terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Retrospectivas negativas e votos de Feliz Ano Novo

Fim de Ano.
Fim de um ano marcado por grandes esperanças e desastres de proporções ainda.
As expectativas criadas no início do ano vieram, uma a uma, sendo frustradas. A começar da melhoria das condições econômicas e políticas, após o encerramento de um 2013 marcado por manifestações populares como não se via há muito tempo, no país.
De resto, embora as expectativas fossem de manutenção do patamar de inflação elevado, embora dentro do intervalo do sistema de metas, não passava pela cabeça de nenhum agente econômico relevante a possibilidade de um desempenho tão pífio para nosso nível de atividade.
É verdade que ninguém esperava um crescimento do PIB muito superior aos 2, talvez 2,5%, muito embora as condições do país tivessem vindo se agravando de tal forma que, já em fins do primeiro semestre, o mercado e os agentes mais relevantes, a cada instante, reviam suas previsões, cada vez dominadas por mais pessimismo.
Ainda assim, era difícil imaginar-se uma taxa de crescimento abaixo de 1,5%, ou abaixo de 1,3% ou abaixo de 1%. Quando já ao longo do terceiro trimestre, as previsões indicavam 0,7% muitos ficaram perplexos.
Afinal o país parecia ter entrado no que tecnicamente é chamado de recessão técnica.
Crescimento abaixo de 0,3% era inimaginável.
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Como inimaginável era a elevação das taxas de juros e, ainda assim, a resistência mostrada pelos níveis de inflação, à queda.
O país termina o ano com inflação próximo a 6,4%, dentro do intervalo do sistema, mas com taxas de juros que  não passava pelos sonhos de qualquer previsão, por mais apocalíptica que fosse.
Também o déficit público surpreende mostrando um crescimento de 6% para o nominal, que inclui a despesa elevada de pagamento de juros, e resultado primário também negativo, ou próximo de zero.
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No esporte, saídos de um 2013 com a conquista da Copa das Confederações de maneira surpreendente e com um futebol vistoso,  a poucos podia ocorrer a ideia de uma desclassificação precoce do Brasil. Ainda mais jogando em casa. Com o apoio da torcida.
Com Neymar e a família Felipão, e os discursos ufanistas de toda o comando técnico da seleção e da CBF. Além, claro, da imprensa esportiva, Globo à frente.
Vá lá que poucos tinham certeza absoluta de que o time brasileiro se sagraria campeão: a Argentina metia muito medo, inconfesso.
A Alemanha sempre foi um adversário temível. E temido. E a Espanha era a campeã do Mundo, a vice da Copa das Confederações. Além desses times, havia ainda a seleção do Chile, da Colômbia, do México, e para não ficar apenas no continente americano, a Inglaterra, a Bélgica.
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Mas ninguém podia contar com os 7 a 1 para a Alemanha, que só não foi mais doloroso, porque logo a seguir, jogando o mesmo não futebol, perdemos também para a Holanda, sem jogar metade do que a crônica e a torcida iludida esperava.
E se chegamos até o ponto onde a seleção chegou, foi mais por sorte e até alguma ajuda do apito, já que desde o primeiro momento, enquanto mostrávamos um futebol velho, feio, apagado e sem qualquer vibração, outros times, como a Holanda, a Alemanha, a França, a Colômbia, o Chile mostravam futebol alegre, para a frente. Bonito de se ver. Agradável.
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Surpresa mesmo, na Copa, ficou por conta da organização, que embora fosse a bagunça de sempre do nosso país, funcionou. Ou como disse um gringo entrevistado por uma de nossas redes de tevê: nada podia dar certo, mas funciona.
Com milhares de turistas nos visitando, os horários de vôos foram respeitados, o transporte urbano serviu a contento, a segurança foi elogiável.
Ou seja, o vexame que se esperava fora das arenas, absurdamente caras, aconteceu apenas dentro delas, ao menos para nosso selecionado.
Fora, pudemos viver a Copa das Copas, o que mostra a atipicidade do ano.
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Já a partir de abril, ganhavam as manchetes dos jornais, cada vez com notícias mais surpreendentes, a operação Lava Jato, da Polícia Federal, e a corrupção na Petrobras.
Embora todos saibamos, mesmo os que nada sabem, que a Petrobras seja apenas a ponta do iceberg.
E findo o vexame da Copa, já que dificilmente alguém poderá algum dia, falar em passado o vexame da Copa, veio o segundo semestre e, com ele, as eleições.
Eleições que polarizaram o país como poucas vezes se viu, depois do retorno do país à democracia.
A ponto de alguns desesperados, mais afoitos, mesmo depois de finda a eleição, desejarem não apenas um terceiro turno, mas o próprio retorno à fase autoritária.
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Sem candidatos que pudessem representar qualquer novidade, apenas o fato lamentável do acidente aéreo que ceifou a vida de Eduardo Campos foi surpresa.
No mais, um PSDB cada vez mais à direita, com visão conservadora de mundo e um candidato conservador, mas chique. O suficiente para atrair votos de todos os conservadores mais enrustidos. De todo o interesse das classes representativas do atraso... ou da modernidade, se por moderno entendermos a nossa submissão formal ao capital internacional, ao capital financeiro, de caráter especulativo.
Capital que não produz riqueza, mas produz lucros. E que ajuda a entender porque os empresários, tão ajudados pelo governo e seus financiamentos e isenções e incentivos, e juros altos e gordos, acabaram preferindo não produzir e aproveitarem-se dos juros altos e gordos.
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Das eleições, o mais moderno foi Luciana Genro e as ideias do PSOL, nem tão modernas assim, mas ao menos coerentes.
Eleita Dilma, ou reeleita a presidenta, para o ano marcar de vez sua principal característica: a da frustração, o país atônito acompanha a escolha dos ministros da área econômica, com perfil que assegura a todos nós que o PT ganhou o governo, mas o capital financeiro e especulativo é que ganhou o poder.
Dilma escolhe e sinaliza para toda a sociedade que vai fazer a política que Aécio propunha fazer. e que foi o que lhe deu votação significativa.
A bem da verdade, a mais significativa de toda a história de oposição do PSDB.
Embora quanto de tal votação seja em função de Aécio ou quanto se deve ao peso e prestígio de Alckmin, seja uma grande interrogação.
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O que se percebe é que, mais uma vez, o PSDB derrotado, deve ter uma luta muito intensa para indicar o candidato a 2018, talvez para enfrentar Lula e seu gigantesco ego.
Pouco afeito ao trabalho árduo de fiscalizar ações do governo, Aécio terá de aprender a ser oposição, descendo de cima do muro, caso deseje aproveitar da boa imagem que, junto com a imprensa, ajudou a criar.
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Agora ao fim de 2014, o governo Dilma continua nos brindando com pérolas como a de montagem de um ministério cada vez mais medíocre, não fosse a presença em corpo de um Patrus Ananias. O que é muito pouco para dar alguma maior visibilidade ao grupo.
E reformas em benefícios sociais, algumas das quais ninguém questiona, sejam extremamente necessárias.
Embora ainda sem tocar o ponto central da questão dos gastos excessivos. Por exemplo, se cria mais restrições ao seguro desemprego, não é capaz de combater a vergonha que é o seu beneficiário continuar recebendo, embora já esteja recolocado, ainda que informalmente no mercado de trabalho.
Em prática que, todos conhecem e não conseguem nem comprovar sua existência, nem punir.
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Aliás, punição é a palavra de longe, mais falada e a ação menos desempenhada em nosso país, nesse 2014.
Mesmo com grandes empreiteiros experimentando pela primeira vez em suas vidas, o peso e o rigor da lei.
Apenas que faltam muitos para serem punidos. E, embora seja já uma promessa, a punição que está em marcha ainda é muito insignificante.

Mas, fazendo votos de que o país possa ter um 2015, ao menos decente:

UM FELIZ 2015 PARA TODOS.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

É Natal, Final de Ano, recessos e mais alguns pitacos

Aproxima-se o Natal. À essa altura, e em função do período de festas, o Judiciário já encontra-se em recesso. Merecido descanso, diriam alguns. Só que não diriam outros. Os processos acumulam-se, resultado não apenas da morosidade dos magistrados e suas assessorias. A possibilidade de idas e vindas dos processos, as protelações, os vários recursos admissíveis, os embargos, as vistas, e as discussões que acabam determinando o retorno do processo para o estágio inicial acabam ajudando a que nossa Justiça, por morosa, seja tudo, menos justa. Cada vez menos capaz de proporcionar o funcionamento da ordem legal e a tranquilidade jurídica, pilar de qualquer sociedade que respeita e preserva os direitos de todos.
A Justiça é um dos principais pilares da Democracia, sabemos todos, até mesmo pelo uso corrente e sem qualquer conteúdo, cada vez mais, da expressão Estado de Direito.
Mas para ser esse bastião da Democracia, a Justiça tem, primeiro que ser. 
Deixar de fingir ser, com seus rapapés e salamaleques, para ser. Ponto. Sem qualquer outra adjetivação.
E, em nosso país, a Justiça, por todas as mazelas conhecidas de todos, algumas citadas acima, não consegue ser. 
Mas, cansados os doutores Magistrados, quase divinos nas auto-imagens que criam, merecem o descanso de um recesso. Tal como o Pai que depois de criado o mundo, o homem, o céu, as florestas, as árvores e  os animais, tirou o sétimo dia para o lazer.
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O (mau)funcionamento de nosso Poder Judiciário chega às raias do absurdo. 
Apenas três ilustrações: embora a instância maior, o STF tenha julgado e decidido favorável à demanda dos funcionários do Banco Central do Brasil que reclamam o aumento de 28,86% que foi dado aos militares em 1993, e depois estendido e pago a todas as demais categorias do funcionalismo público, em todos os poderes, exceto o Banco, o processo, entre idas e vindas, foi enviado agora a instância inferior, continuando uma maratona que já dura, exatos 21 anos. 
Alguns funcionários com direito à incorporação salarial já faleceram nessa espera. Outros esperam ansiosos para que possam aproveitar um mínimo ao fim da vida, do que lhes foi negado enquanto tinham forças e disposição.
E nem se trata de questão de litigância de má-fé. Por ser órgão público, o Banco se vê obrigado a entrar em juízo, em grau de recurso, sempre que alguma sentença lhe seja desfavorável.
O problema está em que, mais que o ditado latino "Dura Lex, Sed Lex", em nosso país o que vale é ainda a Cada Cabeça uma Sentença. 
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Segundo episódio: o ex-assessor e amigo do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, acusado como mandante da morte do político teve agora todo o seu processo interrompido e determinado pelo Supremo seu retorno à fase inicial.
A alegação, parece-me, de que teria havido cerceamento de defesa, uma vez que os advogados do indiciado não puderam interrogar os demais acusados da execução do crime, já condenados e pagando penas.
Assim, passados mais de 10 anos da morte, começamos tudo de novo, no caso do Sérgio, vulgo Sombra. 
Sem qualquer sombra de que haverá alguma definição quanto à sua participação ou não, nos próximos dez ou quinze anos.
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Último episódio: a decisão tomada ainda nessa semana, determinando prazo de 60 dias, para que o juiz que tiver pedido vistas de um processo tenha que devolvê-lo. Para que o processo não precisasse entrar mais com pedido de aposentadoria junto aos órgãos competentes, por tanto tempo de gaveta, já que alguns devem já, entre recessos e feriados acumulados, contar mais de 10 anos.


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Previdência Social e as suas mazelas

Excelente para  reflexão o texto que o jornal Folha de São Paulo trouxe em sua edição de ontem, de autoria do economista do IPEA Marcelo Abi-Ramia Caetano, no caderno Mercado, página B6, abordando o "equívoco" da aposentadoria diferenciada da mulher.
Como se sabe, e o artigo nos traz informações até de outros países, as mulheres no Brasil, mas não apenas aqui têm o direito de se aposentarem mais cedo, passando a fazer jus a uma aposentadoria que receberão por bem maior período de tempo que os homens.
Ou seja, a soma da idade menor de aposentadoria ao maior tempo de vida da mulher dá como resultado uma bomba de efeito retardado para as contas da Previdência.
É certo que há outros problemas que a Previdência atravessa, mais imediatos, como o caso das pensões pagas, muitas vezes, a cônjuges que também trabalhavam e tinham remunerações até elevadas.
Mas, como o autor alerta, resolver problemas de gênero, como a questão da discriminação salarial que ainda remunera melhor o homem, mesmo que no exercício da mesma função, sangrando a Previdência é uma forma que não resolve o problema principal: o da igualdade de gêneros no mercado de trabalho. 
Além do que a Previdência como um todo - englobando também as mulheres - é que será vítima da ausência de uma discussão necessária. 



