quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Fux zombou de aecim? Ou deu-lhe a chance que, antes, ele não quis explorar? Afinal de contas, Que país é esse?

Ainda a respeito do pitaco de ontem, e de seu protagonista principal, aecim, embora para abordar o comentário feito pelo ministro (também denunciado em delações) Aloysio Nunes, coincidentemente também tucano, para quem o ministro do Supremo Luiz Fux zombou do senador mineiro.
Conforme o ministro, em minha opinião, um dos menos, senão o menos capacitado dos políticos para o exercício do cargo de chefe da diplomacia brasileira, em sua conta de twiter, o voto de Fux foi, digamos, uma afronta a seu correligionário.
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Antes de prosseguir, quero manifestar minha discordância em relação à análise de Aloysio do voto de Fux. Não vi qualquer deboche da parte do magistrado ao reconhecer que aecim, ao ser considerado suspeito de beneficiário de propinas vinculadas à JBS, logo pediu seu afastamento do cargo que ocupava de presidente do PSDB. Entretanto, seu ato inicial não foi seguido de outros gestos de grandeza, como o de ele mesmo, aecim, pedir o afastamento, ainda que temporário, de seu mandato no Senado.
Ao contrário, o senador pelo ... Rio?... ainda ocupou a tribuna para alegar que a gravação que todo o país ouviu, e em que sua voz é claramente perceptível, solicitando a bagatela de 2 milhões de reais a Joesley, era tão somente uma solicitação entre amigos, de um empréstimo para que ele pudesse resolver questões ligadas a imóveis de sua mãe.
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Nem vem ao caso que, o amigo da solicitação tenha virado, posteriormente, no julgamento do político, um bandido da pior espécie. Nem mesmo que o patrimônio de aecim e sua mãe devem ser mais que suficientes para cobrir qualquer necessidade financeira dessa magnitude.
Mas, choca a todos, e foi motivos de comentários vários, o fato de que o empréstimo feito pelo então amigo e escroque desde longo tempo, não pudesse ser feito às claras, à luz do dia, por meio de uma transferência eletrônica, uma TED, a forma de movimentação de recursos mais segura no nosso sistema financeiro.
Pior, a entrega do dinheiro, que parece não poderia ser documentada, para não ser comprovada depois, deveria ser feita não a qualquer pessoa ligada a aecim, mas a algum emissário especial, talvez pelo vulto da grana nas malas. O que fez aecim indicar como seu intermediário, seu primo, Fred.
E chocou muito mais ainda ao país que, ainda em meio à gravação, ficamos sabendo que o primo seria a pessoa mais indicada uma vez que, caso quisesse delatar, ele poderia ser morto...
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Ok, apenas uma brincadeira, mesmo que grave. Mesmo que feita em hora e local errado. Mesmo que mostrando o caráter - ou a falta dele- de quem pronunciou tamanho impropério.
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Então, ponderados todos os fatos, de amplo conhecimento público, dizer que aecim não teve a grandeza de reconhecer suas fraquezas e delitos, e que tampouco teve a grandeza de não continuar deixando que pessoas com sua ficha pudessem continuar enlameando a casa em que atuava, não tem absolutamente nada de zombaria.
O ministro Fux estava dando a aecim, a oportunidade que ele tinha e não aproveitou, de afastar-se do cenário político, para poder preparar sua defesa e... se possível, voltar depois, inocentado, por cima.
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Aloysio, que tomou as dores do comparsa, alegou que Fux não adotou o comportamento dos juízes da Roma antiga, para quem a figura do réu é sagrada.
Mas, quem foi que dessacralizou e vilipendiou a figura do réu no caso. Aquele que não reconheceu sua falha e permaneceu nos corredores do Legislativo, exercendo sua influência no sentido de livrar outros colegas, tão suspeitos de crimes quanto ele, nem digo punições, mas de abertura de procedimento de início de investigações, caso do chefe da quadrilha temer? Ou foi Fux, que apenas falou em alto e bom som que aecim teve um comportamento deplorável e indigno, com o povo que representa em especial e com a casa em que atua.
