Roger Penrose, Reinhard Genzel, Andrea Ghez foram anunciados, essa semana, como os vencedores do Prêmio Nobel de Física, pela Academia Real de Ciências da Suécia, como reconhecimento por seus trabalhos e descobertas sobre os buracos negros.
O fato de uma mulher estar entre os premiados já é, por si
só, motivo de uma menção nesse pitaco. Afinal, a americana Andrea é apenas a
quarta mulher a obter tal reconhecimento, em área considerada, erroneamente, masculina.
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Em razão da complexidade, do desconhecimento, e até algum
temor infundado que cercam esses fenômenos, o prêmio teve o mérito de aguçar
minha curiosidade, induzindo-me a ir procurar socorro no mestre Google que me
apresentou, entre outros, o endereço do site Gizmodo Brasil, hospedado no
portal Uol.
Foi lá que tomei ciência de que os buracos negros são
produto de uma evolução estelar, ou “o resultado da morte de uma estrela supermassiva”.
Explicando melhor, é como se uma estrela de dimensão e massa
muito maior que o Sol, fosse o local onde se travasse uma batalha: de um lado,
forças centrífugas, resultantes de fusões nucleares no interior do astro; de
outro lado, uma força da gravidade descomunal, sugando tudo para seu interior.
Ao longo do tempo, o combustível que alimenta as forças direcionadas
para fora começam a se esgotar, restando vitoriosa e única a força da gravidade,
capaz de fazer a estrela entrar em um processo análogo à autofagia, e começar a
contrair-se toda, até entrar em colapso.
Nesse instante transforma-se em um buraco negro, fenômeno
que exige massa muito maior que a do Sol e que conta com campo gravitacional de
intensa força.
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Duas observações merecem ser feitas: embora a massa seja um
fator importante, cientistas afirmam que o que fator definidor do buraco negro
é a sua densidade.
Para ilustrar, para se transformar em buraco negro, a terra
toda teria que se contrair até virar uma uva.
Segunda observação: é tamanha a força do campo gravitacional
criado que tudo é engolida pelo buraco, dele não conseguindo escapar nem a luz,
cuja massa tem valor quase nulo, de onde vem seu nome de buraco negro.
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No entanto, para não alimentar temores infundados, é o equilíbrio
de forças inicial que mantém, por exemplo, os planetas em suas órbitas em torno
do Sol, provendo a estabilidade de nosso sistema.
E, segundo cientistas, se fosse possível que um buraco negro
substituísse o Sol, na hipótese de ter a mesma massa que ele, a situação de
estabilidade não seria necessariamente alterada. Essa estabilidade guarda
relação com a distância, o que leva os objetos na Terra, por exemplo, mesmo com
massa menor que a do Sol, a sentir mais a gravidade de nosso planeta que a
daquela estrela.
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Por mais interessante que seja conhecer um pouco mais do
fenômeno do buraco negro, alguns dos leitores desses pitacos poderiam perguntar
a razão de uma postagem como essa.
Começo respondendo que é para marcar a passagem, nesse 7 de
outubro, dos 10 anos do blog Também quero dar pitaco.
Tempo em que 127 amigos, e alguns poucos curiosos, se
inscreveram e passaram a nos seguir. Período em que 1728 pitacos foram
publicados, tratando de assuntos vários, desde assuntos econômicos, a temas
políticos e esportivos, até assuntos diversos que marcaram nossa sociedade e
nossa vida.
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Aos amigos leitores, devo expressar minha gratidão, para com
sua paciência, sua confiança e, em especial, sua coragem.
Mas devo confessar que, se houve algum ganho real que pude
experimentar, tal benefício foi o de me obrigar a ir pesquisar sobre os temas
que desejava tratar. Nesse sentido, a importância maior do blog foi me
proporcionar os motivos para alimentar minha curiosidade e meu conhecimento.
Como dizem e acredito que vivemos enquanto aprendemos, devo admitir
que o que o blog me proporcionou foi aprendizado. E vida.
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Mas, feito esse auto de fé, voltemos ao tema do blog de hoje,
usando o paralelismo com a história do buraco negro.
Afinal, no último 5 de outubro comemoraram-se os 32 anos de
nossa Constituição cidadã. Que como cidadão de submundo periférico da América
do Sul, não teve ainda reconhecidos todos os seus direitos. Daí alguns artigos
não terem sido regulamentados até essa data (o Artigo 192, que trata do Sistema
Financeiro sendo um deles; bem como outros que tratam da taxação de grandes
fortunas, no sistema tributário) e outros já terem sido alterados, revogados,
cancelados, ao menos pela sociedade, como o debate da prisão em segunda
instância.
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Tudo bem, sabe-se que a sociedade humana muda e que a Lei Maior
não pode impedir sua evolução. Sabemos que estamos atravessando um momento de
mudança, conservador que seja, mas de alterações.
Mas nossa democracia, tenra, tênue, vinha se mantendo viva,
dinâmica, efervescente nesses 30 e poucos anos, como uma estrela supermassiva
em ebulição, em movimentos de fusões, rupturas, erros e acertos, sempre
mantendo o equilíbrio.
