Conforme os dicionários, autonomia significa a capacidade de gerir a própria vida, ou autogovernar-se, seguindo sua própria vontade e usando seus próprios meios e princípios.
Do ponto de vista filosófico, é a capacidade de agir com
liberdade moral e intelectual, tomar decisões como sujeito consciente de seus
direitos e deveres em sociedade.
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Sob esse prisma, o que falar do ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga, em seu segundo depoimento à CPI da Covid? Como avaliar sua presença e
declarações em contraposição ao comportamento do ex-ministro, o dissimulado, covarde
e indigno general Pazuello? Ou em comparação à presença, na semana anterior, da
médica Luana Araújo?
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A princípio, apenas admitir que todos eles atendem ao significado
constante nos dicionários, sendo plenamente capazes de gerirem suas vidas.
Todos agem por vontade própria, conforme seus princípios, desejos, recursos.
Assim o general, sem qualquer conhecimento, preparo ou competência
técnica ou moral para ocupar o cargo de ministro para o qual foi nomeado, durante
toda sua gestão apenas conseguiu demonstrar toda sua sordidez.
Ávido em se manter ocupando uma posição proeminente, capaz de
lhe facilitar o acesso a aventuras futuras no âmbito político optou, sem desfaçatez
e de forma consciente, em prestar sinais de vassalagem explícita: caso invulgar
de um general que serve de pilar para as sandices de um capitão.
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“É simples assim: um manda e outro obedece”, frase lapidar e
digna de qualquer rato de esgoto, pode ser visualizada no link abaixo, do
youtube: https://www.youtube.com/watch?v=NRLwxzs219Y
para não cair jamais no esquecimento.
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Ocorre que, o que considero um comportamento subalterno,
subserviente, pode ser a atitude que irá tornar o general credor da gratidão
eterna do capitão genocida, a ponto de permitir que atos de transgressão disciplinar
ao Regimento do Exército se transformem apenas em mais um drible, um lance de Mané
Garrincha, transformando o generalato do Alto Comando e o povo brasileiro,
apenas mais um joão.
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Pazuello tinha autonomia, embora do ponto de vista filosófico,
adota comportamento típico das serpentes rastejantes, incapaz de agir com
liberdade moral para tomar decisões como um sujeito consciente de seus direitos
e deveres em e com a sociedade.
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Envergonhando o Exército, essa instituição que muito pouco
tem em sua história de que se orgulhar (vide todo o golpismo praticado em todo
o século passado e a lista de atos de desrespeito aos mais triviais direitos
humanos!), Pazuello se desvencilha de uma punição merecida.
E merecida não por ter participado de passeio motociclístico, com esportistas
radicais, e ter subido em carro de som atendendo a chamado de um superior
hierárquico.
Mas por ter aproveitado aquele momento para discursar o mais
patético discurso de puxa-saquismo ao PR, a que ficou bajulando.
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Já a médica Luana é o típico caso de bolsominion arrependida.
Dotada de personalidade forte e grande vontade de se
destacar, a mulher de sete instrumentos e cantora de um único disco, na falta
de convite para participar de algum ‘reality show’ de celebridades ou subs, viu
cair como uma luva o convite para ocupar secretaria encarregada de combater a
pandemia.
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Competência técnica, conhecimento científico especializado,
fluência verbal e capacidade de leitura e atualização não podem lhe ser
negados.
O que permitiu que dominasse completamente o ambiente da CPI,
dando um autêntico show de conhecimento e altivez. O que permitiu a imediata
identificação das razões porque, embora indicada, não teve seu nome referendado
para ocupar o cargo.
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Se se sentiu desprezada por sua antiga turma, não passou
recibo ou apelou para demonstrações agressivas. No máximo, apontou de forma
destacada sua discordância em relação à visão plana da terra, ou com a borda de
que pretendiam se atirar em aventuras golpistas futuras.