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Outra questão que gostaria de abordar tem a ver com uma situação que tem me incomodado, e que diz respeito à uma filosofia de comportamento que tenho visto ser cada vez mais dominante.
O que me leva à frase histórica proferida há muito tempo atrás, pelo então presidente nacional da Arena, o partido de sustentação da farsa democrática com que o governo da ditadura militar buscava esconder sua face autoritária e criminosa. Refiro-me a Francelino Pereira, o piauiense que, como prêmio foi escolhido bionicamente governador do Estado de Minas Gerais, que assombrado pelo fato de a oposição não acreditar nas promessas de abertura do presidente militar de plantão perguntou a célebre: Que país é esse?
Frase que foi imortalizada por Renato Russo, na música que é entoada nos show de rock de todo o país, e que ganha a sequência: é a porra do Brasil!!!
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Pois bem, vamos ao que me causa incômodo: o comentário feito pelos bons analistas esportivos do programa esportivo da ESPN, Linha de Passe.
Nos dias que antecediam o clássico entre São Paulo e Corínthians, em lugar de discutirem as táticas, as estratégias, as possíveis jogadas ensaiadas, ou os esquemas de jogo que poderiam ser utilizados pelos dois times, a tônica de parte inicial do programa preferiu privilegiar uma discussão sobre qual seria o comportamento de Rodrigo Caio no desenrolar do jogo.
Isso tão somente porque em rara atitude reveladora de caráter, questão obviamente de foro íntimo, o defensor do time tricolor foi até o juiz e confessou que fora ele e não o avante corintiano Jô quem havia se chocado em lance de jogo com seu colega, o goleiro Renan.
Como consequência de tal gesto, o juiz que havia dado cartão amarelo para Jô, o que valeria sua exclusão da próxima partida, voltou atrás e Jô ficou livre para participar da partida seguinte. Em que fez um gol, que valeu a eliminação do São Paulo da disputa do campeonato paulista.
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Ao que me lembro, Rodrigo Caio não agiu como agiu, visando algum tipo de elogio, nem público nem de quem quer que seja, agiu por questão de sua consciência. Mas foi duramente criticado por companheiros, até de time, por adversários, por jornalistas e por uma série de programas esportivos.
É verdade que, ao mesmo tempo, várias pessoas saíram em defesa da atitude de "fair play" do jogador, elogiando aquele comportamento tão necessitado de se tornar exemplo em um país em que tantos são os mal feitos, de corrupção a outras obtenções de vantagens indevidas.
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O exagero que cercou todo o episódio foi mais longe, assegurando equivocadamente a convocação do jogador, em péssima fase técnica para a seleção de futebol.
Um erro crasso, mas não o único, do tão badalado herói nacional, Tite.
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Refrescada a memória, e tendo Jô sido parte de lance de gol mal assinalado em jogo do Corínthians contra o Vasco, que deu a vitória e a manutenção da posição de liderança folgada ao time paulista, sem que o corintiano admitisse ter usado o braço indevidamente na jogada, o programa Linha de Passe gastou grande parte de seu tempo, discutindo que atitude teria Rodrigo Caio caso houvesse alguma jogada discutível na partida do fim de semana.
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Invariavelmente a questão foi se o jogador repetiria seu gesto - que se voltou contra seu time, ao final-  ou se aproveitaria da vantagem que pudesse obter durante o jogo, preferindo ficar em silêncio.
Sob comentários vários de que esse negócio de "fair play" não é apropriado ao futebol, e que isso está atrapalhando o jogo, sempre mais interessante em função das malandragens feitas por vários atletas em campo, o programa seguiu ou deve ter seguido discutindo se Rodrigo Caio repetiria ou não sua atitude de consciência.
Digo deve ter seguido por que não consegui continuar ouvindo um grupo de pessoas, cujas opiniões eu respeito, fazendo juízo sobre o caráter de outra, que nem estava presente nem poderia se manifestar, tirando conclusões talvez menos motivadas pela consideração e respeito com o ser humano Rodrigo (e não com o jogador, apenas) mas mais coerentes com os comportamentos que poderiam adotar, na maior parte das vezes, sob a lógica perversa de que, para ganhar, tudo vale.
