Assim, não nutro qualquer sensação de solidariedade ou simpatia por esse ex-juiz, cuja arrogância assumiu proporções tão gigantescas que, junto com o poder que o cargo de juiz lhe proporcionava, acabou por inebriá-lo.
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Como responsável pela operação Lava Jato, sempre adotou um comportamento em que foi mais que juiz, um justiceiro. Aplaudido e incensado pela mídia; por todos os políticos que não tinham vinculação estreita com o PT, independente do tipo de comportamento delituoso ou pleno de indícios de ilegalidades; transformado em herói nacional por uma parcela da população, muitas vezes sem condições de analisar de forma isenta e criticamente qualquer que fosse a novidade repercutida pelos meios de comunicação ou pior, alardeada pelas redes sociais, Moro rompeu por várias vezes o limite da legalidade.
Cínico, para justificar as arbitrariedades e ilegalidades cometidas, sempre que cobrado apresentou suas escusas mais singelas, sempre alegando algum tipo de descuido, algum tipo de engano no envio ou na publicação do que quer que fosse, o que é curioso em uma pessoa que, na maior parte das vezes mostrou-se extremamente cuidadoso e cioso de suas responsabilidades.
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Lembre-se que ele se encontrava em gozo de férias, no exterior, quando ao saber da decisão de um desembargador de plantão que concedia "habeas corpus" a Lula, imediatamente se pronunciou contrário à decisão, entrando em contato com autoridades da PF, orientando quanto ao descumprimento da ordem de soltura, ou seja, mostrando estar, mesmo em seu descanso, sempre atento ao que ocorria em seu domínio.
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Mas, sem querer, por um lapso, pelo qual se desculpou, gravou sem autoridade para tanto e, pior, divulgou mensagens de comunicação trocados entre a presidente da República e políticos (notadamente Lula!), além de ter repetido o engano, ao gravar e divulgar mensagens privadas de Lula e seus familiares.
Aqui, nesse caso, se necessária a gravação de Lula e suas conversas com familiares, manda o respeito e o bom senso que não se divulgue o conteúdo sem relação com o objeto de investigação.
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Mas, o juizinho de Curitiba se achava cada vez mais próximo de ser Deus. E aos deuses, é permitido tanto frequentar recepções e festividades em que estão presentes personalidades que poderão vir a ser objeto de seu julgamento futuro, ainda na mesma operação Lava Jato; quanto é permitido errar, ou pior, agir de forma criminosa ou ilegal ou aética, por sentimentos às vezes tão torpes quanto a vingança.
Afinal, para os que frequentam o Olimpo, tudo é permitido, exceto falhar.
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Como todo ser humano, a soberba o dominou e a mosca azul do poder mais amplo deve tê-lo picado de forma trágica.
A história todos sabem: antes mesmo da eleição de Bolsonaro, em segundo turno, Moro foi sondado para abandonar o cargo de magistrado e vir a se tornar ministro da Justiça. Um superministro, como se dizia na ocasião. Com superpoderes para implantar um pacote anticrimes e corrupção, cheio de abusos, como por exemplo, o da utilização de provas - conseguidas de que forma fossem obtidas, em processos de investigação criminal. Ou o ponto que tenta implantar o excludente de ilicitude para policiais no exercício de suas atividades e missões.
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E aqui, devemos deixar claro que sempre a legítima defesa fez parte do nosso direito, apenas que quando tal ação de defesa se faz com as mesmas armas e intensidade do ataque devido.
Afinal, uma pessoa armada que invade um ambiente e coloca em risco a todos que ali se encontravam, pode e deve até, ser tratada como alguém que ameaça a vida de outros e, como tal, ser recebida a tiros. Ninguém irá receitar que se jogue chinelos em tal pessoa. Ou que se tente desarmar tal pessoa com um canivete ou faca.
Mas, daí a permitir que uma pessoa com armada, ameaçando outras pudesse levar um tiro, à queima roupa, na nuca. Ou que, se estivesse, por exemplo, nas ruas de alguma cidade pudesse ter um carro atirado em sua direção, parece-me incabível. Caracterizaria muito tranquilamente o uso de força excessiva na reação.
