quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pena de morte e crimes violentos. O que são? Quem os comete?

Errar, mas pagar com a vida pelo erro cometido, é um excesso.
Com tal pensamento, o segundo brasileiro acusado de tráfico de cocaína pelo governo da Indonésia, Rodrigo Gularte teve cumprida a penalidade a que foi submetido.
Não sei os motivos que levaram Rodrigo a optar pelo tráfico. Mas, convenhamos, sem ser careta, que por seu comportamento várias pessoas podem ter sido condenadas a pagarem com a própria vida. Apenas pelo erro de terem procurado uma diversão ilícita. E que nem tão divertida parece ser, no final das contas.
Quantos não perderam família, bens, saúde, amizades, consciência, a própria dignidade humana? E o fizeram sob o olhar complacente, a ajuda dos vendedores de ilusão. Que reduz tudo a pó (com e sem trocadilho!).
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Mas a frase dita como últimas palavras de Rodrigo, conforme relato do padre que o assistiu, serve à reflexão. Menos sobre a inconsequência do comportamento de Rodrigo, para quem parece que não caiu a ficha, de forma integral das possíveis consequências de seus atos.
Mas, desejando que Rodrigo Gularte descanse em paz, a frase nos leva a refletir com relação a outros tipos de crimes, que podem ter os mesmos efeitos ou até piores, e que por serem menos agressivos, pelo menos na aparência exterior, não seriam nunca apenados com a execução.
Refiro-me aos crimes de colarinho branco, de lavagem de dinheiro, de corrupção que são praticados por grandes banqueiros, empresários e que podem, mesmo desvestidos de uma característica mais agressiva, levarem à morte centenas de pessoas prejudicadas. Seja por perderem tudo que conquistaram ao longo de uma vida de trabalho e sofrimentos, seja por, doentes, não poderem contar com saúde pública decente, digna. Porque os cofres públicos foram saqueados de forma vergonhosa, como nos demonstram os casos recentes da operação Lava Jato, e a Petrobras e o metrô de São Paulo. Em todas as situações com o conluio e envolvimento de empresários, empreiteiros, banqueiros, a fina flor de nossa sociedade.
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Por outro lado, crimes dos mais pobres seriam, por força das características que a eles atribuímos, crimes necessariamente mais violentos. E merecedores de tal pena.
Como as pesquisas de consulta popular costumam indicar.
Mesmo sem considerar que tais sujeitos mais pobres, que nosso imaginário ou nosso preconceito e discriminação já nos levam antecipadamente a considerar como pessoas mais violentas sejam, em geral, mais vítimas de barbárie que seus autores.
Como mostram as várias chacinas de periferia, cometidas por justiceiros e milicianos, sustentados e pagos por gente de bem de nossa sociedade.
Uma vergonha e algo que merece nossa reflexão mais atenta.

Medidas econômicas que representam um tiro no pé

Deveria ser previsível o resultado muito ruim obtido pelas contas públicas no primeiro trimestre desse ano, correspondendo a um superávit primário de 4,49 bilhões de reais, menos de 10% da meta programada para todo o período.
Ainda assim o governo comemora, com o secretário do Tesouro salientando tratar-se de uma reversão importante nos números, já que fevereiro teve como resultado um déficit de 7,5 bilhões.
Considerado todo o trimestre, as receitas apresentaram queda de 4,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto a queda dos gastos foi bem menor, de apenas 0,8%.
Apenas em março foi obtido superávit de 1,5 bilhão de reais, contra 3,5 bilhões alcançados no mês em 2014.
Insisto que o resultado não deveria causar surpresa. Afinal, os manuais de macroeconomia costumam destacar que as despesas do governo costumam ser incompressíveis. Difíceis de serem cortadas, tanto do ponto de vista legal quanto do ponto de vista político. E pior, são gastos que uma vez não realizados em uma área, acabam provocando elevação de gastos posterior em outra área. 
Como por exemplo quando o governo corta os gastos com a conservação de estradas, o que contribui para a elevação do número de acidentes, acarretando maiores despesas com saúde ou com pagamento de benefícios sociais.
E é desse tipo de corte que estamos falando, quando se anuncia que os investimentos caíram 31,3%, sendo que a queda nos investimentos do PAC alcançou percentual ainda maior. 
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Mas, se as despesas não podem ser comprimidas como o governo desejava, as receitas apresentaram queda, mesmo com elevação da carga tributária, sinal evidente da retração que toma conta de nossa economia. E que já havia sido e tem sido prevista pela grande maioria dos analistas, que já projetam queda de mais de 1,2% do PIB para o ano. 
Cai o PIB, cai a renda, cai a arrecadação. E nem adianta querer aumentar alíquotas de impostos, ou eliminar as desonerações como o ministro Levy abordou em visita ao Congresso. 
Porque, ao aumentar a carga tributária, reduzindo a renda disponível das famílias, ou ao retirar as desonerações e, dessa forma, provocar algum tipo de elevação no preço final de alguns produtos, o que teremos é uma retração maior ainda da demanda agregada. Com direito a algum respingo sobre o índice de inflação.
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O que nos traz ao outro elemento importante de nossa conjuntura econômica: a inflação. E com ela, que dá sinais de resistência, a elevação das taxas de juros, dentro do receituário do Sistema de Metas de Inflação. 
Situação que levou o COPOM a, pela quinta vez seguida, elevar os juros em mais 0,5%, o que leva a taxa meta da Selic para o patamar de 13,25% há muito tempo não atingido. Desde 2008, pelo que informam os meios de comunicação.
Com a elevação dos juros, elevam-se os pagamentos de transferências, o que obriga a uma majoração do superávit primário programado pelo governo.
Como o superávit não vem apresentando a tendência esperada, não haverá recursos suficientes para o pagamento dos juros, o que obrigará o governo a ampliar a colocação de títulos públicos, elevando a dívida bruta.
Com maior dívida bruta e PIB declinante, a proporção dívida pública/PIB se eleva, o que pode sinaliza uma fragilização das contas públicas. E pode ter alguma consequência na classificação de rating das agências internacionais para o nosso país.
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Curioso é que, no Congresso, Levy ameaça com o rebaixamento que o país sofreria na avaliação de seu grau de risco, caso não fosse aprovado o pacote de ajuste fiscal. 
E, na verdade, em minha opinião, mais ajuste e aperto que seja adotado, mais o PIB apresentará queda, mais o governo terá superávits menores e mais o endividamento irá se elevar. 
Ou seja, o remédio ajuda a agravar o quadro do doente, e não a promover seu restabelecimento. 
O que é também projetado pelos analistas de mercado, ouvidos pelo Focus do Banco Central, para quem o governo não irá conseguir cumprir sua meta de ajuste. 
