Finalmente, e de forma definitiva, cai a máscara do político antissistema e anticorrupção, escancarando de vez a face medonha do falso paladino da moralidade.
Como já ocorrera há 30 anos atrás com Collor, o pretenso
caçador de marajás, Bolsonaro retorna aos braços do Centrão, local que serve de
reservatório ao esgoto não tratado, que sempre lhe serviu de esconderijo e em
que ele sempre chafurdou.
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Apenas assinala-se que tal movimento, impossível de passar despercebido,
não deverá provocar reação alguma dos bolsotários - os seguidores fiéis do
mito, que tratarão de justificá-lo seja por sua negação (como o fez o general Augusto
Heleno, para quem o Centrão não existe mais!); seja pela necessidade de
governabilidade de um mandato tão vilipendiado pela mídia, pela intelectualidade,
etc.
Claro: ‘Neste caso, a disposição de combater a corrupção irá
ser redobrada, ampliando a fiscalização e controle do presidente sobre as práticas
políticas’ (como ele fez com Ricardo Salles, com Marcelo Álvaro Antônio ou com
Pazuello e a aquisição de vacinas).
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Em medida desesperada para evitar a abertura de um processo
de “impeachment”, Bolsonaro promete (mais) uma minirreforma ministerial, que
desloca o general pingue-pongue Luiz Eduardo Ramos da Casa Civil para a
Secretaria do Governo.
Bem, há pessoas que nasceram mesmo para serem tratadas como ioiôs
e divertirem aos seus proprietários.
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Para a Casa Civil, a promessa de indicação do senador Ciro Nogueira,
presidente do PP – o partido mais investigado pela Operação Lava Jato – aquela do
combate ‘fake’ à corrupção e do ‘lawfare’ (da caçada ao troféu Lula).
Ciro, membro da CPI da Covid - onde defende o (des)governo, o
terraplanismo e o kit Covid -, se notabilizou por ser autor da descrição mais
perfeita de Bolsonaro, em 2017, quando o classificou como fascista.
Se confirmado ministro, mais uma vez confirma a sabedoria
popular quando afirma que: “um gambá cheira o outro”.
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Na dança das cadeiras, dizem que Ônyx pode ser deslocado
para um futuro ministério do Trabalho, espaço político menor no então superministério
da Economia e, por isso mesmo, já de algum tempo para cá, destinado a pessoas minúsculas, seja no
caráter, seja na formação.
Nesse aspecto, é meu dever ressaltar o gigante que é o deputdado
Ônyx, em relação ao servilismo e ao comportamento bajulador.
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Por fim, a reforma serve para constatar, atingir e desmembrar
a super pasta da Economia, entregue ao dito Posto Ipiranga, Paulo Guedes, o
combustível mais adulterado ou ‘batizado’ do país.
E é a Guedes que eu gostaria de dedicar mais atenção nesse
pitaco.
A Guedes, o economista liberal da
Escola de Chicago, que leu Keynes ao menos três vezes no original, e que tem em
sua ficha corrida uma passagem (modesta!) como assessor do governo do
ditador sanguinário e corrupto do Chile, Pinochet.
Daquele período, apenas destacar
que a Reforma da Previdência de perfil liberalóide feita em nosso vizinho, naquela
oportunidade, e que servia de inspiração do sinistro para nosso país, foi um
retumbante fracasso, criando hordas de idosos miseráveis, a circularem pelas
cidades do Chile.
Situação de tanta dramaticidade
que obrigou à recriação da Previdência pública por Bachelet, no retorno do
Chile à democracia.
***
E se não consigo tratar de Paulo Guedes
como tendo um currículo, muito se deve ao fato de ele ser ou ter sido
investigado, antes de chegar ao ministério, em processos fraudulentos relativos
a prejuízos proporcionados a Fundos de pensão que ele, como homem do mercado
financeiro, geria.
Diz Marco Antônio Villa que Guedes
é o Pacheco, personagem de Eça de Queiroz. (Não li e vou fazer isso ainda nessa
oportunidade). Diz também que sempre foi apenas gestor do mercado financeiro. Se
teve lucros, ganhos, benefícios e até algum valor, isso se deve à atividade especulativa,
que praticava.
