quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A vergonha de um Congresso omisso e preocupado apenas em obter vantagens de um governo cada vez mais fraco.

Mais uma sessão de cartas marcadas em nossa Câmara dos Deputados, mais uma sessão que envergonha o nosso país e depõe contra nossa democracia e nossa tosca classe política, acontecida na tarde/noite de ontem, assegurou a manutenção dos privilégios e da impunidade dos poderosos, ou melhor, dos ocupantes de cargos públicos de nosso país, além da permanência dessa nefasta e patética figura do golpista temer, à frente de nosso Executivo.
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Por não ter alcançado o total de 342 votos que define o quorum qualificado necessário para autorizar ao Supremo dar andamento ao processo de investigação dos fatos, em tese considerados criminosos, de que participou o ocupante do cargo de presidente da República em exercício, conforme  denúncia encaminhada pelo Procuradoria Geral  à Corte Suprema, o pedido é enviado ao arquivo e as investigações ficam paralisadas até que temer deixe o mandato que está ocupando de forma ilegítima.
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Ou seja, e é sempre bom destacar essa questão: não se trata de afirmar a inocência de temer, mas tão somente de dar mais tempo e espaço para que ele e a quadrilha que ele comanda e que está no poder, possam continuar a agir impunemente, em prejuízo de todo o país e de toda a sociedade, excetuados alguns poucos grupos de interesses econômicos que se beneficiam de suas medidas e da fraqueza que a ilegitimidade do cargo lhe confere.
Tanto que não se anula a denúncia de crime de autoria da Procuradoria Geral. O crime ou os indícios de seu cometimento permanecem, apenas que se paralisam as investigações para depois do mandato.
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O que mostra o escárnio com que a nossa sociedade é tratada por parte dos cidadãos que foram eleitos e, dela receberam um mandato para representá-la. Porque alguns desses representantes da vontade popular, ontem, assim como por ocasião da primeira denúncia também não acatada, deixaram muito claro que votavam não por acreditar na ausência de culpa de temer, ou por desejarem sua impunidade, mas para que o governo continuasse podendo cumprir seu papel, considerado positivo em especial para a economia do país, deixando para que temer fosse investigado e pudesse provar sua alegada inocência em outra ocasião.
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Pensamento que deve ser interpretado da seguinte forma, em minha opinião: sei que há o que se investigar, e sei até que temer pode sim, ter culpa formada naquilo em que ele é acusado. Mas, deixemos ele continuar no poder, adiando o momento de sua punição. Por trás desse pensamento, o reconhecimento de que, enfraquecido por continuar sob suspeição, o presidente terá, cada vez mais que barganhar por apoio a qualquer dos projetos que queira fazer passar na Casa representativa do povo.
E em cada barganha, não apenas os interesses particulares de cada representante tornam-se mais valiosos, e mais caros, como também os projetos passam a ser uma minoria, cada vez mais enxutos e cada vez mais centrados nos interesses dos que detêm efetivamente o poder em nosso país tão desigual.
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E ainda teve deputado que enunciou seu voto a favor das conquistas econômicas que o país vem obtendo, como o controle da inflação, que nada mais é que a outra face da profunda recessão a que o país foi lançado, com o aumento espetacular do desemprego formal, desde que Dilma sofreu o processo de impeachment.
Ou a queda de juros possibilitada pela queda da inflação, de vez que, apenas a queda da taxa de juros nada assegura em termos de impulso a um processo de retomada econômica. Afinal, por mais que o dinheiro esteja ficando mais barato, o que em tese facilitaria a retomada do processo de investimento necessário para dar sustentabilidade a um processo de recuperação e crescimento econômico, o processo de investimento depende menos do custo do dinheiro, que da criação de um ambiente de confiança capaz de levar o empresário a sentir que pode aumentar a capacidade produtiva de seu negócio, por força de ampliação da demanda.
Pois bem, independente da queda da taxa de juros, é sempre importante considerar a existência de capacidade ociosa em vários setores, o que mostra que ainda não houve - e dificilmente será atingida em curto prazo, um acréscimo de demanda capaz de fazer retomar os níveis de utilização verificados no passado, e mais ainda de estimular o empresariado a elevar suas capacidades.
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Alguns vão se referir à elevação do emprego formal, em número ainda insuficiente para ser minimamente representativo de uma recuperação no mercado de trabalho. Outros irão destacar a elevação de vendas e de produção física de alguns setores, como por exemplo, o comportamento da indústria automobilística, que vem sendo percebido.
