terça-feira, 30 de setembro de 2014

Novas pesquisas vão consolidando resultados e outros pitacos gerais

Mais duas pesquisas, da CNT e da VoxPopuli, tiveram seus resultados divulgados ontem, ambas apresentando tendência de crescimento, embora lento, de Dilma e Aécio, enquanto Marina enfrenta ligeira queda.
Entre as razões identificadas pelos analistas para tais resultados, o tempo de propaganda de televisão do PT, muito maior que o do PSB, e a violência dos ataques dirigidos à candidatura Marina, tanto pela candidata do governo, quanto pela candidatura de Aécio.
Contribui também para a desconstrução da figura de Marina, o fim do período de luto pela morte de Eduardo Campos, e o emocionalismo que o evento despertou em todo o país; além do comportamento da própria Marina, dizendo e se desdizendo, tentando fornecer explicações sobre explicações, criando para si mesma situações de desconforto evidentes, como a da retirada de seu programa de governo de qualquer referência aos crimes homofóbicos. Além disso, embora posando de paladina de um novo modo de fazer política, adotou a velha prática de sempre, de acenar para os inimigos de sempre, em busca de apoios, aceitando fazer composições com setores que sempre combateu, como o do agronegócio, os banqueiros de sua assessora Neca Setúbal e o PSDB de Alckmin, entre outros.
Aos poucos, foram murchando sua pose e sua voz, vencida por uma rouquidão que não tem lhe dado tréguas.
Não bastassem os sinais inequívocos de sua fragilidade pessoal e de sua base de apoios, talvez ancorada na hipótese da escassa memória da população brasileira, resolveu mentir tanto sobre sua trajetória política quanto sobre os votos que deu durante seu mandato no Senado da República.
A tentativa de se mostrar como alguém menos partidária e mais interessada em votar de acordo com os interesses do país se frustrou quando o Globo, examinando os votos da senadora flagrou uma mais uma mentira da candidata.
Como foi o Globo a descobrir a falácia, tal fato acabou ajudando a presidenta Dilma e sua tentativa não disfarçada de fragilizar Marina. Claro que o Globo tinha outros interesses, não sendo incorreto se imaginar que o interesse maior era alavancar a candidatura Aécio. Entretanto, como Aécio não conseguiu, e nem poderia passar a imagem de estar em polo radicalmente antagônico ao de Marina, sob a ameaça de jogar fora a chance de acertar um acordo para um eventual segundo turno, o candidato do PSDB não angariou toda a vantagem que a descoberta de tal mentira poderia lhe proporcionar.
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Mas, as novas pesquisas indicam também uma certa estabilidade nas intenções de voto, sinalizando que, salvo a ocorrência de algum evento de dimensões apocalípticas, caminhamos para um segundo turno com Dilma e Marina, essa última poucos votos à frente de Aécio.
E, no segundo turno, a manterem-se as projeções, uma vitória da candidata à reeleição.
Para que tal quadro não seja muito alterado, o que pode ser esperado é um debate de encerramento dessa primeira fase de campanha eleitoral, na Globo, com Marina dedicando-se a atacar mais a Aécio que a Dilma.
Por outro lado, Dilma também deverá dedicar a maior parte do tempo para afastar qualquer hipótese de um crescimento de última hora de Aécio, dedicando-lhe mais atenção, embora não deixando de dar estocadas em Marina.
Quanto a Aécio, se insistir no comportamento de atacar a ambas, dispersará seus esforços, o que pode não lhe ser benéfico.
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Das pesquisas, o resultado mais interessante é o que aponta o crescimento de Luciana Genro e do PSOL, independente das causas consideradas mais desgastantes que patrocina e das discussões de temas menos aceitos pela conservadora sociedade brasileira, que se propõe a estimular.
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Outro ponto que atrai-me a atenção, embora pouco tratado pelas análises realizadas, refere-se à proporção de pessoas que ainda não sabem ou não quiseram declarar o voto. Parece-me que são ainda 11% no resultado da pesquisa VoxPopuli, o que indica que se a maioria desses optarem por votar naquele que, segundo as projeções deverá vencer as eleições, aumentam as chances de que Dilma elimine o segundo turno sendo eleita já no próximo domingo.
Para isso contribuirá o comportamento de alguns eleitores que insistem em continuar difundindo pelas redes sociais e emails acusações a Marina, agora tendo como principal alvo seu marido. Tais acusações, originalmente levantadas pelo PSDB tentam atrelar Marina e suas ideias ao PT e a um bolivarianismo que, a julgar pelos que repassam tais emails, suas posturas e seus conceitos, não significa nada de importante, exceto o resultado da mais pura e simples ignorância.
Pior, em alguns casos, uma ignorância que se manifesta inclusive pela desconsideração de qualquer oportunidade de aprender, discutir, se aprimorar, para ao menos ter argumentos mais sólidos e embasados para a manutenção de seus pontos de vista.


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Enquanto isso, no futebol brasileiro...

O Corínthians lança em campo um jogador cujo contrato não tinha ainda sido formalizado, embora o nome do atleta Petrus, já aparecesse no Boletim que a CBF publica de jogadores em condições de jogo, e que tem sido a origem da maior parte da confusão que anda dando origem a decisões esdrúxulas de tapetão.
Foi assim no ano passado em relação aos times da Portuguesa, o principal prejudicado, Fluminense e Flamengo; no caso do América Mineiro no atual campeonato brasileiro de segunda divisão e ... agora com o Coringão.
Quer dizer: deveria ser assim, porque depois de punir a esse mesmo atleta por agressão ao árbitro por seis meses, o mesmo STJD, uma pândega, resolveu voltar atrás e reverter a pena para suspensão por apenas 3 partidas.
Não bastasse a palhaçada sob a roupagem de algo sério, o que amplia a comicidade dos julgamentos, ontem vimos Valdívia ser condenado a dois jogos de punição por ter dado um pisão em um adversário deitado em campo, enquanto Emérson Sheik recebeu punição mais pesada, de 4 jogos, por ter falado a verdade sobre a CBF. Ou por ter agredido verbalmente ao árbitro do jogo que resolveu expulsá-lo.
Pelo sim, pelo não, não acredito que deveríamos esperar atitude séria de punição ou decisão de perda de pontos do Corínthians nas  partidas em que Petrus jogou de forma, no mínimo, irregular.
E como o Corínthians não deverá receber as penalidades que deveria para se tentar manter, ao menos uma certa coerência de procedimentos, acredito que Atlético e Cruzeiro serão punidos mais levemente, em razão dos atos bestiais protagonizados por seus torcedores, verdadeiros vândalos, indignos de serem considerados torcedores, tamanho o estrago e prejuízo que estão provocando aos times pelos quais dizer torcer.
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E, em meio a esse imbroglio, o Ministério Público proíbe por apenas 6 meses a presença nos estádios de torcidas organizadas de ambos os times. Punição tão branda que provoca frouxos de risos.
Em verdade, a única punição que deveria ser adotada seria a da eliminação da torcida organizada para todo o sempre.
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E as eleições no Brasil têm maior poder que se imaginava

A julgar por todos os críticos do governo Dilma e de todos os setores ligados à oposição, que continuam fazendo pouco caso e combatendo os argumentos apresentados pelo ministro Mantega para explicar a queda da Bolsa de Valores e a elevação do dólar, as eleições do Brasil têm um impacto muito maior que aquele imaginado.
E os "erros de política macroeconômica" com o abandono dos fundamentos que sustentam o pilar da estabilidade conquistada também passam a ter um impacto enorme.
Tal é a conclusão a que estamos autorizados a chegar já que a Bovespa caiu quase 5% no pregão do dia de ontem, mas não caiu sozinha, sendo responsável pela queda simultânea de todas as principais bolsas do mundo. Só que não.
As bolsas caem sempre que há elevação ou ameaça de elevação de juros na economia, em qualquer economia, como estamos vendo e ouvindo acontecer, mais uma vez com a expectativa de que o FED vai dar início a uma elevação dos juros nos Estados Unidos.
Devido à globalização e financeirização das relações econômicas internacionais, sobem os juros nos Estados Unidos, despencam as cotações nas principais bolsas daquele país, caem as bolsas dos principais países europeus e cai também a cotação no Brasil. Nada anormal.
Com a possibilidade de elevação de juros na economia líder do planeta, é natural que haja uma saída de capitais dos outros países, cujos juros foram mantidos estáveis para aquele país. Isso valoriza a moeda americana em todo o mundo.
Dito por Mantega, é motivo de ataques e críticas. No Jornal da Globo, à noite, ouvido o mesmo da boca de um gestor de fundo que tem sob sua responsabilidade 4 trilhões de dólares de dinheiro de investidores, não parece ser nada de anormal.
Todos os países estão enfrentando os mesmos tipos de problemas. Uns mais, caso dos emergentes. Dentro desses, mais ainda o grupo de países com déficits em conta corrente. caso do Brasil.
Mas nada que não poderá ser facilmente superado, bastando para isso que algumas poucas medidas facilitadoras ou desobstruidoras dos espaços de reprodução e valorização do capital sejam adotadas.
Como o entrevistado falou, nada de mais. E simples de ser feito.
E vem o Boris Casoy mostrar toda sua ignorância em economia para criticar o novo jeito de fazer política econômica do Brasil e de seu ministro da Fazenda.
De dar pena.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Debate na RECORD ganha espaço apenas por demonstração de total desequilíbrio e intolerância de um nanico moral

