quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Pitacos econômicos de fim de mês

O mercado espera e já conta como certa a queda da taxa Selic em mais 0,5 ponto percentual, a ser anunciada ao término da reunião do COPOM, no dia de hoje.
Para suas previsões, contam com a fala do Ministro Presidente do Banco Central, Tombini que, reiteradas vezes afirmou a estratégia de ajuste moderado de juros. Por ajuste moderado de juros tanto pode ser entendido uma alteração da taxa de juros tal como já precificada pelo mercado, como um ajuste a conta gotas, em nosso caso, semelhante ao ajuste já iniciado e praticado nos meses anteriores.
Afinal, como está mais ou menos implícito no DNA dos teóricos da escola de pensamento novo-clássica, que detém a hegemonia na ciência econômica da atualidade, os agentes aprendem, com a experiência. E, projetam as lições do passado, cada vez com maior capacidade de corrigir e reduzir potenciais desvios do comportamento em relação à média. Até que, mais avante, a média se transforme na norma e todos prevêem essa norma. E acertam.
Ou pensam que acertam, já que a hipótese básica subjacente a essa idéia de é a de existência de ergodicidade.
Em tempo, vamos transcrever o que consta na própria rede mundial, sobre a tal hipótese de ergodicidade. A definição escolhida e citada está em um Yahoo! Respostas:
"Ergodicidade é um termo muito utilizado na literatura pós-keynesiana (Victoria Chick, Jan Kregel, Paul Davidson etc) e está relacionado a sistemas nos quais a evolução futura pode ser prevista através de cálculos probabilísticos, desde que o evento possa ser repetido. Os pós-keynesianos argumentam que a teoria de Keynes é não-ergódica, admite entropia (perda de energia) e é sensível às condições iniciais (no que se aproxima da teoria do caos). O sistema é irreversível."
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Traduzindo: se o evento pode ser repetido, os homens aprendem os resultados e aprendem a probailidade de eles ocorrerem. Daí, podem prever a evoluçao futura, tal qual a questão que tratávamos dos juros.
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Mas, se os juros caem mais 0,5% como esperado, a Selic fecha o ano a 11% e, ainda assim, a taxa real de juros, que é a taxa de 11% descontada a inflação, se reduz a 5,1%,  suficiente para manter o Brasil na liderança, que ele já vem ostentando há 10 anos conforme nos lembra o portal IG dos juros mais elevados no mundo (com raro intervalo de 2007 a 2009).
Esperemos pois, mesmo sabendo também que há dificuldades gigantescas para um corte mais abrupto da taxa, até por força de nossa inserção internacional e da questão que essa inserção acarreta de flutuações nos fluxos de capitais.
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Do rombo da Previdência do Setor Público e da criação do Fundo Previdenciário do Servidor Público