Ora, não é demais lembrar que a recuperação de setores como a automobilística tem menos a ver com a recuperação do mercado interno e mais a ver com a expansão das exportações, na esteira de um certo nível de recuperação da economia mundial e de crescimento de outros países.
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Além disso, é sempre bom lembrar uma lição que parece esquecida, nesses dias de hoje, em que as imagens como elas se mostram têm mais validade e importância do que o dos fatos de realidade que elas demonstram. Dito de outra forma, já que estamos em  um processo de marketing pesado na tentativa de mostrar, custe o que custar, estar acontecendo um processo de recuperação positivo da economia,  a midia irá dar pouca atenção àqueles que alertarem para uma verdade clara e cristalina: mesmo em meio a um comportamento geral de crise econômica, de caráter geral, sempre alguns setores estarão apresentando resultados positivos. Ou seja, a crise econômica se manifesta quando a maioria dos setores de atividade está em retração, aqui considerado como maioria não necessariamente o número simples e absoluto de setores em queda, mas considerado o comportamento daqueles setores que apresentem  maior  participação relativa no conjunto da atividade produtiva do país.
Já de longa data, Bleaney mostrava que na própria crise da grande depressão de 1929, em seus primórdios, alguns setores apresentavam tendênciais de crescimento, apesar de toda a crise instalada.
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Isso significa que, mesmo que a recuperação da economia brasileira esteja acontecendo, ela se dá, na maioria dos casos, sem a influência das medidas de corte de gastos e de medidas de ajuste do governo temer.
Atribuir ao governo tal desempenho é não levar em conta que o governo é pessimamente avaliado pela população e não somente pelas acusações que são lançadas contra ele, de corrupção, mas pelo retorno de milhares, milhões de pessoas a níveis de renda abaixo da linha de sobrevivência digna. Do aumento das condições de pobreza e da cada vez mais veloz deterioração das condições de saúde, educação, segurança, justo os setores que o governo e sua bancada de apoio alegam que caracterizam o que deve ser o núcleo da preocupação do Estado mínimo e eficiente com que sonham.
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Se esse Estado mínimo idealizado é o que desmonta a Ciência e a pesquisa e a tecnologia de nosso país; se é a que fecha e propõe o fechamento das universidades públicas, se é quem propõe alterações nos planos de saúde complementar em detrimento dos beneficiários e associados, para contemplar interesses e lucratividade dos donos desses planos e de hospitais privados, relegando o Sistema Único de Saúde a total descrença. Se esse Estado mínimo é o que alimenta interesses de entidades de defesas dos interesses ruralistas, que congregam do desmatamento à aceitação de trabalho escravo; e que para resolver o problema de segurança prefere tratar da questão do término da lei do desarmamento, então, nem mesmo o mínimo do Estado mínimo pode mais ser levado a sério.
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Mas, sempre irá haver espaço para o discurso, e para que os incautos sejam tomados pela imagem de que menos governo é melhor para todos, o que é uma tremenda balela.
O que é melhor para toda a sociedade não é menos governo, mas mais eficiência do governo, tenha ele o tamanho que venha a ser identificado como necessário.
O que deveríamos lutar é por um governo melhor, de maiores e melhores resultados, e mais eficiência. Não por um governo mais ou menos inchado.
Mas, lembrando sempre que um governo que abdica da defesa dos interesses da maioria da população necessitada, para privilegiar os interesses de uma minoria, que é a interessada em poder explorar as atividades que o governo se omitir de providenciar não é apenas de Estado mínimo. Ao contrário, é a negação mesmo de qualquer governo e de qualquer sociedade de harmonia e convívio.
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Bem, temer foi beneficiado e agora já promete voltar a investir contra os interesses da maioria da população, retomando a agenda de reformas que a mídia incentiva e que, por esse motivo mesmo, não dá espaço para que a sociedade faça um debate daquilo que é de fato o que deveria se tornar um projeto inclusivo de desenvolvimento social.
Por isso aliás, não é demais lembrar, a grande imprensa não se interessa em organizar e divulgar o debate amplo: afinal, os beneficiários maiores das reformas são justamente os que, com seus anúncios sustentam os órgãos mesmo de imprensa. Como são os que sustentam o emprego de jornalistas que fazem sempre a apologia das medidas sem analisá-las e apenas por estarem reportando o que ouviram de suas fontes, em geral, ligadas a interesses econômicos de privilegiados.
