segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Pitacos vários de eleições, aqui e lá nos States; e o abuso - múltiplo - de que foi vítima Mariana Ferrer

Tempos difíceis esses dias do mês de outubro, em que comemoramos uma marca importante no nosso pitaco. 
Tempos de pandemia. Tempos de convívio com médicos e hospitais. Tempo de aplicações de provas e correções. Tempos de demandas, várias e cada vez mais inusitadas, da Faculdade.
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Felizmente, a Covid-19 que levou minha tia ao Hospital, com diagnóstico de uma pneumonia foi controlada, e minha tia, já retornou - vitoriosa, para casa.
Cabem aqui, no entanto, algumas palavras de agradecimento ao carinho e cuidados que lhe foram dedicados, a todo tempo, pela equipe de médicos (Dr. Maurício, em especial), enfermeiros e técnicos de enfermagem, enfim, a todo pessoal do Hospital da Unimed.
A eles, e apesar de todo o tumulto provocado pela insistência da doença em continuar se espalhando pela cidade, nosso muito obrigado. 

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Mas, além de trabalhos escolares, cujas demandas como já citado, tornam-se cada vez mais intensas e exigentes, a segunda metade do mês de outubro, caracterizou-se também pela intensificação da campanha eleitoral para a escolha de Prefeitos e Vereadores, cujo primeiro turno já se realiza no próximo fim de semana, no próximo domingo, dia 15 de novembro.
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Certamente as eleições e algum comentário sobre os candidatos, suas posturas ou promessas, e até algum comentário sobre a qualidade de seus programas de propaganda, seriam feitos nesses pitacos. 
Mas, enquanto não chega o momento decisivo de depositar o voto na urna, ainda é possível fazer alguma observação, primeiro sobre os candidatos. 
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E, de longe, já dá para perceber a possibilidade, muito viável, de Kalil liquidar a fatura já no primeiro turno. 
E tal sensação, que se confirma com as pesquisas eleitorais que lhe atribuem folgada liderança, deve-se muito a sua atuação firme e decidida no enfrentamento da pandemia que alterou de vez esse nosso ano de 2020.
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Com o apoio de seu secretário de Saúde, o dermatologista Jackson Machado Pinto, cercado de colegas infectologistas e de outras especialidades, foi montado uma espécie de gabinete de crise que, imediatamente, e contra fortes interesses econômicos, decidiu pelo fechamento de parte importante do comércio, das atividades desenvolvidas em todos os setores da cidade. 
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O êxito da iniciativa pode ser visto pela capacidade da capital mineira em "empurrar para a frente" o momento de elevação da curva de contágios, dando tempo para que novos leitos de UTI fossem criados e os já existentes melhor geridos. 
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Isso não significa que o prefeito não cometeu, em minha opinião, algum tipo de arbitrariedade, ele que é um tipo autoritário, boquirroto e tão pouco afeito às regras de maior urbanidade e educação, com postura bastante semelhante àquelas adotadas por Bolsonaro.
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Exemplo de postura desnecessária foi o clima de conflito criado entre ele e a equipe de saúde do governo do Estado, que considero bastante desagradável, por mais que ele tivesse a razão em criticar a inércia do governo de início negacionista de Zema. 
Em um momento em que todo o pessoal da saúde do país criticava a postura adotada por Bolsonaro, cuja atuação era marcada pela falta da liderança e coordenação tão necessárias, em um processo de combate, rápido e efetivo à chegada e dispersão do vírus, Kalil adotava um comportamento belicoso, também pouco preocupado em criar ações integradas. 
Acho que em um momento como esse, em que o objetivo maior deveria ser sempre o de se evitar um número elevado de infectados e de óbitos, todas as autoridades deveriam adotar um discurso único, que se tornasse, de fato, um guia tranquilizador para a população. 
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Outro exemplo, fruto sempre do perfil do prefeito de promover estardalhaço, de agir de forma mais autoritária, como a querer mostrar quem é a autoridade, e mostrar isso sem qualquer preocupação com a adoção de um comportamento mais civilizado, mais diplomático, foi o fechamento das fronteiras da cidade a veículos vindos de municípios vizinhos, todos integrantes da região metropolitana de que Belo Horizonte.
