terça-feira, 14 de maio de 2019

Governo fake, criador de mentiras e fatos pitorescos cômicos. No fundo, o uso da comédia como arma de desconstrução

Ausente por dois meses deste espaço, admito que várias são as explicações para tal afastamento. Desde uma sensação de desalento, de descrença na capacidade de minhas postagens contribuírem para a formação de uma mentalidade mais crítica de análise do ambiente e da sociedade em que vivemos, até uma autocrítica tão aguda, que chega a doer.
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Afinal, reconheço várias de minhas limitações, de várias espécies, inclusive intelectuais, e não me sinto nem  um pouco apto a me tornar um crítico de arte. Arte, de qualidade duvidosa, mas ainda assim, arte. Do tipo da realidade paralela tratada no filme Matrix, mas que, em nossa realidade, destacam uma competência avassaladora, dos atores, de desempenharem papéis tão nonsense.
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Ou pior: do tipo mais arrasador da comédia,  do pastelão escrachado, cuja capacidade de fazer rir da situação absurda em que a realidade é capaz de se transformar, acaba tendo o efeito mais corrosivo, da desconstrução do mundo. Da desconstrução do real.
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Tal situação de desconstrução pela crítica aguda que o humor permite pode ser ilustrada, por exemplo, pelo lamentável episódio protagonizado pela toda poderosa Rede Globo, e sua equipe de esportes, no jogo realizado no Maracanã, entre Santos e Vasco.
Premiar, por julgamento popular via redes sociais o atleta Sidão, goleiro do Vasco derrotado, como melhor em campo é, antes de mais nada um achincalhe. Uma piada de mau gosto, agressiva, desnecessária. Mais infame ainda, pelo fato de o goleiro ter, nitidamente sido o grande responsável pela derrota de seu time, determinante de ao menos dois gols do adversário.
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Pior em minha opinião, foi não apenas ir até o fim na gozação, entregando o prêmio ao aturdido jogador. Pior foi o fato que o ser humano Sidão, ainda nos trajes de goleiro, mostrou uma elegância e uma dignidade tão elevada, tão superior que reduziu a Globo, a repórter constrangida, e toda a equipe de esportes daquela estação de televisão a um bando de comediantes tão descartáveis e tão dignos de compaixão quanto o apresentador do programa que se pretende de humor nas noites do SBT.
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Constrangimento que não passou de fake, dadas as repetição desnecessária de toda a história no programa Fantástico, com gozações divertidas???, por parte do engraçadinho??? Tadeu Schmidt.
Aliás, fazendo um parênteses, que desserviço para a própria Globo, o Tiago Leifert prestou, ao introduzir, um novo jeito de apresentação de programas esportivos, desde 2009. Programas mais leves, mais divertidos??? e cheios de brincadeiras e gozações.
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Mas tudo que aconteceu com Sidão, teve como objeto o de desconstrução, pelo grande público, de uma promoção interativa da Globo.
Desconstrução tão exitosa que a própria Globo já se desculpou e mais ainda, já alertou que irá mudar o formato da premiação.
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A esse propósito, de interatividade e participação constante do telespectador, é preciso lembrar e criticar sempre a ideia. Não por ser contra a maior participação democrática, popular, etc.
Mas por que a eleição via redes sociais é, dado o volume de participações, uma situação que permite que o anonimato se estabeleça e prevaleça.
O que permite que situações protegidas por esse "não deixar pistas", possa causar problemas muito mais sérios.
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Estamos vivendo pois, uma situação de desconstrução. Processo tão grande e avassalador, que muitas vezes, imperceptível. E capaz de levar de roldão pessoas com um mínimo de capacidade intelectiva, crítica e racional.
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Daí a razão de à nossa volta vivermos situações cada vez mais kafkianas.
Tão despropositadas que o ministro da Educação, intelectual sobejamente reconhecido, ao querer ironizar e classificar a situação que o país atravessa em sua área de atuação, afirmar que vivemos em mundo como o descrito por Kafta.
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O que nos leva a registrar o lapso do ministro como apenas uma galhofa. Ou como uma mentira.
O ministro mente. E sabe que mente. E por mentir tanto, não se permite, classificar a realidade como Kafkiana, já que sabe que tal classificação não se aplica.
E ao mentir com consciência, traído por seu inconsciente, o ministro comete um ato falho. O que vivemos é uma situação de kafta. De alimentação. Pela ausência ou pela miséria. Ou porque a gente não quer só comida...
E ao mentir como o faz o ministro mente, consciente mente.
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Razão por que, também para desconstruir as universidades e o ensino público de qualidade reconhecida internacionalmente, com suas equipes de pesquisa e publicações, resolveu punir algumas Universidades.
Pelo fato de, naqueles espaços, os alunos e equipe de professores e funcionários em respeito à autonomia que lhes é assegurada pela Carta maior, procurarem exercer o direito legítimo de se reunirem, pesquisarem, questionarem, criticarem e chegarem a conclusões construtivas. Na contramão da desconstrução do grupo no governo.
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E como mente o ministro, para fugir às críticas, ele estende o corte. E mente que não era um corte generalizado, linear, mas um contingenciamento. E mente quando afirma que a partir de setembro, com a reforma da previdência aprovada, os gastos serão autorizados e retomados.
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Mais uma vez, como mente o ministro, sua consciência lhe trai. E desconstrói o saco de maldades que ele preparava. Afinal, o ministro de Educação pode ser tolo, ou parecer tolo. Pode ser divertido.
