terça-feira, 14 de setembro de 2021

Declaração à nação é uma fakeletter, engana apenas aos que acreditam que o escorpião pode mudar sua natureza

 Parte do pitaco hoje se dedica a trazer comentários sobre a Declaração à Nação, produzida por Temer e assinada pelo presidente da República, no dia 9 passado, depois do malogro da tentativa de golpe patrocinada pelo desequilibrado que ocupa o Executivo.

Suficientemente analisada pela mídia, a carta, como também tem sido chamada, não passa de mais uma MENTIRA, uma “fakeletter” desse ser pútrido que ocupa o poder. O que, convenhamos, não poderia ser nem diferente nem causar surpresa.

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Diferente agora, é a presença de um ser saído das sombras, figura vampiresca, como Temer. Sempre ardiloso, sempre subreptício, sempre a favor de interesses inconfessáveis e contrários à grande massa de cidadãos brasileiros.

Temer, infelizmente, passa para a história de nosso país como aquele político sem votos, alçado ao cargo de presidente às custas das maiores intrigas, desfaçatez e traição de nossa República. Um Silvério dos Reis que deu certo. E cuja boca continua torta, pelo uso continuado do cachimbo.

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Não admira portanto, que no tumulto que se seguiu ao golpe frustrado desse Messias de araque, tenha corrido para se apresentar como um homem de diálogo, apaziguador das forças em conflito, representante dos interesses mais abjetos e sempre, SEMPRE, contrários aos interesses, desejos e necessidades da ampla maioria do povo brasileiro.

Não à toa, seu surgimento das sombras se fez justo quando o mercado financeiros começava a sofrer perdas e danos da aposta equivocada que fez em 2018, e que vinha sustentando até o presente.

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Afinal: já há muito a teoria econômica, Keynes à frente, tinha mostrado a importância da manutenção de um ambiente de tranquilidade, capaz de aplacar as expectativas,  por si só naturalmente incertas, de decisões adotadas no presente e resultados a serem apurados no futuro.

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Agindo e falando em nome dos interesses da casta que compõe o mercado financeiro, Temer se apressou a tentar por panos quentes na situação conflituosa do pós 7 de setembro.

Afinal, nem ele pode negar, nem nós esquecermos sua frase síntese: “tem que manter isso aí”.

Dessa feita, o isso aí contra os interesses da população que constrói essa nação com sua luta e sacrifícios. A favor dos interesses do capital financeiro e do grande empresariado, das privatizações, das reformas na Câmara, como a da tributação que apenas amplia a carga, sem nem tentar cumprir minimamente qualquer interesse distributivista; a reforma administrativa, destinada a destruir a administração do Estado, pelo retorno de política de favorecimentos e compadrios, retirando de seu corpo funcional, as condições para trabalharem em prol de interesses outros que não os particulares; ou a reforma trabalhista, para eliminar direitos e fragilizar o cada vez mais precário elenco de direitos do trabalhador.

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Mas, o pitaco não é sobre Temer, e sim sobre o miliciano genocida, golpista que ocupa o governo. E sobre sua declaração mentirosa.

Suficientemente divulgada e conhecida, não seria necessário voltar a abordar o documento, não fosse uma recomendação do próprio fantoche que a assina: “O cara não lê a nota e reclama. Leia a nota. Duas, três vezes. Bem curtinha. São 10 pequenos itens. Entenda. A gente vai acertando”...

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Como gosta  de dizer o Pazueira, missão dada, missão cumprida. Mas vou pinçar apenas alguns itens. A começar pelo título, de declaração à nação, por si só uma inverdade que se manifesta em sua inteireza no item final, quando afirma “10. “Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro...”

Vindo de um presidente cujos índices de popularidade despencam de forma acelerada, e que depois de 2 meses preparando o ambiente para um golpe, com recursos públicos, consegue reunir apenas 125 mil bolsotários em seu apoio, é de se questionar, até como simples figura de retórica o tal extraordinário apoio. Pior, por que ele se refere ao povo não como um todo, mas ao seu curral cativo: “com quem alinho meus princípios e valores...”

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Ora, foram poucos,  muito poucos em termos de representatividade, embora um número absoluto elevado (125 mil) o povo que saiu com armas e faixas e cartazes pregando o golpe, autorizando o golpe e querendo a volta da ditadura, da intervenção militar – com o infeliz!- e o fechamento das instituições do Estado de Direito.

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Na introdução da nota, faz uma afirmação supérflua, desnecessária: “ No instante em que o país se encontra dividido entre instituições ...”.

Completamente ociosa já que ou as instituições ou Poderes da República por definição são 3. Autonômas e independentes. Mais, harmônicas. Como ele reconhece no item seguinte, em que manifesta que “ A harmonia entre eles (os PODERES)  não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.”

Logo, dizer que as instituições não são uma unidade deve ter outra interpretação. E nessa outra visão, o problema é elas estarem em conflito aberto. Mas, é verdadeira essa afirmativa?

E se for, quem ou porque o conflito?

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Todos sabemos a resposta: tendo manipulado verbas e votos para as presidências das casas legislativas, o presidente ainda assim tem sofrido derrotas em seus projetos. Até mesmo depois de acordos com o Centrão e liberação de verbas orçamentárias em verdadeira enxurrada, o presidente não consegue ter toda sua pauta analisada, votada, aprovada.

Sem perceber que o Centrão é isso aí, ou seja, quanto mais ele, o presidente se enfraquecer, mais esse bloco conquista recursos e cargos e transforma o presidente numa peça que reina mas não governa: uma autêntica rainha da Inglaterra.

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Já com relação ao Judiciário, a briga é provocada pela disposição de interferir na pauta de assuntos, e no andamento de processos que envolvem ninguém menos que sua familícia. Os irmãos Bolsonalhas, os metralhas do nosso país.