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Corrupção: Ser ou Não Ser

Em entrevista concedida a órgãos de imprensa do exterior, a presidenta Dilma afirmou que o Brasil não vive uma crise de corrupção.
O melhor talvez fosse declarar que o país tem sim, casos de corrupção que, uma vez descobertos são tratados com o necessário rigor. E deixar claro que toda a situação que estamos vivendo, relacionada à Petrobrás não é privilégio, nem da maior empresa estatal do país, nem de qualquer empresa, nem do Brasil.
Ainda ontem, Elio Gaspari em sua coluna dominical (minha referência é a coluna publicada na Folha) trouxe detalhes de texto de autoria do Juiz Sérgio Moro, responsável pelos desdobramentos da Operação Lava-jato, que trouxe à fama os nomes do doleiro Youssef, de Paulinho, ou melhor, Paulo Roberto Costa, já que não é meu íntimo;  e todo o escândalo das relações espúrias entre as grandes empreiteiras nacionais e a Petrobras.
O texto a que Elio se refere, acessível na rede mundial, tratava da Operação Mãos Limpas, que aconteceu na Itália, com igual repercussão, igual nível de corrupção e de envolvimento de políticos e empresários. 
Moro na época estudou todo o caso e está agindo com a mesma tenacidade agora.
Independente dessa circunstância, importa aqui que o caso se deu na Itália, e que são conhecidas várias outras situações semelhantes que aconteceram ou acontecem em países que vão do Japão e China orientais, aos Estados Unidos, França, Espanha, Inglaterra, mostrando que a corrupção não é coisa nossa como o samba e a jabuticaba (antes o futebol).
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A verdade é que corrupção é um mal que assola a todo o mundo, embora a bola ou vítima da vez seja a Petrobras, e mais verdadeiro ainda é que, a ONG Transparência costuma publicar a lista ou ranking da Corrupção que cobre todo o mundo. 
E nesse ranking, em que o Brasil sempre esteve em lugar privilegiado, recentemente o país até piorou sua situação. Ou seja: a corrupção diminuiu ou começou a ser tratada com maior seriedade, o que nos fez perder (felizmente) 3 posições no ranking.
E é justo reconhecer: se sempre houve, a corrupção pela primeira vez está alcançando a todos que dela participaram ou costumam participar. O que é um diferencial, forçado ou não, goste ou não, do governo Dilma.





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Diferente do Judiciário, como professor, ainda não estou de recesso. Esta a razão de o blog ter ficado fora do ar, por alguns dias. Estamos de volta. Com mais ímpeto e constância depois do Natal. .
Por isso, desejo a todos os amigos que me honram com sua leitura, Feliz Natal, cheio de PAZ e Alegrias. E Muita SAÚDE.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Políticas econômicas para o país e o debate importante a ser realizado

Embora não estejamos de recesso, o feriado do dia 8 de dezembro em Belo Horizonte, aliado à situação de estagnação que o país está atravessando e que, segundo noticiado ontem por Boris Casoy, levou o ex-presidente Lula a dirigir-se a Brasília com a  finalidade de auxiliar a presidenta Dilma no doloroso e vergonhoso processo de negociações para composição da nova equipe ministerial justifica, em parte, nossa falta de postagens.
É certo que haveria muito a se tratar, ao menos no campo econômico, especialmente depois da entrevista concedida ao canal de televisão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelo professor de Economia da UFMG, Cláudio Gontijo. Tal entrevista, que tem sido retransmitida em vários horários e dias da semana durante esse mês de dezembro vale a pena ser vista, pelas críticas que o professor faz à escolha da equipe econômica que deverá comandar os destinos da nação nos próximos quatro anos de mandato da presidenta Dilma.
Importante é assinalar que normalmente os programas da TV da Assembléia também podem ser vistos no site da Assembleia, que disponibiliza seu conteúdo para dowload.
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E qual é o conteúdo da fala do professor Cláudio Gontijo, com a qual concordamos integralmente?
Em síntese, vai na mesma direção que tivemos a oportunidade de tratar, ao menos superficialmente em postagem anterior desse blog, ou seja, tentando mostrar o equívoco que essa guinada da presidenta Dilma em direção à demanda e interesses do mercado, principalmente do mercado financeiro pode significar. 
Para chegar a tal conclusão, basta verificarmos o conjunto de medidas que foi anunciado pelo novo ministro e comparar tais políticas com aquelas recomendadas pelos analistas e consultores do mercado, e pelas autoridades do FMI e órgãos afins, para adoção nos países europeus, como Grécia, Espanha, Portugal, etc.
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Não é segredo para ninguém que as políticas impostas a tais países, a título de fazerem o chamado para casa e por sua economia em ordem, apenas aprofundaram a recessão que veio como consequência da crise para cujo surgimento esses países contribuíram muito pouco ou quase nada.
A adoção de tais medidas, como forma de se capacitarem a tomar os recursos de empréstimos do Banco Central europeu que os ajudaria a sair da crise, apenas provocou desemprego em níveis elevados e problemas sociais que a grande imprensa pouco assinala.
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Ora, já tendo dado resultados ruins em países europeus, seria muito difícil que tais medidas de retorno aos "fundamentos econômicos da estabilidade" pudessem funcionar de forma a melhorar as condições de vida da população brasileira, país onde persistem tantas e tão graves desigualdades. 
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Mas, se o professor Cláudio Gontijo acertadamente, em minha opinião, põe o dedo na ferida, e mostra que o discurso do novo ministro da Fazenda traz contradições internas muito elementares, como por exemplo a questão da necessidade de cortar gastos públicos, para gerar superávits fiscais, muito embora os gastos de pagamento de juros deverão ser cada vez maiores, a revista Veja rasga elogios às promessas de Joaquim Mãos de Tesoura. 
Bem entendido, aquela tesoura que vai cortar gastos voltados para o lado social, em escala suficiente para compensar a elevação dos gastos com pagamentos direcionados às classes mais ricas de nossa sociedade. 
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Vindo da Veja, dirigida por ex-presidente de instituição financeira e da Febraban, a poderosa Federação dos Bancos, não há muito o que se assustar. A bem da verdade, era a postura mesma a se esperar, já que na direção de atender aos interesses justamente desses setores. 
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O que é interessante é que a fala de Cláudio Gontijo, embora remando contra a maré do mercado e da opinião pública de cabeça feita por essa mídia que apenas defende seus interesses próprios, está em consonância com o discurso e palestra apresentada em São Paulo pelo professor Piketty, o mais badalado e elogiado economista de nossa atualidade, autor do livro apontado como nova bíblia da economia, O Capital no Século XXI. 
Livro que é bom dizer, foi aclamado por todos os principais economistas dos principais centros de estudos do mundo, embora combatido por essa sumidade que é Rodrigo Constantino, que na Veja (sempre nela!) considerou o livro estúpido. 
Também nada de absurdo para quem em debate com o ex-ministro Ciro Gomes foi simplesmente engolido, ficando sem qualquer argumento.
Na palestra que pode ser vista no Youtube, Pikkety mostra que, ir na direção contrária a um aprofundamento das políticas de redução da desigualdade de renda no nosso país pode ser um erro do qual nos arrependeremos muito no futuro.
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E é esse nosso problema!
Adotadas as políticas preconizadas por nosso pensamento conservador e pela ortodoxia econômica, e recomendado por pessoas que nada entendem ou entendem muito pouco das questões tratadas pela ciência econômica, embora sempre na direção de seus interesses particulares, e obtido um resultado errado, de rotundo fracasso sempre a desculpa vai ser a de que as medidas preconizadas não deram certo por não terem sido na profundidade necessária. 
Ou seja, nunca a sugestão de política está errada, apenas que se não der certo é por não ter sido adotada na medida necessária. 
O que torna cada vez mais difícil o debate. 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Pelas metas importantes da sociedade ninguém briga e Galo de presidente novo

Quando nossa sociedade irá invadir as galerias do Congresso, para cobrar não as metas de superávit primário, não as metas de inflação e seu cumprimento, não a flutuação livre e completa e limpa do câmbio, mas para cobrar metas de redução da desigualdade? Metas de redução da carga tributária sobre os ombros dos mais pobres e redução dos privilégios dos mais ricos, que praticamente nada pagam? Metas de redução de desemprego e sua manutenção? Metas de redução do desrespeito e pouco caso com aqueles que geram a produção e a riqueza do nosso país?
Metas de ampliação do bem-estar da população, com maior conforto nos transportes públicos urbanos; com ampliação da rede de saneamento e esgotos; com ampliação dos programas de casas populares e aumento do acesso à terra para sustento da própria família?
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Quando a sociedade brasileira irá cobrar e fazer cumprir metas que tenham como principal alvo e objetivo o povo, sem limites de tolerância, já que povo é uma coisa só, sem limites superiores ou inferiores.
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Quando a sociedade brasileira irá se portar como sócia do desenvolvimento harmônico e integrado, onde cada um se valoriza e contribui para a valorização do outro. E agindo assim, quando a sociedade irá aprender e se tornar protagonista de sua história?
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Porque ainda lutamos pelas metas que valorizam e garantem a remuneração e tranquilidade do capital, o que é justo, mas não cuidamos da mesma forma dos rendimentos da população como um todo, o que é uma injustiça sem tamanho?
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Atlético de presidente novo

Daniel Nepomuceno, novo presidente do Galo chega anunciando uma boa nova: Levir renova e o Galo vai tentar manter suas estrelas.
E buscar reforços.
E já para cornetar daqui, que sejam reforços mais como Guerrero, o combatente avante peruano e menos como Sheik, que combate mais fora de campo e nas noitadas que em campo.
Se Sheik é um bom nome? Se vier para querer somar, com um contrato de risco, não há dúvida que é um reforço, embora muito caro.
Mas que o Galo precisa de reforços, isso é evidente. Embora, em sua base, esteja a solução para o médio e longo prazo.
O problema é que a Libertadores é ali. Amanhã.
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Que Nepomuceno tenha o mesmo êxito de seu antecessor e artífice de sua eleição: Kalil.
Que fez uma gestão vitoriosa. E por isso merece os agradecimentos de todo atleticano.

Pitacos a respeito de uma economia que se reconstrói ou seria desconstrói?

