quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Pazuello, nosso Sargento Garcia: cujo crime maior é ser um fraco e obedecer ao verdadeiro responsável pelas mortes de Manaus; e dá-lhe leite condensado para fornecer a energia que Michelle andava demandando

Já tive a oportunidade de comparar o general ministro Pazuello, da Saúde, à figura tragicômica do Sargento Garcia, personagem vivido por Henry Calvin, do seriado A Marca do Zorro, apresentado pela televisão brasileira no final dos anos 60, início dos 70.

Atacarrado para não dizer obeso, com aspecto bonachão, o sargento é descrito como um militar bêbado, estúpido e atrapalhado, que se destacava por sua completa incapacidade para cumprir a missão que lhe fora incumbida: prender o personagem principal, o Zorro, alterego de Dom Diego de La Vega.

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Como os mais antigos irão se lembrar, Dom Diego, filho de um um importante estancieiro da Califórnia, retorna de seus estudos na Espanha e não tarda em se dar conta da opressão a que está submetido o povo pobre da região pela autoridades espanholas, especialmente o capitão Monastério.

Espadachim brilhante, decide passar por alguém avesso a lutas, escondendo seus atributos de forma a ter mais desenvoltura para lutar contra a tirania do governo.

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Responsável por capturar a Raposa (Zorro), o sargento Garcia demonstra nutrir verdadeira admiração pelo esgrimista mascarado, talvez mesmo pela causa da liberdade, o que o leva a estar chegando sempre atrasado no encalço do bandoleiro, sempre de forma atabalhoada, sempre sendo exposto ao ridículo.

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Pois bem, o general Pazuello é, em minha visão, a representação de nosso sargento Garcia. Submetido a um capitão tirânico e sem estatura moral para ocupar o comando que lhe delegaram, Pazuello faz todo o possível para “dar a impressão de estar lutando contra o mal: no caso, o Corona”.

Nesse sentido, cumpre ordens de maneira a sempre estar no lugar errado na hora errada, fazendo valer a máxima que a estupidez da disciplina militar e da sacralização da hierarquia procuram moldar.

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Razão porquê é capaz de afirmar com a pompa e circunstância companheiras do ridículo, que “manda quem pode, obedece quem tem juízo” em referência a ordem transmitida pelo ocupante do honorífico cargo de comandante em chefe das Forças Armadas, o inepto e sociopata Bolsonaro.

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Isso em razão de, nomeado para cargo que não tinha qualquer competência para ocupar, como ministro da Saúde em meio a uma pandemia,  ousou afirmar que, aprovada pela Anvisa, autorizaria a aquisição da vacina comunista do Butantan.

Agia como qualquer pessoa bem intencionada o faria, na busca por uma forma de se impedir um genocídio.

Não contava com a estultície de seu chefe, e aí entra a problemática questão da sacralização da hierarquia e disciplina.

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O ex-capitão, agora seu chefe, não apenas já havia cobrado do apalermado militar a implantação de um protocolo de tratamento precoce, baseado em medicamentos sem qualquer comprovação de eficácia contra o vírus, como desautorizou a fala de seu subalterno.

A vacina chinesa, comunista não seria adquirida. E a justificativa podia tanto ser o fato de quem a tomasse correr o risco de virar jacaré, por força de transformação de DNA, ou sofrer alterações de gênero, com as mulheres correndo o risco de desenvolverem barba e os homens passarem a falar fino.

No fundo, o capitão temia era ter de dar créditos a um adversário na corrida pelo Planalto em 2022, o engomadinho de centro-direita, Dória.

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Agora Pazuello é alvo de investigação determinada pelo STF, em relação ao seu comportamento em meio à pandemia, principalmente em relação a sua omissão em relação à escassez de oxigênio para os hospitais de Manaus.  De quebra, cobram-lhe os gastos relativos à importação, e fabricação pelo exército do kit Covid, com os placebos determinados por Bolsonaro.

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Em minha opinião, o general Garciello é culpado. E, baseado na obra de Zolá, poderia intitular os pitacos de hoje de  “J’accuse”.

Afinal, acuso Pazuello de ter assumido responsabilidade que estava além dos limites de sua capacidade técnica. Acuso-o de não saber o que era o SUS, e não saber que o clima no Nordeste e Norte não é semelhante ao dos países do Hemistério Norte.

Acuso-o de não conseguir manter um mínimo controle de estoques de testes PCR-RT, e do prazo de sua validade, o que significa perda de milhares de testes e de recursos financeiros de sua aquisição. Isso, para um homem que se apresenta como especialista em logística.

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Acuso-o, sobretudo, de mostrar a todos o completo fracasso do ensino militar, do ensino das academias militares que nada ensinam para seus oficiais graduados.

Embora aqui eu mesmo apresento o atenuante: tal situação é a demonstração cabal da necessidade de se jogar na lata de lixo as apostilas, os livros, as lições da ESG – Escola Superior de Guerra. E encerrar de vez as atividades a ela atribuídas, que se apresenta como responsável pelo estudo dos destinos do país.

