quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Os desinformados. Ou como o casal Bolsonaro fez de Lula e D. Marisa seu padrão de comportamento. E enquanto o Líbano merece auxílio humanitário, o conselho ao povo brasileiro é de ir tocando a vida

 Nunca antes na história desse país tivemos um governante tão desinformado.

Refiro-me a Lula, que nunca soube dos acordos e pagamentos do mensalão; não sabia dos esquemas de desvios e corrupção nas empresas estatais, que entregava de porteira fechada aos partidos do centrão, sua base de apoio; dos negócios de seu filho Lulinha, a Gamecorp, Telemar, Cia. Petrópolis e com a Oi, agora falida.

Pior, não sabia dos negócios de Marisa Letícia, sua esposa, que com economias do período em que trabalhava como vendedora da Avon conseguiu adquirir um apartamento no Guarujá, financiado pela Cooperativa de Bancários de São Paulo, sem que se soubesse a ligação de D. Marisa com aquele setor.

Ignorante ou desinteressado, Lula não sabia do interesse de Marisa em permutar o apartamento tipo por um triplex, nem dos planos secretos de Marisa para decoração do imóvel.

Da mesma forma, mas aí com justificativa, não sabia que a Odebrecht adquirira um terreno para a construção de um prédio que seria doado para servir de sede ao Instituto Lula.

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E, apesar da morte de D. Marisa, ou até por isso mesmo, algumas pessoas sem quaisquer escrúpulos, sem noção de empatia, ou movidos apenas por sentimentos que mesclam inveja, despeito, arrogância, e sobretudo sua sordidez, invadiram as redes sociais para ironizarem, criticarem, fazerem troça e memes da alienação, ou da célebre ignorância ou desconhecimento do presidente.

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Como Collor, ainda presidente, estampava nas camisetas que trajava para suas famosas corridas pelas manhãs de domingo em Brasília, ‘o tempo é o senhor da razão”.

Afinal, a passagem do tempo ensina.

E o aprendizado que o tempo proporciona se manifesta mais uma vez.

As pessoas de personalidades tacanhas, medíocres,  que postam em suas redes sociais, sem maiores avaliações mensagens de ódio, de condenação e agressões em suas redes sociais se redimem.

Aceitam, agora, que ninguém possui o dom da onisciência.

Razão porque não se deve condenar Bolsonaro, por não saber de todos os cheques depositados pelo casal Queiroz e Márcia, no montante de R$ 89 mil, na conta de Marcela, a primeira dama.

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Ocupado em fazer campanha eleitoral, mostrar arminha com as mãos, fazer tiradas de humor duvidoso ( eu não sou coveiro ou eu sou Messias, mas não faço milagres!),  posar de garoto propaganda de cloroquina ou ameaçar a cada instante desferir o golpe de misericórdia em nosso Estado de Direito, não sobra tempo ao presidente para governar.

Ou o presidente apenas não tem interesse, aptidão, capacidade para assumir as responsabilidades que pleiteou e que lhe foram incumbidas por parte significativa do eleitorado.

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Ou o que é pior: sua atenção está mais focada, como sempre esteve, em estabelecer e manter relações íntimas com indivíduos e grupos vinculados às milícias,  com quem mantém vinculações muito próximas, senão familiares.

Daí, creio não incorrer em erro ao admitir a existência de justificativas suficientes para o fato de Bolsonaro, ainda deputado, desconhecer a existência de movimentação atípica de assessores e funcionários em seu gabinete, ou de ignorar que mantinha funcionários na folha de pagamentos que nunca foram ao gabinete, funcionários fantasmas, como a 'personal training' filha do Queiroz, ou a Val do Açai.

Daí ele não saber de toda a confiança que Flávio depositava em Queiroz, ou do esquema das rachadinhas no gabinete do filho, como também é lícito supor que não devia mesmo saber que sua ex-mulher adquirira à vista e em dinheiro, um apartamento no Rio.