A midia destaca o esforço que o governo vem fazendo visando a aprovação do Fundo de Previdência do Servidor Público. Ainda ontem, para obter os votos necessários à aprovação do projeto de lei de criação de tal fundo, o governo aceitou reduzir o prazo para aposentadoria de carreiras especiais. Consideradas como tal aquelas que envolvem riscos.
Em minha opinião, nada mais justo, uma vez que trata-se dos trabalhadores que colocam sua própria vida em risco, para atender a sociedade. Caso de policiais federais, policiais rodoviários, etc.
O problema é definir exatamente quão mais arriscado é o trabalho de um policial, quando comparado com o de um médico, diretamente envolvido com tratamentos epidemiológicos. E... daí para frente, com outros que prestam serviços ambulatoriais e tratam de doenças de fácil contágio, e etc.
A imprensa destaca que a concessão feita pelo governo em relação à questão da redução do tempo não sairá de graça, com estudos sendo feitos para que os profissionais dessas áreas paguem uma contribuição diferenciada, maior.
A alegação é que o projeto é a grande saída para a futura eliminação do rombo da previdência do setor público. Futura,  porque os trabalhadores atuais, segundo compromisso, não serão alcançados pela mudança. Serão afetados somente os novos funcionários, dos novos concursos, que passarão a ter aposentadoria semelhante à dos empregados do setor privado.
Ou seja: deixam de ter o salário integral, e passam a ter o salário limitado a um teto, correspondente ao valor base sobre o qual contribuiram.
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Aníbal, um colega de serviço se revolta com a afirmação várias vezes  lida, ouvida e divulgada, de que há déficits colossais na Previdência do Setor Público que, sem maiores explicações, dá a idéia equivocada de privilégios exorbitantes aos funcionários (exorbitante todo privilégio é, mas esses seriam demais!!!)
Aníbal está certo, mas vale fazer uma breve reflexão.
Quando instituído o regime do funcionalismo público, seguindo a filosofica da administração francesa, o tratamento dado ao servidor público teria que assegurar a ele, alguns direitos e benefícios.
A idéia é que, para atrair para o trabalho gerador de bem comum, profissionais capacitados e as boas mentes, era necessário pagar-lhes tal qual o mercado. Entretanto, isso seria absurdo, já que ao contrário de uma empresa, o governo teria que pagar não a centenas ou a poucos milhares de empregados, mas a centenas de milhares ou até milhões.
Para não gastar demais, o vencimento do setor público seria contido mas, em troca, o servidor teria aposentadoria integral, ao fim de sua jornada laboral. E para evitar que o desânimo lhe envolvesse e ele abandonasse a promessa de uma boa remuneração futura - que ele poderia obter ganhando mais, poupando e acumulando e aplicando sua poupança- a lógia era de que essa aposentadoria seria um prêmio, para a qual o trabalhador não precisaria contribuir.
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Aqui no Brasil, além desse prêmio, haveria outro, mas explicado por outro motivo: a estabilidade. Existente apenas para que autoridades do governo, flagradas em situações de erro, não pudessem punir aos trabalhadores que os denunciassem, dispensando-os.
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Mas, creio eu, e essa idéia minha pode e deve ser contestada por quem conheça mais profundamente o assunto, que o que estava previsto não funcionou muito bem, uma vez que, já de algum tempo, o servidor público passou a ter de contribuir, não com a sua aposentadoria. Mas com o plano de saúde que, no caso do trabalhador privado, está incluso na contribuição da Previdência.
Lembro-me de pagar, em certa ocasião, 6% de plano de assistência médica.
Com a Constituição de 88, e após suas reformas, o servidor público passou a ter de pagar 11% de sua remuneração, jogando por terra o direito anterior que lhe havia sido concedido.
Mas, 11% sobre a remuneração integral e não sobre um teto ou limite.
Não precisa de ser da área atuarial, nem conhecer cálculos sofisticados, para reconhecer que, em igualdade de condições, ou seja mesmo salário, no setor privado e público, digamos, 5 mil reais, o funcionário público contribui com 550 reais. Enquanto o trabalhador do setor privado contribui com 8% do teto, digamos 4000, exagerando para facilitar o cálculo e arredondar. Logo esse trabalhador privado paga 320.
Capitalizando em 35 anos, fica claro que a contribuição do servidor público consegue acumular recursos em maior proporção que seu colega do setor privado.
Mas, e aí está a grande questão: no setor privado o empregador paga também 12% à Previdência.
E no governo?
A pagar para ele mesmo, hoje. Ou usar esse recurso para financiar outros gastos (Copa do Mundo, obras faraônicas, etc.) o governo usa para outras finalidades. E, adia a sua contribuição para 35 anos depois, quando o funcionário se aposenta, já que tudo vai sair de um mesmo caixa.
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Então não há rombo.
E, de onde vem o tal rombo tão propalado? Simples. De uma conta marota que soma os 11% da contribuição de todos e retira o dinheiro pago aos inativos. Lembrando que parte desse gasto com inativos, caso fosse pago na hora certa, já estaria acumulado e não seria retirado do governo.
O que pode acontecer com o tal Fundo?
Acho que o governo vai fazer o trabalhador pagar sobre o teto, mas tenho dúvidas que ele irá pagar a parte dele, especialmente em situações de aperto de suas finanças.
Logo...
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Trabalhadores ingleses ameaçam greve

Informam os sites que os trabalhadores ingleses ameaçam realizar a maior greve dos últimos 30 anos. O motivo? Reformas na Previdência.
Aumento da idade para aposentadoria, aumento das contribuições, etc.
Tudo parte do pacote de salvação das finanças dos países europeus, na tentativa de se evitar a crise recessiva.
Curioso: para evitar a recessão, cortam gastos e falam em aumento de impostos e contribuições. Keynes às avessas.
Para mim, prenúncio de mais crise.
Mas as questões da previdência merecem ser melhor discutidas. O problema é mundial e as causas de certos gastos excessivos passam, inclusive, pela maior longevidade das pessoas, graças aos avanços da medicina.
É isso. E é importante.

