quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Razões do dólar nas nuvens e da necessidade de a PEC 65 subir no telhado.

https://youtu.be/s0cWtbONx5o Em entrevista concedida ontem, a uma rádio da capital sobre as razões da alta do dólar e suas consequências para o dia a dia do cidadão comum, comecei apontando algumas das razões dessa movimetação, típicas de fim de ano. Primeiro, o fato de contratos internacionais de financiamento terem os meses de abril e outubro como datas para pagamentos de amortizações do principal e de encargos, em especial, juros. Isso explica a queda dos estoques de dólares em poder dos bancos, de 50,6 bilhões em setembro para perto de 30 bilhões de dólares em dezembro. *** Se a oferta de dólar apresenta queda, a demanda tende a aumentar nessa época, seja por causa das viagens internacionais, de férias, seja pela remessa de dividendos das filiais de empresas estrangeiras para suas matrizes. Mas a principal explicação da alta do dólar é a ESPECULAÇÃO praticada pelos mercados financeiros, pressionando ou chantageando o governo de forma a que ele venha a adotar um violento choque fiscal. *** Qual a ideia, por trás dessa cobrança? Para alguns desavisados, a piora de expectativas de inflação. Um comportamento que, curiosamente, repetiu-se em todos os anos do governo anterior, incapaz de cumprir a meta de inflação anual, ou de sequer respeitar o limite superior do intervalo de tolerância. E, por que se acredita que a inflação está fora de contole? Por que o governo Lula é considerado gastador, gastando mais que arrecada, o que revela não ter compromisso com o equilíbrio fiscal. No governo anterior, no desespero de comprar a fantasia de sua reeleição, houve gastos maiores que o total arrecadado. No último ano de 2022, o governo fez graça com chapéu alheio, dando calote em governos estaduais, com o ICMS dos combustíveis e deixando de pagar direitos legalmente reconhecidos, os precatórios. No entando, o mercado não criticou, nem fez chantagem alguma, apesar de tanta intervenção. Apenas se beneficiava de medidas de um governo de discurso liberaloide. *** Cobrando a redução do desequilíbrio fiscal e do grau de endividamento em relação ao PIB, os mercados exigem, agora, redução dos gastos públicos: em especial, querem que o salário mínimo não se eleve acima da inflação; que os benefícios previdenciários e sociais se desvinculem do salário mínimo; querem a redução de programas que visam o resgate da dignidade da pessoa humana, como o bolsa família, o pé de meia. Além disso, exigem que o governo gaste cada vez menos em educação e saúde, abrindo essas importantes áreas de atuação pública para a atuação privilegiada da iniciativa privada. Afinal, o lema é: governo cada vez mais fora, mais espaço para a atuação e ganhos de capital e lucratividde dos interesses empresariais. O governo corta os dedos, mas não aceita a amputação do braço. Apresenta pacote de corte de gastos que o mercado julga insuficiente. E o mercado chantageia. *** O mercado divulga expectativas cada vez mais pessimistas de inflação, impõe a elevação dos juros que rendem os títulos que mantêm em carteira (e de que não querem se dispor; apesar de sempre alegarem temer a incapacidde de o governo honrar sua dívida!). Desprezam o fato de que juros maiores ampliam cada vez mais os gastos do governo, que diziam desejar reduzir (1% a mais de juros, custa mais de 56 bilhões ao ano, para um custo de gasto financeiro COM JUROS, de mais de 850 bilhões!). Junto, desprezam a inteligência alheia. *** Juros maiores representam menor demanda, menores vendas, menor produção, menor emprego, ociosidade e custos e preços maiores (para compensar o custo da ociosidade). Representam, também, menos decisões de expandir a produção e menores investimentos. Menos dinheiro para a economia real e maiores recursos para aplicações financeiras, com maiores rendas de juros. Antecipando a redução de lucros das empresas com ações em bolsa, os acionistas liquidam suas posições, vendem as ações e remetem o dinheiro para fora do país. Aumenta a demanda e o preço do dólar. Por fim, o fluxo de entrada de capitais tende a se reduzir, caindo a oferta de dólares. *** O dólar alto promove encarecimento de insumos, fertilizantes, partes, peças e componentes industriais, eleva o preço dos combustíveis e aumenta custos de produção, repassados para os preços. A profecia de inflação se auto realiza. O Banco Central eleva os juros e reinicia e aprofunda o processo. Enquanto isso, Galípolo, indicado por Lula para exercer o mandato de presidente do Banco Central pelos próximos 4 anos, se alia aos interesses do mercado e participa da elevação dos já pornográficos juros. Afirma que o câmbio flutuante é uma conquista e um fundamento do nosso modelo, e assinala que não irá usar instrumentos de mercado para controle do dólar (flutuação suja). *** Ao contrário, promove reunião de TRABALHO com servidores do Banco Central, não dando oportunidade para que o sindicato de funcionários, o SINAL, possa se manifestar. E de trabalho mesmo não trata nada. Trata apenas e todo o tempo da PEC 65, que visa privatizar o Banco Central, tirando-o da esfera de influência da política econômica do governo eleito pela sociedade, tornando a política monetária um obstáculo à atuação da política fiscal e de qualquer política destinada a reduzir as desigualdades vergonhosas que assolam nosso país: de renda, de propriedades, de terras, de oportunidades, de respeito e justiça. *** No fundo, vindo do mercado, para onde deverá voltar findo seu mandato; ainda em pleno vigor já que ainda jovem, o que parece lhe interessar, como a outros de seus apaniguados é poder ter todo a autonomia e espaço para conseguir obter rendimentos ou remuneração que lhe coloque no mesmo patamar dos milhões de reais mensais dos principais banqueiros do país. Seus bajuladores, crentes de que poderão alcançar salários na casa das centenas de milhares de reais mensais, não se incomodam em manter uma instituição cada vez menos sob a esfera de influência do governo e mais dominada pelos interesses dos grandes agiotas legalizados, representantes dos interesses financeiros de nosso país. No fundo, Gabriel Galípolo, que inicia afastando contato com a representação legal dos funcionários, afastando aposentados que ajudaram a construir o banco de hoje, deve estar certo. Afinal, diz a lição que manda quem pode, obedece ao mercado quem tem juízo.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Reflexões e dúvidas sobre a reação do mercado ao pacote fiscal

