quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Lugar de fala e a morte de Beto no Carrefour; a negação e a nulidade de Bolsonaro; Maradona: uma homenagem. Extensa e apaixonada, como o personagem

 Às vezes, certos termos e expressões surgem em nosso ambiente e passam a se incorporar ao nosso discurso do dia-a-dia, ganhando grande destaque.

Vários deles transformam-se em autênticos modismos, ganhando vida própria e passando a ser utilizados para expressar conceitos e ideias mais amplos que aqueles para que foram originalmente cunhados. Quando isso acontece, sua utilização acaba sendo identificada, muitas vezes,  a grupos considerados diferenciados, mais esclarecidos ou iluminados. Nesse caso, torna-se sinal da identificação de seu usuário. Diria até uma senha de pertencimento a certo grupo social de caráter cult.

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Em minha opinião, a ocorrência desse fenômeno de apropriação e ampliação do significado de um termo de origem restrita é sinal da perspicácia, até da “felicidade” do autor de seu emprego original.

Parece-me ser esse o caso da expressão “lugar de fala” que dá título a livro da filósofa Djamila Ribeiro.

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Outras expressões também transformadas em moda, especialmente em razão de sua disseminação pelas redes ditas antissociais nesse momento de profunda polarização em nossa sociedade são “cancelamento” e “lacração”: a primeira representando mais que uma discordância de caráter profundo com opinião ou comportamento manifestos por alguém, mas o próprio julgamento, condenação e justiçamento da pessoa cancelada.

E pior: o cancelamento representa a tentativa de ampliar a exposição da pessoa e suas ideias consideradas inoportunas, de forma a promover, como no passado, uma condenação em praça pública. Hoje, uma condenação ao desaparecimento, à invisibilidade e ao esquecimento eterno.

Situação de intolerância que eu considero dizer tanto sobre o autor do cancelamento, quanto do autor do comportamento abjetável, criticável.

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Não que qualquer um de nós tenha que conviver e estar sendo bombardeado com opiniões que são completamente antagônicas às nossas crenças, ideias, educação, formação, sentimentos e até visão de mundo.

Mas, nesse caso, sempre há como adotar o ensinamento antigo, que nos lembrava de que a existência de dois ouvidos (ou olhos) era para que as agressões ou bobagens entrassem por um deles e saíssem pelo outro.

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Também não vejo problema em afastarmo-nos daqueles com quem não temos afinidades e cujas opiniões apenas nos trariam desconforto, quando não discussão. Não fazer isso seria uma autosabotagem. Coisa de masoquista.

Sem procurar induzir a quem quer que seja a adotarem comportamento semelhante.

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Quanto à lacração, parece-me ser a expressão de aprovação e concordância com algum tipo de pensamento que tivemos a oportunidade de expor. Mais uma vez, sinal de identidade.

Ou sinal de uma vaidade vazia, já que restrita àqueles grupos a que pertencemos, justamente por pensarmos e nos expressarmos de forma semelhante.

Em resumo: a lacração expressa o fato de que fomos os pioneiros em emitir uma opinião que todos em nosso grupo compartilhavam.

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Mas, o pitaco de hoje não era para tratar de expressões tornadas modismos. E, como ensina o dicionário, efêmeras.

No fundo o pitaco hoje era para tratar do bárbaro assassinato, em loja do Carrefour de Porto Alegre, do Beto, o João Alberto Silveira Freitas. Homem negro. Sinal evidente do racismo estrutural de nós brasileiros, mesmo que tal comportamento seja insistentemente ignorado por Mourão e Bolsonaro.

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Porque a questão crucial aqui não é se Beto deu ou não motivo para que tentassem expulsá-lo da loja. Se ele adotou comportamento antissocial ou não. Se estava sendo inconveniente ou não. Se estava bêbado ou não. E ao que parece, e as imagens deixam perceber, Beto não cometeu nenhum ato condenável.