Elementos


Água
fogo
terra
ar
                                               quatro elementos
                                               quatro palavras
Fogo
terra
ar
água
                        Quatro momentos
                        instrumentos
                        quatro palavras
                        uma só transformação
Água
fogo
terra
ar
                                                           Quatro estágios
                                                           quatro elementos
                                                           quatro sentimentos
                                                           levados nos ventos.
Fogo
água
ar
terra
                                   quatro compostos
                                   na dinâmica dos tempos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Atendendo a sugestões: transcrição de "De repente, 60"

 Recebi o email de minha mulher e repassei a alguns colegas. Alguns, até bem longe dos 60. Mas, surpresa! um deles, o Ângelo sugeriu que eu o colocasse no blog.
Como o Ângelo é um assíduo leitor, resolvi atender a sua sugestão. Mesmo sem pedir à autora para citá-lo.
Aproveitem que o texto, além de bem escrito é muito bonito.


Regina de Castro Pompeu, terceira colocada no Prêmios Longevidade Bradesco de Jornalismo, Histórias de Vida, com o texto “De repente, 60”De forma despretensiosa, inscrevi um texto no concurso Premios Longevidade Bradesco Histórias de Vida.Estou chegando de São Paulo, onde fui participar da premiação.Mandaram um motorista me buscar e me trazer e fiquei num super-hotel nos Jardins, acompanhada de meu príncipe consorte rsrsrssr.Entre quase 200 concorrentes, conquistei o 3o lugar, com direito a troféu e diploma.Mas, sinto como se tivesse recebido o Oscar, pois os primeiros colocados foram  jovens que trabalharam por alguns anos para escrever histórias que mereciam ser contadas.

Meu texto foi o único produzido pela própria protagonista. O tema central era o realcionamento inter-geracional.

Quase caí da cadeira quando Nicete Bruno, jurada especial me perguntou: "Você é a Regina? Queria muito conhecê-la. Adorei seu texto!!" Tive, ainda, o privilégio de ser fotografada ao lado da convidada especial, Shirley MacLaine. É muita emoção, que gostaria de compartilhar com vocês.
Abaixo, o texto premiado.
Beijos
Regina


DE REPENTE 60 (ou 2x30)
Ao completar sessenta anos, lembrei do filme “De repente 30”, em que a adolescente, em seu aniversário, ansiosa por chegar logo à idade adulta, formula um desejo e se vê repentinamente com trinta anos, sem saber o que aconteceu nesse intervalo.

Meu sentimento é semelhante ao dela: perplexidade.
Pergunto a mim mesma: onde foram parar todos esses anos?
Ainda sou aquela menina assustada que entrou pela primeira vez na escola, aquela filha desesperada pela perda precoce da mãe; ainda sou aquela professorinha ingênua que enfrentou sua primeira turma, aquela virgem sonhadora que entrou na igreja, vestida de branco, para um casamento que durou tão pouco!Ainda sou aquela mãe aflita com a primeira febre do filho que hoje tem mais de trinta anos.

Acho que é por isso que engordei, para caber tanta gente, é preciso espaço!
Passei batido pela tal crise dos trinta, pois estava ocupada demais lutando pela sobrevivência.

Os quarenta foram festejados com um baile, enquanto eu ansiava pela aposentadoria na carreira do magistério, que aconteceu quatro anos depois.
Os cinquenta me encontraram construindo uma nova vida, numa nova cidade, num novo posto de trabalho.

Agora, aos sessenta, me pergunto onde está a velhinha que eu esperava ser nesta idade e onde se escondeu a jovem que me olhava do espelho todas as manhãs.

Tive o privilégio de viver uma época de profundas e rápidas transformações em todas as áreas: de Elvis Presley e Sinatra a Michael Jackson, de Beatles e Rolling Stones a Madonna, de Chico e Caetano a Cazuza e Ana Carolina; dos anos de chumbo da ditadura militar às passeatas pelas diretas e empeachment do presidente a um novo país misto de decepções e esperanças; da invenção da pílula e liberação sexual ao bebê de proveta e o pesadelo da AIDS. Testemunhei a conquista dos cinco títulos mundiais do futebol brasileiro (e alguns vexames históricos).

