Outubro se inicia prometendo... Quente. Tanto em termos climáticos, quanto do fogo que continua ardendo, não apenas no Pantanal. Para uniformizar os problemas, as preocupações, a fuligem e a poluição, ardem as matas no interior de São Paulo e no interior de Minas.
O incêndio se alastra enfolfando o Parque da Serra do Cipó, parte da Serra do Curral, do Rola Moça, na maior parte das vezes, por culpa do homem. Que intencionalmente ateia fogo para abrir espaços para pastagens e/ou plantio de soja, por exemplo, ou de forma não intencional, mas descuidada, age sem avaliar os resultados previsíveis de seus atos e comportamentos. Isso quando seu comportamento não revela apenas a falta de educação, quando atira um palito de fósforo ou um resto de cigarro em rodovias, dando origem a um desastre a que o clima seco serve de combustível natural.
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Em meio à observação de tanto desastre que ameaça as matas ciliares, as nascentes, a preservação dos nossos cursos d'água para não falar da poluição e fuligem levadas pelo vento, que ameaça, nos centros urbanos, a saúde da população sujeita a respirar um ar de qualidade cada vez pior - confesso que, embora tardiamente, até hoje não consegui entender uma passagem do discurso de Bolsonaro, na ONU.
Ali, discursando em defesa do comportamento de seu (des)governo em relação à preservação do meio ambiente, da floresta amazônica, de nossos mananciais, da biodiversidade, o presidente afirmou que nossa floresta é úmida e, por isso, não queima.
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Ora, agindo talvez como o personagem de Elio Gaspari, Eremildo, o Idiota, ou quem sabe como a saudosa Velhinha de Taubaté, do grande Luiz Fernando Veríssimo, tendo a concordar com o presidente. Não é possível pegar fogo onde há tanta água, tanta umidade, o que indica que o presidente deve estar certo.
No entanto, tal raciocínio nos faz defrontar com um problema de lógica, obviamente não considerado por esse gênio da raça que nos governa e sua vasta cultura e conhecimento: se a floresta é úmida e não queima, como é que no lado oriental, ali onde os ribeirinhos, caboclos e os índios - especialmente esses últimos- plantam e vivem desde antes da chegada do europeu a nosso país, o fogo se alastra?
E, seguindo a linha de pensamento que atribui ao comportamento tradicional desses "selvagens" - que desconhecem as mais avançadas técnicas de cultivo -, a responsabilidade pelo fogo, como explicar que esse entorno ocidental da floresta ainda não foi extinto, mantendo-se preservado?
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Tanto no risível discurso na ONU, quanto em outras várias oportunidades que se apresentam, é de uma bizarrice atroz os argumentos que esse desgoverno insiste em apresentar para rebater aquilo que considera "acusações mentirosas, levianas, falaciosas" de que somos vítimas.
Do alto de sua arrogância e incapacidade de pensar mais amplo, nossas autoridades insistem em manter um discurso hipócrita em defesa dos interesses nacionais, em defesa de nossa soberania, ameaçada pelo ataque cerrado desferido por outros povos e países cujo desejo inconfesso é o de se apossar da Amazônia e das riquezas de sua biodiversidade.
Curioso é que, em todas as medidas que adota em relação a nosso bioma e nossa riqueza, o que fica patente é a miopia dessas nossas autoridades, incapazes de verem oportunidades de geração de riqueza em outras atividades exceto exercidas com base nas práticas tradicionais da monocultura de lavouras comerciais de exportação, como a soja, ou nas atividades pecuárias, ou ainda, de mineração.
Ou seja: esses que têm a responsabilidade de pensarem e proporem o desenvolvimento de atividades geradoras de riqueza de base tecnológica, mais limpas e menos predatórias, ligadas à indústria de fármacos, química, etc. apenas conseguem enxergar e propor a exploração de atividades vinculadas à exploração extensiva de nosso território.
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Pior ainda. Muitas vezes, essas autoridades agem ou se manifestam movidos por rompantes cujo objetivo é aguçar os brios de uma população que se deixa manipular por valores tão abstratos e de tão pouca utilidade, tendo em vista a melhoria das condições de sobrevivência digna da população brasileira.
Valores como patriotismo, nacionalismo (em sua visão mais canhestra) são utilizados para encobrir a postura equivocada e omissa do governo que, dessa forma, sente-se apoiado para passar da defensiva ao ataque mais rasteiro aos que os criticam.
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Argumentam que os europeus, que hoje cobram comportamento responsável de nosso país, foram no passado autores de devastações e agressões ao meio ambiente muito mais prejudiciais.
Como se os valores de defesa dos recursos de nosso planeta tivessem existido desde sempre, e não fosse, justamente a constatação da degradação provocada pela atividade humana, que provocasse a necessidade de uma mudança.
Mudança salutar, não há como negar. Mas cujo reconhecimento, embora tardio, deve ser comemorado como revelador da evolução positiva proporcionada pela experiência humana.
Nesse sentido, a lógica implícita no discurso de que ao nosso país deveria ser tolerada a exploração irracional e predatória do nosso território, apenas porque outros assim se comportaram no passado, é tosca e suicida para dizer o mínimo. Ambienticida.
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Além de ilógico, o argumento ainda contém inverdades. Afinal, afirmar que somos o povo que mais preservou suas florestas, alegando que os europeus destruíram a cobertura vegetal de seus territórios não é apenas mostrar um desconhecimento da própria história econômica da humanidade e da evolução de nossa civilização.
Significa não assumir que nosso descaso com a questão da ecologia foi, e continua sendo, um dos fatores que explicam o desmatamento da Mata Atlântica, reduzida hoje, a uma ínfima proporção do que era anteriormente.