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A situação ficaria ainda mais estranha se o policial em missão fosse o agente autorizado a atirar e matar, com uso de uma desculpa de excludente como o mero risco ou a emoção do momento.
Ora, não bastasse a aparência de que alguns policiais parece ter verdadeiro prazer sádico em matar, como o confirmam as vítimas - pobres, pretas, jovens, de comunidades da periferia - de balas perdidas, por exemplo, no Rio.
Vá lá, é uma minoria, felizmente.
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Mas, supondo que essa forma de conduta seja algo incentivado dentro das academias ou cursos de formação militar, o que podemos esperar dos jovens militares lançados às ruas?
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Mas, supondo que essa forma de conduta seja algo incentivado dentro das academias ou cursos de formação militar, o que podemos esperar dos jovens militares lançados às ruas?
E se essa conduta ainda for acompanhada de postura como a de governador do Rio, antigo juiz, parece que também acreditar-se integrante da categoria dos semideuses, comemorando a morte de um jovem com problemas psiquiátricos, abatido - segundo o que consta, no caso corretamente, nos protocolos e manuais- sem apelação.
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Ora, para uma polícia com membros que acreditam que bandido bom é o bandido morto, o excludente de ilicitude é uma ameaça.
Mas, pior para Moro foi, em seu pacote, a questão da legalidade de obtenção de provas.
Como o feitiço tende sempre a voltar-se contra o feiticeiro, com gravações que podem não ter sido obtidas legalmente, ou seja as provas que ele sempre desejou usar, ficamos sabendo de suas ações injustas e irregulares, criminosas mesmo, na operação Vaza Jato.
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Dito tudo isso, há que se comemorar, as atitudes de total desrespeito que "nosso presidente" vem adotando em relação ao seu ministro.
O que, em minha opinião, revela ao menos algum resultado positivo dessa gestão tão caótica e desequilibrada.
Bolsonaro formatou e definiu Moro com a estatura que o juizinho merecia: minúscula.
Como toda pessoa que é rancorosa e ressentida, enquanto pode usar o juiz, o capitão o usou. Foi assim que conseguiu que Moro, a poucos dias da eleição em segundo turno, mais uma vez viesse a público, divulgando fatos em ocasião mais que inoportuna, de delação cometida por palocci.
Eleito, aproveitou para navegar na popularidade sem fundamento de seu ministro. Mas com medo da sombra em que o juiz poderia se transformar, e conhecedor da personalidade pouco confiável do juizinho, antes de ser traído pelo ministro, tratou de divulgar as negociações que fizeram Moro abdicar de uma situação de total tranquilidade para o risco total do jogo político.
Tendo deixado a magistratura, no futuro Moro seria indicado para o Supremo. Precedente já teria, no governo Collor, com Francisco Rezek.
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Foi aí que Moro embarcou, ou mordido pela mosca azul, na aventura de se tornar o candidato de Bolsonaro para sucedê-lo, em 2022.
Mas Bolsonaro não irá entregar a rapadura com tanta facilidade e Moro corre o risco de, desmoralizado, nem ir para o Supremo, nem tornar-se candidato. Menos ainda de continuar ministro.
Especialmente se a desmoralização de seu ministro fizer parte de um esquema de turmas de milicianos, e organizações criminosas de tal perfil, elaborado para enterrar qualquer possibilidade, até por vingança, de que um juizinho arrogante, creia ser possível endurecer penalidades e enquadrar criminosos de alta periculosidade. Alguns deles, muito bem relacionados no Planalto.
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Só espero que, em meio a sua desventura, Moro não saia e Bolsonaro não chame para substituí-lo ao seu dileto amigo, Queiroz.
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Queimadas e Amazônia
Chamar o planeta de nossa casa, é algo tão natural, como chamar a terra de nave mãe, considerar a todos nós como parte de uma mesma viagem.
Chamar a Amazônia de nossa casa também é algo que não deveria escandalizar a qualquer pessoa que lembre que essa região do mundo não é apenas brasileira. Vários povos, nações, países têm territórios na região da selva.
Inclusive a França, e sua Guiana.