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Daí a possibilidade de novos planos de perdão a pagamentos de multas em atraso com o Fisco, ou as vantagens concedidas a todos aqueles que, em dado momento, desviaram recursos e suas riquezas para o exterior - em geral, dinheiros de origem suja, mas lavados agora no processo de repatriação aprovado pelo governo.
Ou a discussão que se retoma de uma reforma tributária para simplificar a cobrança de tributos - nada contra, a necessidade de se simplificar o sistema de arrecadação é óbvia! - mas o problema é que não irá se fazer uma reforma para fazer os que devem e podem pagar, serem os que irão ser mais onerados. Aqui, a reforma tributária irá, provavelmente, continuar onerando o que menos pode e tem para pagar.
Mas retorna à agenda a eliminação dos gastos de previdência, para que o dinheiro arrecadado no sistema da seguridade social previsto na Constituição possa continuar alimentando outros tipos de gastos como os decorrentes da totalidade de recursos que temer teve de gastar para poder continuar no poder. Isso, em um governo cuja primeira meta era o de reduzir os gastos públicos, para promover um ajuste fiscal necessário e fictício.
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Nada como um dia após o outro, e o que o Congresso votou ontem, foi para a continuidade dos privilégios, não de temer, pobre coitado, mas de toda uma classe de privilegiados que irão poder continuar explorando trabalho escravo, ou ampliando seus lucros, às custas de uma redução dos custos do trabalho, ou da mão de obra, vítima de uma reforma trabalhista que elimina seus direitos mais duramente conquistados.
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Mas não ouvi sequer uma panela, um apitaço, uma manifestação popular nos bairros de classe média de nossa cidade. E não ouvi porque parece que ficou convencionado que crime que não pode ser tolerado é praticar pedalada fiscal. Todo o mais pode.
Desde traficar pó em helicóptero, a correr com malas de dinheiros pelas ruas da cidade; desde ameaçar matar àquele que vier a se tornar delator, a manter um cofre forte, de 51 milhões de reais em um apartamento forte. Desde mandar manter isso aí, até comprar despudoradamente o apoio da bancada de deputados que não revela um esquema de compra de apoio ou de mensalão, apenas porque não foram feitos por partidários de um partido que vende a imagem de ser mais favorável à defesa dos interesses dos trabalhadores. O que na verdade é outra mentira, já que o  PT foi mais defensor dos interesses de banqueiros e grandes empresários.
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Mas vivemos em uma sociedade cada vez mais fake. E isso é que parece contar.
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Econômicas

Para não deixar de mencionar, o COPOM reduziu mais uma vez a taxa de juros básica de nossa economia, para 7,5%. Ainda elevada para uma inflação que, mesmo com riscos de elevação, chega a um máximo de 3%, conforme as previsões.
Isso significa taxa real de juros ainda elevada, de 4,5%. O que é muito alto, para os padrões do mundo civilizado.
E não assegura qualquer retomada de investimentos, enquanto não houver a convicção de que a demanda agregada dá sinais de recuperação sustentada, o que não é o caso.
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Inclusive se, em função de problemas hídricos, a energia continuar se elevando de preço, e alimentos de estação sofrerem frustração de safras, o que poderá fazer subir o preço dos produtos integrantes da cesta básica, invertendo o comportamento recentemente observado de algum aumento do consumo, por força da queda de preços dos alimentos.
Ora, como a queda do preço dos alimentos até aqui observada permitiu deslocar gastos para outro tipo de compras de consumo, a elevação agora corre o risco de conter a elevação do consumo das famílias, fator que vinha explicando a elevação do PIB nos últimos trimestres.
Isso significa que pode estar sendo abortado o movimento de início da recuperação, em momento em que não há mais coelhos a se tirar da cartola, como a liberação de contas inativas do FGTS ou antecipação da liberação de PIS/PASEP.
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Mas, ninguém trata de destacar essas hipóteses de evolução da nossa economia. Afinal, essa notícia não deve ser repercutida, para não romper a imagem de governo eficiente na esfera econômica que foi duramente construído até aqui.
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Enquanto isso, as privatizações avançam em ritmo acelerado, com a entrega, sem a discussão necessária do patrimônio público a grupos de capitais particulares, agora  e cada vez mais, de capitais internacionais, que se beneficiam, de quebra, de uma possível perda de nossa soberania.
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É isso.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Voltei, como Aécio...

Constrangido. Calado. Vencedor como Pirro. No fundo, derrotado.