O debate patrocinado pela Rede Record na noite de ontem, domingo, 28 de setembro, serviu para mostrar apenas mais do mesmo: Aécio insiste e mente. Marina mente e insiste. Vendo seu governo ser alvo de ataques os mais variados, vindos de todas as direções, Dilma se irrita e mostra não ter qualquer jogo de cintura ou presença de espírito, transmitindo a todos que a vêem, um desconforto imenso por estar ali, tendo de prestar contas e dar satisfação de seus atos.
Quanto aos demais, infelizmente sobressaiu-se ontem, e deve ter sido um dos principais assuntos do twitter, o senhor Levy Fidelix, não pela apresentação de suas ideias, reconhecidas pelo próprio como de direita, e com um conteúdo que consegue juntar ao mesmo tempo o pior de dois mundos, o nacionalismo exacerbado e o militarismo. Junção que, somado à referência do bigode também curioso, poderia lembrar muito um certo líder que governou a Alemanha na primeira metade do século XX.
Fidelix deu ontem um show de intolerância , ilustrando o que pode advir do preconceito e, ao invés de deixar o auditório completamente atônito ou surpreso como o conseguiu, deveria ter saído já escoltado, com voz de prisão decretada e passagem de ida sem volta para uma delegacia.
Mas, esse candidato é muito insignificante para merecer a atenção dos que assistiram ao debate.
Mais interessante é notar o comportamento do Pastor Everaldo, atuando como linha auxiliar do candidato do PSDB e insistindo em ataques à gestão da Petrobras e aos desmandos e falcatruas ali acontecidos,  embora em nenhum momento tenha mostrado, nem ele nem qualquer outro candidato que mencionou a ferida da corrupção, qualquer interesse em punir também aos corruptores que, como é sabido, são exatamente os partidários o livre comportamento de mercado que o Pastor tanto propõe.
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Eduardo Jorge, médico de formação, foi o coerente portador da bandeira de resgate do SUS e da necessidade de se retomar os princípios que nortearam sua criação e sua inserção na Constituição de 1988, tendo como paradigma o modelo de saúde pública que funciona e é o orgulho da Inglaterra.
Entretanto, talvez querendo novamente ser o candidato mais engraçado e citado nas redes sociais, cutucou Luciana Genro, querendo dar à candidata do PSOL uma aula de história. O tiro, entretanto, saiu pela culatra.
Aproveitando-se bem da apresentação de seu partido como estando lutando por uma causa maior, mais universal, mais verde e menos ligada a interesses de grupos, precisou de ouvir de Luciana Genro o que ele deveria ter ouvido em qualquer cursinho de sociologia: que as sociedades são compostas de classes sociais, cuja visão de mundo e dos problemas que se lhes apresentam não é a mesma, e portanto também as soluções têm de ser vistas admitindo-se que partem sempre de um viés.
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Aécio, matreiro, com o espírito de velha "raposa" da política mineira passou o tempo todo tentando apresentar-se como o novo. Para isso, insiste nas mentiras do choque de gestão que diz ter aplicado no Estado de Minas Gerais, através da formação exitosa em sua opinião das parcerias público-privadas.
Sabe-se entretanto, que a parceria público-privada que mais resultados proporcionou foi a do dinheiro público que foi usado para asfaltar seu aeroporto - desculpe, a da casa de seu tio, para os momentos de folga e lazer que o candidato quiser passar, fazendo um retorno à sua origem: aquela modesta cháchara  em Cláudio.
Aécio quebrou o Estado de Minas Gerais. Deixou as condições financeiras do Estado, que recebeu praticamente saneadas de Itamar Franco, em situação de penúria. O estado é hoje um dos que têm maior dívida junto à União. Além disso, não paga o piso nacional dos professores da rede pública, o que já o levou a ser derrotado no Supremo, além de atingir os percentuais de aplicação de recursos na saúde, apenas por força de utilizar-se da mesma contabilidade criativa que critica nas contas públicas do governo Dilma.
Dizer que é competente, porque tem um governo composto por nomes de profissionais qualificados, uns e reconhecidos outros, é curioso. Principalmente para quem, como o candidato fez, querendo dar uma estocada em Marina, correu para responder que entre a opinião de seus técnicos e a dele, é a dele que irá prevalecer.
Ora, o comportamento dele é correto e é isso que se espera do chefe, qualquer que seja a equipe. Mas, essa postura também serve para enfraquecer a sua propalada competência, fundada na competência de seus subordinados.
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Aécio, sem discurso, voltou ao tema preferido dele, de corrupção na Petrobras, inclusive reforçando a última acusação, ainda sem comprovação, publicada por Veja, de que a campanha de Dilma teria solicitado recursos para seu financiamento, junto ao diretor preso, da empresa.
Mas não soube sair da armadilha preparada por Dilma, em relação a um seu discurso feito em referência à discussão da privatização da empresa.
Pena é que a citação de Dilma fosse tão antiga, anterior a outras em que, como líder da oposição no Senado, Aécio sempre adotou o mineirês, para fazer frases feitas, e completamente vazias de significado.
Ou alguém pode mesmo afirmar que Aécio foi o líder da oposição nesse período, em que o Agripino, o Álvaro Dias apareceram muito mais que ele?
Por isso, no Canal Livre, apresentado pela Band ontem, e que terminou pouco depois do debate, Aécio foi apresentado como um líder de oposição muito cordial, muito oportunista, educado, que só resolveu agredir o governo quando já confirmado como o eventual candidato de seu partido à presidência.
Aécio foi apontado como um candidato novo de idade mas com comportamentos identificados pelos eleitores como ultrapassado. Longe das mudanças que a população brasileira exige.
Na verdade, de sua fisionomia exala um olor de naftalina.
E quanto à crítica à política externa do governo Dilma, continuou martelando a questão do discurso de apoio ao grupo do Exército Islâmico, que não foi em qualquer momento o que Dilma fez.
Como abordado na coluna de ontem de Clóvis Rossi, na Folha, o que Dilma fez foi mostrar como a ONU perdeu seu papel de mediar as crises, sempre ficando a reboque dos interesses da política americana, em geral de cunho militarista.
Também criticou o discurso como se fosse um auto-elogio ou propaganda eleitoral, fato que já comentamos anteriormente. A verdade é que Aécio não ouviu ou não leu o discurso de Dilma, ou se o fez, não teve a preocupação de ver que aquele discurso apenas dá sequência a outras críticas e opiniões da própria presidenta brasileira nas solenidades de abertura das assembleias da ONU.
Vir falar que Dilma não tem uma política externa digna do país, é apenas ratificar o que já foi dito do candidato, não só por sua postura mas também por seus quadros qualificados: um total e completo alinhamento, quase submissão aos caprichos do governo e dos interesses americanos.
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Marina, mais uma vez adotando a postura de coitadinha, mentiu novamente sobre a sua votação por ocasião da CPMF. Foi também desmentida por Eduardo Jorge, tanto no que se refere ao porque de tantas mudanças de partido, que se explicam por fatores bastante distintos daqueles de manutenção de seus princípios, quanto em relação a ser a representante de um modo novo de fazer política. Afinal, como Eduardo Jorge afirmou sem qualquer desmentido, apenas deixou o PV quando perdeu o controle da sigla. E saiu atacando a ética do partido, apenas para fundar um outro partido que pudesse chamar de SÓ seu.
Marina tratou da questão do etanol, das usinas paralisadas e de trabalhadores demitidos em pergunta dirigida a Dilma, mas não teve como reação uma questão que deveria mostrar como ela pretenderia resolver o problema de crescente necessidade de fornecimento de energia, sem incluir como opção a construção de barragens que sempre criam problemas e estragos ambientais.
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Mas a personagem que merece mais tempo de comentários é Dilma, a irada.
Sua presença e a imagem que passa quando vai a programas ou eventos em que tem de falar para o público é tão ruim  que dá pena. Não sei se fruto de arrogância ou de uma falta de traquejo mesmo.
Ela é muito fraca e, insisto na expressão, sem jogo de cintura. Sem leveza. Sem presença de espírito. O que passa para o telespectador uma sensação ruim de martírio.
Tão ruim seu comportamento, que mesmo falando verdades, como a questão da segurança pública que é responsabilidade dos Estados conforme a divisão de encargos entre as três esferas de administração pública, acabou premiando ao ex-governador mineiro.
Tudo bem que falou de que aqui, na gestão Aécio, aumentou a criminalidade. Mas, até para falar isso, por duas vezes ela falou que em seu estado, na sua Minas... como se também ela não fosse mineira.
Dilma age como menina mal-humorada ao tratar de questões que, por certo, lhe são espinhosas. Mas isso não lhe dá o direito de continuar confundindo - e dando munição a seus adversários ao fazê-lo,  a questão de atribuições e responsabilidades legais dos órgãos que integram a estrutura administrativa do governo, qualquer que ele seja, com a sua gestão em relação a esses mesmos órgãos.
Está certo que o que ela quer dizer é que, em outras oportunidades, em outros governos, quando esses entes públicos agiam e o resultado não fosse do agrado do governante de plantão, era comum haver a famosa dança das cadeiras. O mandatário do órgão ganhava uma promoção, "caindo para cima", enquanto outro chefe mais ao gosto da autoridade maior era indicado.
Por razões que são óbvias, e internas aos órgãos, o ritmo ou rumo das atividades era alterado, sempre em benefício do interesse do ocupante do cargo mais importante.
Dilma não fez isso. Nunca se preocupou em fazer isso. Mas ela não pode achar que por não interferir é ela quem está determinando o que a lei é que estabeleceu como atribuição do órgão.
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Para meu espanto, enquanto repetiam as mesmas declarações para um público que deve alterar pouco seu comportamento já decidido, ao menos para os que já tomaram suas decisões a menos de uma semana das eleições, Dilma foi extremamente humilde e bastante moderada nas suas declarações finais.
Pediu um voto sem rancor, um voto de paz, voltado para a manutenção das conquistas obtidas pelo país e seu povo,  e uma reflexão do eleitor para que ele votasse de acordo com seus princípios. Ao final, pediu que esse eleitor lhe dedicasse seu voto.
Para quem é apresentada como autoritária e até agressiva, foi um momento em que representou justo o oposto dessa imagem. E foi seu melhor memento no debate, em minha opinião.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Desespero ou despreparo de Aécio, o Galo e os sustos do Galo e distribuição de renda de fantasia

Risível, para dizer o mínimo, as críticas direcionadas ontem, pelo candidato Aécio ao discurso proferido na abertura da assembléia geral das Nações Unidas pela presidenta do Brasil, Dilma. Mas, fruto que é do desespero, bastante compreensível. E, não há como não admitir, de uma previsibilidade plena, bem a gosto do candidato.
Previsível, como que para compor a rima, e também bastante de acordo com a mensagem da propaganda a que parece que ele deu início, convocando o voto útil... nele!!!
O que parece confirmar apenas aquilo que, parece-me já ter sido ventilado por outros comentaristas políticos, ao fazer considerações a respeito de comentários, até mais virulentos, feitos pelo ex-presidente FHC: a ideia do voto útil em Marina e seu PSB, para tirar o PT do poder.
Porque em Aécio, seria perfeitamente aplicável a frase que Theotônio dos Santos cunhou para seu avô, Tancredo, nas eleições de 1982: para que votar útil em um inútil?
E olhe que era Tancredo! E que Tancredo então disputava o governo do Estado de Minas Gerais, naquelas que seriam as primeiras eleições diretas depois do golpe de 1964, cabeça a cabeça com Eliseu Resende.
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Mas os comentários de Aécio, que encontram eco inclusive junto a parte da imprensa, como nos disparados por Boris Casoy no Jornal da Noite, pela Band caracterizam-se por uma tremenda demonstração de ignorância ou de interpretação equivocada do que ouve e lê. Talvez mais a primeira hipótese, da ignorância, frente à primeira.
Senão vejamos: para que finalidade se presta a ida à Assembléia e o discurso inaugural, por convenção realizado pelo Brasil, nas Nações Unidas, senão para "vender" o país e suas ideias a respeito dos principais temas que dominam a agenda dos principais países do mundo?
Creio que sempre foi assim, e não seria diferente dessa vez. Portanto, Dilma não fez, como o desesperado e agora despreparado candidato, declarou, propaganda eleitoral na ONU.
O que ela fez, ao ler seu discurso, é ratificar as críticas que já vem fazendo desde anos anteriores, à política econômica e às propostas de soluções de crise sugeridas para adoção por países como a Grécia, e outros do continente europeu. Propostas que levaram a uma situação de desemprego elevado, de recessão, de corte de gastos públicos e geração de miséria.
Ora, desde há muito tempo, na própria Assembléia, Dilma é crítica de tais soluções adotadas pelos países mais ricos do Velho Continente, de cunho nitidamente conservador.
E, vem aplicando aqui em nosso país, receituário que não agrada a esses mesmos setores conservadores, e que, por esse motivo, é objeto de uma série de reportagens de críticas feitas pelas principais publicações financeiras e econômicas de todo mundo.
Estamos cansados de ver estampadas nas capas de The Economists e que tais,  imagens do Cristo Redentor, como um  foguete que altera sua rota e experimenta uma queda, em referência ao pequeno crescimento do PIB no governo Dilma.
Quantas vezes, reportagens dos Financial Times da vida não abordam como o Brasil perdeu o rumo e transformou-se no patinho feio dos Brics?
Ora, o que Dilma fez, longe de ser propaganda política para um eleitorado interno que poucas vezes dá notícias de tais eventos internacionais, foi reforçar as críticas de sempre à solução para a crise econômica mundial pregada pelos setores dominados pelo capital financeiro internacional mais selvagem.
O que ela fez foi mostrar que, ao contrário de lá, onde o desemprego atinge recordes, aqui no Brasil, milhares de brasileiros deixaram a fome para trás, como reconhecido por órgão da própria ONU, como a FAO.
O que ela fez foi mostrar que milhares de brasileiros, quase a população de uma Espanha, puderam ter acesso a melhores remunerações e, graças às políticas sociais inclusivas e universais, puderam passar a fazer parte de nosso mercado consumidor.
O que ela mostrou foi como o país deu atenção a questões tão importantes como a melhoria da situação da educação, permitindo que estudantes antes completamente distanciados dos cursos universitários, passassem a ter acesso às Universidades. E como as fronteiras do conhecimento se ampliaram para nossos estudantes, através do programa Ciência sem Fronteiras.
Ora, se para Aécio isso era propaganda eleitoral em foro inadequado, tal crítica transforma-se exatamente no oposto daquilo que ele pretendia. Ao fazer tal comentário, o candidato do desespero mostra que não dava atenção aos discursos anteriores da presidenta, da mesma forma como o povão não dá qualquer importância a tais discursos.
Mas, agora, o que o candidato fez foi despertar o interesse em alguns por irem ler e conhecer a íntegra do que falou nossa presidente. Aécio repercutiu o que Dilma disse. E o fez mal.
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Vejamos um segundo exemplo: a questão da segurança mundial.
Para Dilma, o uso da força não elimina as causas profundas dos conflitos, representados pela Questão Palestina, os ataques ao povo sírio, a desestruturação do Iraque, e outros embates e intervenções militares que criam vítimas e tornam mais agudos os dramas humanitários, sem conseguir a não ser acirrar os conflitos e criar uma situação de barbárie. E, aqui, ela fez uma crítica ou uma auto-crítica ao Conselho da ONU e a todos os países membros, incapazes de promoverem uma solução pacífica para os conflitos.
Ora, onde está que Dilma apoiou o Estado Islâmico e seus atos de barbárie, ou a decapitação de reféns como Aécio acusou e Boris Casoy, no desespero de ver seu candidato preferido despencando ladeira abaixo, repercutiu?
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Tem de ser muito ignorante ou ter muita má fé para falar o que o desesperado candidato mineiro vem falando.
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Os sustos do Galo