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Uma coisa é puxar pelo braço, falar grosso. Outra bem diferente é a união de dois homens, para covardemente se atracarem com um sozinho. E um deles, ficar desferindo murros e socos, que respingaram sangue pelo piso, enquanto o segundo valentão conseguia, pelas costas, desequilibrar o Beto e jogá-lo ao chão.

A essa altura, Beto já estava dominado. E apenas um desejo íntimo e mórbido de seviciar, de torturar, de superar a infelicidade de uma vida limitada e sem perspectivas, seria capaz de levar dois homens brancos, a assassinarem um negro.

Sim. Há que se desnudar a verdade evidente: fosse branco, Beto teria levado uns tabefes, talvez. Uns empurrões e teria saído vivo do supermercado, para ir comer o pudim de pão sossegado em sua casa.

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Alguns dias depois, postei no facebook, mensagem de pesar e revolta contra o assassinato cruel.

Na oportunidade disse que não tinha lugar de fala. Estava errado.

Tenho sim, lugar de fala, mesmo não sendo preto. Ou “moreninho”.

E o que me dá essa posição é o fato de ser humano. E de sentir e testemunhar toda a injustiça, praticada contra outros seres humanos, apenas por terem nascido com a pele de cor escura. Preta.

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É verdade que não sou eu que levo as bolachas e esculachos dos policiais como, por exemplo, quando  voltava do estádio em uma ocasião e, no ônibus, vários de nós atleticanos comemorávamos, cantávamos, xingávamos, nos divertíamos.

Incomodávamos outros passageiros? Certamente.

Mas, descemos no mesmo ponto, eu e vários rapazes e meninos vizinhos meus, do morro.  Por acaso todos negros. Pretos.

E foram eles que os policiais elegeram para serem as vítimas da ação de saltar da viatura e dar a prensa, com direito a mãos nas paredes, alguns tapões e revista.

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Aí é que está meu lugar de fala: na minha covardia. Total e absoluta. C O V A R D I A.

Estava escuro e, à noite, todos os gatos são de mesma tonalidade.

Recolhi-me a minha insignificância e passei pela agressão sem me manifestar. Engolindo meu silêncio e minha vergonha.

Se atitudes de outrem, até autoridades públicas, me fazem adotar comportamento tão deplorável, tão pequeno,  por causa do racismo, como não admitir que também eu fui afetado por essa praga?

Que me omiti, me cancelei naquela oportunidade; me calei e tive um comportamento de um “verme”? E tudo esse fato por culpa do racismo. Saí dali sem a dor física, dos tapões e achaques.

Mas e a dor moral? Não me assegura lugar de fala, mesmo que relativo?

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O presidente que não temos e não governa. O general que é vice de um nada e, assim, expressa sua insigne ficância (afinal ele é indemissível). Nega o racismo como a pandemia. Nega o fogo que lhe queima a pele e, quem sabe, a alma...

Esse general só mostra que a formação militar, o ensino nas academias também é mera falácia. Não existe. Como não existia e não existe em nosso país corrupção, rachadinhas, uso de verbas públicas em finalidade distinta da sua aprovação, e milhões e milhões de bombons da Kopenhagen, gerando a multiplicação de imóveis. Todos pagos à vista.

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Como não existem os Queiroz e Wassafs, nem os capitães Adriano e as milícias que sustentam o mito da paz nos morros e na periferia. A paz dos cemitérios onde jaz, sem qualquer responsabilização penal, o corpo da mulher negra, Marielle.

Também não existia luz no Amapá e nosso líder só apareceu depois de 22 dias, para dar vexames em passeio de automóvel em desrespeito às normas mais básicas de segurança no trânsito. Normas que, para ele não existem.

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O tal presidente não se manifestou sobre o depósito de 89 mil reais na conta de sua mulher. Não se pronunciou sobre a morte de Beto, não abordou a questão energética do Amapá e não cobrou do ministro da saúde, outro general de meia pataca em hombridade( e pataca e meia em subordinação) o porquê de milhões de testes, caros, estão apodrecendo em depósitos sob responsabilidade do governo federal.