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Abordo o tema, pelo incômodo que me causou, a ponto de mudar de canal, mas pelo fato de que, agora, depois da vitória de Merkel na Alemanha, começo a ouvir o discurso que me cheira semelhante.
Dizem que Merkel ganhou mais um mandato, mas foi uma vitória de Pirro, com o sabor amargo da presença de representantes de ideias e posturas de extrema direita no Parlamento do país. Algo que não acontecia desde o fim da II Grande Guerra, onde partidos de ideias próximas do nazismo foram banidos da política.
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Para alguns analistas políticos, a culpa foi da primeira ministra, e sua política de aceitação de refugiados de forma indiscriminada, que não foi bem aceita pela população ou parte dela, que preferiu dar perto de 20% dos votos a quem defende valores xenófobos.
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Ou seja, parece, nas entrelinhas, que Merkel deveria ter abandonado milhares de pessoas, a sua própria sorte, do que ter-lhes permitido tentar a sobrevivência, mesmo que de forma precária, já que fora de seus países.
Fica no ar a mensagem de que se você quer ganhar, deve se despir de todos os seus valores, passando a agir não como seria sua crença ou a recomendação de sua consciência.
O que me lembra a frase, se não me engano de Darcy Ribeiro, reconhecendo ter tido muitas derrotas, mas preferindo ainda assim não estar do lado vencedor em nenhuma de suas lutas.
É isso.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Punição de aecim, mesmo de forma light, é ótima notícia, mas péssima medida para o Estado de Direito

Tenho que admitir que, se ainda não chegamos, estamos chegando a um ponto em que as fissuras entre as pessoas, grupos sociais, classes sociais em nosso país estão ficando tão amplas que será difícil, no futuro, conseguir colocar as distintas facções sentadas a  uma mesma mesa, tentando negociar um mínimo que seja, que possibilite a construção de um novo Brasil.
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Não que  tal construção coletiva tivesse sido possível algum dia, em nosso passado caracterizado sempre pelos acordos espúrios de elite, feitos à revelia da grande maioria da população. Fato revelador,  por si só, de que a construção de um país, ou a conformação de um projeto para o país, sempre foi mero discurso vazio, quando não apenas uma oportunidade para alcançar uma nova acomodação das distintas frações das classes dominantes.
O povo mesmo, esse sempre ficou de fora de qualquer tratativa de se construir um país mais justo, mais igualitário, não um país de benefícios iguais para todos, necessariamente, mas ao menos de iguais oportunidades. 
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Ao longo de nossa história, o que vimos sempre foi o acerto destinado à manutenção de alguns privilégios dos senhores de engenho, desde que eles não viessem a interferir ou atrapalhar a acumulação de capital, riqueza e patrimônio dos barões do café. Ou a transformação dos barões do café na classe política dominante dos PR's dos primeiros anos de nossa República Velha. Ou ainda a substituição da hegemonia da classe vinculada ao capitalismo agrário, pelo novo capital industrial burguês, de cunho urbano, mais moderno e consumista, mas também ele, apesar de sua modernidade, capaz de manter os olhos fechados para a forma de exploração do trabalhador rural no campo.
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Embora Caio Prado Jr. tivesse tratado da dualidade brasileira no contexto dos interesses dos senhores de engenho, liberais para os contatos com o mundo exterior, mas escravocratas nos limites de seus domínios, juntando a modernidade com a mais atrasada e ultrajante forma de exploração do trabalho, que ao final das contas era o que lhe dava sustentação, percebe-se que tal dualidade nunca deixou de existir em nosso país, onde a classe mais sofisticada e moderna apenas consegue assumir até ares internacionais, em face da manutenção de suas absurdas regalias e formas de exploração íntimas ou domésticas. 
Situação que tragicamente apenas mostra a grandeza do intelectual que foi Caio Prado, tantas vezes esquecido. 