Mais uma vez, ontem, para não perder o costume, o Galo fez a Massa sofrer em partida que estava praticamente ganha, embora com o Santos não merecendo o placar adverso.
Porque se o Galo conseguiu dois gols no primeiro tempo de jogo e Carlos perdeu pelo menos dois gols praticamente à frente de Aranha, é obrigação nossa admitir que o Santos já havia tido duas oportunidades claras, muito mais claras de gol com Damião, uma das quais acertando a trave de Victor.
E os dois gols do Galo foram de jogada de rara felicidade, a primeira em um cruzamento de Tardelli que, sem pegar em ninguém, traiu Aranha entrando direto no gol. O segundo gol, contra de Cicinho, foi outra jogada que não tinha qualquer maior pretensão.
Já no segundo tempo, o Atlético marcou outro gol, em jogada rápida de cobrança de falta, de inteligência de Guilherme, Carlos continuou perdendo gols (outros dois) e o Santos mandou nova bola na trave, perdendo gols tanto quanto no primeiro tempo.
3 a 2, placar final mostra como o time, sem precisar, quase coloca em risco uma vitória que parecia folgada.
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Valeu por Tardelli e sua marca de 9 gols contra o time praiano, em 8 jogos. Por uma defesa mais uma vez milagrosa de Victor. Pela homenagem-desagravo a Aranha, prestada pela torcida do Galo.
Agora gostaria que alguém me explicasse, já que parece que não entendo mais nada de futebol, como é que o time dispensa um Fillipe Souto e fica com Leandro Donizete. E pior, ainda põe o volante para jogar...
Não dá para entender.


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Estudo mostra que redução da desigualdade de renda é balela

Como sempre nos manifestamos aqui nesse espaço, é ilusório acreditar e difundir a ideia de que o governo Dilma está fazendo uma distribuição de renda para valer e reduzindo a desigualdade em nosso país.
Estudo elaborado por professores da UNB e do IPEA, citado na excelente coluna de ontem de Clóvis Rossi, trabalhando dados da Receita Federal mostra que os mais ricos aumentaram sua participação na renda nacional, o mesmo acontecendo para os mais super-ricos.
Na contramão do que o governo gosta de anunciar, a distribuição de salários mais altos para os mais baixos é o máximo que  o governo tem conseguido fazer.
Mas, vale a recomendação da leitura da coluna na Folha e uma leitura do tal trabalho de pesquisa.




quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Convergência de pesquisas e viradas de última hora

Faltando menos de 15 dias para as eleições, é de se esperar que comecem a convergir os dados das pesquisas de intenção de voto realizadas e divulgadas pelos vários institutos de opinião pública.
Em todas elas, um ponto em comum: o crescimento de Dilma apesar de... e a praticamente inquestionável realização de um segundo turno, contra a candidata Marina Silva.
Em todas as pesquisas, Dilma já assegura uma vantagem sobre Marina no primeiro turno, com os institutos divergindo em relação ao resultado de um segundo turno.
Entretanto, as pesquisas divulgadas no dia de ontem, mostram uma reversão do quadro. Se antes Marina aparecia na dianteira, agora ambas aparecem empatadas de fato, em 41% das preferências, para um instituto.
Bastante diferente dessa projeção, o instituto Vox Populi já mostra Dilma com alguma vantagem à frente de sua oponente, virando o jogo.
Hoje sai a pesquisa Datafolha e como já estamos chegando à reta final, pode ser que a frase com que abri esse comentário se confirme e a convergência de dados mostre já a presidenta com uma margem de diferença capaz de afastar de cena o empate técnico.
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Quanto à pesquisa Vox Populi, que mereceu comentário de certa forma entre o tom incrédulo e sarcástico de Boris Casoy, é preciso lembrar que o instituto mineiro tem longa tradição de acertos, mesmo apontando resultados na direção contrária de outros institutos concorrentes, o que serve para atestar a qualidade de seu trabalho.
Não tenho necessidade nem procuração para representar o Vox e/ou defendê-lo. Sua trajetória faz isso por si mesma.
Outra questão frequentemente levantada pelas pesquisas é relativa ao número de pessoas entrevistadas, que alguns consideram insuficiente. Culpa, nesse caso, da ignorância e do desconhecimento de como se realizam essas pesquisas e das técnicas de amostragem e depois da aplicação da Estatística.
Afinal, independente do número considerado pequeno, os testes de hipótese, com base nas leis de probabilidade e na utilização das funções de probabilidade indicam com margem de erro passível de cálculo e divulgação, que resultado pode ser esperado.
Qualquer número de entrevistados maior que o recomendado pela Estatística iria apenas aumentar o custo da pesquisa, com ganho em alguns casos completamente irrelevantes, para o grau de confiança com algum significado.
Assim, comentários como o que já vi em redes sociais, de que uma pesquisa com cento e tantos mil eleitores indica resultado completamente diverso é risível, no mínimo, por demonstrar completa falta de conhecimento de assunto que, por dever de ofício e formação profissional alguns dos que postam tais matérias deveriam possuir.
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Por outro lado, alguns insistem na tese de que não conhecem qualquer pessoa que já tenha sido consultada por essas pesquisas.
Talvez por não conhecerem tanta gente quanto sua pretensão de importância e popularidade os leva a acreditar conhecer.
Um desses, também em rede social até resolveu realizar uma pesquisa por conta própria, dispondo-se a divulgar o resultado a que chegasse.
Ora, independente do candidato que apóia ou para que torce, a estupidez em que incorre é descomunal, já que a tal pesquisa nasce completamente viesada. Ou alguém em sã consciência poderia imaginar que entre os amigos que compartilham com ele da mesma rede de contatos, poderia haver grande discrepância?
Afinal, são todos amigos. E, como tal, é natural que pensem, façam as mesmas atividades, pensem o mundo da mesma forma e sob uma ótica que é comum a todos.
Pois bem, alguém duvida que a pesquisa indicou outra candidatura que não aquela apoiada pelo nosso pesquisador?
Tal comportamento mais parece choro de derrotado, que qualquer outra coisa.
Mas, voltando à ideia por trás da tal pesquisa, não me lembro de ninguém, muito menos essa pessoa, duvidar ou questionar da realização de pesquisas outras, de produtos ou lançamentos no mercado consumidor.
E tais pesquisas, bem sabemos, existem. Funcionam. E até há muitos anos atrás, quando do lançamento no mercado de uma bebida nova, um bitter, o Campari, testemunhei a pesquisa sendo realizada. Mandaram uma garrafa da bebida para minha casa e depois pediram que algumas características da mesma fosse analisada.
Não sei se é sorte, mas há algum tempo atrás, nas vizinhanças de minha casa, aproximou-se de mim uma moça com uma prancheta e as perguntas sobre candidaturas. Lembro-me que não estávamos em época eleitoral, como agora.
Mas no início do ano, ligaram para minha casa perguntando como eu estava vendo os programas de saúde em nosso estado, etc.
Ou seja: as pesquisas existem. Mesmo que não sejamos tão populares ou bem informados quanto supomos.
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Mas, dito isso, é preciso sempre ressaltar o fato de que a pesquisa não é a eleição. Pesquisa indica intenção, e não apenas de intenções o inferno está cheio, como as intenções mudam. E podem mudar por detalhes ou por motivos muito pequenos.
Não me lembro com precisão por não estar no Rio, mas em 1982, foi nos últimos dias de campanha que Brizola passou a surgir como favorito na disputa. apesar de todo o esquema - rede Globo e Proconsult à frente, para que a vitória fosse decretada para outro candidato.
Também de última hora foi o impacto do sequestro, descoberta do cativeiro e libertação de Abílio Diniz, com os sequestradores sendo fotografados com camiseta de propaganda de campanha do PT.
Tal fato teve peso considerável em levar alguns eleitores indecisos à decidirem seu voto, na última hora.
Não há como negar que um fato qualquer, até ligado a algum dos escândalos que rondam nosso noticiário não pode vir a interferir e mudar o jogo.
Mas ressalte-se: pesquisa não é a eleição. Pesquisa é como treino. E, como dizia Didi, treino é treino e jogo é jogo.
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Apenas um comentário: nas pesquisas que têm sido divulgadas, Marina cai para o patamar em que já se encontrava no início da corrida sucessória, ainda com Eduardo Campos vivo.
Talvez em análise gráfica de mercados alguém poderia dizer que, na verdade, volta para sua linha de resistência.
Dilma conta com a vantagem de possuir muito mais tempo de campanha na mídia, graças aos acordos incontáveis e impublicáveis - alguns, que fez com essa finalidade.
Já Aécio, que acertadamente tem sido chamado por José Simão da Folha de o candidato pancake, tem um discurso completamente vazio. A ponto de já terem comentado que não basta apenas ser contra o PT, o candidato tem de mostrar a favor do que ele é ou pretende ser.
A entrevista dada ontem no Bom dia Brasil, embora com um comportamento menos agressivo dos entrevistadores em relação ao candidato, na minha avaliação, deixou sem resposta a maioria das questões. Apenas ficar a dizer que é o mais preparado, que fez o melhor governo, que tem a melhor equipe e que tem a melhor estrutura para fazer o país voltar a se desenvolver, não assegura coisa alguma, como bem o disse Miriam Leitão.
O candidato não convence e por isso, despenca até mesmo em seu estado, onde se julgava imbatível.
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Luciana Genro, ao contrário, tem propostas mais difíceis de serem aceitas pela sociedade, como fez questão de lembrar-lhe o Rafinha Bastos do Agora é Tarde da Band. Mas como a candidata também frisou, melhor trazer a luz temas espinhosos e tentar um mínimo de espaço para discuti-los que fingir que os problemas não estejam aí, para serem resolvidos.
E como ela afirmou, se importa ser eleito, há um preço que é alto demais para ser pago, mesmo por um presidente da República.
Como disse Fidélis, no debate do SBT, conduzido por um Carlini extremamente antipático, quem paga a festa determina o que toca a banda.
É isso.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Entrevistas econômicas, de Serra e de Dilma no Bom dia Brasil

