link do Youtube: https://youtu.be/kkQ1jK6JtSQ
Anunciada ao final do dia de ontem, a manutenção
pelo COPOM da taxa básica de juros da economia brasileira – a taxa Selic - no elevado patamar de 13,75% não causou qualquer
surpresa aos analistas do mercado.
De acordo com o comunicado, a decisão unânime da Diretoria
Colegiada do Banco Central corresponde à
fixação de uma taxa de juros real (desconsiderada a inflação esperada) variando
entre 7,3 e 7,5%.
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O cálculo da taxa real exige uma explicação.
Ao contrário do que se poderia supor, ela não
se dá pela simples diferença entre a taxa Selic e a inflação esperada. Como
todo o cálculo financeiro, parte-se da hipótese de existência de uma quantia de
100 reais.
Aplicada essa quantia à taxa de juros de 13,75%,
expressa em sua forma decimal de 0,1375 (=13,75/100), ao final de um ano o
valor resultante será de 113,75 (= 100 + 0,1375). Dividindo este valor por 100,
ao final do período de tempo considerado, a quantia corresponde a 1,1375 vezes
a quantia inicial.
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Aplicado o mesmo raciocínio à taxa esperada de
inflação, segundo o comunicado de 6% pela pesquisa Focus, ou 5,8% pelo cenário de
referência do Colegiado chegamos, respectivamente a uma quantia maior que a inicial
de 1,06 ou 1,058.
Agora sim, podemos dividir o valor de 1,1375 (o
ganho com a Selic) pelo ganho de 1,06 ou 1,058, dado pela inflação.
Ou a calculadora de meu notebook está errada ou
não chegamos ao valor de 6,94% que órgãos de imprensa estão divulgando, mas a
um intervalo de 7,3 (=1,1375/1,06) a 7,5 (=1,1375/1,058).
A taxa real mexicana em fevereiro era de 5,3.
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Ainda do comunicado do Copom, é importante
destacar algumas questões.
Logo no início argumenta que o ambiente externo
se deteriorou, referindo-se a episódios envolvendo bancos. Para logo em seguida,
afirmar que a “política
monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista”.
Ora, a causa principal admitida para o problema
financeiro que teve origem no Silicon Valley Bank e que se estendeu para outras
instituições, foi exatamente a elevação dos juros praticada pelo Federal
Reserve – o FED (o Banco Central americano), além do risco natural envolvido em
uma instituição dedicada a financiar negócios de risco, como startups inovadoras.
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Ou seja, a causa principal da deterioração externa
é a política contracionista que o Copom parece insistir em seguir. Será que
repetindo os passos do FED o Copom espera resultados diferentes?
Ou há a uma intenção macabra de provocar
deterioração de nosso ambiente interno?
Afinal, o comunicado traz explícito que, no
cenário doméstico, “ o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade
econômica segue corroborando o cenário de desaceleração”.
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Se já há desaceleração reconhecia pelo Copom e indicado
pela decisão de paralisação da produção e concessão de férias coletivas pelas
principais montadoras de automóveis, qual a razão da manutenção da taxa elevada
de juros?
Ou o Banco Central não respeita a legislação
que define como seu objetivo “assegurar a estabilidade de preços” ao lado da
busca pelo pleno emprego.
Fica claro que o tratamento dispensado pelo
Banco aos seus objetivos fica desequilibrado, quando o comunicado afirma que a
decisão não prejudica seu “objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de
preços, (essa decisão) também implica suavização das flutuações do nível de
atividade econômica e fomento do pleno emprego.
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Uma segunda observação é relativa ao fato de a
única referência ao panorama fiscal ou à política fiscal tratar da redução da “incerteza
de resultados fiscais a curto prazo”.
O que não impede o Copom de considerar a “alta
volatilidade dos mercados financeiros”.
O que serve para nos indicar quais os
interesses que, de fato, estão na mira do Banco Central: o mercado financeiro e
seu apetite por ganhar rendimentos elevados (comportamento “rent seeking” ou de
obter ganhos a qualquer custo).
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O leitor atento do documento do COPOM vai
perceber que as expectativas de inflação são as apuradas pela pesquisa Focus, que
servem de base ao cenário de referência adotado pelo colegiado (“a trajetória
para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus ... e a taxa de câmbio...”)
E a admissão/confissão que tal pesquisa trata
de expectativas de mercado, caracterizando projeções do
mercado, não do BC.
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Obediente aos interesses de seus patrões – o mercado
financeiro – e querendo mostrar força e autonomia ou independência em relação
ao governo, a diretoria colegiada do BC é capaz apenas de promover ameaças, de
maior aperto monetário, apesar de reconhecer a possibilidade de maior
desaceleração da atividade econômica, aqui ou no resto do mundo.