quinta-feira, 18 de junho de 2020

Pelo fechamento de acordo de delação premiada com Queiroz e sua imediata libertação; pelas mortes do Covid e pelas manifestações contra o fascismo

Praticamente duas semanas sem postar qualquer pitaco.
A explicação é simples e uma análise mais banal, dessas que a gente faz olhando o retrovisor serve para justificar minha imobilidade.
Vamos a ela. Foram duas semanas dominados pelo protagonismo, quase exclusivo, dos temas políticos.
Em especial, o surgimento dos manifestos pró-democracia que, finalmente, ganharam as ruas, apesar das recomendações de manutenção da quarentena, de isolamento ou distanciamento social, de uso de equipamentos de segurança como máscaras.
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Em relação a tais manifestações, devo admitir minha simpatia a todos os movimentos em prol da democracia, sejam eles originários de que grupos forem, sejam integrados por cidadãos cuja filosofia política e interesses possam não estar em sintonia com o meu pensamento.
Concordo que, nesse instante em que cada vez mais 'pensamentos, palavras, atos e omissões' transformam-se em ameaças, veladas umas, escancaradas outras contra a nossa democracia, contra nossas instituições e, ao final, contra a nossa sociedade como um todo, torna-se mais que urgente que as forças de resistência venham a se unir. E manifestem com toda a sua força contra a possibilidade de aventuras de inspiração fascista, autoritária, destruidora de valores de liberdade, igualdade e oportunidade de direitos.
Em minha opinião, já estava passando a hora de nós, que somos a maioria "em desencanto" com o projeto e os rumos de destruição institucional  a que o país foi condenado a partir da eleição e posse de um sociopata, reagíssemos e cobrássemos o afastamento desse protótipo de genocida que ocupa o cargo maior do Executivo em nosso país.
Nesse sentido, independente de ser um movimento tipo ônibus ou guarda-chuva, é importante que as forças democráticas que compõem nosso espectro político, da esquerda à direita, possam agir unidas, como na grande campanha em prol das "Diretas Já".
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Por tal razão acompanhei com interesse os vários manifestos vindos a público, na mídia ou nas redes sociais, e até divulguei, na medida de minhas limitações, e compartilhei postagens lembrando que #Somos70%,  movimento iniciado pelo economista Eduardo Moreira e que se pretende menos sujeito à possibilidade de vir a ser apropriado por algum grupo ou liderança.
Claro, admito que a ausência de liderança e de coordenação pode se tornar, em algum momento, um obstáculo à ação mais efetiva em defesa do Estado de Direito nas ruas e cidades.
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Mas, admitir que #Somos70%, Estamos Juntos, Basta são importantes e devam agir unidos, procurando, na medida do possível, conciliar eventuais pontos de vista discordantes em torno de algumas ideias centrais na luta pelo afastamento desse des-governo e o que ele significa ou deseja, não quer dizer que não entenda a posição de líderes políticos ou partidários que não se sintam à vontade em incluir seu nome ao lado de outros que representem sua própria negação.
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Entendo, pois, que Lula se recuse a assinar um abaixo-assinado em que sua assinatura estará ao lado da de alguém com intenções tão desonestas e criminosas quanto a de Sérgio Moro.
Acredito que até para ser oportunista, há que se ter um mínimo de princípios (uma antítese) e de critérios.
Não pensasse assim, não poderia concordar com Karl Popper, e seu paradoxo da tolerância, que afirma que "a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. (ma vez que) Se estendermos a tolerância ilimitada aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, ... os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles."
Concordo que devemos nos reservar o direito de suprimir as filosofias intolerantes, até mesmo pela força, ou seja, e para resumir: concordo com o direito de não tolerar o intolerante.
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Então, porque razão cobrar de Lula uma assinatura, logo dele, reconhecidamente um político defensor das liberdades democráticas, como ele deixou claro em 8 anos em que exerceu o mandato de presidente da República?
Ou a ausência de sua assinatura em um manifesto que prega o que ele sempre praticou pelo exemplo, vai ser interpretado como se ele estivesse pactuando com o desgoverno desse Mito de araque?
Tal qual posso ser intolerante (meus filhos diriam radical!) na defesa da tolerância, sou favorável a que Lula não queira aparecer, no futuro, nas páginas da história, como tendo estado ombro a ombro com seu algoz.
