quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Declarações risíveis se não trouxessem tanta destruição, e vergonha (alheia). E um temor: de que o liberalismo de Guedes é que leva o capitão a destruir o Estado

 A distância no tempo pode levar minha memória a me trair, por mais que eu sempre possa contar com sua companhia.

Parafraseando Arthur Azevedo em seu Plebiscito, a cena passa-se lá pelos idos de 1970, talvez 1972 e, sim: a família estava toda reunidade na sala, em torno do aparelho de televisão.

Era final de ano e assistíamos ao jornal, creio que da Bandeirantes, com apresentação de José Lino de Souza Barros.

Na ocasião havia algum tipo de conflito envolvendo as relações entre o Brasil e a China, dirigida pelo líder Mao Tsé Tung.

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Então, lá pelas tantas, José Lino leu a notícia curiosa: em razão das divergências, a Câmara de Vereadores de Nova Lima propôs, votou e aprovou um voto declarando o líder chinês “persona non grata”.

O que mereceu do Zé Lino um comentário singelo: “... e nessa noite Mao,  coitadinho, nem dormiu de tanta preocupação”.

A comicidade, o ridículo do episódio sempre me volta à lembrança, acompanhado do comentário entre espantado, divertido e irônico do apresentador.

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Mais uma vez, nesses tempos estranhos que temos vivenciado, a lembrança frequenta meus pensamentos.

Não. Ao contrário do que alguns leitores desse pitaco poderiam imaginar, não estou me referindo a qualquer comentário, ou atitude ou postura adotada pelo mito, cada vez mais descalço, mais pés no chão, que está à frente do governo desse país.

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Parênteses: em versão anterior, eu escrevi adotada pelo mito, etc. pés no chão, que é o dirigente desse país. Mas eu estaria criando uma “fake news”.

Porque Bolsonaro não governa. Não dirige. Não tem qualquer capacidade de comandar o que quer que seja, de liderar. De tomar decisões.

Muitos irão admitir que, provavelmente seu perfil fuja completamente ao de qualquer trabalhador. Bolsonaro não gosta de trabalhar.

O que faz, é tão somente ocupar espaço. Ocupar lugar, ali, à frente do governo.

Como um inútil. Um estorvo, embora sempre preocupado em reafirmar sua autoridade e exigir o cumprimento de suas determinações.

Não sou psicólogo, nem psicanalista, mas creio que Freud explica essa necessidade de autoafirmação.

Mas, voltemos ao tema do pitaco.

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A lembrança do episódio que abre esse pitaco diz respeito ao abilolado candidato a prefeito da Capital mineira, Bruno Engler.

E aqui, maldosamente, sugiro aos amigos leitores que procurem expandir seu conhecimento, recorrendo ao dicionário (do Google) para verificar o significado da palavra abilolado. Ali, talvez, alguém consiga encaixar o nosso deputado do PRTB em qualquer dos dois significados mais comuns, em especial o segundo.

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Pois não é que o tal político, revelando todo o ímpeto da esperança e renovação que constitui a essência da juventude, fez questão de vir a público, para afirmar que, como seu herói e ídolo maior, Bolsonaro, também não reconhece o resultado das urnas e a vitória de Joe Biden, nos Estados Unidos?

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Com declaração tão firme, sou tentado a pensar que Biden, coitadinho, deve estar sem conseguir pregar os olhos, deverasmente incomodado.

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A essa altura, classificar o candidato a prefeito como alguém excêntrico, para não gastar muita munição com quem não merece mais que risos ou pesar, é uma solução elegante que vou adotar.

Mas, é obrigação lembrar que o deputado estadual já deixou claro que aprova todas as medidas do obscuro objeto de seu desejo. Tanto em termos de decisões em relação à armas, quanto ao tratamento dispensado ao problema ambiental no país, e até à irresponsabilidade do presidente em relação ao combate à pandemia.

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Logo, não causa estranheza que o discípulo de Bolsonaro também aplauda o comportamento de seu mentor espiritual, que se recusa a cumprimentar o presidente eleito dos Estados Unidos pela conquista eleitoral.

Claro, há sempre a desculpa de que a prudência recomenda cautela  no envio de mensagem de cumprimentos, ao menos enquanto ações judiciais forem possíveis, e o ridículo, alaranjado, autoritário e derrotado Trump continuar usando e abusando do famoso Jus Sperniandi.

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Ao que parece, por seu perfil ególatra, individualista e arrogante, Trump se comporta e age como a criança que é muito rica, mimada e cheia de vontades. E que, por todo seu entorno, julga-se superior à própria realidade e às limitações que o ambiente sufocante em que exerce seu poder e se diverte com seus brinquedinhos lhe impõe.