https://youtu.be/cpJb4I97H7w Relaxar o freio aplicado sobre a dívida é o pedido feito pelo presidente do Banco Central, para possibilitar investimentos necessários em defesa e infraestrutura. E ele não se refere a juros, mas a aumentos de tarifas. Afinal, aumento das transferências para o governo, tributárias ou não, diminuem a renda disponível ao gasto e o consumo. Criam um ambiente pessimista que contagia aos empresários e promovem queda do investimento. *** Claro. A proposta não é, nem do presidente de saída do Banco Central do Brasil, nem do entrante em potencial, ambos mais preocupados em manter a moeda estabilizada lá fora. Daí não mexerem com câmbio. A proposta é de ninguém menos que o presidente do Banco Central da Alemanha, país do qual pode se dizer tudo, menos que tenha um governo perdulário, gastador, comunista e coisas do gênero. Enquanto isso, os analistas de mercado, e a imprensa que lhes presta vassalagem e pressiona para que mais cortes fiscais sejam aprovados pelo Congresso e grandes federações e associações empresariais, agem como a mãe orgulhosa vendo o filho, fardado, desfilar pela primeira vez, completamente fora do ritmo: “Só meu filho está marchando certo. Todos os outros estão errados”. *** Nesse meio tempo uma curiosidade me assalta: já dissemos aqui que, sendo a dívida pública soberana, de reais tomados pelo governo junto à população, principalmente os bancos e grandes intermediários financeiros, que risco de o governo não pagar aos credores existe? Ele sempre pode trocar as dívidas e seus títulos: ao invés de deixar papeis que rendem juros na mão do mercado (os títulos públicos), pode optar por deixar dinheiro, virtual ou em cédulas, que não pagam juros. Ah, mas isso vai gerar inflação. Será? Vamos lembrar que a proporção de gente que detém tais títulos é muito pequena e ainda menor a parcela que iria correr para aumentar seu consumo, dada sua propensão a gastar menor (os ricos têm menor propensão a consumir, dado que já têm sua vida material bem equacionada). *** Importa dizer que esta ideia, tida como estafúrdia, não é minha. E de toda uma escola de economistas monetaristas críticos à visão da corrente principal de pensamento. Dita principal só por apresentar argumentos e defesa para a todo o status quo que mantém a desigualdade de oportunidades, remunerações, rendas, e propriedades, privilegiando os mais poderosos. Esta corrente principal é que sempre deseja confundir os cidadãos de bem, vendendo-lhes a falsa ideia de que o governo e suas contas devem ser pensadas exatamente como pensamos a vida financeira das famílias, inclusive a nossa. É ela que defende a meritocracia dos mais beneficiados desde o berço; lutam contra aqueles que não querem trabalhar duro para vencer, são contra a redução da jornada 6x1; não querem pagar mais tributos, o que os faz ficar radicalmente contra o pacote do Haddad. Mas sempre defendem a isenção de impostos a título de estímulos. Daí, no nosso país, o pobre paga mais que o rico, mais uma vez, na contramão do resto dos soldados do desfile. *** Correndo o risco de fazer uma comparação semelhante e incorreta, agora dos bancos com um dono de comércio de esquina, vamos admitir que o banco é uma loja que, ao contrário de vender berinjelas (exemplo de Delfim Netto), vende dinheiro. Ninguém irá achar que o banco deseja ficar com suas “berinjelas” , recusando-se a vendê-las, no lugar de obter preço maior que o valor que pagou por elas. O objetivo do banco é esse: ter lucro, como qualquer feirante. *** Por outro lado, cada vez mais os bancos se vêem às voltas com clientes vindos de famíias endividadas, alguns já inadimplentes, tomando dívidas para liquidar outras em uma roda viva que aumenta seu desequilíbrio, já que essa rolagem de dívidas sempre é feita com juros maiores. Os bancos alegam que têm que embutir o risco de calote. Devemos observar que os juros para o banco são fruto de quanto custa para ele convencer às poucas famílias que têm sobras de dinheiro no fim do mês e das muitas empresas pequenas, médias e, especialmente das maiores, a lhe ceder o uso desse valor. Títulos de renda fixa, por exemplo, coisa de 30% a mais que a Selic. Vamos dizer que algo como 1,5% ao mês. Além disso, o banco tem os custos administrativos, como aluguel de espaço físico para agências, pessoal, máquinas, água, luz, etc. Aí entram os riscos de inadimplência, risco de crédito, risco operacional, gastos com publicidade etc. E ao final, o lucro do Banco. O que nos leva a taxas de até 400% ao ano, dependendo do linha de empréstimo. *** Se as famílias estão cada vez mais endividadas, vão evitar tomar empréstimos, até o ponto que literalmente é se endividar ou morrer (de inanimção, sem comida). E os bancos irão sempre preferir emprestar ao governo, cujo risco é zero. Pela classificação de risco adotada em nosso país, aplicações bancárias em título público têm risco zero, o que permite a eles, não necessitarem de reservar parte de seu capital para eventual perda do recurso. Ou seja, não há necessidade de provisão de capital. Outras operações de crédito com as pessoas comuns, o risco chega a 100% e se o banco te emprestou 1000, o dono deve reservar 1000, para alguma eventualidade de não retorno do dinheiro. *** Feitas essas observações, minha dúvida pode ser dita. Qual o interesse dos bancos em evitar gastos do governo acima do que ele arrecada, ou déficits, se eles bancos é que irão financiar essa dívida pública ainda mais sabendo que o risco de perda do dinheiro é zero? O que aconteceria caso o governo emitisse reais e recomprasse todos os títulos de sua dívida? Em que tipo de atividade