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Acuso-o de não ter tomado qualquer iniciativa ao ser informado da escassez de oxigênio em Manaus e outras cidades e regiões do país.

Acuso-o por ser responsável pela morte, por asfixia (‘como se afogando no seco’), de centenas de brasileiros irmãos nossos. Acuso-o por, nessa hora, deixar de agir e planejar a logística do fornecimento dos recursos escassos para tantas vítimas da Covid.

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Mas sua principal falta é a de ser completamente omisso.

Por isso, acuso-o de ser um completo capacho, incapaz de ter hombridade para agir como homem, nem digo como detentor de patente militar graduada. Acuso-o por vaidade exacerbada, preocupado apenas em garantir mais cargos em sua ficha profissional onde se destaca a chefia do Departamento de Munição do Exército, justo quando aconteceram desvios de munição no quartel.

Acuso-o de ser omisso e desconhecer a mais simples regra da disciplina e da hierarquia: nunca se deve obedecer a uma ordem ilegal ou imoral.

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Mas, aí a acusação já alcança o seu chefe. E tenho de admitir que nosso Garciello está apenas servindo de boi de piranha, ou bode expiatório, para encobrir o criminoso maior: Bolsonaro.

É Bolsonaro o verdadeiro criminoso, o mentor intelectual do crime de genocídio a que o povo brasileiro tem sido submetido.

E não há problema em se admitir sua autoria intelectual, já que desde o assassinato de Marielle, sabemos todos que autores intelectuais não conseguem ser alcançados por nossas polícias.

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Por tal razão, acho que uma acusação a Garcia/Pazuello deve levar em conta vários atenuantes (inclusive a de fragilidade de caráter!).

E não pode acontecer sem alcançar seu superior imediato: o homem que desdenha de pedidos de impeachment, talvez por sua educação primorosa (fruto das escolas militares?), como a demonstrada nas reuniões de ministério de 22 de abril ou em churrascarias de Brasília, em que mais uma vez mostra sua ideia fixa de cunho sexual.

Afinal, mandar a imprensa enfiar ‘no rabo’ as latas de leite condensado que comprou, em volume e custo aburdos, por preços aviltados, de empresas incapazes de fornecerem uma dúzia de quentinhas é, apenas demonstração do tipo de utilização que ele faz, parece que com êxito, de tanto leite condensado.

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Dizer que a compra é para dar mais vigor e energia a militares servindo ao Exército, é mostrar que o Exército que já não ensinava Geografia, também não consegue ensinar um mínimo de valores nutricionais.

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Mas, gostaria de salientar nesse pitaco que tenho visto muita análise, séria, abordando que a oposição está sem assunto e sem agenda, ao tratar de impeachment.  

Os defensores desse argumento alegam que falta o mais importante: apoio político a tal medida.

De minha parte acho que se falta apoio político, sobram crimes de responsabilidade e até mesmo de outra ordem.

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Lembro pois, que o impeachment não é um joguinho de Resta-um ou Tira e Põe. Trata-se de instrumento institucional, grave, para coibir e afastar aquele que cometeu ilícitos e infrações pondo em risco a estabilidade da nação e a vida da população.

Isso já está posto. Não há, objetivamente, a hipótese de inexistência de aprovação popular.

Porque afinal, Pablo Escobar e outros vários criminosos reconhecidos sempre tiveram apoio de parte da população .

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Uma ou duas observações para terminar:

Rodrigo Maia teve meses para decidir sobre a abertura de um processo de impeachment, por todas as razões que, agora, alinha para criticar Bolsonaro.

Se não o fez, ou é porque não via motivos que justificassem crimes cometidos, ou por cumplicidade: concordava com o presidente.

No mínimo, ele tinha interesses em não criar dificuldades para os grandes financistas de nosso país, os ‘Faria Limmers’, a quem ele representa e que sempre estiveram, equivocadamente, apoiando o presidente.

Ledo engano dos interesses do capital financeiro: acreditavam que, por manter Guedes ministro, o presidente tinha algum viés liberal.

Agora já perceberam que o capitão teve formação militar, tendo feito seus estudos na época em que se pregava a doutrina nacionalista e intervencionista.

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3 comentários:

Felipe Zagnoli disse...

Paulo, muito o bom o texto como sempre.

Essa comparação com o Sargento Garcia foi certeira.

Ele é o nosso Sargento, mas genocida assim como o presidente.

Pat disse...

Muito bom! Adorei a imagem do sargento Garcia, ótima! Imaginei o recruta Zero mais desbocado dando ordem para o sargento Garcia. A realidade mais surreal que a fantasia...

Unknown disse...

A pergunta que venho me fazendo é: o falta para colocar esta criatura para fora da presidência? Creio q pouco será mudado, afinal o vice... mas seria uma derrota do escrotismo em q estamos submersos. Ótima análise.