Mas, tudo bem. Também o orçamento da saúde não foi gasto, em meio à pandemia. Ou foi gasto em proporção irrisória.

Afinal, era só uma gripezinha, em um país de maricas. E ladrões no comando do barco.

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Por fim, vamos falar de Maradona. O diez. O diós da Copa de 86. Ou não.

Como ele mesmo disse: Deus é apenas um. Ele era apenas um jogador.

O que foi genial com a bola nos pés, Maradona também foi como homem. Genial por se saber limitado. Com restrições. Com problemas e comportamentos condenáveis que ele nunca escondeu.

Maradona foi um personagem trágico de um tango. Se composto por ele ou não, não importa. Importa que a música que ele nos proporcionou e suas reviravoltas e os versos que elas inspiraram foram tão grandes quanto sua imagem.

Infinitas vezes maior que o Dieguito, o pequeno jogador que, um dia, como diz o canto religioso, segurou na mão de Deus. Ganhou altura e voou alto, para mandar a bola para as redes da Inglaterra. E restaurar todo o orgulho de um povo de hermanos.

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Sempre fui de gostar mais dos marginalizados. Não gostava dos mocinhos. Nas brincadeiras, optava por não ser o polícia. Respeitava os xerifes do velho oeste, mas torcia para os Billys e outros kids iguais.

Achava o Mickey chato, e muito certinho. Preferia o Pateta. Especialmente quando uma pancada o fez se transformar no temível Mancha Negra.

Torcia pelo gato Tom, nas escaramuças com o rato Jerry.

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Vi Garrincha ganhar uma Copa sozinho, em 1962. Vi Romário vencer uma Copa sozinho em 94, embora com o falso brilho de uma conquista nos pênaltis.

Mas vi Maradona jogar e ganhar, sozinho, a Copa de 1986.

E vi o gol mais belo de todas as Copas, mesmo respeitando a majestade de Pelé, com a bola nos pés.

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Maradona foi mais por ser mais humano. Mais imperfeito. Mais passional. E mostrar que todos nós, como ele, podemos nos destacar quando amamos o que fazemos. E nos divertimos quando trabalhando.

Vá descansar Diego, El Pibe.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Declarações risíveis se não trouxessem tanta destruição, e vergonha (alheia). E um temor: de que o liberalismo de Guedes é que leva o capitão a destruir o Estado

 A distância no tempo pode levar minha memória a me trair, por mais que eu sempre possa contar com sua companhia.

Parafraseando Arthur Azevedo em seu Plebiscito, a cena passa-se lá pelos idos de 1970, talvez 1972 e, sim: a família estava toda reunidade na sala, em torno do aparelho de televisão.

Era final de ano e assistíamos ao jornal, creio que da Bandeirantes, com apresentação de José Lino de Souza Barros.

Na ocasião havia algum tipo de conflito envolvendo as relações entre o Brasil e a China, dirigida pelo líder Mao Tsé Tung.

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Então, lá pelas tantas, José Lino leu a notícia curiosa: em razão das divergências, a Câmara de Vereadores de Nova Lima propôs, votou e aprovou um voto declarando o líder chinês “persona non grata”.

O que mereceu do Zé Lino um comentário singelo: “... e nessa noite Mao,  coitadinho, nem dormiu de tanta preocupação”.

A comicidade, o ridículo do episódio sempre me volta à lembrança, acompanhado do comentário entre espantado, divertido e irônico do apresentador.

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Mais uma vez, nesses tempos estranhos que temos vivenciado, a lembrança frequenta meus pensamentos.

Não. Ao contrário do que alguns leitores desse pitaco poderiam imaginar, não estou me referindo a qualquer comentário, ou atitude ou postura adotada pelo mito, cada vez mais descalço, mais pés no chão, que está à frente do governo desse país.