Semana pródiga em eventos dignos de pitacos. A começar pela aprovação, pelo Congresso, da flexibilização da meta de superávit primário fixada na Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, permitindo ao governo Dilma descumprir a meta fiscal anteriormente proposta; passando depois pela elevação de mais 0,5% da nossa taxa básica de juros, pelo COPOM, o que surpreendeu alguns analistas de mercado que projetavam um aumento de 0,25% apenas; pela divulgação e reconhecimento de um dos piores resultados para nossa balança comercial e, com consequência, para nossa conta de transações correntes para o ano em curso; até terminar com o reconhecimento de que o PIB de 2015 não crescerá mais que 0,8%.
No ar, apenas uma pergunta chave: alguma novidade?
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Contando com maioria no Congresso, muito embora a maior parte dos partidos da base aliada do governo estivesse emitindo sinais evidentes de rebeldia, em claro sinal de insatisfação com a reforma ministerial em curso, não era de se esperar resultado diferente da aprovação da lei que permite abater a totalidade dos gastos do PAC e da perda de receitas provenientes da desoneração de impostos da meta de superávit proposta.
O que, independente de outras análises e considerações é, no mínimo curioso. 
Explico minha perplexidade:  ao elaborar a LDO e fixar a meta de superávit, ou seja de quanto a previsão de arrecadação deveria exceder à previsão de gastos do governo no ano de 2014, para agradar ao deus Mercado - essa entidade sem rosto, abstrata e poderosa, que a todos impõe sua vontade e a todos submete em seus caprichos-, o governo resolveu elevar o resultado obtido.
Dessa forma e a título de ilustração, caso o governo previsse uma arrecadação de 15 e gastos com custeio, com a realização de investimentos e outros gastos de transferências e assistência social, que totalizam os chamados gastos de funcionamento da máquina pública, de 13, o resultado prometido à sociedade seria de um superávit de 2. Entretanto, para elevar o resultado que tranquiliza a seus credores quanto a sua capacidade de pagar os juros da dívida pública, o governo resolveu ampliar o resultado para 3. 
E como fez isso?
Propôs, no próprio texto da LDO que parte dos gastos efetivamente realizados, com obras para o PAC, poderiam não ser incluídos como despesas, o que reduziria aquele valor de gastos e ampliaria o resultado primário. 
As alegações para que tais gastos com obras do PAC pudessem ser deixadas de fora, pelo menos parcialmente, na prática, têm a ver com a importância de tais obras, e seu impacto positivo na sociedade.
O que não seria nenhum absurdo uma vez que, de certa forma, encontra suporte em algumas ideias embutidas naquilo que os manuais de macroeconomia denominaram e apresentam como  modelo keynesiano, a saber:  dentro do contexto de um Estado intervencionista, capaz de administrar a demanda agregada, caso a economia esteja atravessando um período de baixo crescimento, não haverá problema em que momentaneamente esse Estado eleve seus gastos, promovendo uma política fiscal expansionista (e, portanto déficits fiscais), realizando os investimentos requeridos para destravar os gargalos que impeçam a evolução positiva do nível de produção, emprego e renda. 
Recuperada a capacidade de crescer, com a geração de maior demanda, emprego, renda, a produção ampliada elevará,  no momento posterior a arrecadação, o que permitirá resgatar o equilíbrio das contas públicas e, mais ainda, saldar a dívida gerada no primeiro momento.
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Ora, o que não entendo é porque algumas obras do PAC, já que consideradas importantes, poderiam ser abatidas e não sua totalidade, já que, a princípio, todas as obras do Programa de Aceleração do Crescimento deveriam, em tese, ter aquele objetivo de romper os limites que entravam o crescimento da economia. Ou não? Ou algumas obras seriam mais importantes que outras, a ponto de elas merecerem ser consideradas e outras não?
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Independente da questão das prioridades de obras de infraestrutura, o que o governo solicitou e obteve agora foi exatamente a inclusão de todas as obras e seus gastos nessa manobra para aumentar o resultado primário. 
A bem da verdade, no nosso caso, para obter autorização para descumprir qualquer resultado de superávit, tendo em vista que, em ano eleitoral e de Copa do Mundo, o governo gastou mais, bem mais que apenas em obras necessárias e exigidas pela sociedade. 
Assim, a Copa do Mundo e todas as obras que seriam bancadas com recursos eminentemente de origem privada, acabaram tendo uma parcela importante de recursos públicos, seja a construção ou reforma de estádios de futebol, cuja suntuosidade ou mau controle de gastos passaram a se denominar de arenas, seja em obras urbanas e mobilidade, seja em obras de recuperação ou reforma de aeroportos, etc. etc. Sem contar os gastos com os esquemas de segurança para o evento, com deslocamento de tropas, etc. 
Os jogos foram realizados, e com êxito, é justo reconhecer. Ao menos fora de campo, onde Felipão não podia interferir. 
Na área da segurança pública, o trabalho coordenado e integrado de tropas e polícias militares e civis, deu tão certo que, projeto aprovado no Legislativo, ainda essa semana, transforma esse esquema de integração em determinação legal doravante.
Além disso, gastos de investimento foram feitos dentro do que se convencionou, na literatura econômica a ser chamado de ciclo eleitoral, ou seja, ampliam-se gastos, antecipam-se até alguns cronogramas, dada a proximidade das eleições, para mostrar um governo atuante, se movimentando. Um governo dinâmico e preocupado com fazer nossa sociedade deslanchar. 
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Somado a isso, redução de alíquotas e desonerações de tributos, destinadas a, sem grande sucesso, estimular o empresariado a elevar o nível de inversões no país, acabaram tornando o resultado primário negativo. 
No final das contas, o governo gastou mais que arrecadou e descumpriu a lei. 
Logo, a necessidade de, para escapar de uma acusação de crime de responsabilidade, a necessária utilização de contabilidade criativa. Aqui nem tão criativa assim. 
Apenas a aceitação pela sociedade de que, nesse momento, o governo está autorizado a aumentar sua dívida, lançando títulos para cobrir a diferença constatada. 
Dentro da concepção do keynesianismo neoclássico, quem sabe um crescimento posterior não permite pagar a dívida agora autorizada?
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Nesse meio tempo, Dilma indica para cuidar de nossa economia e obter as bençãos do mercado um triunvirato que tem como principal nome o de Joaquim Levy, considerado pelo próprio mercado um liberal, um discípulo de Armínio Fraga, de quem seria e agiria como um genérico. 
E, se antes das eleições, aqui nesses pitacos eu já criticava a indicação de Armínio Fraga para o cargo de ministro da Fazenda pelo candidato oposicionista Aécio Neves, por suas vinculações, especialmente com o grande capital financeiro internacional, não haveria razão, agora para não criticar Dilma, eleita, pela indicação de alguém cuja trajetória o torna bastante próximo de seu amigo e tutor. 
Dessa forma, não seria de se esperar outra coisa, especialmente depois da aprovação da lei que isenta o governo Dilma do cumprimento da meta de superávit em 2014, de que o novo ministro já assuma dando sinais de um endurecimento do ponto de vista fiscal, com muito mais austeridade e corte de gastos na carne e até nos ossos, se necessário. E, do ponto de vista monetário, um arrocho maior, com elevação dos juros para controlar a inflação e fazê-la voltar no mais breve tempo possível para o centro da meta. 
Ou para remunerar melhor os credores do governo, prejudicados nesse ano em seus ganhos. Quando nada para remunerar a tais capitais, e aos seus donos, pelo desconforto de terem passado por um período de incertezas, dado o resultado deficitário. 
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Com juros maiores estaremos aptos a atrair maiores influxos de capital externo, com evidentes efeitos no nosso câmbio. O que, do ponto de vista dos mercados é algo necessário, já que as apostas são todas na direção de que os Estados Unidos irão começar a elevar as suas taxas de juros interna. 
O que significa que, para continuarmos atraindo capitais que venham contribuir para financiar nosso desenvolvimento, é necessário que nossos juros estejam ainda mais atraentes. 
E, com o dólar fluindo livremente, sua cotação será mais dúvida mais baixa, o que contribui também para a redução da inflação. 
Mas, se contribui para a redução da inflação, contribui mais ainda para que nossa balança comercial continue apresentando os resultados que já vêm sendo verificados, deficitários.
O que nos leva a contas correntes mais negativas e maior necessidade de financiamentos internacionais. 
O que junta a fome com a vontade de comer. Mais necessidade de capitais externos, mais juros, mais real valorizado, mais déficits comerciais, mais contas correntes negativas, mais necessidade de financiamentos e de capitais externos...
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O problema de ter juros em alta, para conter a inflação, mais rigor fiscal e política de responsabilidade com o cumprimento de metas, ao menos as ditadas e de agrado dos mercados, é que o capital financeiro, que virá para nosso país, não quer nada com a aplicação produtiva, capital rentista e parasitário que é. 
Sua única preocupação é se valorizar, sugando nossas riquezas, nossa energia e nosso emprego. 
Afinal, há uma taxa natural de desemprego contra a qual não adianta lutar, ao menos a longo prazo. Não é verdade? 
Ao menos do ponto de vista da corrente principal do pensamento econômico, e que domina mentes e corações nos dias de hoje, tornando-se a prece que procura louvar ao deus mercado. 
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Por isso, não há nenhuma novidade nos resultados todos pífios apresentados por nossa economia e citados no primeiro parágrafo desse comentário. 
E por isso todas aquelas mazelas são naturais e se encaixam. Inclusive com um PIBinho de apenas 0,8%, já que as taxas de juros estarão elevadas, o desemprego estará em alta, o governo não estará gastando, ou conterá seus gastos ao máximo, e as nossas empresas e nossa indústria, virará apenas mais uma foto amarelada na parede. 
Mas, estaremos consumindo cada vez mais produtos globalizados, comprovando que o mundo de fato tem se tornado cada vez mais plano. 
E nós, não vinculados aos mercados financeiros e seus interesses apenas uma pasta. Inodora e insossa.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Fica Levir, no Galo campeão da Copa de Brasil 2014

Não poderia deixar de dizer: brilhante o Atlético, o Galo, campeão da Copa do Brasil 2014. Vibrante, aguerrido, corajoso, com garra e gana como é a mística desse clube.
O que se justifica pela força que irradia da torcida e, incendiando o time, volta como onda de energia para a massa, reiniciando e e reforçando o ciclo virtuoso.
Espírito que contagia  atletas já experimentados e faz os meninos da base chegarem já com sangue nos olhos.
Parabéns Atletico Mineiro. Parabéns Galo.
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Time e elenco que tem mostrado que, só mesmo com a ajuda da arbitragem os adversários têm conseguido comemorar algum resultado positivo.
Foi assim contra o Internacional e ontem, mais uma vez, contra o Coritiba.
E diga-se de passagem que o time do Coxa levou um sufoco que é digno de registro. Independente de ter ficado na frente, no placar.
Menos mal, o Coritiba livra-se do rebaixamento. Que já tem assegurado o Botafogo.
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Só para concluir: Fica Levir!

Fazendo referências a estelionato eleitoral: suas razões e conveniências

Em 2003, ao assumir o governo, Lula convidou Henrique Meirelles para ser presidente do Banco Central, o que provocou a maior celeuma. Afinal, o indicado não apenas era um banqueiro, vindo do mercado, com visão muito diferente daquela sustentada por Lula, seu projeto e seu PT. Mais que isso, Henrique Meirelles tinha acabado de se eleger deputado por Goiás, pela sigla do PSDB.
Henrique Meirelles assumiu o BC, em pouco tempo virou ministro, Ministro Presidente do Banco Central, compondo um dos trinta e tantos ministérios que temos hoje em nosso país (há rumores de que virou ministro para paralisar o andamento de um processo administrativo, de que era parte, justamente aberto pelo Banco Central).
Mas, deixemos isso pra lá.
O importante é que, ao lado de Palocci, que nada entendia de economia, Lula praticou uma política econômica que negava tudo quanto havia prometido fazer enquanto estava em campanha.
Agindo assim, não apenas se dobrou ao mercado e especialmente aos interesses do capital financeiro, mas conseguiu trazer de volta para o centro da meta, a inflação que FHC e seu Armínio, deixaram fugir ao controle.
Aliás, não apenas trouxe a inflação para a meta, com algum lapso de tempo, foi além: conseguiu manter a inflação abaixo da meta, em alguns períodos, embora não promovesse qualquer redução nas taxas estratosféricas de juros praticadas em nosso país. Além disso, onseguiu por ordem nas contas públicas, prometendo e entregando superávits primários expressivos, para o que deve ter, sem dúvida, recebido a contribuição de Joaquim Levy.
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Visto que já faz parte da história do PT, ao assumir o governo, praticar o que alguns chamam de capitulação ao mercado e aos interesses do mais ricos, ou o que é considerado estelionato eleitoral por parte da oposição, é importante lembrar que, com Lula, o principal programa de assistência social, o Fome Zero, foi um fracasso rotundo.
Mas entende-se que, caso não fizesse a continuidade da política que tanto criticara, fatalmente enfrentaria uma resistência junto à sociedade que poderia resultar em uma crise de governabilidade com consequências imprevisíveis. Afinal, a manutenção do descontrole inflacionário, junto à situação externa caótica (que levou à celebração de um empréstimo em valor recorde junto ao FMI), seriam imputados a sua gestão, mesmo que ele não tivesse tido tempo para qualquer medida de caráter mais popular.
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Importante é se lembrar que, a partir do primeiro ano de seu governo, uma série de fatores, a maior parte alheia a nossa situação econômica, veio contribuir para que a economia não sentisse em demasia os efeitos necessariamente recessivos da política econômica ortodoxa em curso. O crescimento da China e a voracidade com que invadiu os mercados internacionais demandando bens primários, como minério de ferro, soja, etc, todos produtos em que o Brasil apresenta competitividade, permitiu que a economia brasileira passasse a crescer, colaborando para que a questão externa fosse equacionada em tempo mínimo, além de o país poder começar a expandir, a baixo custo, gastos sociais que impulsionaram nosso mercado interno e gerou além da incorporação de quase a população de uma França ao nosso mercado consumidor, com seu efeito multiplicador, a elevação do nível de crescimento e, principalmente a redução da desigualdade vergonhosa que nos caracteriza.
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Com crescimento, receitas em elevação e superávits primários que tranquilizavam os mercados ainda beneficiados por juros extremamente generosos, o país pôde expandir o público alvo do Bolsa Família, universalizando o programa, além de propor uma legislação para assegurar que o salário mínimo pudesse obter ganhos reais começando a tentar corrigir a nódoa de nossa distribuição de renda.
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Ainda na ocasião da crise financeira de 2007/2008, e sua disseminação para o resto do mundo, em 2009, Lula pode praticar política mais voltada para as camadas menos favorecidas da população facilitando, junto à manutenção da lei de reajuste de salários, o acesso ao crédito, voltado a estimular o consumo popular.
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Kalecki, economista polonês de grande importância e pouca divulgação, já havia mostrado em trabalho monumental que enquanto os trabalhadores gastam o que ganham os capitalistas ganham o que gastam. E que o nível da renda nacional seria consequência direta dos lucros acumulados pelos empresários obtidos em decorrência de seus gastos em investimentos, principalmente.
Ou seja, a adoção de políticas de favorecimento ao consumo popular só teria consequências sustentadas para o crescimento econômico, caso gerasse um ambiente positivo e estimulante para levar os empresários a desejarem investir.
O país cresceu no último ano de Lula, 7,5%. Um êxito, Mas, a eleição de Dilma e seu jeito de lidar com os mercados afugentou os investimentos. Se bem que, creio que mais que a  simpatia ou antipatia pela mandatárias, contribuiu muito para isso, o fato de nossa taxa de juros não ser favorável à inversão produtiva. Antes, incentivava mais a expansão das aplicações financeiras.
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Pior, a presidenta passou a adotar política dita de cunho keynesiano, baseada no estímulo a setores empresariais selecionados, o que trouxe certa insatisfação junto aos setores não privilegiados, enquanto as consequências da continuidade da crise, agora sob a forma de uma recessão em escala mundial, fizeram encolher nossas exportações, reduzindo nossa demanda e nosso crescimento.
Sem investimentos a economia começou a patinar, especialmente quando as famílias já endividadas passaram e reduzir seu endividamento, consumindo menos.
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Bem é nesse quadro que Dilma, a geniosa entrega o comando do governo a Dilma, a governante que deseja inscrever seu nome na história e, mais que isso, tem o dever de fazer um governo que venha a reduzir a resistência que sua antecessora gerou nas camadas de classe média e mais abastadas do país. Afinal, ela tem o dever de criar e fomentar um ambiente que permita a Lula levar avante seu plano de voltar ao Planalto.
E, tendo em vista que a classe média e os extratos de renda mais elevada votaram maciçamente na oposição e na proposta de política econômica mais conservadora, talvez esteja aí, a primeira pista para que possamos entender a razão de Dilma ter escolhido, na frase espirituosa de um político da oposição, chamar o genérico de Armínio, para assumir "o lojinha".
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Uma coisa parece certa, Dilma começou roubando a bandeira e tirando o discurso da oposição, que agora não tem assunto. Exceto ficar martelando o tal estelionato perpetrado pela presidenta.
Pena que, ao que parece, leva junto aquela parte melhor de toda a experiência de seu partido no poder: a atenção preferencial aos menos privilegiados.
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Deixamos para aprofundar mais nossa análise, em comentários subsequentes.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Recesso