Interessante o debate ontem, no Estadão, entre Nelson Barbosa, economista ligado à Dilma e que alguns boatos asseguram ter muitas chances de ocupar o cargo de Ministro da Fazenda em um segundo mandato da presidenta, e Samuel Pessôa, colunista da Folha e ligado ao PSDB.
E, como não poderia deixar de ser, a questão da retomada da inflação e de um relaxamento do sistema de metas foi o assunto dominante, com Nelson Barbosa tentando mostrar que, dados os pesados custos sociais envolvidos na adoção de medidas destinadas a obter a convergência imediata do índice de inflação para a meta de 4,5%, a questão central deixa de ser se o governo abandonou ou não o sistema de metas, mas a do prazo para que a convergência seja obtida.
Ou seja, a discussão quanto ao sistema de metas não pode prescindir de outra, relativa ao período de tempo que a sociedade considere necessário para que a meta seja atingida, sem custos elevados.
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Na opinião de Pessôa, a busca da convergência deveria ser no mais curto prazo possível, especialmente tendo em vista que, face a políticas adotadas pelo governo, consistentes no represamento de preços importantes, como o da energia e o dos combustíveis, a sociedade trabalha com expectativas de uma inflação maior - e fora dos limites do sistema - para 2015.
Segundo Barbosa, não é possível ignorar que o país sofreu um choque de preços de alimentos, por força de fatores naturais, a chamada inflação do tomate, por exemplo, e que para não sacrificar algumas conquistas no campo dos ganhos sociais, optou por estender o tempo para que a inflação retornasse à meta proposta.
Para isso, adotou a política de transferir para a sociedade de forma mais lenta os preços de alguns serviços, como o da energia que, entretanto, já vem subindo na casa dos dois dígitos nesse final de ano de 2014. Isso significa que o impacto de uma correção de preços de energia elétrica sobre os índices de inflação serão menores em 2015, o que permite que se estime uma inflação para o próximo ano de perto do limite superior da meta.
Entretanto, ele faz questão de frisar, não há e nem pode haver qualquer economista que seja contrário ao sistema de metas e de controle da inflação,  insistindo na tese de que tal controle não deva ser divorciado da discussão de um prazo para que a meta seja alcançada.
Para ele, o país já viveu experiências de inflação que ultrapassaram os limites do sistema de metas, e já deu demonstrações de que é capaz de adotar as medidas necessárias a retornar a meta, bastando que a sociedade aceite um prazo mais longo.
Nesse momento, esquecendo-se de que o PSDB entregou uma inflação completamente fora dos limites estabelecidos quando da mudança do governo FHC para o governo Lula, Pessôa fez referências a um período em que vivíamos uma hiperinflação que distorcia completamente o ambiente e o cálculo econômico.
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Ou seja, ligado aos grupos empresariais e banqueiros que exigem maior previsibilidade para reduzirem os riscos de aplicação de seus dinheiros, Samuel Pessôa é favorável a um ajuste imediato, da economia brasileira, mesmo que isso provoque de imediato algum desemprego, perda de renda pelos mais desamparados e uma elevação de preços momentânea, a chamada inflação corretiva.
Barbosa é favorável a uma política que promova os ajustes de forma mais gradual, tentando preservar os ganhos conquistados pelos governos petistas, em relação às questões sociais.
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Perguntados a respeito da independência ou autonomia do Banco Central, que tem se tornado uma questão importante na campanha eleitoral, Barbosa argumentou que nossa Autoridade Monetária já tem assegurada essa autonomia, o que pode ser ilustrado pelo fato de as taxas de juros terem sido objeto de elevação em pleno ano eleitoral, com todas as consequências que isso acarreta para o crescimento do PIB e outras variáveis econômicas.
Ou seja: o debate só ratifica a tese de que, se os objetivos a serem perseguidos são os mesmos, a forma de se procurar alcançá-los é que provoca a maior celeuma, especialmente, tendo em vista o ponto de partida ou de referência que cada um dos contendores adota.

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Entrevista de Serra

Nesse meio tempo, em outro site, entrevista com José Serra dava conta de que para o ex-ministro e agora candidato ao Senado pelo PSDB paulista, o loteamento de cargos na gestão pública, inclusive de agências, em troca de uma pretensa governabilidade é uma das piores características de nossos governos.
Ilustrando seu raciocínio, cita que agências reguladoras ligadas à questão da Saúde não têm sequer um médico, e acaba relembrando que, por força de tais acordos partidários, Lula perdeu a manutenção da CPMF no Congresso, já que não quis atender ao pedido ou imposição da bancada do PMDB, que exigia um cargo de destaque em empresa pública para votar favorável ao governo.
De sua entrevista, ressalta ainda o fato de que deixa muito claro que não acredita na possibilidade de que um governo de coalização nacional possa ter êxito, o que é uma ducha de água fria naqueles que ainda acreditam em que Marina poderia contar até mesmo com a presença dele em um eventual ministério de notáveis.

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Dilma no Bom dia Brasil

Mais uma vez, a presidenta Dilma esteve sendo entrevistada por jornalistas da rede Globo e, mais uma vez, adotou a mesma tática de ficar muito tempo tratando de uma questão apenas, por mais importante que seja, sujeitando-se a ser, inúmeras vezes, interrompida por seus entrevistadores.
Infelizmente, para ela, esse comportamento soa antipático aos que assistem a sua entrevista, mesmo que ela esteja preocupada em mostrar que foi em seu governo que os órgãos de investigação têm podido investigar sem qualquer restrição.
É verdade que não apenas a Polícia Federal, mas outros órgãos tiveram garantida mais liberdade para exercerem sua função, mas a presidenta poderia ser mais objetiva em mostrar que em seu governo mais operações e mais resultados foram obtidos, e que agora resta que as falcatruas sejam adequadamente punidas pela instância adequada.
Com relação à indicação de Paulo Roberto Costa para a diretoria da Petrobrás, mostrou que a escolha recaiu sobre um funcionário de carreira, que já vinha, por seu merecimento, galgando cargos na empresa, tendo chegado a ser indicado em governo anterior, para diretor da filiada responsável pelo gás.
Ora, daí a saber que o diretor tenha se corrompido e passado a obter ganhos escusos em negócios relacionados a sua diretoria, vai uma distância grande. Mas a presidenta deveria ter jogo de cintura para virar o jogo, o que ela definitivamente não consegue fazer.
Afinal, se como os jornalistas todos apontavam, o diretor era corrupto e ela deveria ter conhecimento e não teve, além da falha de informação e controle, que ela deveria admitir, há outra lacuna no episódio. Quem eram os corruptores? Quem se beneficiava das decisões pagas a peso de ouro? Porque os repórteres não procuraram esquadrinhar e apontar quem estava do outro lado da mesa, pagando caro ao diretor?
Com relação à propaganda dita enganosa que vinha fazendo em relação às propostas de Marina, especialmente ligada ao Banco Central e sua prometida independência, mais uma vez perdeu a oportunidade de dizer que estava apenas levantando uma possibilidade já identificada em outros países, a da captura dos órgãos reguladores pelas entidades reguladas.
Ao contrário, ficou perdida em detalhes relativos ao seu direito de mostrar que o procurador geral da República pode ter uma opinião pessoal, que não significa que ela já tenha sido condenada. Afinal, ainda resta o pleno do Tribunal julgar o mérito do que afirma o procurador.
Com isso, e se alongando demais em cada questão, a presidenta cansa e, embora não tenha dito nada que seja absurdo ou que esteja errado, inclusive no tocante aos números de desemprego, ela mostra que perde oportunidades importantes, como a de destacar por exemplo, na questão da educação, o Ciências sem Fronteiras. Que é um excelente programa de seu governo.
Assim ao final da entrevista, em que nitidamente os repórteres ficam e mostram seu descontentamento, aqueles que assistiram ao programa acabam adotando posição ainda mais crítica à presidenta, que já não é muito simpática, ao falar em público.





segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Clássico é clássico e vice-versa

Como disse certa feita um desses nossos folclóricos boleiros, acho que o Claudiomiro, que jogou pelo Internacional de Porto Alegre, clássico é clássico e vice-versa.
E para não fugir do costume, o clássico de ontem mostrou mais uma vez a verdade contida na frase do atleta.
Porque o Cruzeiro foi superior durante praticamente todo o jogo: acertou a trave por duas vezes, teve uma jogada perigosíssima no segundo tempo, em que Dagoberto entrou na área e, frente a frente com Victor chutou completamente descalibrado, com a bola cruzando a extensão da área e indo morrer lá fora.
Quanto ao Galo, o locutor insistia em afirmar que o time não estava disputando o clássico. E o time parecia mesmo não ter entrado em campo, ao menos, não com a disposição que um jogo com tamanha tradição exige.
A ponto de o Galo, até o primeiro gol do jogo feito pelo jovem Carlos, não ter dado sequer um chute ao gol de Fábio, que assistia ao jogo sem ser incomodado.
E, por obra dos caprichos do futebol, nem bem passados 30 segundos do primeiro gol, a bola sobra livre na área do Cruzeiro, para Tardelli fazer 2 a zero para o Atlético. Placar surpreendente, para o volume de jogo demonstrado por ambos os times.
A verdade, de meu ponto de vista é que o Galo entrou parecendo estar com medo do time adversário, líder disparado do Campeonato e franco favorito para vencer o jogo. Assim sendo, Levir armou o time evitando correr riscos demasiados na defesa e, embora jogando apenas com um volante, o time foi poucas vezes à frente, ficando a maior parte do tempo trançando bola no meio. Para isso também contribuiu a opção de não contar com um centro avante fixo na frente, já que Carlos ficou flutuando na frente.
E, se não entrou com mais de um volante, o que podia transmitir a impressão de que Levir armou o time para partir para a frente, o time do Galo tinha Dátolo, Guilherme, Tardelli todos jogando no meio, enquanto Luan atuava, segundo o comentarista da Itatiaia, como secretário de Marcos Rocha.
Já o lateral, que costuma ser a opção de saída para o ataque do time, ficou preso, praticamente todo o jogo na defesa, sem partir para a frente.
Com tal disposição em campo, e vendo o Cruzeiro jogar partindo para cima deste o primeiro minuto, como quem quisesse decidir logo o jogo, o comentarista do pay-per-view por duas ou três oportunidades observou que o Cruzeiro disputava o clássico com tudo que tinha direito, enquanto o Atlético parecia estar disputando uma outra partida, dessas que não representam grandes coisas, exceto cumprir tabela.
E isso dava chances para que Jemerson mostrasse todo o seu potencial como defensor, e que Victor fizesse defesas memoráveis como na bola que sobrou para Éverton Ribeiro da entrada da área enfiar o pé e Victor espalmar para fora.
Deu também chances para mostrar que, de fato, Emérson Conceição, embora tenha facilidade de fazer cruzamentos para a área, não tem condições de jogar na defesa do Galo, tamanha sua fragilidade.
E mostrou que Carlos já é, de fato, mais que uma promessa.
No segundo tempo, depois que conseguiu seu gol de empate, e com as modificações que foram feitas pelos técnicos - a de Luan por contusão, depois de agredido por uma cotovelada em pênalte claro, não marcado pelo árbitro - o time do Cruzeiro continuou partindo para cima, mantendo a posse de bola e, como observou um comentarista, com um futebol muito mais agudo que o do Galo.
Mas, foi o Galo que em mais uma boa jogada achou Carlos na área para que o atacante cabeceasse no contra-pé de Fábio, já nos instantes finais do clássico, decretando a derrota do time favorito.
***
Pena que enquanto o líder do campeonato ia sendo derrotado em pleno Mineirão, o vice-líder, depois de sair na frente no placar, também ia sendo derrotado, de virada pelo Corínthians, mantendo a situação do Cruzeiro muito tranquila.
É como eu afirmei na última postagem que havia feito: os adversários do Cruzeiro estão fazendo de tudo para que o time mineiro erga pela segunda vez consecutiva o título. Porque enquanto o time mineiro vai apresentando uma regularidade indiscutível, entremeada de alguns jogos de nível mais elevado, os demais times parecem não estarem levando a sério a competição. Tropeçando nas próprias pernas, e deixando o time de Marcelo Oliveira ir mantendo a ponta, sem ser incomodado.
Resultado: mesmo derrotado, o time de Marcelo Oliveira continua líder e mantendo a distância de 7 pontos para o seu perseguidor mais próximo, o São Paulo.
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Nesse meio tempo, o Galo vai chegando, aos trancos e barrancos e com grande parte do elenco no estaleiro, ao grupo dos quatro primeiros.
Tentando e lutando por uma vaga na Libertadores.
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Finalmente, não há como não abordar o fato de a torcida do Galo entrar e atirar fogos no Mineirão, o que é proibido.
E que, agora, relatado pelo juiz, pode dar uma punição para ambos os times. O dono do mando, por não impedir a entrada dos artefatos. E o time do Galo, de onde partiu o disparo do foguete que levou o juiz a interromper a partida.
Perdem os dois por, mais uma vez, a imbecilidade e estupidez de quem se diz atleticano e apaixonado. Mas que não passa de um tremendo idiota.
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Pior, a agressão a jovens que estavam parados em um ponto de ônibus, esperando para irem para o estádio e que foram alvejados por tiros disparados por um criminoso, torcedor do time contrário.
Não identificado, por enquanto, o torcedor que foi responsável pelos tiros deveria ser punido com rigor, sendo impedido de estar fora de alguma delegacia em dia de jogos de seu time, já que não poder entrar apenas no estádio é pouca punição para quem não pode andar nas ruas da cidade.
Da mesma forma, não se justifica a agressão que sofreu o ônibus do Atlético, com latinhas e outros objetos sendo atirados em sua direção por uma torcida que não mostra qualquer noção de educação e espírito esportivo.
Uma pena, que isso aconteça aqui, a terceira capital do país...