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Mas, com a reforma Guedes perde poder – mas não perde
nem a vergonha, nem o brio, nem a cara de pau, preferindo permanecer preso ao
governo mais que a fruta agarrada ao pé da jabuticaba.
Razões para tanto não faltam ao fundador
do Ibmec, membro do Conselho de grupos empresariais com atuação em várias áreas,
inclusive de instituições ligadas à ‘educação’ como o grupo HSM, o grupo Ânima,
e outros próximos da influência e interesses de sua irmã Elizabeth Guedes, vice-presidente
da Associação Nacional de Universidades Privadas – ANUP.
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Só para refrescar a memória, Guedes
é o crítico ferrenho não só da participação marcante do Estado no âmbito
econômico, como também do ensino público; dos mecanismos de financiamento de
ensino superior, como o Fies; da previdência pública e solidária; dos direitos
trabalhistas, entre outras atrocidades, reveladoras de sua verdadeira ojeriza
por todos os cidadãos mais fragilizados de nossa sociedade.
Dele, infelizmente, são notórias
frases e comentários que mostram o valor que atribui às empregadas domésticas,
em sua função essencial para a saudável gestão de grande parte dos lares
brasileiros; sua ideia de precarizar os direitos do trabalhador, no afã de
reduzir custos trabalhistas e ‘expandir’ empregos.
Como se fosse possível a expansão
de empregos em economias onde cada vez mais as máquinas substituem os
trabalhadores; nossos trabalhadores não têm acesso à educação de qualidade, cada
vez mais necessária em sociedades sofisticadas, onde os processos de produção se
especializam na tecnologia do conhecimento.
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Mais recente agora, afetando seu inimigo
de sempre, o trabalhador comum, o cidadão comum, pretende eliminar subsídios concedidos
às empresas que atingem a eliminação do vale-refeição, entre mais outros
direitos.
Em relação à reforma tributária,
já manifestou não ver qualquer problema em aumentar a taxação de livros (hoje,
isentos).
Também é dele a pérola de que
apenas pela existência do FIES, que ele considera uma aberração, é que o filho do
porteiro que zerou a prova do ENEM consegue frequentar uma universidade. Um
absurdo, para quem com sua visão de classe é defensor de unhas e dentes da
meritocracia.
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Mostrando toda sua sordidez e seu
caráter excludente, de classe, também é dele a ideia de se eliminar o SUS,
substituído por vouchers que permitam à população “excluída”, poderem optar por
irem se tratar em hospitais como o Albert Einstein.
Falar de Guedes provoca engulhos.
Pior é ver suas projeções que deixariam corado o Dr. Pangloss e até mesmo Cândido
ou Pollyana.
Por tais projeções, a economia
brasileira está crescendo desde 2019 a taxas de PIB chinês; a economia saiu da
Covid como em curva de V, provavelmente já alcançando patamares superiores ao
de antes da pandemia. O desemprego caiu,
e cai 1 milhão de pessoas a cada quadrimestre. O déficit fiscal foi zerado em
2019, primeiro ano de sua desastrada e inoperante gestão.
O problema maior da economia e da
sociedade brasileira é o grande número de idosos e aposentados que, sem
qualquer espírito de cooperação pública e solidariedade social, insistem em
viver cada vez mais, quem sabe até os 120 anos.
E, por fim, e para mim a última desfaçatez desse pulha, uma
população que só sabe reclamar e reivindicar, sem qualquer motivo. Afinal, segundo
consta, é dele o tuíte com a frase: “Por que reclamam do preço do gás se não têm
dinheiro para comprar comida?”
***
Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, o COMBUSTÍVEL
ADULTERADO, ex-homem forte do desgoverno, merece ao menos uma referência
positiva por um acerto: é dele a afirmação de que “se fizer muita besteira, o
dólar pode ir a R$ 5”.
Autocrítico: o dólar chegou lá e
de lá dificilmente irá cair.
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