Atos de barbárie e selvageria marcaram o início desse ano de 2021, que uma parcela significativa de nós acreditava ser um ano de redenção. De superação. De avanços em relação à evolução e melhora das bases das relações humanas.
Sinais para otimismo não eram poucos. Afinal, encerrava-se o
trágico ano de 2020, dominado pela pandemia da Covid-19, e caracterizado por
milhares de mortes e ações de isolamento social, que compreendiam o fechamento
de cidades e de atividades econômicas, na tentativa mal sucedida de contenção
do contágio.
Famílias perderam entes queridos; milhares de pessoas
perderam empregos, outro tanto perdeu sua fonte de renda; empresários de todo o
porte foram obrigados a fecharem suas empresas, algumas, sem capacidade de atravessarem o momento de
crise, condenadas ao encerramento definitivo.
Aqueles que conseguiram manter seu emprego, passando à
adoção do trabalho remoto, perderam o contato com os colegas; as reuniões
familiares passaram a ser evitadas e, em geral, as pessoas foram sacrificadas,
sem a possibilidade de manifestação do apoio, do “colo”, da solidariedade, do
ABRAÇO.
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Mas, a mera convenção do fatiamento do ano, da renovação
possibilitada dos desejos atribuída à Drummond, pela simples virada de um dia
no calendário, era o necessário para que todos nós nos enchêssemos de esperança
e saudássemos 2021.
Motivos vários não faltavam para a expectativa positiva: a
ciência, tantas vezes desprezada tinha, afinal, conseguido a façanha de, em
tempo recorde, produzir a vacina salvadora contra o corona. O Reino Unido, os
Estados Unidos, vários países, já davam início às campanhas de vacinação em
massa, abrindo perspectivas de que 2021 seria um ano de retomada, de negócios,
de atividades, de afetos.
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O alinhamento cósmico e a aproximação inédita de Júpiter com
Saturno pareciam pressagiar a possibilidade de aproximação das pessoas, na
criação do que já se definia como o novo normal: uma sociedade mais solidária,
mais capaz de respeitar as diferenças e os diferentes; onde as relações humanas
passariam a se guiar menos pelas conquistas individuais, egoísticas ou
ególatras, para dar espaço a avanços coletivos.
O mapa astral anunciava ser chegada a Era de Aquarius, tão
esperada desde os anos libertários, lisérgicos dos anos 60, ainda no século
passado. Com a nova era, a renovação do lema do movimento psicodélico de Paz e Amor!
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Particularmente, a partir de uma visão pessimista, eu não
acreditava que o simples desafio representado pela crise sanitária e o
gigantesco esforço para vencer e superar aquele drama teriam a capacidade de nos
tornar melhores.
Pensava: se em meio ao turbilhão que nos atinge, as pessoas
não alteram seu comportamento, por que razão iria haver uma mudança, como se
consequência do brandir de uma varinha mágica, que faria a humanidade deixar de
lado seu egoísmo.
As pessoas continuavam preocupadas mais com seus interesses
particulares; os empresários em reduzir salários dos seus empregados, exigindo
o fim do lockdown que os afetava; em especial os mais jovens começavam a se
sentir excessivamente tolhidos em sua sede de viver, ganhando os espaços
públicos, as festas, as comemorações, as praias, as conglomerações...
Se o futuro pertence aos jovens, e sua imaturidade se
demonstrava em ações que não respeitavam as normas mínimas de segurança
recomendadas pelas organizações médicas, de saúde, por que acreditar que o
mundo seria melhor? Quando?
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A irresponsabilidade da juventude, de classes abastadas ou
mais ou menos aptas a se manterem em meio à crise econômica, a sua ânsia
irrefreada de sair em busca de diversão,
foram responsáveis pela segunda onda de casos de infecções, e mais
mortes.
Mortes que pouco os comoviam, apesar dos alertas gerais.
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E para mostrar que 2021 seria um 2020 piorado, apesar da
vacinação em curso, o mundo assiste estarrecido à reação, completamente insana
e inconsequente, do presidente da maior nação do mundo ocidental, aquela que se
autodenomina (sem qualquer razão para tanto) o baluarte da defesa dos valores
democráticos, de tentar dar um golpe de
Estado, incapaz de aceitar a derrota que o povo americano lhe impôs.
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O espetáculo da invasão do Capitólio, então considerado a
Casa do Povo, por malucos, sectários, extremistas, machos supremacistas
brancos, alguns portando vestes e símbolos do que de pior a humanidade
conseguiu gerar no século passado, como o nazismo, o fascismo, foi não apenas
mais uma vergonha para o povo americano. Para toda a humanidade.
Ao ver defensores de Trump e de seu delírio usando camisetas com
estampa de Auschwitz, a invasão e a barbárie servem como alerta de que ainda
estamos, a raça humana, longe, bem longe de conseguirmos construir um mundo
melhor.
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O mínimo que se deveria desejar nessa hora, sem qualquer
revanchismo ou desejo de vingança, seria a prisão imediata do responsável
direto pelos fatos lamentáveis, pelo homem que instigou a turba e alimentou o
golpe. E a prisão ou punição exemplar de todos os invasores identificados.
Razão porque, ao contrário da extrema direita mundial, que
agora critica as redes sociais e plataformas que baniram as mensagens de Trump
e de seguidores, acho que a medida demorou para ser adotada.