os bancos, tão zelosos da saúde do governo, iriam aplicar lucrativamente seus recursos? Emprestando a quem ele não confia que irá pagar? Emprestando para grandes empresas seja para capital de giro, seja para investimentos? Investindo em ações na Bolsa? Ou comprando dólares e os enviando para aplicações no exterior? *** As opções acima indicam que se aplicassem emprestando para empresas em nosso país, o país poderia crescer e ter mais estabilidade, emprego, produção e renda. O mesmo se dá com aplicação na compra de ações em bolsa, o que fortaleceria nossas empresas e permitira financiar o crescimento da economia brasileira. Claro, se isso não troxesse uma inflação de ativos capaz de gerar até uma bolha de ativos. Por outro lado, se tirassem dinheiro do país, elevariam o dólar, encareceriam nossas importações e alimentariam um processo inflacionário de produtos como alimentos, roupas, serviços pessoais, etc. Essa opção apenas revelaria a pressão ou chantagem feitas por todos esses agentes patriotas sobre o governo. *** Por quê? Para pressionar o governo a pagar juros maiores sobre os títulos do governo que estão em seu poder e eles terem mais lucros e ganhos, sem riscos e com o dinheiro à sua vista (dentro do pais). Juros maiores que, mais que chantagem permite a eles, forçarem ao aumento das despesas financeiras do governo, aumento dos gastos e mais endividamento, reiniciando o ciclo de enriquecimento de poucos em prejuízo de muitos.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Pacotes de gastos no Japão versus cortes na carne no Brasil

Link youtube: https://youtu.be/2LKdNizhMss Por muitos anos convivendo com o fenômeno da deflação, que é o contrário da inflação, em razão de níveis reduzidos de consumo, a economia japonesa foi objeto de vários pacotes econômicos lançados com a intenção de retirá-la da situação de estagnação e estimular um processo de crescimento, e até mesmo, alguma inflação, desde que reduzida e controlada. Isso porque, ao contrário do que somos levados a acreditar, um ambiente com expectativas empresariais otimistas, com expectativas de maiores vendas e lucros, incentiva a decisão de realizar gastos em investimentos, seja comprando mais máquinas e equipamentos, seja comprando mais estoques. Maiores investimentos levam, em cadeia, a maiores expectativas de vendas de outros setores, com efeito ampliado de criação de mais capacidade produtiva, mais contratação de trabalhadores, mais rendas de salários, mais vendas, mais lucros, em um processo virtuoso de crescimento do PIB do país. *** Já a deflação, ao contrário, leva à expectativa contrária: a queda de preços sinaliza uma estagnação nas compras e menores estímulos a utilizar toda a capacidade instalada, com efeitos claros de estagnação do nível de emprego e dos salários, e à queda de investimentos. Para os trabalhadores mais novos, a frustração é o resultado da chegada ao mercado de trabalho, criando um ambiente propício à ocorrência de crises sociais e aumento da miséria e agravamento dos problemas de segurança. Somados a essa situação os efeitos de desastres naturais e da pandemia, é possível perceber a razão de edição de vários pacotes de estímulo apresentados pelos governos ano após ano. *** Ainda assim a taxa anual de inflação apresentou valores negativos ou deflação nos anos de 2020 e 2021, alcançando 2,5% em 2022 e acelerando para 3,3% em 2023. E enquanto a inflação para o período de 12 meses encerrado em outubro atingiu a 3,5%, o mês de outubro apresentou taxa de 2,3%, menor que o mês de setembro (2,5%). A inflação esperada para 2024 é de 3,5% e os grupos com maior peso no Indice de Preços ao Consumidor – IPC, cuja variação revela a medida da inflação, são os grupos de alimentação (26%) e da habitação (21). *** Esta a razão para o anúncio pelo governo, no final da semana passada, do maior pacote de estímulo econômico encaminhado à aprovação do Congresso e destinado a promover a recuperação econômica e uma melhor redistribuição da riqueza entre as famílias e os pequenos negócios, no valor total de 2,7 trilhões de reais. O pacote inclui a concessão de subsídios às famílias para compensar os custos crescentes da energia e o fornecimento de um apoio monetário de assistência financeira a famílias de baixa renda, semelhante ao nosso Bolsa Família (inclusive com adicional para famílias com crianças), antecipando-se a possível elevação de juros em razão da elevação da inflação. Também procura elevar a renda disponível ao aumentar o limite de renda para isenção do pagamento de Imposto de renda. *** Analistas internacionais criticam possíveis efeitos inflacionários do pacote, classificado como populista em razão do resultado das últimas eleições e por seu objetivo de alivar a pressão sobre o consumidor e promover investimentos em setores selecionados como Inteligência artificial e semicondutores. Alguns desses analistas citam a preocupação com a frágil saúde fiscal do Japão que apresenta níveis debilmente sustentáveis entre as nações desenvolvidas, passíveis de se agravarem dado o vultoso pacote de gastos, que coloca em risco a sustentabilidade dessa estratégia. No entanto, quando confrontado com o temor da inflação, o primeiro ministro afirmou que “o mais importante é aumentar os salários para todas as gerações”. *** A título de informação a inflação japonesa tem se mantido na média de 3% ao ano desde os anos 60 (próximo de 1,1% nos últimos 10 anos). O Japão tem a maior dívida pública do mundo, correspondente a 252,6 % do PIB (de 10,8 trilhões de dólares em 2023), financiada pelo Banco Central do país e investidores internos. No entanto, adota taxas de juros reduzidas que correspondem ao pagamento de uma quantia de 0,12% do PIB, muito menor que a taxa cobrada, como chantagem, pelo capital financeiro, rentista e especulativo que suga até a alma de nossas riquezas. No Brasil, campeão de pagamento de juros da agiotagem oficial, para uma dívida bruta (inclui valores indevidos de operações compromissadas com títulos da dívida) de 84,6% do PIB, o custo de juros anual atinge 5,96%, mais de 800 bilhões