A verdade é que, a cada dia mais, em minha humilde opinião,
fica difícil entender nosso país. A não ser que compartilhemos da ideia, que
vinha sendo difundida já desde a campanha eleitoral, como galhofa, de que a
posse de Bolsonaro, no primeiro dia de 2019, nos remeteria ao Brasil dos anos ....
60´s.
Pois bem, em 1961 tivemos a posse de Jânio da Silva Quadros na
presidência do país, eleito com a espetacular marca de mais de 3 milhões de
votos, para o cumprimento de um dos mandatos mais breves de nossa história
republicana.
Como todos sabemos, Jânio, o Breve, não passou sentado na
cadeira presidencial do dia 25 de agosto daquele mesmo ano, fruto de uma
tentativa esdrúxula de golpe ou auto-golpe, que incluía o fechamento do
Congresso, suportado por todos os seus eleitores.
A ideia, simples e engenhosa, era de ameaçar renunciar impulsionado
por forças ocultas, para que os seus eleitores saíssem às ruas exigindo sua
permanência e dispostos a intimidarem o Congresso e outros Poderes. A oportunidade ímpar, já que dia 25, comemorava-se
o dia do Soldado e, sendo essa data o início de mais um fim de semana, a carta
renúncia – amplamente divulgada pela mídia, não seria lida em plenário
tornando-a inútil.
Curioso era ter Pedroso Horta, ministro da Justiça do tresloucado
líder, ter levado a carta – de existência concreta, real – à Casa Legislativa,
na certeza de encontrar a Casa vazia, com a maioria dos deputados no se
acotovelando no espaço que mais apreciavam na Capital Federal: o saguão do
aeroporto.
***
Os fatos hoje, já passaram à história, encontrando-se com
Tancredo, uma das lideranças da oposição, e ao mencionar a carta, o matreiro político
das Minas Gerais, correu ao seu gabinete de onde disparou telefonemas para o Aeroporto,
solicitando que os deputados fossem comunicados de que deveriam voltar ao Congresso
imediatamente.
A carta renúncia foi lida. O golpe de Jânio saíra pela culatra,
o que foi reconhecido por ele mesmo, em aula/palestra que proferiu na FGV São
Paulo, em que estive presente, em 1977/78.
***
Agora, passados quase 60 anos de tal narrativa, vemos o presidente,
o tenente sem noção afastado das Forças Armadas, em um acordo para não ser
excluído ( o que lhe valeu a promoção a capitão, posto que ele nunca atingiu)
ir às redes sociais e, tentando repetir o gesto de Jânio, o Breve, se lamuriar
em relação às forças nada ocultas das corporações, não descritas ou identificadas
para mantê-las obscuras.
E, em texto que compra a ideia de teoria da conspiração que
os malucos e mal-intencionados de seus filhos são porta-vozes, resolveu divulgar
um texto lamentando, não sua incapacidade total, plena de governar, mas sua
incapacidade, tolhido por espectros de corporações que não consegue delinear.
Tudo senão arquitetado, bastante compatível com o seu guru,
o astrólogo que, em um dia de sombras, chuvas e trovoadas, viu em seu mapa
astral a presença do sol em sua casa do conhecimento. O que o tornou um ....
filósofo.
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Situação que, com o perdão da brincadeira infame, virou
bordão e meme das redes: se o filósofo que ele conhece é esse aí, um tal de
Olavo, então melhor é mesmo fechar os cursos de Filosofia.
***
O que talvez ele ignore é que seu guru nunca frequentou
qualquer curso formal da ciência mãe, junto com a História das ciências sociais
e humanas.
***
Voltando ao texto, toda a imprensa não se deixou levar pelo
blefe de Bolsonaro, o que não alivia a situação política, ao contrário a agrava
em minha opinião.
E digo o porque. A tentativa canhestra, como toda a ação de
nosso presidente, seja ao comentar as maniffestações populares contra os cortes
da Educação, seja para ser engraçado e popular com fã (ele ainda tem isso?) de
origem oriental, que lhe pediu para fazer uma “selfie”.
Feita a foto, com sua elegância o paspalhão foi falar do
tamanho “pequenininho” do órgão sexual de seu admirador. Brincadeira que, sem
mimimi e fugindo dessa postura de politicamente correto, cai muito bem para um
presidente de um país onde se encontra a maior colônia de japoneses, depois do
Japão.
***
Mas o quadro é mais grave porque se sabe que o presidente
está enfraquecido, não aprova nada na Câmara, além de agora estar vendo a
própria Câmara derrubar seu projeto de reforma da Previdência para apresentar
outro, de autoria do legislativo. Um
projeto que terá mais respaldo, mais votos, e o que temo sinceramente: maior
rigor até, com certas questões, já que o BPC e o benefício do trabalhador rural
são pontos de honra de toda a Casa.
Custo a crer que irão mexer mais fundo com os militares, mas
com outras questões e categorias, é algo bastante provável.