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E, em minha opinião, até com certa cara-de-pau, analistas e técnicos do Banco Central anunciam que deve haver uma ligeira melhora dos níveis de inflação, como se tal melhoria estivesse ligada ao conjunto de medidas que essa Autoridade Monetária tem patrocinado.
Na verdade, a partir de abril deveremos ver uma melhora da inflação por efeito da desvalorização do dólar, parte em razão de a economia americana continuar apresentando sinais de que está difícil manter uma evolução favorável mais sustentada. Parte pela necessidade de o dólar parar de se valorizar em todo o mundo, para evitar que os exportadores americanos continuem sendo prejudicados. 
Ambas as situações são interessantes por assinalarem que os juros americanos não deverão subir, pelo menos não até o final do ano, o que sossega um pouco o mercado de câmbio brasileiro. Com a elevação de nossa taxa básica de juros e a manutenção dos baixíssimos juros americanos, parte da volatilidade provocada pelo temor de uma fuga de capitais fica contida. 
E o dólar pode voltar a um patamar mais adequado.
Além dessa questão, que independe de nossas ações, outra contribui para a queda da cotação do dólar: o balanço auditado da Petrobras, que permitiu à empresa assegurar algumas concessões de financiamento externo.
Com a entrada de recursos, especialmente de empréstimos chineses, o dólar mais abundante, tende a se desvalorizar. 
E tudo isso contribui para que a nossa inflação apresente alguma retração. Às custas, claro, de nosso setor exportador, e de nossa indústria. 
Mas, muito pouco por influência de medidas de política econômica, ao menos em minha opinião.
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E vem Levy dizer que o país precisa de elevar a poupança, especialmente pública, quando o que o país precisa é decidir gastar - decisão que antecede à da poupança - em investimentos. Porque ao investir, os recursos assim utilizados irão, naturalmente, deixar de ser usados para produção de bens de consumo. E, por definição, sem serem utilizados para a produção de bens de consumo, tais recursos estarão sendo poupados. É automático.
Mas, a decisão primeira é a de gastar, e da forma de gastar para levar o país a crescer. Tudo contrário ao que o ministro está anunciando.
Enfim, é esperar para ver. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Atualizando os pitacos: a volta dos comentários

Depois de um longo e indesejado período, voltamos a publicar nossos pitacos.
Desse tempo de inatividade apenas uma palavra: por mais absurdo que possa parecer, não foi falta de assunto, nem de disposição para manifestar a respeito. Foi tão simples quanto falta de tempo.
Porque se não é a situação geral, em meu caso a 'folga' proporcionada pelo afastamento do Banco Central para merecidas e prolongadas férias deixou-me a impressão de que tinha todo o tempo do mundo a meu dispor.
E, ao contrário de alguns amigos que reclamam de não terem aprendido a organizar o tempo, o que os leva a ficar adiando o cumprimento de suas atividades até que descubram terem consumido todo o tempo que detinham inutilmente, em meu caso, até posso me considerar algo organizado.
O problema é que acreditando ter tempo livre, vamos assumindo compromissos e mais compromissos. Alguns sobrepondo-se a outros. De forma que ao final, conseguimos chegar a essa situação de ocupar todo o tempo.
Ainda mais em um mês como esse de abril, em que o encontro marcado para o próximo dia 30 com o Leão da Receita Federal nos deixa enredados em meio a recibos, declarações de rendimentos, extratos bancários e uma série de outras informações sempre lembradas de última hora.
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Mas, nesse intervalo, andaram acontecendo alguns fatos merecedores de comentários, em especial na área do futebol.
Primeiro pela classificação de todos os times brasileiros para a fase de oitavas da Taça Libertadores da América, depois de muito sofrimento e muita luta, para alguns.
A rigor, escapou do sufoco apenas o Corínthians, classificado por antecipação com uma campanha bastante equilibrada, o que não permitia, de forma alguma que o time começasse a ser considerado como o melhor time do planeta, como a imprensa paulista passou a tratá-lo.
Menos mal que o Boca Juniors conseguiu terminar a fase de grupos com aproveitamento total, façanha não conseguida há um bom período de tempo por qualquer equipe.
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Tudo bem que o time de melhor campanha nem sempre consegue chegar ao final com o título. Mas se  faço referência ou algum elogio ao Boca, não é nem tanto pelo futebol apresentado, nem tão vistoso. E sim por ter tido o mérito de reduzir a babação de ovo que a imprensa paulista insistia em nos derramar a cada programa esportivo.
Mas, classificaram-se ainda o Internacional, em primeiro em seu grupo, o Cruzeiro na mesma posição, depois de depender até o último jogo de um resultado positivo, o São Paulo, que derrotou seu arqui-adversário paulistano, e o Galão, o Atlético do eu acredito e da garra, raça e fé.
Mais uma vez, e não é por ser atleticano, a campanha do Atlético foi a que mais trouxe mais emoção, até o seu final.
Menos pelo time e pelo futebol, às vezes inexistente, mas pela forma em que a classificação foi conquistada. No último jogo, contra um time de tradição e que encabeçava o grupo, o Colo Colo. E, mais uma vez, precisando de um placar por diferença de dois gols, conquistados ao final da partida.
Antes, apenas para destacar a sempre sofrida trajetória do Galo, houve a não partida, já que o time não apresentou futebol algum no México, contra o time do Atlas.
Em meio a essa não partida, de futebol ridículo, uma partida para ficar marcada como a pior dos últimos tempos contra o seu tradicional rival, o Cruzeiro, que terminou em um empate sem gols e sofrível de se ver.
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Curiosamente, no domingo seguinte, o jogo contra o campeão brasileiro, no campo do adversário que detinha a vantagem de jogar pelo empate teve outra feição, transformando-se em um excelente jogo. Que terminou com a vitória do Galo e a choradeira tradicional da torcida do time mandante. Que saiu reclamando de falta não marcada em seu centro-avante, no final da partida.
Confesso que não tenho certeza a respeito do lance de disputa de Edcarlos com Damião. É verdade que o defensor do Galo acertou o rosto de Damião que, devemos reconhecer, abaixou a cabeça mais que o comum. O chute de Edcarlos, que não elevou tanto o pé, como foi alegado, acabou atingindo o adversário, mas não era mais que lance perigoso. Em minha opinião, lance para uma cobrança em dois toques, de tiro indireto.
Por isso acho que não deveria ter havido, como acertadamente não foi dado, cartão para o zagueiro do Galo.
O problema é que se o time do Cruzeiro batesse a falta, a jogada poderia não resultar em qualquer perigo para o gol de Victor e, uma vez recuperada a posse de bola, o lance poderia ter sequência, tendo a mesma conclusão que aconteceu na situação real.
Porque Damião caiu por no mínimo perto de dois minutos. Tempo suficiente para a defesa do seu time se armar lá atrás.