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Parênteses: em versão anterior, eu escrevi adotada pelo mito, etc. pés no chão, que é o dirigente desse país. Mas eu estaria criando uma “fake news”.

Porque Bolsonaro não governa. Não dirige. Não tem qualquer capacidade de comandar o que quer que seja, de liderar. De tomar decisões.

Muitos irão admitir que, provavelmente seu perfil fuja completamente ao de qualquer trabalhador. Bolsonaro não gosta de trabalhar.

O que faz, é tão somente ocupar espaço. Ocupar lugar, ali, à frente do governo.

Como um inútil. Um estorvo, embora sempre preocupado em reafirmar sua autoridade e exigir o cumprimento de suas determinações.

Não sou psicólogo, nem psicanalista, mas creio que Freud explica essa necessidade de autoafirmação.

Mas, voltemos ao tema do pitaco.

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A lembrança do episódio que abre esse pitaco diz respeito ao abilolado candidato a prefeito da Capital mineira, Bruno Engler.

E aqui, maldosamente, sugiro aos amigos leitores que procurem expandir seu conhecimento, recorrendo ao dicionário (do Google) para verificar o significado da palavra abilolado. Ali, talvez, alguém consiga encaixar o nosso deputado do PRTB em qualquer dos dois significados mais comuns, em especial o segundo.

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Pois não é que o tal político, revelando todo o ímpeto da esperança e renovação que constitui a essência da juventude, fez questão de vir a público, para afirmar que, como seu herói e ídolo maior, Bolsonaro, também não reconhece o resultado das urnas e a vitória de Joe Biden, nos Estados Unidos?

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Com declaração tão firme, sou tentado a pensar que Biden, coitadinho, deve estar sem conseguir pregar os olhos, deverasmente incomodado.

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A essa altura, classificar o candidato a prefeito como alguém excêntrico, para não gastar muita munição com quem não merece mais que risos ou pesar, é uma solução elegante que vou adotar.

Mas, é obrigação lembrar que o deputado estadual já deixou claro que aprova todas as medidas do obscuro objeto de seu desejo. Tanto em termos de decisões em relação à armas, quanto ao tratamento dispensado ao problema ambiental no país, e até à irresponsabilidade do presidente em relação ao combate à pandemia.

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Logo, não causa estranheza que o discípulo de Bolsonaro também aplauda o comportamento de seu mentor espiritual, que se recusa a cumprimentar o presidente eleito dos Estados Unidos pela conquista eleitoral.

Claro, há sempre a desculpa de que a prudência recomenda cautela  no envio de mensagem de cumprimentos, ao menos enquanto ações judiciais forem possíveis, e o ridículo, alaranjado, autoritário e derrotado Trump continuar usando e abusando do famoso Jus Sperniandi.

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Ao que parece, por seu perfil ególatra, individualista e arrogante, Trump se comporta e age como a criança que é muito rica, mimada e cheia de vontades. E que, por todo seu entorno, julga-se superior à própria realidade e às limitações que o ambiente sufocante em que exerce seu poder e se diverte com seus brinquedinhos lhe impõe.

Como tais indivíduos, a realidade pouco importa e seu ego lhe permitirá ser afastado, agora para a Flórida, para ficar em seu mundo mental, completamente estragado.

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Mas, assim como outros democratas e constitucionalistas, como alguns americanos e o próprio Bolsonaro, também eu sou favorável a que qualquer cidadão só seja considerado derrotado ou culpado, esgotadas todas as suas opções de recursos.

Também eu acho que até sentença transitada em julgado, não se pode condenar, nem querer limitar a liberdade de quem quer que seja: inimigo político, presidente estrangeiro amigo, ou até filhos...

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Constato, então, a formação de uma cadeia alimentar, de egos. Ou uma quadrilha, nos moldes da metrificada por Drummond, o Carlos: Engler que amava Bolsonaro, que amava Trump, que amava sua imagem, que não amava ninguém, desbotada e desgastada que se mostrava.

