Supondo
uma pessoa que tivesse recursos em quantidade suficiente, caso ela desejasse obter
um rendimento de 12 000 reais ao ano (ou mil reais por mês) e a taxa de juros
fosse de 10% ano ano, ela deveria adquirir um título no valor de 120 000 reais.
(120 000 multiplicados por 0,10 ao ano, em 1 ano = 120000 * 0,10 *1 = 12 000)
Em
linguagem popular, ela deveria investir ou comprar ativos financeiros de 120
mil.
***
No
entanto, se a taxa de juros paga pelo título fosse de apenas 5%, o rendimento
desejado de 12 mil exigiria a realização de um investimento de 240 mil reais. (240
000 * 0,05 ao ano * 1 ano = 12 000)
Não
é difícil perceber que com um taxa mais elevada, de 20% ao ano, o investimento
necessário seria apenas de 60 mil reais.
***
Essas
contas de matemática financeira, a princípio simples de serem efetuadas, estão
por trás de um raciocínio que pode parecer complicado para o cidadão comum.
Por
uma razão que vale a pena explicar: se a pessoa comprou um título no valor de
120 mil reais, para obter o rendimento desejado de 12 mil, com a alta dos juros
ela só poderia vender seu título, no caso de necessitar de dinheiro, pelo preço
de 60 mil (a metade do valor gasto originalmente).
***
Afinal,
as pessoas compram e pagam o título, pelo valor do rendimento que ele promete
gerar e, agora, a mesma quantia de 12 mil poderia ser obtida por um título de
60 mil.
Ninguém
iria pagar o valor de custo do título(de 120 mil), sabendo que poderia obter o
mesmo rendimento com um título de 60 mil.
Em
resumo: um título de 120 mil que paga 10%, tem o mesmo valor de mercado que um
título cujo custo foi de 60 mil, com juros de 20%.
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Extrai-se
desse raciocínio uma conclusão que deveria ser óbvia: se os juros sobem o preço
dos títulos caem ou ficam menor, caso seu detentor tenha a necessidade de
vendê-lo por qualquer motivo.
Traduzindo:
passado algum tempo, se o investidor precisa de dinheiro em mãos (=liquidez) e
tem de vender seu título ao valor de mercado ele só venderá o título por um
preço menor que o que pagou para comprá-lo (terá uma perda ou prejuízo).
***
Em
linguagem mais sofisticada, há uma relação inversa (contrária) entre o preço
dos títulos a taxa de juros: os títulos valem menos quando os juros sobem e sobem
de preço (dão ganhos) se os juros caem.
Sendo fruto da aplicação de
matemática, a regra funciona sempre, exigindo apenas uma condição: a de que o
investidor não precisasse de vender o título antes de ele chegar ao seu prazo final.
***
Aqui, outra explicação é
necessária: em geral o título, por exemplo, um título do Tesouro, promete pagar
juros de 10% ano ano, por um período determinado, digamos 5 anos. Findos os 5
anos de prazo, o título atingiu sua maturidade. Diz-se que ele venceu.
Então, caso o investidor tenha
necessidade de fazer dinheiro antes do vencimento do título, estará sujeito a
negociá-lo, no mercado, pelo valor do mercado.
Mas, se puder manter o título até o
vencimento, receberá justo o valor que aplicou ao final do prazo (além dos
juros que recebeu no tempo em que segurou o título em seu poder).
***
Interrompo aqui a discussão da
matemática financeira, para tratar de outra questão, sujeita a muita confusão:
a definição de investimento.
Define-se investimento de forma
ampla, como o gasto de 1 real no dia de hoje, visando a obtenção de algum
rendimento futuro.
***
Tal definição se aplica ao
investimento real ou PRODUTIVO, em que o gasto se dá para comprar instalações
físicas, máquinas e equipamentos, compra de matérias primas e contratação de
trabalhadores (com o pagamento de seus salários); até a produção de mercadorias
(combinação desses elementos adquiridos), a realização da venda e a apuração do
lucro (preço de venda = custo para
produzir mais a margem de lucro que o empreendedor espera obter).
Mas também se aplica a quem ‘gastou’
120 mil reais para comprar um título. Ou aplicou financeiramente essa quantia,
visando um rendimento que é dado pelo juros.
***
De imediato se vê que, caso se entenda
que o investimento significa a criação de mais riqueza (fábricas, máquinas,
mercadorias), a aplicação em títulos dos 120 mil reais significa apenas a
transferência de ganhos de uma pessoa para outra, com o ganho de um, sendo a
perda do outro.
Embora essa transferência possa ter
justificativas socialmente aceitas (seguro ou proteção contra imprevistos,
etc.), a aplicação financeira nada mais é que atividade especulativa.
***
E em um mundo onde as taxas de juros
são tão elevadas que todas as pessoas passam a aceitar como normal que aplicar
dinheiro a juros é mais rentável e tranquilo que ter as dores de cabeça e os
riscos de produzir e tentar vender seus produtos no mercado, superando a
concorrência, então a lógica da financeirização passa a dominante no ambiente
econômico.
Com as consequências de queda da
produção, da riqueza, do emprego e da renda.
***
Como a redução do nível de
atividade gera perda de valor das empresas, caem os preços de ações e títulos
privados.
Apenas os títulos públicos serão
procurados e negociados no mercado. E a elevação da dívida pública será a forma
de garantia da manutenção da atividade financeira especulativa, no âmbito
interno.
***
Mas esse pitaco, que já vai se
estendendo, não poderia se encerrar sem uma observação fundamental: os bancos,
os compradores privilegiados (e, portanto, os aplicadores) de títulos públicos,
muito raras vezes precisam de vender sua carteira de títulos para fazer dinheiro.
Na maior parte das vezes, mantêm a
carteira até o vencimento dos títulos. Logo, nada perdem com variações de
juros.
Mas ganham sempre, uma vez que a
variação dos juros serve para que se decidam por aplicar mais recursos em
títulos por um lado, enquanto se aproveitam para subir as taxas que cobram nas operações
de crédito com seus clientes.
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Por isso, juros podem asfixiar e
matar a economia como afirmou ontem, o Nobel
de Economia, Joseph Stiglitz, em evento patrocinado pelo BNDES.
Mas, vai explicar isso para o Banco
Central, cada vez mais agente regulador dos interesses dos agentes do sistema financeiro,
e aos agentes do mercado financeiro.
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