Assim como Aécio deverá voltar à seu mandato no Senado, voltei para dar alguns pitacos. Confesso que desanimado. Derrotado, afinal, é uma expressão forte.
Mas, o que comentar de toda a situação que estamos vivendo em nosso país, e contra a qual nada fazemos, dominados por essa sensação de total incapacidade e torpor.
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Convenhamos que não é fácil, em absoluto, viver em um país onde senadores sobem à tribuna para pregar um voto que, antes de ter o viés corporativista, seja capaz de devolver ao Supremo a dignidade que a Corte Suprema se deu ao luxo de jogar no lixo.
Nem diria que perdeu. No fundo foi isso. Jogou no lixo.
E alguns senadores fizeram discursos para mostrar que, para o bem da democracia, o Senado deveria resgatar o prestígio do Supremo, e sua independência, então dispensada.
O que é óbvio: a democracia, o Estado de Direito necessita de que os poderes, mesmo atuando de forma harmônica, sejam independentes, e que as decisões de um dos Poderes, sejam respeitadas pelos demais, na esfera de sua competência.
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Nunca é demais lembrar que a competência dos poderes está prevista e descrita na Constituição, e que se ao Executivo compete governar, agir, cumprir as leis; ao Legislativo compete legislar, criar leis. E ao Supremo, em especial cabe o papel de intérprete exclusivo da Constituição, e o papel último do cumprimento de todo o conjunto de leis daí subordinadas.
Mesmo que o Supremo não queira ou não possa, ou não tenha interesse, ou capacidade, ou seja lá o que se queira dizer, para que sua interpretação prevaleça e seja cumprida.
Afinal, já na antiga Roma se pregava que Dura Lex Sed Lex. E, se fica bem ou não para a Suprema Corte a decisão de cumprimento de alguma lei, ou se ainda a interpretação agrada ou não a alguém ou algum outro Poder, pouco importa.
É a competência exclusiva do Supremo e abrir mão de tal papel deveria dar, em um outro país, que fosse sério, margem a que se denunciasse os membros da Corte pela prática do crime de prevaricação.
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Mas, se tinha senador defendendo as prerrogativas do Supremo, é importante lembrar que outros não apenas continuavam em seus ataques à Corte, alegando que a decisão de afastamento de um companheiro seria um desrespeito à autonomia do Congresso, mas ainda encontraram tempo para criticar colegas seus, tão senadores quanto eles, por terem recorrido ao Supremo em questão tão corriqueira como a da decisão de como se daria a votação que decidiria o futuro de aecim.
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Foi o caso do senador de longa folha corrida, Jáder Barbalho, criticando ao senador Randolfe Rodrigues por ter ido se queixar ao STF, em razão de as regras da votação que traria de volta o senador tucano afastado, estar propondo votação secreta, de forma a salvar, se ainda possível, a imagem dos senadores participantes do jogo envergonhado, de cartas marcadas para livrar senadores na atual circunstância, mas principalmente em outras, futuras.
Diga-se apenas para registro que a proposta de votação secreta , sendo tão flagrantemente contrária ao que reza a legislação e o próprio regimento da Casa, impediu o próprio Alexandre de Moraes de, mais uma vez mostrar sua lealdade a tudo de mais escuso que existe em nosso país.
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Ao final, a votação foi aberta, mas escancaradamente influenciada pelo fato de que os senadores em grande quantidade estarem todos comprometidos e com o rabo preso, já que vários que tiveram a oportunidade de se manifestar deixavam clara a sua verdadeira preocupação, expressa na velha máxima de Orloff: "eu sou você amanhã".
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E, curioso, ainda teve senadores que, aproveitando-se da 'deixa' dos chamados juízes do Supremo, alegaram que o mandato conferido pelo eleitor a uma pessoa qualquer não pode, salvo hipóteses muito expressas, ser restringido, em nome da democracia e do interesse popular, que lhe serve de base. Ou de desculpa.
Maldito foro privilegiado, lembrado por Barroso em seu voto derrotado na sessão do Supremo, do dia 11 de outubro, e por Álvaro Dias, em seu discurso encaminhando o voto favorável à manutenção das medidas alternativas a seu colega de plenário.
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Justiça seja feita, o que me leva a esse parêntese, é preciso fazer bem clara a distinção entre o colega e "cumpanhêro" de aecim com jaderes, jucás, e que tais, na verdade comparsas e os colegas de plenário, como Álvaro Dias, em relação ao senador mineiroca.
