segunda-feira, 17 de junho de 2019

Protagonismo de Guedes mostra lacunas em seu caráter, ao menos de solidariedade. E os vazamentos de Moro... que podem, e os que não podem

Uma semana repleta de leituras, diferentes interpretações  e novidades. Assim pode ser caracterizada a semana compreendida pelos dias 10 e 14 de junho.
No intervalo, entre os desmentidos, as mentiras, e o jogo de dissimulação provocado pelas reações do ex-juiz e seu bando de amigos da Procuradoria, também conhecida pela alcunha de República de Curitiba, a paralisação do dia 14.
Longe, muito longe de poder ser caracterizada como uma greve geral. E ao mesmo tempo, com uma participação popular que poderia ser classificada como impressionante, pela capacidade de aglutinar milhares de pessoas que ocuparam a Av. Paulista, em São Paulo, e vários quarteirões da Afonso Pena,  na capital mineira.
***
Verdade que o principal motivo da manifestação, a Reforma da Previdência trata de uma questão que afeta a um público maior que aquele presente nas ruas. Mas, também é verdade que a maior parte dos debates, das notícias, dos anúncios, dos comentários sobre a Previdência, sua crise no Brasil, e a necessidade de promoção de alterações, além das propostas apresentadas não foram nunca adequadamente tratadas e debatidas.
***
Que o regime de Previdência tem atravessado um período de crise em todo o mundo, especialmente maior longevidade que aqueles que são seus beneficiários têm  ostentado, não se discute.
Afinal e felizmente, uma das consequências consideradas mais benéficas do progresso de nossas sociedades, tem sido o avanço da medicina e de sua capacidade em assegurar maior tempo de vida, com maior qualidade para todos nós.
***
Vivendo mais tempo, e aposentando depois de respeitados tempos obrigatórios de contribuição, independente da idade da pessoa ao se aposentar, verifica-se que, mesmo naqueles países em que existe a definição de uma idade mínima (o que não é o caso do Regime Geral de Previdência no Brasil), a Previdência de tempos em tempos enfrenta um problema sério: a expectativa de vida elevada e a atualização dos valores a serem pagos em todo esse período de vida como aposentado, indica uma fragilidade bastante consistente, comparada ao montante do fundo capitalizado (individualmente ou coletivamente) para financiar essa despesa.
***
Foi assim no Japão, por exemplo, quando o governo resolveu elevar as idades mínimas limites para a aposentadoria, bem como as contribuições a serem pagas pela população. Como foi assim em outros países da Europa.
Em comum, sempre tais alterações ou reformas, acarretam manifestações, nem sempre disciplinadas, dos atingidos pelas mudanças.
***
Então, as manifestações aqui realizadas são típicas do jogo democrático, juntando especialmente aqueles que se consideram os mais atingidos, tanto em seus direitos futuros, quanto em sua expectativa de direitos.
E, se aqui no Brasil as manifestações não são maiores, embora sejam importantes até como instrumentos de pressão sobre os políticos que deverão dar seus votos a favor das reformas, em parte isso é reflexo da nossa mídia, dos órgãos de comunicação que permitem que inverdades ou meias-verdades sejam disseminadas, contribuindo para a desinformação da maioria da população.
***
Infelizmente, a ação das empresas da mídia tem a ver com seus interesses particulares, muito mais que com a obrigatoriedade de, detentoras de concessões públicas cedidas pelo governo, ajudar na divulgação da realidade da situação previdenciária no país.
Então além de não informar, a imprensa desinforma. Quando muitas vezes, sem qualquer análise crítica, procura atender ao interesse do governo e do governante de plantão, confundindo atender ao interesse público, do povo, com o interesse de quem está no poder.
***
Ok, Devo admitir que estar no poder é sinal de que tem respaldo público, mas não necessariamente da maioria da população do país.