Aqui mais uma vez, a questão da coordenação e da cooperação foram desprezados, em minha opinião, pelo prefeito da cidade que é o polo de liderança, planejamento e coordenação daquilo que se convencionou a chamar de Região Metropolitana de Belo Horizonte. 
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Claro, estando no centro da citada região, e como principal ator, talvez um trabalho comum, por meio de reuniões e com a participação e ideias de prefeitos dos municípios limítrofes, poderia ampliar a área geográfica e os resultados positivos que o prefeito comemora limitados à capital. 
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O problema aí, em meu entendimento, estava vinculado às eleições, e à disputa entre os prefeitos para poderem se mostrar como INDIVIDUALMENTE mais eficientes. 
A adoção de tal postura ajudaria, claro, a não diluir o êxito obtido, que poderia levar a tal sucesso ter de ser rateado entre mais prefeitos, também candidatos, ainda que em seus municípios. 
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Dos outros candidatos, apenas fazer referência a um candidato, ainda jovem, recém iniciado na política, com um discurso que privilegia uma agenda dominada por temas da pauta de costumes, em minha visão, ultrapassada: Bruno Engler.
Influenciado, talvez, pelo êxito da campanha de Jair Bolsonaro e seu ideário de ultradireita, pauta de costumes, discurso nacionalista, militarista, armamentista e autoritário, muito avesso à democracia, à criação de igualdade de oportunidades, e respeito às divergências, Engler declarou sua concordância e seu desejo integral de reproduzir, em escala limitada, o comportamento de seu ídolo.
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O problema é que Engler não percebe, em minha opinião, que gostemos ou não, Bolsonaro tem carisma. Porque, não sei, mas é inegável que tem. 
E Bolsonaro foi eleito em 2018, auge dos movimentos de insatisfação com o fracasso - relativo - de governos de centro-esquerda. E que o ex-capitão, já deixou muito claras as mentiras de seu discurso, anticorrupção, antipolítica e políticos, em defesa de interesses escusos, que compreendem desde as milícias até o enriquecimento ilícito dos filhos, em especial, e demais familiares. 
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Além disso, da mesma forma que há dois anos atrás o fracasso das políticas distributivistas e de redução das desigualdades dava material para um discurso antiesquerdista, tão rapidamente e com a mesma intensidade, a passagem desse biênio, trouxe e promoveu a sensação de cansaço, de falta de efetividade, de inação, muito em razão da inépcia e da inapetência para lidar com os problemas do dia a dia de governar, do líder máximo dessa vertente, hoje. 
Do ocupante do Executivo nacional, apenas a pauta de costumes, continua tendo algum tipo de apelo, graças a todos os líderes religiosos que o apoiam, com destaque para a sinistra Damares.
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Daí porque, em minha avaliação, as pesquisas conseguem atribuir a Engler mais que mero traço, melhor forma de avaliação de um discurso tão frágil, e vazio. 
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Outros candidatos, com menor ostensividade, falham também na avaliação e na leitura do governo Bolsonaro, tentando, com sucesso nenhum, se mostrarem candidatos afinados com o ex-capitão. 
Seu fracasso será ainda maior que o de Engler.
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Quanto a Nilmário, e apesar de todo o respeito que o ex-ministro me merece, sua candidatura revela apenas que o PT envelheceu. E que deverá passar por um processo de renovação, se não quiser, tal qual o seu irmão siamês, o PSDB, virar apenas um retrato na parede. 
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Em minha opinião, sobra como novidade e tentativa de arejar a forma de fazer política na nossa capital, a candidatura da combativa, reconhecida e homenageada ex-vereadora, deputada federal, Áurea Carolina. 
O que mostra que se há algo novo em termos de concepção e da prática política, esses novos ares, são consequência de um partido como o PSOL, em que se destacam jovens lideranças, como Boulos, em São Paulo; Freixo, no Rio; Áurea aqui em nossa capital, e deputada federal Sâmia Bomfim e Ivan Valente, além da ex-prefeita Erundina. 