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Mas é curioso que, da mesma forma que Trump adotou sempre uma postura que os analistas políticos insistem em classificar como populista, também Bolsonaro faz questão de mostrar tal comportamento.

Afinal, entre as características definidoras do populismo e de seu agente, encontra-se a ideia germinal de que a sociedade pode ser dividida e se divide em duas categorias de pessoas. O povo, explorado, ingênuo, investido das melhores intenções e comportamentos, e o resto, definido por uma elite exploradora e corrupta.

Curioso é que esse povo, desorganizado, necessita ser dirigido por alguém capaz de representá-lo, expressar suas necessidades e os valores (conservadores) que ele cultiva. Esse povo carece de alguém que, mesmo saído da elite, seja suficientemente oportunista para se passar pela representação da vontade coletiva, amorfa.

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Assim, Trump, como Bolsonaro se proclama e age como expressão da unidade do povo, contra os exploradores, os outros, com valores e comportamento ético podres.

Outros pontos em comum são a visão nacionalista, traços autoritários, agirem como pessoas que estão sempre em guerra e procurando manter um estado constante de beligerância, de forma a  justificar a importância de sua presença vigilante. Logo, devem estar em campanha

Outras características que costumam cultivar incluem: um conteúdo repleto de negativos: antipolítica, anti-intelectualismo, anti-elite, o que lhes exige a adoção de um discurso versátil e a preferência pela democracia direta.

Utilizarem expressões grosseiras, mal-educadas, brincadeiras de mau gosto, comentários impróprios ou inadequados, postura agressiva, comportamentos misóginos, intolerantes e uma autoavaliação elogiosa são também elementos comuns entre essas tristes figuras de homens públicos, como tive a oportunidade de aprender, pesquisando mais sobre o que é o POPULISMO.

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E minha pesquisa sobre o tema serve, ao menos, para que eu possa entender a postura negacionista de Bolsonaro, em relação à questão das queimadas na Amazônia e no Pantanal; a sua reação contrária aos procedimentos recomendados pelos médicos, em relação ao controle da pandemia; suas frases sempre estúpidas, como a de que é apenas uma gripezinha, ou que quem usa máscara é covarde, ou então que precisamos parar de falar da pandemia, já que essa é uma preocupação de maricas.

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Nesse particular, é necessário reconhecer que Bolsonaro ontem se esmerou.

Comemorou que os testes com a vacina de combate e eliminação do vírus não poderia ter sequência, ao menos aquela vacina que tem um dos maiores laboratórios do mundo como um de seus patrocinadores. Comemorou e se manifestou a favor de longa vida ao vírus, sem se incomodar com a morte de importante parcela da população brasileira, aquela que ele pretende defender e representar.

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Não satisfeito, chamou a todos nós brasileiros, temerosos dos efeitos do contágio e da doença, de maricas, igualando-nos aos maranhenses que tomam o guaraná Jesus.

Por fim, mesmo que não tenha reconhecido o presidente Biden, o ameaçou com a pólvora que, se não estiver molhada, já velha e gasta, poderá ser usada como arma de defesa de nossa pátria amada, contra pretensos ataques atômicos que o pobre presidente americano tem a seu favor.

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Seria ridículo, não fosse curioso, assistir  Bolsonaro aliando-se a Maduro em uma guerra contra os ianques.

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Termino esse pitaco com uma reflexão séria e uma preocupação: cada vez mais, creio que quem comanda nosso país não é Bolsonaro.

É o infeliz Guedes, o sinistro da Economia. Ele, como representante dos interesses de seus amigos e associados, magnatas do capital financeiro, nacional ou internacional.

Ele que, por sua vocação liberal, veio para destruir o Estado brasileiro. Desconstruir nossas instituições.

Ele que manda e Bolsonaro obedece. E causa estrago cada vez que se manifesta. E deixa um rastro de destruição como consequência de todas as suas ações.