Mas obrigatoriamente, economista que é, deve saber fazer conta de chocolates.
Mesmo que tenha errado propositadamente, para que o presidente ao seu lado tivesse mais barrinhas para poder ir, com toda o recato que a situação exigia, comer o objeto da ilustração.
Um fato pândego!!!
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E é essa a conclusão a que chego, e que me faz ter dificuldades para analisar a situação que estamos vivenciando.
O presidente mente, ao dizer que prometeu ao ministro fazer dele membro do STF. O ministro, por quem cada vez menos moro de amores, mente descaradamente, ao dizer que não houve o acordo que o presidente afirma ter havido.
O presidente mente para contentar o ministro mentiroso, como quem mente para a criança mal comportada na festa de aniversário, visando constrangê-la a se comportar bem, já que terá um presente surpresinha ao final da festa.
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O presidente, antes, já tinha mentido ao convocar esse juizinho para sua equipe, mentindo e vendendo à população a ideia de que iria fazer um governo sério, justo, de combate, por exemplo, ao grave problema da corrupção no país.
O ministro já tinha mentido antes, quando transformou sua perseguição a um político específico, em combate geral a toda a classe política corrupta.
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O ministro mentiu quando assumiu um cargo para poder se projetar no Executivo, quem sabe almejando uma candidatura baseada em sua popularidade até ao cargo máximo.?
Paladino da mentira, teve suas asas cortadas em pleno voo pelo presidente mentiroso, cuja família percebeu o cheiro da traição no ar.
Por isso a desconstrução da figura do ministro da Justiça e o afago para manter o menino mentiroso quietinho em seu canto, até o fim da festa.
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Mas no atual governo, mente a ministra Damares, que quer ser a mamãe dos índios, e flagrante atitude de alienação parental, já que os índios não terão a visita de papai Moro.
E todos no governo mentem, ao brincar de casinha com a ministra Damares, de forma tão lúdica e divertida. E sadia.
Tão sadia quanto a população brasileira, alimentada pelos frutos que as cidades lhes proporcionam, como as mangas das árvores nos centros urbanos.
A ministra da Agricultura, autora da tirada divertida, não sabe, talvez, é que também há jacas plantadas, ao menos aqui, em certas regiões de Belo Horizonte.
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Mas, divertidamente, desconstrói a necessidade de se adotar políticas públicas voltadas à alimentação da população. Porque, afinal, seu interesse é a agricultura para exportação e divisas e lucros para fazendeiros que não se preocupam com sustentabilidade.
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Por fim, para não ficar muito extenso esse texto, o ministro Paulo Guedes mente. E mente descaradamente, ao afirmar que a Reforma da Previdência irá permitir ao governo  uma economia e uma poupança que lhe permitirá realizar investimentos que o país precisa para criar empregos e voltar a crescer.
Homem do mercado financeiro, ele começou mentindo em relação à cifra que seu projeto irá economizar. De 1 trilhão, saltou para 1,2 trilhão.
Depois mentiu, ao deixar claro que por menos de 700 bilhões de economia, não implanta a sua proposta principal, de previdência por capitalização.
Aqui sim, ele não apenas mente, como torna-se hilário. Logo sua principal meta está ameaçada???
Por fim, mente com o discurso de que irá utilizar os recursos poupados da previdência, para fazer investimentos.
Logo ele, um liberal, cuja filosofia é não interferir na economia.
Exceto se, comicamente, não quiser interferir diretamente, mas optar por auxiliar com subsídios, aos empresários a realizarem tais inversões tão necessárias.
Mas toda mentira do senhor Guedes o conduz a uma maior, que é também uma desconstrução. A desconstrução da Previdência Brasileira.
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No futuro, a desconstrução da nação e do povo.
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E nem precisamos falar das mentiras e desconstruções do guru do presidente e seus filhos. Aquele autoproclamado filósofo, Olavo de Carvalho e suas guerras mentirosas de tuítes com militares e outros parceiros do presidente, que insistem em não obedecer a suas maquinações.
Mas, parece-me que os militares, engolindo em seco, estão também mentindo. Ou só se divertindo. Vendo a desconstrução que o regime civil consegue protagonizar.
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E para encerrar, falando sério: os assassinos de Marielle ainda não foram todos identificados. Os mandantes continuam invisíveis. Mesmo após o oba oba de uma identificação de executores. E hoje, comemoram-se 14 meses de sua execução.
Por vários interesses que incluem o das milícias, de quem os filhos do presidente - e o próprio - são tão amigos.
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Enquanto isso, Queiroz mente e ganha dinheiro espertamente. E mente o Flávio, o senador, o que faz como mente.
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E o presidente vai a Dallas, Texas, receber um prêmio fake. Mentiroso e de desconstrução. Dado pela Câmara de Comércio Brasil - Estados Unidos, a um presidente que ainda não fez nada para melhorar o comércio entre nosso país e os Estados Unidos.
Mas, vale o puxa-saquismo, como já lembrava Aldemar Vigário - personagem inesquecível do grande ator cômico (esse autêntico e verdadeiro) Lúcio Mauro.
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E o presidente vai para a região berço da KKK (a região Sul, não o Texas!) que se notabilizou no cinema por ser a terra dos ranchos e do bangue-bangue.
A terra da arminha...
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É isso. Difícil escrever em meio a tanto desatino.

