprestada por primo de Bumlai. É assim com o sítio em Atibaia, ou o triplex em Guarujá.
A história é sempre muito interessante e pouco verossímel, mas a julgar por sua trajetória de toda a vida, no mínimo há que se analisar porque, ainda antes de ter poder e quem o quisesse cumular de favores, ele já recebia tais prebendas.
Mas, aqui é que entra o MP. Deveria se socorrer dos funcionários do Banco Central, se fosse o caso, e partir para comprovar se o filho de Jacó Bittar foi efetivamente quem  fez o pagamento da compra do sítio. Deveria solicitar na Receita Federal, o exame das declarações de rendimentos dele e de seu sócio e amigo, para verificar se tinham renda suficiente para adquirem o imóvel em Atibaia. Deveriam verificar se houve pagamento de Marisa, de fato, no imóvel da Cooperativa Habitacional, conforme ela alega e se havia renda suficiente para tal compra.
Entretanto, isso tudo dá trabalho e, embora a compra por Marisa possa mostrar mudança no modus operandi de tratar com suas habitações, por Lula, pode chegar em algo que não renda flashes e luzes, e notícias.
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Voltando ao espetáculo dos procuradores de Curitiba, que apenas podem ter o efeito de comprometer a imagem de seriedade de toda a categoria, colocar Lula como o chefe máxiimo do propinoduto que teve início, conforme declarações de Barusco antes de Lula chegar ao governo. Falar em propinocracia e ligar a Petrobras ao mensalão e outros escândalos, deixando de incluir Furnas, e outras privatarias, serve apenas para questionar se Lula tinha mesmo tanto poder que, apenas candidato eterno e derrotado, ele era capaz de indicar quem os nomes e estabelecer todo um esquema de corrupção. Até mesmo em Furnas... onde o governo Aécio é que tinha maior responsabilidade.
Então, chamar Lula de o comandante supremo e o líder da maior facção criminosa que assumiu o poder político no Brasil é dar-lhe um poder que creio ser incapaz de estar enfeixado em sua pessoa e mesmo nos seus companheiros. 
Afinal, não foi Lula quem comprou votos com a reeleição, dando início ao esquema de compra de deputados, e menos ainda quem começou o mensalinho mineiro. Não foi Lula quem indicou seu filho para chefiar a representação brasileira em Frankfurt, em exposição lá acontecida tratando entre outras coisas, de apresentação da cultura brasileira. 
Ou seja, Lula foi tratado não como alguém que, ao invés de não compactuar com o que viu, e mandar investigar e punir, apenas deu sequência nas práticas nefastas e criminosas. 
Daí a elegê-lo o chefe supremo é apenas por confusão de sua imagem, com aquela de quem tentou Jesus no deserto. 
O que é bastante criticável e fora dos padrões de comportamento republicanos.
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E continua o Galo em desabalada queda

E Marcelo continua escalando mal, promovendo mudanças que não rendem para o time e esperando que a genialidade de seus jogadores seja capaz de resolver seus problemas. 
Até vi, no Estado de Minas, o comentário, na edição de hoje, dia 20 de setembro, que Marcelo muda muito o padrão de jogo, não mantendo uma certa regularidade.
Acho que isso é elogio. O problema, em minha opinião, é que ele não conseguiu definir um padrão de jogo. Não há um meio campo nem que seja combativo, nem que saiba sair jogando e armando as jogadas. O ataque embola, e a defesa, desguarnecida é das mais vazadas do campeonato não por que o time é todo ataque. 
Porque pode até jogar mais avançado, mas dizer que é todo ataque, com peças que não se entendem e não se encaixam é brincadeira.
Só um exemplo, para mostrar  toda a responsabilidade de Marcelo em tudo que o Galo está passando de ruim e perda de oportunidades: contra o Sport, Robinho sequer ficou no banco para ser poupado, em função de todo o desgaste que vem tendo. Em minha opinião isso era apenas desculpa. Ele não foi para o jogo apenas para não levar o terceiro amarelo, e ficar fora do clássico. 
Pois bem, descansado entrou no clássico em que pouco rendeu, ficando bem abaixo, em minha avaliação de Otero e Clayton, por exemplo. E saiu no meio do jogo, por estar cansado. 
Afinal, estava ou não descansado?
Onde a coerência?

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A queda de Cunha: o primeiro embuste, e a queda do Galo

450 votos puseram fim, no dia de ontem, a uma personagem e a uma das páginas mais tristes de um Congresso que, desde há muito, devemos convir, não prima por um comportamento ético, digno, decente.
Talvez eu até pudesse afirmar, em complemento, não tratar-se de um Congresso digno da representação do povo brasileiro. Mas não!
Queiramos ou não, e por mais que não gostemos, o Congresso é a justa representação do povo que, apesar dos discursos de Miguel Reale Jr, é sim o povo do jeitinho, da malemolência, da gambiarra, do querer levar vantagem em tudo. Um povo que se acha mais esperto que qualquer outro, e que, por tal característica, está sempre acreditando que nasceu para se dar bem, mesmo que às custas de ações espúrias.
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Enganam-se, em minha opinião, os que acreditam que o problema do Congresso é permitir que os analfabetos tenham voz e voto e possam ser representados. Enganam-se os que acreditam que para falar em nome de pessoas humildes, pobres, às vezes sem esperança e perspectivas, é preciso saber, é preciso fazer uso daquele idioma considerado a última flor do Lácio, inculta e bela. Nada disso é necessário, contudo.
Basta conhecer o dialeto do sofrimento, da luta dos oprimidos e explorados, da luta  e do grito dos excluídos.
