quarta-feira, 18 de setembro de 2024
De novo, COPOM, juros e Política
Link youtube: https://youtu.be/A86d2KY0Jjo
Já não são mais apostas. São certezas.
Verdades dadas como certas nas previsões dos oráculos encastelados na Faria Lima, nesse processo de helenização ou nesse período helênico que vimos atravessando hoje.
A referência à Grécia não se vincula aos oráculos, nem aos deuses e seus desígnios. Embora o deus ex-machine; o deus mercado seja quem continue decidindo a nossa vida de dramas e tragédias.
A referência é mais à Grécia de Tsipras e de seu ministro da Economia, Varoufakis, que lideraram a recusa da população grega a se curvar aos interesses dos credores internacionais, no referendo de 2015.
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Um parêntese importante: historicamente, entende-se por processo de helenização a difusão da cultura e valores gregos pelos países conquistados após a campanha de Alexandre, o Grande.
Nesse texto e abusando da liberdade, uso o termo em sentido muito amplo (põe amplo nisso!): refiro-me à disseminação da mesma imposição dos interesses dos credores, a que estamos submetidos, a parte mais ampla de nossa sociedade e o governo.
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No fundo, a origem dos credores, se externa ou nacional, tem pouca importância. Importa é que são donos do capital – única forma de, mais que sobreviverem com dificuldades – poderem se tornar credores.
São os donos do dinheiro e das riquezas do país: a representação do Capital e seu objetivo e interesse de se apropriar cada vez mais das riquezas do país e alimentar seu processo de acumulação sem limites.
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Em nosso país, de forma estilizada, podemos identificar três formas de capitais em operação. Todos em busca de ganhos e rendas, e pressionando o governo, limitando seu espaço de elaboração e implementação de políticas públicas.
Tais limites e pressões se expressam nas cobranças pela adoção de políticas econômicas cada vez menos distributivas e inclusivas, cada vez mais direcionadas a ampliarem o fluxo de renda para as mãos daqueles que controlam dinheiro, títulos (de dívida, inclusive pública), propriedade urbana (os milhares de imóveis urbanos desocupados) e propriedades rurais, onde se destacam os latifúndios (e as grilagens).
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Políticas destinadas a ampliarem a já vergonhosa concentração de rendas e patrimônio no Brasil, fruto de uma política fiscal que visa reduzir os benefícios sociais e previdenciários, encarados apenas como gastança descontrolada; reduzir os vencimentos e, no futuro, extinguir a própria categoria de funcionários públicos, eliminando os serviços públicos, atingindo a Olimpo: a privatização de toda a vida social. A entrega ao mercado e suas leis ordinárias e falaciosas de todo o controle da vida das pessoas.
A necessidade do corte de gastos públicos em qualquer de suas áreas de atuação, mas especialmente nas áreas fundamentais como saúde, educação, tecnologia, é imposta ao governo e alardeada pela mídia cúmplice e associada.
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Enquanto isso, os capitais se unem para expandir os gastos tributários que os favorecem, com a concessão de subsídios e crédito amplo, mais facilitado; incentivos produtivos e até financeiros escandosos (JCP e taxação de dividendos, inclusive sob a forma de MEIs, e seus bilhoes de rendimentos); além de ações visando a precarização cada vez maior do trabalho, para levá-lo a se vender de forma cada vez mais desesperada, por um salário cada vez mais de fome.
Se os trabalhadores não optarem pela miragem ilusória do empreendedorismo, de ser o próprio patrão, em condições em que, a falta de capital próprio os uberiza, na mão de tubarões e plataformas digitais com mais recursos.
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Os ganhos na política fiscal, social e de emprego a que nos referimos beneficiam a todos os capitalistas reais, das três classificações a que nos referimos.
Mesmo resultado final da política monetária e sua pretensa preocupação em debelar uma inflação que não dá sinais de estar fora dos trilhos, nem agora, nem para os próximos dois anos.
Mas já está certo que os juros devem subir e o farão na reunião de hoje do COPOM.
Não por conta de inflação que, se vier como resultado de desastres climáticos e ambientais (preço de produtos in natura), ou outro choque de oferta (mesmo externo), não será combatida com a elevação de juros (que atuam sobre a demanda).
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A elevação de juros, como demonstrado em inúmeros artigos (cito os de hoje, do prof. José Luis Oreiro, ou de André Forastieri), serve apenas para ampliar o ganho ou rentabilidade dos credores do mercado financeiro.
Amplia também a competitividade internacional dos capitais ligados ao agronegócio, os produtores de commodities (grãos, alimentos e mineração), que compensam pela elevação da demanda externa, a redução interna de demanda.
Aqui a explicação é que juros mais elevados no Brasil atraem mais dólares ao país (especialmente com a sinalização de queda dos juros americanos), barateando no mercado internacional nossos produtos.
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Mesmo os capitais industriais - prejudicados pela queda das vendas; pelo impacto da elevação dos juros sobre seus custos financeiros; e com uma postura crítica à política salarial que eleva os custos de mão de obra, podem se beneficiar com os juros maiores, embora de forma indireta. E não apenas por uma eventual redução dos custos da importação de matérias primas, componentes e até insumos básicos, como energia e combustíveis (fruto da queda do dólar). Afinal, no balanço dos efeitos dos custos, este ganho na redução do valor dos insumos importados pode não ser significativo, se ele tomar a decisão de reduzir a produção que não terá expectativa de conseguir vender.
Primeiro porque a retração da economia que os juros provocam, junto à precarização do trabalho, cria possibilidades de cortes de salário, ao menos em termos reais. Segundo, por criarem a oportunidade de exigir mais benefícios e incentivos do governo, sob o risco ou ameaça de serem forçados a reduzir a produção, gerando ampliação da taxa de desemprego e miséria e até desabastecimento em alguns produtos, com potencial para elevações de preços.
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Com a elevação da taxa de juros perde o governo (pelos maiores gastos com a dívida) e por não ter como apresentar resultados que dêem início a um processo virtuoso de crescimento; que terá de se sujeitar a alcançar um crescimento de vôo de galinha.
Maiores perdas atingem à população refém da perda de emprego, renda e adequadas condições de vida.
Por fim, e pior, perdem o Banco Central e Galípolo, indicado para presidir a Casa e obrigado a vender a imagem de que é mais “falcão” que o necessário, para não ser sabotado pelo mercado ou acusado de leniente.
O problema é que curvando-se ao mercado uma primeira vez, resta saber se e como irá se comportar para barrar a privatização do BC, embutida na PEC 65 e muito mais cara aos interesses do capital financeiro.
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