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Para não nos perdermos muito em questões históricas ou da formação econômica de nosso país, basta lembrar de como, mais recentemente, empresários nacionais se uniram a grupos de capitais forâneos e, amparados por militares de viés sempre conservador, acabaram abortando a possibilidade de participação de qualquer movimento popular na discussão e na construção de uma nação capaz de atender aos anseios de todos os seus filhos. 
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Ah! é verdade que sempre foi dito e vendida a ideia de que a participação da ampla maioria da população não seria possível, por sua falta de visão, de capacidade de percepção e análise da situação do país, de sua incapacidade de elaboração de um diagnóstico mínimo das agruras do país, tudo em função da falta de educação atávica de nosso povo. 
Em alguns casos, os mais cínicos inclusive alegando para explicar tal situação de falta de educação e formação de base, mínima para o exercício da cidadania, existência de uma característica inata de nosso povo, mais dominado pelo caráter indolente obtido de herança de nossos antepassados e suas tradições, fossem índios, negros, etc. 
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Mas, a verdade é que, se função primeira e maior de qualquer Estado Democrático, a tarefa de fornecer Educação para o povo sempre ficou na contra mão das prioridades listadas pelas classes mais capazes de elaboração de um diagnóstico e da apresentação de alternativas de solução para os problemas do país. 
Como se o fato de se passar fome e necessidades básicas mínimas não já capacitassem qualquer um, a ter condições de discutir os principais problemas de sempre, de nosso país: a fome, a miséria, a falta de oportunidade, o desrespeito, a negação do acesso às condições de produção (a negação do acesso aos meios de produção). Importante destacar que tal impossibilidade de acessar os meios de produção é uma das principais explicações para a decantada indolência ou preguiça do povo, que não quer saber de trabalhar ... para os outros. Embora se disponha a trabalhar em prol de seus próprios interesses. E, não apenas de seus interesses individuais, mas de grupo, os interesses da comunidade, como o demonstram os famosos mutirões - típicos das comunidades da periferia e tão pouco vistos nos bairros mais favorecidos. 
O que mostra que solidariedade não é um sentimento que se adquire nas melhores escolas do país, nem mesmo naquelas mais caras e famosas. 
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Também é interessante observar que, em várias ocasiões do dia-a-dia, a inteligência ou a percepção do ignorante formal, é a chave da solução para problemas que a técnica não havia ainda conseguido resolver, o que pode ser reconhecido por vários de nós, classe média ou de nível de educação superior, caso queiramos admitir que a ignorância formal não retira do ser humano a capacidade de contribuir, com soluções muitas vezes brilhantes até, para a superação de problemas de vários matizes. 
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Bem, estou me alongando, não respeitando como deveria o conselho dado por minha cunhada e leitora Neuza, para quem seria melhor que eu escrevesse textos mais sucintos, com maior frequência, para seu (dela) deleite. 
Prometo que vou fazer isso Neuza, encurtando os pitacos para dar a oportunidade de apresentá-los com maior constância. Alías, para ser honesto, para que os (poucos) amigos que me lêem possam terpaciência para saber, e discutir o que estou pensando. 
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Mas, em 1964 o conluio das forças conservadoras e voltadas para a acumulação do capital a qualquer custo impediu, pelas armas e pela implantação de um regime autoritário e de tortura apoiada pelo aparato de Estado, que as forças populares pudessem promover alterações necessárias - e já realizadas nas principais potências econômicas do mundo capitalista, como a reforma fundiária, de forma a permitir a inserção de toda uma ampla categoria de pequenos trabalhadores rurais, na chamada classe média. 
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O resultado, como se sabe, além de tortura, corrupção e ganhos econômicos indiscutíveis de elevação de produtividade e avanços da renda nacional foi uma brutal concentração dessa mesma renda, cada vez mais centralizada na mão de menor quantidade de pessoas. 
Não por acaso, as mesmas pessoas que, ainda hoje, têm renda  maior que a de mais de 95% da população. E, por seu peso e importância, têm tantos benefícios que são os que mais obtém isenções de impostos, de nossa vergonhosa e pesada - NÃO PARA ELES- carga tributária. 