Há grandes diferenças entre as duas acepções da mesma frase.
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Mas, o discurso de Álvaro Dias surpreendeu aos próprios colegas, que ficaram como que bestificados, com o senador paranaense listando seus projetos de punição de crimes de seus colegas. Ainda bem que a tv captou e mostrou as caras de preocupação estampadas.
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Entretanto, meu comentário sobre o alegado respeito ao mandato conferido pelo voto popular, nem é para fazer coro a tantos quantos se lembram de que o mandato dado pelo povo não é para pedir empréstimos de 2 milhões, em malas.
Claro, é isso também.
Mas a questão fundamental, em minha opinião, é o tal do recall, tão falado na época de votação do golpe contra Dilma (agora confirmado e reconhecido por gravações de Lúcio Funaro, mesmo que nada mais fazendo voltar o tempo!).
Pois bem, se a questão é do mandato popular, conforme discurso de Anastasia, para que a representação de Minas não ficasse prejudicada em 1/3, a questão é: por que não perguntar o que o eleitorado dessa sombra de político honesto, gostaria que fosse feito?
Mandá-lo de volta para casa, à noite, ou mandá-lo de volta para os locais que incentivam a prática de crimes dos mais variados tipos?
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Só para findar o assunto: todos já sabíamos o resultado. Volta o senadorzinho, mesmo que de "teto baixo e farol queimado".
E pensar que esse homem poderia ter sido, equivocadamente, o presidente do Brasil.
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Quer saber de uma coisa: talvez não fosse tão absurda assim a situação, já que hoje quem governo o país é... são... os interesses empresariais mais despudorados, mas quem está lá na cadeira, para nossa desgraça, é esse infeliz, usurpador e bandido denunciado, temer.
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Mudando de assunto, dizem que temer e seu (des)governo estão levando o Brasil de volta aos trilhos.
Então já são algumas voltas interessantes: ao conservadorismo cultural, ao fundamentalismo, à não respeito à diversidade, ao não respeito das áreas indígenas. Volta ao desmatamento, e a atuação predatória de mineradoras na Amazônia. Isso sem contar com a ação predatória dos planos de saúde privados, investindo inescrupulosamente contra a vida dos mais necessitados. E dos idosos.
Retorno ao tempo da escravidão, usada agora como arma de combate ao desemprego.
E dizem que volta do crescimento, embora desmentido por dados de agosto, ao menos em relação a um retorno sustentado.
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Curioso, e pouco observado, dizem que o emprego formal não cresceu. Isso mostram os dados. Mas, todos aceitam a ideia - correta, de que o poder aquisitivo do consumidor está se elevando, em razão da redução do desemprego. Como?
Via aumento do trabalho informal. E onde se dá o maior aumento desse tipo de trabalho, senão, em especial nos serviços pessoais?
Aqueles mesmos que vêm apresentando queda nos últimos dois meses, e apresenta percentual negativo em todo o ano de 2017.
O que isso significa?
Que é possível esperar-se redução de consumo, e de aumento da produção industrial e do PIB, para esse ano? Ou seja, um crescimento menor embora positivo do PIB?
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Essa é uma conclusão não muito fácil de ser extraída, já que, no caso da indústria, e especialmente a automobilística, grande parte do crescimento é decorrente de exportações. Ou seja, nada tem a ver com o governo desse indiciado.
Mas, sem sombra de dúvidas, quem elogia e aceita o governo dessa múmia, esse usurpador, golpista, está favorável ao retorno da época que direitos sociais, direitos trabalhistas, direitos em geral, valiam apenas para os amigos do rei. E já eram considerados mais que o bastante.
No nosso desgoverno atual, o problema não é apenas estarmos voltando para esse período da escravidão e dos privilégios.
Pior é que estamos sujeitos à manipulação da imensa maioria da população por alguns poucos, que insistem em dizer que o "presidente" está sendo vítima de acusações falsas e ataques infundados.
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Como se as falas de que tem que manter isso, e outras, indicando o seu homem de confiança, aquele Loures da mala fossem falas que ele não proferiu. Não eram suas palavras, mas trechos de uma peça grega, uma tragédia (para nosso país) que ele estava ensaiando em sua casa, à noite, em companhia do tipo de pessoas que ele convida para sua casa, altas horas da noite, para passar textos de teatro: um bandido (como ele se referiu ao empresário Joesley).
