quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Paradoxos do Brasil, em meio à polarização de uma sociedade dominada pelo medo e pela insegurança e violência: institucional ou não

https://youtu.be/EbtiP4wgKtI A economia brasileira cresce; de carona nos transportes, o setor de serviços apresenta 8 meses de um crescimento vigoroso, qualquer que seja a base de comparação (setembro 25 sobre 2024, no acumulado no ano ou de 12 meses). O desemprego mantém-se estável no menor nível da série histórica e o rendimento médio mensal apresenta viés de alta. Enquanto isso, a inflação de 0,09% em outubro é a menor para o mês, em 27 anos, dado o recuo do preço administrado da energia elétrica (redução do nível da bandeira tarifária) e da baixa do preço, por razões climáticas, de alimentos importantes (arroz, leite longa vida). *** Não é a teimosia do Banco Central em manter a Selic em 15% ao ano, nem a fixação dos juros pornográficos de mais de 10% acima da inflação que tem domado a inflação, fenômeno que está longe de ser explicado pela pressão de excesso de demanda sobre nossa capacidade produtiva. Mas se os juros não são A EXPLICAÇÃO para o comportamento dos preços, em favor da população, poucos irão negar que são a causa da elevação do indicador Dívida Bruta/PIB, instrumento de terror, pressão e tortura feita pelos agentes do mercado financeiro, e da mídia em geral, e das críticas descabidas feitas a eventual gastança do governo ou desordem fiscal. *** Ou seja, se juros exorbitantes são incapazes de beneficiar a população levando os preços a caírem, asseguram a captura do Banco Central pelos interesses dos rentistas que vivem de juros – o mercado financeiro, seus agentes e instituições - que, desde o início do ano previam, ou ordenavam (?) que a Selic deveria estar a 15% no fim do ano. Dado o crescimento do endividamento referido, a despesa de pagamentos de juros aos detentores dos títulos públicos aumenta o total de gastos – a tal gastança. Ou seja, se os juros são incapazes de beneficiarem a maioria da população, não há dúvidas de que beneficiam a parcela mais rica da população que empresta ao governo. *** O que cria uma situação paradoxal: apesar de a economia, o país, as condições de vida da população apresentarem melhoras, a grande imprensa, unida à maioria dos membros do Congresso Nacional (cuja baixíssima qualidade ética e moral causa perplexidade jamais vista) apenas destacam e divulgam as críticas, narrativas ou mentiras que visam fragilizar o apoio da maior parte da população ao governo. Assim, omitem a melhoria das condições de vida, aproveitando da desinformação para a adoção de medidas voltadas ao interesse personalista, da política rasteira, eleitoreira, longe dos mais relevantes interesses nacionais. *** Por trás da polarização do país, é possível identificar, sob novas roupagens, o ressurgimento da surrada luta de classes, agora entre milionários e pobres; entre os rentistas do capitalismo financeiro e os setores capitalistas voltados à geração de riqueza real; entre os patrões e empregados, ou sob nova face, patrões e autônomos, explorados, cuja por meio da utilização de plataformas tecnológicas disfarçadas pela imagem falaciosa do empreendedorismo. Inclui-se nessa luta, aquela entre a população dos bairros mais nobres e privilegiados das cidades e as camadas penduradas nas comunidades, nas periferias, nas favelas – lugar de pobres, muitos deles pretos, sem educação, sem saberes, sem saúde e sem oportunidades. *** Nesses morros, abandonados há muito pelos equipamentos e agentes do aparelho de governo, a ausência do Estado cria um vácuo que abre espaço ao surgimento de facções, organizações criminosas, milícias. Afinal, é senso comum que não há espaço vago na âmbito da política: alguém vai ocupar o poder. Se vai usá-lo segundo regras estabelecidas, contratadas, de convivência, fruto do consenso e do respeito mínimo à dignidade de todos e de cada um ou, ao contrário, em benefício próprio, que acarreta a redução do outro a mera peça na engrenagem da exploração, onde vigoram regras pessoais, flexíveis e instáveis, conforme interesses circunstanciais, voltadas à submissão do outro e à anulação de sua dignidade e sua humanidade, é que vai fazer a distinção. *** Thomas Hobbes desde há muito falava da consequência do vazio do poder, da selvageria e barbárie: em que o homem é o lobo do homem. Nas favelas e morros abandonados, sempre surgirão aqueles que vão tentar se impor aos demais vizinhos, por sua força, barbárie e brutalidade, muitas vezes sanguinária. Elementos que exploram, torturam, abusam, matam, escorcham seus vizinhos amedrontados, em espiral sem fim. Pessoas que sabem que seu poder exige a manutenção da tensão, da ameaça, do medo e da violência por meio de execuções sumárias: dos desafetos, dos comparsas de lealdade duvidosa, ou dos recalcitrantes. *** Assim fazem um inferno da vida dos demais, e não é de se admirar que aqueles explorados passem a nutrir o sentimento de ódio, vingança, o que os leva a aplaudir e aprovar atitudes de barbárie idêntica, adotada contra seus algozes. Se a violência visando sua libertação é patrocinada pelo Estado, ainda melhor, já que creem que as regras garantidas pelo Estado, em tese de alcance e garantia impessoais são mais permanentes, menos instáveis e mais respeitadas. Infelizmente não sabem que, nessas situações, a utilização do aparato de segurança, policial-militar do Estado, não vai eliminar, exceto momentaneamente, seu pesadelo. E que, passado o primeiro momento de violência institucionalizada e aceita, o aparato do Estado não vai se estabelecer e sua presença se fazer frequente para assegurar sua segurança, até por força de contenção de gastos sociais, em visão fiscalista tosca. O que significa que, caídas no esquecimento, as operações policiais de desocupação de morros, apenas reproduzem o vácuo, em que outros, ainda piores, irão se instalar. *** E a questão central dessas reflexões ainda nem sequer foi tangenciada. Não cabe ao Estado matar, cabe punir. Não cabe ao Estado decidir sobre a vida ou morte de quem quer que seja. Não cabe ao Estado torturar, amedrontar. Não cabe, aos representantes eleitos pelo povo, decidir quem pode viver e quem deve ser eliminado de forma bárbara e sanguinária. Aos governantes não cabe matar, atitude típica, e reconhecida no Código Penal, dos assassinos.