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E aí, ao encerramento desse período negro de ditadura que agora alguns insistem em querer de volta, vimos mais uma vez o acordo de elites funcionar, para fazer os subversivos de antes, chegarem ao poder, Tancredo à frente, para assegurar que sua vitória não iria trazer qualquer mudança nas relações estruturais estabelecidas. 
Principalmente, que investigação alguma de quaisquer crimes, mas principalmente os cometidos por agentes do Estado (já que os porões da repressão já tinham feito a apuração de muitos dos crimes atribuídos aos que eram contrários ao poder instalado e seus objetivos) seria realizada e punição alguma seria adotada, por piores que fossem as ações e maiores os atos de horrores infligidos a  parte dos brasileiros, típicos de crimes contra a humanidade. 
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Mas, sem deixar de me referir ao golpe parlamentar desferido pelos mesmos interesses contrários à maioria do povo, e que não poderiam levar nada melhor ao poder que essa excrecência que atende pelo nome de PMDB e seu chefe, tratado pela Polícia Federal como criminoso, temer, chego ao verdadeiro assunto que me fez começar o pitaco hoje, a dificuldade de sermos minimamente coerentes com o que defendemos: a justiça e a liberdade típicas do Estado de Direito. 
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Porque por mais que não goste de Aécio, e o ache o bandido preferido das classes mais favorecidas, e por mais que ficasse muito satisfeito que ele fosse, finalmente alcançado pelas garras da lei, até para reduzir essa sensação que cada vez mais se amplia de que só se pune o PT e seus líderes, sem que outros partidos e siglas sofram as mesmas sanções, o problema é que não há razão alguma para comemorar a determinação do STF, que afasta aecim do Senado e que o impede de sair à noite. 
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E nem vamos ficar aqui repercutindo as anedotas todas que correm a internet, a pior das quais aquela que diz que o líder da Rocinha estuda se filiar ao PSDB para não ser preso. Tampouco a piada de que o STF deve ter achado que aecim está gripado: precisando de repouso e não tomar sereno. 
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Também acho que, nesse momento, é pouco importante lembrar que aecim, sem qualquer caráter como parece ter se tornado sua forma de agir desde sua derrota em 2014, foi um dos principais elementos incentivadores da votação do Senado que aprovou a prisão de Delcídio, mesmo sem ter sido flagrado cometendo crime, como manda a lei. 
Lembrar disso serve apenas para mostrar que o ditado que o povo consagrou em sua sabedoria convencional ou o senso comum costuma manifestar, de que o feitiço sempre volta contra o feiticeiro é um aforisma que mantém intocada sua força.
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Apesar de tudo e, confesso, até pelo fato de estar vendo, mesmo que por vias tortas algo de justiça ser feita, alcançando o playboy que pretende representar Minas Gerais no Senado, a verdade é que não é possível concordar com a decisão que pune aecim, pelo fato de ser contra a Constituição. 
Mesmo sem ser advogado, pelo que leio e ouço e ouvi, um político com mandato não pode ser afastado do cargo por crime que ele tenha praticado, se não flagrado cometendo o ilícito. No instante do flagrante. O que não se caracterizou no caso do político aecim. 
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Tivéssemos uma outra composição em nosso Legislativo, talvez esse político já teria perdido a prerrogativa de detentor de mandato, o que seria pedir demais a seus colegas, que teriam que cassá-lo, quem sabe por falta de decoro. 
Tudo bem. Na casa legislativa não temos homens para tal comportamento. 
Mas, creio, como o ministro Marco Aurélio, que não há previsão legal para o STF tomar a decisão de que ele foi voto vencido. 
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Como não poderia ter aceitado passivamente o golpe contra Dilma, mesmo que seu (des)governo fosse notório. 
O importante é que se não está no livrinho, como Getúlio se referia à Constituição, não poderia o Supremo se arvorar em legislador. 
Por mais que os legisladores não mereçam a função de criação de leis que é exclusiva deles. 