E foi na jogada de saída de bola que o time do Galo partiu para a frente e a bola sobrou caprichosa para Lucas Pratto decretar a vitória do alvinegro. E sua classificação.
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Do jogo contra o Colo Colo não posso falar muito, já que salvo o golaço decisivo, os compromissos em sala de aula impediram-me de acompanhar o sufoco que passamos.
Mas, posso falar da primeira partida, novamente de futebol completamente ridículo apresentado pelo Atlético contra a Caldense, em disputa pelo título do Mineiro.
Vá lá que a Caldense mostrou ser mesmo um time muito entrosado, cumprindo à risca a determinação de seu jovem e competente técnico, dando um nó tático no Galo.
Aliás, para fazer justiça, jogando melhor tanto na defesa quanto no ataque, levando ao gol do Galo muito mais perigo que o time da capital.
Se devesse ter um vencedor, o jogo que terminou em um modorrento zero a zero, atrevo-me a dizer que seria a Caldense.
Que joga agora pelo empate, em função de sua excelente campanha no campeonato, em que permanece invicto até o presente momento. E já há mais de 720 minutos sem levar qualquer gol.
Pode até não ser o campeão, já que o Galo cresce nesses momentos mais decisivos, mas por tudo que fez, a Caldense é que merece terminar com o título.
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Pena que, na final, mais uma vez Levir não poderá contar com Guilherme, novamente machucado. O que retira grande parte da qualidade técnica do jogo, ao menos pelo lado do Atlético.
Sem Marcos Rocha, contundido desde o primeiro jogo contra o Cruzeiro quando foi criminosamente atropelado pelo ídolo estrangeiro do adversário (e quanto a isso os cruzeirenses não se pronunciam!), sem Guilherme agora, vai ficando complicada a tarefa para o time da capital.
Pior é que não dá para criar muita expectativa de que os jogadores já em fase final de tratamento apareçam no time, ou que os demais se empenhem como deveriam, uma vez que já no meio da semana seguinte começa a difícil decisão contra o Internacional pela Libertadores.
Jogo duro. Complicado.
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No front da política, muito pouca novidade a comentar, o que acaba vindo em meu auxílio.
Trapalhadas do juiz Moro da Lava Jato, em relação à cunhada do ex-tesoureiro do PT. Mais escândalos, agora ligados ao faturamento completamente anormal de uma gráfica.
A decisão ontem, tomada pelo ministro Teori, de permitir que os empresários presos possam cumprir a prisão em regime domiciliar. O que reforça a opinião de que no Brasil rico é tratado de forma diferente dos pobres.
A trapalhada de Cunha na Câmara, face à aprovação do projeto de terceirização, que rasga nossa legislação de proteção ao trabalhador, em confronto com Renan, que pretende paralisar a tramitação da proposta. Tudo por disputa de egos, e que o Brasil se exploda, para usar expressão famosa de Justo Veríssimo o deputado de Chico Anysio.
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O Senado alterou a emenda que obrigava o governo a já em 30 dias passar a cumprir o seu próprio projeto transformado em lei e não regulamentado, relativo à aplicação de índices de correção das dívidas de estados e municípios.
Agora, só a partir de 2016, no último dia do primeiro mês daquele ano.
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O BC continua agindo no sentido de elevar a taxa meta da Selic, o que eleva sobremaneira a dívida pública, que anda batendo recordes.
Hoje, tem mais uma reunião e, quem sabe, mais uma elevação.
E enquanto isso, o dólar cai. Despenca, para terror de exportadores, industriais e para o resultado de nossa balança de transações correntes.
E nada de a economia reagir, exceto para mostrar cada vez maior sinal de fraqueza, como já era esperado, e foi falado nesse blog.
A previsão de PIB em queda de mais de 1, 15% esse ano, e inflação em alta de 8,2% mais cedo ou mais tarde não poderá mais ser imputada ao mandato de Dilma I. Vamos ver que outras desculpas serão esgrimidas por analistas do mercado e seus jornalistas amigos.

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A perda de Abujamra e a dor das vítimas do terremoto no Nepal, são mais significativos e chamam a atenção.
Por outro lado, o fuzilamento de outro brasileiro na Indonésia revela que a pena de morte deve ser muito mais bem discutida aqui em nosso país que a forma que o assunto volta e meia ressurge, em função de realização de pesquisas de opinião que a aprovam e demandam.
Já dizia Nelson Rodrigues que toda a unanimidade é burra. A maioria não esclarecida também, com certeza.
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A Petrobras de balanço novo e auditado é sinal de tranquilidade. A empresa é maior, bem maior que as perdas por mais bilionárias que elas sejam.
E a Petrobras, patrimônio de todos nós vai reduzir seu tamanho. Vai concentrar seus esforços e vai reagir. E dar a volta por cima.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Terceirização: o fim da CLT

Tudo pronto para a votação no dia de ontem do projeto que estende as regras da terceirização na Câmara, aumentando a precarização das relações de trabalho no país, o presidente daquela Casa legislativa, Eduardo Cunha, percebendo que o projeto corria o risco de ser derrotado resolveu suspender a votação do projeto.
Pelo que os jornais informam, a sugestão para o adiamento da votação foi do deputado Paulinho, presidente do Solidariedade, e dirigente da Força Sindical, que apóia a mudança, em razão da percepção de nova postura adotada pelo PSDB, até então, também favorável ao projeto.
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Deve-se observar que a nova posição do PSDB, que o coloca no mesmo lado que o PT, por exemplo, é decorrência da repercussão negativa alcançada pelo projeto, e permitiu que ontem apenas fosse votada a proibição para que empresas estatais e de economia mista fossem submetidas ás regras que se deseja implantar.
De resto, o episódio traz-me à recordação meu saudoso chefe na Superintendência de Estatísticas e Informações da Seplan de Minas Gerais, Raul Paixão e sua recomendação logo que cheguei àquele órgão para trabalhar em sua equipe de análise de conjuntura.
Dizia o mestre Raul: a análise de política econômica você sempre faz identificando primeiro quem se beneficia e quem perde com a decisão tomada.
A partir daí, fica mais fácil entender os efeitos das medidas.
No caso presente, ao contrário do recomendado, começo identificando quem é favorável à medida e quem está contra.
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Favorável está o presidente da Câmara, esse impoluto Eduardo Cunha, por acaso investigado pela operação Lava Jato, relacionado à Petrobras. Afinal, como os jornais estampam hoje, o projeto poderia ser derrotado e, por isso, não foi à votação.
Fosse o PT que fizesse tal manobra, a imprensa provavelmente reagiria com adjetivos de cores e tons mais fortes, bradando contra a vergonhosa manipulação no plenário.