 

 

 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Pitacos vários de eleições, aqui e lá nos States; e o abuso - múltiplo - de que foi vítima Mariana Ferrer

Tempos difíceis esses dias do mês de outubro, em que comemoramos uma marca importante no nosso pitaco. 
Tempos de pandemia. Tempos de convívio com médicos e hospitais. Tempo de aplicações de provas e correções. Tempos de demandas, várias e cada vez mais inusitadas, da Faculdade.
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Felizmente, a Covid-19 que levou minha tia ao Hospital, com diagnóstico de uma pneumonia foi controlada, e minha tia, já retornou - vitoriosa, para casa.
Cabem aqui, no entanto, algumas palavras de agradecimento ao carinho e cuidados que lhe foram dedicados, a todo tempo, pela equipe de médicos (Dr. Maurício, em especial), enfermeiros e técnicos de enfermagem, enfim, a todo pessoal do Hospital da Unimed.
A eles, e apesar de todo o tumulto provocado pela insistência da doença em continuar se espalhando pela cidade, nosso muito obrigado. 

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Mas, além de trabalhos escolares, cujas demandas como já citado, tornam-se cada vez mais intensas e exigentes, a segunda metade do mês de outubro, caracterizou-se também pela intensificação da campanha eleitoral para a escolha de Prefeitos e Vereadores, cujo primeiro turno já se realiza no próximo fim de semana, no próximo domingo, dia 15 de novembro.
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Certamente as eleições e algum comentário sobre os candidatos, suas posturas ou promessas, e até algum comentário sobre a qualidade de seus programas de propaganda, seriam feitos nesses pitacos. 
Mas, enquanto não chega o momento decisivo de depositar o voto na urna, ainda é possível fazer alguma observação, primeiro sobre os candidatos. 
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E, de longe, já dá para perceber a possibilidade, muito viável, de Kalil liquidar a fatura já no primeiro turno. 
E tal sensação, que se confirma com as pesquisas eleitorais que lhe atribuem folgada liderança, deve-se muito a sua atuação firme e decidida no enfrentamento da pandemia que alterou de vez esse nosso ano de 2020.
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Com o apoio de seu secretário de Saúde, o dermatologista Jackson Machado Pinto, cercado de colegas infectologistas e de outras especialidades, foi montado uma espécie de gabinete de crise que, imediatamente, e contra fortes interesses econômicos, decidiu pelo fechamento de parte importante do comércio, das atividades desenvolvidas em todos os setores da cidade. 
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O êxito da iniciativa pode ser visto pela capacidade da capital mineira em "empurrar para a frente" o momento de elevação da curva de contágios, dando tempo para que novos leitos de UTI fossem criados e os já existentes melhor geridos. 
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Isso não significa que o prefeito não cometeu, em minha opinião, algum tipo de arbitrariedade, ele que é um tipo autoritário, boquirroto e tão pouco afeito às regras de maior urbanidade e educação, com postura bastante semelhante àquelas adotadas por Bolsonaro.
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Exemplo de postura desnecessária foi o clima de conflito criado entre ele e a equipe de saúde do governo do Estado, que considero bastante desagradável, por mais que ele tivesse a razão em criticar a inércia do governo de início negacionista de Zema. 
Em um momento em que todo o pessoal da saúde do país criticava a postura adotada por Bolsonaro, cuja atuação era marcada pela falta da liderança e coordenação tão necessárias, em um processo de combate, rápido e efetivo à chegada e dispersão do vírus, Kalil adotava um comportamento belicoso, também pouco preocupado em criar ações integradas. 
Acho que em um momento como esse, em que o objetivo maior deveria ser sempre o de se evitar um número elevado de infectados e de óbitos, todas as autoridades deveriam adotar um discurso único, que se tornasse, de fato, um guia tranquilizador para a população. 