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Felizmente, agora, as redes e seus usuários, especialmente os bolsotários, aguardam tranquilamente o resultado das investigações, se forem realizadas. Esperam as explicações do seu ídolo, cada vez mais eloquentes, à medida que a família se cala.

Curioso, para alguém que já protagonizou tanta bravata, que já ameaçou intervir – “Vou intervir” (conforme publicado na Revista Piauí), ver agora reinar o silêncio próprio da paz dos cemitérios.

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Por falar em cemitérios, quando o país atinge mais de 100 mil vítimas da Covid-19, é digno de menção a irresponsabilidade que o chefe do Executivo assume, ao jogar nos ombros de governadores e prefeitos a culpa por terem adotado medidas de contenção social fracassadas.

Derrotadas principalmente pelo comportamento sociopata do chefe do poder que deveria liderar, capitanear, centralizar e coordenar os esforços dispersos de autoridades de menor jurisdição.

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Aqui, parece-me então que a mortalidade a que assistimos é o resultado desejado de políticas genocidas, destinadas a cancelar vidas reais. A exterminar parte da população brasileira, aquela parte mais miserável, mais pobre, com menos condições de vida digna. Aquela população de pretos, pobres, vários jovens, das comunidades das periferias das grandes cidades.

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Só assim é possível entender as manifestações feitas para marcar a fatídica marca, e o conselho que dá  à população do que devemos fazer: “vamos tocar a vida”. Só assim faz sentido o lamento pelas mortes, por cada morte, “seja qual for a causa”.

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Essa hipótese ganha cada vez mais força, se compararmos a reação de Bolsonaro frente às 100 vítimas no nosso país, com as lamentáveis 160 mortes pela explosão havida em Beirute.

As 160 vítimas de lá foram alvo de condolências, orações, promessas e agora envio de doações de alimentos, respiradores, EPIs para hospitais, máscaras,  e medicamentos, que não incluem, seguramente a cloroquina.

Tal ajuda humanitária, digna de todo nosso elogio, poderia parecer um escárnio à população brasileira.

E confirma-se como tal, ao convidar para chefiar a delegação ninguém mais que Temer.

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Para concluir, nem o ex-assessor de Guedes aceita as contas apresentadas pelo ministro que ocupa a Economia.

Que merece mais o epíteto de sinistro, já que, não satisfeito de sempre propor medidas de precarização dos direitos dos trabalhadores, de corte de direitos dos mais pobres, em prol dos mais ricos, ainda vem com esse discurso falso em torno da proposição de uma contribuição sobre pagamentos digitais.

Com tal novo imposto, além do aumento da carga tributária, da criação de mais distorções em razão do caráter de cumulatividade do tributo, e do aumento da regressividade condenada por todos os analistas, o que o ministro parece desejar é impedir o avanço indiscutível das transações do e-commerce, das plataformas e operações comerciais e financeiras que se utilizam das novas tecnologias digitais, condenando-nos ao atraso.

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Em não sendo essa a intenção, difícil acreditar, como estudos estão mostrando e o professor Marcos Cintra foi um dos pioneiros em chamar a atenção, que o novo imposto conseguirá compensar a queda de arrecadação pela redução de outros encargos ou tributos que incidem sobre a folha de pagamentos ou mesmo o alívio no imposto de renda dos assalariados.

Isso seja com a alíquota ampliada, de 0,4% por operação, seja com a sugerida, menor, de 0,2%.

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Como Guedes apesar de defender o Estado mínimo, não deverá querer asfixiar e levar o Estado à situação de falência, o que é mais crível é que o novo imposto irá se somar à carga considerada elevada de tributos que oneram a sociedade.

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Uma sociedade com a proposta de passar a tributar aos livros, reservando o reino da cultura, da literatura, das artes, do conhecimento, do saber, apenas aos ricos. Talvez para compensar e se contrapor à Bíblia, que fez clara opção ao destinar aos pobres o reino dos céus.

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