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Sim! porque mesmo que tenha feito um governo repleto de atos de corrupção, e mesmo que tenha se aproveitado  em proveito próprio ou de seus familiares, dos benefícios ilegalmente daí extraídos, a verdade é que esse ex-juiz e ex-ministro e eternamente criminoso praticante de "lawfare", caçador de líderes petistas que atende pelo nome de Moro, enquanto teve condições agiu para riscar, fazer desaparecer, aniquilar o homem e sua obra, chamado Lula.
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Não sou defensor de Lula. Eleitor nunca fui.
Acho até que existe muito motivo para suspeições e para que investigações sérias e isentas possam ser realizadas.
Mas não admito, nem concordo com a perseguição que lhe moveu - da forma que se aproveitou para fazê-lo - alguém que tinha tanto interesse pessoal em anular a pessoa do ex-presidente.
Por isso entendo Lula e sua opinião. Nessa situação.
Até entendo também, e concordo com ele, que tais manifestos deveriam aprofundar na discussão de certas questões que uma mera substituição de nomes no exercício da presidência - seja Messias (ele não!), seja Mourão (ele também não!), seja qualquer outro que venha a concorrer em uma eleição, direta se o TSE agir rápido e cassar logo a chapa de nossa tragédia, ou indireta, em caso contrário - não seria capaz de tratar.
Refiro-me à anulação de todas essas decisões políticas cujo interesse maior consistiu e permanece sendo a destruição de direitos trabalhistas conquistadas em lutas de anos.
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Aqui concordo com Lula: a democracia restabelecida para que tenha sequência a política de aprofundamento da espoliação e expropriação dos trabalhadores, por uma elite econômica predatória e parasita, liberal apenas quando identifica oportunidades reais e tangíveis de benefícios e, ao contrário, intervencionista quando se trata de partilhar prejuízos com a sociedade em geral, é trocar seis por meia dúzia.
Sou de opinião que um cachorro com fome e sem forças não irá latir ou abanar o rabo, por estar morrendo em um regime mais ou menos liberal ou democrático.
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Mas, não foram apenas as manifestações de grupos contra o proto-genocida ou favoráveis (sim, ainda existem os bolsotários, alguns gente bem intencionada e mal esclarecida, outros apenas a escória mesmo na escala de nossa humanidade!), que dominaram as duas semanas.
Houve as manifestações várias de militares, muitos dos quais pendurados em cargos do governo e com receio de perderem a boquinha que lhes assegura algum tipo de privilégio. Ao menos o de poder levantar e tirar o pijama, ou o de não ter que ir jogar damas nas rodinhas de quarteirões fechados.
Ou seja: alguns militares, estariam reclusos em total ostracismo, não fosse o capitão de araque depender deles para sua blindagem.
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Curioso é que, manifestando-se contrários a "infundados ataques feitos a um colega de farda", acabam mostrando o verdadeiro caráter de que são portadores e que nunca possuíram. Afinal, perfilam agora, com alguém que foi convidado a se retirar da Arma, justamente por querer praticar ato terrorista contra instalações militares.
Daí que concluo que de duas, uma: ou sempre foram terroristas, desde aquela época, ou transformaram-se agora no inimigo que sempre se preparam para combater.
Na psicologia, parece-me, a isso se dá o nome de síndrome de Estocolmo.
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Mas, quem sou eu para criticar militares de reserva, esses valorosos combatentes em prol da pátria, se eles não têm pruridos de se revelarem como de fato são.
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A propósito de arroubos e manifestos de apoio ao protótipo de ditador, a verdade é que parece-me que Bolsonaro estica a corda o máximo que pode, como se estivesse praticando um jogo de cabo de guerra, até que o lado adversário caia de fundilhos para cima... e a brincadeira tenha possa prosseguir.
Porque, não fosse pelos filhos completamente fora dos padrões normais que foi capaz de gerar, parece que a mentalidade do presidente é apenas a de cultuar brincadeiras infantis, além de fazer ameaças nunca levadas adiante.
Típica ilustração do ditado de que cão que ladra não morde.
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Porque, no fundo, ciente de sua total inépcia, Bolsonaro não iria querer assumir, de fato, o governo do país.