Também ao lado da medida está este deputado da Força Sindical, Paulinho, um político e líder trabalhista que, seguindo a filosofia de Luiz Antônio Medeiros, do sindicalismo de resultados, sempre esteve do lado dos ..... patrões.
Contra o projeto, agora, incluem-se até deputados do PSDB, a oposição derrotada e recalcada, e agora abertamente trabalhando para a instabilidade institucional do país.
Solicitando o veto de Dilma ao projeto, encontra-se o ex-presidente Lula, para quem o projeto nega toda a história de luta e defesa dos interesses dos trabalhadores pelo seu partido. Também contra estão a CUT, e milhares de trabalhadores, que já paralisaram várias capitais e trouxeram prejuízos ao trânsito em ruas e estradas.
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Mas, o que é o tal projeto de terceirização, conforme me questiona o sempre interessado aluno e amigo Wesley?
Começo por afirmar que a terceirização, também conhecida pelo termo em inglês de outsourcing, significa um processo de redução de custos por parte das empresas, no Brasil já existente, para a contratação de trabalhadores para atividades meio.
Justifica-se, algumas vezes, não apenas pela redução de custos, mas pela distinta e específica atividade desempenhada, o que permite até mesmo ganhos de escala e menos dificuldades de gestão da força de trabalho por parte da empresa, que poderia perder o foco de sua atividade principal.
Explico: um banco que tem uma força de trabalho dedicada a atendimento e fornecimento de serviços financeiros ao público, provavelmente teria uma série de problemas se tivesse de contratar para integrar seus quadros, vigilantes armados.
Também seria problemática a gestão de trabalhadores dedicados a funções de faxina, limpeza e conservação.
Admite-se, assim, que esses serviços, auxiliares ao bom desempenho da atividade principal da empresa fosse feita por meio da terceirização. Isso significa, a contratação de uma empresa especializada e com equipe treinada, na área de vigilância, transporte de valores ou faxina e conservação.
Falo do ponto de vista de tais empresas, especializadas, terem condições de darem ao seu trabalhador mais condições de qualificação, atendimento psico-profissional, etc. E aqui, honestamente, penso especialmente na questão de como lidar, treinar, ensinar, e orientar que tipo de comportamento deve ser adotado por trabalhadores que, por força de suas atividades, trabalham armados.
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Mas seria, em minha opinião, claramente um absurdo, se o banco pudesse contratar empresas terceirizadas para atendimento de caixa, ou balcão, ou mesmo para análise de crédito para a concessão de créditos, ou mesmo para atividades ligadas à mesa de operações.
O importante é assinalar que, em todas as circunstâncias, o banco ou a empresa estaria tendo o benefício adicional da redução de custos, já que não teria que pagar os encargos sociais que incidem sobre a folha de pagamentos, segundo os empresários, elevando seus custos de mão de obra.
A princípio, tais encargos passariam a ser responsabilidade das empresas contratadas, especializadas.
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Mas, claramente, essa redução de custos que é uma vantagem adicional para o caso daqueles trabalhos especializados citados antes, não podem ser considerados vantagens adicionais no caso de terceirização de trabalhadores ligados a atividades fins da empresa.
Nesse caso, de o banco contratar terceirizados para suas atividades financeiras típicas, a única vantagem seria a de redução de custos.
E isso, apenas pela ocorrência de precarização das relações de trabalho. Dito em português mais claro, por força de se rasgar a CLT, velha, caduca, atrasada, desatualizada, protecionista, populista, paternalista, o adjetivo que se queira utilizar, mas inegavelmente, fruto das lutas e conquistas de direitos dos trabalhadores.
Ou seja: o projeto que está em discussão na Câmara, rasga os direitos dos trabalhadores no nosso país. Conquistados com anos de lutas e sacrifícios. Especialmente por estender para atividades fins, a possibilidade de contratação de força de trabalho.
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E o que se pode esperar disso?
No início do mês, reportagem da revista Carta Capital listava algumas das questões que trazem flagrantes prejuízos para os trabalhadores. Entre os prejuízos, uma redução dos salários pagos, em média menores em 24%, embora nos bancos podendo o terceirizado receber apenas 1/3 - isso mesmo, uma terça parte do salário do contratado.
Além disso, os terceirizados não têm assegurado os direitos de seus colegas contratados, como auxílio creche, jornada de 6 horas e participação nos lucros.
Também há unanimidade em que a aprovação da lei estendendo a terceirização provocará desemprego. Não apenas por que o contratado poderá ser dispensado, para contratação de um terceirizado que custará menos, mas porque o próprio contratado, com medo da dispensa poderá abrir mão da reivindicação de melhorias salariais, ou não fazer valer seus direitos que possam estar sendo desrespeitados.
Adicionalmente, os terceirizados trabalham, em geral, mais 3 horas, que os contratados, o que diminui a necessidade de maior número de contratados.
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Um maior número de acidentes e mortes pode ser percebido, em especial, por exemplo, em serviços como de manutenção elétrica, por parte de empresas terceirizadas pelas antigas estatais de energia, depois de seu processo de privatização.
Na Light, na Cemig, eletricistas contratados por terceirizadas sem condições e sem capital não tinham treinamento, nem trabalhavam com equipamentos de maior capacidade de segurança, etc.
Responsabilizar os patrões verdadeiros, os que terceirizam, fica cada vez mais difícil, já que sua responsabilidade pelo terceirizado não é direta. Mas, o mesmo vale para a situação de um consumidor, agredido, até baleado, ou destratado por algum terceirizado. No caso de um banco e seus vigilantes, a quem a pessoa agredida ou seus familiares deverão recorrer? Ou responsabilizar?
Afinal, a empresa contratada, menor e com menos condições de capital e recursos, não apenas não dá o treinamento necessário, a qualificação e o atendimento psicológico que se exige, como também não tem condições de arcar com as consequências de atos de seus empregados.
E as grandes empresas, por não serem as contratantes diretas, também não têm porque assumir quaisquer ônus de situações como essas, que se repetem por todo o país.
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Do ponto de vista das reivindicações trabalhistas, ficam completamente inviabilizadas, já que podem trabalhadores no exercício da mesma função, serem contratados por mais de uma empresa. Logo, os interesses deixam de ser comuns. E os movimentos perdem sua força maior: a unidade.
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Alegam os empresários que a nova lei dará maior proteção jurídica a todos os envolvidos, mesmo que tirando direitos dos trabalhadores.
Mas, é certo que irá reduzir o número de causas trabalhistas que se acumulam junto aos tribunais de nossa Justiça.
Entretanto, ainda pior é a possibilidade que a terceirização acarreta, de aumento da situação de trabalhadores discriminados, quando não trabalhadores escravos, como casos recentes de bolivianos que trabalhavam em condições desumanas para empresas que vendiam seus serviços para uma empresa como a Zara ou outras confecções de igual nível de luxo.
