Desde o início da pandemia de Covid há três anos resolvemos,
minha família e eu, nos submeter e adotar a todas as medidas de prevenção
recomendadas pelas autoridades médico-sanitárias do país.
Assim, higienização frequente das mãos, uso de álcool em gel
ou líquido a 70°, uso de máscaras em ambientes externos ou internos onde
houvesse contato com outras pessoas, até a adoção desde março de 2019, da
jornada de trabalho remoto foram medidas que procuramos cumprir com rigor.
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Antes de prosseguir, devo observar
que, professor com 45 anos de ricas experiências, vivências e aprendizados conquistados
em sala de aula, estar em “home office”, ou seja, dando aula para uma tela de
computador via Zoom, com a visão de uma tela preenchida por retângulos de fotos
congeladas de meus alunos foi das experiências mais desafiadoras e menos
estimulantes de toda minha carreira.
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Quanto a minhas sensações, cheguei
a comentar com colegas, amigos e alunos que compartilhavam comigo suas ansiedades
e apreensões a dificuldade daquela forma de aula conseguir capturar e manter a
atenção, o foco, a concentração, o espírito e o interesse de cada um dos
participantes. Afinal, a tela fria me impedia ter a percepção do impacto causado
pelo conteúdo e pela forma como eu o transmitia. Impedia aquela observação geral,
das reações das fisionomias em face ao espanto, a confirmação de alguma ideia
ou negação dela, ao surgimento da dúvida ou mesmo a reação atônita daquele que
não entendeu nada.
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Dos alunos amigos, a confidência
da interferência de ambientes os mais diversos e com muito mais obstáculos à
concentração, muito mais atratividade, etc.
Se tudo aquilo valeu a pena, foi por
nos permitir a oportunidade da incorporção de novas tecnologias e formas de
transmissão dos conteúdos; de novas e
mais constantes formas de interação entre alunos e professores, via
aplicativos; o desenvolvimento comum de
outros tipos de realização das atividades de aprendizado; tendo como objetivo
maior a manutenção da saúde de todos.
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Ao longo desses três anos, em especial, minha mulher e eu, optamos
pela adoção de um comportamento mais recluso, apenas saindo de casa para a
realização das compras imprescindíveis à continuidade do funcionamento de nossa
casa e da preservação de nosso padrão de vida.
No entanto, e a ênfase é fundamental, o cumprimento
do cronograma e do esquema de vacinas deteminado pelas autoridades da área da
saúde do país, inclusive com a dose de reforço foi a principal medida preventiva
que adotamos, contribuindo para que chegássemos até aqui sem a contração do vírus.
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Por todo este período de sufoco, temor, ansiedade, cuidados
que atravessamos e que não nos isentou dos impactos do convívio com sofrimentos
e dores dos amigos contaminados, além das perdas de parentes, conhecidos e
amigos de fé, resolvemos nos dar ao luxo de sair de férias.
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Hoje me questiono do acerto da decisão, tendo em vista que a
ômicron, nova variante do vírus, tem provocado algo próximo a 1000 óbitos por
dia.
Isso, apesar do declínio da curva de novos casos em todo
mundo, inclusive em estados de nosso país, e da informação de que as novas
vítimas são aqueles que desdenharam da vacina e desacreditaram as recomendações
da ciência, adeptos da nova seita inaugurada pelos bolsotários cloroquínicos.
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Por medida de segurança, optamos por uma praia; pelas
condições de preços de transporte e acomodações, e por ser um estado da região Nordeste
que ainda não conhecíamos, decidimos ir a Aracaju.
Uma cidade planejada, construída para ser a capital do
Estado, por sua condição litorânea, com a função de substituir a cidade de São
Cristóvão, cujo bonito centro histórico é localização da Praça de São Francisco,
considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco e situada a pouco mais de 30
km para o interior.
São Cristóvão, além de ter sido a cidade de início da vida
de Irmã Dulce, a Santa Dulce dos pobres, é também terra de Nivaldo Oliveira, artista,
artesão, produtor de xilogravuras com técnica própria e de peças de madeira vitrificada
que impressionam pela semelhança com cerâmicas portuguesas.