Não são de bacharéis, de "doutores", de pessoas de alta linhagem e plumagem, que o Congresso precisa, como muitos acreditam, bem intencionados. Mas, como diz o ditado: de boas intenções o infermo está cheio.
E mesmo com boas intenções, as pregações por exigências mínimas de escolaridade, por exemplo, para ocupar um espaço, para ter um assento em nossa Casa Legislativa, não passa de uma forma de manter mais elitizada e menos representativa dos interesses dos menos favorecidos nossa representação política.
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Pior, muito pior, são os doutos, os sábios, os espertos, os Cunhas e seus esquemas de corrupção, conchavos e ameaças e chantagens.
Afinal, quantas pessoas e até mesmo, quantos deputados, com formação superior ou não, têm capacidade para operar em escala internacional, tratando com instrumentos sofisticados e agentes mais sofisticados ainda, como são os trustees.
Ainda ontem, em sua coluna da Folha, Márcia Dessen comentava das dificuldades que pessoas com algum domínio de noções e conhecimentos de aplicações financeiras, enfrentam ao decidir por aplicações alternativas às aplicações em caderneta de poupança, como são os CDBs - Certificados de Depósitos Bancários, ou LCAs ou LCIs, as Letras de Crédito, respectivamente do Agronegócio, ou Imobiliárias.
Ora, explicava a professora de Finanças Pessoais, são tantas as variáveis a serem consideradas, desde a taxa negociada com a instituição financeira, até as taxas cobradas de administração, até o fato de a aplicação contar ou não com isenção de imposto de renda, ou o volume e prazo que o dinheiro fcará aplicado, que não é absurdo que a maioria das pessoas comuns optem por deixar seu dinheiro na poupança.
Que diga-se de passagem, embora a mais simples, é uma aplicação que vem perdendo para a inflação a cada mês.
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Mas Cunha não. Cunha, mesmo não sendo dono de conta no exterior, é o sócio fundador de um trustee que operacionaliza, em nome dele que é o administrador final, recursos cuja origem não tem qualquer explicação plausível, exceto aquele da corrupção, em contas no exterior, mais precisamente, na Suíça.
Não à toa, Cunha foi duas vezes considerado réu pelo Supremo Tribunal,  em processos relacionados à operação Lava Jato, citado que foi em depoimentos de delação premiada.
Nâo à toa, ao saber de sua função e de seu cargo na Telerj, ainda no governo Collor, Itamar quase se descabelou, quase perdeu o topete, promovendo sua saída do cargo, por conhecer seus métodos e comportamento.
E curioso, assim como Renan, o próprio Collor, passado aquele período da nossa República, está de volta no panorama político, e com força, poder e a manutenção dos mesmos métodos de ação de sempre, o senhor Eduardo Cunha.
Mas, isso apenas até ontem.
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Derrotado, depois de um discurso cheio de ameaças veladas e acusações nas entrelinhas, 450 deputados acabaram pondo fim ao reinado de, talvez o último déspota, esse não esclarecido.
Dos 150 ou mais deputados que tinha sob seu controle, ou como se diz popularmente, "tinha em seu bolso" apenas 10 votaram a favor de seu chefe. Outros 9, de forma envergonhada, também votaram a favor de Cunha, abstendo-se de o condenarem explicitamente.
Dentre esses, o deputado delegado Edson Moreira, de Minas Gerais, que em meio a uma série de citações de personagens históricas, que incluiu Júlio César e Brutos, Tiradentes e Silvério dos Reis e o Visconde de Barbacena, e um discurso confuso, declarou que seu voto seria pela abstenção, já que "in dubio pro reu".
Mais que o voto envergonhado, por mostrar que de fato não leu o processo- como Cunha acusou aos deputados em seu discurso -, ou se o fez, não entendeu o que estava lendo, Moreira mostrou a falta total e completa de coerência. O que no caso de alguns deputados, ele inclusive, não é nada de se admirar, já que para Cunha, que admitiu aproveitar do trustee e dos resultados de suas aplicações, cabia a dúvida.
Mas, para Dilma, a presidenta não. Para Dilma, o crime de responsabilidade que nem mesmo os promotores responsáveis admitiram ter existido, não havia a aplicação do benefício da dúvida.
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Sai Cunha acusando Rodrigo Maia, o governo, a rede Globo e o PT, por terem tramado sua cassação.
Se essa figura desprezível tudo fez para adiar seu julgamento ao máximo, a ponto de terem sido abertos os procedimentos que culminaram com sua cassação ontem,  muito antes do processo de Dilma, a rigor um processo necessariamente mais demorado e mais sério! Se o processo mais grave de deposição de uma presidente eleita por 54,5 milhões de pessoas, resolveu-se entre dezembro e agosto, no prazo de 8 meses, enquanto o seu processo, cheio de manobras e manipulações, durou ao menos 11 meses?
Cunha tudo fez para cassar Dilma, na crença que receberia o prêmio de ter dado o governo à oposição golpista e a um vice sem votos e sem legitimidade.
Alegar agora que a data de marcação foi prejudicial a ele, responsabilizando Rodrigo Maia, é dar importância muito grande a quem não tem e nem ocupa essa posição de protagonista.
Afinal, em minha visão, a data foi marcada exatamente para que não houvesse quorum, como o próprio Maia admitiu: que não iria abrir a sessão se o número improvável de mais de 420 deputados não fosse atingido.
Isso, em plena segunda feira, como lembrou Cunha, a uma semana e pouco das eleições.
Era para adiar mais uma vez a votação para depois do pleito municipal. Mas, aí entrou a Globo e seu poder de influência, acertadamente apontado como inimigo por Cunha.
Esqueceu-se o ex-deputado que a Globo tritura a todos que têm poder e que, por tal motivo, podem antepor alguma resistência a suas vontades e desejos.