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Cruzeiro lider, CPMI de fantasia, e Marina versus Dilma

E infelizmente, em minha opinião, os times que disputam a série A do Campeonato Brasileiro, insistem em querer fazer do Cruzeiro o bicampeão da competição.
E com larga vantagem, situação que, ao contrário do que pensa certa parte da imprensa, especialmente da carioca que ainda prega a volta de uma fase final sob a forma de mata-mata,  não diminui o interesse pela competição.
Apenas faz justiça,também somos obrigados a reconhecer, ao time que melhor se preparou ao longo de todo o ano, manteve maior equilíbrio, manteve seus principais atletas, deu sequência a um trabalho sério, que começa fora de campo, passa pela beirada do gramado (e aqui a manutenção do treinador e a confiança em dar-lhe tempo para aplicar suas ideias é de fundamental importância), e vai desaguar em campo.
Infelizmente, volto a repetir, o Cruzeiro, que eu não ficaria nem um pouco chateado se estivesse caindo pelas tabelas, é hoje o time que apresenta a melhor estrutura e, por isso, sobra no campeonato. Apenas cumprindo seu papel. Jogando o feijão com arroz. Coisa que os outros times não dão conta de fazer minimamente, como mostrou ontem o São Paulo.
E o que se vê é que enquanto todos os clubes que ocupam as primeiras colocações da tabela têm enormes dificuldades para enfrentarem os últimos colocados, com São Paulo, Internacional, Corínthians, Fluminense saindo derrotados de campo várias vezes, o Cruzeiro joga para o gasto. Vence. E contando com a incapacidade dos demais vai se distanciando.
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Talvez por esse motivo mesmo, e para dar algum maior sabor de disputa ao campeonato, Dunga o escolhido da CBF para técnico da seleção acaba insistindo em prejudicar, aqui não apenas ao Cruzeiro, mas também o Atlético, convocando dois dos principais jogadores do time de azul, inclusive aquele que tem sido apontado como o maior jogador do time, Ricardo Goulart, e Tardelli do Galo.
Claro que esses jogadores merecem chances na seleção brasileira, pelo que têm apresentado nos gramados, mas em especial os do Cruzeiro que acabam ficando no banco, são desfalques significativos, em coisa que parece mais uma armação - mais uma da cúpula do futebol brasileiro, contra os times de Minas.
Insisto em que os três jogadores foram chamados por merecimento, mas há que se avaliar entre outras questões, para que jogos. Qual a importância desses jogos? Porque não se adiam os jogos dos clubes prejudicados no campeonato se de fato tal convocação é de interesse maior do futebol brasileiro.
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Sem ter a pretensão de ficar desenvolvendo e difundindo teorias da conspiração, o fato é que os desmandos da CBF já prejudicaram muito a vários times, em benefício de outros, principalmente os cariocas, o que faz com que tenhamos todos que concordar com Emerson Sheik, e seu desabafo ontem.
Que deverá lhe valer uma pesada comissão, apenas para confirmar o acerto de sua fala: afinal, a CBF é mesmo uma vergonha.


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Quem banca a encenação da CPMI?

Saindo do futebol, para tratar de outro espetáculo, de nível tão baixo quanto o que vem sendo encenado nos estádios, eu gostaria apenas de entender a razão da convocação feita pela CPMI para ouvir, na tarde ontem, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
Porque todos sabem que o senhor Paulo Roberto, se propôs a ajudar à Polícia Federal, entregando todos os mal-feitos cometidos naquela empresa pública, em troca do benefício da delação premiada.
Todos sabem que o instituto da delação premiada foi instituído em lei que o próprio Congresso Nacional votou e aprovou. Logo, não há como qualquer congressista alegar que não conhecia o teor da lei que ajudou a aprovar.
Sendo assim, deve ser de conhecimento de todos que o beneficiário da delação não pode divulgar, sob risco de prejudicar o conteúdo de suas denúncias, nem nome das pessoas envolvidas e delatadas, nem os atos de que foram protagonistas, para não dar oportunidade a que investigações não sejam obstaculizadas nem provas destruídas.
Se tudo isso é de conhecimento, qual então a explicação para que se convocasse ao Congresso o delator, promovendo seu deslocamento do Paraná, com utilização de jato da Polícia Federal, gasto de combustível caro, interrupção de seus depoimentos ao Ministério Público e atraso na investigação, gastos de recursos com deslocamentos de homens da PF de suas funções, pagamento de diárias, custos de hospedagem e alimentação, etc. etc.
E tudo isso para que?
O depoente, como o próprio juiz que acatou a convocação da CPMI ter o direito, e em seu caso, até o dever, para o bem maior da própria investigação, de ficar calado.
Ora, para aquele espetáculo deprimente, de perguntas serem feitas apenas para dar chance a seu autor aparecer para as câmaras de tv, não era melhor que tal depoimento se desse sob a forma de teleconferência?
Ao menos seria muito mais econômico, creio.
Mas, uma reunião como essa da CPMI, no momento em que o país se encontra, há menos de 20 dias do primeiro turno das eleições, serve para atrair atenção e holofotes. Todos os órgãos de imprensa estariam, necessariamente, representados na sessão. E opositores, mesmo sem interesse algum em querer questionar, aproveitariam o momento para fazer as pesadas acusações ao governo, justo o responsável pela investigação.
E governistas poderiam fazer os discursos de praxe, mostrando como estão todos, especialmente os ocupantes de cargos no governo, preocupados e interessados em investigar, denunciar, dar publicidade para depois punir aos culpados identificados.
Jogo de cena apenas, e mal encenado. Com ou sem sessão aberta, porque em sessão fechada, independente de qualquer coisa, as denúncias que chegassem ao conhecimento dos membros da CPMI acabariam vazando. Aliás, antes mesmo do encerramento da sessão.
Não foi isso que aconteceu com as denúncias que a revista Veja publicou, sempre na hipótese de que eram verdadeiras, muito embora parciais? Ou seja, citando a conta-goras o nome de apenas alguns, talvez desafetos de quem serviu de fonte à Veja ou de quem, na revista, ouviu a informação ou decidiu por dar publicidade a ela?
Triste país que vive de fantasia e cujas fantasias são tão caras? Que vê seus representantes eleitos serem os primeiros a achincalharem a democracia e sua própria representatividade, ao trabalhar apenas algumas horas em um mês, alguns dias em todo um ano, mas que estão sempre ávidos para irem a Brasília e aparecerem se um fato novo e causador de celeuma pode trazer-lhes dividendos.

E, pensando bem, nem a culpa é desses deputados e senadores, nossos representantes. É do povo, e da forma como todos nós, tratamos, com grande ajuda da imprensa, diga-se de passagem, de transformarmos a atividade que exercem na coisa mais sem importância do mundo.
Por isso, a falta total de respeito, em primeiro lugar, pela atividade política. E a falta de interesse por ela e por quem a exerce, o que não leva o cidadão a ficar vigilante, no acompanhamento e cobranças de seus representantes.
E, não entendo bem o papel da imprensa que, talvez até tentando ajudar e mostrar a importância de tal função e de quem a exerce, mais se preocupa em dar publicidade aos atos de baixaria e ridículo a que se expõem os nossos mal preparados representantes.

***

A coitadinha, Marina

Marina passou fome. Viu seus pais abdicarem de uma refeição, por mais parca que fosse, para poder dar de comer a seus filhos.
Por conta de conhecer a dor da fome, Marina nunca acabaria com o programa que assegura, ao menos, a possibilidade de cada brasileiro não repetir seu drama.
Dilma foi torturada, como foi vítima de agressões, e sobreviveu, Dilma passa a todos a imagem de alguém duro, talhado para a luta.
Marina também sobreviveu, mas passa a imagem de alguém que acabou prejudicada em sua formação, pela fome e doenças que enfrentou.
Dilma lembra  uma grande árvore que cresce, a cada vez que tentam ameaçá-la. Marina parece o abeto que quanto mais venta, mais se curva. Mas não quebra, é preciso deixar isso claro.
Existem muitas diferenças entre as duas.
Dilma foi vítima de tortura por estar lutando em prol de ideias e ideais que o povo brasileiro, mesmo sem conhecer, renega. De pronto. Para a grande maioria do povão que pensava que estava ajudando, Dilma mereceu apanhar, para não vir com essas ideias esquisitas. Comunista que ela é!!!
Marina, ao contrário, nunca quis mudar o modo de produção em que vivemos e a sociedade, em suas raízes.
O que ela desejava era um sonho, algo quimérico, de preservar nosso planeta, nossos animaizinhos, nossas plantas, nossos rios e cursos d'água, etc. etc.
Sua luta, por não ser bem entendida pela grande maioria da população é bem vista. Eles não percebem o alcance de suas propostas, também destinadas a por fim ao desenfreado gasto de recursos que não darão nunca, conta de atender a tantos.
Por isso o discurso de Marina cai bem junto ao povo, sofrido como a ex-doméstica, que estudou com tantas dificuldades e venceu, não apenas por ser uma lutadora, mas talvez por ser ungida, de alguma forma, por Deus.
Talvez essa a razão de o povo criar dela uma imagem positiva, messiânica, que ela sabe explorar à exaustão. Afinal, também ela tem seus marqueteiros.
Dilma passa a ideia de ser uma pessoa bem intencionada, mas que quer mudar pela força. Passa a ideia de arrogância e autoritarismo. Por sua compleição física, até.
E, nesse mundo de aparências, Marina vende mais uma ideia que agrada e que combina muito bem com seu discurso de PAZ e Amor. Mesmo que também isso seja retórica.
De todas essas observações, a conclusão a que chego é que não é batendo em Marina, com um tipo de propaganda que o povo terá dificuldade para entender, como a peça sobre a reunião de banqueiros com o Banco Central, que Dilma irá derrotar a candidata do PSB.
Quem sabe, o melhor caminho para a presidenta não fosse mostrar como a fragilidade de Marina, também pode transformar o país que ela representa em um pobre coitado no cenário internacional? O mostrar como a sua fragilidade não permitiria a ela estar no campo de batalha sempre que necessário contra as grandes organizações criminosas? Mostrar como a sua imagem de fraqueza não ajudaria a liderar o povo, no combate a um desastre natural, a uma catástrofe, a algo que exigisse horas e horas de sono, de luta, de empenho?
Afinal, mostrar que mesmo suas boas ideias, poderiam demorar muito para serem implementadas, em razão de suas dificuldades pessoais e que sua necessidade de ouvir a todos e sentar-se a mesa com todos, embora assegurasse união, poderia chegar a soluções depois do momento em que elas ainda seriam úteis?
O que não dá é continuar alimentando a imagem de coitadinha que Marina passa. E acho que o caminho é fazer a mulher do Acre revelar-se em sua plenitude, desconstruindo sua imagem frágil, para demonstrar suas forças. Porque para sobreviver é necessário ter mais força que aquela que ela está dando a entender que a move.
Quanto à Dilma, ela mostra-se e se expõe, E não tem mais segredos. O povo sabe com que conta ou pode contar.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Novo debate, agora na Rede Vida

