quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Mais uma vez a taxa pornográfica de juros e a proposta de redução da jornada 6x1
https://youtu.be/Il2ZvrZ7SGQ
No anos 80, quando a economia brasileira passou a conviver com taxas de inflação cada vez mais elevadas e a flertar com a hiperinflação um fenômeno ligado ao comportamento de consumo de famílias de classe de renda mais elevadas, passou a ser observado nos primeiros dias a cada mês.
Recebidos os salários, centenas delas se dirigiam aos super ou hipermercados, onde passariam toda a noite em compras, enfrentando o congestionamento das lojas e as filas quilométricas que se formavam nos caixas, cada uma conduzindo 4 ou mais carrinhos abarrotados. A lógica era comprar grandes quantidades de produtos para formar estoques e evitar a necessidade da repetição de compras ao longo do mês, evitando os efeitos da ação das temíveis maquininhas remarcadoras de preços, em funcionamento várias vezes ao dia.
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Para alguns empresários, o comportamento adotado parecia incompreensível, contrário ao objetivo amplamente difundido de obter lucros razoáveis, para garantir a continuidade e a ampliação e sobrevivência do negócio. O Carrefour, por exemplo, comprava os produtos de reposição de seus estoques negociando, como era a praxe, o prazo de pagamento em 90 dias (prazo considerado à vista). No mesmo dia, colocava os produtos em suas gôndolas, com descontos que podiam variar de 5 até os 30%, como chamarisco para atrair a atenção de um maior número de consumidores. Obrigados a pagar à vista.
A venda de um bem por valor inferior ao seu custo implicava em um comportamento irracional dado o evidente prejuízo para sua operação comercial. No entanto, era suficientemente compensado pelos altos rendimentos obtidos pela aplicação do dinheiro recebido imediatamente em operações de uma noite no mercado financeiro, o overnight, pelo prazo de 90 dias. Os ganhos financeiros superavam e permitiam, ao final, maior lucratividade da companhia.
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É prática comum às grandes empresas a aplicação das sobras de tesouraria ociosas no mercado financeiro, mas a prática do Carrefour ia muito além desse costume, servindo para denuncicar a FALSIDADE dos objetivos declarados pelos empresários e aceitos pelo senso comum, a saber: gerar produtos e expandir e melhorar a qualidade da produção para atender às necessidades da sociedade; ou fornecer e manter empregos, com remuneração e condições de trabalho dignas; ou de adotar padrões e boas práticas em respeito à sustentabilidade e a consciência social, além e obter lucros razoáveis para a sobrevivência do negócio.
No fundo, ao empresário capitalista interessa apenas ter e aumentar o quanto puder seu lucro.
E não passa de lorota o discurso de suas outras preocupações de caráter social e com a sustentação de uma economia robusta, que permita a existência de uma sociedade pujante, com mais oportunidades de desenvolvimento pessoal e coletivo, mais justa e equânime.
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Relembro esses anos de crise em razão de notícia da coluna Painel S.A, da Folha de ontem (Juro amigo, Júlio Wiziack, p. A 16, 20/11/2024), a respeito de levantamento da consultoria Elos Ayta, de que a alta de juros levou as companhias abertas a aumentarem a aplicação de suas disponibilidades de caixa no mercado financeiro, de março de 2021 a setembro de 2024, em 83 bilhões de reais, uma alta de 55%, atingindo um saldo de 232,4 bilhões. Dinheiro que poderia estar ajudando a expandir a capacidade produtiva (investimentos reais) ou a recuperar a infraestrutura do país e contribuir para o crescimento da economia, não fosse a política de juros criminosa e pornográfica do Banco Central sob influência de Campos Neto.
A constatação é que há companhias que, se aplicaram em renda fixa, podem ter obtido mais renda que com seu próprio negócio, ganhando mais com juros que com sua operação.
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Indústrias com caixa superior a 10 bilhões aplicaram mais de 60% dos recursos no mercado financeiro, como a Marfrig (75, 8% do caixa), segunda maior produtora de carne bovina do mundo e de cujo grupo faz parte a BRF, incluída na lista de isenções recebidas do governo, com 488 milhões de benefícios. Outras empresas compreendem a Minerva (66,8%), benefícío consolidado de 189,9 milhões e a Suzano (66%) e isenção consolidada de 101 milhões.
Tal notícia não sairá nem será comentada na Globo, que tem benefícios de 150 milhões, e aplaude e faz editoriais cobrando mais rigor fiscal ou apoiando mais arrocho da política de juros. E aplaudindo Campos Neto.
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Como juros são custos, e a empresa capitalista tem no crédito uma de suas principais forças motoras, ao lado da inovação (Schumpeter) é, no mínimo curiosa a briga travada pelo meio empresarial contra o único custo que elas levam em consideração e contra o qual investem: o custo do trabalho.
Razão de toda a luta que travam agora contra a proposta de redução da jornada 6x1, classificada pelo setor da Construção Civil como um desastre. Alegando ter gerado novos 17 mil novos postos de trabalho em setembro, conforme dados do CAGED, o setor reclama que teria que arumar mais trabalhadores, o que é impossível, já que o setor enfrenta crise de escassez de mão de obra.
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Para o setor, já em pleno emprego, a escassez se dá por falta de trabalhadores qualificados e pelo desinteresse dos jovens em trabalharem em condições de trabalho com que se deparam.
E embora diretor da Câmara Brasileira da Indústria (CBIC) alegue que teria que arrumar mais trabalhadores, o que é difícil, contraditoriamente argumenta que a proposta, no máximo, levaria a mais desemprego e informalidade.
Argumento que embute ainda a mesma preocupação que Clara Mattei expõe em A Ordem do Capital, que trata da transformação da austeridade como forma de subjugação dos trabalhadores pela classe capitalista, de que o Brasil, sendo um “... país pobre ... as pessoas precisam de renda, precisam de trabalho.” (E. Werthein)
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A mesma argumentação, usando de exemplo de portarias e porteiros/vigilantes é usada pelo prof. Bernardo Guimarães, para declarar que com a aprovação da proposta, os condomínios irão ter que contratar mais porteiros, ou substitui-los por portaria eletrônica, demitindo-os.
Em certo momento, chega a se questionar: “Vai haver mais demissões ou contratações?” Para responder que “... depende .. Eu não sei, e não acho que a gente saiba”. O que não o impede de concluir que “De qualquer forma os custos aumentarão... o serviço ficará mais caro, os custos de bens e serviços ...também ficarão. .... isso se refletirá em preços mais altos.”
Conclusão curiosa para que afirma “A maioria das pessoas ... aparenta ter muita certeza sobre o que deve ser feito. Creio que estejam errados. Deveríamos reconhecer a incerteza...”
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Concluo com conclusão de célebre economista, de que enquanto os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam (Kalecki). Ou seja, se a proposta trouxer mais emprego e salários, isso se transformará em mais consumo. Mais venda e mais lucros para os empresários que terão motivos para aumentar a produção, investindo mais e contratando mais trabalhadores (maiores gastos).
Trabalhadores com mais folga e mais tempo de lazer poderão passear mais com a família e gastar mais com lazer, beneficiando esse importante setor de serviços. Ou irão aproveitar o tempo para aumentar os bicos e sua uberização, aumentando a oferta de outros serviços.
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Um comentário:
Boas e necessárias colocações! 👏👏
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