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Bom aecim estar sendo punido, embora de forma light. Ainda assim, perde mais uma vez o Brasil, a democracia e o Estado de Direito. 
E quem achar que está tudo valendo, porque algum tucano foi finalmente punido, mesmo que parcialmente, está adotando o mesmo comportamento, em minha reles opinião, de quem acha que ainda vale a pena ganhar com gol de mão, impedido, no último segundo do jogo, depois de o juiz dar todos os acréscimos relativos às paralisações do jogo, justos ou não.
É isso. 



terça-feira, 19 de setembro de 2017

Desnudando setembro, apesar do MBL e de sua censura. E pitacos sobre o nosso país nesse mês da primavera

Cada vez mais a impressão de que o tempo ganha cada vez mais velocidade e passa mais depressa deixa de ser um mero chavão para tornar-se uma sensação esmagadora sobre todos nós.
Mais uma vez, ainda ontem tive minha atenção chamada para essa impressão, quando uma colega observou que setembro já está entrando, praticamente, em seu último terço. 
E, tal qual a estação de chuvas, que se recusa a retornar à nossa realidade - já completados mais de 90 dias de umidade e aridez de deserto- também esses pitacos iam passando pelo mês que marca o início da primavera em branco.
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Culpa de uma certa fadiga de material, talvez? De pura e simples preguiça mental da minha parte? Da sensação de mesmice transmitida por nossa situação econômica, representada por uma lenta, e ainda não convincente recuperação, longe de dar sinais de ser sustentada. Ao menos enquanto os níveis de investimento não mostrarem alguma reação, o que depende de uma difícil eliminação da capacidade ociosa apresentada por grande parte de nossos setores produtores de bens. 
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Entretanto, tal cenário não impediu que o IBGE anunciasse, no primeiro dia do mês, um crescimento de 0,2% do PIB no segundo trimestre, tendo como base de referência o trimestre anterior, o que representa, no período de 12 meses, um crescimento de 0,3%.
Sinal de que, ao menos do ponto de vista técnico, o país finalmente deixou a recessão para trás, dado devidamente comemorado nos meios do governo e empresariais.
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As razões do crescimento foram atribuídas a uma reação do gasto em consumo das famílias, explicado por uma série de fatores, alguns dos quais do tipo "once and for all", ou seja, razões que não tendem a se repetir, tendo acontecido e se esgotado, bem como a seus efeitos. 
Exemplo deste fator de crescimento foi a liberação das parcelas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço que, além de auxiliar parcela da população a colocar "ordem na casa", acertando suas finanças e liquidando dívidas e obrigações, também contribuiu para que algumas famílias retornassem às compras. 
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Acredito importante lembrar sempre que por serem de mais curta duração, os bens de consumo - e não me refiro a alimentos etc.- tendem a se esgotarem pelo uso, exigindo uma reposição sempre necessária, a intervalos não extensos de tempo. 
Ora, depois de vários trimestres de indicadores indicando queda do nível de atividade, de queda dos níveis de emprego e renda, a possibilidade de acessar uma fonte de recursos inesperados sem dúvida nenhuma iria permitir a algumas das famílias beneficiárias da medida promoverem a substituição dos bens já em estado de total desgaste. 
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Claro que a própria possibilidade que as cotas liberadas do FGTS permitiram, de que compromissos financeiros fossem saldados e saneadas as finanças pessoais de muitos cidadãos, permitiriam a reinserção desses brasileiros ao mundo do crédito, o que alimenta o fluxo de gastos. 
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Adicionalmente há que se levar em conta que outros dois fatores, de caráter mais duradouro contribuem para explicar a elevação do consumo: primeiro, e mais importante, a queda da inflação, especialmente a queda dos preços de alimentos que permite a redução relativa do gasto com produtos essenciais, o que representa menor necessidade de alocação de recursos para tal finalidade e sobra de dinheiro para algumas outras aquisições de bens importantes. Em segundo lugar, houve um aumento do nível de trabalhadores com ocupação remunerada, não de emprego formal, mas ainda assim de pessoas que, talvez até no desespero partiram para "fazerem bicos", com remuneração que lhes permitiu elevar seu consumo. 