Como tais indivíduos, a realidade pouco importa e seu ego lhe permitirá ser afastado, agora para a Flórida, para ficar em seu mundo mental, completamente estragado.

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Mas, assim como outros democratas e constitucionalistas, como alguns americanos e o próprio Bolsonaro, também eu sou favorável a que qualquer cidadão só seja considerado derrotado ou culpado, esgotadas todas as suas opções de recursos.

Também eu acho que até sentença transitada em julgado, não se pode condenar, nem querer limitar a liberdade de quem quer que seja: inimigo político, presidente estrangeiro amigo, ou até filhos...

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Constato, então, a formação de uma cadeia alimentar, de egos. Ou uma quadrilha, nos moldes da metrificada por Drummond, o Carlos: Engler que amava Bolsonaro, que amava Trump, que amava sua imagem, que não amava ninguém, desbotada e desgastada que se mostrava.

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Mas é curioso que, da mesma forma que Trump adotou sempre uma postura que os analistas políticos insistem em classificar como populista, também Bolsonaro faz questão de mostrar tal comportamento.

Afinal, entre as características definidoras do populismo e de seu agente, encontra-se a ideia germinal de que a sociedade pode ser dividida e se divide em duas categorias de pessoas. O povo, explorado, ingênuo, investido das melhores intenções e comportamentos, e o resto, definido por uma elite exploradora e corrupta.

Curioso é que esse povo, desorganizado, necessita ser dirigido por alguém capaz de representá-lo, expressar suas necessidades e os valores (conservadores) que ele cultiva. Esse povo carece de alguém que, mesmo saído da elite, seja suficientemente oportunista para se passar pela representação da vontade coletiva, amorfa.

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Assim, Trump, como Bolsonaro se proclama e age como expressão da unidade do povo, contra os exploradores, os outros, com valores e comportamento ético podres.

Outros pontos em comum são a visão nacionalista, traços autoritários, agirem como pessoas que estão sempre em guerra e procurando manter um estado constante de beligerância, de forma a  justificar a importância de sua presença vigilante. Logo, devem estar em campanha

Outras características que costumam cultivar incluem: um conteúdo repleto de negativos: antipolítica, anti-intelectualismo, anti-elite, o que lhes exige a adoção de um discurso versátil e a preferência pela democracia direta.

Utilizarem expressões grosseiras, mal-educadas, brincadeiras de mau gosto, comentários impróprios ou inadequados, postura agressiva, comportamentos misóginos, intolerantes e uma autoavaliação elogiosa são também elementos comuns entre essas tristes figuras de homens públicos, como tive a oportunidade de aprender, pesquisando mais sobre o que é o POPULISMO.

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E minha pesquisa sobre o tema serve, ao menos, para que eu possa entender a postura negacionista de Bolsonaro, em relação à questão das queimadas na Amazônia e no Pantanal; a sua reação contrária aos procedimentos recomendados pelos médicos, em relação ao controle da pandemia; suas frases sempre estúpidas, como a de que é apenas uma gripezinha, ou que quem usa máscara é covarde, ou então que precisamos parar de falar da pandemia, já que essa é uma preocupação de maricas.

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Nesse particular, é necessário reconhecer que Bolsonaro ontem se esmerou.

Comemorou que os testes com a vacina de combate e eliminação do vírus não poderia ter sequência, ao menos aquela vacina que tem um dos maiores laboratórios do mundo como um de seus patrocinadores. Comemorou e se manifestou a favor de longa vida ao vírus, sem se incomodar com a morte de importante parcela da população brasileira, aquela que ele pretende defender e representar.

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Não satisfeito, chamou a todos nós brasileiros, temerosos dos efeitos do contágio e da doença, de maricas, igualando-nos aos maranhenses que tomam o guaraná Jesus.

Por fim, mesmo que não tenha reconhecido o presidente Biden, o ameaçou com a pólvora que, se não estiver molhada, já velha e gasta, poderá ser usada como arma de defesa de nossa pátria amada, contra pretensos ataques atômicos que o pobre presidente americano tem a seu favor.

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Seria ridículo, não fosse curioso, assistir  Bolsonaro aliando-se a Maduro em uma guerra contra os ianques.

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Termino esse pitaco com uma reflexão séria e uma preocupação: cada vez mais, creio que quem comanda nosso país não é Bolsonaro.

É o infeliz Guedes, o sinistro da Economia. Ele, como representante dos interesses de seus amigos e associados, magnatas do capital financeiro, nacional ou internacional.

Ele que, por sua vocação liberal, veio para destruir o Estado brasileiro. Desconstruir nossas instituições.

Ele que manda e Bolsonaro obedece. E causa estrago cada vez que se manifesta. E deixa um rastro de destruição como consequência de todas as suas ações.

 

 

 

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