***
Já sem demononstrar qualquer apoio no Congresso, o
presidente caricato presta-se a isso mesmo, tonar-se personagem de tirinhas,
enquanto procura se desvencilhar das atrapalhadas de seus filhos, especialmente
do Flávio, cujos laços com as milícias vão se tornando cada vez mais evidentes.
Afinal, não foram poucas as homenagens a policiais que
envergonham a corporação e a farda que vestiam, e que Flávio tinha como amigos,
heróis e ídolos.
Mas, porque citar Flávio?
Porque deixar passar de liso o pai, o “capitão”, que tinha
como ídolo e ainda o tem, um Brilhante Ustra e outros torturadores; e que, como
bem lembrado por Jânio de Freitas na Folha de ontem, foi que passou ao filho a
votação, o gabinete, e os funcionários todos que estão envolvidos hoje com
Flávio.
***
Com uma chance muito grande de estar certo no palpite, não é
difícil perceber que Flávio apenas saiu, herdou e vem mantendo a situação que,
como filho, recebeu do pai.
O que atemoriza e enfraquece ainda mais o (des)governo de
Jair. Aquele que, em tom de brincadeira lembrou que também era Messias.
***
Nesse meio tempo, agiganta-se meu receio, já que ao publicar
o texto em que alega ser refém da ingovernabilidade, o próprio presidente deve
admitir ser verdadeiro o trecho do artigo, que diz que ele nada fez, e que seu
governo é um não-governo, até aqui.
***
Mas o texto, a difusão, a repercussão, tudo em como propósito
fortalecer o movimento de apoio ao seu desgoverno, já convocado para domingo
próximo, dia 26.
Uma manifestação em desagravo do capitão caricato. Que, a julgar por áudios que já foram objeto
de comentário da imprensa, pode se tornar algo muito mais agressivo e sério e
violento.
Afinal, o caminhoneiro que já se manifestou, e foi citado
pela midia, a julgar por sua educação, conhecimento e cultura, palavreado e mensagem,
já está pintado com todas as cores da guerra.
Que pode se transformar em um grande divisor de águas no
nosso país, pouco afeito a lutas fraticidas (peo que las hay, nos morros, nas
comunidades, nos confrontos com a polícia, e até dentro dos lares, entre
maridos e mulheres).
***
Engano comparar a situação atual com o pedido de Collor nos
anos 90, para o povo ocupar as praças vestidos de verde e amarelo! ( O povo
saiu e foi às ruas no 7 de setembro, de preto!!! Pacificamente, para por a pá
de cal no então presidente).
Embora esse seja outro espelho de Bolsonaro, a verdade é que agora a cisão é mais
pronunciada e o lado que apóia o presidente, está mais armado, tanto nos
espíritos quanto nos preparativos para a luta.
***
Em tudo isso, assusta-me o comportamento dos militares, já
identificado por alguém (que me esqueci, como o silêncio de rádio, que antecipa
o início da luta.
Quietos, silenciosos, parece que eles estão à espreita, para
que, ao primeiro sinal de radicalização mais evidente ou de maior gravidade, as
FsAs (forças armadas) cumpram as suas funções constitucionais e assumam o
poder.
***
O que me faz até ter pensado em se as Forças não terem planejado
tudo isso, estrategicamente, como uma forma de vingar e restaurar a imagem tão
arranhada que deixaram da última vez que frequentaram o poder.
Assim, em minhas viagens, fico pensando se não teria sido
tudo programado. A descoberta de alguém que tendo origem militar, guarda algum carisma.
Uma pessoa que fala bobagens sem qualquer pudor, por seu destempero. Que além
disso, e por suas posturas junto ao povo e na Câmara, já se mostrou contra a
liberdade e a democracia. Contra as esquerdas e os movimentos sociais. Contra a
ordem e a justiça, já que tem como ídolos generais torturadores. Por acaso,
colegas de nossos generais que o cercam e o vigiam para terem a certeza de que
ele estará confinado a limites aceitáveis.
Esse militares, sabem ainda de que os pés de Jair são de
barro, e que o discurso de corrupção, tanto quanto em Collor era só uma
falseta.
Então, a hora que for necessário, tais militares estimulam
guerras intestinas, entre os apoiadores do Jair, agora vítima de sua estupidez.
E enquanto o Bolsonaro se mostra um trapalhão, os militares aguardam. Em silêncio.
Sorvendo o prazer de ver seu plano funcionando como idealizado.
***
Ao fim, para evitar o mal maior, assumem.
E terão apoio e atenderão a chamados até da esquerda pouco
atenta.
E os Mourões e Helenos e Villas Boas irão poder mostrar toda
sua competência e genialidade, que de fato são detentores. E irão finalmente,
vingar seus amigos, generais linha dura, tão vilipendiados pela história.
***
O que permite que a história possa ser reescrita, com as
mesmas tintas ou mais graves. As tintas da vingança.
Em um “1984” vermelho.
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