Um comentário:

Anônimo disse...

Seu post estimula uma reflexão dolorosamente aguda: que angústia é esta que nos atormenta?
O caso do goleiro Sidão é emblemático, em especial por dois motivos:
1. O escárnio e a insensibilidade popular com o sofrimento alheio, principalmente pela possibilidade de "zoar" anonimamente. Anonimato que fabrica bizarrices de todos os tons e matizes, propiciado pelas mídias sociais. Faz surgir "mitos". Produz reducionismos e simplismos capazes de seduzir.
2. A incapacidade da Rede Globo de filtrar a informação. O que me leva a pensar sobre o quão pouco crítica é esta "sociedade do espetáculo". Onde tudo é parte de show, tudo se presta a uma lógica de consumo. Assim o senso crítico, ou bom senso, passam a ser reações vistas como transgressoras de uma "ordem", onde os sorrisos fáceis e dóceis são mais valorizados (nas mídias sociais são as mãozinhas sinalizando aplausos, mesmo para posts de circos mambembes). Não é por acaso que indivíduos mais críticos são vistos como subversivos, em um "mundo líquido".

Mas o que vale mesmo destacar, aplaudir e enaltecer foi o comportamento do SIDÃO (com todas as letras maiúsculas), sóbrio, elegante e digno! Reação que suscitou aplausos de muitos. Acredito que temos muito a aprender com o gesto do goleiro: mantermos a serenidade, a convicção e a humildade (o que nos torna mais fortes) diante dos estereótipos que são criados atualmente, como alternativa de desconstrução de uma sociedade mais sóbria, solidária e crítica.

Finalmente faço um breve comentário sobre o astrólogo de Virgínia: penso que ele expressa, aquilo que não é conveniente que Jair diga, tendo assim o endosso do tenente/capitão: em curso está a desconstrução das instituições do país, inclusive das forças armadas.
Abraços.

Fernando Moreira