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Por outro lado, a inflação mantida sob controle permitiu a redução da taxa de juros básica da economia, que atingiu ao menor nível, 8,25%, desde 2013. Embora a redução da taxa Selic, como se sabe, demora a se manifestar em redução das taxas de juros cobradas nas operações de crédito das instituições financeiras mais triviais, se se soma essa informação à possibilidade de muitas famílias terem liquidado obrigações pendentes, reduzindo a inadimplência, pode-se estimar que tenha havido uma sequência do movimento de elevação do consumo das famílias, também nos meses de agosto e até setembro. 
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Razão talvez para o comportamento apresentado pela arrecadação federal, por exemplo, cujo resultado em agosto deve trazer surpresa positiva, apresentando crescimento bastante significativo, de 7,9%, quando comparado com o mesmo mês do ano passado. 
Conforme o "papa" na questão tributária, José Roberto Afonso, da FGV, a recuperação da arrecadação, se positiva e importante, não pode ser superestimada, principalmente por estar concentrada em poucos impostos e poucos setores. 
Refiro-me ao dado, anunciado hoje no portal UOL, por que a contribuição maior coube ao setor financeiro, bancos, principalmente, em movimento que mesmo surpreendente e inesperado, Afonso acredita se dever à reversão de provisões para devedores duvidosos, que permitiu aumento dos lucros do setor. 
Confirmada essa hipótese, a possibilidade de que o FGTS liberado tenha permitido a reinserção no mercado de crédito de milhares de trabalhadores, que passam a contar com acesso a novas operações, em consequência da redução da inadimplência ganha força.
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Fora essa questão, e a redução da taxa da Selic, a economia e as questões a ela relativas, sofreu o impacto das sequência de escândalos políticos, de que fazem parte, entre outros fatos,  a condução para o sistema prisional de Geddel, então em prisão domiciliar. 
O anão do orçamento, sabe-se agora, é também o homem de 51 milhões de reais, toda essa grana acondicionada em sacos plásticos, malas e caixas de papelão, em apartamento que era usado como um cofre forte, ao que parece pela família Vieira Lima. 
No episódio, ao menos há que se salientar que a mídia não fez qualquer menção ao fato de que 51, o valor encontrado, é sempre marca de uma boa ideia. 
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Em outra frente, tivemos as acusações - já que ainda não se tornaram delações-  disparadas por Palocci contra Lula, no depoimento prestado ao juiz santificado Moro, nas audiências que tratam da compra e doaçã, pela Odebrecht, de um terreno para o que seria - mas não se concretizou, o prédio sede do Instituto Lula. 
Dias depois, destemperado, Lula depôs ao mesmo juízo, despejando adjetivos nada amistosos em direção àquele que foi considerado seu braço direito por muitos. 
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Em minha opinião, contudo, nem Lula agiu de forma destemperada quando chamou a representante do Ministério Público de querida, um vício de linguagem peculiar a ele, nem quando questionou ao juiz se poderia dizer que estava em frente de um árbitro imparcial. 
Pelo que senti, ele fazia a pergunta a título de desabafo, não para obter qualquer resposta. E mesmo não gostando do juiz empinado e empombado, acho que o juiz não deveria responder ao depoente naquele instante. 
Se o fez, ainda mais tendo dito que condenara Lula por convicções - não por provas, só mostrou insegurança. 
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A segunda denúncia contra temer, o líder político do que se convencionou chamar de quadrilhão, foi mais um dos fatos que nenhuma novidade acrescentaram a esse nosso pobre e podre país. 
De há muito, desde antes do golpe até, temer já é notório líder de pessoas de extensa fama como Moreira Franco, o Angorá; Elizeu Padilha (ou Elizeu Quadrilha, como gostava de se referir ao político o ex-senador ACM); Geddel; todos com a exceção desse último, com foro privilegiado, por força de aceitação, pelos gilmares da vida, de atos de que apenas Lula deveria ser, como foi, privado. 
