terça-feira, 20 de agosto de 2019

Guedes, o posto Ipiranga, o blefe do acerto de suas ideias e as denúncias de comportamento irregular de que sempre é acusado e de que sempre se safa

"Ainda é tempo de impedir que o fanatismo ideológico do senhor Guedes destrua 90 anos de história da economia brasileira, para atender ao interesse de um pequeno grupo de banqueiros, financistas e agroexportadores, passando por cima do interesse do “resto” da sociedade brasileira". 

Com esse parágrafo de alerta, o professor José Luís Fiori, professor titular de Economia Política Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador conceituado e autor de vários livros, conclui seu artigo "O ditador, a sua "obra" e o grande blefe do senhor Guedes", cujo link para acesso ao texto integral passo a seguir: 
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/591628-o-ditador-a-sua-obra-e-o-grande-blefe-do-senhor-guedes-artigo-de-jose-luis-fiori
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Como no caso de recomendação de leitura de um artigo de análise crítica, o "spoiler", antes de funcionar como um estraga prazeres pode atiçar a curiosidade do leitor, vou antecipar aqui que o artigo começa analisando a política econômica instaurada no Chile do ditador Pinochet, no período de 1973 a 1990, sob o comando de Sergio de Castro, então no papel de superministro.
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Como se sabe, no período, as políticas adotadas transformaram o Chile em verdadeiro laboratório de implantação de políticas ultraliberais, inspiradas por Milton Friedman e seus colegas da Escola de Chicago.
Como salienta o professor Fiori, tal experiência,  sempre apresentada como um êxito retumbante, apenas se sustenta com base em uma descrição da história falsificada, capaz de permitir comparações espúrias, e de forte caráter ideológico, que não encontra suporte nos dados reais.
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Dessa forma, o artigo procura, de forma bastante, sucinta traçar um perfil da economia chilena antes do fatídico golpe de 11 de setembro, capaz de caracterizá-la como uma economia extremamente simples, primária exportadora, com base na produção de cobre, além de madeira, peixes, frutos e vinho.
O acesso a todos os demais produtos necessários, inclusive alimentos, petróleo, etc. se fazia por meio de importações, o que tornava as características econômicas, demográficas, geopolíticas daquele país extremamente simples.
Adicionalmente, o Chile podia ser considerado um país isolado do resto do mundo.
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Independente de tais características, foi aí que os liberais de Chicago resolveram experimentar todo seu estoque de reformas liberais, reformas que para serem colocadas em prática, aproveitaram-se de que a feroz e sanguinária ditadura chilena impôs um Toque de Recolher a toda a população, que se estendeu de 1973 até 1985.
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Mesmo sob tais circunstâncias, as estatísticas permitem identificar dois subperíodos, um de 1973 até 1982, e outro deste ano até 1990.
O primeiro deles, sob a inspiração dos Chicago Boys, gerou uma crise de dimensões tão catastróficas que Pinochet demitiu o ministro Sergio de Castro, e começou a reverter várias das medidas até então adotadas.
Segundo o artigo, o PIB chileno caíra 13,4%, o desemprego alcançou os 19,6% e 30% da população passou a sobreviver de assistencialismo.
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Se o Chile hoje apresenta crescimento invejável, situação econômica estável, tornando-se referência para outros países em estágio similar de desenvolvimento, tais conquistas só foram possibilitadas pelas medidas adotadas após a ditadura, de 1990 até 2019.
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Vale destacar que, por ter participado de equipes de trabalho e assessoria do programa ultraliberal, cujo resultado foi ter levado o Chile ao fim do poço, é que o senhor Guedes é considerado um economista de renome e expressão.
Sem querer questionar sua capacidade intelectual, reconhecida por muitos, a questão maior trata de ele se apresentar surfando uma onda liberal que arrastou o Chile para um caos econômico, mas mais importante ainda, social.