Nada a ver com censura. Discursos de opinião devem ser
sempre respeitados, mesmo que contrários a nossas crenças.
Caso bastante diferente é o de mensagens com conteúdo
destinado a insuflar a invasão do espaço de liberdade e de opinião de outros.
Que é o que os defensores das teorias fantasiosas e perigosas dos
terraplanistas da QAnon, propagam.
Vide os acontecimentos funestos de ataques, e assassinato de
pessoas, injustamente acusadas de participação na rede comunista e globalista, internacional, de pedofilia... que povoam a imaginação doente dessa turma.
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Aqui no Brasil, infelizmente, além de milhares de pessoas
que reagem às atitudes de manutenção da ordem pública e do respeito às normas
de convivência mais comezinhas, e condenam as redes sociais e suas atitudes, de
salvaguarda de um espaço de convívio salutar, também o incapaz e inepto que
ocupa o mais alto cargo do poder Executivo, defende as atitudes tresloucadas do
cenourão que é seu paradigma.
Pior: no nosso caso, não é apenas o incapaz que adota o
mesmo comportamento. Sua família, de “trainees de bandidos e malfeitores”, já
que não podem ser classificados como tal, ao menos enquanto não condenados nos
vários casos em que são ou deveriam ser alvos de investigação, lhe acompanham.
E não apenas eles, os amigos e seus "parças" da milícia.
Também os alunos do filósofo de araque, astrólogo de profissão, olavo carvalho
(em minúsculas mesmo!), como os Ernestos, os Weintraubs, os malucos da Brado,
rádio que consegue achar que até Bolsonaro virou comunista, sob a tutela de
..... José Dirceu?!?!?!
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A declaração de Bolsonaro, de apoio a Trump, seria apenas
mais uma jura de amor, dessas que não é para se levar a sério, não fosse ameaçar repetir o espetáculo, em
nosso país, sob a desculpa de fraude nas urnas eletrônicas eleitorais.
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Já fui escrutinador no tempo da cédula de papel, para saber
da oportunidade sempre presente, de se falsificar votos. Afinal, quantas
cédulas oficiais, não vinham nas urnas junto aos votos válidos, todas em
branco. Prontas para, em um momento de descuido, ou no caso de um acordo entre
os membros da mesa de escrutínio, serem preenchidas de forma irregular.
***
E, devo confessar que, isso poderia acontecer, mesmo sem a
participação direta do beneficiário do voto falsificado.
O que me leva a concluir que o fato de Bolsonaro ter se beneficiado
de alguns votos, anulados por serem considerados falsos, na eleição de 1994,
como tenho visto circular em foto de matéria de jornal daquele ano, em minha
opinião, não o incrimina.
Apesar de servir, mais uma vez, de alerta.
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Mas, Bolsonaro não pode ter a chance de chegar a 2022, no
poder, em condições de tentar uma reeleição. Porque no caso temerário e pouco
plausível de que fosse vitorioso, estaria aberto o espaço, com apoio dos
eleitores, para a tentativa de um autogolpe.
No caso de derrota, estaria armado o ambiente para o golpe,
independente de qualquer que fosse a urna, eletrônica, com recibo ou de papel.
Como Jair já anunciou, que o fará...
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Apenas dois detalhes para não esticar ainda mais esse
pitaco:
Urna eletrônica com comprovante impresso do voto para o
eleitor, num país que as pessoas não se preocupam em reter o comprovante de
gastos com cartão de crédito é uma ironia.
Mais importante: para que houvesse a possibilidade de o
comprovante servir para contestar o número de votos obtidos por algum
candidato, o voto, em meio a vários
outros, deveria permitir identificar de fato quem é o eleitor responsável pelo voto.
Ou seja: aquilo que a nossa Constituição consagra, a
inviolabilidade do voto, teria que ser, necessariamente rompida.
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Por fim: não adianta agora o discurso de Maia, dando força à instauração de um
processo de impeachment do presidente.
Assim fica fácil, para quem nada fez quando teve condições
para tanto. Ao contrário, Maia ficou sentado em cima de mais de 60 pedidos de
abertura de processo visando o impedimento do presidente.
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Se não o fez, por medo da reação dos partidários do dito
mito, agora armados; se não o fez sob a justificativa de que apenas com uma
pressão popular, nas ruas, o impeachment poderia vingar, o que abriria
oportunidade para choques violentos entre os pró e contra o presidente; se não
o fez por não saber como seria o comportamento das forças armadas em momento em
que uma convulsão social poderia obrigar a sua convocação às ruas; se não o fez
por temer que, se os oficiais estão divididos, alguns deles, apoiadores, nos
palácios e com cargos no governo; se não o fez, levado pela impressão cada vez
maior de que a soldadesca está com Bolsonaro, depois de tantos afagos que o
ex-capitão lhes prestou, são hipóteses que merecem ser analisadas.
Mas, Maia podia ter evitado que as coisas chegassem até onde
chegaram, antes de ter de passar o bastão para outro, junto à responsabilidade
de abrir ou não processos por crime de responsabilidade contra Bolsonaro.
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Se não o fez, é ainda por acreditar na política liberalóide
de Guedes, e por saber que, no final, se nada der certo, o capital financeiro
de que ele é representante, e seus amigos da Faria Lima têm condições muito
facilitadas de tirarem seus dinheiros de nosso país.
Que o diga, e sirva de exemplo, a FORD.
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