E nem listamos acima o amigo Lima, coronel da PM paulista, nem os amigos das docas, nem os Loures, mesmo que daí saiam 500 mil, com poucos louros.
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Outra novidade, a substituição já mais que esperada de Janot e seu bambuzal e flechas por Dodge, que a imprensa insiste em descrever como profissional avessa à ribalta, aos flashes midiáticos, mas que não se constrange em nas brumas da noite, ir visitar a um denunciado, em sua residência, em encontro, para não ser diferente, fora da agenda. 
Se é verdade que nada há mais desinfetante que a luz do sol, começa mal nossa nova PGR!!
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A respeito ainda dos dias finais de Janot como Procurador Geral e das trapalhadas por ele protagonizadas no período, quem sabe querendo achar desculpa para voltar atrás no prêmio concedido aos irmãos Batista, sou de opinião que, se as provas apresentadas na delação são de fato passíveis de serem utilizadas, então não há como, depois de obtê-las sob um acordo, voltar atrás e roer o combinado, mesmo que não concorde com o prêmio negociado na delação.
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Desnecessário ter de deixar claro, mas não concordo com delação que dá total liberdade para quem admite ilícitos cometidos, mas acho pior ainda, para as instituições do país, que um acordo fechado seja desrespeitado. 
Porque alegando-se que eles, Joesley, seu irmão e Saud, o executivo seu amigo comprometeram-se a falar tudo e que omitiram irregularidades, é algo que, em minha opinião é completamente abstrato. 
O que eles sabiam de irregularidades que pudessem falar? E que ficou demonstrado que eles sabiam, que era mesmo um ato ilícito e que esconderam para obter vantagens posteriores?
Complicado. Tanto quanto o comportamento de Moro, por exemplo, em relação ao doleiro Youssef, que não apenas mentiu, como depois de ter delação premiada acatada, voltou a delinquir. 
Ainda assim, o tratamento que lhe foi concedido por Moro foi objeto de muito menos críticas.
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Mas, também é verdade e deve ser ressaltado, que válidas ou não as provas, todos vimos e ouvimos temer o anão usurpador, afirmar que tem que manter isso aí, ou que Loures era homem de sua estrita confiança, quem sabe tão íntimo que capaz até de ter, em seu nome, corrido com uma mala repleta de dinheiro pelas ruas da capital paulista. 
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Finalmente, o mês de setembro traz a questão sócio cultural da exposição que o MBL resolveu censurar por ser contra a família brasileira. 
Além da mediocridade de ser simples censura, de revelar que nada entendem (nem poderiam entender) do que é o obra de arte e seu significado subversivo, e de querer cada vez mais ser, sem qualquer procuração os defensores da família brasileira, o MBL mostra apenas suas verdadeiras raízes. 
Tudo bem que ainda não chegaram ao mesmo comportamento de um Hitler, ordenando a queima de livros em praça pública, mas não resta dúvida que, pelo que pregam não estão muito distantes desse tipo de atitude. 
A mim parece, contudo, que sem darem esse passo decisivo para a agressão ao direito livre de expressão e da tentativa, pela força, de impedirem a pessoas maiores de idade e com livre arbítrio de irem e assistirem a exposições artísticas, apenas serão os zumbis do tradicional movimento da TFP, de trágica memória. 
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De minha parte, se não gosto da exposição prefiro não ir, ao invés de ficar mostrando todo o desconhecimento cultural, humanístico, que as pessoas que infestam as redes sociais com ataques à exposição de Porto Alegre demonstram. 
Sou favorável à exposição e, caso o Santander, que já mostrou a estreiteza do pensamento de sua direção - ao menos a regional, a traga para Belo Horizonte, faço questão de ir vê-la. Até para depois, caso seja o caso, eu ter elementos próprios para gostar e defender ou não o material de arte. 
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Em todo caso, fico apreensivo, se terei tempo ainda de ir visitar o Davi de Michelângelo, antes que o MBL consiga promover uma manifestação de tal monta, que obrigue o monumento a aparecer de cuecas. 
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É isso. Estamos de volta para concluir o mês que dá início à estação das flores.