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Outro exemplo, fruto sempre do perfil do prefeito de promover estardalhaço, de agir de forma mais autoritária, como a querer mostrar quem é a autoridade, e mostrar isso sem qualquer preocupação com a adoção de um comportamento mais civilizado, mais diplomático, foi o fechamento das fronteiras da cidade a veículos vindos de municípios vizinhos, todos integrantes da região metropolitana de que Belo Horizonte.
Aqui mais uma vez, a questão da coordenação e da cooperação foram desprezados, em minha opinião, pelo prefeito da cidade que é o polo de liderança, planejamento e coordenação daquilo que se convencionou a chamar de Região Metropolitana de Belo Horizonte. 
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Claro, estando no centro da citada região, e como principal ator, talvez um trabalho comum, por meio de reuniões e com a participação e ideias de prefeitos dos municípios limítrofes, poderia ampliar a área geográfica e os resultados positivos que o prefeito comemora limitados à capital. 
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O problema aí, em meu entendimento, estava vinculado às eleições, e à disputa entre os prefeitos para poderem se mostrar como INDIVIDUALMENTE mais eficientes. 
A adoção de tal postura ajudaria, claro, a não diluir o êxito obtido, que poderia levar a tal sucesso ter de ser rateado entre mais prefeitos, também candidatos, ainda que em seus municípios. 
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Dos outros candidatos, apenas fazer referência a um candidato, ainda jovem, recém iniciado na política, com um discurso que privilegia uma agenda dominada por temas da pauta de costumes, em minha visão, ultrapassada: Bruno Engler.
Influenciado, talvez, pelo êxito da campanha de Jair Bolsonaro e seu ideário de ultradireita, pauta de costumes, discurso nacionalista, militarista, armamentista e autoritário, muito avesso à democracia, à criação de igualdade de oportunidades, e respeito às divergências, Engler declarou sua concordância e seu desejo integral de reproduzir, em escala limitada, o comportamento de seu ídolo.
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O problema é que Engler não percebe, em minha opinião, que gostemos ou não, Bolsonaro tem carisma. Porque, não sei, mas é inegável que tem. 
E Bolsonaro foi eleito em 2018, auge dos movimentos de insatisfação com o fracasso - relativo - de governos de centro-esquerda. E que o ex-capitão, já deixou muito claras as mentiras de seu discurso, anticorrupção, antipolítica e políticos, em defesa de interesses escusos, que compreendem desde as milícias até o enriquecimento ilícito dos filhos, em especial, e demais familiares. 
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Além disso, da mesma forma que há dois anos atrás o fracasso das políticas distributivistas e de redução das desigualdades dava material para um discurso antiesquerdista, tão rapidamente e com a mesma intensidade, a passagem desse biênio, trouxe e promoveu a sensação de cansaço, de falta de efetividade, de inação, muito em razão da inépcia e da inapetência para lidar com os problemas do dia a dia de governar, do líder máximo dessa vertente, hoje. 
Do ocupante do Executivo nacional, apenas a pauta de costumes, continua tendo algum tipo de apelo, graças a todos os líderes religiosos que o apoiam, com destaque para a sinistra Damares.
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Daí porque, em minha avaliação, as pesquisas conseguem atribuir a Engler mais que mero traço, melhor forma de avaliação de um discurso tão frágil, e vazio. 
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Outros candidatos, com menor ostensividade, falham também na avaliação e na leitura do governo Bolsonaro, tentando, com sucesso nenhum, se mostrarem candidatos afinados com o ex-capitão. 
Seu fracasso será ainda maior que o de Engler.
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Quanto a Nilmário, e apesar de todo o respeito que o ex-ministro me merece, sua candidatura revela apenas que o PT envelheceu. E que deverá passar por um processo de renovação, se não quiser, tal qual o seu irmão siamês, o PSDB, virar apenas um retrato na parede. 
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Em minha opinião, sobra como novidade e tentativa de arejar a forma de fazer política na nossa capital, a candidatura da combativa, reconhecida e homenageada ex-vereadora, deputada federal, Áurea Carolina. 
