segunda-feira, 9 de julho de 2018

O torpor da Copa: as investigações do caso Marielle não avançam; a mídia endeusa um falso profeta, Tite; Neymar não amadurece; Carmem Lúcia promove uma desordem jurídica espantosa

Em nosso último pitaco, publicado nesse blog no dia 14 de junho, comentávamos que, junto ao maior campeonato de futebol do mundo, estava aberta também a estação de torpor que, com o apoio sempre imprescindível da imprensa, acaba contaminando o ambiente e criando uma situação inebriante de ufanismo e patriotismo - enganoso e falso. 
Uma sensação de orgulho coletivo nacional, embalado pela criação de heróis que cada vez mais acabam por revelar seus pés de barro e que, por esse motivo mesmo, raramente assumem o papel que deles se espera.
No embalo do desespero da mídia para ampliar seu faturamento e transformar o evento esportivo em principal fonte de arrecadação, de forma a compensar os custos elevadíssimos que a cenografia do espetáculo circense exige, todo nosso espaço é invadido por gritos e comemorações sempre exageradas, elogios vazios e tolos que alimentam uma arrogância desmedida.
E nas eternas queixas contra a arbitragem, e contra tudo e todos que, na teoria da conspiração que sempre é criada para justificar uma derrota, se recusa a reconhecer o óbvio: perdemos por encontrar algum time, em algum momento, melhor ou com mais gana e mais oportunidades de vencer que o nosso.
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Mas, aí de quem não é patriota o bastante para não se deixar comover pela comemoração ou pela tragédia programada. Situações com roteiros pífios e script pobres, como que a deixar claro o porque, não apenas no campo de futebol, mas também nas salas de nossas casas, quando invadem nosso ambiente de descanso, as novelas perdem conteúdo, importância e audiência.
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Começou a Copa e, já decorridos quase um mês, o caso Marielle continua sem qualquer solução. A Polícia continua sem pistas e as investigações esperando a prorrogação ou a cobrança de penalidades. Porque a cobrança por ação, justiça e respeito, esses valores toscos do que chamamos de democracia em época de Copa do Mundo ficam na banheira, mesmo na época de adoção do árbitro de vídeo, o VAR, fazendo a vida, mais que o jogo, permanecer em eterna suspensão.
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E no entanto o crime contra  Marielle ainda grita, embora encoberto por vuvuzelas e cornetas e gritos histéricos de prá frente Brasil. 
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DA COPA