de reais neste ano. *** As reações também são diferentes: no mercado japonês, onde o PIB patina e cresceu 0,3% no 3° trimestre, as medias contam com aprovação positiva de 51% das empresas entrevistadas, que planejam aumentar os salários em pelo menos 3% no início do novo ano fiscal em março de 2025. No Brasil, ao contrário, importa mais a defesa dos privilégios dos mais favorecidos que qualquer argumento destinado a criar uma economia mais justa e com menor desigualdade. Apenas isso pode explicar cobrança histérica dos setores empresariais, à frente o setor financeiro conservador e a imprensa que não se satisfaz em vender espaço publicitário, vendendo também opiniões, por um pacote de corte, na carne, dos gastos. Isso, sem levar em conta a resiliência demonstrada por nossa economia, e uma taxa de crescimento esperada de algo mais que 3%. Crescimento que se dá não pelo suor e sacrifício da oligarquia financeira, mas por força do trabalho de ampla maioria da população que trabalha sem tréguas e descanso digno (“Somos todos a favor da redução da jornada 6x1”). *** Talvez a postura dos empresários nipônicos, bem distinta da nossa, indique porque o Japão, mesmo em meio a fragilidades, seja a 4ª economia mais rica do mundo. Ou um país com forte indústria tecnológica, ostentando a posição de um dos maiores produtores, e grande exportador, de produtos eletrônicos, automóveis, máquinas. Vale lembrar que na direção oposta ao Brasil, produtor e exportador de commodities, produtos primários e com baixíssima carga de conteúdo tecnológico. Em livro publicado há muitos anos, José Eli da Veiga já diagnosticava a razão de nosso atraso como sendo de responsabilidade de nossa elites. *** Aqui, interessa impor ao governo, a todo custo, a definição de um pacote de corte de gastos que retire da população o direito de acesso à saúde de maior qualidade e à educação capaz de formar um ser humano mais qualificado e mais crítico. Cortar benefícios sociais e assistenciais, reduzir salários, desindexar salários e eliminar os ganhos acima da inflação, são medidas bem ao agrado da chantagem dos mercados. Tudo para assegurar o pagamento dos juros pornográficos e submeter a classe trabalhadora aos desejos da classe empresarial, dentro da lógica da velha luta de classes. A sugestão é no sentido de que Lula deveria cortar sim, mas no grupo dos empresários e seus incentivos; na farra de privilégios anacrônicos dos militares e sua previdência. Nos altos salários de carreiras jurídicas e de políticos. E, pelo lado da receita, implantar o imposto sobre grandes fortunas e tornar o imposto de renda cada vez mais progressivo. É isso.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Mais uma vez a taxa pornográfica de juros e a proposta de redução da jornada 6x1

https://youtu.be/Il2ZvrZ7SGQ No anos 80, quando a economia brasileira passou a conviver com taxas de inflação cada vez mais elevadas e a flertar com a hiperinflação um fenômeno ligado ao comportamento de consumo de famílias de classe de renda mais elevadas, passou a ser observado nos primeiros dias a cada mês. Recebidos os salários, centenas delas se dirigiam aos super ou hipermercados, onde passariam toda a noite em compras, enfrentando o congestionamento das lojas e as filas quilométricas que se formavam nos caixas, cada uma conduzindo 4 ou mais carrinhos abarrotados. A lógica era comprar grandes quantidades de produtos para formar estoques e evitar a necessidade da repetição de compras ao longo do mês, evitando os efeitos da ação das temíveis maquininhas remarcadoras de preços, em funcionamento várias vezes ao dia. *** Para alguns empresários, o comportamento adotado parecia incompreensível, contrário ao objetivo amplamente difundido de obter lucros razoáveis, para garantir a continuidade e a ampliação e sobrevivência do negócio. O Carrefour, por exemplo, comprava os produtos de reposição de seus estoques negociando, como era a praxe, o prazo de pagamento em 90 dias (prazo considerado à vista). No mesmo dia, colocava os produtos em suas gôndolas, com descontos que podiam variar de 5 até os 30%, como chamarisco para atrair a atenção de um maior número de consumidores. Obrigados a pagar à vista. A venda de um bem por valor inferior ao seu custo implicava em um comportamento irracional dado o evidente prejuízo para sua operação comercial. No entanto, era suficientemente compensado pelos altos rendimentos obtidos pela aplicação do dinheiro recebido imediatamente em operações de uma noite no mercado financeiro, o overnight, pelo prazo de 90 dias. Os ganhos financeiros superavam e permitiam, ao final, maior lucratividade da companhia. *** É prática comum às grandes empresas a aplicação das sobras de tesouraria ociosas no mercado financeiro, mas a prática do Carrefour ia muito além desse costume, servindo para denuncicar a FALSIDADE dos objetivos declarados pelos empresários e aceitos pelo senso comum, a saber: gerar produtos e expandir e melhorar a qualidade da produção para atender às necessidades da sociedade; ou fornecer e manter empregos, com remuneração e condições de trabalho dignas; ou de adotar padrões e boas práticas em respeito à sustentabilidade e a consciência social, além e obter lucros razoáveis para a sobrevivência do negócio. No fundo, ao empresário capitalista interessa apenas ter e aumentar o quanto puder seu lucro. E não passa de lorota o discurso de suas outras preocupações de caráter social e com a sustentação de uma economia robusta, que permita a existência de uma sociedade pujante, com mais oportunidades de desenvolvimento pessoal e coletivo, mais justa e equânime. *** Relembro esses anos de crise em razão de notícia da coluna Painel S.A, da Folha de ontem (Juro amigo, Júlio Wiziack, p. A 16, 20/11/2024), a respeito de levantamento da consultoria Elos Ayta, de que a alta de juros levou as companhias abertas a aumentarem a aplicação de suas disponibilidades de caixa no mercado financeiro, de março de 2021 a setembro de 2024, em 83 bilhões de reais, uma alta de 55%, atingindo um saldo de 232,4 bilhões. Dinheiro que poderia