Essa postagem é apenas para comunicar que o blog está de recesso, por motivo de luto.
Voltamos para comentar os assuntos do dia-a-dia, logo, logo.

Abraços a todos. E obrigado pelas manifestações daqueles que tiveram conhecimento do falecimento de meu pai, no Rio, dia 22 último.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

De compliance, do futebol do Galo, da ridícula briga de ingressos para a decisão da Copa do Brasil, e outros pitacos.

Não é que não estejam acontecendo fatos importantes e merecedores de algum tipo de comentário nosso em nossa sociedade.
Acontece que a maior parte do noticiário continua vinculada aos escândalos e à corrupção em torno da Petrobrás e como as investigações correm em sigilo, ou em informações na maioria das vezes pinçadas e parciais, prefiro assistir, estarrecido, a evolução dos fatos.
Um comentário, entretanto, devo fazer. Ouvia há alguns dias, mais especificamente no início dessa semana, a opinião de Alexandre Garcia para o programa de jornalismo matinal da rádio Itatiaia.
Para o jornalista, o anúncio feito pela presidente da companhia e por seus colegas de diretoria, da criação de mais uma diretoria, responsável por verificar o correto cumprimento das leis conforme algumas versões, ou pela governança para outros, não era mais que jogo de cena.
Segundo Garcia, para verificar o cumprimento das leis já existiriam órgãos internos e externos de auditoria e fiscalização, além de outros órgãos externos, como o TCU, o Ministério Público da União, além da Controladoria Geral da República, etc.
Tudo bem e tudo certo. Mas todos sabemos que as leis e os regulamentos existem e estão aí para serem cumpridos.
Além disso, como o rumoroso caso do juiz flagrado dirigindo sem documentação hábil, parado em blitz no Rio e que não quis se submeter ao rigor das leis simplesmente por ser um magistrado tem suscitado, ninguém pode se comportar ao arrepio das leis, e ninguém pode alegar desconhecimento da legislação.
Ou seja, juízes não são impunes, embora possam acreditar nisso, e se decidem sobre a vida de qualquer cidadão, não são deuses, como asseverou a agente de trânsito que estava em serviço e foi presa pelo juiz sob a alegação de desacato.
Mas, era outro nosso tema. E embora não seja admissível que alguém ou alguma empresa descumpra a legislação, devemos considerar que uma empresa do tamanho e do porte da Petrobras, e com a quantidade de áreas de atuação e de atividades e de pessoas, trabalhando ou com algum tipo de relação com a companhia, acaba sim, adotando em suas entranhas uma série de comportamentos que ferem os preceitos regulamentares.
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Daí, ao contrário de Garcia, para quem a criação da diretoria seria mero jogo de cena, acredito que a criação da diretoria é medida correta de profilaxia, apenas achando curioso que tenha vindo tão tarde. Em hora tão inoportuna e pelos motivos que todos conhecemos.
Ora, no sistema financeiro, por determinação dos órgãos normativos e o Banco Central em especial, já desde há muito tempo foram tornadas obrigatórias a criação e o funcionamento de áreas não apenas voltadas para gestão, análise e avaliação de riscos, como também áreas destinadas a exercerem a atividade de "compliance" ou seja a obediência, a adequação das ações e comportamentos das instituições financeiras às normas vigentes.
E o tema é tratado com tamanho rigor que a Febraban tem até e disponibiliza uma cartilha para explicar e dirimir dúvidas sobre a função de compliance: o que é, seu alcance, etc.
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Como é fácil verificar-se, compliance é uma expressão que se origina do verbo comply do idioma inglês, onde tem o significado de obedecer, estar em conformidade ou de acordo com alguma norma.
E quantos de nós já não tivemos chances de testemunhar que, mesmo que no geral a preocupação em cumprir as leis esteja presente, algumas pessoas, algumas atividades, alguns atos sejam realizados, sem que o estrito cumprimento da norma seja respeitado.
Por isso, para mim, ao contrário da alegação de Alexandre Garcia, cuja opinião e lógica de raciocínio até entendo, já que a sensação é de que a criação da diretoria e seu anúncio chegou tarde, a questão que merece crítica é exatamente a de tal diretoria ainda não existir e integrar o organograma da Petrobras.
Nesse ponto, concordo com o jornalista, puseram a tranca depois que o ladrão já tinha se instalado no interior da empresa.

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Galo, Flamengo e Luxemburgo

Mais uma vez na noite de ontem, agora no Independência, o Flamengo enfrentou o time do Atlético e, mais uma vez, o placar mostrou um resultado vergonhoso para o time carioca. Nada que não me deixasse satisfeito, claro, especialmente por ver um time rubro-negro completamente entregue em campo, sem qualquer orientação e capacidade de reação, ao tempo em que via, no banco de reservas um técnico também sem qualquer reação.
Não tenho nenhuma simpatia por Luxemburgo e por sua arrogância. Não gosto de suas atitudes, muitas das quais me levam a questionar sua própria honestidade de propósitos.
Reconheço que já houve uma época em que ele foi um técnico vencedor e despontou em nosso futebol como um dos principais nomes para a função.
Mas é só. Sempre achei, e isso se confirmou quando quase conseguiu fazer o Atlético voltar à segunda divisão de nosso futebol, que ele é do tipo de técnico que ganha sozinho, empata com o time e não tem nenhuma responsabilidade quando o time perde.
Por força desse caráter diminuto, é que me deixa mais feliz verificar que ontem, flagrado pelas câmaras, o Luxa não esboçava qualquer reação, qualquer emoção, exceto desânimo e desolação.
Enquanto isso, o Atlético trucidava - essa é a expressão mais exata, o time carioca em campo. Especialmente no primeiro tempo, quando voava em campo, com o ataque trocando passes em tão grande velocidade que deixava atarantado os próprios locutores e analistas da cobertura esportiva.
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O placar elástico, foi bom também para mostrar que a vitória e classificação para a disputa da final da Copa do Brasil não foi um golpe de sorte, ou por acaso, como alguns jornalistas do Rio poderiam acreditar e chegaram a manifestar.
Aliás, a única parcela da torcida que ainda acredita - e até torce e não se convence de que Luxemburgo já deu o que tinha que dar. E como torce a crônica do Rio, que de especializada em futebol tem a credenciá-la apenas o fato de torcer. E muito. Sem qualquer constrangimento.
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Destacar algum nome no time do Galo ontem, seria até injusto, tamanha a força do futebol solidário que o Galo imprimiu. Mas não é possível não falar de Tardelli e suas investidas em velocidade, deixando a defesa do Flamengo completamente tonta. Não é possível não falar de Luan, o menino maluquinho, infernizando em campo tanto na frente, quanto no meio e até na defesa, já que tinha fôlego e disposição para vir ajudar na nossa retaguarda. Jemerson, mais  uma vez mostrou que veio para se tornar um dos maiores jogadores da defesa atleticana. Dátolo foi mais uma vez muito criativo e importante na armação das jogadas. Mas, para mim, o destaque ontem foi Douglas Santos.
Por todo o futebol, a confiança e tranquilidade que o jovem lateral mostrou, inclusive e principalmente indo à frente.
Para mim, embora tenha feito uma partida muito regular, achei que Marcos Rocha ficou aquém do que eu esperava. É preciso deixar isso bem claro. Ele jogou, como todo o time, muito bem. Mas, eu esperava mais desse que vem se constituindo em um de nossos mais importantes jogadores.
Já em relação a Donizete, embora não comprometesse, muito ao contrário, tenho de admitir que não consigo vê-lo em campo, jogando com um elenco de jogadores habilidosos, de velocidade e técnica.
Rafael Carioca mostrou o acerto de sua contratação e sua entrada ontem, e Dodô, mais uma vez mostrou a grande promessa que é e que já está se tornando realidade.
Que o Galo possa manter esse time e obter o mesmo resultado que o nosso adversário tem mantido, justo por ter uma estrutura mais equilibrada e estável.
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Ingressos e a ridícula briga pelos ingressos entre Atlético e eles

Já tive oportunidade de ser entrevistado e me manifestar aqui mesmo em relação ao local destinado à torcida adversária quando o Atlético, como mandante, atua no Horto.
Nada contra o Atlético aproveitar a mística do Independência, onde como todos gritamos, se caiu no Horto, tá morto!
Mas, colocar a torcida adversária justamente em cima do local reservado à torcida do Galo na Veia, que é o sócio torcedor do time e que muitas vezes é o que mais caro paga para ver o time do Galo jogar, acho um despropósito.
Pior é quando o jogo é contra o time do Cruzeiro, já que a torcida das "Marias" joga moeda, milho, urina, água, cospe e até já jogou rojão apontado para atingir a nós atleticanos que nada podemos fazer. E que não só não temos como nos defender, nos protegendo, como não temos também para onde correr.
No último jogo com a presença da torcida do Cruzeiro no Independência, estava sentado próximo à uma moça, torcedora do Galão da Massa, que quase foi atingida pelo foguete disparado lá de cima, não se sabe por quem.
Então, se não há segurança para a torcida do time contrário ficar em outros locais do campo, já que a Polícia Militar tem dado demonstrações de que não tem mais a capacidade que sempre demonstrou no passado de separar as torcidas e evitar os piores confrontos, não há como não concordar em que a torcida do time contrário, qualquer que seja, fique no local, mas sem ter direito a se aproximar das grades que definem e limitam o final do espaço.
Não é por sacanagem. É por segurança mesmo.
Mas o resultado é que a capacidade de 10% da carga de ingressos para a torcida do time adversário, não pode ser respeitada.
No último jogo, isso redundou em uma grande discussão, e a carga de ingressos oferecida ao time do Cruzeiro não superou os 8,5%.
***
Agora, no jogo de volta, no Mineirão, estádio que suporta uma capacidade maior de torcedores, por provocação e pirraça a diretoria do time do Cruzeiro que prometia colocar à disposição dos torcedores do Galo a mesma porcentagem, resolveu que vai destinar apenas pouco menos de 5% da carga. A preços de R$ 1000,00, o que é um absurdo.
Ridícula a atuação da diretoria que tenta vender a ideia de ser a mais bem estruturada e mais racional de nossos times de futebol.
Em minha opinião de um grau de infantilidade que mancha sua tradição. Ou coisa de quem está de TPM. Temeroso de Perder no Mineirão.