Nasci no ano em que a televisão chegou ao Brasil, mas minha família só conseguiu comprar um aparelho usado dez anos depois e, por meio de suas transmissões,vi a chegada do homem à lua, a queda do muro de Berlim e algumas guerras modernas.

Passei por três reformas ortográficas e tive de aprender a nova linguagem do computador e da internet. Aprendi tanto que foi por meio desta que conheci, aos cinquenta e dois anos, meu companheiro, com quem tenho, desde então, compartilhado as aventuras do viver.

Não me sinto diferente do que era há alguns anos, continuo tendo sonhos, projetos, faço minhas caminhadas matinais com meu cachorro Kaká, pratico ioga, me alimento e durmo bem (apesar das constantes visitas noturnas ao banheiro), gosto de cinema, música, leio muito, viajo para os lugares que um dia sonhei conhecer.

Por dois anos não exerci qualquer atividade profissional, mas voltei a orientar trabalhos acadêmicos e a ministrar algumas disciplinas em turmas de pós-graduação, o que me fez rejuvenescer em contato com os alunos, que têm se beneficiado de minha experiência e com quem tenho aprendido muito mais que ensinado.

Só agora comecei a precisar de óculos para perto (para longe eu uso há muitos anos) e não tinjo os cabelos, pois os brancos são tão poucos que nem se percebe (privilégio que herdei de meu pai, que só começou a ficar grisalho após os setenta anos).

Há marcas do tempo, claro, e não somente rugas e os quilos a mais, mas também cicatrizes, testemunhas de algumas aprendizagens: a do apêndice me traz recordações do aniversário de nove anos passado no hospital; a da cesárea marca minha iniciação como mãe e a mais recente, do câncer de mama (felizmente curado), me lembra diariamente que a vida nos traz surpresas nem sempre agradáveis e que não tenho tempo a perder.
A capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo diminuiu, lembro de coisas que aconteceram há mais de cinquenta anos e esqueço as panelas no fogo.
Aliás, a memória (ou sua falta) merece um capítulo à parte: constantemente procuro determinada palavra ou quero lembrar o nome de alguém e começa a brincadeira de esconde-esconde. Tento fórmulas mnemônicas, recito o alfabeto mentalmente e nada! De repente, quando a conversa já mudou de rumo ou o interlocutor já se foi, eis que surge o nome ou palavra, como que zombando de mim...

Mas, do que é que eu estava falando mesmo?
Ah, sim, dos meus sessenta.

Claro que existem vantagens: pagar meia-entrada (idosos, crianças e estudantes têm essa prerrogativa, talvez porque não são considerados pessoas inteiras), atendimento prioritário em filas exclusivas, sentar sem culpa nos bancos reservados do metrô e a TPM passou a significar “Tranquilidade Pós-Menopausa”.

Certamente o saldo é positivo, com muitas dúvidas e apenas uma certeza: tenho mais passado que futuro e vivo o presente intensamente, em minha nova condição de mulher muito sex...agenária!

Des-construindo


Tijolo
Pedra
Areia
                        Viga
                        Cimento
                        Vergalhão
Poeira e brita
No chão

(em meio aos mesmos elementos
só a organização distingue
a demolição da construção...)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Futesporte e propagol


E pela grama
Onde se desloca a bola
Rola a brahma e a tv
A publicidade que se vê
A que vende e ninguém crê
Joga e rebola a mulata
da Antarctica, da coca-cola
Sabor de vida que a bola
Transforma em pura emoção
Rola que rola a bola
Catalisa a atenção,
Movendo consigo o Globo
A Folha e o JB
À moda de Galileu
(eppur se mueve)
e rolando pelo gramado
à sombra de chuteiras imortais
rola a bola certeira
em trajetória objetiva
que se resume
em outro grito de gol.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Quando se deseja acreditar...


Pode uma elefanta
passear serelepe
pela avenida
ao fim de uma tarde
florida
de sombrinha e
short purpurina?
Pode!!
Se graciosa e dengosa
Desfilar saltitando,
Como bailarina...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Paisagens


Abrem-se para o espaço
Os braços
Abraçam nuvens
Invadem os céus
Trazendo o verde
Verde e rosa da paineira em flor
Soberana

Solene, erguida
Em meio ao asfalto
Contra ela não investem os carros
A poluição, o concreto
Sobre o qual ela impõe-se
Majestosa...

Apenas o vento de outono a agride
E coalha o chão rachado
De cimento
Das flores rosas que se desprendem
E marcam o passar das horas.