estar ajudando a expandir a capacidade produtiva (investimentos reais) ou a recuperar a infraestrutura do país e contribuir para o crescimento da economia, não fosse a política de juros criminosa e pornográfica do Banco Central sob influência de Campos Neto. A constatação é que há companhias que, se aplicaram em renda fixa, podem ter obtido mais renda que com seu próprio negócio, ganhando mais com juros que com sua operação. *** Indústrias com caixa superior a 10 bilhões aplicaram mais de 60% dos recursos no mercado financeiro, como a Marfrig (75, 8% do caixa), segunda maior produtora de carne bovina do mundo e de cujo grupo faz parte a BRF, incluída na lista de isenções recebidas do governo, com 488 milhões de benefícios. Outras empresas compreendem a Minerva (66,8%), benefícío consolidado de 189,9 milhões e a Suzano (66%) e isenção consolidada de 101 milhões. Tal notícia não sairá nem será comentada na Globo, que tem benefícios de 150 milhões, e aplaude e faz editoriais cobrando mais rigor fiscal ou apoiando mais arrocho da política de juros. E aplaudindo Campos Neto. *** Como juros são custos, e a empresa capitalista tem no crédito uma de suas principais forças motoras, ao lado da inovação (Schumpeter) é, no mínimo curiosa a briga travada pelo meio empresarial contra o único custo que elas levam em consideração e contra o qual investem: o custo do trabalho. Razão de toda a luta que travam agora contra a proposta de redução da jornada 6x1, classificada pelo setor da Construção Civil como um desastre. Alegando ter gerado novos 17 mil novos postos de trabalho em setembro, conforme dados do CAGED, o setor reclama que teria que arumar mais trabalhadores, o que é impossível, já que o setor enfrenta crise de escassez de mão de obra. *** Para o setor, já em pleno emprego, a escassez se dá por falta de trabalhadores qualificados e pelo desinteresse dos jovens em trabalharem em condições de trabalho com que se deparam. E embora diretor da Câmara Brasileira da Indústria (CBIC) alegue que teria que arrumar mais trabalhadores, o que é difícil, contraditoriamente argumenta que a proposta, no máximo, levaria a mais desemprego e informalidade. Argumento que embute ainda a mesma preocupação que Clara Mattei expõe em A Ordem do Capital, que trata da transformação da austeridade como forma de subjugação dos trabalhadores pela classe capitalista, de que o Brasil, sendo um “... país pobre ... as pessoas precisam de renda, precisam de trabalho.” (E. Werthein) *** A mesma argumentação, usando de exemplo de portarias e porteiros/vigilantes é usada pelo prof. Bernardo Guimarães, para declarar que com a aprovação da proposta, os condomínios irão ter que contratar mais porteiros, ou substitui-los por portaria eletrônica, demitindo-os. Em certo momento, chega a se questionar: “Vai haver mais demissões ou contratações?” Para responder que “... depende .. Eu não sei, e não acho que a gente saiba”. O que não o impede de concluir que “De qualquer forma os custos aumentarão... o serviço ficará mais caro, os custos de bens e serviços ...também ficarão. .... isso se refletirá em preços mais altos.” Conclusão curiosa para que afirma “A maioria das pessoas ... aparenta ter muita certeza sobre o que deve ser feito. Creio que estejam errados. Deveríamos reconhecer a incerteza...” *** Concluo com conclusão de célebre economista, de que enquanto os trabalhadores gastam o que ganham, os capitalistas ganham o que gastam (Kalecki). Ou seja, se a proposta trouxer mais emprego e salários, isso se transformará em mais consumo. Mais venda e mais lucros para os empresários que terão motivos para aumentar a produção, investindo mais e contratando mais trabalhadores (maiores gastos). Trabalhadores com mais folga e mais tempo de lazer poderão passear mais com a família e gastar mais com lazer, beneficiando esse importante setor de serviços. Ou irão aproveitar o tempo para aumentar os bicos e sua uberização, aumentando a oferta de outros serviços.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Campos Neto, política fiscal e as pressões generalizadas em prol do ajuste fiscal

link: https://youtu.be/84Ne-fV1Q8I Pato manco, lame duck é como a crônica política norte-americana se refere ao político em final de mandato e com o sucessor definido que, por isso, já não tem mais poder e influência. Aqui no Brasil, é o mesmo que a brincadeira de que, para ele, nem mais o café é servido quente,. Em alguns casos, se não tem mais poder para agir e sugerir novas medidas e ações, isso não o impede de adotar um comportamento que pode causar prejuízos atos, palavras e até omissões. Caso do bolsonarista Roberto Campos Neto, em fim de mandato na presidência do Banco Central do Brasil, que sempre encontra jornais e repórteres dispostos a darem espaço para que abra a caixa e possa espalhar suas maldades. *** Talvez por compartilharem os interesses sutis e obscuros do entrevistado, encobertos pelo manto falso de pretensa imparcialidade. Dissimulação que a língua inglesa chama dog wistle, apito de cachorro, cujo som de alta frequência pode ser ouvido por cães, mas não por ouvidos humanos. Significa o recado transmitido em linguragem cifrada, com uma mensagem comum que toda a população é capaz de entender, mas que traz embutido um conteúdo específico, direcionado e captado a um público privilegiado, que detém a chave para decifrá-la. Voltaremos a tratar desse apito mais adiante. *** Este é o caso de Campos Neto, valente combatente na luta para impedir o que classifica como interferência politiqueira, demagógica e eleitoreira do governo em decisões de política econômica, de caráter monetário e creditício, sem levar em conta que esta política econômica tenha sido a que os cidadãos escolheram democraticamente, nas urnas. Temendo essa intromissão na área sob seu comando defende, com todas as suas forças, a defesa da autonomia plena do Banco Central, mesmo de sua independência, a fim de preservar que medidas, falsamente de caráter técnico, possam ser adotadas, independente de seus efeitos. *** Decisões de política, mesmo quando relacionadas a