terça-feira, 23 de julho de 2019

Vamos usar o VAR para Bolsonaro

Não há mais uma partida de futebol que não tenha sua presença incômoda.
E, convenhamos, até de forma correta, o árbitro de vídeo, que atende pela sigla VAR  se transformou em mais que apenas um figurante, em um personagem chato. O personagem principal.  Que atrapalha o andamento e ritmo do jogo.
No afã de impedir ou evitar todo e qualquer erro ou falha humana, o VAR está sempre lá. Onipresente.
Impedindo que a torcida se manifeste espontaneamente na hora do "momento maior do futebol", o gol, constrangida agora a uma verificação pelo juiz de vídeo, pelo juiz de campo, quanto à legalidade do lance.
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Há casos em que o sofrido torcedor - conhecido pelos apelidos de geraldino ou arquibaldo antes de mais uma trapalhada patrocinada pela entidade máxima do nosso futebol, FIFA ou CBF e sua decisão de elitizar o esporte mais popular do mundo, transformando os estádios em arenas - deve esperar minutos preciosos para poder  vibrarem com a confirmação do gol.
Aliás, é forçoso reconhecer que o VAR está conseguindo atingir o anticlímax: em muitas ocasiões, a torcida vibra pela desconsideração do gol, pelo gol anulado.
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No início do pitaco de hoje, comparei aquilo que era para ser uma ferramenta para aumentar o brilho do jogo, a um personagem de teatro, um ator. Mesmo que canastrão.
Engano meu.
Como a maioria dos analistas, cronistas esportivos e integrantes das inúmeras mesas de debates de futebol admitem, o VAR se comporta mais como alguém que adentra o palco, invade o cenário e interrompe a exibição, interferindo no andamento e na dinâmica do texto representado. E isso, com a intenção de esclarecer para a plateia atônita alguma fala, algum gesto. Quando não para voltar a história alguns instantes antes, e passar a explicar, melhor dizendo, interpretar a trama a peça.
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Como vários dos amantes do futebol, confesso que aplaudi o surgimento da ferramenta.
Acreditava que, em alguns lances - como da bola que ultrapassou a linha do gol; do impedimento claro, antes da conclusão da jogada; como da expulsão por atitude antiesportiva, não vista pelo juiz, ou a marcação da falta dentro da área-, o espetáculo sairia beneficiado, pela possibilidade de impedir injustiças flagrantes.
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Entretanto, tão logo entrou em funcionamento, de forma concomitante, os "velhinhos do Board da FIFA" já resolveram que não ficariam de fora de mudança de tal magnitude. E, para não perderem a oportunidade de aparecer, alteraram algumas regras.
Como, por exemplo, a do impedimento. Que agora passa a ser anotado depois de concluído o lance e não quando do lance em andamento.
Ora, o mero ato de aguardar a definição da jogada, mesmo que com alguns segundos apenas de intervalo entre o fato e a conclusão, provoca uma sensação ruim, de perda de tempo, já que vários lances que acontecem, são vistos e registrados, acabam sendo anulados.
Como se a vida pudesse voltar atrás e uma borracha pudesse anular o que, de fato, aconteceu.
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E pior.
Temerosos de serem punidos ou sujeitos a punição por erros cometidos, mesmo que involuntariamente, os juízes, auxiliares, árbitros de campo, preferem acomodar-se e deixar "as águas rolarem e o barco seguir", para depois, em havendo necessidade, interromper o jogo, ficar vendo a telinha lateral ao campo, e decidirem o que valeu ou não, de tudo que o torcedor viu, sentiu, vibrou.
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Importante lembrar que uma das justificativas do uso do VAR era evitar a cena de jogadores em bolinho sobre o árbitro, reclamando, ofendendo, exigindo a marcação de algum lance discutível.
Pois esse comportamento não foi abolido. E em minha opinião apenas ficou mais grave. E o uso opcional do VAR pelo juiz tem contribuído ainda mais para o surgimento de reclamações e acusações de favorecimento.
Acusações que ganham agora mais força, com o apoio do emprego ou não do instrumento.
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Razão por que, utilizando da experiência de outros esportes em que o uso da tecnologia tem sido muito benéfico, a ponto de se tornarem exemplo para o futebol, acho que o uso do VAR deveria ter um limite.
Algo do tipo, cada time poderia ter dois ou três desafios ao longo de uma partida, ou de um tempo de futebol.
Tendo que, a partir daí, saber a hora de pedir a intervenção do vídeo,  a hora de desafiar o ponto, para não perderem uma oportunidade de fazerem valer seu direito em momento mais oportuno.
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Ora, se funciona como desafio, no volei, no tênis, não haveria como não trazer alguma melhoria para o futebol, deixando claro que os lances de se a bola entrou ou não, de alguma agressão que possa ter havido, etc. não deixariam de ser comunicadas ao árbitro principal.
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POR QUE O VAR?