Pena que não vi ser feita muita divulgação e, por esse motivo, além de estar em sala de aula no momento, não pude acompanhar a íntegra do debate entre os presidenciáveis na Rede Vida, sob patrocínio da CNBB.
Estavam presentes, além todos os principais candidatos e, do pouco que vi, a troca de farpas atingiu proporções importantes.
Justo no dia em que as favoritas haviam emitido sinais de que promoveriam uma trégua entre si e que Dilma comemorava o relatório da FAO, organismo da ONU responsável pela área de alimentação, que citou o Brasil como exemplo de país que praticou políticas capazes de reduzir em muito o nível de desnutrição e da fome de sua população, enquanto Aécio mostrava possuir ainda algum gás para ser queimado, conforme indicava a última pesquisa do IBOPE.
Por essa pesquisa, com mais de 3 mil eleitores, Aécio foi o único dos candidatos de maior projeção que oscilou para cima, aumentando de 15 para 19% na preferência do eleitorado.
Os 4 pontos conquistados foram decorrência de perda de 3 pontos da presidenta e 1 ponto de Marina.
Aécio comemorava e terminou sua participação abordando exatamente o que classificou como o início de sua reação.
Marina, de quem assisti apenas sua participação final, ao menos nesse bloco final, não adotou a postura que lhe é peculiar e que vem caracterizando sua participação na campanha, de vítima. Que, diga-se de passagem, é perfeitamente adequada a sua postura, construída para passar seja a imagem de mártir, ou sua condição de evangélica, ou seu messianismo.
Em sua declaração final, voltou à tecla da necessidade de união, convidando todos os telespectadores a participarem da reconstrução de nossa sociedade, fugindo à polarização desgastada e pouco construtiva que marca o confronto entre o PT e o PSDB.
Dilma comemorou o feito do país e prometeu mais, caso eleita para um segundo mandato.
Os demais candidatos procuraram mostrar que, mesmo pertencendo a partidos considerados nanicos, têm condições de sonharem mais alto, bastando para isso que o eleitor deixe de votar em quem acredita que irá vencer, mas em quem considera melhor de fato.
***
Quanto às farpas e acusações, foram o destaque do final do penúltimo bloco, quando o pastor Everaldo foi o sorteado para fazer uma pergunta a Aécio. Na resposta à questão que eu não vi qual era, Aécio partiu para um violento ataque ao que dizia ser o assalto do PT, especialmente aos cofres das empresas públicas, dando a entender, inclusive que o diretor da Petrobras foi colocado naquela função para saquear os recursos da empresa, comportamento que era sim, de conhecimento da presidenta Dilma. Foi mais longe, afirmando que ao se sentar à mesa com Paulo Roberto Costa, Dilma não podia deixar de saber dos mal-feitos do diretor responsável pela gestão do propinoduto.
Foi tão agressiva e de baixo nível a acusação, entrelinhas, de que Dilma era cúmplice do esquema do ex-diretor, que imediatamente Dilma pediu ao mediador a concessão de um minuto para o direito de defesa.
Ao ser comunicada de que os advogados da Rede estavam examinando se tal direito era devido ou não, chegou a ironizar que tal decisão deveria sair antes do término do programa.
***
Chegou então, a vez de Aécio fazer sua pergunta e a sorteada foi Luciana Genro, do PSOL. E com ar vitorioso e arrogante, o candidato do PSDB se preparou para questionar sobre a proposta de educação do PSOL para o país. Pronto para poder, na sua réplica, caso necessário, vir dizer aquilo que é divulgado em sua propaganda política, de que Minas é o Estado reconhecido como de melhor educação fundamental do país.
E provavelmente seu discurso estava pronto caso Luciana viesse a público para descrever a condição dos professores da rede pública mineira, situados entre os mais mal remunerados do país. Professores que não recebem sequer o piso nacional, o que levou o próprio Supremo a intervir a favor da categoria de servidores.
Mas, não!
Luciana disse que, antes de expor sua proposta, não poderia deixar de lembrar que toda a corrupção, toda a bandalheira e roubalheira que Aécio havia acabado de citar em sua participação anterior tinha como origem os governos do PSDB. Relembrou então da compra de votos para aprovação da reeleição de FHC. Lembrou do mensalão mineiro, do correligionário de Aécio, Eduardo Azeredo. E foi listando a série de desmandos e destruição do patrimônio público das empresas que fizeram parte do programa de privatização do qual tanto se orgulha o candidato do PSDB, destruição de patrimônio público que desaguou no livro que trata da verdadeira privataria tucana.
Aécio não se conteve e, surpreso, acusou Luciana de estar servindo de linha auxiliar do PT, ou estar então de volta ao antigo ninho.
Em sua tréplica, Luciana disse que linha auxiliar era uma ova. E que Aécio devia se lembrar que, se havia corrupção, era bom ele se lembrar de quanto dela se beneficiou, inclusive ao construir o aeroporto, com dinheiro público, em terras de propriedade de sua família. E pior: deixando a chave da portaria com o tio.
O tempo acabou, mas sentindo-se agredido, Aécio pediu também o direito de resposta.
Nessa hora, além de informar que Dilma havia tido seu pedido aprovado, também o candidato Aécio foi autorizado a usar do direito de resposta, coisa que não fez.
Aécio usou do tempo para continuar no seu discurso de ser o que mais reunia condições para governar o país. Não iria, segundo ele, levar em conta coisas de menor importância ou vinda de quem não tinha essa relevância. E, considerando estar em ambiente que lhe era totalmente favorável, a julgar pela presteza de julgamento de seu pedido de defesa, ainda saiu com discurso de ser afilhado de bispo Lucas Moreira Neves, etc. etc.
Palavras que devem ter soado como música para todos os religiosos que assistiam ao debate.
***
Mas não surpreende que Aécio, em seu desespero de derrotado, tenha partido para o ataque de artilharia pesada a Dilma, seguindo aliás, recomendação que lhe foi feita por Fernando Henrique.
Já quanto a Dilma, o próprio procurador geral da República indicado por ela, já havia proibido a utilização em campanha pela televisão de propaganda que podia trazer confusão e induzir a erro o eleitor, relacionando a questão da possibilidade de o banco central cair na mão dos interesses que ele deveria regular, caso conquistada sua autonomia, com ideia de que um governo do PSB iria conduzir as famílias, por esse motivo, ao empobrecimento. O que é preciso reconhecer, é forçar demais o argumento.
Mas a própria assessoria de campanha de Dilma já dava sinais de que não deveria insistir naquele argumento, que já tinha chegado a seu limite de aceitação junto ao público.
É isso. E na reta final da campanha, em que os ânimos vão se acirrando, o nível das acusações e debates deve trazer ainda mais baixarias que aquelas já trazidas à luz do sol.
O que é uma pena e que apenas contribui para empobrecer-nos a todos nós.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pitacos sobre as propostas da equipe de Marina, o América Mineiro e a pesquisa Vox Populi

Por mais que eu seja radicalmente contrário à proposta da equipe econômica de Marina Silva, de conceder a autonomia ou pior ainda, a independência ao Banco Central, é inegável que a ideia de retirar daquela Autarquia a missão exclusiva de manter a estabilidade do valor da moeda é muito boa.
Isso significa que o Banco Central deixa de se comportar como o que a imprensa e os mercados chamam de banco central clássico, eufemismo usado para esconder a questão ideológica, por trás da existência e funcionamento do Banco Central.
O problema é que poucos sabem que o surgimento do Banco Central, no final dos anos 1600, atribuía a essa instituição outras funções, sendo que o controle da inflação não era sua função exclusiva. muito ao contrário. E, por interesses outros, pouco se divulga que o papel do FED, o Federal Reserve, o Banco Central americano, inclui como sua missão zelar tanto pelo controle da estabilidade dos preços quanto da taxa de desemprego.
Ou seja, essa ideia de que há um Banco Central clássico, tem muito a ver com a exclusividade do combate à inflação, via política de juros elevados.
Entretanto, os modelos macroeconômicos ligados à escola novo clássica ou das expectativas racionais exige que o maior número de informações seja transmitido pela Autoridade Econômica ao mercado, de forma a permitir que, com maior transparência, os agentes tenham condições adotar comportamentos mais racionais no mercado, em especial, melhorando as condições do cálculo econômico que orienta as decisões de investimento.
Nesse sentido, estabelecer também uma meta, de conhecimento público, para o nível desejado de emprego permitiria aos agentes acompanhar mais uma importante variável de política econômica, levando o Banco Central a, sem abandonar o instrumento da taxa de juros, balizar o uso dessa ferramenta e passar a adotar outras medidas para combate à inflação.
Foi isso, aliás, que os principais assessores de Marina apresentaram como argumentos ao serem consultados em matéria publicada no domingo último pela Folha de São Paulo.
E, mesmo tendo uma longa série de críticas à escola das expectativas racionais, aos seus pressupostos e hipóteses, confesso que me agrada muito a ideia de ver os juros deixarem de ser tratados como o único remédio para o combate à elevação de preços.
Mais ainda, me agrada ver que o próprio controle da inflação, embora de importância indiscutível, venha a  ser feito de foma a não jogar toda as fichas em uma política de juros elevado de cunho reconhecidamente recessivo, situação que levou o Ministro Mantega, em recente evento, a comparar um seu eventual êxito à paz dos cemitérios.
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Ainda na mesma reportagem, também vale comentar a ideia exposta por um dos principais assessores de Marina, de alterar a meta de inflação elevando-a, para resgatar sua credibilidade.
Conforme a proposta, grande parte da atual crítica à política econômica adotada pela equipe da presidenta Dilma advém de os mercados já terem perdido a confiança na capacidade de a meta ser alcançada.
Ora, sem confiarem na capacidade do governo de cumprir e entregar o patamar de reajuste de preços prometido, isso desperta e aguça o comportamento empresarial que recomenda, na eventualidade de uma aceleração inflacionária, não estar situado entre os últimos a reajustarem seus preços. Em outras palavras, amplia a dispersão de preços e acarreta as correções preventivas, na verdade, fruto tão somente do velho conflito distributivo.
Rands, autor da ideia, como que reconhecendo que a resiliência da inflação nos dias de hoje é causada por fatores que situam-se além da capacidade de controle das autoridades, e argumentando com o fato de o governo Dilma apenas conseguir apresentar um resultado situado no limite superior da meta inflacionária, propõe que se reconheça e se corrija a média, para um valor acima dos 4,5% em vigor.
Claro que sua proposta não é de elevar a meta para 6,5%, mas algo como 5,5% parece. E também é óbvio que uma medida como essa não poderia ser apresentada nem mesmo adotada por um eventual segundo mandato do governo Dilma.
Propor essa mudança, para Dilma, seria ruim pois implicaria em um reconhecimento de sua incapacidade e de sua equipe para manter os compromissos assumidos com a sociedade.
Mas, é bom que se lembre que, se Dilma não poderia adotar esse recurso, seus marqueteiros poderiam dar um jeito de usar a resistência da inflação à queda, reconhecida até pelos adversários, como sendo fruto de causas além daquelas sobre as quais o governo pode atuar.


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Tribunais de Justiça Desportiva ou o tratamento da justiça apenas por esporte


Tive um professor de Direito Penal, na faculdade de Direito da antiga Universidade Católica de Minas Gerais, que toda vez que era questionado sobre o comportamento e decisões, e funcionamento, e critérios dos tribunais de justiça desportiva, respondia ironicamente que aquilo não era nem tribunal, nem de justiça. O nome apenas estava correto no desportivo, ou seja juízo por esporte. Apenas esporte.
Curiosamente, esporte em que, diferente do futebol, de cartas marcadas. Assim foi o julgamento da Portuguesa de Desportos no caso do jogo final do Campeonato Brasileiro no ano passado, em que, a punição dada ao time paulista permitiu manter o Fluminense e de quebra o Flamengo na primeira divisão, a mais importante do cenário nacional.
Afinal, se o futebol permite que o menor ou pior dos clubes vença em campo, o STJD intervém para repor a SUA  verdade e resgata, via tapetão, o peso da tradição.Ainda mais se o beneficiado for time do Rio, onde o Tribunal de mentirinha encena suas peças. E principalmente se o Fluminense está envolvido.
Mas, não são apenas os times do Rio que se beneficiam. São os maiores, os de maior peso e prestígio.
Assim foi com o caso do Corínthians e o jogador Petros, suspenso por 180 dias no primeiro momento, pena depois, em grau de recurso, transformada em 3 jogos apenas. Ou no julgamento que inocentou ao jogador e artilheiro do time paulista, Guerrero, em situação bastante parecida com a trombada dada por Petros, no árbitro.
Então, não é nenhuma surpresa que o América seja agora o prejudicado pelo esportivo colégio de julgadores???
Tudo bem que o América errou e merecia a punição por trabalhar mal em seu departamento de registro de atletas, já que o jogador em tela já havia participado de competições por outros dois clubes.
Mas, a CBF, ao que foi noticiado incluiu o nome do jogador no Boletim chamado BID, que relaciona os atletas em condições de jogo.
Ora, não seria o caso de se considerar que o América foi induzido ao erro pela inoperância também da CBF e, nesse caso, considerar que o time mineiro deveria perder os pontos apenas da partida em que o jogador, esteve de fato em campo?
Seria uma punição que o clube merece, e muito mais justa, por força do comportamento da própria entidade que comanda o futebol em nosso país.
Mas, o STJD é lá do Rio. O América é de Minas. E parece que há uma má vontade especial do tal tribunal com as nossas Gerais e as equipes mineiras.
O que é uma pouca vergonha. Mas, enquanto os clubes mineiros não se  unirem e resolverem romper com CBF, Globo, Tribunais, etc. a situação vai apenas e de forma cansativa, se repetir e repetir.