questões técnicas, implicam em escolhas entre alternativas, que podem definir perdedores e vencedores. Logo, não são isentas nem imparciais. É aqui que cai a máscara de xerife isento no trato como o governo e revela-se seu comportamento dócil, até subalterno frente aos agentes e interesses do mercado financeiro. O que não o constrange ou impede de emitir opiniões sobre assuntos de fora de sua alçada, como a política fiscal. Aqui, se dispõe a agir, sem pudor, como como qualquer lobista o faria. *** Aqui, não se incomoda de usar dois pesos e duas medidas. A interferência que não admite em sua área de atuação não o impede de invadir e fazer pressão sobre esfera fora de sua competência. O que alimenta dúvidas quanto à ética que rege seu comportamento. Dúvida já alimentada desde quando se viu apanhado em telefonema privado, para tratar e consultar a banqueiros - a quem devia fiscalizar e regular! – sobre temas que podem involver informações privilegiadas, relativas à definição do patamar de taxas de juros. Por ingenuidade ou não, seu comportamento levou o Banco Central a vir em seu socorro, alegando ser, essa prática, comum entre os principais Bancos Centrais do mundo. *** Atuando como porta-voz do mercado financeiro, no trato inoportuno da questão fiscal, deu voz à vampirização proposta por este setor, em relação ao governo e ao seu orçamento. Assim, alega que age para evitar a deterioração das expectativas do mercado, que teme os riscos de uma explosão da dívida do governo (em relação ao PIB). Como acredita que soluções relativas à elevação de impostos estão descartadas dada a composição do Legislativo, sugere (chantageia?) ao governo, sem perda de tempo, CORTAR NA CARNE. Quanto ao médio prazo, propõe a adoção de cortes mais estruturais, relativos à eliminação da indexação e da vinculação. Na linguagem das ruas, propõe alterações na política de correção do salário mínimo, que não deve ter ganhos reais nem correção pela inflação passada (indexação) e dos benefícios previdenciários e assistenciais, que além de não serem corrigidos pela inflação devem ser desvinculados do valor do mínimo; além da desvinculação de gastos de saúde e educação em relação à arrecadação do governo. *** Aqui é que entra em ação o sopro do apito de cachorro para os iniciados: se o governo não quiser, não puder ou não seguir suas recomendações, as expectativas do mercado continuarão se deteriorando, o que elevará os prêmios de risco cobrados para seguirem financiando os gastos excessivos do governo (ou continuarem comprando e mantendo os títulos públicos). Ao final alerta que nesse cenário não resta ao COPOM do Banco Central outra medida senão a elevação da taxa básica de juros, a Selic. Está dado o recado. Sem expectativa de poder aumentar receitas, na impossibilidade de promover os vultosos cortes de gastos impostos pelo mercado, para não perder o apoio das forças que o elegeram, sentencia que o ajuste SERÁ INSUFICIENTE. E divulga a informação relevante: os juros vão seguir subindo, conforme a trajetória típica das profecias autorrealizáveis. *** Para reforçar a imparcialidade de seu discurso, confunde propositadamente o conceito de dívida externa, inexistente no país, afirmando que ela impede a vinda de recursos - “um investimento que vinha para o Brasil e não veio” - com a dívida interna soberana, denominada em reais e de posse dos agentes financeiros internos. Dívida soberana que, se o desejar, e apesar de várias restrições e críticas, o governo pode liquidar imediatamente, bastando emitir reais e trocá-los pelos títulos públicos. Ao antecipar novas elevações da já pornográfica taxa de juros, sinaliza maiores ganhos aos rentistas do capital financeiro por um lado. Esta maior renda, corresponde em contrapartida ao aumento de gastos financeiros do governo e da dívida pública. Isso reduz o espaço para gastos primários, já limitados pelo crescimento vegetativo dos gastos obrigatórios (previdenciários e funcionalismo) zerando, praticamente, os gastos discricionários, em especial em investimentos. *** Tal política de juros prejudicial aos investimentos, públicos e privados, provoca a desaceleração da economia; o crescimento do PIB passa a se dar como vôos dos saltos de galinha; a relação dívida pública/ PIB se eleva e se deteriora, por ação das duas variáveis (juros e despesas financeiras maiores e PIB com menor crescimento), fechando e renovando o ciclo vicioso onde só os mais ricos ganham. Rebatendo acusações de agir sob impulso ideológico, alega que o fiscal sempre o preocupou, o que o levou a fazer as mesmas reclamações ao ministro do governo anterior. Para comprovar sua afirmação, recomenda aos críticos a leitura atenta das atas do COPOM, cometendo um ato falho, já que as atas são documentos herméticos, de leitura complexa mesmo para os profissionais da área. Logo, adota, agora, um comportamento diverso daquele anterior, ao dar ampla divulgação da questão junto ao público geral *** Reverenciado pelas entrevistadoras, ficou ainda mais à vontade para tratar de outros temas, vinculados às condições de vida de ampla parcela da população, onde não estão incluídos os agentes do mercado financeiro e grandes empresários. Assim sente-se à vontade para investir contra a proposta da redução da jornada de trabalho e alteração da escala 6x1. Em sua opinião, a aprovação da proposta aumentará o custo do trabalho e reduzirá a produtividade gerando mais informalidade. Sem querer fazer futurologia, não descarto a hipótese de haver algum aumento do custo do trabalho, não generalizado por todos os setores. Graças a idiossincrasias de nosssa sociedade, também é possível uma queda de produtividade, na contramão da experiência internacional. No entanto, discordo da ideia de elevação da informalidade, ao menos em maior grau que a reforma trabalhista patrocinada pelo governo Temer, e seu corte de direitos trabalhistas e a precarização das relações de trabalho. Reforma que Campos Neto elogia.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Refletindo sobre mudanças e a oportunidade delas e sobre as decisões cruciais.