Tratar essa forma de expressão como algo que, ao contrário de servir de alerta e de solidariedade, ou de disposição de ajudar a resolver problemas com algum sinal de desejos de ataque à soberania brasileira, só pode ser coisa de algum paranoico. Maluco total.
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Macron, como presidente da França tem toda a razão em se preocupar com a questão das queimadas na selva, que poderão em breve atingir seu próprio território.
Tem toda a razão em querer discutir em nível internacional - no âmbito do G7, medidas que poderiam trazer alguma ajuda, por menor que fosse, especialmente em termos de recursos escassos, como dinheiro.
Os países do G7, também preocupados, disponibilizarem recursos para ajudar no combate às queimadas no Brasil em montante de 90 milhões de reais, aproximadamente, é algo a se comemorar.
Exceto se o presidente do Brasil se chamar Bolsonaro. E se, ao que parece, sua política externa é toda traçada com o objetivo de nos desmoralizar e, desfazendo tudo de positivo que Lula criou no cenário internacional, nos ridicularizar em escala planetária.
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Situação que, para sermos exatos, tem conseguido alcançar com raro brilho.
O Brasil virou chacota.
E Bolsonaro só pode justificar suas ações utilizando argumentos antiglobalistas, de isolamento de nosso país, ou ainda pior, como forma de criar um campo de batalha, naquilo que seria o equivalente a incentivar uma guerra pelas Malvinas, de forma a, como os militares autoritários e fascistas da Argentina dos anos 70/80, procurar obter coesão interna, à custa de um patriotismo tolo e descabido.
O problema é que as ações de Bolsonaro são sempre contrárias ao que recomenda o bom senso, e se não induzem, acabam sendo interpretadas, como sinais de que a preservação ambiental é conversa de globalistas marxistas, que o governo jurou exterminar.
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Assim, desde as declarações de que a região amazônica deve ser objeto de exploração predatória (sob uma suspeita ideia de que os índios desejam ter uma vida integralmente aculturada); ou medidas de corte de gastos com a fiscalização ambiental ou as instituições de conservação do meio-ambiente; ou ainda de desmentir dados de pesquisa oficiais, apenas por não serem de seu agrado, trocando diretores de órgão de coleta de informações preciosas e científicas de alta qualidade - o conjunto de decisões de Bolsonaro acaba sendo entendido como um convite para todo aquele que quiser explorar de forma irresponsável e inconsequente nossa natureza.
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Aos que têm interesses de lucro fácil, não há necessidade de um segundo convite.
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Enquanto isso, o capitão dispensa a ajuda financeira internacional, sob a alegação de que serve a interesses contrários a nossa soberania.
Seu filho, em vias de ser indicado embaixador nos Estados Unidos, afirma que diplomacia se faz com armas, incentivando ainda mais o lobby da indústria americana.
Bolsonaro só aprova ajuda dos Estados Unidos e Israel, o primeiro dos dois países que já foi até convidado a vir explorar nossas riquezas minerais da selva.
E o mau gosto de tratar toda a questão, séria, como uma questão de primeira dama mais bonita é a peça que faltava para comprovar mediocridade de nosso presidente.
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Certo está Macron: o Brasil merecia coisa melhor.
Melhor que uma primeira dama charmosa, elegante, jovem, bonita, mas com toda a família envolvida em atos ilícitos e criminosos.
O que assegura que, em termos de folha corrida de antecedentes da família, ao menos, Michelle vence a francesa sem precisar fazer força.
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Para terminar, um alerta a todos os navegantes, sem maiores condições de pesquisar e aprofundar o conhecimento.
O desmate é feito com a passagem de tratores puxando correntes de ferro.
As árvores abatidas ou arrancadas pelos tratores e máquinas pesadas, devem secar para poder ser utilizadas.
Apenas depois de já aberta a clareira ou os vários campos de futebol, equivalentes, é que a limpeza do terreno é facilitada, caso seja feita por meio do uso do fogo.
Ou seja: a queimada é depois que o desmate já foi feito.
E a madeira já está seca.
E o terreno pronto para o agronegócio irresponsável avançar contra a vida.
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É isso.