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aecim também não é o autor da fala, ele apenas estava repetindo para Joesley, trechos das frases de um filme sobre gangsteres que ele tinha assistido, e onde se ouvia coisas tão interessantes quanto que delator, antes de delatar a gente mata ou que a grana poderia ser dada a seu primo de confiança, o Fred.
Isso depois de citar que o gangster envolvia sua própria irmã em suas tramóias, a ponto de ter em dado momento agradecido pelo atendimento dado à irmã.
Na verdade, nessa defesa, história, sei lá de aecim, só não consigo entender o que tem a ver, Bendine, a presidência da Vale e o porque se discutir isso com um então, amigo, depois bandido do coração.
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Outra mudança de assunto: voltei, depois do desânimo que me levou a ficar esperando, inutilmente, que o país pudesse apresentar alguma melhora.
Afinal, meus pitacos são também um desabafo, mas não são nem um muro de lamentações, nem um espaço para choradeira sem fim.
Daí por que não me manifestei nem mesmo quando da passagem do dia 7 de outubro, quando completamos 7 anos de pitacos.
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Mas o showzaço de Sir Paul McCartney, ontem no Mineirão, me fez acreditar que ainda deve haver alguma coisa de bom para acontecer em nosso país. Nem que seja receber ídolos do rock mundial, para podermos manter nossa crença de que o ser humano ainda é o melhor que temos, apesar de alguns em nosso país sejam exceções a essa constatação.
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Thank you, Sir Paul.
E como ele mesmo disse "até a volta", até o próximo pitaco nosso.
Que está de volta, como o Beatle, mas sem sua competência.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Chuvas, sexo, arte e rock n'roll. Ou apenas uma manifestação artística, enquanto o Senado absolve aecim

Começou quente outubro. E chuvoso, mostrando pela enésima vez que nossas cidades não estão aptas à entrada da estação das águas.
Basta chover um pouquinho que seja, e já começamos a ver as telas de nossas televisões invadidas por enchentes, lama, desmoronamentos, etc.
Verdade seja dita,  não tem chovido só um pouquinho. Ao contrário, aqui em Belo Horizonte, choveu  14 mm em um período de apenas 10 minutos, ou seja, o equivalente a derrubarmos 14 litros em um tanque com dimensões de 1 metro de largura, por 1 metro de comprimento e outro 1 metro de altura. Ou 1 metro cúbico de volume.
Mas, se 14 milímetros pode não impressionar à primeira vista, imaginemos que, no período de 1 hora, se a chuva mantivesse sua intensidade, a medida corresponderia a 84 litros. E a água subiria bastante para apenas uma hora de chuva.
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Deixando a quantidade de chuva de lado, há que se reconhecer, também que, embora haja uma parcela de responsabilidade das autoridades públicas, para a falta de adequação de nossas cidades para a chegada das chuvas, já que o fenômeno é facilmente previsível, a maior parcela dos problemas, especialmente vinculados às inundações tem como principal responsável nosso próprio povo.
E a falta de educação de nossa população, que prossegue transformando nossos espaços públicos em lixeiras, descartando todo tipo de detritos, responsáveis pelo entupimento das bocas de lobo, impedindo que a água tenha vazão para escorrer.
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É certo que, como noticiado, alguns órgãos públicos tiveram a preocupação de promover a limpeza e a retirada de entulhos das bocas de lobo, mas isso é ainda pouco para compensar a quantidade lixo acumulado em bota-foras improvisados por vários bairros das cidades.
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Além do início do período mais chuvoso, a cidade tem também sido atingida por ventos que alcançam grandes velocidades e causam vários estragos, como destelhamentos, quebra de vidraças e os consequentes estilhaços atirados a esmo, além de queda de árvores e outras estruturas.
Ainda ontem, a queda de várias árvores acarretou, além de problemas de tráfego, a morte de um taxista em plena centro de Belo Horizonte.
Fato que apenas serve para dar tintas mais fortes à tragédia anunciada.
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Mas, além dos desastres naturais, outubro se inicia com o ataque perpetrado por um atirador maluco, mais um, em Las Vegas, Estados Unidos, a capital do jogo e da diversão.
Aparentemente cometido o ataque em um momento de insânia, já que os antecedentes até aqui divulgado do acusado do tiroteio mostram um sujeito normal, contador aposentado, sem maiores envolvimentos com organizações radicais, jogador, bem situado na vida, ao menos economicamente.
Situação que desperta e aguça, como não poderia deixar de ser, questões como a da facilidade de qualquer americano poder adquirir e portar armas, de qualquer calibre.