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Dia da Consciência Negra e feriado apenas nos estados do Rio e em São Paulo, aqui no Sudeste, mostra bem que ainda há muito que se fazer na luta de valorização da raça negra, de Zumbi.
E o futebol, como o caso recente de Aranha  e de outros jogadores não nos deixa esquecer, mais ainda.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Fase final do Brasileirão, com emoção e a Emoção de ver a operação Lava-Jato ter sequência

O Santos não conseguiu vencer o time líder do Campeonato Brasileiro, mais uma vez, como era de se esperar, mesmo jogando em casa. Afinal, a vitória do Cruzeiro foi o terceiro resultado positivo do time mineiro, em três jogos seguidos e recentes todos, dois pela Copa do Brasil.
Diga-se de passagem que, pela Copa do Brasil, disputando a passagem para a vaga na final e, portanto, necessariamente tendo se doado muito mais em campo, o time do Santos não conseguiu mais que um empate. em três a três, depois de estar ganhando por 3 a um.
Vá lá que o terceiro gol cruzeirense no finalzinho já do jogo pode ser atribuído mais ao desespero do time praiano, que foi todo para a frente na busca de um gol salvador.
Independente disso, o Cruzeiro estava em campo para aproveitar exatamente algum tipo de falha do adversário, e o fato de o Santos estar todo na frente, avançando em desespero, não assegura que levaria o gol de empate.
***
Já o São Paulo, depois de ter sido escandalosamente prejudicado pelo impedimento flagrante de Paulão no gol do Internacional, na partida que disputaram em antecipação ao calendário, e que terminou no empate de um tento, impôs-se ontem ao Palmeiras.
Com o resultado, praticamente o São Paulo assegura sua volta ao torneio da Libertadores, depois de ter ficado fora nesse 2014.
Luis Fabiano, mais uma vez, fez um gol importante e bonito.
Embora nada que se compara à beleza do gol de bicicleta de .... Paulão, o becão do Internacional. E que nunca primou nem pela categoria, nem pelo toque de classe, nem por fazer gols.
Mas, ontem, o gol de Paulão foi de tirar o chapéu e todo amante do bom futebol, de jogadas de efeito, deve ter ficado encantado.
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Já o Galo, no Independência, mais uma vez incorporou o espírito de Robin Hood, aquele que tira dos grandes e entrega aos pequenos.
Não vi o primeiro tempo, mas o que vi dos melhores momentos deu-me a impressão de que, mais uma vez, a posse de bola e o domínio na maior parte da partida não estava surtindo muito resultado. Certo que o Galo estava com o time todo de reservas, e que o gol do Figueirense foi injusto, considerado o que o time catarinense fez ao longo do jogo. Mas foi um belo gol, também em chute de rara felicidade.
Como também bonito foi o gol de Dodô, de sem pulo. Dodô que seja talvez a maior promessa dessa leva de garotos que Levir vem lançando no time principal do Galo.
***
Quanto ao segundo tempo, embora mantendo a mesma posse de bola, o Atlético não mostrou objetividade e, ao final até deu algum espaço e chances ao time do Figueira que não soube aproveitar as chances.
De destacar algumas vaias que foram ouvidas nas ocasiões em que Alex Silva tocava a bola, o que, considerado seu estado físico - parece que estava com algum tipo de indisposição, revela uma postura da torcida que não ajuda o time.
Se ele estava com problemas físicos e foi mantido em campo, então a responsabilidade de não estar praticando o futebol que a torcida gostaria de ver não era do atleta, mas do técnico e da comissão que o acompanha.
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Ao final do jogo, Levir reconheceu ter sido o responsável pelo resultado, chamando a si a responsabilidade de ter dado menos apoio aos jovens jogadores vindos da base, que estavam em campo.
Mas, reconheçamos que estava em um dilema. Com o resultado contrário ao time, há que se evitar a possibilidade de a torcida começar a queimar um jogador com cobranças exageradas. E para preservar os mais inexperientes, Levir tirou jogadores que, estava se entregando e correndo. Fato que ele mesmo reconheceu.
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Com isso o Atlético fica fora do G4, cada vez mais congestionado. E não apenas pelo resultado do empate em casa, mas também por não estar no grupo dos quatro primeiros, frustra a torcida que o vem apoiando, mesmo em jogos como esse de domingo no pior horário que poderia ser definido pela madrasta Globo.
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Investigações da PF  na operação Lava-Jato

Enquanto isso, assistimos a algo inédito, que são as prisões de dirigentes e administradores das principais empresas de engenharia e construção de nosso país. Finalmente, dessa vez, parece que a Polícia Federal está trabalhando para valer, embora sob certo espalhafato, comum nesse tipo de ação.
Mas, já de há muito tempo, todo mundo fala e critica a impunidade e combate a questão da corrupção, crucificando, corretamente o corrupto. Mas deixando de fazer qualquer menção ao lado de lá da mesa, o do corruptor.
Que afinal de contas é o maior beneficiário do crime cometido, da impunidade que a todos incomoda.
Pois bem, ver agora as imagens de principais diretores de empresas, de construtoras e empreiteiras chegando puxando a malinha de rodinhas à sede da PF é a indicação de que algo está mudando nesse país. E para melhor.
Mesmo que algumas pessoas entendam esse tipo de mudança de forma contrária ao que ela revela. A mudança está acontecendo por causa da democracia e do fortalecimento da democracia no nosso país e não por qualquer outro motivo como, de forma equivocada, algumas pessoas de espírito autoritário ainda podem estar pensando.
Esses, na verdade, querem o golpe. Não aceitam a vontade da maioria, desejando a oportunidade de um terceiro turno, que o ministro Cardozo da Justiça, em boa hora, fez questão de abortar.
Embora possa existir dentro da própria PF delegados também favoráveis ao golpe, e agindo com interesses escusos, a Polícia está fazendo seu trabalho de forma a deixar em todos a certeza de que alguma coisa está mudando - E PARA MELHOR - em nosso país.
Esperamos apenas que prossigam as investigações e que, a próxima fase, que tratará dos políticos, também possa desenvolver-se na maior lisura e sem segundas ou terceiras intenções. De quem quer que seja.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Vantagem do Galo, mas nada decidido

O placar de 2 a zero é suficientemente conhecido do time e da torcida do Galo para que possamos sair comemorando antecipadamente o título.
Ainda assim, o resultado conquistado no Horto é muito importante, permitindo ao Atlético mais tranquilidade para enfrentar as duas próximas semanas.
Quanto ao Cruzeiro, a situação também não é muito diferente, especialmente em função do resultado de empate na partida entre São Paulo e Internacional, jogada ontem, que dá uma vantagem ainda maior ao time mineiro no campeonato brasileiro.
Porque não podemos nos esquecer que ambos os times, Atlético e Cruzeiro, estão disputando simultaneamente dois campeonatos difíceis, e que um resultado ruim do Cruzeiro no próximo fim de semana, quando volta a jogar na Vila Belmiro contra o Santos poderia ligar o sinal de alerta. Afinal, caso o São Paulo vencesse ontem, e o Cruzeiro tivesse um resultado negativo, a diferença entre ambos os times poderia levar o Cruzeiro a ter de optar por privilegiar uma competição, provavelmente a que teria mais chances de ser campeão, o Campeonato Brasileiro.
Mas, com diferença de 4 pontos, mesmo que perca para o Santos no domingo, a situação do time líder do campeonato permanece tranquila e, dependendo dos resultados do outro final de semana, o Cruzeiro já poderá entrar na partida do dia 26 com o time completo e com o título já conquistado.
Assim, resta ao Galo se preparar para o próximo confronto com todo o cuidado para que não venha a se tornar vítima da maldição que ele mesmo construiu, em relação ao placar de dois gols de vantagem.
***
Quanto ao jogo de ontem, no Independência, o que se viu foi um Cruzeiro com muita posse de bola e muita troca de passes laterais, especialmente em sua defesa. Muita bola atrasada, o que facilitou muito o trabalho do time do Galo.
Inteligente, o time do Atlético preferiu, nesses instantes, voltar todo para seu próprio campo, fechando os espaços e fazendo marcação mais cerrada sobre os atacantes do time adversário.
Isso não significou que o Galão deixou de exercer a marcação de saída de bola, tentando encurtar os espaços e dificultar a vida dos defensores e armadores das jogadas do time de Marcelo Oliveira. O Atlético apertou a marcação, mas ao ver o toque de bola sem objetividade do Cruzeiro, preferia voltar todo para seu campo, forçando o time de azul a tentar lançamentos longos que na maioria das vezes foram interceptados por uma defesa muito bem postada.
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Em minha opinião, Jemerson foi o nome do jogo, constituindo-se no melhor jogador da partida. Seguro, tranquilo, sem enfeitar e querer fazer jogadas de efeito, deu uma demonstração de equilíbrio e maturidade. Que eu me lembre, não perdeu lance nenhum seja nas disputas com Ricardo Goulart, seja com Marcelo Moreno, seja com William, ou qualquer outro que caísse por aquele lado do campo.
Apenas uma vez, já no segundo tempo, depois que o placar indicava os 2 a zero, é que tentou sair jogando e perdeu a bola, ainda no setor de defesa do Atlético. De resto, fez um partidão.
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Mas se Jemerson brilhou, contou com a segurança e tranquilidade e orientação de Leonardo Silva, outro que jogou muito bem, mais postado na defesa, evitando em algumas ocasiões a subir até a área de Fábio, nas bolas altas.
Marcos Rocha foi o autor do cruzamento que resultou no primeiro gol, de Luan, que sinceramente, pelo lugar que ficamos no campo, não dá para comentar se houve ou não impedimento. Dizem os comentaristas e analistas de tevê que houve. Mas, pelo que ouvi falar, o impedimento seria difícil de ser visto pelo bandeira.
Já na lateral esquerda, Douglas Santos não me pareceu estar tão bem quanto em outros dias.
No meio campo, Josué e Leandro Donizete foram também importantes peças de contenção, ajudando em muito o trabalho de Jemerson e de toda  a defesa.
Já na parte ofensiva do time, parece que sentindo algum incômodo, Tardelli foi quem ficou devendo.
Ele e Marion, depois da saída do corredor e esforçado Luan, mais uma vez a representação em campo de toda a mística do time do Galo.
Curioso foi que Marion não entrou apenas sem ritmo. Entrou também sem pernas. Sem inspiração, sem gana. Em alguns momentos, quando perdia a jogada, pudemos vê-lo voltando caminhando para ajudar a defesa, enquanto do outro lado do campo, Carlos voltava como um foguete para fechar os espaços.
Exatamente os dois jogadores protagonizaram os lances que poderiam ter dado maior tranquilidade ao Galo para o jogo da segunda partida da decisão. No caso de Tardelli, o gol que perdeu foi menos por sua responsabilidade que do goleiro Fábio que fez grande defesa. No caso de Marion, não. Em uma arrancada em que tinha a oportunidade de tocar à frente para Carlos, que entrava completamente livre, preferiu seguir sozinho, perdendo a passada e se esborrachando no campo.
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Tudo bem, o Galo venceu a primeira e sai com vantagem. Vacinado, deverá jogar a final com toda atenção e o cuidado que o placar exige. Estou certo que Levir Culpi saberá armar o time para não ser surpreendido por um resultado contrário.
Outra questão interessante será verificar o comportamento da torcida do Cruzeiro, e verificar se também ela entoará o mantra que a torcida do Galo tantas vezes cantou no Mineirão, com êxito: Eu Acredito!
Seria cômico ver agora os cruzeirenses, que tantas vezes ironizaram a torcida do Galo copiar aquele comportamento.
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Uma palavra final sobre a Polícia Militar. Com um efetivo maior, ela deu demonstrações claras de que tem condições, desde que queira, de coibir qualquer problema de desentendimentos entre torcedores de ambos os times tanto fora, no entorno do estádio, quanto dentro do campo. Desta forma, desde que haja, como ontem, uma decisão de fazer um policiamento mais rigoroso e com mais homens, não há razão para que as partidas entre Atlético e Cruzeiro continuem privando uma torcida de estar acompanhando seu time no estádio.
***
Tenho que admitir também que Kalil estava certo. Mesmo não tendo o conforto do Mineirão, nem deixando os jogadores mais à vontade, inclusive os jogadores do Galo, que sempre pedem que os jogos sejam transferidos para a Pampulha, o Independência representa a casa do Galo.
E as estatísticas indicam que o Atlético é um dos maiores, senão o maior mandante. O time que mais soube aproveitar as vantagens de jogar em casa.
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Que venha o dia 26. E que seja um jogo com a mesma tranquilidade fora do campo, como foi o de ontem.
E que dentro das quatro linhas o Galão possa conquistar esse troféu que ainda falta a sua coleção.