Mas, não se iludam aqueles que puderem achar estranho que o pitaco hoje trate de tema tão banal quanto o do árbitro de vídeo.
Na verdade, não estamos apenas falando de futebol. Como diz a propaganda de um canal esportivo, não é só futebol...
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A ideia é aproveitar o uso do VAR para poder voltar atrás e corrigir a quantidade de trapalhadas que esse imbecil eleito presidente do Brasil reconheça-se, de forma democrática, consegue produzir.
Com grande mérito do personagem, também é necessário admitir.
Porque a impressão que se impõe é a de que Bolsonaro parece uma linha de montagem. De bobagens.
Isso sem falar em liturgia do cargo, em assumir as responsabilidades de quem, desde eleito deixou de ser líder de um partido ou de uma massa de eleitores, para se tornar presidente de todo o país.
O que me leva a crer que a ficha não caiu para ele, ainda. Se é que podemos aguardar que isso vá acontecer algum dia.
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Mais recentemente, se houvesse o VAR, poderíamos não ter registrado para a história que o presidente de todos os brasileiros trata os nordestinos como paraíbas. Uma gíria que, para os cariocas, de onde provém o presidente serve para designar todo mundo que nasceu da Bahia para cima.
Acontece que, no caso de Bolsonaro, e sua estúpida impulsividade - ou ele acha que estava sendo apenas engraçado-, a expressão faz lembrar a forma de referência pejorativa como alguns cariocas (a minoria, felizmente!) se refere ao nordestino de forma geral.
Um termo do mesmo tipo condenável que aquele adotado por alguns paulistas, quando se referem à "baianada" de algum indivíduo ou a algum comportamento de "baiano".
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O problema aqui não é de mimimi, ou de politicamente correto. Trata-se de um presidente da República, por mais plantadora de bananas seja esse república. Referindo-se de forma inapropriada, especialmente a um adversário político a quem está desejando tratar a pão e água.
E tendo como agravante que essa pessoa tratada como desafeto pelo presidente, não é apenas uma pessoa comum, já que representa, tanto quanto Bolsonaro para  seu público em nível mais amplo, a mesma importância para todo o povo do Maranhão.
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Dá-lhe VAR. E nós poderíamos não ter de assistir a cenas de constrangimento como o do presidente negando que exista fome no Brasil.
Ou criticando o fato de que os dados sobre desmatamento sejam falsos. Ou pior, manipulados.
Enquanto seu governo prossegue na sua generosidade com os empresários do agronegócio, ampliam a lista de uso de produtos tóxicos no plantio, e ele se preocupa em nomear seu filho embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
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Alguns irão talvez, pensar que o presidente já utilize o VAR, tamanha a quantidade de asneiras que despeja e, depois, tem de se fazer a maior ginástica para reparar, reinterpretar, despejar mais besteiras (em quantidade), em substituição às mais graves ditas anteriormente.
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Foi assim, com o "golden shower", com o ministro do STF terrivelmente evangélico, com a fome no Brasil, e agora com o INPE.
Mas nesses  casos, o presidente não volta atrás apenas. Por mais difícil que possa ser para entender, ele vai além.
Como no caso do INPE, agora acusado de não poder divulgar dados, sempre divulgados antes, para não prejudicar relações comerciais do país com outras nações, defensoras do meio ambiente.
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Não nos esqueçamos que esse idiota que ocupa a presidência do país ameaçou abandonar o Acordo de Paris, para seguir ao seu modelo de autoridade, Trump; fez pouco caso dos acordos comerciais com a União Europeia, por não respeitar o Mercosul.
Também foi ele que deixou claro, várias vezes, que não se importava com a recusa de países como a Noruega em continuar financiando fundos em prol da Amazônia, o que sob sua ótica era apenas a demonstração cabal de nações que queriam vir explorar a virgindade de nossas riquezas naturais.
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Isso de um presidente que se insurgiu contra a propaganda do Banco do Brasil, tratando da diversidade, mas aprova a da Embratur que convida turistas estrangeiros a virem "amar".
Na lógica já exposta pelo próprio presidente, não há nada muito anormal, se o turista vier para namorar nossas mulheres.
O que não combina com seu modo de pensamento obtuso é que vendamos a imagem de que no Brasil, há uma população, não inexpressiva de GLBTs+.
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Mas, para quem está preocupado com Bruna Surfistinha e o que isso evoca de nossa moral e costumes, não é muito estranho ver o presidente ficar contra os números. Quando ele deveria ficar contra o desmatamento.
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E enquanto ele comete todas essas asneiras, o país segue às tontas, razão porque para terminar, retomo a questão do VAR.
Porque como tem ficado claro pelos comentários dos entendidos (se é que alguém entende!), o VAR deve sempre voltar e examinar a origem toda do lance. Foi assim por exemplo, que se manifestaram em relação ao pênalti claro sofrido por Elias, do Galo, no papelão que foi o jogo contra o Fortaleza. Tudo porque na origem da jogada, havia sido cometida falta no lateral do time cearense.
O que significa que o por mais claro que tivesse sido, o pênalti não deveria ter sido marcado.
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Acontece que na origem de nossa história republicana, não houve debate, não houve apresentação de propostas. Houve apenas muita agressividade, muita declaração rancorosa, contra .... nunca a favor de nada.
Tudo centrado em uma facada que....
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É isso.

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