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Faça-se justiça à médica Luana, cujo comportamento foi, o
tempo todo, de quem tem autonomia, salvo quando de sua preocupação em tirar a
responsabilidade de sua lamentável experiência de seu parceiro, dr. Queiroga.
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Comportamento que Marcelo Queiroga não foi capaz de adotar,
ao criticar a sua indicada de forma subreptícia, dissimulada, fosse quando deu
a entender que ela era dotada de uma personalidade muito estelar (ou solar),
fosse quando deixou no ar o fato de a médica ser muito individualista ao ponto
de ser desagregadora ou não conseguir trabalhar em equipe.
Caraterísticas, afinal, de uma pessoa que se considera a ‘última
bolacha do pacote’ ou muito superior aos demais colegas.
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Nesse sentido, há de convir, não há comparação possível a
ser feita entre a Dra. Luana, a Dra. Nise ou Mayra Pinheiro.
Dra. Luana, ao menos mostrou a hombridade que, equivocada, alegou
ter identificado no ministro. E, sem dúvida, mostrou autonomia no conceito filosófico
do termo.
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Já o Dr. Marcelo Queiroga também mostrou ser também
subserviente, mas não por sua participação ontem ou na primeira vez que esteve
prestando informações à CPI.
No caso do ministro atual, até pior: se em sua primeira
participação se mostrou mais evasivo, desta vez mostrou comportamento mais submisso.
Ah! sim. Teve de adotar uma posição pessoal, agora contrária
ao uso da cloroquina. Mas, nem em relação a esse tema, foi firme.
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Se a cloroquina e os medicamentos do tratamento precoce não têm
eficácia comprovada, isso não significa que são ineficazes, quem sabe algum
estudo futuro seja capaz de....
De mais a mais, a recomendação do uso do kit covid,
incluindo a indicação de dosagem de medicamentos, não será retirada do site do
Ministério, nem mesmo, como o ministro alegou, deslocada para uma parte dedicada
a história do ministério e da pandemia.
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Queiroga tem autonomia. Mas no sentido daquela detida por Pazuello,
alheia ao do conceito filosófico da palavra.
E antes que me esqueça, há uma enorme distância entre ambos
os personagens: Queiroga não consegue ser tão abjeto e rasteiro quanto o militar,
agora estrategista.
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E nem precisava de tanta perda de tempo elaborando perguntas
para o ministro atual.
Bastava lembrar de sua fala a respeito de política pública
de saúde, quando chegava para encontro com Pazuello, antes mesmo de ser
formalmente nomeado ministro, que pode ser vista no link:
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/16/queiroga-diz-que-politica-e-do-governo-bolsonaro-ministro-executa
Para ele, a política é do governo. Ministro da saúde (em minúsculas
mesmo) é apenas executor.
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Quem se colocou, desde logo, como mero serviçal foi o
próprio Queiroga. Querer que ele oriente, critique, ou seja, exerça o papel técnico
que, em tese, o fez ser nomeado, é querer demais.
Quem nasceu para centavo, nunca chega a real.
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Quanto à seleção, aos jogadores e seu movimento contra a
realização da Copa América, e em relação a Tite, não dá para esperar nada
diferente.
Não apenas porque no meio dos jogadores há pessoas de todas
as correntes ideológicas ou de pensamento, o que é direito delas, como por medo
de punições que a máquina de fazer dinheiro a partir desse esporte consegue
movimentar. O que pode custar muito caro a todo o grupo.
É isso.
2 comentários:
"Quem nasceu para centavo, nunca chega real" adorei a frase!!
E assim a banca "toca" e caminha a sociedade brasileira em direção ao precipício! O capitão anda quieto né? Porque será? Talvez sinta o cheiro da batata queimada já!
Mas também do que vale? Se assim como outros militares, daqui uns anos inventam outra reunião dessas para anistiar os CRIMES cometidos durante a maior pandemia do século
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