A Globo não luta por qualquer politico, nem os defende. Foi assim com Collor contra Lula, em 89 e depois, ao abandonar sua criação, em 92. Foi assim com Cunha. A Globo, visando apenas seus interesses e os de seus parceiros, os representantes do grande capital, etc. apenas faz é sugar as pessoas, até que, nada mais havendo para extrair delas, já exauriidas, as lança fora, como bagaço.
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As eleições alteraram o resultado, como alega Cunha?
Provavelmente sim, levando-se em conta o próprio número de deputados - perto de 50, que o deputado cassado afirmou em entrevista, serem candidatos às eleições municipais e, por isso, preocupados com a reação de seus eleitores não votaram de acordo com suas consciências, mas de acordo com interesses políticos.
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Culpar o PT, por ter sido ele o responsável pela sua queda do poder, é no mínimo um contrasenso. O PT tudo fez para anular o golpe do impeachment, além da falta de crime de responsabilidade, pelo vício de origem da abertura do processo: a aceitação por Eduardo Cunha. E apenas por que o PT recusou-se a aceitar a chantagem de Cunha na Comissão de Constituição e Justiça.
Simples assim.
Dizer que o PT deu o golpe, é no mínimo, uma tota e completa inversão de valores e de fatos históricos.
Mas, de Cunha, um mentiroso contumaz e que se acredita acima de tudo e todos, nada causa mais surpresa.
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Resta agora que perdeu o foro privilegiado aguardarmos para verificar quanto tempo levará para que o juiz Moro vá chamá-lo a depor em Curitiba, se o fizer.
E então para comprovarmos se Cunha irá mesmo contar o que sabe como ameaçou ontem, em livro, ou em mais um dos espetáculos de delação premiada.
Delação que talvez nunca se concretize, assim como o livro, provavelmente sempre nos estágios de provas finais, para servir como a salvo conduto desse político corrupto e desonesto, além de achacador.
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Página virada, infelizmente ainda ouviremos muito desse traste, embpra esperemos que nas notícias e páginas policiais.


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O Vexame do Galo e de Marcelo

Desnecessário alongar-me muito no tema. O placar para um Fluminense com campanha completamente instável, já é suficiente para dar uma dimensão do vexame.
Interessante é que, antes do jogo, comentava com um amigo, o Rodrigo, atleticano doente, que eu estava pessimista. Não estava levando fé no time, cantado em prosa e verso como o melhor, ao menos de elenco, no país.
Em minha opinião, exposta aqui outras vezes, Marcelo está ultrapassado. E como dizem os comentaristas das praças de Rio e São Paulo, ele não tem condições ou não tem mostrado ter-se atualizado para poder comandar um time com tantas estrelas. Assim, parece que pega os medalhões, que não podem ficar de fora até pelo que ganham e coloca tudo junto e misturado. Matando o futebol de uns, pela falta de adequação à posição, ou pela exigência de que cumpram papéis que não têm condições de cumprirem, louvada sua boa vontade.
Faz isso, para que os atletas não fiquem trombando entre si, ocupando os mesmos espaços em campo, em que estão acostumados a jogarem.
De resto, o time não marca ninguém, fica só cercando e recuando. Mesmo com Donizete em campo, ainda assim, não tem que dê o bote, para desarmar o adversário. Fica recuando, recuando, e vendo o ataque contrário ir entrando tabelando, triangulando, trocando passes, até nossa área.
Rafael Carioca, como já afirmei aqui é craque. Mas, de 50 passes que executa, a maioria é lateral, ou então pior, para o goleiro, que várias vezes acaba ficando na fogueira.
Mas, Dátolo, o armador do time, não entra. A opção é por Carlos Eduardo. Na defesa, Edcarlos tem a preferência, como no jogo de ontem.
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Ah! saudades de um tempo em que Marcelo ainda era auxiliar de Levir e que, com a dispensa do treinador, assumiu como interino. E em jogo contra o Fluminense, manteve o ritmo forte de marcação alta do ex-técnico, e fez 3 a zero contra o time carioca.
Dia de jogo marcado pela apresentação de Leão como substituto de Levir, e em que o ego do ex-goleiro levou-o a afirmar que desceu aos vestiários para dar orientações que ajudaram o time na vitória conquistada.
Naquela época Marcelo, ainda não vitorioso, parecia ser um estudioso. Não o acomodado que tem mostrado ser atualmente.
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E muita gente achou que o jogo contra o Vitória foi um jogaço e que o Galo estava no rumo certo.
Olha, para vencer o Vitória, com todo o respeito que o time baiano me merece, ter de passar o sufoco que nós passamos é muito para minha cabeça e meu coração.
Não vi o time merecer ganhar do Vitória  naquele jogo, e ontem, os últimos 20 minutos do primeiro tempo a que pude assistir, me levou a me questionar porque ganhávamos o jogo por um a zero. Placar completamente injusto.
No pouco tempo que pude assistir ao jogo, não vi uma jogada do Galo, nem um ataque, apenas um chutão. E dá-lhe Fluminense, de Levir, o técnico que ainda tem muito a ensinar a Marcelo.
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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A covardia do golpista e como essa sua característica ajuda a que ele seja a pessoa certa para o lugar de servilismo em que ele foi posto

Dia em que se comemora a Independência do Brasil e data escolhida para a abertura das Paraolimpíadas, esse 7 de setembro foi marcado pelo comportamento do golpista, usurpador, que ocupa o Palácio do Planalto desde a votação do impeachment de Dilma: comportamento covarde, de quem tem medo de enfrentar a verdade e a vida.
Comportamento, aliás, que já havia sido demonstrado quando da data de abertura dos Jogos Olímpicos no Rio, quando ele sorrateiramente entrou no Maracanã e, ali permaneceu, sem que sua presença fosse anunciada pelo sistema de som, para que o usurpador não fosse vítima de vaias.