Afinal, aqui no Brasil, nas últimas eleições, o desencanto com a política em si mesma e seu exercício, levou ao poder um candidato derrotado pelo número de eleitores que, desencantados, optaram por anular seu voto, votar em ninguém, sem contar o fato de que ainda havia mais de 40 milhões de eleitores que se manifestaram pelo candidato da oposição.
Ou seja: Bolsonaro ganhou o governo, mas não é o porta-voz de anseios de toda a população. Longe disso.
***
Mas, os interesses das empresas da imprensa ainda se unem aos interesses de outros grupos de capitais associados, como os bancos que as financiam e que, nesse momento de crise econômica e e crise das empresas da mídia, exigem divulgação parcial, apenas daquilo que favorece aos seus lucros.
***
É isso que explica o porque da discussão da reforma ser tudo, menos democrática. E os comentários e análises terem de tudo, menos o chamado contraditório. Com opiniões contrárias sendo escamoteadas, ridicularizadas, ou apenas relegadas ao esquecimento.
***
Mas, dito isso e perdido algum tempo com essas divagações, a semana foi também de leitura do Relatório da Reforma da Previdência, feita pelo relator, deputado Samuel Moreira e, posteriormente das interpretações daquele texto.
E nessa hora, em que há que se reconhecer que o projeto de Reforma encaminhado ao Congresso pelo governo foi aperfeiçoado em vários de seus aspectos, não pode passar despercebido o papel e os chiliques do ministro tigrão da Economia, o irado e raivoso e irônico Paulo Guedes, que em suas horas de lazer e folga, junto aos banqueiros seus colegas e amigos, deve se contentar em ser apenas um tchutchuca.
***
Participando ativamente da grande usina de crises em que o governo se transformou, como bem disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o ministro da Economia resolveu assumir o protagonismo de vez, nas hostes ou para agradá-las bolsonarianas.
Assim, veio a público criticar o relatório que se curvou à pressão dos funcionários públicos, principalmente aqueles do Congresso,e retirou 30 bilhões de economias da sua proposta original, por ter flexibilizado as regras de transição para o novo regime.
***
Em boa hora, mais uma vez Maia defendeu seus pares, alegando que a proposta do relator era muito mais rigorosa que aquela que o próprio Guedes enviou ao Congresso, para cuidar das regras de transição dos militares.
O que serve para mostrar, de contrapeso, como Guedes consegue ser sabujo. E bajular aos seus patrões.
***
Aliás, outro não é o motivo de seu histrionismo, ao alegar que a reforma, se feita conforme o Relatório, irá destruir a Previdência.
E aqui o problema não é nem o BPC, que felizmente não será alterado, como queria o tigrão para os idosos pobres, nem a aposentadoria do trabalhador rural.
Na verdade, a questão central é o Regime de Capitalização, derrotado e excluído do relatório. Como tem sido derrotado e eliminado dos países que adotaram esse regime - em total de 30, em todo o mundo, e já arrependidos em número de 18.
***
Mas se a ideia é ruim, porque a insistência de Guedes em sua aprovação e implementação?
Por que os fundos que a previdência e/ou uma poupança individual para a aposentadoria poderiam criar, e que seriam geridas pelos grandes bancos, alcança a casa dos trilhões de reais.
Dinheiro demais, a custo muito reduzido, se algum, para ficar à disposição de bancos financiarem grandes interesses de agentes financeiros em suas operações especulativas nas bolsas, ou de megacorporações.
É essa fábula que Guedes, o tchutchuca do sistema financeiro se comprometeu a entregar aos seus colegas, e agora "patrões",  e que ele não poderá honrar.
***
Logo ele, oriundo do sistema financeiro, ex-diretor de banco, ex-gestor de Fundos com operações suspeitas de vários milhões de reais em negociações, conforme a CVM, ávido para entregar os fundos da previdência para a gestão de seus camaradas....
***
Por isso sua reação inusitada, seu esperneio...
E a tentativa de jogar para a claque de Bolsonaro, para ver se a pressão das redes sociais desse bando de idólatras consegue demover os deputados de suas convicções (se alguma...) fazendo retornar, em plenário essa semente do mal.
***
Para isso, Guedes não hesita em queimar antigos amigos, desfazer-se de amizades. Jogá-las aos leões.