Direito que uma emenda à Constituição assegura a qualquer um, sem muitas restrições, ao que eu saiba.
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Como não poderia ser diferente, em nosso país, onde vigora uma lei de desarmamento, um conjunto de pessoas bem intencionadas, mas que julgo completamente estúpidas, já começam a se mobilizar via redes sociais, para recriminar o que alegam ser a parcela "esquerdopata" da imprensa e o destaque dado a toda a manifestação contrária, mesmo nos Estados Unidos, à posse ou conservação de armas de fogo, algumas de alto poder de tiro, nas mãos de quem não teve qualquer preparo para lidar com tais artefatos.
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As pessoas que agem assim, defendendo a revogação da lei do desarmamento no nosso país e pregando a possibilidade de cada um ter sua própria arma ou arsenal em casa, argumentam serem apenas favoráveis a que o povo possa ter condições de promover sua própria segurança, dada a falência do Estado em assegurar esse direito inalienável.
Esquecem-se de que a falência do Estado na questão da segurança tem a ver não apenas com a posse ou não de armas, mas com outras questões, esquecidas nessas horas, de ausência total de educação de base e de qualidade para a grande maioria da população, ou ainda com a adoção de políticas e de programas de melhor distribuição de renda, de melhores condições de trabalho, tudo justamente na contra mão do que o governo ilegítimo, postiço de temer tem procurado adotar.
Pior, governo que promove reformas que esse conjunto de pessoas aplaude, por não terem um mínimo de discernimento: não é com mais exploração do trabalho e condições mais apropriadas à expansão dos lucros que nós poderemos construir uma sociedade mais inclusiva. Ao contrário.
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No entanto, deixando de lado as mazelas que são características de nosso país, e derivadas de nossa condição e formação histórica, nada impede que as pessoas que estejam armadas sejam, como o caso agora nos Estados Unidos e vários outros que sempre são noticiados, pessoas de boa formação sócio cultural, educadas, com padrão normal de comportamento, até que algum momento alguma frustração, alguma desesperança, algum ato de insanidade, ainda que temporário, possa dar origem a outro e cada vez mais encarniçado ataque.
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Ora, os defensores do desarmamento alegam sempre que, em nosso país, enquanto a população encontra-se desarmada, os bandidos, os maus, estão armados até os dentes.
Nunca é demais afirmar que, nos Estados Unidos, país cuja legislação é aquela que esses grupos advogam, quem tem a posse de arma e comete tais atos de carnificina não são os "maus", mas são os que tinham outra condição ou classificação, talvez os "bons".
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Pior, em minha opinião, não consideram esses que classifico como bem intencionados apenas, que grande parte das armas em posse da maioria da população em pouco tempo estaria na posse de pessoas que não hesitariam em usá-las, para o mal. Porque não é absurdo lembrar que os cidadãos de boa índole, apenas em situações muito raras, seriam levados a se utilizar sua arma, como uma arma deve ser utilizada: se sacou a arma, atire para matar.
A maior parte ainda iria ficar em dúvida ou mesmo não teria coragem sequer para usar a arma e atirar, quanto mais para atirar para matar.
Situação que daria uma grande vantagem para aquele que, inescrupuloso, sem ter nada a perder, iria já sair atirando em qualquer direção, por qualquer motivo, extravasando toda sua raiva, agressividade, senso de invisibilidade social.
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No final das contas, nós os considerados aptos a portar armas, os de bem, estaríamos municiando, fornecendo ainda mais armas aos que não hesitam ou pestanejam em se fazerem vistos e respeitados pela forma da violência que domina o mundo em que foram criados.
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Exceto se esses grupos acreditam que a posse clandestina de armas tenha como causa o fato de armas serem proibidas. Assim como acontece com as drogas, a maconha, a cocaína, o jogo, se as armas pudessem ser negociadas abertamente em mercados próprios e livres, não haveria razão para o surgimento de um mercado clandestino, mercado negro, de altíssima rentabilidade.
Com a justificativa complementar de que tais mercados podendo existir à luz do dia, poderiam ser mais controlados ou vigiados ou minimamente regulados.
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Não me parece, contudo que os defensores do desarmamento pensem dessa forma, já que se são favoráveis ao livre comércio de armas, seu conservadorismo, muitas vezes hipócrita, não permite que defendam a legalização das drogas, ou do jogo.
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Curioso é que, nem acidentes como o de Las Vegas, servem como alerta para as possibilidades funestas de tal liberdade.