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Kalil ganhou projeção por conta da atuação séria na pandemia, mas antes já havia falhado no tratamento das ocupações urbanas, no tratamento das necessidades e demandas das populações mais carentes, na forma de lidar com o problema contumaz das chuvas e inundações, do tratamento dispensado ao transporte público, sempre caro e de má qualidade, na forma de tratamento dado à "caixa preta" da BHTrans e dos empresários do transporte urbano,  para não falar de seu apreço por obras de recuperação de vias naqueles bairros da região Centro-Sul.
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Enfim, dia 15 vem aí, e com ele a responsabilidade pelo que desejamos para nossa cidade, por um prazo de mais quatro anos.
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Enquanto aqui se aproximam as eleições, nos Estados Unidos a escolha clara da população foi a favor de uma mudança. 
Não de filosofia, posturas, compromissos, relações geopolíticas ou de comércio. 
Mudança não no sentido de permitir aos Estados Unidos deixarem de lado a concepção de serem os gendarmes do mundo.
Os Estados Unidos não irão abandonar o papel de pretensa liderança a que todos os aliados devem se curvar, em prol e benefício de construção de uma sociedade livre. 
Afinal, com Trump ou Biden, o poder industrial bélico, o poder do capital financeiro e dos magnatas das finanças internacionais, o poder dos militares e falcões do Pentágono, não muda de mãos. 
Logo, não mudam de mãos a essência e o fundamento do poder americanos.
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Biden, por sua postura mais recente, será mais diplomático. Fará mais discursos pelo fortalecimento de relações e organizações e organismos multilaterais. 
Deverá adotar uma postura mais aberta para a discussão das questões relativas à sustentabilidade, à preservação do meio ambiente, aos mecanismos de controle de emissões de poluentes. 
Talvez, vá aproveitar a onda e surfar na tentativa de adoção de medidas de maior integração racial na sociedade americana, ele que tem ligações históricas e reconhecidas com os movimentos negros desde o início de sua trajetória política. 
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De quebra, tem ainda uma vice, mulher, preta, filha de imigrantes, o que reúne em uma mesma pessoa, não apenas, qualidade, conhecimento, experiência, capacidade de ação, mas também toda uma pauta de mudanças e respeito às minorias. 
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O problema maior em relação a Biden é, mais uma vez, o vexame de Bolsonaro, capaz de, por pirraça ou apenas um discurso vazio (nele), ideológico, acabar não reconhecendo o presidente eleito, mesmo depois que seu "patrão" Trump, o faça.
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Um último comentário: sobre o julgamento e a execração pública a que foi submetida Mariana Ferrer, por representantes de uma justiça cada vez mais indigna do nome. 
A humilhação a que Mari foi exposta, apenas por ser mulher, ou então, pior ainda, porque seu estuprador é considerado um homem rico, bonito, bem nascido, empresário, bem relacionado, etc. mostra apenas a podridão que ainda domina certos tipos de pessoas, pensamentos, ambientes, e parcelas de nossa sociedade. 
Como disse um amigo, o que pudemos assistir da gravação do linchamento moral a que a vítima do crime sexual foi submetida, tornando-se, mais uma vez, vítima;  o desdém com que seus direitos foram desrespeitados, por aqueles que se julgam seres melhores, dotados de um comportamento eticamente e moralmente superior ao dos demais mortais, dá vergonha a todos nós, brasileiros, de sermos homens. 
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O machismo nos envergonha.
Porque macho não pode ser aquele que se aproveita da situação de indefesa dos que lhe cercam. 
Esse não é o macho. 
É apenas o covarde. 

Um comentário:

Neuza Botelho disse...


Paulo . Ótima resenha dos desatinos do presidente e sua gangue de colaboradores. Causa indignação assistir a falta de atuação do Congresso que, a exemplo de Pilatos, nada faz para proteger nossa população. Ou deter o mais alto mandatário do país que, no mínimo, incentiva à desobediência ao que determinam os agentes de de saúde pública em todo o mundo. Causa-me ainda estranheza a falta do "clamor das ruas" face os números assustadores de mortes e infectados em nosso país.
Assim, meu caro, segue meu incentivo para que , a exemplo dos copistas medievais , continue a usar a escrita como forma de “combater o demônio com pena e tinta”.
Afinal, estamos mesmo em um momento de trevas e pestes.