Enquanto isso, em Brasília...

Só para não deixar passar em branco: a oposição, comandada pelo senador tucano Aécio Neves, segue a reboque da própria oposição interna ao PT. O chamado fogo amigo, iniciado pela entrevista de Gilberto Carvalho, teve sequência com Marta Suplicy e sua carta de despedida.
Que aliás, diga-se também, foi tão deselegante quanto outras atitudes que Marta já teve a oportunidade de protagonizar.  No caso da carta de demissão, tanto na escolha do momento, quanto no conteúdo.
No exterior, Dilma faz cara de paisagem, como quem não está nem aí para as atitudes de sua desafeta.
Embora saiba que há, atrás de toda essa movimentação, o dedo de seu padrinho Lula, doidinho para que esses 4 anos passem rapidinho para poder tentar voltar ao poder.
***
Já quanto a oposição, será isso mesmo. Não é do perfil de um murista convicto, como Aécio, assumir a frente das batalhas contra o dono da caneta, nem mesmo para criticar as manobras do governo para poder apresentar um resultado fiscal menos desastroso à sociedade, que o prometido.
Deixa que essa oposição o PSDB tem nomes melhores para fazer que a de seu presidente.


terça-feira, 11 de novembro de 2014

A falta que a Educação Financeira pessoal provoca

A liquidação da corretora Corval, no último mês de setembro, traz à luz um problema sério, passível de ter lugar no mercado financeiro: a questão da confiança e da quebra de confiança na relação cliente-Instituição financeira.
Nada a ver com a aplicação em si, diga-se de passagem, embora como dado em manchete da Folha de São Paulo no dia de ontem, em seu caderno sobre investimentos (Folhainvest), capaz de trazer algum abalo principalmente ao pequeno e médio investidor, obrigado a se fazer representar por uma dessas instituições por exemplo, para aplicar em títulos públicos do Tesouro Direto.
***
No caso dos títulos do Tesouro Nacional, os papéis adquiridos pelo investidor são protegidos por um registro em seu nome na Central Depositária da Bolsa BM&FBovespa. 
Além disso, o Tesouro e a Bolsa mensalmente emitem um extrato com as informações dos papéis que constam registrados em nome do investidor, para que ele possa acompanhar suas aplicações.
Mas, como estamos no Brasil, o cliente dificilmente se preocupa em acompanhar as informações que lhe são prestadas, confiando na corretora que escolheu para agir como sua representante. 
Ocorre que nada assegura que a Instituição Financeira não irá, caso necessário ou se houver má intenção de sua parte, utilizar dos papéis em seu nome, transferindo os títulos do cliente para seu próprio nome. 
Essa transferência, diga-se de passagem, não é ilegal, sendo permitida pela Bolsa, desde que o cliente a tenha autorizado.
Aí é que se cria o espaço para que a corretora possa burlar a confiança do seu cliente, o que irá acarretar prejuízos.
***
A informação tem de ser mais amplamente divulgada, o problema não é do papel, nem do Tesouro, mas da quebra da confiança, já que a instituição é que estava procedendo de má fé. 
Mas, fica o alerta: do extrato com informações que o cliente pode acessar a qualquer momento, não irá constar os títulos de propriedade do cliente que porventura tenham sido retirados. Com isso, atento a suas aplicações, o cliente tem como acompanhar se a corretora está abusando ou não de suas determinações. 
Por fim, uma outra informação: caso o cliente tenha suas aplicações registrada na Central Depositária, ele terá a garantia de que não sofrerá perdas, caso a instituição financeira venha a ter problemas como foi o caso da Corval.
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O alerta é importante: todos devem manter o mais estrito controle sobre suas aplicações. Afinal, como diz o ditado, o olho do dono é fundamental para a engorda do porco.
Mas, como promover uma mudança de cultura e de mentalidade, quando um tomador de crédito consignado sequer pergunta pela taxa de juros que está pagando, ou a CET, custo efetivo total do empréstimo que está tomando?
Qualquer correspondente de financeiras que realizam esse tipo de concessão de crédito pode nos informar que, desde que a prestação caiba na renda mensal, o empréstimo será efetivado. 
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Isso em um país que pratica as mais altas taxas de juros do mundo. E em vias de ver essa taxa crescer, por força da ação do BC e de sua diretoria reunida no COPOM, destinada a manter a inflação sob controle, ou no mínimo, dentro do intervalo da meta inflacionária.



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Novamente, Minas Gerais dividida na final

Não bastasse termos assistido, há pouco tempo, uma verdadeira final de campeonato entre dois mineiros, Dilma e Aécio, disputando a presidência da República em um nível tão rasteiro que mais parecia jogo decisivo de futebol de várzea, Minas Gerais, mais especificamente, Belo Horizonte, será palco de mais uma disputa de título.
Agora, colocando frente a frente o time que tem apresentado o melhor futebol coletivo desde meados do ano passado, o time de azul, contra aquele que obteve as maiores conquistas internacionais.
Não só as maiores conquistas internacionais, Libertadores e Recopa, mas também o time que tem sido protagonista das páginas mais épicas que o futebol tem nos proporcionado testemunhar, nos últimos anos: o Atlético Mineiro, Galo forte e Vingador.
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E não me refiro a páginas épicas por ser atleticano, e como todo torcedor do Galão da Massa, acostumado a viver em constante sobressalto. A epopeia explica-se pelos resultados que o time vem obtendo desde o ano passado, quando no Independência, disputando jogo decisivo contra o Tijuana e com a partida já nos segundos finais do tempo de acréscimo, houve a marcação de um pênalte contra o Galo, que Victor defendeu com a ponta do pé.
Nascia ali, com aquele milagre a mística de São Victor, e a confiança de que estavam todos os anjos e santos ao lado do Atlético.
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Em sequência, o Galo teve de disputar outras duas finais, felizmente todas em casa, contra o Newell's e contra o Olímpia, em ambas tendo de reverter o resultado de dois a zero que lhe era extremamente desfavorável.
Em ambas o Galo conseguiu o placar necessário para assegurar a conquista do título de campeão das Américas.
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Pela Recopa, contra o Lanús, outro sofrimento, com o time argentino vindo jogar a segunda partida no Mineirão e saindo vencedor do confronto, pelo placar de 3 a 2. Como o Atlético havia ganho a primeira partida por um gol de diferença, fomos para a prorrogação, em que o Galo, conseguiu a façanha de marcar dois tentos, jogando mal e contando com a ajuda de gols contra dos argentinos.
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Depois duas partidas históricas: contra o Corínthians e contra o Flamengo, ambas com o jogo de ida terminando no fatídico dois a zero, na casa dos adversários.
Pior: em ambas as partidas no Mineirão, o Galo levou o primeiro tento, o que implicava a necessidade de conquistar uma vitória por um placar mínimo de 4 a 1.
E não deu outra.
Empurrado pela torcida e o mantra do EU ACREDITO, o Galo foi para cima dos paulistas, primeiro e dos cariocas, na noite de ontem, arrancando, na base da paciência e sem correria desatinada o placar necessário. E merecido, pela entrega, disposição, coragem. E, principalmente por acreditar que era possível. Pela Fé.
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Mas, além do jogo, um detalhe ontem chamou minha atenção, antes do início do jogo.
É que, enquanto a torcida esperava o início da partida, cantando que o Galo é o time da virada, o Galo é o time do amor, no banco, Alex Silva, o lateral reserva, acompanhava a cantoria, mostrando, antes de mais nada, tratar-se de um atleticano, "sangue bão".
Depois do jogo, ao ser entrevistado pelas emissoras de tevê, Josué, campeão mundial pelo São Paulo, jogador de seleção brasileira e campeão de inúmeras competições na Alemanha afirmava que era raro ver conquistas como as que o time do Galo era capaz de proporcionar.
Dessas que nos levam às lágrimas de emoção, quando não a um infarto indesejado.
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Do time do Cruzeiro, cujo jogo não acompanhei, apenas a certeza de que joga bem em qualquer local, tendo elenco, treinador e qualidade, motivos que justificam porque é o líder disparado do campeonato brasileiro.
Em relação ao jogo na Vila Belmiro, o alçapão do Santos, admito que o resultado elástico não foi surpresa para mim. Afinal, ainda trago na memória o jogo em que o Galo vencia por 4 a 1, e aconteceu o que parecia completamente impossível: o jogo terminou empatado em 4 gols.
É que a torcida empurra, o time cresce, encurrala e acaba se desguarnecendo na defesa.
Jogos com muitos gols, como esse do time de Marcelo Oliveira na noite de ontem, não são, parece-me exceção.
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Agora é esperar pela decisão mineira, tão ansiosamente aguardada. E, com a decisão, que os torcedores, ao contrário dos partidários das agremiações políticas que travaram a última disputa eleitoral, tenham mais calma, tranquilidade e, principalmente, capacidade de aceitar o resultado adverso.
Porque confesso que está passando do limite a choradeira do coitadinho do Aécio, de que foi vítima de ataques baixos por parte do partido contrário, como se ele tivesse feito uma campanha sem agressões e sem ataque.
Ora, quem é das Minas e mora aqui, sabe que sua irmã sempre foi sim, ao lado de Anastasia a pessoa de maior influência no governo, dêem a isso o nome de nepotismo ou não. Quem viveu em Minas, sabe que o estado se endividou, que a cidade administrativa foi um descalabro e desnecessária sua construção, a toque de caixa, apenas para criar uma nova área imobiliária de valorização e especulação.
Quem trabalhava ao lado da Assembléia sabe que os professores de Minas promoveram uma série de manifestações e paralisações, por não terem respeitados seus direitos e pagos o piso nacional de salários. Questão que o próprio Supremo acabou interferindo em causa dos trabalhadores.
Todos sabem que Aécio sempre pousou de frequentador de colunas sociais e eventos de culto à personalidade, por mais espalhafatosos que possam ser e mais fúteis.
Não fomos nós que estávamos dirigindo embriagados e nos recusamos a soprar o bafômetro nas noites de embalo do Rio.
E tampouco nós que temos a  pista, o direito de  pouso ou a chave do aeroporto das terras do titio.
Quanto a falar em corrupção, até prova em contrário, ele empata com Dilma, tendo feito parte de governos que têm tantas acusações e desvios quanto o da eleita.
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Talvez saber perder seja o que mais o nosso menino do Rio esteja necessitando. Até para evocar a frase dita ontem, em Brasília, cujo significado é de que "É preciso saber perder, reconhecer a derrota. Como é preciso saber ganhar."
E, como minha mãe me ensinou, saber ganhar é, às vezes, muito mais difícil.
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Voltemos ao futebol. Que Minas saia ganhando, com a disputa entre nós e eles, quer racha a nossa capital ao meio. Que o futebol saia vitorioso e que agressões e vandalismos não tenham espaço para acontecer.
Afinal, trata-se apenas de uma disputa esportiva. Por mais apaixonante que seja. Apenas uma partida de futebol.
***
Para concluir dois comentários:
Sobre Oldair Barchi, o capitão de nossa campanha campeã de 1971. Vindo do Vasco, como lateral esquerdo, Oldair foi deslocado para o meio campo, onde brilhou no nosso time, especialmente por sua liderança. Sua capacidade de bater faltas, é uma das recordações que trago de sua atuação.
Depois de encerrar a carreira, lembro-me muito vagamente de uma experiência como técnico, também no Galo, não sei se no time principal;
Não sabia de sua morte e rendo-lhe aqui minhas homenagens.