Mas não deseja abrir mão de continuar podendo, sob sua aura de honestidade e sua figura incorruptível, agir em prol de que os filhos -esses sim, na personagem de facínoras - continuem delinquindo em rachadinhas; em operações de lavagem de dinheiro, com a estupenda lucratividade dos negócios de intermediação de veículos via Queiroz; em operações de lobby de armas de fabricação americana; de apoio a grupos milicianos, nunca suficientemente esclarecidos ou investigados, seja em suas ligações de amizades, seja em outras, de parceria e sociedade.
Isso é que importa ao presidente manter: a imagem imaculada de incorruptível, e o espaço amplo para atuação dos amigos.
Muitos dos quais dispostos a financiarem redes sociais movidas pelo ódio e interessadas na criação de uma realidade paralela para vender a eleitores incautos, vítimas de sua própria ingenuidade.
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Por fim, devo admitir que está certo, em minha opinião o Supremo e os seus ministros, a quem já muito critiquei.
Porque pau que dá em Chico, tem que dar em Francisco. E se Lula não pode ser ministro de Dilma, que motivo justificaria a nomeação de um delegado amigo, Alexandre Ramagem poder prosperar?
Apenas para criar musgo na PF e impedir seu trabalho?
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De mais a mais, acho que o STF não exorbita quando atua de acordo com seu Regimento Interno, aceito pela Constituição, mesmo que entendendo que seu Regimento cria a figura do inquisidor em certas situações.
Mude-se pois, a Constituição. Cobre-se a alteração do Regimento. Mas enquanto não se faz isso, que se cumpra o rito e que os ministros continuem sendo os responsáveis por investigar atos terroristas, criminosos, de ameaças e ataques à honra ou à integridade física dos ministros e seus familiares.
Inclusive as filhas, que a advogada gaúcha queria ver estupradas.
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Ora, a advogada já deveria fazer parte de processo de perda de sua condição de advogar, pela OAB. E já deveria ter sido instaurado, contra ela, processo criminal por incitar prática de crime. Artigo 286, do Código Penal.
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Nesse meio tempo, acharam o Queiroz e ele agora está preso.
Tomara que o libertem logo, e que ele tenha todos os benefícios dos acordos de delação premiada que tanto já provocaram de espanto e revoluões políticas.
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E nesse tempo de silêncio dos pitacos, a voz surda dos Covid19 se fez presente.
E mais de 45 mil pessoas já nos deixaram, e suas famílias sentem o peso da saudade e da total descoordenação e desconsideração daquele que deveria ser o mais preocupado com o combate à pandemia.
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Mas ele não é médico, talquei?

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Homenagem a Millor: Livre pensar é só pensar - Uma parábola sobre a realização dos sonhos


Suponha que exista um país em que o poder é exercido por, e em nome e em favor, de 10 a 15 de seus principais empreendedores produtivos (podem ser empresários, comerciantes, industriais, produtores do agronegócio e até banqueiros).
Agora suponha que, de tanto agirem cortando direitos, explorando a grande maioria da população, com seus 200 e poucos habitantes, a elite dominante e poderosa precise de se fortalecer e, para tanto, atrai para seu território empresários e financistas de outras nacionalidades.
Suponha, para continuar nossa parábola, que dominando a tecnologia mais sofisticada, “up to date”, esses empresários estrangeiros instalem em nosso território da ficção empresas para a produção de computadores, máquinas de controles até mentais, drones, armas e máquinas de destruição em massa que deixariam “1984”, de Orwel, ou o aparato industrial bélico militar dos Estados Unidos, ou ainda o Fort Detrick e suas experiências com armas biológicas, mera fantasia antediluviana. Dos tempos  a.C.
No delírio que vimos desenvolvendo, suponha que grande parte do financiamento para a construção dessa potência (nuclear?), seja de origem internacional, auxiliada e incentivada pelas empresas de capital agora transnacionalizado.
E um dia, vem a revolução. A maioria explorada resolve sair de seu estado letárgico e parte para a conquista do poder. 200 pessoas ou mais um pouco ocupam as ruas, invadem lojas, residências, propriedades privadas, e lutam,  quebram, destroem, prendem e agridem e até, usando de violência em alguns casos, chegam ao cúmulo de condenar alguns inimigos, acusados de fazerem parte do grupo minoritário,  à morte. 
Dentre os privilegiados, vários reagem; alguns fogem; uns poucos são mortos em combate ou por mero instinto de vigança. Alguns se entregam à prisão, derrotados e outros optam por ficarem inertes, sem qualquer reação.