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Pesquisa Vox Populi e o empate técnico

Dilma à frente de Marina no primeiro turno e um ponto atrás no segundo turno. Aécio, estacionado nos 15%, perdendo até mesmo em Minas, onde dizia ser imbatível.
As campanhas partindo cada vez mais para o que Lavareda chamava na Band de campanha negativa, em razão das agressões ao adversário.
O número de indecisos caindo, mas ainda se mantendo em quantidade suficiente para que alguma surpresa possa ser verificada na eleição que se aproxima.
Para Lavareda, a campanha desce o nível para tentar trazer para o mesmo patamar o grau de rejeição capaz de levar os eleitores a não votarem em um candidato específico. Nesse quesito, Dilma está pior que Marina, com percentual bem mais elevado de rejeição.
Contribui para isso, o fato que constitui, paradoxalmente, em sua maior conquista. Ou nem tanto. Afinal, a maior conquista de Dilma foi melhorar as condições de vida de parcela da população, antes abandonada pelos governos. Tal distribuição de renda, mesmo que capenga e entre aspas, penaliza alguém  para dar renda aos mais pobres. Em nosso caso, o grupo que perdeu foi o que compõe a chamada classe média:  aquele agregado de pessoas que habitam as cidades de maior porte ou de porte médio, onde a insatisfação com a presidenta encontra mais eco. A turma que considera que suou e sofreu para chegar e obter os direitos e vantagens que obteve, por ter lutado, estudado, dado o duro, trabalhado muito. Tudo bem, ninguém nega que de fato lutaram e suas conquistas foram fruto de sacrifícios. Mas ignoram que, enquanto não tinham as benesses e facilidades que eram exclusividade das famílias mais ricas e de mais tradição, ao menos tinham emprego, acesso à educação, e acesso a emprego, especialmente por terem vivido nas franjas de poder da classe social mais abastada.
Eram profissionais liberais, do comércio, de serviços para atendimento aos interesses das classes mais abastadas e, assim, puderam sustentar sua família. Sem luxos, mas em condições de dar-lhes o mínimo necessário para, em se esforçando, galgar posições na escala social.
Essa  turma, reclama com razão, por um lado, é necessário reconhecer. Porque agora acham que seus esforços estão sendo objeto de castigo.
Apenas esquecem, ou ignoram, ou não querem admitir que havia em nossa sociedade pessoas muito mais penalizadas. E não por deixarem de correr atrás ou de se esforçarem. Pessoas que, ao contrário, quanto mais se esforçavam para superar suas dificuldades mais se tornavam objeto de exploração e manutenção  nas condições capazes de perpetuarem sua pobreza e sua exploração.
No fundo, a reação dos grupos integrantes da chamada classe média trata-se da questão da distribuição de renda e da perda de privilégios que são incapazes de tolerar e que, na atual campanha as fazem ir para a oposição.
O que as fazem, mais uma vez, perderem o trem da história, que exigiria nesse momento um comportamento mais fraternal e solidário.
O que não deixa de ser e dar pena!

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Candidatas propõem trégua: assim como a negociada entre palestinos e israelenses?

O baixo nível alcançado pelas campanhas dos candidatos à presidência da República nos últimos dias foi o destaque de grande parte das matérias e comentários dos analistas políticos no último fim de semana.
A tal ponto chegou a troca de acusações e ataques, principalmente aqueles trocados entre as candidatas favoritas, Dilma e Marina que ambas acenaram com a necessidade de se estabelecer uma espécie de trégua, diminuindo o tom de agressividade e resgatando um mínimo de respeito ao eleitor.
Porque embora grande parte do eleitorado possa não se mostrar incomodada com os ataques, preferindo adotar um comportamento passivo em relação a essas agressões, relevando-as ou ignorando-as simplesmente, e uma parte menos expressiva seja até capaz de se comportar torcendo e comemorando como se estivessem na plateia de uma luta de box ou MMA, a verdade é que perdem todos.
E, para usar uma expressão forjada pelo saber popular, de que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco, é o eleitor o que mais tem a perder, privado de conhecer as propostas dos candidatos, de vê-los participar de um debate em alto nível sobre como pretendem concretizar seus planos, transformar sonhos em realidades, como pretendem enfrentar problemas de financiamento e até mesmo os relativos à implementação de suas propostas.
Afinal, como textos de ciência política da escola americana dos anos 80 registram e nos recordam, mesmo depois de aprovada a agenda de governo, a adoção, a operacionalização e os resultados de uma política pública qualquer são muito afetados pelo comportamento daqueles servidores públicos que terão a responsabilidade de executá-la, de fazê-la tomar corpo. Alguns desses funcionários, por motivos até ideológicos podem acabar sabotando as ações e prejudicando os programas.
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É nesse sentido da cobrança e das análises das propostas de cada candidato que o debate deveria se realizar, embora tenhamos de reconhecer a dificuldade, ao menos nos debates televisivos e com a exiguidade do tempo que lhes é peculiar. Nesse caso, os debates deveriam ter regras claras, de forma a exigir dos candidatos que se detivessem em fazer comentários apenas sobre a proposta apresentada por seu concorrente, destacando as dificuldades que aquela medida iria enfrentar, de toda espécie, até mesmo do ponto de vista da rejeição ideológica, e justificando sua opinião.
Para tanto, ao jornalista moderador ou âncora do debate deveria ser atribuído um papel de mais autoridade, podendo interromper a palavra e comentários do candidato, alertando-o para se ater aos termos ajustados da discussão e chegando até mesmo a cortar a palavra do candidato que não se mantivesse dentro do estabelecido.
Caso as regras do debate fossem respeitadas e cumpridas à risca, comentários a gestões passadas deveriam trazer apenas dados e resultados, não devendo conter manifestações de ataques ou acusações que ficariam subentendidas nos dados apresentados ou na comparação com alternativas que não foram consideradas e cujos resultados, em tese poderiam ser distintos.
Isso obrigaria o candidato a justificar suas escolhas ou a de sua agremiação ou companheiro, tendo que deixar mais claro para toda a assistência, que interesses foram levados em conta e quais tiveram mais peso e porque na decisão.
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Sei que é difícil conseguir reunir um grupo de candidatos a presidente para tomar parte de um debate dessa forma. Isso obrigaria a qualquer um deles a ter de tratar ou abordar temas técnicos com que podem não estar suficientemente enfronhados. E, de antemão, já estaria pronta sua desculpa, de que para isso iria trabalhar com uma equipe gabaritada de especialistas, autoridades no assunto, que delineariam sua proposta e a detalhariam, à perfeição.
Uma questão muito interessante, que poderia ser feita até mesmo pelos jornalistas convidados, seria em relação à equipe de assessores do candidato. Perguntas do tipo: Candidato/candidata, seus coordenadores de campanha ou os principais assessores de sua campanha têm manifestado em textos, publicações, e mais recentemente em eventos públicos que são de tal ou qual opinião a respeito de tal assunto. Ele já apresentou sua  ideia para o senhor/senhora e qual foi sua reação? Que argumentos ele apresentou que a convenceram a optar por tal sugestão?
Poderia ficar cansativo para o público que não entenderia muito do conteúdo, mas certamente, traria uma inestimável contribuição para elevar o nível, mostrando o modo de formação de pensamento e de decisão do candidato, os fatores que mais o impactam, os argumentos que mais o comovem.
E esse tipo de questionamento permitiria que qualquer outro candidato inquirido sobre o mesmo tema, pudesse discutir os prós e contras da ideia e não ficar meramente atacando políticas passadas, as pessoas responsáveis pela ação ou programa político, ou ficar apenas aproveitando o seu tempo para ficar falando de suas promessas sem a necessidade de explicitá-las.
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Em minha opinião, acabaria aquele jogo de espertezas que a ninguém deve ou pode agradar, de que qualquer pergunta feita a um candidato, recebe a resposta que ele está disposto a dar, muitas vezes completamente desvinculada do que foi questionado.
Situação que sempre leva ao comentário: ah! pode perguntar para o fulano o que for, ele responde o que quer mesmo!
Então, se essa é a verdade, para que debate? Se cada um vai falar o que quiser mesmo que não tenha sido perguntado, resta apenas partir para o ataque ou para a zombaria, na tentativa de desqualificar o adversário ou ridicularizá-lo. No caso de ataques, ainda pior, já que para evitar algum tipo de processo, são sempre feitos citando alguma reportagem, algum comentário ou algum fato já suficientemente debatido, discutido, requentado.
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Do jeito atual e em seu formato, os debates tornam-se um espaço privilegiado para que o candidato de mais rapidez de raciocínio ou mais esperto consiga ironizar os demais, articulando opiniões engraçadas, arrancando gargalhadas da plateia ou de nós, em casa. Ou então, fazendo o seu oponente, perder o seu equilíbrio emocional, ou ficar sem reação.
Tanto faz. O político agradável, espirituoso e engraçado pode ser mais simpático. Passar uma imagem mais carismática. Atrair a atenção e comentários que mais o favorecem nos meios e redes sociais, e até nas conversas de boteco.
Mas, não acrescenta muito sobre as reais intenções e interesses que estão por trás do candidato. Nem de como ele irá, de fato ou está se preparando para o exercício do mandato, caso se torne vitorioso.
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Alonguei-me no tema de uma proposta para um debate mais informativo, deixando de lado o que me levou a esse comentário: o nível de baixeza a que chegou nossa campanha política.
E, o que se verifica pelas análises e artigos que trataram do tema ontem, é que o grau de degradação já alcançou limites nunca antes alcançados na história do país.
Na opinião de Jânio de Freitas na Folha, culpa da ação destrutiva do exercício da democracia e das liberdades individuais e respeito aos direitos do cidadão, do eleitor, que foi um dos principais legados dos anos de regime autoritário.
Como ele recorda, antes disso, embora houvesse debates e até troca de farpas entre os concorrentes, era difícil, muito difícil que o candidato descesse do nível mais elevado em que se posicionava, para poder se apresentar como estando situado acima do bem e do mal, embora tal postura não o impedisse de dar apoio e incentivo àqueles de sua equipe responsáveis pelo serviço sujo.
Segundo o colunista, era até difícil ver o  candidato chegar a citar o nome de seu adversário direto,
Quanto a hoje, a história é muito diferente. E os ataques, desde a campanha de Collor em 89, vão se tornando um dos principais elementos da campanha. Ataques políticos ou até mesmo relativos à vida pessoal do candidato, como foi o caso naquela oportunidade.
De lá para cá, as coisas vieram se deteriorando. E ficaram célebres, as tiradas, as ironias, as acusações mesmo que de forma light, e as farpas trocadas entre os candidatos.
Como ficou famoso e até com grande volume de acessos no youtube, o debate ou parte dele, em que Plínio desmascara Marina, acusando-a diretamente de adotar uma postura de quem é vítima de ataques e rotulações, quando na verdade, toda sua reação a qualquer comentário feito a sua pessoa, era menos em sua defesa e mais na de, como vítima, transferir ao seu inquiridor, a pecha de agressivo.
Plínio falou aberta e diretamente que tal comportamento era mais forte para criar rótulos que o comportamento contrário. E que ela era manipuladora e ela sim, rotulava a tudo e a todos. Para concluir ainda a chamou de demagoga, não obtendo qualquer resposta de uma candidata que pareceu se comportar como alguém pego em flagrante.
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E, para não fugir à regra, foi exatamente de Marina que partiu a ideia da trégua, depois de ter feito a mais séria acusação da campanha até agora, quando disse não entender a lógica de um partido manter 12 anos um diretor em cargo de uma empresa como a Petrobras, para assaltar os cofres daquele rica empresa, em prol de seus interesses partidários.
Acusação pesada que coloca a presidenta e a seus ex-companheiros como cúmplices de um assalto, ou seja, de  um crime prescrito na legislação penal.
E antes de se tornar alvo de alguma pedrada, corre para pregar a paz, cuja figura messiânica ajuda a vender como mensagem.
Dá-lhe Plínio. Você sim, conhecia bem à Marina, desde os tempos em que foram colegas de PT.
Já quanto às acusações que Aécio vem fazendo e é o único que não tratou da trégua, pode-se dar-lhe o desconto do desespero, já que o candidato é cada vez mais carta fora do baralho.
Quanto à Dilma, mais contida e mais na base da Dilminha Paz e Amor, até tem causado estranheza a forma que tem reagido, embora não tenha deixado sem respostas as acusações que considera mais pesadas.
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Apenas que, debate mesmo e capaz de possibilitar ao eleitor conhecer a fundo seu candidato, como ele pensa e o que deseja fazer pelo país, e como, e com que instrumentos, até agora, nada.
Um zero de conteúdo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Pitacos diversos