E se tem homenagem a Oldair, eu proponho que nós atleticanos façamos um movimento para cassar a homenagem, indevida em minha opinião, a esse que representa o mau jornalismo, o jornalismo marrom, na tevê brasileira: o tal do Milton Neves.
Esse é daqueles conterrâneos que servem para mostrar que Minas tem muitas mazelas. Muita coisa ruim.
E, saída da cabeça dele, e do pessoal da Globo, só mesmo a ideia funesta e equivocada de que campeonato por pontos corridos não tem emoção e deve ser banido.
Ao vê-lo falar, fica a impressão de que ninguém no resto do mundo, Europa, Espanha, Itália, Inglaterra, etc. sabe o que é o melhor para o futebol. Só esse mala!
Mas, como o direito de falar asneiras é da democracia, que ele continue falando todas que quiser, com toda a antipatia que lhe é peculiar.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Balança Comercial e crise internacional; Jô e a punição do Galo; de golpe e golpistas, inclusive, Gilmar Mendes

Pior resultado da balança comercial desde outubro de 1998, com saldo negativo de US$ 1,2 bilhão e um déficit acumulado de 1,9 bilhão de dólares tem entre suas causas a queda do preço de produtos como o minério de ferro, por força de redução das compras da China, e a queda de exportações, principalmente da indústria automotiva para a Argentina.
Dito de outra maneira, foram os produtos exportados e a queda de preços deles que constituem a explicação principal para o resultado, apenas servindo para confirmar a explicação questionada por vários economistas e analistas econômicos da oposição, para a queda do crescimento do PIB, do ímpeto e agora, das exportações brasileiras: a crise internacional.
Passadas as eleições, ao menos em seu segundo turno, parcela da midia impressa começa, agora, a reconhecer que a sobra de produtos em todo mundo, mercê de uma menor demanda; a deflação experimentada em outros países, pela mesma menor demanda; o aumento da oferta de produtos exportados do Brasil, nos anos recentes, além de  questões como a inflação que o país atravessa e o câmbio, que estimula ainda maior importação, são fatores que explicam a deterioração flagrante do saldo comercial.
Como consequência, afetam diretamente e tornam mais grave o resultado já negativo das contas de transações correntes.
Isso em um momento em que o excesso de capital tende a se reduzir, dificultando o financiamento de nossa conta corrente, principalmente se os Estados Unidos começarem a adotar política de elevação dos juros, dada a recuperação, embora lenta de sua economia.
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Mas, a leitura da situação e as explicações da presidenta nos debates, embora sujeita a críticas e não a isentando nem ao seu governo de responsabilidades na condução da política econômica e em seus tropeços, não estava de todo errada ao atribuir à situação internacional parcela da responsabilidade.
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Na contra-mão do resultado anunciado, o setor responsável pela exportação de carnes comemora o crescimento da venda de carnes, que registraram alta de volume e preços.
Desse volume de carnes exportado, cuja liderança é da carne de frango, o principal crescimento advém da carne bovina, o que se é bastante positivo do ponto de vista do setor externo, é uma notícia ruim para os consumidores nacionais.
Especialmente, a notícia do aumento do valor médio da tonelada da carne de boi, o que significa que vai ficar mais caro o churrasco nosso de cada fim de semana e o preço das refeições.
O que põe mais lenha na fogueira da inflação no país.


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Punição "duela a quien duela"

Não me  refiro ao pedido de afastamento do cargo do presidente da Transpetro, cujo nome foi envolvido no caso da delação premiada do escândalo da Petrobrás.
Nem da necessária medida da Polícia Federal, disposta a investigar os comentários que circularam nas redes sociais com comentários preconceituosos contra os nordestinos.
Tampouco, essa nota vai tratar dos que, em meio aos protestos organizados pela oposição para tentar virar o resultado do jogo eleitoral, no famoso terceiro turno, foram às ruas mostrar a verdadeira face dessa oposição e de sua origem autoritária, pedindo a volta da intervenção militar.
Trato do Galo e da punição a Jô, André e a Emerson Conceição, afastados sumariamente do elenco do clube e, provavelmente com os contratos rescindidos.
A justificativa da diretoria de futebol é a prática de atos de indisciplina gravíssima, no hotel em que o time estava hospedado em Curitiba (mulheres e orgia nos quartos?), capaz de levar á adoção da medida justo na semana em que o time tem pela frente um desafio de maior importância.
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No país em que todos se queixam da impunidade, o Atlético dá uma lição ao punir e comunicar a punição independente de que tipo de impacto tal medida possa surtir no elenco.
Junto à torcida, seguramente, a receptividade será muito boa, por força das péssimas atuações de Jô e do fato do atleta estar já abusando da paciência do torcedor, tantos atos de indisciplina vem cometendo. Quanto a André, cuja contratação nunca se justificou, com o atleta nunca conseguindo manter um ritmo regular de jogo, também não será sentida sua ausência pela torcida, exceto pelos que trabalham na noite.
Já Emerson Conceição, esse é melhor nem falar, tamanha a mediocridade de seu futebol, o que revela, por outro lado, a falha grotesca dos responsáveis por sua contratação.
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A lamentar, apenas, a oportunidade perdida de negociar Jô, ainda antes da Copa, quando alguns rumores davam conta de times alemães interessados em seu passe.
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E cai a máscara dos tucanos de oposição: saudades da época da ditadura

Pior é que a grande maioria dos que foram às ruas expressar-se a favor do golpe contra a democracia e o resultado soberano das urnas,  nem idade tinha para estar em meio a pessoas que nunca deixaram de manifestar seu preconceito e sua veia autoritária, já que incapazes de viverem sem serem tutelados.
E, justiça seja feita, embora se aproveitando da inexperiência e ingenuidade dos mais jovens, essa parte podre dos manifestantes que foram às ruas não representa nem mesmo o PSDB, onde despontam figuras como José Serra, Aloysio Nunes, Fernando Henrique Cardoso, e até mesmo o neto de Tancredo Neves, nomes de pessoas que lutaram ou foram artífices do fim do período de obscurantismo representado pela ditadura militar.
Que esses golpistas sejam identificados e que possam ser afastados do convívio de todos que sonham em construir uma sociedade democrática e livre.


Como cai a do ministro do Supremo

Comentar as opiniões de Gilmar Mendes ou repercutir seus comentários é um dos maiores desserviços que a midia pode trazer para nossa sociedade.
A título de fazer campanha pró PEC da bengala (que aumenta a idade limite do magistrado se aposentar de 70 para 75 anos), agride seus colegas do Supremo, alegando a possibilidade de que aquela Corte maior venha a se tornar bolivariana.
Agride ao Supremo e a seus colegas, ao Executivo, responsável pela nomeação de pessoas de reconhecida e ilibada reputação jurídica, ao Legislativo, que sabatina e aprova o nome do indicado para o cargo pelo Executivo.
Alegando que o Supremo pode se transformar em braço político do Executivo, mostra apenas o que ele é, de fato: o político na Corte. Caso de comprovação pelo próprio de que, nem sempre as características de reputação ilibada e conhecimento jurídico foram as principais razões da escolha de um membro da Corte.
No caso de Mendes, cada vez mais fica claro que sua indicação foi tão somente a de um partidário a quem o presidente da ocasião resolveu premiar por relevantes serviços - não necessariamente jurídicos, prestados.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Novo vexame do Galo e as agruras da Economia brasileira

Quando eu era pequeno as televisões, especialmente o canal 4, TV Itacolomi, transmitiam aos domingos os jogos de futebol do campeonato mineiro, então o único torneio importante de que participavam os times mineiros, Atlético, América e Cruzeiro.
Havia a Taça Brasil, de que o Cruzeiro foi campeão em 1966, mudando para sempre a forma que os times mineiros e gaúchos passaram a ser considerados, mas a Taça Brasil era um torneio de que participava apenas o campeão estadual. 
E o Galo, que foi bicampeão em 62/63, sempre acabava derrotado, e naquela época, lembro do temor que era enfrentar o Náutico de Pernambuco.
***
Pois bem, digo isso a propósito da primeira vez, no ano de 1962, que tive paciência de ficar em frente à televisão para ver uma partida. Talvez por ser um ano de Copa do Mundo. Talvez por que o futebol acabou entrando de vez na minha vida, com a conquista do Brasil em terras do Chile. 
O jogo transmitido era Atlético e Pedro Leopoldo e o Atlético, de camisa alvinegra perdeu de 3 a 1. Mas conquistou ali, naquele dia, meu coração para sempre. E tornei-me mais um sofredor inveterado.
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Tudo isso me veio à mente durante a transmissão do jogo de ontem, em que, jogando com um uniforme que representa muito pouco da mística do time e que não diz nada à maioria da torcida; em um horário que não tem também nenhum encanto, criado e imposto para atender à programação de uma rede de televisão e não ao espetáculo; o Atlético entrou em campo com uma formação que prefere punir aos que estão jogando relativamente bem, apenas por ter cobrado mais raça dos companheiros, acarretando com essa decisão uma punição para toda sua apaixonada torcida.
***
Resultado: com menos de 45 segundos de jogo, sem que tivesse tempo de se posicionar em campo, o Atlético viu o seu xará do Paraná ir ao ataque, a bola ser jogada na área e interceptada mal por Edcarlos, sobrar para o capitão do adversário e perigoso Marcelo, que cruzou novamente para o miolo da área, onde novamente foi rebatida de qualquer jeito, para cair no pé do jogador contrário. E daí, o chute em direção ao gol, o desvio na perna de Edcarlos enganando a Giovanni e a bola indo morrer mansamente no fundo do gol.
***
O problema é que a partir daí, a partida viu o Atlético Mineiro crescer, tocar bola, ganhar o meio campo, levar um ou outro susto nos rápidos contra-ataques do clube paranaense, mas indiferente de ser o primeiro ou segundo tempo, foi só.
Objetividade zero. Gana e vontade de vencer, zero. Carlos a sensação, zero. Mais caído no chão que jogando em pé e levando perigo ao gol do adversário. O meio campo, sem qualquer inspiração. Edcarlos errando muito e transmitindo insegurança.
Para não me alongar muito: salvaram-se o goleiro, Leo Silva em seu retorno, Luan, sempre guerreiro. E Tardelli, jogando sozinho e sem ter com quem tramar qualquer jogada de perigo. Até se cansar. 
Além do lateral esquerdo, Douglas, sempre cumprindo seu papel, especialmente nas descidas ao ataque.
Tão pouco para um time que visa o G4 e que tenta superar-se mais uma vez na quarta em jogo de Copa do Brasil, que em dado momento comentei com minha mulher. Se não entendesse nada de futebol, como nos idos de 62 e visse esse time de branco, apagado, sem emoção e sem garra, jogando e perdendo, nunca iria me tornar o atleticano que me tornei.
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Detalhe imprescindível de ser dito: os jogadores que entraram no segundo tempo tampouco mostraram alguma coisa, Especialmente Marion, que entrou no lugar de Josué, mostrando que as promessas vindas da base, são ainda apenas promessas. E que Marcos Rocha estava certo em dizer que ainda sentem o peso da responsabilidade.
***
Que venham a quarta feira e o Flamengo e a mística de que o Galo é o time da virada e o Galo é o time do amor. E o mantra "Eu acredito" possa, mais uma vez, dar ao time a força e disposição  que ele não tem sabido demonstrar em campo.
Pelo menos não ontem.