Agora suponha que entre essa minoria que não resiste, estejam alguns dos empresários estrangeiros convidados para virem desenvolver e explorar o país. E suponha que, do lado de lá da fronteira, os amigos, parceiros e financiadores desses empresários não se conformem de abrir mão de tudo que construíram. Das perdas que a revolta no país vizinho lhes acarreta.
Então, alguns dos empreendedores expulsos do poder, começam a se articular com os parceiros de fora e, com recursos de todo o tipo, financeiros e materiais e até humanos que não lhe são negados, começam a armar o que poderia ser chamado de contrarevolução.
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Ninguém discute que seja legítimo que, tendo perdido o que construíram ao longo de anos, independente de terem construído tais propriedades explorando e abusando do trabalho de outros, essa minoria se recuse a, de mão beijada, ver seu patrimônio, seu estilo de vida e seus sonhos serem dilapidados.
E eles começam a se armar. E com recursos, não lhes é muito difícil cooptarem alguns dos antigos explorados, para se unirem a suas fileiras.
Importa aqui lembrar que os vitoriosos do movimento de libertação dos trabalhadores não terão facilidades para dar início à nova sociedade, mais justa e igualitária.
Especialmente tendo que reconstruir muito da riqueza que destruíram no golpe que lhes permitiu asssumir o poder.
Então, é natural que, logo no início desse período de reconstrução de novas relações sociais e de produção, a realidade se mostre mais dura, e as carências sejam maiores. Levando muitos dos vitoriosos a classificarem sua conquista como uma vitória de Pirro.
E, nesse meio, pode até se encontrar quem, por uma promessa ou um prêmio em dinheiro, se disponha a auxiliar a luta de reconquista liderada por seus antigos algozes.
A pobreza, afinal, tem muitas faces. E a tentativa de escapar individualmente da miséria não é terrivelmente condenável. Ou assim parece...
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Nesse meio tempo, assumindo o governo dos povos enfim libertos, e sabendo da necessidade de conduzir o território à reconstrução, um grupo de líderes representativos, tem consciência de que deverá, no início de sua trajetória, privar a maioria de terem suas necessidades satisfeitas, para que recursos produtivos possam ser utilizados para construir as indústrias, fábricas e o aparato produtivo que lhes assegurará autonomia e independência no futuro.
O problema é explicar a quem lutou de seu lado e comemorou a conquista e  vitória que não é chegada ainda, a hora de poderem aproveitar dos benefícios do que conquistaram.
Nessa hora, vários de seus antigos aliados começarão a pressionar por maior consumo e prazer imediato, em lugar de um futuro mais rico e opulento, apesar de mais distante.
Membro do grupo no governo, você deixa que as manifestações críticas à condução da política que vocês planejaram e estão pondo em curso, sejam destruídas? Ou reage, no princípio, tentando usar de argumentação e dados e informações sólidas, mas que não resolvem as questões imediatas colocadas pela sobrevivência?
Quando é que você irá, mesmo contra seus princípios, sacrificar parte daquilo em que sempre acreditou, como o ideal de igualdade, democracia, respeito e liberdade, pelo projeto construído com tanta disposição?
Em que momento o debate inóquo irá te levar a eliminar toda e qualquer discussão e você passará a adotar posturas autoritárias e decisões não democráticas?
Tudo por um projeto, que você, de forma pura e com grande dose de ingenuidade, acredita ser o melhor para todos. Embora cada vez mais, de concretização mais distante...
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Se nesse meio tempo, aproveitando-se de sua fragilidade e da falta de apoio interno, seus adversários, que eram a minoria de ontem se unem e ganham força e, armados de fora, começam a provocar distúrbios e a provocar manifestações contra o governo, qual seria o comportamento que você considera que deveria adotar?
E ainda há que se levar em conta um outro efeito importantíssimo da aventura de sua experiência na construção ou reconstrução de uma sociedade mais democrática e igualitária, o chamado efeito contágio. Por esse efeito, como deverão reagir os países vizinhos ao seu, se seu plano tiver êxito? Não serão eles, no futuro imediato, alvos de protestos e manifestações e movimentos de mesma natureza?
Seu êxito, se houver, não irá alimentar a esperança e dar combustível à ação de grupos que, no interior de cada um desses países limítrofes, irá procurar promover um mesmo tipo de mudança social?
E se antes de que o desejo de mudança e construção de uma sociedade mais justa, qual rastilho de pólvora, possa se disseminar em cada um desses países, alimentando o desejo de construção de sociedades mais justas; nesses países também eles divididos em sociedades de classes, fundadas em injustiças e desigualdades?