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Em Aracajú (Cajueiro dos Papagaios), cujo nome de origem indígena
deve-se à grande quantidade de papagaios nas menores quantidade de cajueiros,
nos hospedamos no excelente hotel Aquarius, de serviço impecável, além de excelente
localização, na orla.
Além de atendimento simpático, o hotel impressiona pelo café
da manhã de primeiríssima qualidade e, nestes momentos de pandemia, com rigorosos
procedimentos de serviço: máscara e luvas.
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De Aracajú, para não abusar da paciência de alguns leitores,
cito sem comentários estendidos, os Arcos da Orla da Atalaia, a orla da Costa
do Sol, o agradável bar-restaurante Duna
Beach, o passeio pelo mercado da cidade integrado por três mercados, entre os
quais o de artesanato. Também o Museu da Gente Sergipana, interativo vale o
passeio.
Outros passeios imperdíveis são a aventura da ida ao Canion
do Xingó, de beleza natural rara, sem contar o passeio pela maravilha da grandiosidade
da represa do Rio São Francisco, gerida pela Chesf.
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A menção à aventura aqui, é mais em função da estrada, que
corta o interior do estado, em direção a Alagoas, e que se caracteriza por ser estreita,
sem muitos pontos de ultrapassagem, com intenso trânsito de caminhões, e especialmente
motos, utilizadas pelos habitantes das localidades para o trânsito entre as
mesmas. Para agravar a situação, e para a proteção dos habitantes de tais
municípios, vilarejos, a estrada é dotada de mais de 300 quebra-molas, alguns elevados
o suficiente para raspar o fundo do carro.
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Outros passeios recomendados são a visita ao Parque Lagoa dos
Tambaquis, onde se pode alimentar os peixes, ali lançados para povoarem a
lagoa; o passeio às dunas da região da Praia do Saco, onde contamos com a perícia
e simpatia dos bugreiros Ramon e Lenilson, que nos levaram, ainda, para assistir
a um bonito pôr de sol na ponta da praia.
O passeio à simpática Mangue Seco e à ilha de Tieta, com
direito à visita aos bancos de areia que formaram a Ilha da Sogra, do Sogro, contando
com a simpatia do Wallace, e podendo aproveitar da presença de Astro, o peixe
boi que frequenta o local.
Finalmente, a ida a Crôa do Goré, em lancha alugada por “Dona
Gil e Paulo” e um piloto de primeira qualidade.
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Importante destacar que, tanto o passeio de bugre às dunas quanto
o passeio de lancha a Mangue Seco, foram combinados com a Carolina, da Cooperativa
que reúne os bugreiros e donos de lanchas da região, o que é transmite um sinal
de segurança e tranquilidade.
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Assim, em meio a tanta diversão, restou pouco tempo para
manifestações quanto a questões de maior importância, como a nova rodada de
ataques do miliciano que nos desgoverna às eleições e a autoridades do Supremo e
do Tribunal Superior Eleitoral.
Tal retomada típica do gangsterismo que ocupa o Executivo do
país, põe fogo no parquinho, para usar expressão da moda, e dá cada vez mais
razão ao temor de que venhamos a viver no país os transtornos antidemocráticos
expressos anteriormente por frase de Carlos Lacerda, em relação à candidatura de
Getúlio em 1950.
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Adaptando a frase golpista ao momento presente, parece que
nossa ultradireita acredita que ‘Lula não deve se candidatar. Candidato, não deve
ser eleito. Eleito não deverá tomar posse’.
Razão para admitir que os temores de Sakamoto venham a se
concretizar e o país seja banhado por um rio de sangue, nas ruas e praças do
país, na falta de um Capitólio para ser invadido.
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Dos desastres do capitão miliciano, expulso pelo Exército,
seja em em viagens nacionais (de férias) ou internacionais (achando ter selado
a paz, o que lhe daria um prêmio Ignobil de consagração a sua total
incapacidade mental); dos desastres
causados pela exploração irracional dos recursos ambientais de que a crise climática
é exemplo pavoroso; bem como a visão míope de sempre em relação à exploração da
‘nossa Amazônia’, mantida por militares
tão ultrapassados e tacanhos que ainda são capazes de idolatrarem um golpista insano
trataremos nos próximos pitacos.
Estamos de volta, atentos.