Quanto à Copa, e ao selecionado brasileiro, apenas uns poucos comentários, sob a proteção e o alívio de já estarmos de volta para casa: o primeiro em relação a Tite e sua postura professoral, mítica, messiânica. Capaz de fazê-lo alterar até seu tom de voz e sua forma de comunicação com os torcedores todos do país, representados por uma dúzia de jornalistas baba-ovos e despreparados para fazer o mínimo que sua profissão exige: informar bem, questionar, criticar.
Tite, mesmo sendo um bom técnico, não é o porta-voz da verdade divina, não é a representação dos oráculos gregos ou romanos, e sua postura apenas reforça a sensação que, alimentado por órgãos de imprensa, passou a cultivar: de senhor de toda a verdade iluminadora.
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De Tite é bom que se fale que já há muito tempo é considerado senão o melhor, um entre os melhores técnicos de nosso país. O que o fez ser o preferido por toda a imensa maioria da torcida do Atlético Mineiro para assumir o cargo em 2005.
Aquela mesma massa de torcedores que Tite decepcionou e, sem qualquer escrúpulos ou caráter, em minha opinião, abandonou quando percebeu que o time estava muito próximo do fiasco representado pelo rebaixamento. 
E olhe que nem tão próximo estaria assim se o comandante fora do gramado não se acovardasse. 
Afinal, Levir chegou e pegou o time e, não fosse um pontinho do Vasco na partida da rodada final, o Galo não teria tido o desprazer de ir visitar - e ser campeão - da série B do Brasileiro. 
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Reconhecer que o próprio Tite já afirmou que tem uma dívida com um time, por acaso o Galo, não refresca muito. 
E seu comportamento entra para a lista de comportamentos que, adotados por alguns técnicos, tornam tais personas totalmente non gratas ao Clube mineiro. 
Entre elas, Geninho, que optou pelo Corínthians e sua grana deixando o Galo na mão; Cuca e seu mau-caratismo de abandonar o time, justo na estréia da disputa do torneio de Mundial de Clubes e Tite.
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Mas, já que Tite e sua comissão técnica não entra em campo, é importante que se destaque algo, positivo ou negativo de quem calçou as chuteiras. 
De Neymar o cai-cai, até o cavador de faltas ou penalidades que se voltam contra ele e seu eterno não amadurecimento. 
E, reconheçamos, Neymar não precisa, não precisava disso. E a prova é que ele conseguiu, em um momento de sua carreira, ter o lampejo do gênio, do líder em campo, quando levou o Barcelona à conquista épica da classificação contra o PSG, que havia goleado o time basco em Paris. 
Naquele dia, parece que dominado pelo espírito de grandes jogadores e líderes, Neymar deixou Messi e Luizito para trás e partiu lá para a frente, em direção à vitória. 
Porque voltou? Por que regrediu? Por que continua com sua postura de menino mimado, sempre mais ator que jogador, sempre mais banal e piegas que um ser humano que joga muita bola, mas também erra muito.
E não me venham dizer que ele - que quis humilhar um jogador da Costa Rica com a carretilha, completamente fora de ocasião e oportunidade; que depois da vitória contra o México, ridicularizou o retorno da delegação mexicana, ainda fazendo a torcida lembrar-se, nas comemorações, do Chaves - ninguém venha me dizer que Neymar estava diferente em campo, contra a Bélgica. 
Só se diferente por não ter conseguido jogar bem, errando a maioria do que tentou fazer, embora tenha feito um chute final que Courtois defendeu e tenha feito um lançamento para chute que Philipe Coutinho não conseguiu ajustar seu nariz, para mirar o gol.
Porque até naquele jogo, Neymar tentou simular e quando foi advertido pelo juiz, optou por parar de representar. O que, convenhamos o mais próximo de representar que ele consegue chegar é por meio de sua namorada. 
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Culpar Gabriel Jesus, por estar sendo cobrado de exercer funções para as quais não é talhado, ou William, ou até mesmo Paulinho, não é justo. Afinal, eles não se escalam, nem a teimosia do técnico pode ser atribuída a eles. 
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Mas que grande Copa fez Thiago Silva. O único a honrar a nobre arte do futebol.
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Enquanto a Copa rola

Enquanto isso, os meninos tailandeses emocionaram e emocionam o mundo todo, e a Tailândia dá show de organização e planejamento, apenas maculada pela perda do mergulhador voluntário. 
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A menina Victória, no interior de São Paulo, morta por engano, mostra a que ponto a leviandade e a maldade humana podem nos fazer chegar. 
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Temer, o suspeito de corrupção, vende parcela de ações golden share da Embraer, destruindo uma das quatro maiores empresas de construção aeroespacial do mundo, e com ela toda a tecnologia acumulada em anos de pesquisas e dedicação. 
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E Carmem Lúcia continua sem pautar a ação de prisão em segunda instância. 

Na mixórdia que esse país se transformou, especialmente, tendo em conta as questões relevantes do direito e da segurança jurídica, não é de se estranhar que um desembargador atropele a decisão de um tribunal colegiado; nem que um juizeco de quinta categoria, venha a dar palpite e mandar descumprir a ordem do juiz hierarquicamente superior, nem mesmo esse juizinho estando de férias. 
Ah! como seria bom se o juiz tivesse determinado a abertura de sua conta bancária e de sua família, desde ao menos o caso do Banestado, nunca bem explicado. 
E que bom se pudesse provar sua lisura, muitas vezes questionada, pelo tanto de voracidade em condenar Lula e vários políticos de sua base, embora, como mostram as fotos e as redes sociais, sempre esteja acompanhado de Dórias, Aécios, e outros pessedebistas de honra nunca suspeita. 
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Não vou entrar no mérito do oportunismo dos advogados que sem serem ligados ao PT ou ao ex-presidente, deram entrada com o pedido de habeas-corpus de Lula. 
Tiveram êxito, senão em soltar o prisioneiro, em deixar claro o mal que Carmem Lúcia provoca ao país. 
A culpada de tudo que aconteceu ontem é apenas dessa magistrada, que abusa de seu direito de pautar os temas do Supremo, e o faz com tremendo escárnio em relação às ambições, desejos e sentimentos da sociedade brasileira. 

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Retorno com os pitacos após a final da Copa que será entre a França e a Inglaterra, e a França sagrando-se campeã. Ou então entre a Bélgica e a Inglaterra, com o British Team comemorando ao final. 


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