E nem estou mencionando a questão tratada por Miterhof, na Folha, da contratação cada vez mais indiscriminada, mesmo nas funções de chão de fábrica, de peões, sob a forma de PJ (pessoa jurídica), responsabilizando o trabalhador precário contratado dessa forma, pelo pagamento de todos os encargos e contribuições previdenciárias a ele vinculados.
Um crime, para dizer o mínimo.
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Ou seja: a terceirização ou precarização do trabalho, ou flexibilização das leis trabalhistas é mais uma medida que visa o maior lucro, o benefício maior do empresariado, pouco se preocupando com o que pode trazer de consequência para os que, com seu esforço, suor e lágrimas, são os verdadeiros produtores do lucro.
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Nada que não seja a favor do capital, que dá nome ao sistema em que vivemos.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Domingo de clássico e manifestações

Pegado, disputado, nervoso, pode-se falar o que quiser para classificar o jogo Atlético e Cruzeiro no último domingo. Mas a verdade é uma só. Foi um jogo muito ruim de se assistir.
Com poucos lances de emoção. Muito poucas chances de gol, e muita falta, algumas desclassificantes.
O que levou ao desfile proporcionado pelo juiz de cartões amarelos, embora a maior parte deles para jogadores do Galo. Situação que serviu para deixar mais nervosos os jogadores do Galão.
E digo isso não por ser atleticano, mas porque houve jogadas em que a cor do cartão para o jogador cruzeirense deveria ter sido o vermelho. Em outra oportunidade, Dátolo sofreu falta na entrada da área, e foi ele quem levou o cartão por simulação. E Damião já merecia ter ganho um cartão amarelo há muito mais tempo que aquele que lhe foi aplicado, em lance que propositadamente estava paralisando o jogo e enervando Leonardo Silva.
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Está certo que Leo Silva não deveria, com a experiência que possui, entrar na provocação, o que acabou nos prejudicando. Mas, como todos já estavam com a cabeça quente e os ânimos exaltados ...
Do time do Atlético, mais uma vez, destaca-se o espírito de luta de alguns jogadores e só.
A rigor, ninguém jogou para encher os olhos. E alguns, como Jemerson, Josué e Dátolo jogaram muito mal. Jemerson, tentando enfeitar e falhando feio, como no drible desmoralizante que levou no gol do Cruzeiro.
Josué errando tudo que tentava, embora tentando... A caneta no gol do adversário mostra que ele estava completamente desarvorado em campo, já que não se admite em jogador com tanta experiência que entre tão inocente em uma disputa de bola. E Dátolo muito lento.
Se o jogo valeu foi, infelizmente, pelo gol adversário, o que é a última coisa que a gente gosta de admitir.
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Já amanhã no México, pegamos uma partida dura, mais uma, onde a opção é vencer ou vencer. Vencer não assegura a classificação, mas já dá mais tranquilidade para o time jogar a última partida, em casa, contra o Colo Colo.
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Nesse meio tempo, outro jogo no próximo domingo, contra o Cruzeiro. Com um time cansado da longa viagem. Só mesmo na base do Eu acredito, funciona o Galo.
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E sobre domingo

Não vi movimento das manifestações de rua, nem das praças. Ao contrário de março, quando aproveitei a parte da manhã para dar uma corrida, desta vez não saí de casa, preferindo ficar vendo o time do Sada Cruzeiro tornar-se novamente campeão do volei.
Minha impressão é que ouvi menos buzinas, embora mais insistentes, dessa vez.
Mais tarde indo para o Independência, vi algumas pessoas com camisas amarelas, pelo centro da cidade, parece que vindo da Praça da Estação. Não sei quantas pessoas se reuniram, mas parece que optaram, dessa vez, por não se concentrarem apenas na Praça da Liberdade, o que retira parcela da força da movimentação.
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Ouvi, por alguns amigos, que havia cartazes de todo tipo, inclusive um muito interessante, afirmando que Sonegação não é Corrupção.
Pensamento típico de nosso país, já que a sonegação só pode ser praticada por empresários. Ou seja, por aqueles mais privilegiados. Quem portava o cartaz referia-se obviamente, ao novo escândalo do Conselho de Recursos Fiscais, que atinge grandes empresas da área automobilística e, como não podia deixar de ser, bancos.
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Curioso, e que poucos se dão ao trabalho de lembrar, é que tanto na sonegação encontram-se os empresários, na ponta ativa, quanto também na sonegação.
E que, em se tratando de sonegação de impostos, grande parte das vezes, o imposto sonegado, não repassado para a Receita já foi pago pelo consumidor embutido no preço do produto adquirido.
Então, a sonegação, qualquer que seja a desculpa que se queira apresentar para ela, não passa de roubo, desvio de recursos em proveito próprio.
Ao invés de repassar o devido ao Fisco, o empresário intermediário embolsa para si a quantia.
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Mas, nada contra o cartaz que apenas mostra que o Brasil quer sim, combater a impunidade, a corrupção, a criminalidade, mas desde que só em relação aos crimes feitos por certo tipo de marginais.
A propósito, e no mesmo sentido, é uma aula de desfaçatez, a coluna de Elio Gaspari, tratando justamente desse tema, em sua coluna no domingo.
Comentando a proposta de abertura de uma CPI para apurar essa sonegação de impostos no CARF, Gaspari comenta que, se for para valer a apuração deveria voltar ao período em que os índios brasileiros ainda se banqueteavam com portugueses aqui chegados.
De duas, uma: ou Gaspari está dizendo que essa é uma prática comum demais no Brasil, para poder ser investigada, ou então, por esse motivo, o melhor é não investigar a ninguém. A título de ser justo com esses que foram apanhados agora, já que os outros não o foram.
Ruim, muito ruim a sensação que passa o texto do colunista, já que a impressão que deixa é a de que como o crime agora é de empresário, gente bem de nossa sociedade, investigar, apurar, punir não seria justo.
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Insisto no cartaz e em seu conteúdo. Provavelmente, ao seu lado, outros portavam cartazes pedindo a volta dos militares ao poder. Ou outros reclamavam da existência de direitos excessivos para mulheres, homossexuais e outras minorias, ou ainda contra a existência de cotas, ou a favor da redução da maioridade penal.
Todas essas questões que foram levantadas por professoras da UFMG, em pesquisa feita para avaliar o perfil dos manifestantes no domingo último. Em minha opinião, um primor de demonstração do nível de atraso de nossasZelite. Essas mesmas que aprovam os Zelotes.
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Mais interessante foi voltar no busão do Independência e ver a turma da Galoucura, do Morro do Papagaio, vir comentando sobre a manifestação.
Curioso: a maior parte deles contra Dilma, e uma pretensa opção sexual que atribuíram a ela, sabe-se lá porque.