E se tais países para evitarem ser atingidos por esse tsunami social se unissem e formassem uma força militar, dita de pacificação, cuja finalidade era a de intervir e destroçar sua tenra experiência de construção de uma sociedade mais democrática e fraterna, sob o argumento cínico de estarem lutando para restituir as liberdades da maioria, diga honestamente, qual seria sua reação?
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Você fecharia seu país e de forma autoritária iria combater os inimigos incrustrados? Você iria defender com unhas e dentes os ideais pelos quais você lutou, até com sacrifício da construção de uma sociedade com maiores possibilidades de consumo?
 Ou simplesmente você abdicaria do sonho de construção social, acalentado há tanto tempo?
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E depois, se conseguisse manter seu país intacto, se você tivesse toda a sua atividade comercial asfixiada, pela determinanção da proibição da continuidade dos fluxos de produtos, serviços e matérias primas vindos de fora, de forma a que todo o fornecimento exterior lhe fosse negado, por ato de força e não aceitação do princípio mais básico da autodeterminação dos povos, você continuaria achando que a única conquista que seu experimento lhe trouxe foi a de distribuir miséria?
E você abandonaria seus sonhos, por perceber que sonhar acordado não é recomendado para quem tem de conquistar seu pão e sua vida, com o suor de seu rosto?
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Fim.

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Eu teria parado por aqui, não fosse o pedido de um colega e amigo, romântico, para quem talvez a reflexão deveria ainda trazer uma espécie de avaliação a respeito de qual seria o preço a pagar, por abortar sonhos? (E, lembrando que sonho que se sonha só é um sonho que se sonha só, mas o sonho que se sonha junto é realidade... 
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Vamos refazer o final:

Ou preferia travar uma luta brutal, interior, ponderando se valeria a pena pagar o elevado preço por abortar um sonho que jamais foi apenas seu?
Ou, em algum instante chegaria à conclusão de que o preço poderia nem ser tão elevado assim, a ponto de te impedir de, daí  em diante, se olhar no espelho e encarar o espectro em que você se transformou?

terça-feira, 2 de junho de 2020

No planalto de minha imaginação, cavalgava um imbecil, enquanto em Alphaville, ou na Av. Paulista, os sinais trocados indicavam a distopia em que vivemos


Show de horrores, ou apenas mais uma cena trivial de nossa realidade cada vez mais distópica?
Falo do policial chamado para atender a ocorrência de desentendimento familiar, em Alphaville, São Paulo.
Trata-se do caso do empresário Ivan Storel, dono de joalheria instalada na região da Sé, região central da capital paulista, empresa que o site Metropoles.com informa ter capital registrado de R$ 20 mil.
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Empresário individual, conforme o mesmo site e, em tratamento psíquico, sob o efeito de medicamentos indevidamente misturado com álcool, nosso personagem ofendeu a mulher e, não satisfeito, com a chegada de guarnição policial ofendeu o militar, ao que parece um cabo.
Entre telefonemas para gente, provavelmente ocupante de algum cargo importante, em sinal evidente de carteirada, Storel humilhou o policial com frases dignas de um período de pandemia dupla causada, uma, pelo vírus da Covid-19;  outra, pelo oligofrênico eleito democraticamente pelo povo e que comanda os desígnios dessa desgraçada nação.
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Alías, para ser justo, o ex-capitão, não merece a adjetivação acima. Oligofrênico são os seus eleitores. Bolsotários são aqueles que apesar de tudo ainda o defendem, o que mostra claramente um nível de indigência mental a essa altura, sem qualquer esperança de regressão ou tratamento.
Porque Bolsonaro ou Bolsonazi é mais inteligente. Como as personalidades esquizofrênicas, esquisóide, sociopatas, o que ele já mostrou ser é tão somente um genocida autoritário. Adepto da eugenia. Inconsequente, incapaz de qualquer sinal de empatia.
Exceto para atuar em favor de sua familícia. A gangue do mal de Flavinho, Carlinhos e Eduardinho. Que antes fossem passíveis de comparação com a tríade de patinhos sobrinhos de Donald: Huguinho, Zezinho e Luizinho.