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OK, você venceu: equilíbrio entre os mais ricos e poderosos.
Equilíbrio e estabilidade no grau de exploração de outras parcelas de classes
ou categorias sociais. E total desequilbirio, mesmo estável, em relação a camadas
consideradas então invisíveis, tamanha a importância que lhes era atribuída (ao
menos até a pandemia).
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Mas nossa democracia, essa superestrela, libertária, pujante,
rica tanto em termos de sua potencialidade material, quanto de seus valores,
sua riqueza cultural, de repente passou a ser objeto de questionamento.
A um só tempo não querendo assumir os deveres, encargos e
responsabilidade de construir uma nação justa, digna, o tempo inteiro sob a vigilância
e controle da sociedade civil, muitos cidadãos cobravam soluções para problemas,
melhorias nas condições de vida, que delegavam a algum ser supremo, heroi da
população.
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Acho aí o primeiro erro, que se eterniza. Ao longo de 30
anos, a população escolheu a figura de herois populares para decidir os rumos
de sua vida. Abrindo mão e transferindo para os “salvadores da pátria” as
decisões que deveriam ser menos comodamente realizadas.
Entendo que é mais cômodo e menos trabalhoso deixar que
outros tomem as decisões sobre nossas vidas. Afinal, se as coisas não derem
certo, sempre teremos a quem culpar.
Entendo que assumirmos as rédeas de nossa vida e nosso destino, impõe a
todos nós, um sacrifício de entrega, muitas vezes, sem benefício direto e individual
para nós mesmos.
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Entregue as decisões que nos afetavam coletivamente às mãos de
poucos “abnegados”, que além de tudo não tinham que prestar contas a nenhuma
instância de maior participação popular, não é de admirar que os governantes de
ocasião se sentissem no direito de se retribuírem – se locupletarem – pelo trabalho
de abnegação e sacrifício, em prol de uma
sociedade distraída.
Às muitas migalhas distribuídas, corresponderam com
corrupção. Essa, quando descoberta, gerou no grupo dos acomodados, uma reação
sem precedentes. Como se também eles não fossem culpados, por omissão.
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Ao fim e ao cabo, a corrupção sugou nossas forças e nos
sugou junto para a ideia de um governo conservador (como pareciam ser,
antigamente, os governos autoritários!).
Não todos, claro. Afinal, ainda temos perto de 70% que
tentam reagir à atração da força gravitacional da acomodação e passividade.
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Aí chegamos ao buraco negro, representado por forças que já
existiam no interior de nossa democracia, mas que se alimentando de um discurso
de responsabilização dos outros e de propagação do ódio, foi elevado à condição
de, mais uma vez, Salvador da Pátria verde amarela. Um mito.
Que como qualquer força pré-existente, só pode crescer nas
mesmas atividades escusas e, muitas vezes com fortes traços de ilicitude. Quando
não indícios de vinculações espúrias com aqueles que, armados, apresentam-se
como “cavaleiros da força”, mesmo que do lado Darth Vader da força.
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Bolsonaro, fortalecido economicamente nas sombras e nas
entrelinhas das ações políticas, fortalecido pelo seu oportunismo político, por
sua esperteza que lhe permite governar, pelo desgoverno é nosso buraco negro.
Como afirmou Marcelo Freixo, Bolsonaro é o serial killer de
nossa Constituição. Ele suga para a escuridão e as trevas qualquer resquício de
avanço ou mesmo a mera manutenção de valores democráticos.
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Não há como se iludir com seus gestos de maior cordialidade,
recentes.
Ele é a ilusão do buraco que não ameaça e que atrai, por não
parecer estar onde se localiza.
Mas, não por sua pessoa, ainda que negativa e negacionista.
Mas por sua prática, de governar sem governar, de fazer e desfazer e afirmar e
negar, com a mesma falta de comprometimento com a verdade ou a realidade, ou a
ciência. Ou com o povo.
Buraco negro, consegue corroer por dentro as instituições. Consegue
promover a desconstrução por simples nomeação para postos chaves de seu desgoverno,
pessoas contrárias e com práticas antagônicas ao que lhes era atribuído.
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E enquanto adota o comportamento do político populista, abre
a porteira e deixa passar a boiada.
Cercando-se sempre dos piores auxiliares, em sua grande maioria,
com um vício de origem, a julgar pelas qualificações que apresentam à sociedade
sempre em currículos fajutos, ampliados por fake courses.
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Quando o auxiliar parece destacar-se, por algum equilíbrio,
o presidente o queima e o transforma em fuligem. Essa fuligem a que o
presidente transfere a responsabilidade para sair de mãos abanando, limpas,
lavadas.
Enquanto isso, a fuligem fica suspensa no ar interior escuro
do buraco cósmico.
2 comentários:
Belo texto, Paulo! ��
Parabéns pela brilhante analogia. Outubro para mim tem mais um marco, o dia 7, leitor e aprendiz que sou deste blog; já tinha antes o dia 8, marco da luta intransigente contra o imperialismo; dia 9, aniversário de um outro humanista e contestador. Todos buscando à sua maneira semear a luz.
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