O que, em termos absolutos, pode significar uma área desmatada maior que alguns dos territórios dos países vítimas de nossos ataques.
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O pior é que é essa riqueza ambiental que, mais uma vez, é vítima da porteira agora aberta, para dar passagem à que interesses econômicos possam vir a explorar e eliminar o pouco que ainda resta de conservação de restingas, de mangues, tão indispensáveis à manutenção de toda espécie de vida.
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Mas, se causas naturais explicam o outubro quente, outros fatores contribuem para a elevação da temperatura. Especialmente no campo político.
Exemplo disso, é a discussão entre os sinistros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e o nosso Pinóquio-mor, o sinistro da Economia, Guedes.
Uma breve listagem de atos, falas e promessas desse que foi escolhido como o Posto Ipiranga desde o início do governo é suficiente para justificar o apelido e revelar a adulteração que sofreu o combustível à venda neste Posto.
Afinal, foi Guedes quem prometeu privatizar todo o patrimônio público, para arrecadar até 1 trilhão de reais. Como foi dele a promessa de eliminar o gigantesco déficit público já no primeiro ano de sua gestão. Como foi ele que afirmou que, graças ao esforço de investimento privado, tanto nacional quanto aquele atraído do exterior, a economia brasileira iria retomar o seu crescimento.
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Sem competência para dar andamento às reformas que prometeu entregar ao governo, preferiu trocar o discurso econômico por ofensas a altas autoridades estrangeiras, fazendo coro no desequilíbrio e na grosseria, ao seu patrão, como forma de mostrar alinhamento, na falta de resultados.
Preocupado em reduzir o principal gasto público, representado pelo gargalo da Previdência e do pagamento de pensões e aposentadorias, com potencial de colocar em risco até mesmo o limite do teto de gastos, dedicou-se, inutilmente, à aprovação da Reforma da Previdência.
Seu destempero, a falta de jogo político, somados à arrogância o derrotaram. Não fosse seu Secretário da Previdência, justamente Rogério Marinho e a participação fundamental na figura de fiador de Rodrigo Maia, a reforma não teria sido aprovada.
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Não querendo dar sinal de fraqueza, começou a difundir dados de uma falsa recuperação econômica, no final do ano de 2019, desmentida pela pandemia que nos atingiu a partir de fevereiro/março.
Mas Pinóquio não se deu por vencido e, continuou colhendo derrotas como sua proposta de pagamento de um auxílio emergencial no valor de 200 reais, para amenizar o sofrimento e a própria sobrevivência de milhões de pessoas, consideradas antes invisíveis, excluídas do mercado de trabalho e de consumo.
Em boa hora, mais uma vez, o Congresso não deixou que tal ideia tivesse curso, elevando para 500 reais o valor do benefício mensal a ser pago, mais tarde elevado para 600 reais para um Bolsonaro interessado em não parecer ter ficado a reboque.
Nesse instante, Pinóquio prometia uma retomada em V, também inviável.
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Tendo sido derrotado em tudo que tentou ou se propôs a fazer, e para não ficar no ostracismo absoluto, retomou as investidas que já havia protagonizado antes, contra seus colegas de equipe técnica e companheiros de Ministério.
Sua atuação na reunião fundante do Brasil da Falácia, dia 22 de abril, mostra seu grau de desespero e, mais uma vez, falta de humildade, ao se referir à leitura, no original, do livro de Keynes.
Livro que leu e não entendeu nada, mesmo depois de releituras que alega ter feito.
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Mais recentemente, movido por sentimentos pouco nobres, voltou a mirar seu armamento contra Maia, que o derrotou uma vez mais no Fundeb e no adiamento da medida que eliminava a opção de desoneração da folha de pagamentos.
Quando viu a oportunidade de desenhar o programa salvador da popularidade de seu patrão, o renda cidadã, mostrou mais uma vez sua incapacidade, tendo sido atropelado pela área política, representada por seu ex-secretário, Rogério Marinho, agora sinistro do Desenvolvimento Regional.
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Para financiar o programa que se transformou na menina dos olhos da virada populista do governo Bolsonaro, nas reuniões internas da equipe, sugeriu o uso de fontes que permitissem contornar o obstáculo do limite do teto fiscal de gastos, em verdadeira manobra de ilusionismo, digna de um (mau) prestidigitador.
Descoberta sua ação, partiu para o ataque àqueles que aprovaram as fontes por ele sugeridas, preferindo lavar as mãos e eximir-se de qualquer responsabilidade quanto ao anúncio das fontes.
Pois é. Este é o Pinóquio, capaz de grosseiramente partir para o ataque a colegas, apenas por terem destacado sua participação ou omissão, nas discussões no Palácio.
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Com outubro tão quente, por seu lado, o presidente para efeito interno, apenas lava as mãos, mostrando maior preocupação com a saúde de seu ídolo maior, Trump, alcançado pela gripezinha que já matou 145 mil brasileiros.
Para o mal ou para o bem, parece que Trump se recupera bem, embora a passos lentos, tendo em vista não ter feito uso da medicação recomendada por Bolsonaro: a cloroquina.
Menos mal.
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Sobre o bolsa cidadã e os pontos fortes e fracos de programas de benefícios sociais, fomos convidados para participar de um debate no último sábado, na Rádio Itatiaia, programa Palavra Aberta.
A seguir, apresento o link da gravação do programa, para aqueles que tiverem interesse:
https://www.itatiaia.com.br/central-de-audio/13/palavra-aberta.
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É isso.
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