Por isso, esse capacho que ocupa o ministério da Economia, não se sentiu nem um pouco ofendido por ter visto Bolsonaro entrar em sua área, para sugerir que a Petrobras não aumentasse o preço de combustíveis; nem para proibir que propagandas fossem feitas pelo Banco do Brasil, de novo sem conhecimento de Guedes.
Agora, a conversa direta com um subordinado seu, sem seu conhecimento.
Afinal, foi o próprio Bolsonaro que afirmou que falou ao Levy que ou tirava o diretor indicado, ou na segunda feira, os dois estariam na rua.
***
Fosse do conhecimento de Guedes o desejo manifesto pelo presidente, o mínimo que esse ex-banqueiro deveria fazer era dizer ao seu patrão que ele resolveria o problema internamente.
Até com a saída, mais honrosa, de Levy.
***
Mas na verdade, o que esse ministrinho sem qualquer pejo (para ficar mais claro, sem qualquer vergonha ou pudor) está fazendo é calar-se para dar a entender que está preocupado com a pauta de seu chefe. Nem que para isso, tenha que demitir Levy, por esse ter seguido a legislação financeira e bancária, que impede que certas cláusulas contratuais tenham seu conteúdo aberto a conhecimento público.
***
Nem Levy é bobo em incorrer em crime para agradar à miopia persecutória de Bolsonaro, nem o próprio Guedes desconhece que, a abertura desejada por seu capitão pateta dos financiamentos feitos pelo Banco, pode acabar criando instabilidade e medo em eventuais empresas/empresários internacionais, com intenção de investir no país.
***
Mas vale passar a imagem de que ficou ao lado do presidente, seja porque o seu subordinado não abriu a "caixa-preta" do Banco, seja por que não repassou mais dinheiro do Banco ao Tesouro - quem sabe até porque tal medida poderia ser considerada, depois uma espécie de "pedalada".
***
Se Guedes ficou chateado com Levy pela sua dificuldade em repassar os empréstimos ao Banco feitos pelo Tesouro, é mais compreensível.
Afinal, é na mão desse ministrinho liberal que pela primeira vez a Regra de Ouro teve de ser alterada para conseguir cobrir o rombo que ele, do alto de sua competência não conseguiu fazer.
***
Por isso, acena com a crítica à Reforma da Previdência, para agradar aos seus aliados no mercado financeiro. E para conseguir o apoio das classes empresariais produtoras, já que a capitalização desenhada contém também a destruição da segurança ao trabalho, que a legislação trabalhista tentou, mas não conseguir atingir.
Ou apenas para mostrar - além de sua falta de caráter, e solidariedade, que joga o que seu mestre mandar. E deixa sua defesa ser feita por adoradores de mitos em redes sociais.
***
De Moro, dizer o que? Depois que o pacote de medidas contra a corrupção e a criminalidade que ele apoiou e encampou propunha que qualquer prova poderia ser usada no combate ao crime, independente da forma que fosse obtida, só restaria mesmo clamar agora, pelo crime do vazamento de suas conversas e conchavos.
Afinal, Moro é apenas um ministro de desculpas, escusas e descuidos. E vazamentos são algo típico de sua praia, desde que ocupava a cadeira de juiz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro, as rimas são, de fato e propositalmente pobres, como aqueles a quem retrato.
Grande abraço.


JAMÉ NARO!

DesMOROnam os pilares!
E uma parte da crença.
A farsa assume novos ares,
Mas ainda com cara de doença.

E neste naMORO corneado
Fica um quê de desilusão:
O príncipe desfigurado
Mantém a pose de pavão.

E não deMOROu demais!
A mentira anda com muletas
De tvs, rádio e mídias sociais
Querendo dourar a mutreta.

Do outro lado da montanha
Um tigre ruge e esperneia
Ao ser revelada sua artimanha
Mudaram o cardápio de sua ceia.

O bruxo senil toca seus tambores,
Um outro fala em climatismo,
A sacerdotisa de vestes bi-colores
E o educador que semeia terrorismo.

No planalto surge um deserto
Prolifera o que deveria sumir
O futuro nunca foi tão (in)certo
E pior pode estar por vir.

Melhor já ir embora
Príncipe, tigre, bruxo, sacerdotisa
É tanta bobagem que aflora
Mas que aos tolos ainda hipnotiza.

Fernando Moreira