Vaias que ele não conseguiu evitar, quando teve que, de forma quase inaudível e acanhada, declarar a abertura do evento.
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Acreditava eu que o comportamento do nosso Boris Karlof pudesse se modificar, uma vez empossado no cargo, e alcançado o objetivo com que tanto ele sonhou em toda sua carreira, sempre às sombras, sempre de forma subreptícia, como convém a quem não mostra respeito pelo povo e pela democracia. 
Afinal de contas, nada muito diferente das histórias da Transilvânia onde os verdadeiros, autênticos e até simpáticos Dráculas viviam. Hoje nosso Drácula é tão notável quanto um protozoário, talvez uma ameba. E não fosse pelo golpe iria permanecer assim, insignificante até os dias atuais.
Mas, aqui é que está o problema e o grande perigo. Ao ganhar espaço para agir, nosso protozoário ou ameba ganha o mesmo grau de periculosidade que aqueles do interior do corpo humano. E têm potencial para trazer dores e sofrimentos de mesma intensidade.
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Talvez essa a explicação para mais um de seus ataques de protagonismo, na verdade, apenas mais um faniquito. O terceiro de que tenho memória. Senão vejamos: começou quando ainda golpista envergonhado e na interinidade, bateu à mesa para dizer que conhecia e sabia lidar bem com bandidos. Declaração desnecessária para quem foi presidente do PMDB tanto tempo, e político de bastidores (onde os golpes são tramados e postos em prática). Continuou depois, quando já vitorioso o golpe de que ele e seus asseclas foram partícipes e beneficiários, reuniu seu ministério de machos: afinal, mulher só sendo belas, recatadas e do lar... (e tem mulheres que, na ânsia de defender o golpe, já que no fundo a questão era, seja como fosse possível, tirar o PT do poder publicam referências à presença de Marcela no desfile de 7 de setembro, como para comprovar que o país mudou para melhor. Agora as mulheres sabem se comportar, são bonitas e os maridos sabem falar português, escorreito. E depois ainda reclamam das mulheres estarem sendo tratadas como objeto!). Mas, como eu ia dizendo, reunido o machistério, o golpista disse de forma enérgica que não ia mais tolerar ser chamado de golpista. 
Entendi que chamá-lo de golpista é bulling!
Quanto ao terceiro dos ataques, vem quando promete remeter, indo contra toda a sua base e partidários, uma reforma da previdência ao Congresso, mostrando que, para ajudar a resolver os problemas do governo e do país, não se curva. Faz o que é necessário. Mesmo que impopular. Mesmo que avisado de que não o seu projeto corre o risco de trazer derrotas para seus aliados.
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No entanto, como das outras vezes, esse terceiro faniquito que visa demonstrar seu arroubo e coragem é apenas mais um ato de obediência, mais um ato de vassalagem que ele presta ao PSDB, o partido derrotado nas urnas em 2002, 2006, 2010 e até 2014, justamente por causa de propostas como as que o usurpador agora promete aprovar.
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Sabe-se, e toda a imprensa comenta, que toda a coragem de nosso golpista é tão somente mais uma vez, curvar-se aos interesses poderosos que o PSDB representa, ligados aos grandes grupos de capital financeiro e, no caso específico aos interesses dos planos de previdência privados ou complementares, conisderados, em todo o canto do mundo um dos mais rentáveis negócios do mundo, gerindo valores em quantias exorbitantes. 
Embora derrotado nas urnas, o PSDB escamoteia a realidade para poder chegar à conclusão de que a Previdência Pública está condenada a desaparecer, e se nada for feito, os déficits crescentes com que se defronta, irão se tornar impagáveis.
Fazendo cálculos onde considera apenas as diferenças entre benefícios pagos e contribuições recolhidas, mostra que já de muito tempo, o governo tem posto dinheiro dos impostos pagos por toda a população para saldar os compromissos com apenas a parcela, hoje relativamente menor, de aposentados e pensionistas.
Invertem pois, a questão, já que se fosse para obedecer a Constituição de 88, as fontes de financiamento da Seguridade Social seriam compostas de uma série de tributos que, não sendo destinadas para sua finalidade primeira, acaba apenas fazendo caixa para o governo e permitindo que o governo pague juros da dívida pública exorbitantes. Ou pior: conceda incentivos, subsídios, ou conceda desonerações para empresários se locupletarem.
E, para não ser injusto, essa situação das contas que não são apresentadas de forma correta não é de agora, vindo já desde Dilma pelo menos, já que o presidente Lula, em certo instante de seu mandato, chegou a afirmar que todo problema da Previdência não era rombo, mas um problema de encontro de contas,ou correto registro.
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Mas, sem muita delonga, será que nesse déficit da conta do governo, que não é a forma que a Constituição manda efetuar o cálculo, será que as sonegações da contribuições de empregados e patrões estão consideradas?
Por que estudo do IPEA recente, conforme publicação da revista Carta Capital da última semana de agosto último, mostra que não apenas a FIESP não quer pagar o pato. Ela nunca gostou de pagar. E creio que pouco pagou em toda sua história. 
Afinal, só de dívida ativa, informa a revista, são 1,4 trilhão de reais. Supondo-se que a maioria da população brasileira não tem renda para tanto, já que apenas 71 mil pessoas, alcançam renda mensal de 4 milhões ( o que permitiria sonegação em alto montante), o que representa no conjunto 8,5% da renda familiar, é de se supor que, pelos dados apresentados pela revista, os 99,95% do resto não teria renda suficiente para tamanha sonegação.