Por isso, sua reação agressiva e sua disposição para a briga. Afinal, não é apenas o caso de “ conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news”.

Trata-se também dos inquéritos sobre as rachadinhas, ou o gabinete do ódio, o financiamento irregular de campanha, a impossibilidade de fraudar as eleições via voto com a participação humana, não digital. Isso sem contar com a corrupção e o assassinato de centenas de milhares de brasileiros em razão de sua inação na pandemia, como a CPI da Covid está mostrando a todo o Brasil.

E o medo pânico de, por culpa do professor, seus filhos acabarem todos no lugar onde merecem estar: na cadeia. Todos presos. Em celas separadas, inclusive daquela desse Messias caído.

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Para não merecer qualquer crédito, a nota diz em seu primeiro item que “Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes..”

Fake. Afinal, não foi a primeira vez que alimentou as ações de seu povo/gado, destinadas a fechar o Supremo.

Ainda naquela reunião fatídica de 22 de abril de 2020, não fez qualquer crítica ao comentário de Weintraub, sobre os membros do Supremo. Nem repreendeu ao seu filho, Edu bananinha, o fritador de hamburguers, que propôs fechar o STF com um cabo e um soldado.

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Sua fala no 7 de setembro, destemperada como de costume, frustrada pelo golpe abortado, foi apenas MAIS UMA agressão de uma série ao Poder e a um de seus membros. Pior, depois de uma tentativa canhestra como é de seu nível de inteligência, de exigir que o ministro Fux enquadrasse um ministro.

A Moraes, a agressão foi por demais óbvia. A ponto de se dizer disposto a não considerar ou cumprir ordens dali emanadas, em clara desobediência civil.

Alegar que suas palavras foram no calor do momento é outra fantasia que engana apenas aos incautos. Exceto se o calor do momento seja uma figura de linguagem, ou uma homenagem ao aquecimento global.

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Quanto às naturais divergências em relação a decisões do Ministro, para um energúmeno cujo conjunto de leis se compõe daquelas que, por atenderem a todas as suas vontades são as que ele acredita que devam vigorar – sempre de privilégios para os seus e seus cúmplices, são apenas a demonstração de sua pouca adaptação ao regime democrático de distintos interesses.

Disposição que se torna clara no primeiro ponto, quando afirma não ser sua vontade a harmonia entre os poderes.

Nesse ponto, ao menos reconhece que tal harmonia decorre de disposição constitucional, da mesma Constituição que ele não procura cumprir, salvo no que for compatível com sua ideia de fundamento legal.

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Por fim, mente ao dizer que “Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.”

Só não mente ao utilizar o lema integralista com que finaliza a carta.

Nem quando reclama que seus seguidores não leram a carta, e cobram dele coerência. Por isso afirmou na live da mesma quinta, dia 9, que não pediu desculpas.

E tenta vender a ideia de que adotou uma postura estratégica.

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Aqui é fato. Apenas recuou momentaneamente, para arregimentar suas forças, avaliar suas estratégias e partir para novos ataques, com a esperança de que sejam exitosos.

Quanto à reação dos presidentes das casas do Congresso, de elogios à retomada da harmonia e do diálogo, e a postura aliviada do mercado financeiro, apenas revelam que sabem que é o tempo disponível para que concluam o ataque aos direitos dos brasileiros, e que vão procurar utilizar tal tempo com a maior dedicação, antes que nova tentativa de golpe seja lançada, como um troféu aos “manifestantes que foram às ruas em Brasília no Dia da Independência.”

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De minha parte, os movimentos populares de oposição a essa besta fera, que acreditam na possibilidade de vencer as eleições de 2022, estão iludidas com esse recuo e esse tempo de espera.

Enquanto esperam unir as forças para as eleições democráticas, custam a se dar conta de que o jogo desse genocida é partir para o golpe do desespero, impedindo as eleições.

2 comentários:

Unknown disse...

Ô Paulo, duas coisas. O Alexandre de Morais é o próximo presidente do TSE!! É quem vai presidir as eleições de 2022.
Mais, li nas folhas o seguinte: enquanto o bozo brinca de MMA os oposicionistas brincam de amarelinha. Magela

Anônimo disse...

Excelente.
Que jaMé sinaliza, claramente, que o jogo do golpe não acabou, é certo. Continua cutucando as instituições, que desta vez reagiram. No entanto, de forma tímida e lacônica, dada todo o contexto de violações da Constituição por este indivíduo.
Tenho dúvidas se 125 mil pessoas é um número pequeno; há, a meu ver, um aspecto simbólico neste contingente: talvez os golpistas (incluindo parte das forças armadas) podem, como fez o genocida, fabricar uma justificativa, nova fake, como vem acontecendo há anos.
Felizmente não houve conflito com opositores, o que deve ter frustrado jaMé, estaria aí uma justificativa.
O "deus mercado" que urrou no dia 08, no dia seguinte ovacionou a tal Carta à Nação... Lembro que quando da tragédia em Brumadinho (dia 25.01, sexta feira e feriado em São Paulo), as ações da Vale caíram 24,5%, no dia 28. No entanto no dia 30.01 as ações subiram 9%, apenas pela divulgação de um plano de ação para atenuar os inúmeros impactos do rompimento da barragem. Eis aí quem de fato manda.
O retorno de temer (título de filme de terror, e talvez seja mesmo) abre algumas portas (ou será que fecha?) para o próximo ano, o vampiro surgiu como o apaziguador... isto será capitalizado de alguma forma futuramente.
E a oposição não para de dar cabeças, tropeços e escorregões... Déja Vu.

Fernando Moreira