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Na familícia, o tratamento destinado a pessoas infantilóides que “papai” reserva-lhes, não nos permite a analogia: as brincadeiras e artes da trinca de sobrinhos era sem maiores consequências. Folguedos de crianças ativas! Bem diferente das brincadeiras armadas de quem tem ligações, mesmo que platônicas, com o crime.
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Mas, voltando a nosso empresário e os dizeres com que se referiu ao policial, são um primor:
“Você é um bosta. É um merda de um PM que ganha R$ 1 mil por mês, eu ganho R$ 300 mil por mês. Quero que se foda, seu lixo do caralho. Você não me conhece. Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um bosta. Aqui é Alphaville, mano”.
Desculpem-me  a reprodução do trecho, mas não é possível sonorizar o texto, e colocar piss agudos, para encobrir o palavreado de alto nível desse Storel. Quase escória ou escóriel.
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Para além da sinalização de que a Receita Federal deveria dar início a uma imediata investigação dos demonstrativos de rendimentos do nosso personagem, vale assinalar que seria importante que algum repórter fosse analisar se o nome do empresário individual não está incluído na lista de beneficiários do auxílio de R$ 600 reais da CEF.
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Mas, o que quero destacar aqui, além da descoberta de que Alphaville, da mesma forma que Brasília, parece ser um outro mundo, de fantasia, é a capacidade de destratar, desfazer de algum ser humano, apenas pelo fato de ele ter uma posição -socialmente relevante, mas não reconhecida, a ponto de ter uma remunerção aviltada.
Apenas em uma sociedade humana completamente cindida, já carcomida por dentro, podre e fétida, é possível entender a existência de pessoas que são superiores ou se julgam assim, pelo fato de terem – sabe-se lá como – grana. E ostentarem essa sua situação privilegiada.
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Storel no caso, se comportou – é importante revelar que ele já pediu desculpas, até mesmo à corporação e ao policial humilhado – como muitos de nós outros, que somos capazes de enxergar, valorizar ou dispensar qualquer tratamento digno ao outro, diferente de nós. Seja pela cor de sua pele, seja por sua profissão, seja por sua forma de agir, vestir, comportar-se, seja por seus modos grosseiros de pouca educação formal, seja pela sua remuneração.
Quantos de nós já não viu, ou pior, fingiu não ver alguém na rua, talvez na janela de nosso carro pedindo esmola, apenas por ser um inútil?
Ou pior: INVISÍVEL.
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Mas o fato em si nos ajuda a entender o ambiente roto em que criamos nossa vida cada vez mais distópica. Afinal, se não fosse um empresário, mesmo bêbado, mesmo de Alphaville, a pergunta que não quer calar é outra: Qual teria sido o comportamento do policial militar?
Não é fato que na periferia o policial se acharia poderoso, importante? Não é fato que lá, ameaçando meninos ou adolescentes, negros, pobres, a maior parte, com fisionomia típica de pivete, pronto para praticar algum mal feito, não agiria com agressividade e autoritarismo?
Na comunidade, arma em punho, talvez depois de ter trocado tiros – 70, quem sabe? – ou de ter atirado granadas e ter fuzilado um garoto NEGRO  de 14 anos (apenas o exemplo mais recente de tantos outros tratados desde logo como bandido) o soldado não passaria a agir tal qual o xerife do velho oeste, cavalgando as  planícies, como o bossal do presidente cavalgou a montaria da Polícia no planalto central?
O macho, com estrela no peito, e o mais profundo vazio, para liderar mais uma marcha contra as instituições democráticas?
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Saindo de Alphaville e do guarda, mas juntando coisas como marchas e movimentos e comportamentos de PMs.
Vamos para a Paulista, a avenida. Para acompanhar a marcha das torcidas organizadas de São Paulo, unidas para combater o golpe que se prenuncia.
Movimento pacífico, que ultrapassou os decibeis e incomodou talvez, vizinhos, tantos foram os gritos, a plenos pulmões, em prol da Democracia.
Isso, ao que parece e foi a reação de parte da Polícia de Doria, defender, clamar, exigir o respeito à democracia parece ter sido alçado, senão à condição de crime, à de contravenção penal.
E dá-lhe cacete para quem sabe, de repente, as torcidas inimigas, passarem a ter a equivocada percepção de que o que as separa (o futebol) é mais importante que o que as une (uma sociedade justa, digna, com respeito aos valores do Estado de Direito!).
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Do lado de lá, a marcha da insensatez: uma bolsotária, dessas que parece fugida de um hospício qualquer, portando um taco de beisebol.