O que mostra que se há algo novo em termos de concepção e da prática política, esses novos ares, são consequência de um partido como o PSOL, em que se destacam jovens lideranças, como Boulos, em São Paulo; Freixo, no Rio; Áurea aqui em nossa capital, e deputada federal Sâmia Bomfim e Ivan Valente, além da ex-prefeita Erundina. 
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Kalil ganhou projeção por conta da atuação séria na pandemia, mas antes já havia falhado no tratamento das ocupações urbanas, no tratamento das necessidades e demandas das populações mais carentes, na forma de lidar com o problema contumaz das chuvas e inundações, do tratamento dispensado ao transporte público, sempre caro e de má qualidade, na forma de tratamento dado à "caixa preta" da BHTrans e dos empresários do transporte urbano,  para não falar de seu apreço por obras de recuperação de vias naqueles bairros da região Centro-Sul.
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Enfim, dia 15 vem aí, e com ele a responsabilidade pelo que desejamos para nossa cidade, por um prazo de mais quatro anos.
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Enquanto aqui se aproximam as eleições, nos Estados Unidos a escolha clara da população foi a favor de uma mudança. 
Não de filosofia, posturas, compromissos, relações geopolíticas ou de comércio. 
Mudança não no sentido de permitir aos Estados Unidos deixarem de lado a concepção de serem os gendarmes do mundo.
Os Estados Unidos não irão abandonar o papel de pretensa liderança a que todos os aliados devem se curvar, em prol e benefício de construção de uma sociedade livre. 
Afinal, com Trump ou Biden, o poder industrial bélico, o poder do capital financeiro e dos magnatas das finanças internacionais, o poder dos militares e falcões do Pentágono, não muda de mãos. 
Logo, não mudam de mãos a essência e o fundamento do poder americanos.
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Biden, por sua postura mais recente, será mais diplomático. Fará mais discursos pelo fortalecimento de relações e organizações e organismos multilaterais. 
Deverá adotar uma postura mais aberta para a discussão das questões relativas à sustentabilidade, à preservação do meio ambiente, aos mecanismos de controle de emissões de poluentes. 
Talvez, vá aproveitar a onda e surfar na tentativa de adoção de medidas de maior integração racial na sociedade americana, ele que tem ligações históricas e reconhecidas com os movimentos negros desde o início de sua trajetória política. 
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De quebra, tem ainda uma vice, mulher, preta, filha de imigrantes, o que reúne em uma mesma pessoa, não apenas, qualidade, conhecimento, experiência, capacidade de ação, mas também toda uma pauta de mudanças e respeito às minorias. 
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O problema maior em relação a Biden é, mais uma vez, o vexame de Bolsonaro, capaz de, por pirraça ou apenas um discurso vazio (nele), ideológico, acabar não reconhecendo o presidente eleito, mesmo depois que seu "patrão" Trump, o faça.
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Um último comentário: sobre o julgamento e a execração pública a que foi submetida Mariana Ferrer, por representantes de uma justiça cada vez mais indigna do nome. 
A humilhação a que Mari foi exposta, apenas por ser mulher, ou então, pior ainda, porque seu estuprador é considerado um homem rico, bonito, bem nascido, empresário, bem relacionado, etc. mostra apenas a podridão que ainda domina certos tipos de pessoas, pensamentos, ambientes, e parcelas de nossa sociedade. 
Como disse um amigo, o que pudemos assistir da gravação do linchamento moral a que a vítima do crime sexual foi submetida, tornando-se, mais uma vez, vítima;  o desdém com que seus direitos foram desrespeitados, por aqueles que se julgam seres melhores, dotados de um comportamento eticamente e moralmente superior ao dos demais mortais, dá vergonha a todos nós, brasileiros, de sermos homens. 
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O machismo nos envergonha.
Porque macho não pode ser aquele que se aproveita da situação de indefesa dos que lhe cercam. 
Esse não é o macho. 
É apenas o covarde.