Assim, é justo acreditar que são empresas, não as pequenas, as que mais devem ao governo. E, dessa dívida, 252 bilhões de reais são já transitadas em julgado. Ou seja, basta o governo mandar seus fiscais ou coletores para levantarem essa quantia. Sem qualquer problema.
Exceto um: o de ter que ir cobrar e receberr de seus financiadores, dos seus patrões, de seus amigos, em se tratando do PSDB que, por isso mesmo, escamoteia os números e a situação previdênciária.
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Sempre disse que é necessário sim, discutir-se medidas na Previdência, afetada pelo aumento da longevidade e da preocupante, em nosso país, alteração da pirâmide populacional por faixa etária.
Mas não assim, como querem o PSDB, para poder arrecadar mais, gastar menos, a curto prazo, e ter mais recursos no governo para assegurar o pagamento de juros da dívida pública, cujos titulares são os amigos do PSDB.
Vá lá: os bancos e interesses financeiros são amigos também de Lula, Dilma e do PT. Mas aqui há que se reconhecer que esses ex-presidentes e sua turma têm também alguns amigos em outras classes sociais. 
O que justifica toda a ação engendrada para tirá-los do poder, com seus 54,5 milhões de votos, para colocar quem apenas consegue ser amigo da turma da banca ou do dinheiro. 
Ou seja: os donos do poder, como já disse antes, e repito, cansaram de ter que dar migalhas aos demais grupos de interesses financeiros e resolveram recuperar sua hegemonia, colocando lá um boneco de cera. 
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Nesse sentido, quanto menos o boneco tiver coragem melhor para ser manipulado.
É o caso de nosso golpista que chega de carro fechado na Parada de Sete de Setembro, entrando no palanque de forma despercebida, por medo de vaias. 
Vaias que mesmo nas Paraolimpiadas e onde o golpista for, não serão evitadas.
É isso.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Redes sociais e as bobagens que ela permite veicular, provando que o maior problema do país é a falta completa de coerência.

Análises mais acuradas, mais aprofundadas deverão, um dia, vir à luz para mostrar as consequências - em minha opinião, mais nefastas que posiivas - da possibilidade infinita de difusão de informações, comentários, opiniões, etc. que a tecnologia digital, a internet com o advento das redes sociais, permitiu alcançar.
Admito até que várias pesquisas e estudos já têm tratado do tema, o que obriga-me a reconhecer minha ignorância.
Mas, independente desse reconhecimento, e da minha impotência que me leva a admitir não ser mais possível alguém saber, estar informado e conhecer de tudo, sou obrigado a manifestar que uma das piores consequências de tanto avanço, e tanta democracia, é o fato de que a internet e redes sociais deram oportunidade de que pessoas que teriam muito mais a ganhar ficando caladas, puderam ter um espaço - algumas até "ouvidos" para compartilhar suas opiniões.
E antes de que me acusem de qualquer coisa, já tomo a dianteira para dizer que não acredito que eu seja uma exceção e que minhas opiniões passassem incólumes de críticas.
Sempre pensei e externei a minha consciência de que estamos todos no mesmo barco. Em todos os sentidos e em todos os temas, desde sociais a qualquer outro conteúdo.
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Dito isso, fico estarrecido de ver opiniões serem publicadas, de quem acreditava coerente, pessoas que acreditava serem sérias, dotadas minimamente de alguma lucidez, que negam tudo que eu acreditava ou pensava delas.
E nem vou dizer que isso se deve a meras divergências ideológicas subjacentes à interpretação, necessariamente antagônicas, da mensagem que o autor-transmissor desejava emitir em relação à que os receptores-ouvintes dela extraiíram.
Como se sabe, dada a parcialidade da realidade, sua interpretação e a verdade pode assumir várias faces.
O que não significa que a verdade não seja uma só. Mas indica que a visão parcial a enxerga e a  molda de infinitas formas variadas.
Com o resultado belíssimo e interessante de todos poderem ter razão e estarem certos.
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Deixando de lado qualquer digressão, e entrando direto no assunto.
Li ontem, em uma das redes sociais, alguém comentar que dizer que é golpe, a farsa da condenação sem crime de responsabilidade, a ponto de os farsantes senadores não terem tido a hombridade de levarem seu ato reconhecidamente injusto até o fim, fatiando a decisão em apenas mais um dos aburdos que cercam a todo o processo, é como dizer que o perdeu porque o juiz roubou.
Ok. Passemos à análise da metáfora esportiva ou melhor, futebolística. O que vai entrar nas estatísticas e na história será que o título, a honraria de ser campeão é do time beneficiado pelo escândalo. Não a injustiça, o roubo escancarado, o nome do prejudicado.Correto?
O que significa um aval, uma concordância com que tudo vale para que se chegue ao resultado desejado pela parte, fosse ela a melhor ou não, a mais justa ou não. A correta ou não.
Precisa dizer mais, para expressar a minha decepção em relação a quem manifesta tamanho impropério, e a quem eu tinha em alta conta. Inclusive de caráter e formação moral?
Ou a pessoa, distraída e querendo apenas poder manifestar seu posicionamento do lado vitorioso, por hora, não mediu, não avaliou o significado de suas palavras e pensamento. A extensão da interpretação de sua mensagem?
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Pois bem, engana-se quem acha que basta ser vitorioso e que a coroa de louros a tudo apaga ou consiste em salvo conduto para tudo. No futebol mesmo, e com exemplo do Brasil, mais se fala até hoje do desastre da seleção contra o Uruguai, na final de 50, no Maracanã.
Derrota que feriu tão profundamente nosso amor próprio que teve consequências, inclusive com a destruição de vidas, muito mais salientes.