Mas, o comentário de um deles, em relação ao cartaz portado por uma criança, que dizia "Não destrua nosso futuro" foi alvo de críticas pesadas.
O que é compreensível, para quem sempre teve o presente destruído e, por isso mesmo, grande parte do seu passado. O que nem tanto tempo tem assim.


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Inflação em alta e o que esperar daí em diante?

A inflação de 1,32% em março, a maior inflação dos últimos 20 anos, já deveria ser esperada. Não apenas pelo realinhamento de preços, energia e combustíveis à frente, mas também pelo custo maior dos juros, que encarecem os custos financeiros das empresas. Também conta aí, senão já a elevação de alguns impostos, a expectativa da elevação de impostos, o que leva empresários com poder de mercado a se anteciparem, elevando preços.
Claro que a mídia irá responsabilizar o represamento de preços do primeiro mandato de Dilma Rousseff, pela taxa obtida. Especialmente quando o IBGE reconhece o elevado peso da energia no cálculo do índice.
Tudo bem. Mas, mais que anunciar a correção de preços da energia como responsável pelo resultado da inflação e aproveitar-se disso para fazer mais uma acusação à equipe econômica anterior, retirando a responsabilidade e resguardando a atual equipe, o que deveria estar sendo reconhecido é que, uma parcela da elevação da tarifa de energia não deve ser imputada a qualquer erro de política econômica. O que não significa que não tenham havido erros, muito embora alguns analistas não admitam ou gostem de reconhecer que o problema se deve, em parte, à crise hídrica, ao aumento do consumo - tanto estimulado  pelas tarifas menores, quanto pela elevação das temperaturas no verão, o que obrigou à utilização da produção de energia termelétrica, mais cara.
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Não fosse o ano de 2014 um ano de Copa, em que esperava-se que nosso país fosse ser invadido por turistas que não poderiam sair daqui com uma impressão negativa de nossos serviços públicos e da capacidade de recebermos bem os turistas; nem fosse um ano de eleição, o que justifica que partido algum adote medidas capazes de darem munição para críticas dos adversários da oposição, o governo deveria era ter iniciado um processo de conscientização da população para poupar energia. No limite, como alguns especialistas da área comentam, implantar um plano de racionamento que, naquela altura poderia começar ser, com perdão pelo trocadilho, mais light.
Mas, se em um ano eleitoral é esperar demais por esse tipo de medida, porque essa medida ainda permanece completamente fora do horizonte oficial?
Será porque para a nova equipe econômica o racionamento deve ser feito sempre via mercado? Via preços? O que assegura que os que mais têm, menos devem se preocupar com o problema que acaba sempre pesando sobre os menos favorecidos?
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Pois bem. E o que esperar depois do anúncio de que a inflação já supera os 8,13% no período de 12 meses?
Antes de prosseguir, é dever meu deixar claro que sempre achei e continuo achando um absurdo cobrar do governo e do Banco Central que a inflação esteja acima do limite superior do intervalo de confiança em torno da meta. Porque o êxito do BC no cumprimento da meta que lhe foi imposta é para o período de janeiro a dezembro. De maio de 2014 a abril de 2105, período de 12 meses, a inflação deve ser tomada apenas como um indicativo, não como algo para levar a imprensa a fazer um escarcéu, criticando a autoridade monetária, e o governo.
Porque, as autoridades podem contar com remédios cada vez mais amargos para conseguir fazer as taxas regredirem nos trimestres que vêm pela frente. Ou até mesmo contar com o tempo, já que o efeito de elevações de juros já decididas pelo COPOM nas últimas reuniões podem levar algum tempo para se manifestarem.
Mas, o que esperar daqui para a frente, em termos de medidas do governo?
Provavelmente, dada a pressão da mídia, em especial, o que deve ocorrer é nova elevação da taxa Selic, medida que se derruba a inflação, o faz por derrubar toda a economia do país.
O que já pode ser percebido por outros indicadores, como o da elevação da taxa de desemprego, que chega a 7,4% conforme anunciado pelo portal UOL, pela redução das vagas com carteira assinada...
O que não deve ser um problema muito grande, para a grande imprensa e para a nova equipe econômica, já que está vindo aí a aprovação pelo Congresso, da precarização das relações trabalhistas.
Precarização que, diga-se de passagem não incomoda ao governo e sua equipe econômica, já que a negociação com os líderes do Congresso já asseguraram que a arrecadação da Previdência não deverá cair. Ou deverá cair menos que o que seria de se esperar.
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Mas, e quanto ao ajuste fiscal tão falado pelo ministro?
A elevação de juros, caso seja decidida apenas amplia ainda mais o custo da dívida pública, já em mais de 24% no caso do governo federal. Apenas obriga a um pagamento de juros ainda maior, o que exigirá um superávit primário ainda mais elevado.
E olhe que, no ano passado, apenas de juros foram gastos 10 programas de bolsa família, já que o valor de juros alcançou a cifra dos 250 bilhões de reais.
Com juros mais elevados, há a necessidade de cortes maiores nos gastos públicos, com reflexos nos investimentos em infraestrutura, por exemplo.
O que significará mais profunda e violenta recessão. Capaz de permitir à Levy e sua equipe entregarem uma inflação controlada, no final do ano.
Mas, que caracteriza exatamente a recessão que, por tempo demais é forçoso se reconhecer, a equipe econômica do primeiro mandato Dilma tentou mitigar.
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Se a primeira equipe, Mantega á frente, tentava evitar era esse quadro recessivo, é justo que se pergunte se não haveria no cenário econômico que embasava as hipóteses com que eles trabalharam alguma influência da crise externa.
Digo isso porque Alexandre Schartzman na Folha, insiste em dizer que há desonestidade intelectual dos que apontam ser a crise externa a culpada pelos erros cometidos por Dilma em seu primeiro mandato, quando não reconhecem que se Lula teve êxito nos 8 anos anteriores, foi pela adoção de políticas corretas, sem influência de contribuição positiva externa.
Pelo menos foi esse o tema de sua coluna de ontem, o que serve para constatar a existência de uma desonestidade sim, mas não daqueles a que ele atribui tal comportamento. Aliás, muito ao contrário. E a desonestidade intelectual está mais próxima do que não reconhece que Lula teve sim, um cenário econômico internacional muito favorável, ao menos até 2008. Mas que no auge da crise ou do tsunami que varreu o mundo nos anos posteriores de 2009 e 2010, o Brasil cresceu 7,5%. Sinal de que as políticas então adotadas internamente senão reverteram o processo global, ao menos tiveram algum aspecto positivo.
Quanto a Dilma, alegar-se que não houve qualquer influência da situação de recessão que varria o mundo, e responsabilizar às políticas adotadas internamente por nosso pífio crescimento e problemas hoje enfrentados é, isso sim, não primar muito pela correção ou honestidade.
