terça-feira, 12 de janeiro de 2021

2021: Um ano melhor? Tentativa de golpe nos Estados Unidos e ameaça de golpe no Brasil. Golpe a vista e o temor de um impeachment.

 Atos de barbárie e selvageria marcaram o início desse ano de 2021, que uma parcela significativa de nós acreditava ser um ano de redenção. De superação. De avanços em relação à evolução e melhora das bases das relações humanas.

Sinais para otimismo não eram poucos. Afinal, encerrava-se o trágico ano de 2020, dominado pela pandemia da Covid-19, e caracterizado por milhares de mortes e ações de isolamento social, que compreendiam o fechamento de cidades e de atividades econômicas, na tentativa mal sucedida de contenção do contágio.

Famílias perderam entes queridos; milhares de pessoas perderam empregos, outro tanto perdeu sua fonte de renda; empresários de todo o porte foram obrigados a fecharem suas empresas, algumas,  sem capacidade de atravessarem o momento de crise, condenadas ao encerramento definitivo.

Aqueles que conseguiram manter seu emprego, passando à adoção do trabalho remoto, perderam o contato com os colegas; as reuniões familiares passaram a ser evitadas e, em geral, as pessoas foram sacrificadas, sem a possibilidade de manifestação do apoio, do “colo”, da solidariedade, do ABRAÇO.

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Mas, a mera convenção do fatiamento do ano, da renovação possibilitada dos desejos atribuída à Drummond, pela simples virada de um dia no calendário, era o necessário para que todos nós nos enchêssemos de esperança e saudássemos 2021.

Motivos vários não faltavam para a expectativa positiva: a ciência, tantas vezes desprezada tinha, afinal, conseguido a façanha de, em tempo recorde, produzir a vacina salvadora contra o corona. O Reino Unido, os Estados Unidos, vários países, já davam início às campanhas de vacinação em massa, abrindo perspectivas de que 2021 seria um ano de retomada, de negócios, de atividades, de afetos.

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O alinhamento cósmico e a aproximação inédita de Júpiter com Saturno pareciam pressagiar a possibilidade de aproximação das pessoas, na criação do que já se definia como o novo normal: uma sociedade mais solidária, mais capaz de respeitar as diferenças e os diferentes; onde as relações humanas passariam a se guiar menos pelas conquistas individuais, egoísticas ou ególatras, para dar espaço a avanços coletivos.

O mapa astral anunciava ser chegada a Era de Aquarius, tão esperada desde os anos libertários, lisérgicos dos anos 60, ainda no século passado. Com a nova era, a renovação do lema do movimento psicodélico de Paz e Amor!

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Particularmente, a partir de uma visão pessimista, eu não acreditava que o simples desafio representado pela crise sanitária e o gigantesco esforço para vencer e superar aquele drama teriam a capacidade de nos tornar melhores.

Pensava: se em meio ao turbilhão que nos atinge, as pessoas não alteram seu comportamento, por que razão iria haver uma mudança, como se consequência do brandir de uma varinha mágica, que faria a humanidade deixar de lado seu egoísmo.

As pessoas continuavam preocupadas mais com seus interesses particulares; os empresários em reduzir salários dos seus empregados, exigindo o fim do lockdown que os afetava; em especial os mais jovens começavam a se sentir excessivamente tolhidos em sua sede de viver, ganhando os espaços públicos, as festas, as comemorações, as praias, as conglomerações...

Se o futuro pertence aos jovens, e sua imaturidade se demonstrava em ações que não respeitavam as normas mínimas de segurança recomendadas pelas organizações médicas, de saúde, por que acreditar que o mundo seria melhor? Quando?

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A irresponsabilidade da juventude, de classes abastadas ou mais ou menos aptas a se manterem em meio à crise econômica, a sua ânsia irrefreada de sair em busca de diversão,  foram responsáveis pela segunda onda de casos de infecções, e mais mortes.

Mortes que pouco os comoviam, apesar dos alertas gerais.

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E para mostrar que 2021 seria um 2020 piorado, apesar da vacinação em curso, o mundo assiste estarrecido à reação, completamente insana e inconsequente, do presidente da maior nação do mundo ocidental, aquela que se autodenomina (sem qualquer razão para tanto) o baluarte da defesa dos valores democráticos,  de tentar dar um golpe de Estado, incapaz de aceitar a derrota que o povo americano lhe impôs.

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O espetáculo da invasão do Capitólio, então considerado a Casa do Povo, por malucos, sectários, extremistas, machos supremacistas brancos, alguns portando vestes e símbolos do que de pior a humanidade conseguiu gerar no século passado, como o nazismo, o fascismo, foi não apenas mais uma vergonha para o povo americano. Para toda a humanidade.

Ao ver defensores de Trump e de seu delírio usando camisetas com estampa de Auschwitz, a invasão e a barbárie servem como alerta de que ainda estamos, a raça humana, longe, bem longe de conseguirmos construir um mundo melhor.

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O mínimo que se deveria desejar nessa hora, sem qualquer revanchismo ou desejo de vingança, seria a prisão imediata do responsável direto pelos fatos lamentáveis, pelo homem que instigou a turba e alimentou o golpe. E a prisão ou punição exemplar de todos os invasores identificados.

Razão porque, ao contrário da extrema direita mundial, que agora critica as redes sociais e plataformas que baniram as mensagens de Trump e de seguidores, acho que a medida demorou para ser adotada.