Pouco se exalta a seleção vitoriosa e sua garra. Mas, a execração de Barbosa não deveria servir de exemplo para que os resultados de um jogo fossem encarados e tratados apenas como isso, o resultado de um jogo?
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E dos que gostam de futebol e são mais antigos, quem não ouviu falar do brilhante time da Hungria, derrotado pela Alemanha por 3 a 2, na final da Copa de 54?
E quem não reconhece ou nega que a seleção de Telê Santana, em 1982, eliminada pela campeã não ficou muito mais marcada na memória de todos os que gostam de futebol, para todo o sempre?
Assim como Cruijff passou para a história do esporte embora não tivesse tido a honra de levar sua Holanda e sua laranja mecânica a qualquer título?
E, já que sou atleticano, quem não se lembra e não comenta a vergonha que foi a partida Atlético e Flamengo em 1981, pela Libertadores, em que um bandido de apito foi capaz de fazer soprando lata, o que o excelente time do Flamengo não estava conseguindo em campo: derrotar o Galo?
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Vá lá que ganhar roubado é mais gostoso, ao menos para zoar o amigo, colega torcedor do time vencedor. Mas, eu interpreto a frase como sendo, no fundo, o reconhecimento de quem a menciona da superioridade do outro. Simples assim.
Uma vitória envergonhada como a dos algozes, golpistas, de Dilma.
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Outros, dizem que o atual ocupante do Planalto tem sim, legitimidade, já que fazia parte da chapa e foi eleito junto com Dilma. Logo, foi também sufragado pelos mesmos 54,5 milhões de eleitores de Dilma.
Para não entrar na infrutífera discussão de quem mais carreou votos para a chapa, se sua cabeça ou a figura obscura por baixo, tal qual o rabo do animal, vamos apenas nos perguntar, por uma questão de justiça: junto ao TSE, nas várias causas que visam até a anulação da eleição da chapa vitoriosa por problemas relativos às contas de campanha, porque o nosso Nosferatu repleto de botox pede a análise separada da prestação de contas sua?
Embora eu acredite que gilmar mendes, o magistrado que tem opinião e as expressa sobre tudo, irá agora paralisar a questão, já que levá-la avante não mais interessa. O resultado já foi conquistado, afinal.
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Mas, se a figura do mordomo que agora ocupa o Planalto, lá chegado por força de um golpe, teve os 54,5 milhões de votos e tem legitimidade, então, também é licíto dizer que ele, assim como a cabeça da chapa tinham um único programa de governo. Certo?
E se Dilma ao assumir o segundo mandato foi acusada de trair seus eleitores, adotando medidas que ela não havia defendido como sua plataforma, o mesmo não deveria valer para esse que agora chegou lá?
Ou Dilma fez um estelionato eleitoral, e agora aquele que nunca teve coragem para se apresentar, agora sob a justificativa de temer vaias, ao definir suas medidas, não está cometendo o mesmo delito?
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Aliás, vi na rede uma post de alguém com o retrato de Sarney e a faixa presidencial. Ao seu lado, Itamar e a faixa, e por fim, o retrato do atual ocupante, também com faixa. E a frase, todos têm em comum o fato de serem ou terem sido do PMDB, terem chegado ao mais alto cargo, sem terem vencido qualquer eleição.
Embora seja postagem de simpatizantes de Dilma, anti-golpe, não concordo veementemente com seu conteúdo.
Primeiro porque Sarney nada mais era que um trânsfuga, oportunista, de pior espécie. Semelhante àquele tipo de ratos que deixam o navio quando a água começa a tomar conta de seus porões. Foi assim que ele deixou o barco de seu PDS, para cair na chapa de Tancredo.
De mais a mais, a eleição era indireta, naquela época, tal qual a que colocou os outros dois no poder.
Mas, há uma diferença. A chapa de Collor e Dilma tiveram que passar pelo escrutínio popular. O que significa mais claramente que a investida de ambos foi contrária ao voto da maioria dos eleitores. Ao menos da opinião que os eleitores tinham quando da época das eleições.
Sarney foi beneficiário sim, de um golpe de sorte, ou de um golpe de forças maiores, como a morte de Tancredo.
***
Itamar não tramou contra o seu companheiro de chapa. O que já mostra diferença de caráter em relação ao atual.
E representou naquela época a derrota dos interesses do grande capital , inclusive do capital financeiro, e do capital internacional e o capital  nacional a ele associado.
Itamar era o representante dos interesses nacionais e, portanto, de interesses mais afetos a todo o povo brasileiro. Embora não sejamos tolos: não defendia, ao menos de forma exclusiva ou majoritária,  os interesses das classes menos favorecidas.
Já o atual chega como vassalo, menino de recado do capital empresarial da Paulista, e dos grandes interesses encastelados no mercado financeiro.
Só essas considerações bastam para mostrar o erro da postagem.
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Ainda aproveitando-se da velocidade de transmissão de informações, muito se alardeia, hoje, em relação à necessidade de que ajustes sejam feitos, no âmbito fiscal. E todos são unânimes em cobrar empenho do governo para aprovação imediata da lei que promove o congelamento dos gastos públicos, que poderão se elevar tão somente no mesmo percentual da inflação do ano anterior.
E, dada a manipulação da mídia e das grandes redes de televisão, essa ideia se espalha como se alguém tivesse ateado fogo em rastilho de pólvora. E passa a ser falada, discutida, apoiada, e cobrada até por quem nada entende de assuntos econômicos ou fiscais, ou de política econômica.
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O que acho uma incoerência gritante, já que ao mesmo tempo, todos criticam e lutam para desengessar o Orçamento. Aliás a própria emenda da DRU - desvinculação das Receitas da União, aprovada com elogios e comentários positivos de toda a imprensa não vai na direção contrária do engessamento da medida de contenção dos gastos?