do youtube: https://youtu.be/IIdr0wZyHjk Nem sempre é fácil tomar decisões. Pior ainda as decisões cruciais, que são aquelas decisões que não permitem arrependimentos, que não podemos voltar atrás. Ou as de custo muito pesado para voltar atrás e anular seus efeitos. em sempre é fácil tomar decisões. Sendo um salto no escuro, acho que toda mudança é uma decisão desse tipo. Nem sempre a novidade é ruim. Ela pode ser muito positiva, seja por nos obrigar a reflerir, a reavaliar nossos objetivos, alterar nossos comportamentos, procedimentos e processos, ou abrindo novas oportunidades de conhecer pessoas, viver experiências e aprendizados enriquecedores. [ Nos colocando frente a desafios, a mudança nos permite melhora. Mas não é por isso que a mudança é, necessariamente boa, ou positiva. Ao contrário, ela pode representar um atraso, uma volta ao passado, com efeitos destrutivos que, uma vez adotados, não permitem arrependimentos. Ela pode funcionar como um gatilho com resultados que podem trazer um retrocesso civilizatório em relação a valores e avanços sociais duramente conquistados. Como o respeito à diversidade, à alteridade, à solidariedade; o aperfeiçoamento das condições de vida e das oportunidades para todos os seres humanos. *** Temo que essa mudança disruptiva, destrutiva, seja a representada pelo candidato Bruno Engler, e sua vide das armas e do lema "a polícia tudo pode", sob a capa de proteger o cidadão de bem. Pena que o dito cidadão de bem em geral mora em favelas ou comunidades, é preto e pobre e... sempre o culpado. Para não ser injusto, não conheço a pessoa de Bruno Engler, defensor da cloroquina e bolsonarista raiz, coordenador de movimento de extrema direita em nosso Estado. Apenas acho melhor ser de esquerda, lado do coração, da solidariedade, da gentileza, da caridade e da gratidão, que da direita junto ao fígado e ao amargor do fel e ódio que ele destila. *** Desconhecer Engler não é difícil. Parece que nem na Assembleia Legislativa, onde atua como deputado é muito conhecido, tantas suas ausências. O que se sabe é que é um rapaz novo, com boa capacidade de expressão, embora em geral um discurso exaltado, ameaçador, até de ódio, seja contra as universidades federais, cujo ambiente desconhece, seja contra os petistas ou aqueles todos “criminosos” que votaram em candidatos de partidos contrários ao seu. Típico discurso direcionado a um inimigo inventado e inexistente, cuja única função é difundir e manter o medo junto á população. *** Engler é, nesse sentido, o pior dos candidatos à Prefeitura, por não ter passado, já que jovem, e por não ter verdade. Nas redes sociais, dá a entender ter feito o curso de Direito na PUC Minas. Em entrevista, admitiu que não concluiu o curso, no Campus Liberdade. indo apenas até o 3° ano. Questionado, alega estar fazendo Tecnologia de Gestão Pública, mas nem reconhece ser um curso de nível técnico (dois anos de duração) e não ser na PUC, mas na Anhanguera. Nada contra a instituição privada de ensino, seus profissionais sérios e contra o curso, necessário em nosso país. Menos ainda alguma coisa em contráro à nossa democracia representativa, onde todos têm a oportunidade de se elegerem, representando os interesses de parte significativa do eleitorado, especialmente aqui, um país com grande número de analfabetos, mesmo funcionais. Lula, afinal, foi eleito presidente em 3 ocasiões e é torneiro mecânico de formação, portador de curso técnico, o que longe está de o desmerecer. Mas Lula nunca escondeu tal informação, e tal sabedoria pode explicar os títulos de doutor Honoris Causa que já recebeu. *** Engler tem mantido discurso sereno na campanha eleitoral, mas não consegue deixar de mostrar, por baixo da pele de ovelha, o fenótipo do lobo que o ronda. O que o leva a atacar de todas as formas possíveis ao seu adversário. Confesso que Fuad não é o candidato de meus sonhos para a nossa BH. Secretário de Aécio, vice de Kalil, e agora cabeça de uma chapa com Álvaro Damião, simpatizante do ex-presidente, acho que a ele se aplica o ditado: diga-me com quem andas... Mas, ainda assim, apresenta espírito mais democrático e mais experiência que seu oponente. Tem folha de serviços, não folha corrida. Por isso, recomendo o voto em Fuad, o 55.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

PEC 65; Sabatina de Galípolo; situação econômica; Eleições e seu resultado, na data do aniversário dos pitacos

https://www.youtube.com/watch?v=QSvW6pzde4U Nessa terça feira 8 de outubro, a Comissão de Assuntos Econômicos – CAE do Senado realizará a sessão de sabatina de Gabriel Galípolo, indicado por Lula para presidir o Banco Central no período de 2025 a 2028, em substituição a Roberto Campos Neto. Sem a expectativa de alguma surpresa, a aprovação do nome do atual Diretor de Política Monetária do Banco, que exige maioria simples tanto na CAE quanto no plenário da Casa, é dada com certa por ampla margem, com a dança de cadeiras dando a oportunidade a Lula de indicar, até o final do ano, o nome de mais 3 diretores para aquela Insittuição. *** Respeitado pelo mercado, onde já atuou como presidente do Banco Fator e responsável por projetos de estudos de parceria público-privada e de privatizações, inclusive de leilões como o da CEDAE de Águas e