Nada a ver com censura. Discursos de opinião devem ser sempre respeitados, mesmo que contrários a nossas crenças.

Caso bastante diferente é o de mensagens com conteúdo destinado a insuflar a invasão do espaço de liberdade e de opinião de outros. Que é o que os defensores das teorias fantasiosas e perigosas dos terraplanistas da QAnon, propagam.

Vide os acontecimentos funestos de ataques, e assassinato de pessoas, injustamente acusadas de participação na rede comunista e globalista, internacional, de pedofilia... que povoam a imaginação doente dessa turma.

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Aqui no Brasil, infelizmente, além de milhares de pessoas que reagem às atitudes de manutenção da ordem pública e do respeito às normas de convivência mais comezinhas, e condenam as redes sociais e suas atitudes, de salvaguarda de um espaço de convívio salutar, também o incapaz e inepto que ocupa o mais alto cargo do poder Executivo, defende as atitudes tresloucadas do cenourão que é seu paradigma.

Pior: no nosso caso, não é apenas o incapaz que adota o mesmo comportamento. Sua família, de “trainees de bandidos e malfeitores”, já que não podem ser classificados como tal, ao menos enquanto não condenados nos vários casos em que são ou deveriam ser alvos de investigação, lhe acompanham.

E não apenas eles, os amigos e seus "parças" da milícia. Também os alunos do filósofo de araque, astrólogo de profissão, olavo carvalho (em minúsculas mesmo!), como os Ernestos, os Weintraubs, os malucos da Brado, rádio que consegue achar que até Bolsonaro virou comunista, sob a tutela de ..... José Dirceu?!?!?!

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A declaração de Bolsonaro, de apoio a Trump, seria apenas mais uma jura de amor, dessas que não é para se levar a sério,  não fosse ameaçar repetir o espetáculo, em nosso país, sob a desculpa de fraude nas urnas eletrônicas eleitorais.

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Já fui escrutinador no tempo da cédula de papel, para saber da oportunidade sempre presente, de se falsificar votos. Afinal, quantas cédulas oficiais, não vinham nas urnas junto aos votos válidos, todas em branco. Prontas para, em um momento de descuido, ou no caso de um acordo entre os membros da mesa de escrutínio, serem preenchidas de forma irregular.

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E, devo confessar que, isso poderia acontecer, mesmo sem a participação direta do beneficiário do voto falsificado.

O que me leva a concluir que o fato de Bolsonaro ter se beneficiado de alguns votos, anulados por serem considerados falsos, na eleição de 1994, como tenho visto circular em foto de matéria de jornal daquele ano, em minha opinião, não o incrimina.

Apesar de servir, mais uma vez, de alerta.

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Mas, Bolsonaro não pode ter a chance de chegar a 2022, no poder, em condições de tentar uma reeleição. Porque no caso temerário e pouco plausível de que fosse vitorioso, estaria aberto o espaço, com apoio dos eleitores, para a tentativa de um autogolpe.

No caso de derrota, estaria armado o ambiente para o golpe, independente de qualquer que fosse a urna, eletrônica, com recibo ou de papel. Como Jair já anunciou, que o fará...

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Apenas dois detalhes para não esticar ainda mais esse pitaco:

Urna eletrônica com comprovante impresso do voto para o eleitor, num país que as pessoas não se preocupam em reter o comprovante de gastos com cartão de crédito é uma ironia.

Mais importante: para que houvesse a possibilidade de o comprovante servir para contestar o número de votos obtidos por algum candidato, o voto, em  meio a vários outros, deveria permitir identificar de fato quem é o eleitor responsável pelo voto.

Ou seja: aquilo que a nossa Constituição consagra, a inviolabilidade do voto, teria que ser, necessariamente rompida.

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Por fim: não adianta agora o discurso de Maia, dando força à instauração de um processo de impeachment do presidente.

Assim fica fácil, para quem nada fez quando teve condições para tanto. Ao contrário, Maia ficou sentado em cima de mais de 60 pedidos de abertura de processo visando o impedimento do presidente.

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Se não o fez, por medo da reação dos partidários do dito mito, agora armados; se não o fez sob a justificativa de que apenas com uma pressão popular, nas ruas, o impeachment poderia vingar, o que abriria oportunidade para choques violentos entre os pró e contra o presidente; se não o fez por não saber como seria o comportamento das forças armadas em momento em que uma convulsão social poderia obrigar a sua convocação às ruas; se não o fez por temer que, se os oficiais estão divididos, alguns deles, apoiadores, nos palácios e com cargos no governo; se não o fez, levado pela impressão cada vez maior de que a soldadesca está com Bolsonaro, depois de tantos afagos que o ex-capitão lhes prestou, são hipóteses que merecem ser analisadas.

Mas, Maia podia ter evitado que as coisas chegassem até onde chegaram, antes de ter de passar o bastão para outro, junto à responsabilidade de abrir ou não processos por crime de responsabilidade contra Bolsonaro.

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Se não o fez, é ainda por acreditar na política liberalóide de Guedes, e por saber que, no final, se nada der certo, o capital financeiro de que ele é representante, e seus amigos da Faria Lima têm condições muito facilitadas de tirarem seus dinheiros de nosso país.

Que o diga, e sirva de exemplo, a FORD.

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