Porque o próprio FMI em relatório que agora vem a público, assinala que a crise que varre o mundo, desde o estouro da bolha financeira de 2008, é mais séria que o pensado a princípio. Mais séria, e mais duradoura, dando a entender que a economia mundial mudou de patamar e não voltará a ser como antes.
Ora, se o FMI reconhece que isso trará problemas especialmente para a manutenção do crescimento dos países ditos emergentes, então as preocupações de Dilma e seu governo estavam corretas. Ao menos em parte.
E justificam sim, em parte, nossa situação atual.
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A menos que, para o colunista, o relatório venha a servir apenas daqui para a frente, para mostrar o porque da política de Levy dar com os burros n'água, já que a falácia das posições que a sustentam não deverá ser reconhecida por quem segue a  mesma cartilha.
Até por honestidade com suas crenças. Mesmo que isso represente um falseamento da realidade.
É isso.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Páscoa, passagem. Com o futebolzinho de ontem, o Galo não passa. E o que se passa pela cabeça de Renan Calheiros?

Símbolo de passagem, de mudanças, de renovação, espero e torço que a Páscoa comemorada ontem possa mesmo servir de inspiração para todos nós e que nos fortaleça a todos. Nos dê segurança, tranquilidade e fé, para que possamos começar, do interior de cada um de nós, as mudanças que queremos e cobramos do ambiente e pessoas à nossa volta.
Feliz Páscoa para todos. Feliz Renovação.
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As finais do Campeonato Mineiro

E para recomeçar os pitacos, uma novidade a ser comemorada: as finais do campeonato mineiro não deverão ser disputadas por Atlético e Cruzeiro, calando a boca de todos que, desde o início do torneio, já davam como favas contadas a decisão entre os dois rivais.
Está certo que ambos se classificaram o que confirma que o lugar deles nas disputas finais já estava assegurado. O que, pensando bem, não poderia mesmo ser diferente. Entre 12 times, com a diferença quilométrica existente entre estruturas administrativas, técnicas, de acomodação, centro de treinamentos,, planteis, jogadores individuais, apoio de torcida e até da imprensa, para não dizer que até de alguns juízes, às vezes, os dois times teriam que estar obrigatoriamente classificados.
Estranho, no caso, é o América, também da capital, e também com uma estrutura muito superior à dos demais concorrentes, não estar entre os quatro.
Embora o América chegou perto, tendo vencido o jogo ontem, mesmo que sabendo não depender mais só de suas próprias forças.
E, para tristeza dos americanos, a Tombense que veio à capital jogar contra o time líder, melhor defesa, melhor ataque, melhor campanha, que contava com o artilheiro da competição, etc. etc. deu mais uma demonstração do motivo que faz o futebol um dos esportes mais emocionantes, dentre todos, senão o mais emocionante deles: a Tombense venceu o jogo e classificou-se em quarto lugar.
Agora, pega nas quartas de finais, o time que mais regularidade mostrou em toda competição: a Caldense. Que se classificou com méritos, por antecipação, e que terminou na ponta da tabela.
Quando digo que o time de Poços foi o mais regular, refiro-me ao fato de ter jogado e arrancado empates com o Cruzeiro e América e ter vencido o Galo, em sua cidade, igualando-se aos times favoritos. Mas, diferente do América, que perdeu pontos fáceis para times em pior situação na tabela, do Atlético e do Cruzeiro, que fizeram partidas em que o nível do futebol que apresentaram não merecia terem saído com o resultado que saíram (sem contar certas ajudas dos juízes, como a da partida contra o Mamoré)  a Caldense não tomou conhecimento dos demais adversários, impondo-se a todos.
Parabéns, portanto, à Caldense que, a manter o padrão de jogo e esforço que vem mantendo, deverá ser um dos finalistas.
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Quanto ao Atlético, difícil fazer qualquer comentário em um dia como essa segunda feira, depois do jogo simplesmente ridículo de ontem.
Dizer que o Galo teve a ajuda do juiz, que anulou um gol - o terceiro, do time do Boa, é pouco. Porque o Boa podia ter feito ao menos mais um ou dois gols, além dos que foram validados.
Desde o início do jogo, dava para perceber que Marcos Rocha, a quem tanto elogio não estava conseguindo ser nem uma sombra do grande jogador que é e das partidas que vem fazendo. Marcelo, caindo pela esquerda do ataque do Boa levava perigo todo o tempo à nossa defesa. Sempre explorando sua velocidade e uma certa dificuldade de Marcos Rocha voltar a tempo.
Jemerson, mais uma vez preferiu não jogar como o becão que é e deve ser em momentos do jogo. Sua jogada no segundo tempo, que resultou no lance do segundo gol do Boa, que ele podia ter espanado a bola para qualquer lugar e direção, afastando o perigo, só não foi pior que a jogada do Toloi, do São Paulo, contra o San Lorenzo.
E não foi a única jogada de Jemerson que ele falhou comprometendo o time. 
Douglas Santos não consegue mais reeditar as partidas de antes de sua contusão, na virada do ano. Uma pena. Mas, em minha opinião, junto com Jemerson, mais uma vez ele falhou ao ser o último jogador a tentar combater o jogador do Boa, no bate-rebate que terminou no primeiro gol do jogo.
Para mim, a falha de Jemerson, que não estava onde deveria estar e de Douglas, lembram o gol de empate de Damião, pelo Cruzeiro, em jogada que Jemerson só cercou e Douglas até tentou, mas perdeu a dividida com o atacante cruzeirense. 
Ontem, mais uma vez, Douglas tentou. Sem conseguir afastar a bola.
Rafael Carioca, que fiquei sabendo que estava em campo quando o comentarista do pay-per-view falou que ele estava dando muito espaço, sumiu a ponto de não me lembrar de ouvir novamente o seu nome, no segundo tempo. Justo quando o Boa foi para cima e mandou no jogo.
De Donizete, nada a declarar mais, para não ficar parecendo perseguição. Mais uma vez nosso gênio mostrou toda a sua habilidade e acabou deixando o campo premiado.
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Na verdade, maior prêmio foi o nosso de não ter que vê-lo em campo na próxima partida contra o Cruzeiro.
Mas, provavelmente teremos de aturá-lo na partida contra o Santa Fé, na quinta próxima.
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Luan tentou, se esforçou e correu mas foi só, Pratto tentou, se esforçou e correu muito, sempre tendo que voltar ao meio para buscar a bola que teimava em não chegar à área. Cárdenas foi mal, em minha opinião por não tido apoio dos outros jogadores do meio.  
Carlos inexistiu. Dodô está anos luz do jovem que entrava nos finais de partidas do ano passado, incendiando o jogo. Maicosuel a rigor, nem parece ter entrado. Se é que entrou mesmo em campo.