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E adota tal comportamento, de guru, ou Posto Ipiranga do capitão do presente desgoverno, assentado em uma farsa, ou melhor, uma fábula que a mídia ajuda a propagar, sabe-se lá com que tenebrosas intenções.
O Chile liberal foi um fiasco!
Guedes, ao que consta não teve papel de grande projeção!
Suas políticas pró mercado, no fundo nem podem ser assim chamadas, já que são mais pró grandes empreendedores, muito longe da ideia de mercados competitivos dos livros escolares.
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Fundamentando sua trajetória e ideias em uma visão corrompida - caso da economia chilena, não é de se estranhar que sobre o ministro pesem outras questões, de caráter moral até.
Como sua participação em gestão de fundos privados (e públicos) de investimento.
Ou, como agora noticiado pela Folha, sua participação ou a presença na gestão de empresas envolvidas em pagamentos efetuados a escritório de fachada, suspeito de esquema de propina no Paraná.
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Curiosamente, trazido ao conhecimento público ontem, a transação da empresa de Guedes, embora documentada foi considerada pela Lava Jato como não fortemente embasada em provas, o que permitiu que ele não fosse incluído, com seus sócios, na rol de acusados.
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O que faz com que eu compare a Lava Jato, e Guedes, mais uma vez ao uso do VAR no futebol.
Pois, como tem lances que o VAR é chamado para auxiliar o juiz a evitar um erro ou uma injustiça, outros casos passam sem sua sinalização. Como foi o caso da vergonhosa penalidade cometida pelo goleiro são paulino no jogador do Ceará.
Penalidade clara, que o juiz de campo interpretou como lance normal, e que o juiz de vídeo também preferiu interpretar a favor do time mais rico, de maior projeção e renome.
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Para não perder a deixa, já que estamos tratando de um ultraliberal e suas políticas, incluo abaixo um outro link, extraído de artigo publicado na Folha de São Paulo, caderno Ilustríssima de domingo último, de autoria de dois professores e pesquisadores.
O link é:
https://www1.folha.uol.com.br/ilustríssima/2019/08/anarquismo-ultraliberal-e-so-uma-moda-dizem-pesquisadores.shtml.
Discutindo a impossibilidade de existência do tal anarcapitalismo, fusão de ideias anarquistas com as liberdades de mercado, os autores, cujo texto recomendo enfaticamente, revelam a característica absolutamente anticapitalista do conceito de anarquismo.
E vão desenvolver a ideia de que o Estado, por mínimo que seja, é algo típico e indissociável de uma sociedade de classes, hierarquização, e de diferenciação, como a sociedade capitalista.
Ou seja, sem capitalismo não há Estado, e vice-versa.
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O que nos remete à antiga discussão, menos do papel do Estado, e mais do interesse de classe que está na alma dessa instituição.
Porque, mais assistencialista ou não, mais interventor ou não, mais enxuto ou não, no fim, o Estado apenas procura resguardar, proteger e ampliar os processos de reprodução da classe mais privilegiada, as elites financeiras do capital.
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Em minha opinião, grande parte da disputa e da tentativa de se refundar um novo aparelho de Estado se dá como reflexo da luta ou da disputa intercapitalista.
Agora, com algum tipo de dificuldades para as atividades produtoras, ligadas à produção industrial, e até mesmo à atividade do complexo agrícola ou agrário, tendo em vista que nossa política econômica está sob inspiração e cuidados de um financista.
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É isso.

Um comentário:

Gilberty Vilele disse...

Definitivamente não sei aonde vamos parar. Que Democracia é essa? Onde os privilégios são apenas para aqueles que são ricos. E o pior de tudo, continuam a enriquecer de forma ilícita tirando proveito dos mais fragilizados, às custas de uma classe trabalhadora que se quer tem uma oportunidade. Meus Deus! Esse país é abençoado, temos riquezas, somos trabalhadores, não desistimos fácil. O que falta? Caráter, honestidade, sensibilidade e compaixão. Características que jamais deveriam faltar em gestor público.