Ou seja: todos sempre disseram que um problema da Constituição cidadã de 88 foi não dar espaço para o executivo decidir em que e quanto gastar, já que obrigado a seguir parâmetros congelados e decididos à priori pelo constituinte.
Sempre combateram a falta de espaço e graus de liberdade para que gastos de investimentos, necessários, fossem realizados, em função da escassez de recursos de uso discriminatório.
Mas, agora, como que por encanto, todos apoiam um engessamento ainda maior.
E tem gente postando essa ideia, sem perceber que tal proposta apenas representa a subtração da nossa pátria e dos recursos para atendimento das necessidades sociais mais prementes, de nossa população.
Como dizia a música Vai Passar de Chico Buarque de Holanda, "dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída..."
Ora, pessoas que antes se manifestavam contra o engessamento, agora mudam de lado sem perceber que o fizeram.
E acreditam que estão, com isso, mostrando seu conhecimento e domínio da realidade do país. E que estão contribuindo para a melhoria das condições por nós enfrentadas.
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Ou seja, falta coerência. O que é uma lástima.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Saudades ou nostalgia, de um tempo em que o Nordeste era celeiro reconhecido de nossos melhores valores humanos. E duas observações, sobre Lula e sobre Dilma.

Saudades de meu tio Acácio, irmão mais velho de minha avó e com quem tive o prazer de conviver por 15 anos. Foi em conversa com ele que ouvi pela primeira vez a história, causo ou lenda, a respeito do motorista de caminhão que mandou pintar no para-choque de seu veículo e instrumento de trabalho a frase “Não me importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar.
Dando uma checada no Google, pai dos burros mais modernos, verifiquei que a música gravada por Jorge Veiga, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira chegou a ser censurada, pelo caráter imoral de sua letra, em cujo primeiro verso, em troca do carinho de uma moça, um homem dizia que iria a pé ao Irajá, não importando nem que mula mancasse, já que ele queria era rosetar.
Consultando o significado de rosetar, constatei tratar-se de algo como esporear, ou sentar a espora.
No entanto, a palavra tinha um segundo uso, um segundo sentido, podendo também significar divertir-se muito, brincar, folgar, pagodear...
Na história de meu tio, impedido de entrar e circular em uma pequena cidade do interior, pelo prefeito defensor da moral e dos bons costumes, o motorista não quis afrontar a autoridade e mandou trocar a frase perigosa.
Ao voltar e entrar na cidade, seu para-choque tinha outra frase, mais respeitosa: “Continuo querendo”.
***
Saudades de um mineiro a quem não tive o prazer de conhecer, exceto por referências e citações sempre positivas, elogiosas, o político e ex-governador de Minas Gerais, Milton Campos. Talvez explique não o ter conhecido, o fato de ele ser da UDN, partido contrário àquele dos políticos mais relacionados a minha família. Razão porque aprendi a não nutrir muitas simpatias pela sigla.
Jurista de competência reconhecida, dele ouvi uma história curiosa e reveladora de seu bom humor. Segundo a história, estando ele voltando de Brasília para passar o fim de semana em sua terra, justo quando ocupava o cargo de ministro da Justiça de um dos governos da ditadura militar implantada no país, a aeromoça percebeu certo desconforto do ministro, que a todo instante mexia nervosamente no nó de sua gravata.
Solícita, aproximou-se e perguntou: o senhor está sentindo falta de ar, ministro?
Não, minha filha. Estou sentindo falta de terra.
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Mas a história que me faz recordar do ministro é outra. Diz respeito a sua decisão de exonerar-se do ministério, por não concordar e recusar-se a assinar um dos Atos Institucionais então lavrado pelo governo do general Castelo Branco, o Ato nº 2.
***
Saudade do político mineiro, político, ex-senador, empresário, ex-presidente da FIEMG, ex-vice-presidente da República no mandato de Luis Inácio Lula da Silva, José Alencar.
Vice-presidente que sempre mostrou lealdade, ao menos para consumo externo, da população brasileira, ao presidente Lula, a quem transferiu prestígio, e a quem serviu de avalista junto à classe empresarial.
Toda vez que, como empresário que era, achava um absurdo a taxa de juros básica adotada na economia brasileira, a mais elevada do planeta, não se omitia e, de forma franca, até mesmo dura, dizia aquilo que estava pensando. Sem subterfúgios. Sem falar pelas costas. Falando abertamente. Criticando às claras, a política econômica que, em sua opinião, asfixiava o setor empresarial e emperrava os investimentos.
Ao contrário de outros vices, que preferiram se omitir e ficar nas sombras, de onde não mereciam ter saído nunca. Tão frouxos e pusilânimes, que preferiram se enclausurarem, ficarem em obsequioso silêncio, até que surgisse a oportunidade para, não frente a frente, mas pelas costas, por meio da imprensa, poder manifestar seu desagrado com o papel supérfluo a que sua pequenez o reduziu.
Claro, preferível sempre manifestar-se fazendo uso da imprensa, já que sempre seria possível, depois e se necessário, alegar que foi mal interpretado ou teve suas palavras distorcidas.
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Saudades de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, homens que sempre batalharam por suas crenças, certas ou erradas. Sempre defenderam suas ideias, agradassem ou não aos setores mais privilegiados da sociedade. E por isso, foram ridicularizados, ou combatidos pela mais feroz e golpista imprensa de nosso país.
De Brizola, apenas lembrar de sua defesa intransigente da legalidade, que culminou na formação da Rede da Legalidade. Ou da sua briga vitoriosa contra a rede Globo e o golpe tramado para que o resultado de sua eleição para o governo do Estado do Rio de Janeiro pudesse ser alterado, no escandaloso caso Proconsult.