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De tudo isso, esse amontoado desorganizado e sem inspiração, sem técnica, sem garra e sem vontade, o que esperar do Galo contra o Santa Fé, quando joga sua vida na Libertadores?
Para Levir, o jogo de ontem mostrou que o Atlético estava sem foco. Mirando o Santa Fé. Ok. Isso explica porque não estavam em campo contra o Boa. 
Mas, a menos que Guilherme entre com muita disposição e apetite, e que Dátolo volte jogando como estava no final do ano passado, vai ser muito difícil acompanhar o jogo do Galo na quinta. 
Tanto pela carga de sofrimento que o jogo promete. Quanto pela pouca confiança que o time está transmitindo, com total inapetência para o jogo.
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Quanto à disputa do Mineiro, já começam os problemas relativos a datas e local do jogo. 
O Galo promete mandar seu jogo, o primeiro, no Independência, sua casa. Com razão, alega que não pode jogar no sábado, nem completadas 48 horas do jogo duríssimo contra o Santa Fé. 
A partida, por óbvio, deveria ser marcada para o domingo. Afinal, o argumento que todos vêm adotando para criticar a marcação da partida pelo Campeonato Brasileiro para a noite de sábado, deixando o domingo sem jogo na Capital, por força de imposição da Televisão, pode ser repetido agora. 
Não há como deixar um clássico para horários alternativos. Ainda mais com a questão do tempo legal que deve haver entre uma partida e outra. 
Mas, como no mundo do futebol o errado é que é o certo, como dizia o Kafunga, vamos esperar para ver.
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Banco Central Independente

Que Renan Calheiros esteja disposto a marcar sua presidência no Senado com a aprovação de uma série de medidas, algumas que vêm sendo há muito adiadas, outras com um certo ranço de apenas terem a finalidade de servir para acuar o governo nada a comentar. Foi assim,  com as medidas provisórias tidas como inconstitucionais, por ele, que ele mandou devolver ao Planalto. 
Foi também esse o motivo real, em minha opinião, por trás do acerto para alterar o ajuste fiscal e para adiar a votação da medida que fixa o prazo de 30 dias para o governo regulamentar a troca de indexador da dívida de estados e municípios, da lei que o governo negociou e aprovou no Congresso, no ano passado.
Mas ao ler o artigo de opinião do presidente do Senado na Folha de domingo, confesso que fiquei sem entender muita coisa.
Afinal, Renan começa o texto falando da falta de regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que já completou 25 anos, sem que o Sistema Financeiro Nacional tenha sua estrutura discutida. 
Tudo bem que Renan alega que esse é um debate que se faz necessário, mas daí a passar a comentar da necessidade de que seja proposta e aprovada a independência do Banco Central, há uma distância grande. E um caminho curioso. 
Primeiro porque espertamente, ele diz que esse é o verdadeiro ajuste fiscal necessário no país, a saber: impedir o Banco Central de se submeter a quaisquer desejos do Chefe do Executivo. 
Diz Renan: questões como o combate à inflação, devem ser tratadas por uma diretoria com mandato, com período não coincidente com o do presidente ou ministro da Fazenda. E argumenta: devem ser tratadas de acordo com a racionalidade de técnicos, não pressionados por questões políticas, ligadas à sua sobrevivência no poder.
Caro Renan: e quando que decisões de economistas são tão somente racionais, sem conteúdo político como seu suporte?
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Curiosamente, e vale comentar brevemente, Renan diz que na campanha presidencial a independência do BC foi trazida à pauta por uma candidata. Mas, infelizmente, para a proposta, a candidata (Marina) tinha como principal assessora uma proprietária de um banco, o que trazia um grave defeito de origem para a ideia. Ou para sua defesa. 
Renan dá a entender que os dois outros candidatos principais não quiseram tratar da questão. Talvez, sem ter a informação de que, consultado, FHC foi contra a ideia. 
Fernando Henrique foi até mais longe, afirmando que chegou a dispensar dois diretores presidentes do BC, o que permitiu que a crise de início de 1999 fosse sanada.
Embora de formação novo-clássica, a quem a proposta é tão cara, igualmente Joaquim Levy afirmou que não vê a necessidade de um Banco Central independente. Basta, como já existe aqui, que o Banco tenha autonomia para agir.
E o BC, mesmo na era do PT, deu demonstrações de que tinha essa autonomia. Vá lá que, em alguns momentos foi dada muita visibilidade às medidas do Banco, por coincidirem com as que a presidenta preferia. 
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Assim, vê-se que Renan se preocupou com a crítica que é feita à independência, de servir para o BC ser capturado pelas instituições que deveria fiscalizar e submeter. Isso fica claro na citação da assessora de Marina. 
Renan também resgata a história de que, em sua origem, o BC foi criado independente por Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões seus pais.  Independência que terminou no governo militar de Costa e Silva.
Mas, o que quer o presidente do Senado, ao publicar um texto que parece ter sido preparado por sua assessoria técnica, e que traz à tona uma questão cuja importância é considerada menor nesse momento?
Será que o exemplo de independência de outros órgãos similares, em outros países, não deve ser levado em conta? Afinal, o que falar do Fed e sua independência, e até mesmo de sua diretoria atônita por perceber que sua inação levou a uma das maiores crises econômicas de nossos dias, cujas consequências estão longe de se encerrar?
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Curiosamente na mesma Folha, no sábado, apresentando uma resenha sobre novo livro lançado pelo professor Galbraith, o James, filho do famoso John Kenneth, o resenhista mostra que consta do livro a opinião que a saída da crise de 29 não foi por outro motivo, senão a adoção de medidas que traziam em si, o sentido da urgência.
E que as medidas nada tinham de técnicas ou racionais, dentro da racionalidade buscada por Renan.
Pior, o livro, bastante crítico e com material para muito debate, ainda tem como base uma crítica ao fato de a matemática, e os modelistas que a utiliza na economia, estarem conseguindo, cada vez mais só trazer problemas para a administração que adota tais recomendações.
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Na verdade, o autor do livro faz referência à piada de que quando acabaram com a União Soviética, e sem o que fazer, os matemáticos russos foram todos para os campi das grandes universidades americanas, onde estão projetando modelos de avaliação de riscos e etc.
A conclusão da piada é que a primeira crise já foi obtida. Quando os Estados Unidos irão sossobrar como a União Soviética, por uso desses modelos que vêem o passado, e deixam o futuro de lado?
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Pois é. Aqui a questão interessante, já que Renan, representando algum interesse que não idenfiquei, com clareza, parece achar que essas técnicas muito elaboradas, racionais e muito matemáticas, pouco sujeitas às questões políticas é que devem prevalecer na administração do BC.
Curioso, para dizer o mínimo.