Razão porque as considero, estúpidas.Talvez por não terem tido, em suas famílias ou entre amigos, casos de pessoas que foram mortas, seja por um tiro acidental, disparado por um amigo que apenas mostrava a garrucha ganha de presente no dia de seu aniversário, seja por um amigo, compadre que tenha sido cobrado pelo pagamento de um empréstimo ou por outro tipo de postura que não assumiu.
Pior ainda, talvez os estúpidos não tivessem se dado conta de que há apenas alguns dias, estávamos tendo nossa atenção chamada para a semana de prevenção de suicídios, cujos números de casos em nosso país se torna cada vez mais alarmante.
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Ok, suicídios podem ser cometidos de várias formas. Algumas mais extremadas e violentas, como se atirar do alto de um prédio, outras mais sutis, como o envenenamento por remédios, etc. mas é inegável que o livre acesso a uma arma iria ampliar enormemente a facilidade para que tais desatinos fossem levados a cabo.
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E se começamos falando de redes sociais, e de armas e sua liberação, o que dizer de todos os críticos de arte que estão cada vez mais escandalizados com as exposições de arte, contendo nus ou qualquer outro tipo de manifestação que possa lembrar sexo, esse pecado tolerado apenas do lado de baixo do Equador, debaixo de um cobertor.
Ainda agora mesmo, no MAM em São Paulo, uma mostra colocou um homem nu, cercado de vários avisos da nudez da montagem para, reproduzindo experimentação já feita antes fora do páis, inclusive, quem assim quisesse, pudesse tocar o modelo e deslocar seus braços, pernas, cabeça, deslocar como se o modelo fosse um mero boneco, ou robô.
Lá no exterior a obra foi considerada de arte. Aqui o fato de uma menina estar na exposição, acompanhada de sua mãe, e ter tocado o pé do modelo causou o maior reboliço.
Com gente que nem entende de arte, se arvorando não em crítico, mas em censor, e classificando a obra como pedofilia.
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Com algumas dessas pessoas, gostaria de poder conversar e tentar, ouvindo seus conselhos, tirar o fardo que passei a carregar sobre meus ombros, ao lembrar que, já no passado, tomei banho junto com meus filhos no chuveiro... e todos estávamos nus, para aumentar o absurdo.
Será que, agora, admitindo meu pecado tão grave, ainda teria salvação para minha alma?
Ou o que acontece é que grande parte dos críticos de arte de sacristia nunca tiveram filhos ou nunca ficaram nus, frente a eles, sem qualquer intenções libidinosas?
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Pelo que vejo de comentários e juízos de valor, parece que, como disse Gregório Duvivier, o problema é que libidinosos e lascivos são os pensamentos e juízos de valores desses críticos.
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Para nossa sorte, os grandes artistas sempre pintaram nus, ou esculpiram, e as obras são consideradas patrimônio da humanidade, o que evita que esses pobres coitados pudessem querer destruí-las em nome de valores como a moral e os bons costumes.
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Por fim, voltamos a discutir o caso de aecim, aquele que não teve o caráter e a hombridade moral para devolver o mandato que seus eleitores lhe outorgaram, certamente sem saber que ele, mesmo não estando nu, estaria sendo mais ultrajante por seus comportamentos e falta de pudor.
Esse político sim, é a verdadeira vergonha e o mau exemplo para a formação de nossa juventude.
Embora isso não seja dito por todos os que querem tapar a nudez e a transparência da realidade, com os lençóis ou trapos a que foi reduzido o mandato parlamentar.
E para piorar a situação, o Senado, onde o mineiroca pontifica e lidera, agora quer votar se a punição da Suprema Corte é para ser levada a sério ou virar letra morta.
O que não é apenas uma desmoralização para a Justiça, mas também para a própria Casa, responsável pela elaboração das leis, que pela presença desse tipo de representante do povo, é a primeira a derrubar a eficácia saiu de lá como conquista.
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Mas, sabe-se, não se está votando, de fato, para afrontar o Supremo. Nem mesmo para livrar a cara do senador bandido, o que seus colegas de mesma estirpe  desejam é criar o precedente, para que no futuro possam usar do raciocínio tão habilmente exposto por Millor Fernandes: se é para benefício de alguém, que locupletem-se todos.
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No entanto, é melhor falar contra a nudez, e a arte, que falar de quem foi eleito para representar os críticos de arte de ocasião.
É isso.