***

As agruras da Economia

Dizem que de poeta, médico e louco, todos têm um pouco. 
Depois descobriram que nós brasileiros somos mais de 200 milhões de técnicos de futebol. 
Agora descubro, talvez tardiamente, que somos todos economistas.
E, enquanto alguns (derrotados nas urnas) reclamam das medidas que Dilma começou a adotar, apenas porque ela disse que não as adotaria.
A esse respeito, uma consideração: parece que esses críticos, derrotados, votaram não em ideias que consideravam corretas e necessárias, mas em pessoas. Porque, com Dilma vitoriosa e reeleita, ao começar a adotar aquilo que achavam que fosse necessário ser feito em nosso país, e o melhor, passam a criticar a presidenta, e até tais medidas. Ora, parece-me que gostariam então apenas de ver o circo pegar fogo!!!
***
Está bem! Dilma está reproduzindo então o mesmo estelionato que muitos acusaram Lula de fazer em 2003 quando assumiu a presidência adotando um conjunto de medidas que todos classificavam como a continuidade da política conservadora de FHC.
É verdade e Lula adotou a política conservadora e o país melhorou os seus números, que estavam tão deteriorados ao final do governo tucano.
Agora é Dilma que está traindo seus eleitores. Pelo menos é o que parece. Mas então, os seus críticos deveriam estar era comemorando por estarem vitoriosos, mesmo que alijados do poder.
***
Mas, daí a escutar as análises de jornalistas como Acir Antão, feitas hoje na Rádio Itatiaia, em seu programa matinal é uma coisa de doido. Não porque os problemas identificados por ele estejam incorretos. 
Como ele disse, ao iniciar o tema, andou lendo vários jornais e revistas nesse fim de semana e, claro, há uma unanimidade em relação aos problemas que o país está atravessando, divergindo as opiniões apenas em relação ao grau de importância de cada um deles.
Temos então a questão da inflação, dos preços que foram contidos, especialmente na energia e que terão de ser liberados, o problema de um déficit primário que renasce tal qual uma fênix e causa desconforto muito grande. 
Daí a necessidade de medidas como a elevação de alíquotas dos impostos que foram utilizados para que o governo pudesse, sem êxito, tentar estimular o consumo principalmente de bens duráveis, automóveis à frente. A volta da cobrança da CIDE, que incide sobre combustíveis, e que Acir Antão criticou.
Mas interessante é ouvir os argumentos. Para ele, tudo que o governo andou fazendo, teve como motivação a reeleição, mesmo aquelas medidas que, como se sabe, estão vigorando desde 2012, como aposta do governo, volto a insistir, sem êxito, para estimular a demanda agregada e tirar a economia do marasmo.
Para uma pessoa que tem um espaço na midia e que pode fazer comentários que irão forjar a cabeça e opinião de muitos ouvintes, o que é muito perigoso, todo o descalabro das contas públicas tem a ver com o número de funcionários empregados - "empreguismo" e com os muitos e inúteis ministérios, gastadores. Tudo para acomodar pessoas amigas. 
Ora, os gastos mais elevados no ano de 2014 têm como explicação gastos maiores em educação, por exemplo, programas de bolsas, o que todos os analistas reconhecem. Tudo bem que gastos com pessoal são importantes, porque não podem ser comprimidos, mas daí a culpar tais gastos como fez o radialista.
***
Pior é que o radialista comenta que a questão dos combustíveis e dos impostos para a indústria automobilística é que é a responsável por tanto automóvel congestionando nossas ruas, passando a ideia de que, quando as classes populares tiveram acesso ao carro, e por força das medidas populistas de Dilma a paz que reinava nos núcleos urbanos foi embora. 
Não o disse, mas é como se culpasse o pobre de ter melhorado de vida e vir estragar a vida antes tranquila e idílica dos ricos.
***
Valho-me de Delfim, para quem os maiores problemas são de ordem fiscal e de ordem estrutural da economia e do câmbio. 
Diz o ministro da Fazenda da época da ditadura que o governo destruiu a indústria e tem de reconstruí-la. E se isso não for feito, estarão ameaçados o crescimento econômico e a inclusão social até aqui conquistada.
E afirma textualmente: " Na minha opinião, um problema sério prejudicou Aécio. Ele foi apoiado por um grande número de pessoas com preconceito gigantesco. É o sujeito que diz: " Eu me fiz por conta própria, eu trabalhei, estudei. Não fui como esses vagabundos". O que é um equívoco fundamental. "
E conclui afirmando que os programas de assistência são encarados por tais pessoas, como se fosse algo contra eles.
***
Também muito boa a opinião de José Roberto Mendonça de Barros, em entrevista na Folha. 
Embora crítica, lúcida. Bem diferente da coluna de Samuel Pessôa, cuja coluna é bem mais uma manifestação de vontade pessoal de cunho político, o "wishful thinking", que uma análise séria. 
E bem diferente dos comentários de Acir Antão, que parece bem mais com o choro de quem viu seu candidato derrotado nas ruas e agora culpa a tudo e todos, mesmo sem saber o que, ou porque.


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A respeito de porcos e do voto nordestino

Confesso que embora às vezes eu tivesse vontade de publicar textos de outros autores em meu blog, sempre evitei tal prática.
Poder-se-ia alegar que é por mero despeito ou medo. Seja de descobrir que meu texto é muito inferior, seja para evitar que todos que me honram lendo meu blog, começassem a pedir que eu deixasse esse espaço de minha manifestação para quem se manifeste de forma melhor.
Por esse motivo, quando encontro um texto ou opinião, ou artigo que me faz querer compartilhá-lo, costumo transcrever apenas partes, não o todo. Claro que sempre faço a referência para que aqueles que o desejarem possam ter acesso a todo o conteúdo.
***
Mas não é o que ocorre dessa feita. Primeiro por que muito me incomodou uma série de postagens, com curtidas e comentários elogiosos, que vi no facebook, logo depois de proclamado o resultado eleitoral, com a vitória de Dilma. Tratava-se de uma frase, reproduzida à exaustão, que falava dos porcos, e de como eles babam com a mão que os alimenta, mesmo que, à la Augusto dos Anjos, seja também a mão que os apedreja (ou mata).
***
O pior de tal frase, acho, era estar sempre nas redes associada a outros comentários que demonizavam o povo nordestino, por terem dado a maioria esmagadora de seus votos, à reeleição da presidenta e o PT com seus programas assistencialistas.
***
Pois bem, Fernando Simões, colega do Banco e grande amigo é nordestino. Baiano. E também ficou deverasmente incomodado com tais comentários e apoios.
E mandou-me um texto para que, caso eu gostasse o publicasse em meu blog.
Correndo o risco de depois ser cobrado de deixar só o Fernando escrevendo nesse espaço, eis o texto. Com que concordo em gênero, número e grau. Em sua beleza e poesia.
Que todos possam apreciá-lo.
***

Não consegui trazer para publicar uma tabela que encimava o texto, mostrando os votos tanto de FHC quanto de Lula, nos anos de 1994, por estado nordestino, cuja fonte é o TSE.

Sobre porcos, pérolas e nordestinos
(O escrevinhamento de um Nordestino-pertencente a um Nordestino-envergonhado)

Em 1994, Fernando Henrique Cardoso venceu Lula no Nordeste na eleição para presidente pelo placar de 58,67% a 28,18% (67,55% dos votos válidos) e depois, em 1998, por 48,19% a 29,95% (61,67% dos votos válidos). Antes, Collor havia derrotado Lula, em 1989, com significativo apoio do Nordeste. Nas três ocasiões votei em Lula, portanto, estive do lado dos derrotados (como dizemos lá na terrinha: “peguei no cabo da raposa”).
O Nordeste foi protagonista nas quatro vitórias presidenciais do PT (2002, 2006, 2010 e 2014). Assim como, a região fora determinante nas vitórias de Getúlio Vargas (1950) e Juscelino Kubitschek (1956). Nasci em abril de 1963, mas a história nos conta sobre a relevância dos governos de Vargas e JK. Votei no PT quando o partido elegeu seus representantes. Assim, nas derradeiras eleições, meu lado venceu (“soltei o cabo da raposa”).
Naturalmente, estou satisfeito com os últimos resultados das eleições presidenciais e me aborreceram as derrotas que o nordeste impingiu ao meu candidato. Além dessas derrotas, também me aporrinharam as adesões de Gonzagão à ditadura militar e de Jorge Amado à ACM. Também as críticas ácidas (e no meu entender, injustas) de João Ubaldo a Dilma contrariaram as minhas expectativas em relação ao posicionamento político do meu escritor baiano mais querido. (Poderia passar um dia inteiro relatando dessabores semelhantes, mas creio que esses já sejam suficientes ao meu intuito). Todavia, em nenhum momento passou por mim a ideia de desqualificar o povo nordestino ou de diminuir (um punhado que fosse) os talentos do “Rei do Baião”, do Amado Jorge (outrora comunista), do criador da obra prima “Viva o povo brasileiro” ou de qualquer outro adorável nordestino que tenha assumido posição que me tenha desgostado.
O fato de alguém nascer em um lugar (ou mesmo crescer nesse lugar) não significa que esse alguém pertença a esse lugar. O local de nascimento é uma ocorrência independente da vontade ou da ação do indivíduo, obviamente. A nacionalidade ou naturalidade é o resultado da loteria geográfica. O pertencimento, ao contrário, é fruto de um processo contínuo de percepção crítica, identificação e comprometimento. É, portando, uma construção autónoma, própria do livre arbítrio. Ninguém escolhe onde nascer, mas pode decidir (mesmo que intuitivamente) a que “lugar” pertencer.
A percepção crítica nos dá a capacidade de recolher, ao longo do nosso existir, as pérolas que nos encantam (acontecimentos, testemunhos, tradições, valores éticos, metafísicos e estéticos etc.) e guardá-las no nosso alforje cultural. A coleção dessas pérolas é a identidade cultural de um indivíduo. A cultura de um povo é conjunto das pérolas mais comuns nos alforjes dos indivíduos que o compõem. E o comprometimento é defesa dessa riqueza, acumulada em forma de pérolas. Portanto, um indivíduo faz parte de um dado grupo se, além das pérolas que lhe são mais caras, ele é também guardião das pérolas mais comuns. Se um indivíduo desconhece essas pérolas comuns não há como defendê-las, assim com, se perceber parte do todo. E não se consubstancia o pertencimento. O pertencimento, portanto, não se antagoniza com a individualidade, já que não há dois alforjes idênticos, senão, faz parte dela.
Todos os indivíduos são capazes, em alguma dimensão, de produzir pérolas. Assim, a convivência, a observação, a comunicação e, sobretudo, a solidariedade e a empatia enriquecem a todos, fazendo aumentar a oferta no mercado de pérolas, que tem como moedas tão somente o tempo e o querer. E é por isso que há uma relação direta entre proximidade espacial e semelhança de alforjes, fazendo surgir a cultura local, que é dinâmica, se transformando a cada novo conhecimento endógeno ou importado. “O povo sabe o que quer, mas também quer o que não sabe” (Gilberto Gil). Assim, o aumento do saber é também o aumento do querer e do buscar.
Quando um brasileiro desdenha, desqualifica ou ofende o POVO NORDESTINO pelo simples fato de ele ter majoritariamente feito uma opção (a partir da sua realidade) que difere da escolha de uma elite econômica (egoísta e perversa) – e que dessa forma explicita o desejo de estabelecer uma aristocracia de fato em um ambiente de democracia de direito –, intuo que, além da incapacidade da empatia, a ignorância lhe serve como um poderoso entorpecente: fazendo com que um tolo preconceituoso (incapaz de superar a mixórdia/indolência cognitiva) se perceba sábio quando na verdade é só um idiota instruído (quando muito).
Quando um nativo do nordeste expõe publicamente sua “vergonha” também pelo fato de os seus conterrâneos (de direito) não adotarem suas certezas encasteladas – chegando ao ponto de nos comparar a porcos famintos, adoradores dos nossos (supostos) algozes, por também serem eles quem nos alimentam –, constato que esse o Nordestino-envergonhado, além de ter sido acometido pelos dos males da ignorância e do egoísmo já expostos, é absolutamente desprovido do sentimento de pertencimento ao Nordeste. Seu alforje não contém nossas pérolas comuns. Senão como explicar a absoluta falta de solidariedade, empatia e respeito aos seus irmãos. Como explicar o carecimento de espírito democrático para aceitar a vontade da maioria dos que deveriam ser seus pares. E ainda, como explicar a ausência no irmão da altivez inerente ao POVO NORDESTINO.
Assim, irmão Nordestino-envergonhado, eu, um Nordestino-pertencente, lhe trago uma boa nova: não há mais porque se envergonhar! Você até pode ter nascido no Nordeste, por obra e graça (ou desgraça, a depender do observador) da loteria geográfica, mas, definitivamente, o irmão não pertence ao Nordeste. Pois, “só é [nordestino] quem trás no peito o cheiro e a cor da sua terra, a marca de sangue dos seus mortos e a certeza de luta dos seus vivos”[i] (Vital Farias).
E, assim sendo, o irmão está alijado do sentimento da vergonha. E, por conseguinte, o irmão está livre e habilitado para galgar um pertencimento mais “nobre”. E “Que Deus te guie porque eu não posso guiar” ou “Que [Joaquim Nabuco o] resgate”[ii] (Caetano Veloso). Só não ofereça as nossas pérolas aos porcos reacionários e racistas, tão corriqueiros ultimamente nas mídias sociais, pois elas são o tesouro dos Nordestinos-pertencentes.
Axé a todos e Inté intão (Uai sô, tô vivendo em Belzonte e já ajuntei um cadin de pérolas de cá, mas meu alforje é grande e não precisei e nem vou precisar me desfazer das antigas)!




[i] Texto original: “Só é cantador...”.

[ii] Texto original: “Que Chico Buarque de Holanda nos resgate”.