Mais uma vez, os fatos comprovam que Romário estava coberto de razão, ao afirmar que calado, com a bola nos pés, Pelé era um poeta.
Mais uma vez, o rei do futebol deixa o campo de jogo dando espaço para que surja em cena o Edson, nessa esquizofrenia que faz com que o Pelé ou o Edson falem sempre na terceira pessoa, referindo-se ao seu outro eu.
Mais uma vez, o Edson comprova que se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro e para não ficar muito cansativo, desanda a falar asneiras, provando que, na maioria da vezes o melhor é ficar calado.
Pois bem, agora Pelé ou Edson resolveu criticar ao seu colega de profissão e raça, o goleiro do time cuja camisa defendeu por anos seguidos, o Santos Futebol Clube, alegando que o jogador teria exagerado em sua reação, ao ser tratado pela torcida do Grêmio com o preconceito racial de que foi alvo.
Uma pena, porque ao dar as declarações contrárias ao comportamento de Aranha, que parece ter solicitado ao juiz, inclusive que a partida fosse interrompida, Pelé dá força aos torcedores gremistas e a seus ataques à dignidade de um  profissional e um ser humano, acima de tudo.
Ao usar os argumentos que usou, que se fosse para agir dessa forma, ele teria tido inúmeras oportunidades de reagir também, pedindo a paralisação do jogo, por conta de ter sido chamado de macaco, crioulo ou coisas do mesmo gênero.
Grande demonstração deu o atleta do século, de que não entende o mundo à sua volta. De que não consegue evoluir. Que não percebe que o mundo mudou, sintomas de que não consegue deixar de viver o passado, revivendo seus tempos de glória.
Fato aliás, já passível de ser visto, percebido e sentido em outras oportunidades, em especial quando questionado sobre jogadores e atletas que estejam se destacando e prontos para ocuparem a posição que um dia foi ocupada por ele.
Curiosamente, Pelé ou Edson, sempre reage a essas situações com declarações que tentam não necessariamente menosprezar o outro, mas sempre se elevar, se elogiar, mostrando que o outro, alvo de elogios, está distante anos luz do Pelé. Que ele Pelé tinha mais qualidades, habilidades etc.
Interessante como Pelé não se dá conta de que foi soberano, mas que não é mais, exceto como lembrança.
E como não se dá conta de que, de sua época de jogador para cá, muita coisa se alterou. Inclusive no sentimento que aflorou e cada vez mais se destaca, de que o preto sempre foi tratado, em nosso país, como uma pessoa de segunda categoria. A ponto de, se bem comportado, poder, quem sabe, deixar ocasionalmente a cozinha e a dependência de empregados, para vir se juntar aos patrões brancos, de olhos claros e ricos. Bem mais ricos que eles, e mais, bem mais cheios de oportunidades.
Exceto, claro, se o preto/preta, fosse a babá dos meninos rechonchudos da casa.
Preto de alma branca.
Isso é o que a época de Pelé inspirava e que talvez tenha levado aquele jogador ou o Edson, a buscar sempre basear seu comportamento em seu modelo, pertencente a uma raça diferente da sua.
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Agora, quando tem a oportunidade de estufar o peito e, de cheio de orgulho, se mostrar preto, mas sem nenhum tipo de preconceito, dando origem a que cada vez mais os atos de injúria racial sejam banidos de nossa sociedade e do esporte vem, ao contrário, mostrar mais uma vez como foi transformado em um marionete.
Pelé dá pena, ao dar declarações. Sempre a favor dos patrões, dos poderosos, dos que subjugam o povo e o oprimem, independente de raça, credo, grupo social, etc.
Mostra que foi muito bem treinado e que aprendeu a reagir ao adestramento a que se deixou submeter, de forma a dispensar a presença mesma de seu instrutor.
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Menos mal é que, vivendo em uma sociedade democrática,  Pelé ainda tenha espaço para falar as asneiras que fala, embora para quem o admire, cada vez mais somente sobre decepção.
Afinal, como dizia Voltaire, posso não concordar com nada do que você diz, mas vou brigar sempre pelo seu direito de falar o que você quiser.
A máxima vale para Pelé. Mas que alguém poderia falar para ele que não vale a pena abrir a boca às vezes, para falar as bobagens, mesmo aquelas que até ele tem direito, isso não há como negar.


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BC, Selic e inflação

Sai a público a Ata do Copom, em que a Autoridade Monetária manifesta que não há mais razões para promover alterações da taxa básica de juros da economia, deixando a entender que seu movimento de elevação já cumpriu seu papel.
Assim o BC reconhece de forma otimista que a inflação perdeu sua resistência à baixa, embora também reconheça que apenas em 2016 pode-se esperar a aproximação da meta alvo de inflação, de 4,5% ao ano.
A razão para isso talvez decorra também dos esperados choques de correção de preços administrados ou contidos, praticados pelo governo, e que afetam o preço dos combustíveis e da energia elétrica, especialmente.
Preços que, ao serem majorados para se adequarem ao patamar em que deveriam estar situados, sem dúvida trarão impactos sobre a inflação de 2015.
Mas o BC sinaliza que, exceto no caso de haver algum choque extraordinário provocado por fatores externos ou não passíveis de previsão, como o agravamento da seca ou algum outro grave fator ambiental ou proveniente de forças da natureza, não vale a pena continuar praticando uma política de juros elevados, cujo impacto sobre os preços traria menos resultado, já que chegou a seus limites, embora seu efeito pudesse ser devastador sobre o nível de atividade, geração de emprego e renda.
Claro que, a autoridade dá também alguma folga no prazo de atingimento da meta, já prevendo a possibilidade de o reajuste dos preços defasados não poder ser feito todo no ano que vem, em razão dessas possibilidades de choques.
Mais importante, é saber que a inflação, mesmo não estando na meta, continua dentro dos limites, mesmo que tais limites sejam muito elásticos, e que a oposição critique tanto que o BC tenha estabelecido como meta informal, o limite superior. O que não é necessariamente, verdade.
De qualquer forma, sem BC autônomo, nada assegura que o COPOM continuará com a mesma composição e filosofia no ano de 2015.
E só nos resta esperar o resultado das eleições de outubro.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

De como dar às coisas insignificantes uma dimensão muito maior que a merecida: o caso do Banco Central e o colunista

Não ia me referir à questão da querela entre Alexandre Schwartsman e o Banco Central, por força de comentários e adjetivos que aquele economista, ex-diretor da Instituição publicou sobre a Autoridade Monetária.
Primeiro porque, à primeira vista, sabendo que Tombini é o responsável pelo projeto que se transformou em Sistema de Metas de Inflação, um dos pilares da política econômica recomendada pelo colunista, e que ambos conviveram quando do período em que Schwartsman era diretor do Banco, o que parece, visto de longe é que qualquer comentário depreciativo, sobre o BC, sua diretoria ou seu presidente, revela muito mais algum tipo de despeito daquele economista.
Afinal, Tombini subiu e virou o ministro presidente. O colunista, é apenas um, mais um analista do mercado, a ficar criticando à distância a política econômica do país.
Por não acreditar que a discussão entre ambos tivesse assentada em grandes diferenças de postura ideológica, ou ela deve ser encarada como uma questão menor, pessoal ou como a forma encontrada pelo colunista de praticar o esporte que mais gosta de exercitar: o de atacar o governo Dilma.
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Mas como estive hoje no Banco, revendo alguns colegas o assunto saiu e todos foram unânimes em achar que a postura melhor para a instituição seria ignorar o economista.
É que todos são de opinião que esse é daqueles assuntos que têm o poder de exalar mau cheiro, quanto mais nele se remexe.
Melhor seria tratar ao colunista com a indiferença que é a melhor forma de se tratar àqueles que estão comportando-se como crianças birrentas, talvez por não ter seus interesses atendidos, ou por despeito.
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Mas, se o presidente e diretoria do BC sentiram-se agredidos e resolveram recorrer à justiça pedindo algum reparo, isso não significa de forma alguma que se comportaram de forma autoritária, nem tem qualquer relação com pressão para silenciar, censurar quem quer que seja.
Ao contrário revela apenas o espírito democrático da equipe da diretoria do Banco, que seguiu o caminho legal, assegurado a quem quer que seja que se sinta ferido em algum direito.
Gastaram, claro, chumbo de mais, para aves pequenas, embora de muita plumagem.
Mas, acusar a direção de autoritária por ter ficado tão melindrada está longe de ser verdade.
Daí, o tal documento em desagravo ao economista, em minha opinião, é mais ventilador, na lambança. E o abaixo-assinado que corre pelas redes sociais torna-se inútil, e sem qualquer importância ou significado.
De mais a mais, a justiça em primeira instância manifestou-se favoravelmente ao colunista. E o Banco, como deveria ter feito desde o início da questão, resolveu, finalmente, deixar o assunto para lá.
Relegando-o ao local de onde não deveria ter saído, jamais: o esquecimento.
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Pesquisas Eleitorais dão empate técnico

Enquanto isso, as pesquisas eleitorais, desde a da CNT, até a do IBOPE e agora a do DataFolha indicam uma reação da candidatura da presidenta Dilma, que já se encontra em situação de empate técnico com Marina Silva, a candidata do PSB.
Como era de se esperar, esses resultados acarretam uma polarização cada vez maior entre as candidatas femininas, representando a pá de cal definitiva nas esperanças do tucanato, dessa vez com um candidato originário de fora do Estado de São Paulo, o que demonstra apenas que não era a origem, mas a forma elitista de fazer política e de pensar o país, que é o problema mais grave do PSDB.
Aécio apela. Ataca o governo. Ataca o PSB. Parte para o desespero e ... despenca nas pesquisas. Não consegue mais manter de pé as meias verdades anunciadas aos quatro cantos a respeito de sua gestão no governo de Minas. Que levaram o estado a perder importância econômica, peso industrial, e ficar cada vez mais distante dos demais estados da Federação em questões básicas como gastos em saúde e o pagamento do piso nacional de professores da rede pública.
Sim. É verdade que em marketing, foi muito exitoso. Mas até a propaganda mais martelada só resiste de pé se o produto existir e for bom.
Não é o caso e as pesquisas têm mostrado que o povo já não se deixa iludir por mera retórica.
Mas, se Aécio é o jeito de fazer política tradicional, velho, ultrapassado, o que falar da pretensa nova política de Marina?
Quanto a Dilma, o jeito pode não agradar, mas já é conhecido. Sem jogo de cintura, mas sem esconder-se atrás da máscara que, por exemplo, Lula sabe usar à perfeição.
É isso que as pesquisas andam revelando, embora ainda continue sinalizando a liderança da ex-senadora Marina. Até por uma grande identificação que o heroico povo brasileiro tem com a candidata, ex-doméstica e uma sobrevivente. Uma verdadeira batalhadora e vencedora, é preciso reconhecer.
Pena que ela não tenha partido, não tem quadros e não tem sequer discurso. Tem carisma, mas o povo está mostrando que já se conscientizou de que uma andorinha só não faz verão. E que uma coisa é admirarmos e respeitarmos uma pessoa e sua luta. Outra é entregar a ela os destinos de todos nós.