A ela, toda a atenção, carinho, desvelo e gentileza do policial que a recomendou voltar para junto dos seus, os valorosos defensores do autoritarismo, do golpe, da ruptura democrática.
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Em meio a esse ambiente, valentões, especialmente os valentões que saíram de seu recolhimento para se unirem à turba de bolsotários, manipuláveis, e meros invólucros, com cérebros já carcomidos por tanta fake news e tanta mentira, apenas para fazer a lavagem já celebrizada há tanto tempo: Uma mentira repetida mil vezes, transforma-se em uma verdade.
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Mas, vários valentões da gangue comandada pela famílicia, agora libertam-se de seus fracassos, da carga de complexos que vieram acumulando ao longo de anos, talvez por não ter sido dada a eles a oportunidade de estudarem, de serem profisisonais de sucesso (nesse funil que é o mercado de trabalho), de serem cidadãos que tinham condições de morar em ambientes mais salubres, mais saudáveis, menos rígidos e rigorosos, pelo rigor que acompanha, desafortunadamente, a pobreza, a miséria, a vida invisível.
Foi isso que Bolsonaro e sua chegada ao poder destampou.
O horror da liberação do interior da lâmpada de Aladim, do gênio do mal. Vingativo, disposto a fazer anos de recalque e sofrimento servirem de alimento para uma vingança contra o mundo opressor, desigual e injusto.
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Tais valentões, pela dura lida, não tiveram – é necessário que se reconheça – outra forma de se desenvolverem, senão pela energia gasta em atiividades capazes de lhes criarem e dotarem de portentosos feixes de músculos.
Nenhum desenvolvimento cognitivo, ou intelectual, ou cultural.
O que os faz, hoje, pelo medo que sua forma física de academia inspira, preferirem pela imposição da força. Como forma de ocupar o espaço vago dos neurônios atrofiados.
Esses valentões, não passam de recalcados que agora acreditam que lhes foi dado, pela vez primeira o reconhecimento. Agora sua existência tem sentido!!
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Mal sabem ou não sabem, estupidificados que são, que depois do golpe, se houver e não for contido; depois da reação que espero que aconteça, desde já, antecipando-se ao golpe; será contra eles que os autoritários conquistadores do poder se voltarão.
Afinal, a maioria desses que pretendem alcançar o poder supremo não tolera o desigual, o diferente, e só querem o poder para exercer para eles, em nome deles, por eles esse poder. Para isso, irão excluir os que apenas se encaixaram, tardiamente, a suas fileiras.
Esses servem para tropa. Como bucha de canhão. Mas nunca serão tratados como iguais, menos ainda como membros de uma raça pretensamente superior.
São os coitados que, ao final, ajudarão seus algozes a os eliminarem do centro de suas atenções.
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Para encerrar, uma reflexão provocada pelo comentário que li, hoje, na Folha, sobre o livro “A Deseducação do Negro”, de Carter Woodson, historiador e negro americano. Livro de 1933, traduzido para o Brasil há dois anos e que eu desconhecia.
De minha leitura, veio a minha memória a história do elefante, desde pequeno preso às estacas do circo e terrivelmente castigado sempre que tentasse algum ato de maior liberdade.
A ideia é que, preso desde pequeno, sem condições de tentar reagir e sem forças, então, para levantar o circo em sua fúria libertária,  o comportamento do animal acabaria por torná-lo completamente anulado. Incapaz de reconhecer sua força e lutar, depois de adulto.
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Acho que no Brasil, os negros, os pobres, os meninos de comunidades foram, anos a fio, deseducados, para aprenderem a respeitar uma pátria onde sempre foram párias.
Pela deseducação a que foram submetidos, nunca foram considerados, independente de cor, origem, etc. pessoas aptas a buscarem suas próprias visões de mundo, seus ideais, espaços de manifestação e formas de lutas.
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Lutar, querer se afirmar seria apenas questionar a nossa formação cordial, humanista, igualitária e .... de miscigenação cultural, onde todos são respeitados (???)
Comportamentos de autodeterminação e identificação com causas próprias seria apenas a expressão de algum rebelde sem causa. Mais uma jabuticaba no balaio de produtos humanos que o Brasil é capaz de gerar.
Afinal, não é o Brasil uma democracia multirracial? Rica e variada? De várias culturas, pensares e vertentes?