Posso estar enganado, isso
acontece com alguma frequência.
Mas em minha opinião, os
tais mercados, eufemismo para designar os mercados financeiros rentistas,
especulativos e seus interesses, apoiou ou não se opôs ferrenhamente à eleição
de Lula em razão de sua promessa de manutenção e fortalecimento da democracia.
Foi DEMOCRACIA que Lula ofereceu
aos mercados. E se ele entregar democracia ao longo de seu mandato, já terá
cumprido sua promessa a esse segmento.
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Acredito que o mercado já
precificou o fato de Lula ter, no decorrer de sua campanha, prometido ampliar o
valor do Bolsa Família em definitivo, para o valor de 600 reais.
Ter se comprometido em
criar o adicional de 150 reais por crianças, além de adotar política de
elevação real do valor do salário mínimo e correção da tabela do Imposto de Renda,
há tanto defasada.
Tudo isso, sem abandonar
a recomposição de gastos sociais, que incluem farmácia popular, infraestrutura
educacional, e tantas outras mazelas fruto da desconstrução posta em marcha por
seu antecessor.
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O significado dessa
plataforma traduz-se em que Lula prometeu valores políticos para os mercados e
econômicos para os menos privilegiados, com os benefícios consequentes para todo
empresário do setor produtivo.
Para os mercados: democracia.
Para os segmentos menos favorecidos da população, Economia e medidas destinadas
à redução de desigualdades social, de acesso a bens sociais, de renda e de oportunidades.
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Antes que os críticos me
acusem de ingenuidade, alegando que aos mercados pouco importa se a forma de
governo adotada assume caráter democrático ou autoritário, contraponho as
premissas que alicerçam meu raciocínio.
E parto do reconhecimento
de que dominados por modelos de inspiração tristemente neoliberal, os
interesses dos mercados privilegiam o individualismo, a busca de obtenção de
lucros a qualquer custo, que se aliam ao ideal farsesco de meritocracia em prejuízo
de interesses mais coletivos, mais sociais.
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No entanto, apoiar a ameaça
do governo que se despede seria uma aposta de risco, em razão da inconstância
do trágico titular do cargo e sua reconhecida formação intervencionista, autoritária,
populista.
Reeleito, mais fortalecida
a hipótese de um autogolpe, o país poderia se encaminhar em direção a um governo
autocrático, onde a promessa de manutenção de um liberal reconhecido como ministro da Economia, estaria constantemente
posta em dúvida.
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Nesse sentido, aliado aos
interesses de sua familícia, não seria prudente nem mesmo acreditar que
restariam alguns nacos de ganhos para os agentes com menos vínculos com a ‘família
real’.
Isto posto, qual a razão
do chilique dos mercados em reação ao discurso em que Lula apenas ratificou sua
não conformidade com as travas ao exercício do poder, como a Lei do Teto de
Gastos?
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Para mim, apenas o
anúncio e a difusão pela mídia de um movimento baixista nas bolsas, levou incontinenti
a que parte dos detentores de títulos corressem para se livrar dos títulos
micados.
Desnecessário lembrar que
tal comportamento, que redundou em perda de 150 bilhões de valores na Bolsa, não
representam perda, a rigor, salvo para os pequenos e menos qualificados investidores,
portadores de menos recursos.
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Não duvido que enquanto
esses investidores amedrontados corriam para realizar seus capitais, a preços declinantes,
na ponta oposta os grandes investidores, institucionais ou não, adquiriam papeis
na baixa, ponde em prática a lei primeira do jogo bursátil: comprar na baixa e
vender na alta.
Além do comportamento
especulativo peculiar, tal movimento serviu como um alerta ao presidente
eleito, para que cumpra o prometido, mas não vá com muita sede ao pote.
Alerta com cara de
chantagem, reforçado pelas análises encomendadas e pouco sérias dos famosos ‘jornalistas
financeiros’ encastelados na mídia, que se atreveram até a exigir a indicação,
por Lula, de seu homem forte da Economia.
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Da lei de teto e suas
travas à inclusão do povo no Orçamento, trataremos em outro pitaco, quando abordaremos
a relação de tal lei à criação de espaços de ampliação da circulação privada de
mercadorias, aptas a permitirem o surgimento potencial de grandes oportunidades
lucrativas.
Neste pitaco, a título de
conclusão, trato da ignorância da mídia e seus analistas econômicos, até mesmo para
analisar os nomes dos integrantes da equipe de transição.
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É fato reconhecido que
André Lara Resende é formado e se doutorou em escolas econômicas de tradição ortodoxa,
liberal.
Também
é sabida seu passado de banqueiro e toda sua contribuição gigantesca para a elaboração
de planos, desde o heterodoxo e fracassado
plano Cruzado até o exitoso Plano Real, de forte inspiração liberal, embora não
tão ortodoxo em sua gênese: A moeda indexada, uma proposta para combater a
inflação inercial.
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Pois
bem, Lara Resende vem, há algum tempo, realizando uma autocrítica e uma crítica
aguda aos modelos monetários adotadas pela ortodoxia da Escola Neoclássica e
suas variantes mais modernas e mais sofisticadas, criticando os pressupostos e
as recomendações de políticas, principalmente a forma de tratamento da noção de
austeridade fiscal.
Em
seu último livro, provavelmente jamais lido pelos entendidos jornalistas econômicos,
“Camisa de Força Ideológica – A crise da Macroeconomia” ele mostra claramente a
inflexão que sofreu em seu pensamento.
Mas
também essa sua mudança e suas novas visões e propostas eu deixo para um
próximo pitaco.