Esgotos do Rio, o economista vem adotando um comportamento que tem agradado aos setores financeiros, ao capital e à mídia especializada e à grande imprensa. Suas posturas favoráveis à elevação da taxa Selic em 0,25%, promovida na última reunião do COPOM, muito claras desde sua indicação tornam-se ainda mais tranquilizadoras aos operadores dos mercados, especialmente depois das ameaças implícitas de elevações futuras nos juros, apresentadas na ata daquele Colegiado da Diretoria do Banco Central. *** Portanto, podemos esperar inflação situada no centro da meta contínua de 3%, a partir de 2025, como cobrada pelos donos do dinheiro e seus ventríloquos na imprensa, tornando letra morta os limites de tolerância de mais ou menos 1,5% incluídos no decreto que estabelece a nova sistemática. A pretensa busca de estabilidade e previsibilidade (e respeitabilidade ao Banco), como todas as decisões em economia têm custos e os de se iniciar novo ciclo de alta dos juros não é irrelevante. *** De imediato, eleva em 13 bilhões os gastos públicos, pelo pagamento dos juros da dívida que, mesmo sem afetar diretamente o déficit primário acarreta aumento da relação dívida/PIB, e isso de duas formas: i) por elevação da necessidade de o governo emitir novos títulos, para rolagem da dívida, mantidos os todos os demais gastos constantes; ii) pela queda esperada do PIB, afetado pelas consequências de redução gastos públicos e privados de consumo e investimentos empresariais, que significam redução de produção, desemprego, queda de renda e recessão. Vale dizer que estes 13 bilhões de gastos são fora do orçamento e, portanto, gastos que o BC tem o poder de decidir, sem passar pela aprovação do orçamento, do Executivo ou do Legislativo. *** Antes de prosseguir, vale lembrar que a Lei Complementar 179 de 2021, que deu autonomia ao Banco em seu artigo 1° ´estabelece que o “Banco Central do Brasil tem por objetivo fundamental assegurar a estabilidade de preços” para afirmar em seu “Parágrafo único. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental, o Banco Central do Brasil também tem por objetivos zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.” Grifos meus, para chamar a atenção para o descumprimento do Banco de 2 dos objetivos da lei. E isso tudo porque, na Ata do Copom o Banco lança críticas a possíveis desequilíbrios fiscais de responsabilidade do governo. *** Para não afastar credores, financiadores internacionais, investidores (financeiros, já que os empresários que produzem bens e mercadorias não irão comprar máquinas e equipamentos se acreditam que não irão conseguir vender a produção ampliada) a relação Dívida Pública/PIB deve ser reduzida. Com isso, os gastos primários têm que cair, para compensar o gasto maior em juros. Cortar gastos primários fora os obrigatórios, como folha salarial e aposentadoria, significa não poder fazer ou manter políticas sociais dedicadas a permitir um mínimo de políticas distributivas de renda, compensatórias. Isso, antes de partir para ações mais duras, como novas reformas da Previdência, reformas administrativas, privatizações, concessões, com clara perda de qualidade dos serviços “públicos?” gerados. *** Não apenas Galípolo aparenta não se incomodar com tais consequências, como também parece ser favorável à manutenção da transformação do BC em um quarto poder, dos tecnocratas, sem quaisquer restrições e meios de fiscalização de sua atuação: a PEC 65. Aliás, PEC 65, da privatização dos serviços do BC à sociedade, como emissão de poder de compra, PIX, DREX, fiscalização do sistema. E salários sem qualquer controle para os altos cargos do Banco. *** Tivemos eleições ontem em todo o Brasil, com vitória clara das forças da direita, e vitória até de alguns comportamentos de incivilidade, barbárie, banditismo, mau caratismo sob a ingênua benção de religiões que professam a teologia da Prosperidade. Nada a ver com alma, espiritualismo. Só mesmo oportunismo material e enriquecimento de forma pouco lícita. Em uma observação curiosa, ouvi meu filho falar que se a direita está ganhando é porque os pobres não têm sido, concretamente, beneficiados por políticas da esquerda atualmente no poder.. Fato! Pior, como citado por Piketty em seu O Capital no Século XXI, as democracias correm riscos por altas taxas de abstenção. *** No Brasil ontem, 21,7% não se sentiram representados em todo o país. Em BH, 29,5% não compareceram, o que representa quase 1/3 do eleitorado. Em São Paulo, mais de 27%. Ou seja: os pobres nem se sentem representados nem acreditam mais nas promessas dos políticos da esquerda tradicional, sem perceber que essa política está de mãos amarradas pelas forças do atraso, instaladas nas casas legislativas. No fundo, o verdadeiro poder não quer, não deseja melhorias concretas, que exigiriam política de redistribuição de renda, patrimônio e propriedades; distribuição de oportunidades; tributação progressiva firme e melhorias educacionais, juntas de formação técnica voltada para o trabalho. Sem ver futuro, os menos privilegiados apelam para os céus, as casas de apostas, os vendedores de desmoralização das regras do convívio social, os malfeitores de toda espécie. *** Hoje, fazemos 14 anos de pitacos. Cada vez mais difícil comemorar de forma otimista.