Antes, governador do Rio Grande do Sul, foi o governador responsável por tornar o estado gaúcho, o de menor grau de analfabetismo do país.
***
De Darcy, com quem tive o prazer de estar apenas uma vez, saudades do espírito lúcido, preocupado com a questão principal de nosso país. Conforme reconhecido por todos: a educação. Uma educação integral, para a cidadania.
Darcy foi o autor dos Cieps, uma das maiores ideias de educação no nosso país e depois ridicularizados pela parcela mais conservadora de nossa elite.
Foi também quem declarou certa vez que:
“Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. 
Tentei salvar os índios, não consegui. 
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. 
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. 
Mas os fracassos são minhas vitórias. 
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”
Esta a razão de ter sido citado por Dilma na tarde de ontem, no discurso que deu no Alvorada depos de destituída da presidência da República.
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Saudades de Celso Furtado, paraibano, nos livros de quem aprendi e passei a entender as raízes e razões, a partir de nossas origens, de grande parte das mazelas com as quais, até hoje como brasileiros, somos obrigados a conviver.
Saudades de Rui Barbosa, baiano, que em minha infância aprendi a respeitar como a Águia de Haia, e que tanto enobrece e é citado em nosso Senado.
Saudade de Clóvis Beviláqua, cearense, jurista , tido como um dos maiores civilistas, senão o maior de nosso país.
Autor do Código Civil que durou de 1916 até os primeiros anos do atual século.
Saudade de Chico de Oliveira, com quem convivi como seu aluno no curso da Fundação Getúlio Vargas, nos idos de 1977. Nordestino, também, do Recife e um dos fundadores da Sudene.
Saudade de muita gente do nosso Nordeste, que com garra e amor ao país e ao povo brasileiro, dedicou-se a analisar, entender e propor soluções para os nosso problemas e para redimir o sofrido povo brasileiro de toda a exploração a que foi submetido, ao longo de toda sua história.
Saudade, em especial, de uma época em que a nação reconhecia suas principais figuras, como as citadas acima, que sem ostentarem o título de heróis, foram verdadeiros merecedores de tal honraria.
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Nessa época, nem o Sul, também cheio de valorosos personagens, nem o Sudeste, acreditavam que eram melhores e que sua população era melhor e mais merecedora de benefícios e gratidão que o sertão ou semi-árido nordestino.
Época de que tenho saudade, porque o Brasil se via como um povo, uma história, um destino. E não como o tecido social que muita gente sem um mínimo de conhecimento da nossa origem e história acabam contribuindo apenas para tornar mais esgarçado.
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Pois vem desse Nordeste o ex-presidente Lula que, me parece, por ter realizado o sonho de vencer e alcançar os seus objetivos de muitos de nossos cidadãos de origem mais humilde e vidas mais marcadas por sacrifícios e lutas, tornou-se o inimigo público n° 1, a besta fera a ser caçada para saciar a fome de inveja de muitos de nosso país.
Querem caçar Lula, não pelo conjunto da obra, mesmo sendo ele o criador de Dilma. Caçam Lula não pelo fato de ter se locupletado ou roubado escandalosamente. Pode até ser que tenha mesmo motivos para que ele seja objeto de investigações severas.
Afinal, ninguém aqui é inocente ou tolo, a ponto de achar que ele estaria isento das tentações dos homens comuns, de se aproveitarem de momentos favoráveis, de prestígio.
Como não sou lulista, nem seu advogado de defesa, não sou eu que vou tomar aqui sua defesa a toda sorte.
Apenas manifesto que creio que, parte da população quer vê-lo em má situação, apenas por ele servir para todos como um exemplo da sua própria incapacidade. Ao partir de condições semelhantes de outros, e chegar em posições que os outros não foram capazes, Lula é a prova viva de suas incompetências. De suas fraquezas.
De outra parte da população, o sentimento é aquele devotado a todos aqueles que são considerados como intrometidos. Pessoas que não sabem reconhecer seu lugar e que penetram nos ambientes a que não deveriam ter acesso, para mostrar aos ali presentes, como é frágil o mundo, os valores e as proteções que eles acharam que teriam desenvolvido para garantia de seus privilégios.
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Lula torna-se a caça número 1. O alvo para o qual todas as atenções se voltam. Pode ser que, repito, até com razões para tanto.
Mas que é estranho que o comportamento manifestado contra ele, não seja o mesmo adotado em relação a outros políticos, sempre citados nas denúncias e também sempre com mal feitos abafados, não divulgados ou relegados ao esquecimento, isso não há como negar.
Nada contra pegarem Lula, se ele tiver culpas no cartório. Mas que não seja algo apenas contra um nordestino. Pobre, analfabeto, operário, seja lá o adjetivo que queiram lhe atribuir por sua origem humilde.
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Por fim, saudades da presidência de Dilma, encerrada ontem, em minha opinião sem razões suficientes, salvo a de ser arrogante, não agradar a ninguém, não ter diálogo, ser autoritária e mandona, até sem muita educação ou ternura.
Época em que o golpe ainda estava em curso, e eu podia referir-me a temer como usurpador.
Hoje tudo mudou. E agora, o cargo maior de nossa República tem novo ocupante. Em minha opinião um ocupante que o alcança diminuindo sua aura de respeito e consideração.
Mas agora, novo ocupante, a quem não posso mais referir-me no diminutivo. Razão porque não vou mais referir-me a ele, exceto como o ocupante do cargo. Sem citar nomes e dar-lhe qualquer reconhecimento.
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Só para concluir. A manutenção dos direitos políticos da presidenta deposta sob motivos não justificáveis ou aceitáveis, apenas mostra a covardia dos que votaram por sua queda, sabedores de que não havia motivos suficientes para tal punição.